Carolina

    A comida desce rasgando na minha garganta esta noite. Eu não consigo encarar a Montserrat. Para o meu azar, minha filha não parava de me encarar como se pudesse escutar os meus pensamentos. Minha, ainda, esposa segue alheia a tudo. Anda tão contente com o progresso da nossa pequena. Mon que não jantava com tanta frequência em casa, pareceu adivinhar que quero conversar com ela.

    - Carol, sábado vai estrear um desses filmes infantis e podemos levar a Annie para assistir. Faz tempo que não fazemos um programa assim. Não seria legal, filha? - Montserrat sugeriu sorrindo.

    - Eu acho que... - fui cortada.

    - Sim, sim, sim! Por favor, vamos sim. Posso convidar a Sara? - seu sorriso aumentou com a ideia.

    Montserrat me olhou receosa e logo se dirigiu a filha:

    - Não, meu anjo. Os finais de semanas são dias de descanso para a Sara. Ela deve sair com a amiga dela para se divertir.

    - Ah, mas eu não posso nem perguntar? A Fernanda pode ir também, quem sabe?

    Montserrat deu risada e me olhou mais uma vez. Minha cabeça parece estar congelada, apenas pensando se eu ainda serei convidada para o cinema depois de tudo que vou contar.

    - Annie, não é não. Seremos eu, você e sua mommy, sim?

    - Tudo bem, será divertido do mesmo jeito. Eu amo vocês - o sorriso infantil me quebrou.

    - Eu também te amo, meu amor. Você é a minha vida. Nós amamos você... Carol? - Montserrat estranhou meu silêncio ou até mesmo notou minha cara constrangida.

    - Amamos você mais que tudo - falei emocionada.

    A dúvida começou a tomar conta de mim. Deixar tudo o que conquistei com muito por outra pessoa é certo? A minha convivência com a Annie será afetada, a casa é da Montserrat. Na nossa primeira separação, ela me deixou com a Annie porque trabalhava muito. Mas após uma traição e a Annie nessa situação, será que ela vai ficar bem? Eu terei que abrir mão da Annie. É certo eu deixar de morar na mesma casa com a minha filha parcialmente paraplégica por outra mulher? Uma mulher que estou apaixonada, sim. Mas ainda pode ser considerado egoísmo.

    Tudo aconteceu de repente entre a Fernanda e eu como foi no Brasil. Nós acabamos trocando algumas mensagens durante a última semana, nas quais ela me dizia que não conseguia me esquecer. Depois nos encontramos por acaso e começamos a discutir. Eu pedia para ela ir embora enquanto era questionada se ela deveria ir embora somente porque eu me sentia atraída por ela. No outro dia, Nanda me chamou para conversar. Achei que fosse uma oportunidade real para acabar com aquilo, mas vi que estava engana quando ela me beijou no meu escritório. A mesa foi mais uma vez testemunha do nosso amor.

    Meu casamento não pode continuar.

 

...

 

    Terminei de lavar o último copo e o entreguei para a Montserrat enxugá-lo. Não conseguia acompanhar sua felicidade ao falar empolgadamente dos prêmios que recebeu pela última coleção. A crítica foi muito elogiosa, só me restou sentir orgulho por ela fazer tanto sucesso. Montserrat merece o sucesso profissional. Sinto-me cretina por respirar aliviada pois é provável que ela trabalhe menos já que a temporada de desfiles acabou. Assim, mesmo que eu tenha que sair de casa, ela ficará mais com a Annie.

    -... se até aquela víbora daquela jornalista francesa engoliu a criação deste ano, imagina o quanto eu não passarei a ser mais prestigiada? A cada hora aparece um convite para festas. Lembra-se quando a gente não perdia uma? Que saudade. Depois você virou uma ativista chata e passou a trabalhar na política. Também a Annie foi crescendo, precisava de um lugar para estudar. Então decidimos viver aqui em Slovenj Gradec, a sua cidade. Eu adoro aqui, sabe? O sossego, as pessoas... e você.

    - Mon, nós precisamos conversar - escapou de forma ligeira dos meus lábios.

    Olhei a forma como o seu rosto mudou de feliz para receoso. O copo saiu de suas mãos, parou no armário e o pano de prato foi deixado de lado.

    - Pode falar, querida. Eu fiz alguma coisa?

    Doeu. Meus olhos se encheram de lágrimas. Apenas balancei a cabeça negando a pergunta.

    - Eu fiz. Perdoa-me, Mon.

    - Perdoar pelo quê? Carol, eu não estou entendo.

    - Eu estou apaixonada por outra - confessei de uma vez.

    Fechei os olhos. Só pude ouvir o som da bota dando passos para trás. Não foram muitos, Montserrat parece querer se afastar como se um impacto de um objeto a tivesse atingido.

    - Olha para mim, não seja covarde - olhei. - Por quem você está apaixonada? É por alguém do seu trabalho?

    - Não... - murmurei. - Eu... eu estou... bem, cedo ou tarde você vai descobrir... eu estou apaixonada pela Fernanda, a amiga da Sara.

    - O QUÊ? Desde quando? Não pode ser... Carolina, tem duas semanas que elas estão aqui. Foram tantos contatos assim?

    - Eu vou te contar tudo, eu só preciso que me compreenda. Ou pelo menos tente. Eu... como eu vou falar?

    Desesperei-me quando me dei conta da sua expressão raivosa.

    - Com a boca, Carolina! Não precisa se dar ao trabalho de explicar que eu entendi tudo. Você me traiu. Traiu! Sabe que eu não aceito traição e agora vai querer dar uma de que está apaixonada. Que situação ridícula que você está se colocando.

    - Você está errada! Não foi uma traição por uma ou duas noites de sex*. Eu me apaixonei pela Fernanda no Brasil ainda.

    - Ah, que ótimo consolo. Muito obrigada por voltar comigo para a Eslovênia depois de colocar um belo par de chifres na minha cabeça. Francamente, Carolina, traição dupla é a última coisa que eu esperava de você. Me traiu fisicamente primeiro e depois me traiu por não ser sincera comigo. Você é ridícula.

    - Mon, calma! Você não está me deixando falar - as palavras em português sumiam da minha cabeça - Você... quando... eu me apaixonei. Não... no tive culpa. Eu estou gostando de verdade dela. Eu peço o seu perdão pelo que fiz. Sei que errei, mas eu nunca planejei te trair, foi mais forte...

    - Guarde os clichês baratos para você. Tudo bem, você se apaixonou pela Fernanda, ela por você, trans*ram porque vocês são dois seres humanos de carne e osso, não resistiram. Só isso já foi bem cafajeste da sua parte, você querendo admitir ou não. Mas por que você voltou comigo para a Eslovênia? Fez todo esse teatro de esposa querendo defender o casamento. Sufocou-me até não querer mais. Eu não sei como essa Fernanda quer ficar com você ainda, já que a largou no Brasil e me escolheu mesmo supostamente estando apaixonada por ela.

    - As pessoas erram. Quer um exemplo? A Sara também correu de você. Se ela disser que está apaixonada e quer ficar contigo, não a perdoaria?

    Perigosamente e a passos lentos, Montserrat chegou bem próxima de mim. Quando seu rosto colou no meu, senti sua respiração ofegar de nervoso. Seus olhos transmitiam ódio.

    - Não-fale-pela-Sara. Não-a-meta-na-nossa-conversa. Não-apele-pelo-que-sinto-pela-Sara-para-se-safar. Você-me-traiu-ela- só-fugiu. Seja-mulher-e-assuma-seus-erros-sem-se-comparar-com-outra - seus dentes que estavam travados, abriram de uma vez para gritar - COVARDE!

     O grito foi tão alto que é bem capaz de ter acordado a cidade inteira. Quando acordei do choque, o que demorou um tempo, vi que Montserrat não estava mais na cozinha. Corri para a sala, porém só escutei a voz da Annie chamando por nós do seu quarto.

    O som de um pneu a cantar foi a resposta para a minha pergunta: Onde está a Montserrat? Foi embora. Eu não tive muito tempo para pensar ou agir. Annie começou a chamar desesperada e chorando. Era hora de eu cuidar da minha filha e rezar para que a Montserrat não faça nenhuma besteira.

 

 

Montserrat

 

    A madrugada foi longa. A primeira coisa que fiz quando vi os primeiros raios de sol pela janela da minha sala no ateliê, foi pegar um remédio para dor de cabeça e tomá-lo. Quando cheguei desesperada ontem à noite, tive uma conversa rápida com a Sônia por vídeo. Não me lembrava de ter marcado a chamada. Apenas fiz um desabafo e escutei os seus conselhos. Ela demorou acreditar que a história era verdadeira, Sônia estava tão chocada quanto eu com o fato da Fernanda e a Carolina estarem juntas.

    Chacoalhei minha cabeça como se isso fosse capaz de tirar as lembranças da Carolina dizendo que me traiu.

    Peguei uma roupa limpa de alguma coleção antiga e fui ao banheiro. Preciso de um banho para tentar acalmar a minha mente.

    Eu não sei o que é pior, ser traída ou a Carolina me enganar dizendo que me ama sendo que já estava apaixonada por outra. É a Carolina, caramba. Carolina é o meu exemplo de pessoa, uma mulher de fibra, valente, que luta por seus ideais, sonha em acabar com o sofrimento humano. Como entender uma pessoa tão especial para mim me apunhalar pelas costas como fez? Eu nunca entenderei e nem perdoarei. Eu quero que ela e a Fernanda se explodam!

    Desliguei o chuveiro tentando manter a sanidade. Não demorou muito para eu estar tentando disfarçar a noite em claro com uma maquiagem. Não quero que ninguém saiba da minha separação ainda, muito menos o motivo. Espero que a Carolina seja ao menos discreta para assumir o novo romance, não posso prejudicar a minha imagem.

    Caco chegou na empresa. Observei seu cuidado para abrir as janelas e salas. Como imaginei, tomou um leve susto quando me viu.

    - Bom... bom dia, senhora.

    - Assim que o João chegar, peça para que vá imediatamente comprar meu café e que traga algo leve para eu comer.

    - Sim, senhora.

    Enquanto Caro foi para a recepção, entrei na minha sala mais uma vez. Meu celular chama de novo. Inúmeras chamadas da Carolina e mensagens ignoradas. Fingi mais uma vez que não escutei e liguei meu computador para começar o dia de trabalho como se nada tivesse acontecido.

 

...

 

    Ouvi batidas na minha porta. Sem poder ignorar, autorizei a entrada. Terminei meu terceiro copo de café. A essa altura eu aguardo o quarto que o João foi buscar.

    - Bom dia, Montserrat.

    - Bom dia, Charlotte. Tudo bem?

    - Nem tanto, Carolina está desde cedo me ligando perguntando se sei onde você está. Só sossegou por causa da última ligação na qual eu disse que seu carro estava aqui. O que aconteceu?

    - Vamos nos separar. Não era isso que você dizia? Para nos separarmos? Então agora eu tenho motivos de sobra para isso.

    - Mon - preocupou-se minha amiga. - Eu nunca quis isso, você sabe. É só mais uma briga, depois vocês se acertam.

    - Carolina me traiu e está apaixonada por outra.

    A cara da Charlotte era de pura surpresa. É claro que é difícil acreditar no primeiro momento.

    - Deve ter um mal-entendido. Carolina te ama e não te trairia assim.

    - Eu estou falando sério. Olha que eu não precisei me esforçar para descobrir, ela mesma me falou com essas palavras. Sabe a Fernanda, a amiga da Sara, aquela ruivinha que estava na festa da Annie? Carolina está apaixonada por ela. Simples assim.

    - Meu Deus! Montserrat, isso é inacreditável. Meu bem, como você está?

    - Eu estou me sentindo a pessoa mais idiota no mundo. Não por elas terem trans*do, mas pela Carolina ter se apaixonada por ela desde o Brasil e vir comigo.

    - A história é pior do que imagino então. Faz meses que vocês chegaram do Brasil. Tente conversar.

    - Nem vem, Charlotte. Não quero ver a Carolina nem pintada de ouro na minha frente.

    - A Carol é a outra mãe da Annie - lembrou-me.

    - Foda-se. Infelizmente isso nunca vai mudar. Ah, mas algumas coisas mudarão. Preciso falar com meus advogados sobre isso, quero agilizar logo a guarda para mim e vamos ver o que posso fazer para minimizar as visitas.

    - Montserrat, não faça besteira.

    - Eu não vou discutir isso com você, já me decidi. Agora, acho que temos muita coisa para fazer, não?

    Charlotte percebeu que eu não falaria mais sobre o assunto e que precisava me deixar sozinha.

    - Pense mais um pouco, sim? - levantou-se da cadeira - Ah, tenho um recado da Carolina, já provavelmente você não vai ler as mensagens dela. Ela vai viajar para Bruxelas, reunião dos eurodeputados, e só volta amanhã à noite. Annie já está na escola e vai sair com a Sara para as fisioterapias. Ela pede para que você chegue no final da tarde em casa porque é o horário que a médica levará a menina para casa.

    Sara. Eu deveria ficar feliz por vê-la, mas não sei se é um bom momento. Eu estou com raiva do mundo. Acho que nem o sorriso dela me acalmará.

    - Char, você pode fazer um favor para mim?

    - Claro, Mon. O que você precisa?

    - Preciso que a Annie vá para sua casa. Você já cuidou dela antes e ela adora suas meninas. Eu não sou uma boa companhia hoje, preciso de um tempo. À noite eu passo na sua casa para dar um beijo nela, tudo bem?

    - Eu vou buscá-la no final da tarde e a levo para minha casa. Será muito bem cuidada, não se preocupe.

    - Thanks, Char. Muito obrigada mesmo.

    Charlotte saiu da minha sala e eu afundei na cabeça. O que eu mais posso esperar de hoje? Bufei.

 

 

Sara

 

    Annie entrou no carro triste após a escola não quis me dizer o motivo. Depois disso só piorou. No hospital, a menina mal começava um exercício e já queria parar. Será que ela vai fazer comigo a mesma coisa que fez com as outras médicas? Preciso descobrir logo se eu fiz alguma coisa errada, Annie não pode parar o tratamento.

    A levei para almoçar fora do hospital, como Carolina fazia. A mommy, como Annie a chamava, viajou com a Fernanda para a capital da Bélgica. Minha amiga me disse que ela contou tudo para a Montserrat. Merda, Annie deve estar triste com a separação das mães. Como a Fernanda teve coragem de fazer isso? Ainda viajaram juntas? Como será que está a Montserrat?

    Nossos pratos chegaram e Annie começou a comer. Agradeci aos céus pelo apetite dela não ter sido afetado.

    - Annie, eu preciso que você fique animada para mais tarde, sim? Vamos repetir alguns exercícios.

    - Minhas mães brigaram ontem e a mami saiu de casa - disse com calma.

    - Não fique pensando nisso, meu anjo. Adultos são assim, brigam e depois fazem as pazes.

    - E se a mami não voltar? Mommy viajou a trabalho. Você fica comigo, Sara?

    - É claro que a Montserrat vai aparecer, Annie. Não se preocupe com isso. Vai ver elas já conversaram bem cedinho e está tudo bem.

    - Mami parecia bem brava com a Mommy, a chamou de covarde. Eu nunca as vi brigando assim de gritar.

    - Annie, elas são um casal. Casais brigam. Independentemente de qualquer coisa, você sempre será o maior bem das duas. Espera a sua mommy voltar de viagem que elas explicam o que aconteceu.

    Annie pareceu aceitar a minha tentativa de explicação desastrada e terminou sua refeição. Ainda pedi uma sobremesa para tentar vê-la sorrir enquanto contava algumas bobagens. Consegui acalma-la. Quando voltamos para o hospital, ela fez os exercícios sem reclamar.

 

...

 

    Quando cheguei na porta da casa da Montserrat, tive que esperar por um tempo maior do que havia imaginado. Vi o carro estacionar em frente à casa e Charlotte descer logo em seguida. Seu sorriso espantou qualquer coisa negativa que pensei.

    - Oi, Annie. Oi, Sara. Como vocês estão?

    - Oi, tia Char! Estou muito bem! Cada dia sinto que estou mais perto de andar.

    Senti uma imensa felicidade ao ouvir aquilo da pequena. É tão importante que ela esteja psicologicamente bem ao longo do tratamento.

    - Estou bem também, tia Char - brinquei. - Cada dia mais feliz por fazer essa menina linda sorrir.

    - Vejo que já são melhores amigas - assenti para ela.

    - Tia Char, onde está a minha mami? Sara tocou a campainha, mas ela não atende.

    - Sua mami pediu para que eu viesse buscá-la. Que tal passar a noite comendo pipoca com a Sabrina e a Mel?

    Não gostei nada daquela informação. Montserrat vai deixar a filha? Sem dizer bada, comecei a empurrar a cadeira de rodas da Annie para dentro de casa depois que a Charlotte abriu a porta.

    - Mas... - Annie gaguejou. - Eu disse, Sara... Minha mami não vai voltar para casa.

    Não precisei nem pensar para responder, Charlotte pulou na frente:

    - Claro que sua mami vai voltar, Annie. Ela vai passar lá em casa depois do trabalho para te dar um beijo. Eu que já ia te convidar para ir lá em casa e acabou que a Montserrat gostou da ideia.

    Annie sorriu, sua mami não a abandonou. Deixamos a menina na sala e fui ajudar a Charlotte com uma pequena mala para a menina.

    - Como a Montserrat está? - Perguntei baixo para que a Annie não ouvisse.

    - Hoje João comeu dobrado na mão dela.

    Montserrat estava soltando fogo pelas ventas, foi isso que a Charlotte quis dizer. Parece que a loira não recebeu tão bem a novidade como a Fernanda falou que seria. Por um momento, senti raiva da minha amiga e pela Carolina por fazerem Montserrat sofrer.

    - Montserrat não merecia isso. Espero que a dona Carolina e a Fernanda consigam reverter essa raiva toda.  Annie precisa das duas mãe e tranquilidade.

    - Não vou mentir para você, Montserrat está machucada. Sabe o que isso significa? Que Carolina vai ter que suar para conseguir ver a Annie. Quando eu sai do ateliê, Montserrat estava reunida por Skype com os advogados. Vamos torcer para que ela não se deixe levar pela dor e pense no bem-estar da filha.

    Senti necessidade de conversar com a Montserrat. A estilista precisa entender o quanto uma briga pode impactar na evolução da Annie. O problema é que ela não vai querer conversar comigo, ainda mais depois que eu trouxe a Fernanda para cá. Espero que não esteja pensando mal de mim.

    Uma pequena mala foi feita pela Charlotte  Annie está animada com pipoca e filme com os amigos. Ajudei Annie a se acomodar no carro e fiquei de trancar a porta da casa com a chave que minha amiga me entregou. Amanhã ela não sabe se eu vou buscá-la, mas já é bom ficar com a chave para não precisar ficar esperando com a Annie do lado de fora.

    Depois de um pequeno aceno, entrei na casa novamente para a apagar a luz da sala e trancar a porta. Ouvi vozes, a televisão está ligada. Annie deve ter ligado enquanto ficou sozinha.

    Quando olhei para a tela, a foto me chamou atenção. É Montserrat ali. Estão falando da Mon na TV, mas o programa não parece de moda. Está em um desses canais de notícia. Parece muito importante.

    Aumentei o volume porque pensei que estava surda. Não consegui entender nada. O apresentador fala em esloveno e eu não consigo identificar uma palavra do idioma difícil.

    Várias fotos se seguiram. Quanto mais o apresentador falava, mais meu desespero aumentava.

    Busquei meu celular na bolsa para procurar alguma notícia sobre a Montserrat em inglês, mas não o encontrei. Devo ter esquecido no hospital. Droga. Desliguei a TV, apaguei a luz, tranquei a porta e corri para o carro. O apartamento que estou morando é mais perto do que o hospital. Preciso do meu laptop para saber o que aconteceu com a Montserrat.

    - Não deixe que nada de ruim aconteça com a Mon, meu Deus!

    Meu coração apertou.

 

Fim do capítulo