• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • An Extraordinary Love
  • Capítulo 37 A Deusa da Perdição

Info

Membros ativos: 9524
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,492
Palavras: 51,967,639
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Thalita31

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Legado de Metal e Sangue
    Legado de Metal e Sangue
    Por mtttm
  • Entre nos - Sussurros de magia
    Entre nos - Sussurros de magia
    Por anifahell

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Minha Garota
    Minha Garota
    Por Dud
  • A Aposta
    A Aposta
    Por Cristiane Schwinden

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

An Extraordinary Love por Jules_Mari

Ver comentários: 2

Ver lista de capítulos

Palavras: 8800
Acessos: 4726   |  Postado em: 18/03/2018

Notas iniciais: Boa noite a vocês. Segue mais uma capítulo e continuo agradecendo o retorno que vocês tem me dado nos comentários. 
Abraços e uma excelente leitura. 
Xeros

Capítulo 37 A Deusa da Perdição

Por mais que Delphine soubesse que o seu compromisso com a Ordem inicialmente era um assunto dos mais delicados de seu passado e de presumir que sua mãe buscaria outra pessoa para substituí-la, jamais soube que a Melanie foi a primeira pessoa em quem ela pensou.

Todas sabiam do quão poderosa e bondosa a Melanie era. Duas características primordiais e mais do que necessárias para que ela pudesse ocupar aquele importante e perigoso lugar. Contudo, até então a sucessão do comando da Ordem sempre se deu por forma de descendência sanguínea. Uma linhagem de sangue e isso fazia da Evelyne a única pessoa capaz de ocupar aquela função, porém havia o temor dos poderes dela e de como ela poderia usar aquele lugar, aliado ao fato da jovem Evelyne recusar-se a cumprir qualquer tipo de obrigação ou a seguir ordens. Não cumpriu com seu treinamento e explodia com facilidade. Tudo lhe descredenciava.

Mas o que a estava incomodando imensamente era o fato de nem a Melanie nem a Manu terem lhe contado aquilo, mas no fundo ela tinha essa resposta e agora, quase 400 anos depois ela começava a ter uma real dimensão do medo e da intimidação que causou às mulheres da Ordem naquela época, e de que fora preciso que ela passasse por terrores inomináveis e por séculos de aprendizados para que fosse moldada e se tornasse quem era hoje. Mas precisava de mais informações e essas estavam em um único lugar.

 

______

 

Os dias que se seguiram àquela revelação da Manu foram difíceis para mim meu amor. Mesmo ela tendo me deixado bastante a vontade para declinar daquele pedido, pois era exatamente isso, apenas um pedido. Além do fato de eu não saber ao certo o que significava ser Mestra da Ordem, pois haviam coisas que até aquele momento, a Manu não havia me revelado e eu sabia que esse momento estava próximo.

Foi então que ela me levou, novamente, para a sala secreta naquele castelo e me apresentou vários dos escritos antigos da Ordem e às fundadoras originais.

- Aqui estão os textos mais antigos que possuímos. – Ela me mostrou uma estante com uma série de rolos de pergaminho que, segundo ela, datavam de antes do período cristão e provinham de cidades distantes como Antenas, Tebas e Creta. Mas não sei ao certo porque estou escrevendo sobre isso, uma vez que tenho a total certeza de que sabes de cada detalhe do que estou falando, pois, sei muito bem que dominas cada um deles, pois segundo sua mãe, você devorou cada linha em pouco mais de um ano e passou meses pedindo para ser chamada pelo nome de uma das fundadoras originais.

- A Poderosa Rainha Hipólita?

 

______

 

- Eu era uma criança Melanie. – Riu novamente falando sozinha com suas próprias lembranças. Viajou até aquele período, quando recebeu o privilégio para poder ler os escritos antigos e do quanto ficou maravilhada e obcecada pela história original da Ordem do Labrys.

Para a imensa maioria do mundo ocidental, a história do confronto entre a poderosa Rainha Hipólita e o semideus Héracles (Hécules) era um conto mitológico acerca de um de seus famosos trabalhos. O que não é de conhecimento público é que Hipólita e sua comunidade matriarcal realmente existiram, mesmo que o semideus não tenha passado de fantasia.

Tal sociedade de mulheres não concebia nem tão pouco concordava com o papel que as elas era destinado no mundo antigo. Cidadãs de segunda classe onde o pouco respeito que possuíam cabia apenas às esposas dos Patrícios e aquelas que detinham o dom da clarividência e mesmo assim esse dom servia apenas as vontades dos homens. Dessa maneira, Hipólita e suas irmãs Pentesiléya e Antíope passaram a disseminar, secretamente ideias de resistência a essa submissão imposta. Para tanto, Antíope, que era a mais aguerrida das três irmãs passava-se por homem para aprender e treinar com os exércitos gregos e com isso repassar tais ensinamentos para outras mulheres que logo sentiram a necessidade de se isolarem. Sendo assim partiram para uma das maiores ilhas gregas a convite da poetisa Safo, que era bastante simpática a causa de Hipólita, ela já vivia com outro grupo de mulheres naquele local. Surgia assim o mito das Amazonas, mas que na verdade encobria algo muito maior e ancestral, a Ordem do Labrys.

Delphine suspirou e sentiu a necessidade de voltar a reler todos os pergaminhos de Safo, que estavam seguramente preservados e guardados em seu castelo. Juntamente com todos os textos antigos. Muitos dos quais o mundo achava terem sido destruídos no grande incêndio que destruiu a Biblioteca de Alexandria.

Sempre fora uma grande estudiosa e essa era a sua principal característica e que diferença para as demais Mestras que vieram antes dela. Podia se considerar uma traça e orgulhava-se de, em sua vasta existência, ter percorrido todas as grandes bibliotecas do mundo e nessa “peregrinação intelectual”, conheceu grandes mestres e pensadores e colecionou inúmeros títulos e obras de arte que lhe enchem de orgulho. 

Permitiu-se passar alguns longos minutos deixando seus pensamentos viajarem por entre lembranças menos dolorosos e que, de alguma maneira, lhe ajudavam a suportar o peso de existir em total solidão, mesmo tendo sempre mulheres incríveis ao seu redor na cúpula da Ordem, mas todas efêmeras. Reféns do tempo, ou não? Na verdade era ela quem era prisioneira de Kronos, sempre assistindo o ir e vir de pessoas queridas. Decidiu retomar a leitura, pois precisava saber muito mais, precisava saber de tudo que havia ali e o adiantado da madrugada a preocupou. Logo, logo Cosima iria acordar.

 

______

 

Realmente muita coisa do que estava sendo revelado para mim eu não conseguia compreender. Havia textos em latim, grego e celta antigo e por mais que Manu e as anciãs se esforçassem, elas não conseguiam me ensinar. Eu simplesmente não conseguia. Certa vez a Anciã Nanuck me confidenciou qual era o seu segredo. Vou aprendia os idiomas lendo as mentes de quem os sabiam. No caso dela foi o galego e o celta, no caso da Izabelle foi o latim. Você é realmente incrível meu amor. Com tão pouca idade já dominavas tantos idiomas, tantos conhecimentos, tantas responsabilidades.

Eve, só quando eu comecei e estudar, de fato, sobre a Ordem é que eu vi o peso que significava ser Mestra. Tudo o que Manu passava e que deveria ser deixado para você que fora, desde a mais tenra idade, preparada para isso. Você simplesmente não teve escolha. Então você criou a sua. A recusa! Hoje eu vejo isso como a clareza das gotas de chuva que batem no vidro fosco de minha cela.

Mas eu me esforcei. Estudava incansavelmente, varava noites, mas parecia que quanto mais eu aprendia, mais havia para aprender, contudo eu estava amando cada novo detalhe descoberto, cada feito extraordinário de mulheres que fizeram parte da Ordem e me encantei com as histórias sobre Celeste, a Mestra anterior a Manu e sua avó. Ela era uma Pitonisa[1] não é mesmo? Manu não quis me confirmar isso quando a questionei, mas o terrível fim que ela recebeu sob o martelo da inquisição só me fez pensar nisso. O temido fogo inquisitorial. Taxada pejorativamente como bruxa.

Certamente esse era o maior e o mais temível dos dons e, de acordo com minhas pesquisas, não havia uma pitonisa verdadeira na Ordem há mais de mil anos e provavelmente não haverá outra. Assim espero.

Mas então meses de estudo se passaram e meu aniversário de 19 anos estava se aproximando. E eu sabia que Manu e as demais planejavam algo para esse dia. Elas achavam que eram discretas, mas só conseguiam falhar miseravelmente em esconder algo. Mas eu decidi fingir ignorância total e aparentar foco em meus estudos, pois, como bem sabes, a curiosidade é meu ponto fraco.

Foi então que na semana de meu aniversário, mais precisamente no dia 25 de abril de 1656, eu recebi aquele famigerado comunicado. Informando-me que dali a cinco dias, no sábado à noite, meu pai, o Conde Verger estaria oferecendo um Baile para celebrar o meu aniversário.

Era um comunicado quase oficial, só não o foi de todo devido à nota final onde ele me escreveu a seguinte frase:

'Ps: Não ouse se ausentar ou irei busca-la pessoalmente. Amanhã uma carruagem estará ai para busca-la.’

Fiquei desapontada e triste e pude ver que as demais também ficaram especialmente Manu. Então fiz a única coisa que consegui pensar naquele momento. Eu a convidei para ir comigo. Afirmando que ela poderia ficar em minha casa. Eu simplesmente não sabia o porquê, mas eu precisava que ela estivesse comigo lá. Contudo ela recusou veementemente e aquilo me alertou, pois eu vi medo nos lindos e brilhantes olhos azuis. Foi então que a confrontei.

- Me diga Manu, porque não queres vir comigo? Eu preciso que estejas comigo nesse momento. Não quero celebrar essa data com meu pai, quero celebrar com... – Relutei em prosseguir e então ela me encarou docemente e logo todas as demais saíram da sala de jantar onde estávamos e nos deixaram a sós. Em poucos instantes ela saiu da extremidade da mesa onde estava e me alcançou, me abraçando enquanto eu soluçava. Ela também chorava, pois ambas sabíamos que aquela seria a despedida final. Eu sentia isso. Sentia que meu pai preparava algo para mim e eu só conseguia pensar no pior.

- Calma minha criança. Não fique assim!

- Não quero ir Manu! Não quero ficar longe de você, nem da Izabelle nem de nenhuma das outras. Até mesmo da Nanuc eu não saberia ficar longe. – Ela riu, pois aquela anciã era uma mulher de personalidade muito difícil.

- Mas, nesse momento você tem de obedecer seu pai – Aquelas palavras pareciam queimar na boca dela.

- Como assim obedecê-lo? E a Ordem? E a resistência?

- As vezes faz-se inteligente ceder um pouco. Fingir que nos submetemos.

- Ah... Entendi! Igual como fizemos para convencê-lo a me deixar passar esse tempo aqui.

- Isso mesmo Mel.

- Mas então venha comigo! Seja minha convidada! – Pedi novamente. Com ainda mais entusiasmo. Mas lá estava a sombra pairando no semblante lindo dela. Eu sabia que havia algo ali.

- Eu não posso Melanie. Não devo!

- Mas por quê? Podes ir como Madame Degrasi, ninguém saberá.. – Insisti enquanto a perseguia pelo castelo e ela parecia querer fugir de mim.  

- Não Melanie!

- Mas por quê? Explique-me. – Ela nada me dizia apenas fugia e eu tentava penetrar em sua mente, pois eu sabia que havia algo não dito ali. Ela me olhou com dureza, pois sabia o que estava tentando fazer. Mas resistiu.

- Já chega! Vá para o seu quarto! – Ela se virou com aspereza na voz e então eu cometi o erro de desafiá-la.

- Só irei quando me disser o motivo pelo qual não queres ir ao meu baile. – Quase berrei aquelas palavras. Ela me olhou com ira, tendo os olhos marejados. Seu corpo todo tremia como se ela estivesse prestes a explodir e então soltou o ar com força.

- Melanie, eu não vou ao Baile porque eu e o seu pai nos conhecemos e a relação de inimizade que existe entre nós é grande demais.

Tens dimensão do quanto aquela informação me pegou desprevenida? Como poderia ser possível a Manu conhecer meu pai, não gostar dele e mesmo assim ela está com a filha dele em sua casa, a treinando? Eu não sabia o que pensar nem tão pouco o que sentir. Mas a raiva se adiantou a qualquer outro sentimento e quando ela tentou segurar a minha mão eu a puxei com tudo.

- Você mentiu pra mim? Enganou-me? – Era só o que eu pensava.

- Menti! Mas foi pelo seu bem minha querida. – Ela insistia em me abraçar e eu em recuar.

- Como a mentira pode fazer bem Manu? Ainda mais uma dessas? – A passos largos eu alcancei o meu quarto, mas ela estava logo atrás me chamando. Assim que atravessei a porta quis batê-la com toda a força, mas ela parou no meio do caminho, como se uma força invisível a segurasse. Manu entrou em seguida.

- Acho que chegou a hora de lhe contar alguns eventos sobre o meu passado e o da Ordem e que envolvem o seu pai.

- Alguns não! Eu quero TODOS! – Enfatizei essa ultima palavra para deixar clara a minha necessidade. Ela respirou pesadamente e fechou a porta atrás de si.

- Muito bem! Foi você quem pediu. – Olhou para o teto e com os olhos cerrados, começou. – Lembra quando você me perguntou acerca do pai da Evelyne e eu mudei de assunto? – Meu amor, preciso confessar a dimensão do pavor que eu senti naquele instante, como a iminência do que Manu poderia me revelar. Era aterradora demais a possibilidade que se conjecturou em minha mente.

- O meu pai é pai da Eve? – Questionei quase sem voz alguma.

- NÃO! De jeito nenhum! – Ela exaltou-se e quase riu do suspiro aliviado que eu dei. – O pai da Evelyne foi um homem bom, amoroso e companheiro. Além de aceitar o meu estilo de vida, pois me amava. – Simpatizei com ele de imediato amor. – Mas o Andres não foi o primeiro homem com quem me envolvi. – Foi então que as peças começaram a se encaixar em minha mente. – Quando era um pouco mais jovem do que você, conheci um jovem e lindíssimo rapaz com os cabelos cor de fogo. – Sentou-se ao meu lado na cama e começou a desfazer a minha trança. – E assim como a cor vibrante do cabelo dele, foi o nosso contato.

- Você quer dizer que você e meu pai... – Perguntei o obvio, me virando para encará-la. Ambas estávamos sentadas na beira da minha cama.

- Sim. E ouso dizer que nos apaixonamos Melanie. Mas ele ainda não era esse Armand Verger. Era só o meu Armand.

- Quer dizer então que vocês dois eh... Fizeram... Mesmo sem as casar?

- Quer saber se fizemos sex*? – Ela sorriu docemente. - Eu falei que meu estilo de vida era diferente e condenável para a época. Preciso confessar-lhe que nem ele foi o meu primeiro. – Ela claramente se divertia com a minha expressão de surpresa e evidente desconforto, afinal de contas, nunca falamos sobre aquilo assim tão abertamente. – Entenda criança, existem algumas ervas que, tomadas nos períodos certos do mês, nos impedem de engravidar. E isso me possibilitava “experimentar” – O conhecimento de botânica da sua mãe sempre foi fantástico! – Bom o que quero dizer é que o amor que seu pai confessou a mim começou a adquirir contornos preocupantes. Pois eu achei que poderia confiar nele e lhe contei coisas que jamais deveria. Coisas acerca da Ordem, pois ele sempre me via com livros e textos e achava aquilo estranho.

- Ele sabia ou soube da Ordem? – A questionei preocupada, pois realmente não conseguia visualizar o homem agressivo e abusivo que eu tinha como como pai ao lado de uma mulher como Manu.

- Esse foi meu grande erro Melanie. Aquilo que mais me arrependo em toda a minha vida. – Ela baixou os olhos, como se quisesse esconder uma vergonha que não combinava com ela. – Certa vez, quando ele se esgueirou para o meu quarto e ficamos juntos ele me pediu para lhe falar sobre o que era aquele símbolo que ele tanto via em meus materiais, pois não era muito convencional uma moça ler tanto. E cai na besteira de explica-lo. Entenda, eu era inocente e acreditava que aquele homem era diferente dos demais. E aos poucos eu fui contando algo aqui, outras coisas ali e sem querer eu falei sobre o Nominis Umbra.[2] – Eu arregalei os olhos, pois nem se quer havia visto tal obra, apenas ouvido falar dela já que só a Mestra e as anciãs eram autorizadas a conhecer o seu conteúdo.

- Manu, era nesse livro que estava o feitiço que poderia ter salvado a vida de Adele?

- És muito perspicaz Mel! Exatamente. Mas aquele feitiço não era o que de pior havia naquele livro. Toda a magia obscura e do mal estava nele. E uma de nossas missões era juntar todas elas e mantê-las longe de pessoas má intencionadas. Veja bem Melanie, era por causa da posse de livros como o Nominis Umbra que nos somos taxadas de satanistas.

- Não praticamos magia das trevas, nós as protegemos, mantemos longe do mundo dos homens para que não sejam usadas... – Concluí o pensamento dela.

- Isso mesmo. Contudo, eu desconhecia a ganância e as trevas que moravam no coração de seu pai, pois estava cega de paixão e isso nos custou muito caro.

- Ele roubou o Nominis Umbra? – Meu ódio por meu pai ganhava novos significados. Ele havia enganado e manipulado Manu.

- Não porque minha mãe o impediu a tempo, porém ele ainda conseguiu levar algumas páginas.

- O que havia nelas? – Temi a respostas.

- Ele teve a infelicidade de não conseguir nenhum feitiço completo, mas um dos piores ele tem quase todo em sua posse.

- MALDITO! – Manu me olhou com surpresa. – O que? Não posso odiá-lo porque ele foi um cretino e lhe usou?

- Podes sentir o que quiseres em relação a ele, porém, por mais que doesse saber que havia siado enganada, nada se comparava com a realidade.

- O que poderia ser pior que isso? – Me afligi enquanto um bolo se formava em minha garganta.

- Ele realmente me usou! Mas o pior é que ele não guardou para si o que roubou. Ele fez algo muito pior. Usou aquelas páginas como cartão de convite para entrar numa antiga seita radical conhecida como...

- O Martelo... – Sussurrei e ela só anuiu com a cabeça ainda mais envergonhada.

- Exato. Juntamente com aquelas páginas e o que eu o contei ele logo foi galgando espaços cada vez mais elevados dentro da seita até alcançar seu topo.

- Você está me dizendo que o meu pai é o Mestre do Martelo? – Levante-me aturdida e com a cabeça rodando.

- Entende agora porque não posso ir a esse Baile? – Ela me questionou embora nem precisasse dizer mais nada.

- Eu o odeio. Odeio! – Esbravejei pela janela.

- Mas ele me amou Mel. Isso eu tenho certeza. – Aquela afirmação de Manu me acertou completamente. Como assim ele a havia amado? Era um egocêntrico mesquinho e ganancioso. – Só que era algo doentio. E... – Ela hesitou. E eu percebi, sabia que havia mais a ser dito, mas confesso que já havia experimentado emoções demais para uma noite. Meu ódio por meu pai só aumentava e, nos dias que seguiriam aquele, eu teria de reencontrá-lo, após alguns bons meses para mim.

- Não entendo como possas considerar isso amor. – Comecei a despir-me para me recolher e só então vi que minhas coisas haviam sido organizadas. Manu, em algum momento, solicitou que o fizessem e aquilo me doeu ainda mais. Sem pensar eu corri em direção a ela e a abracei, antes mesmo que ela saísse de meu quarto. – Eu voltarei Menu! Eu juro! – E ambas choramos naquele abraço.

 

______

 

Delphine sabia do quão profunda e intensa era a relação de Melanie com Manu, mas ler aqueles relatos só lhe mostrava o quanto o amor que ambas nutriam uma pela outra era lindo. Isso só a fez arrepender-se ainda mais do rompante de ciúmes que teve de Mel por puro capricho e inveja.

A verdade era que Melanie cativava a todos, era intrínseco dela. Estava cravado em sua a alma e era uma das características que Evelyne mais admirava e amava nela e a estava vendo ser novamente demonstrada na mulher que amava e que ainda permanecia alheia aquilo tudo.

Pelo que leu das transcrições de Cosima, ela estava muito longe de compreender o que aquelas memórias significavam e, da mesma maneira, qual era o seu papel em toda aquela história e isso fez o receio de Delphine ser potencializado, pois não fazia ideia de como ela reagiria a tudo o que ela precisava saber.

Percebeu que os primeiros raios de sol começavam a adentrar pelas frestas das cortinas e pensou em deixar aquela leitura ali e retornar para a cama. Não que estivesse com sono, embora seu espírito estivesse exausto. Voltaria para poder evitar as perguntas que certamente Cosima a faria. Mas não resistiu e decidiu ler um pouco mais.

 

______

 

A manhã chegou e com ela a minha tristeza. Realizei todos os meus afazeres matinais numa lentidão doida e parecia que todo o ritmo do castelo havia se adaptado a mim.

O café da manhã em volta da grande mesa que sempre fora agitado estava estranhamente silencioso. Trocávamos poucas amenidades e a frieza daquela manhã podia ser sentida nas paredes de tijolos e nas cores mortas que as folhas adquiriram literalmente da noite para o dia. E então eu confirmei o que era apenas uma fofoca das jovens da Ordem. De que todo o castelo, toda a propriedade Chermont era uma extensão da Manu e como ela estava triste, a tristeza havia assolado todo aquele lugar.

Ela passou toda a manhã reclusa em seu quarto e eu não fui importuná-la, embora fosse o que eu mais desejasse e então, pouco antes da hora do almoço o grande sino da entrada do castelo anunciou a chegada de meu transporte. Lentamente e com pesar eu fui me despedindo de todas e pude jurar que conseguir extrair uma lágrima da velha e rabugenta Nanuk. Todas vieram se despedir, menos Manu. Eu a respeitei.

Aguardei minha ultima mala ser colocada na parte de trás da carruagem de fina madeira escura, que trazia o emblema da família Verger nela. Caminhei lentamente até lá sob uma garoa fina e assim que pus o pé no degrau de acesso, senti o peso do olhar dela sobre mim. Virei-me e a vi na janela, no alto do segundo andar, onde ficava o seu quarto. Ela me olhava com uma expressão confiante, e aquilo, de alguma maneira, me aliviou um pouco e sem mais adiar o inadiável entrei na carruagem. Até porque seria uma viagem longa e precisaríamos pernoitar em algum ponto do trajeto.

Alba, que estava sentada em minha frente estava contemplando os próprios pés e eu sabia que aquela partida estava sendo tão difícil para ela quanto para mim, pois ela havia se afeiçoado a uma das mulheres que viviam no castelo. Uma moça de origem oriental e de pele da cor de canela. A Samya.

- Lamento muito Alba! Não entendo porque você não ficou. – Retomei aquela conversa.

- De maneira alguma menina Mel. Sou sua ama... Jamais a deixaria retornar aquela casa sozinha. Eu não me perdoaria e estaria quebrando a proposta que fiz a sua mãe. – Eu sabia exatamente o que ela queria dizer.

Quando o Castelo estava distante dos olhos, eu percebi que a carruagem diminuiu de velocidade e Alba também. Ela não se conteve e colocou a cabeça para fora para checar do que se tratava.

- Tem uma outra carruagem vindo em sentido contrário. Como a via é estreita, ambas tem que diminuir o ritmo. – E retornou a seu assento.

De súbito aquela informação, que poderia ser banal, chamou-me a atenção, pois ainda estávamos dentro da propriedade Chermont. Se alguém estava vindo em sentido oposto ao que íamos só poderia significar que ia para o castelo. E minha perturbação aumentou quando ambos os veículos emparelharam e passaram lentamente um ao outro, quase tocando as rodas. Foi então que uma ideia absurda me ocorreu.

- Será que...?

- Disse algo menina Mel?

Nem atinei para a pergunta de Alba, pois busquei olhar para o interior da outra carruagem, para ter a certeza de quem a ocupava. Ela era de madeira preta e estava com quase todas as suas cortinas fechadas, dificultando a minha visão. Foi só então quando a minha carruagem deu um solavanco e ambas desemparelharam que eu pude ter um rápido vislumbre de quem estava na outra. Mas tudo que vi me bastou.

Era uma volumosa e cacheada cabeleira loira. E aquele pequeno vislumbre me fez odiar ainda mais aquela minha viagem, pois, naquele instante, eu achei que havia perdido a única chance que teria de finalmente conhece-la.

 

______

 

- Era você naquele dia...! – Delphine contemplava o nada e se sentiu preencher novamente por toda aquela nostalgia.

- Você quem? – A voz sonolenta de Cosima a assustou. Num sobressalto Delphine se pôs de pé, parando ainda de costas para ela, segurando o livro de memórias em mãos. Tentou formular e articular alguma explicação para aquela cena, mas a sua mente estava profundamente afetada pelas emoções vivenciadas com aquela leitura. Sentiu as mãos de Cosima a envolvendo pela cintura e sua mente ficou ainda mais turva com aquilo tudo.

- Ninguém meu amor! – Delphine reclinou a cabeça para trás e acariciou um dos braços da morena.

- Acordei e não estavas na cama. Venha, vamos voltar para lá. Está frio, é cedíssimo e só temos aula amanhã. – Cosima a puxava pela mão com a voz e os movimentos ainda comprometidos pelo sono. Só então Delphine se virou para ela revelando o que carregava em mãos. Desistiu de esconder aquilo, embora ainda não tivesse a certeza do que diria a outra mulher. – O que tens na mão? – Questionou enquanto recebia aquele livro e colocava seus óculos.

A loira a assistiu olhar com certa incredulidade para o que segurava e não pode deixar de admirá-la, e acha-la a coisa mais linda acordando. Com os cabelos bagunçados, escapando das tranças e nua, sob a colcha que a enrolava. Enquanto isso a viu alternar o olhar entre o livro em mãos e o seu computador ligado.

- Não conseguia dormir Cos. – Iniciou antes mesmo de ser questionada. – Vim até a sala para estudar melhor o livro que me mostrou. Foi então que, sem querer, encontrei esse outro livro sob seus materiais. – Decidiu por uma abordagem honesta a principio – Além de teres deixado seu computador ligado e sem nenhuma senha. – Fez uma careta de fingida reprovação. – Mas eu só não entendo porque não me mostrou isso também. – Tentou escapar daquela situação revertendo-a e a lançando de volta à Cosima.

- É... Eu iria lhe mostrar. – Gaguejou várias vezes. – Mas é que... – Hesitava bastante.

- Estavas tentando transcrevê-lo antes não é mesmo? – Disse enquanto secava a ultima lágrima que teimou em cair.

- Isso mesmo. – Disse de cabeça baixa, num claro sinal de vergonha – Você está bem Del? – Acariciou o rosto dela e ainda o sentiu húmido devido as lágrimas.

- Sim Cosima! Estou muito bem! – Sorriu docemente enquanto tomava uma das mãos da morena e beijava-lhe a palma, levando até seu próprio rosto. – Só estou me deixando levar por todas as emoções que estamos vivendo. E essas descobertas.

- Eu sei meu amor. Sinto-me da mesma forma.

- Entenda Cos, eu sou uma das maiores estudiosas da Ordem e desconhecia completamente a existência desse livro. – O indicou.

- Então achas que ele é falso? – Cosima estava claramente desapontada com aquela possibilidade e mais ainda consigo mesma por não ter considera-la mais enfáticamente.

- Pelo contrário. Acredito que seja muito legítimo e verdadeiro, mas... – Uma ideia começou a se formar em sua mente e que poderia lhe garantir a possibilidade de continuar lendo-o sem ser escondido. – Eu precisaria estuda-lo mais a fundo. Comparar os eventos ai narrados com documentos que dispomos na sede da Ordem. – E as verdades começaram a dar espaço às mentiras. Odiou-se por isso. Mas não sabia como iniciar aquela difícil conversa.

- Queres leva-lo com você? – Cosima pareceu hesitante.

- Apenas para lê-lo, legitimá-lo e transcrevê-lo para você! – Delphine tentou tranquiliza-la.

- Quer dizer que sabes o que tem escrito? Que consegues lê-lo? – Perguntou com legitima surpresa. – Ah! Mas é claro que consegues. És a Mestra da Ordem. – Delphine respondeu apenas dando de ombros.

- Eu apenas estudei bastante para isso Cos. – Essa parte não era mentira.

- Tudo bem então. Pode leva-lo. – O devolveu a Delphine sem maiores receios. Parecia confiar nela cegamente e isso magoava a loura de forma cortante. – Mas, por favor, eu tenho uma necessidade inexplicável de saber o que aconteceu com Melanie e Evelyne. – Del sorriu docemente enquanto se deixava guiar de volta para o quarto, depositando o livro sobre o sofá. – Será que poderias me confirmar algo se eu lhe perguntasse? – Parou diante dela, dando inicio a carícias na barriga nua e arrepiada da loura.

- Pergunte Cosima! – Ofereceu seu pescoço para ser beijado e degustado e não foi negada.

- Evelyne e Melanie se apaixonaram não é mesmo? – Disse cada palavra alternada com seus beijos. Sem que Cosima visse, já que estava tão ocupada lambendo toda a extensão do maxilar da outra, a loura olhou pela janela e sentiu seu coração fugir a seu controle. – Assim como nós? – Cosima exigiu que se olhassem e precisou agarrar-se ao corpo de Delphine, pois a forma intensa que essa a olhava lhe desconcertou por completa.

Jamais haviam se olhado daquela maneira. Como se pudessem enxergar ainda mais longe uma da outra. Ainda mais profundamente e Delphiene olhava para os esverdeados olhos por trás das lentes de vidro e via Cosima, mas havia algo mais, mais alguém ali. E lá estava ela. Sua Melanie. Porém, assim que encontrou no fundo de sua mente o terno e apaixonado olhar de Mel, voltou a enxergar Cosima. Foi então que se deu conta de que estava diante de uma pessoa completamente diferente, que carregava um eco de quem fora seu grande amor e foi inevitável pensar na dedicatória escrita para ela:

“(...) A amo com todas as forças de meu ser. És minha vida, minha paixão, meu destino. E o que vivemos foi, é e sempre será o mais extraordinário dos amores. (...)”

- Eu já disse hoje que a amo Srta Niehaus? – Segurou seu rosto entre suas mãos e a olhou de cima para baixo. Cada vez mais percebia que o amor que sentia por Cosima era tão idêntico quanto diferente ao que sentiu por Melanie.

- Hum... Hoje ainda não!

Mordendo seus lábios delicados, Delphine abandonou o rosto de Cosima e desceu suas mãos até alcançar a polpa das nádegas dela e num perfeito e sincronizado movimento a ergueu do chão e a soltou sobre a cama. A admirou deitada diante de si, se oferecendo por completa, se entregando e se permitiu pensar nas mais sacanas imagens. Porém, fez questão de mostra-las para sua aluna. Essa arregalou os olhos e contraiu as pernas quando vislumbrou o que sua professora pretendia fazer com ela. Imediatamente obedeceu.

Cosima virou-se em seu próprio eixo, parando de bruços. Delphine a admirava, mas não mais impassível. Uma de suas mãos já puxava e apertava um de seus próprios mamilos que já estava extremamente entumecido, enquanto a outra sobrevoava a clara penugem sobre seu sex*. A morena olhou por sobre o ombro e amou o que viu. Sua amada se deleitando com o que assistia e então decidiu elevar o nível do show. Gradativamente foi elevando seu quadril e empinando sua bunda que se abria sutilmente devido a posição.

Delphine sentiu o ar faltar e uma de suas pernas bambear quando seus olhos identificaram o brilho da excitação de Cosima ser espalhado por toda a extensão de seu sex* por hábeis dedos. A morena rebol*va de forma ritmada enquanto Delphine esfregava seu próprio clit*ris de maneira desenfreada. Ambas estavam em seus limiares. Foi então que a loura se lançou mais para a frente, topando com a cama enquanto Cosima recuou, chocando sua bunda contra a virilha pulsante de sua amada. Continuou com seu louco rebol*do enquanto a loura abria seus grandes lábios para que toda a sua carne se chocasse e fosse esfregada na suculenta bunda de sua estudante.

Ambas tremiam e começaram a perder o ritmo de seus movimentos, o que só poderia significar uma coisa. Num instante final, Cosima ergueu seu abdômen e o colou contra o peito de Delphine que buscou desajeitadamente seus lábios de sua amada enquanto seus dedos buscaram o sex* pulsante da morena, substituindo os dela naquela deliciosa tarefa. Tudo isso sem que se desgrudassem um instante se quer. O êxtase absurdo não tardou e como já estava se tornando de costume entre elas, o partilharam, trocando gemidos e palavras desconexas. Caindo sobre a cama ao final, completamente extasiadas e exaustas.

- Também te amo Delphine! – Riram deliciadas.

 

******

 

Não sem maiores resistências, Delphine conseguiu sair do apartamento de Cosima. E só o fez após terem almoçado juntas ainda na cama e terem comido a sobremesa uma no corpo da outra.

Estava vivenciando a mais surreal das experiências, como se já não as tivesse experimentado ao longo de sua vida, mas agora estava diante do limiar de seu sofrimento e diante de um dilema. Querer estar com Cosima mais do que qualquer coisa, mas também precisava, ansiava por saber mais do conteúdo das memórias de Melanie. Sentia que nelas estava contida alguma informação que seria imprescindível, de alguma maneira, para o embate final que estava cada vez mais próximo.  

- Já podes devolver o meu carro? – Helena a esperava em seu apartamento, juntamente a Stella. Ambas estavam ofegantes e pareciam que acabaram de fazer algo ou foram interrompidas. Delphine riu daquilo e sabia que fora Stella quem percebera a sua chegada. Ela, de alguma forma, sempre sabia. Sentia a iminência do “perigo” e isso a tornava praticamente mortal em ação.

- Nossa Cormier, a noite deve ter sido boa. Sua cara não nega. – Stella divertiu-se e Delphine não perdeu aquela observação. Foi até o espelho em seu bar e viu que olheiras quase imperceptíveis marcavam sua face.

- De fato Gibson, eu mal dormir mesmo. Mas não exatamente pelo que estão pensando e sim por isso aqui. – Lhes estendeu o livro.

- “As Memórias de Melanie Verger” – A loura mais baixa leu aquele nome. – Mas o que significa isso? Você sabia da existência desse livro? – Delphine ergueu os ombros e negou com a cabeça.

– Não existe referência nenhuma dele em nossos escritos.

- Do que vocês estão falando? – Helena o tomou em mãos.

- Eu esperava que você pudesse me dizer algo Gibson. Afinal de contas você ajudou a S a entrega-lo para a Cosima.

- Delphine eu... Lhe juro que não sabia desse livro. Para lhe ser bem honesta a Siobhan só me mostrou o livro oficial. – Delphine cerrou os olhos. – Acredite em mim. Vamos, entre em minha mente e veja que não estou mentindo. – Solicitou. Mas Delphine não o fez.

- Não tem motivo para isso. De alguma forma esse livro, que deveria ter chegado até mim, não me foi entregue. Aparentemente a minha mãe tem a ver com isso e indiretamente a S também. Então precisarei conversar com ela. Helena, solicite que ela venha até aqui. Não posso me ausentar, pois tenho compromissos por aqui.

- Leia-se devorar a Srta Niehaus de todas as formas. – Stella riu. Delphine fez questão de ignorá-la, pois sabia que aquele era um dos prazeres daquela mulher. Provocá-la. Mas não se incomodava, pois realmente gostava e admirava a dedicação de Stella e o sua competência. Além do fato de ela parecer querer bem a Helena.

- Não preciso chama-la. Ela já está com a viagem marcada para cá no sábado. – A loura a olhou interessada. – Nada oficial, ela vem para a Opera. Parece que teremos uma exibição de Madame Buterfly.

- Ah sim, ótimo! Então poderei conversar com ela pessoalmente.

- Tens algum plano para hoje? – Helena a questionou. – Pergunto apenas por obrigação, já que parece que preferes ignorar a minha proteção. – Protestou.

- Calma minha amiga! – A segurou pelos braços, causando um desconforto na outra mulher ali na sala – Sempre precisarei de você. Além do mais, eu tenho a certeza que sempre tem alguém de sua confiança na minha cola. – Brincou. – Mas não, hoje eu pretendo ficar em casa. Preciso estudar esse diário a fundo. Além de preparar minha aula de amanhã.

- Até parece que precisa. – Stella riu.

- Sendo assim, está livre o resto do dia. Para... Aproveitar como bem desejar. – Piscou um dos olhos para as amigas que riram divertidas.

- Gibson? – Delphine a chamou, fazendo com que ambas parassem antes de ultrapassarem a porta. – Acho que isso é seu. – Ela segurava um sutiã cor de pérola com bojo. As duas louras se divertiram com aquilo, a medida que a morena ali presente ruborizou lindamente.

- Vamos logo! – Helena demandou, levando Delphine a gargalhar e ter sua gargalhada ecoada pelo silencio do seu espaçoso tríplex.

Decidiu tomar um banho para relaxar. Ficou repassando os últimos acontecimentos em sua mente e tudo o que estava descobrindo nas páginas deixadas para ela. Optou por uma camisola de seda negra e um hobbie da mesma cor. Caminhou descalça e escolheu uma boa garrafa de Château Bolaire Bordeaux Supérieur Vertical, da safra de 2009 – 2010, subiu as escadas que ficavam ao final do corredor e lhe levariam para o terraço. Assim que o alcançou, as luzes foram acesas.

Abriu a garrafa de seu vinho e se estendeu sobre uma confortabilíssima espreguiçadeira de madeira, acolchoada. Contemplou o crepúsculo inigualável que pairava sobre Paris e assistiu o momento exato em que as luzes da Torre Eiffel foram acesas. Definitivamente amava aquela cidade e tudo o que ela lhe representava. Afinal nascera ali, e fora lá que viveu os primeiros anos de sua vida adulta.

Voltou sua atenção para o livro em mãos e focou no momento em que havia pausado a leitura. Justamente no momento em que as damas do destino foram caprichosas com ela e a colocou lado a lado com seu grande amor e ela nem se quer sabia daquilo naquele instante. Se tivesse saído um pouco mais cedo ainda a teria encontrado na casa de sua mãe. Recostou a cabeça na espreguiçadeira e sussurrou.

- Mamãe... – Com os olhos fechados, permitiu-se lembrar daquele reencontro após tantos anos. Pensou na alegria de Izabelle ao pressentir, de longe a sua chegada. – Ela sempre sabia! - E assim que a sua carruagem parou diante da imensidão do castelo Chermont, Evelyne desceu de uma vez só e o adentrou sem tocar sinetas ou precisar ser anunciada. Nada daquilo era necessário, pois a presença dela era imponente demais e alcançava todos os recantos daquela construção, se fazendo perceber. Logo várias vieram recebê-la e algumas até a festejaram com mais entusiasmo do que outras e Izabelle, a protetora de sua mãe, só queria lhe retirar a capa molhada devido a chuva torrencial que caia naquele instante.

Assim que ela retirou seu casaco, as mulheres escandalizaram-se com o que ela vestia.

- Isso são... Calças masculinas? – Uma senhora de cabelo grisalho levou uma das mãos a boca.

- Não Loraine, são calças femininas, especialmente feitas para mim. – Apertou o queixo da senhora.

- Então é assim que tem gastado seu tempo? Com compras e festas? – A voz de Manu irrompeu no salão. O clima ficou tenso ao extremo e então se olharam com firmeza.

- Tenho a certeza que a Sra sabe o que faço. Seus cães de caça não me largam um instante se quer. E... Também é muito bom revê-la mamãe. – A alfinetou enquanto seguia em sua direção para alcançar as escadas. – Mas agora tudo o que quero é descansar.

- Então ficará conosco dessa vez? – Manu lhe olhou pelo canto dos olhos, justamente quando estavam lado a lado. As demais mulheres ali presentes ficaram apreensivas, mas também não puderam ficar isentas de serem tocadas pelo poder daquela imagem. As duas mulheres, que possuíam a mesma estatura física e muitos dos mesmos traços emanavam uma energia sobre-humana.

- Isso seria possível? – Evelyne quis dizer algo mais, porém se conteve. Manu a encarou definitivamente, mas viu que havia, num fundo dos olhos verdes de sua filha algo a mais. Suavizou seu olhar, pois em seu intimo, estava exultante pela presença dela, sã e salva, após mais de dois anos.

- Claro que sim. Afinal de contas esse também é o seu lar – Eve não esperava aquela recepção de sua mãe e não conseguiu conter o brilho em seus olhos.

“Obrigada!” Comunicou-se com ela.

“Estou feliz que estejas de volta.” “Mesmo que seja por pouco tempo.” Essa ultima frase já a alcançou no topo da escada. Eve a olhou por sobre os ombros e adentrou em seu quarto.

Delphine despertou com uma buzina mais estridente ao longe e recompôs-se na espreguiçadeira. Bebericou uma boa quantidade de seu vinho e contemplou as estrelas acima. Voltou a olhar o livro que trazia em mãos e o abriu gentilmente, buscando o ponto onde havia parado. Uma pequena fita de seda lilás servia de marcador. E assim que viu a data marcada, mergulhou novamente em lembranças.

 

______

 

Nice, 27 de abril de 1956

A viagem de volta para casa foi pior do que eu poderia imaginar. As estradas estavam muito ruins devido as fortes chuvas que prejudicavam e faziam carroças e carruagens atolarem na lama. Obrigando-nos a pernoitarmos e nos demorarmos mais do que o planejado em estalagens. Mas, enfim, após dois dias cansativos, chegamos a propriedade Verger e já da estrada eu pude ver os preparativos iniciados para o tal Baile de aniversário. Realmente seria algo grandioso, pois a mais de um quilometro da entrada principal já estavam colocando tochas e lamparinas, ladeando o caminho.

Os jardins estavam sendo podados com o esmero que eu não via desde a época em que mamãe cuidava daquele lugar e funcionários e trabalhadores de meu pai perambulavam de um lado para o outro, limpando janelas e cortinas. Faltava pouco mais de dois dias para o evento e o clima na mansão era frenético.

Assim que desci da carruagem, várias de minhas amas vieram me receber e me festejar, outras – as espiãs e amantes de papai – me cumprimentaram de longe. Ele não estava em casa, o que para mim foi até positivo, pois eu não sabia como iria reagir a estar frente a frente com ele após ouvir tudo o que Manu me disse a seu respeito. Tratei apenas de tomar um bom banho, comer algo leve e dormir a tarde inteira, pois estava exausta.

Mas eu acordei com uma terrível sensação comprimindo meu peito, me roubando o ar. O quarto já estava mergulhado na penumbra, quando senti a presença de algo junto a mim em meu quarto. Estava deitada de bruços e então me virei, alcançando o castiçal na cabeceira da cama. O agitei diante de mim, buscando algo e lá estava ele. Sentando em minha escrivaninha, dedilhando meus livros e me observando dormir. Meu pai.

Arrepiei-me por completa com a sensação que percorreu meu corpo e por longos instantes ambos permanecemos em silêncio. Ele mergulhado nas trevas e eu a encará-lo com firmeza, mas estremecendo por dentro. E então eu tive um vislumbre de algo aterrador. Os olhos dele Eve. Não eram humanos. Não poderiam ser, pois eram de um laranja fogo assustador. Mas essa faísca só durou uma fração de segundo, pois logo ele piscou como se percebesse algo.

- O Sr me assustou papai! – Finalmente eu consegui dizer algo.

- Não foi a minha intenção. – Mentiu descaradamente.

- Mas... O que o sr deseja em meus aposentos? – O questionei, deixando claro o meu incomodo com a presença demorada e indesejada dele ali.

- Um pai não pode sentir falta de sua filha? Afinal de contas você passou meses longe de mim. – Seu sarcasmo me embrulhava o estômago. Fiquei em silêncio, pois eu sabia que ele queria me dizer algo. – Bom, espero que seu tempo com a Madame Degrasi tenha sido proveitoso e que estejas apta a atender os requisitos esperados para uma boa dama e... Para uma boa esposa.

- O quê? – Meu susto foi tamanho Eve que apaguei a vela com minha respiração. Quando a ascendi novamente, ele não estava mais lá. Fui atrás dele e o alcancei em seu escritório. – Do que você está falando papai? – Ele permaneceu tranquilo no que fazia.

- Isso que ouviu. Irás se casar no final da primavera. – Permaneceu com o tom imoassível.

- Mas... Mas... EU NÃO QUERO ME CASAR! – Explodi. A ideia era aterradora demais para mim. Por vários motivos, mas o principal deles era por que eu teria de me afastar da Ordem.

- E quem lhe disse que tens querer? Mulher nenhuma tem vontade própria. Sua mão, seu corpo, tudo em você ME PERTENCE e eu escolho a quem DAR! – Ele explodiu de volta e todas as velas daquele ambiente foram apagadas. Foi então que constatei que ele também não era uma pessoa comum. Mas eu estava tão irada e apavorada com tudo que nem ponderei como deveria sobre aquilo naquela instante. As lágrimas caiam aos montes e eu me odiava por chorar diante dele. Queria ser mais forte como você meu amor.

- MEU CORPO ME PERTENCE SIM! – Bufei. E foi então que ele me ergueu do chão, com ambas as mãos em meu pescoço. E então eu vi a feição do mal no rosto dele. Mas fui jogada ao chão.

- Não devo mais machuca-la! Tenho de lhe entregar inteira ao seu marido, pois isso faz parte de nosso “acordo”. – Disse enquanto ajustava sua roupa. – Ele agora que terá esse prazer! – Minha ira e pavor estavam incontroláveis. Eu não sabia o que fazer naquela ocasião.

- E... Quem é? – Perguntei com terror em minha voz.

- O Duque de Lorraine! – Ele disse sibilando. E meu desespero atingiu níveis impensáveis. Eve meu amor, nunca lhe contei sobre isso, mas já havia tido o desprazer de conhecer o Duque há alguns anos, pouco depois da morte de minha mãe. Eu estava inconsolável e aquele homem desprezível se ofereceu para me consolar. Ele era muito mais velho do que eu, mais velho até que meu pai e o consolo dele partia da ideia de enfiar sua mão sob o vestido de uma menina de 11 anos. Ele só não terminou o que havia iniciado porque Alba e Anna chegaram na hora. Ele nem fez questão de se justificar. Apenas disse que tinha a permissão de meu pai.

 

______

 

Delphine se pôs de pé e jogou a taça de vinho contra a parede, fazendo se estilhaçar. Nuvens carregadas encobriram as estrelas e trovões puderam ser ouvidos à distância. Ira estava longe de definir o que ela sentia naquele momento. Contudo, resignou-se e abriu um sorriso de canto de boca ao lembrar-se do pânico no olhar do Duque, pouco antes de mata-lo.

Respirou fundo e reabriu o livro, dando continuidade a leitura.

 

______

 

 Sai da sala aos prantos. Não sabia o que fazer de imediato, mas logo pensei em fugir, contudo, as três tentativas de fazê-lo foram frustradas. Armand havia cercado o castelo, colocado vários de seus homens me vigiando, na estrada de acesso e nas trilhas para a floresta e o campo. Foi a primeira vez que me tornei prisioneira em meu próprio lar.

Alba e Anna comoveram-se com a minha agonia e, até hoje não sei como, mas deram um jeito de enviar uma correspondência para Manu, avisando-a do que estava prestes a acontecer. De que, além de aniversário, aquela seria a minha festa de noivado.

Passei os dois dias seguintes sem mal me alimentar. Não via graça em nada, nem mesmo meus livros me animavam. Parecia que eu estava caminhando para meu fim.

O fatídico dia 29 de abril havia chegado e com ele a minha infelicidade. Passei todo o dia como um ser quase sem vida. Me lavavam, me vestiam, me alimentavam aquém de minha vontade. Eu apenas mergulhava em minha auto piedade. Alba fingia entusiasmo ao mostrar-me os belíssimos e caros vestidos que eu tinha para escolher, embora ela sabia qual deles eu escolheria.

- Sempre o verde, certo Menina Mel? – Dei de ombros.

Pela janela eu via as primeiras carruagens se aproximando e minha aflição só aumentava. Ao longe os primeiros acordes da orquestra já tocavam as valsas iniciais e o mestre de cerimônias começava a anunciar os convidados. Toda a alta sociedade de Nice e das cidades vizinhas estavam presentes, além do Cardeal Richelieu, maior representante da igreja na França e amigo intimo de Armand.

Batidas na porta me alertaram. Uma das amas dele colocou a cabeça para dentro do quarto.

- Seu pai a espera Srta. Os convidados estão chegando aos montes. – Ergui-me e sair de trás de Ana e Alba. A mulher não porta não conseguiu esconder o seu espanto ao me ver pois seu queixo quase alcançou o chão, - A Srta está maravilhosa. – Foi a primeira vez que aquela mulher foi sincera comigo. Não me dei ao trabalho de agradecer o elogio. Apenas olhei para minhas duas amas que possuíam lágrimas em seus olhos e lutavam para não deixa-las caírem, pois não queriam dificultar ainda mais aquele meu momento.

Respirei muito fundo e dei meu primeiro passo em direção à minha “execução”, pois era como eu me sentia. Minhas amas ainda arrumavam algo em meu vestido, mas eu sinceramente não dava a mínima para a minha aparência. Nunca dei e naquele instante era o que eu menos me preocupava. Percorri toda a extensão do corredor de quartos e avistei o Armand, parado, de costas para mim. Ele olhava para baixo e checava quem já havia checado. Aproximei-me dele e então ele se virou para mim. Também foi impossível para ele não arregalar os olhos, mas procurou se conter. Ele nunca foi de me elogiar em nada.

Ele enrijeceu a postura e me ofereceu seu antebraço para que eu colocasse minha mão ali. O fiz com precisão, procurando fingir ser o que eu não era. Ele checou meu rosto e virou-se para o mestre de cerimônias que pediu que a orquestra parasse a música. E então fomos anunciados.

- Senhoras e senhores, boa noite. Gostaria de lhes apresentar o seu anfitrião e a aniversariante do dia. O Conde Verger e sua filha. – Algumas trombetas nos anunciaram e fomos descendo as escadas. Pude perceber o cochichar de algumas pessoas, a medida que passávamos por elas e muitos deles diziam respeito a mim. Ouvi um que me aqueceu um pouco o coração. O de que eu lembrava demais a minha mãe.

Paramos no centro do salão e logo a orquestra retomou a valsa pausada e ele ergueu ambos os braços, na posição oficial para receber minhas mãos e então começamos a rodopiar no meio do salão. A valsa era algo natural para mim. Desde muito nova eu adorava dança e tinha uma habilidade impressionante para mover meu corpo.

Dançamos duas valsas completas e já na segunda, várias outras pessoas juntaram-se a nós no salão. Permiti-me fechar os olhos e fingir estar em outro lugar, num outro tempo talvez. Dançando aquela dança com outra pessoa.

- Está na hora de dançares com seu futuro marido. – Ele estragou minha fantasia. Abri os olhos e vi o rosto grudento e sorridente do Duque se aproximar. Contudo, quando ele repetiu o gesto oficial para me receber, as trombetas soaram anunciando a chegada de mais convidados. Um pouco atrasados de fato. Demos pouca importância, pois eu só conseguia desviar o olhar do rosto sacana do Duque e meu pai conversa com ele. Então ouvimos aqueles nomes.

- Boa noite. Ás Sras Emanuelle Chermont e sua filha, Evelyne Chermont!

Aquilo soou como a mais bela das canções em meus ouvidos, ao ponto que para meu pai, pareceu o pior dos pesadelos, pois ele cambaleou para trás e cerrou os olhos. Ele estava em agonia e eu em êxtase. Contudo um sonoro som quase uníssono de admiração chamou minha atenção, e então desviei de algumas pessoas e as vi. Ou melhor, eu A vi!

Era você!

Finalmente eu a vi e me apaixonei perdidamente naquele instante.

 

 

 

 

[1] Sacerdotisa de Apolo. Mulher que possuía o dom da profecia.

[2] Livro das Sombras em Latim


Fim do capítulo


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 37 - Capítulo 37 A Deusa da Perdição:
patty-321
patty-321

Em: 29/03/2018

Nossinhora. Quanta emoção. Enfim o encontro. Como sofreu a mel.

Responder

[Faça o login para poder comentar]

patty-321
patty-321

Em: 26/03/2018

Oi gatinha. Bom demais ler as memorias de melanie. Ao to tao sem tempo de ler mas amo tanto sua estória q nao consigi parar. Bjs

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web