Capítulo 3
Pouco mais de 1 hora depois acordei com o solavanco do carro entrando na garagem. “Nossa! Essa região parece ser bem barra pesada.” Exclamou Sacha olhando a rua em que moramos. “Sim, e é, pobre coitado de quem tentar entrar na nossa casa!” Respondeu Sophie. Eu ainda sonolenta só ri do dialogo das duas, não conseguia pensar em mais nada além de me jogar na cama e levar muitas lambidas de uma certa felina peluda.
Mal entramos as 3 e a criaturinha ronronante veio esfregando seu corpinho na visita. “Que lindo esse bichano, parece estar de botinhas com a ponta das patas brancas e o corpinho cinza!” Disse Sacha enquanto se abaixava para acariciar a gata. “O nome dela é Jade, encontrei ela quase congelada há 5 anos atrás!” Sacha olhou atentamente e viu que um canino da gata estava com a pontinha quebrada. Sophie esclareceu, “ela tentou me morder e quebrou o dentinho, agora se contenta em lamber os meus pés na hora de dormir...claro, somente quando a loba ciumenta permite que ela durma comigo”.
Rapidamente nos organizamos, mostramos a diminuta casa para nossa convidada, arrumamos o melhor possível o sofá para ela e arranjamos um espaço nos armários para guardar suas coisas. Em menos de 15 minutos eu já estava esticada na minha cama, com cada músculo do meu corpo clamando por descanso. E a Jade? Bem aquela peluda “falseane” foi dormir no sofá junto com a visita.
No dia seguinte acordei com o cheiro do café vindo da cozinha, Sacha havia preparado um farto café da manhã e bebericava o liquido fumegante sem pressa. Sophie também estava sentada à mesa. Mesmo tendo feito uma boa refeição madrugada passada o cheiro de ovos mexidos e bacon fez a minha barriga roncar. Me sentei e comecei a avançar sobre a refeição sendo interrompida somente pelo início da conversa.
“Então? Tudo é verdade? Sobre vampiros e lobisomens e outras criaturas sobrenaturais, vivem entre nós sem sabermos, um ex-namorado poderia ser lobisomem e eu nem saberia?”, perguntou Sacha.
Sophie e eu trocamos um olhar silencioso. Não há como negar o que nós somos e tudo que foi presenciado na clareira na noite passada. O que não tínhamos certeza era do quanto era seguro revelar.
Quebrei o silêncio. “Sim, tudo que você presenciou é real. Vampiros e lobisomens coexistem há séculos com os humanos, se alimentando deles ou utilizam seus serviços. Por questões de segurança optamos por ocultar nossa existência sobrenatural. Séculos atrás as duas espécies foram caçadas quase até a extinção, se não fosse pelo acordo firmado hoje não estaríamos aqui para contar nossa história.”
“Nós não entramos em chamas na presença do sol, no entanto tem um feito considerável na cor de nossa pele, tornando-a praticamente transparente. Quer dizer que não somos as criaturas com a melhor camuflagem durante o dia.” Completou Sophie.
“Os lobos têm uma dieta diversificada, podemos comer qualquer tipo de comida, além de animais e humanos eventualmente. Mas, preferimos não matar humanos, quando temos escolha! Já a dieta dos vampiros é constituída unicamente de sangue humano, podendo ficar grandes períodos sem se alimentar, o que acarreta na degradação física. Quer dizer, quanto mais tempo levam para se alimentar mais fracos ficam.” Afirmei e esperei pela reação de Sacha. Espero ser o suficiente para acabar com as perguntas, preciso combinar com o Sophie o que podemos contar, o que é seguro para nós e para ela.
A nossa convidada ficou pensativa por uns 5 minutos, em silêncio fitando a mesa e bebericando o café. Eu devorava o quinto pãozinho de trigo recheado com ovos mexidos e bacon, acompanhada da segunda caneca de café. Sophie estava subindo pelas paredes de ansiedade, usando todas as forças possíveis para não falar. O silêncio foi quebrado pelo miado exigente da felina querendo ração. Então Sacha se levantou e perguntou onde tinha a ração do gato e sem escutar a resposta já encontrou, encheu a vasilha e perguntou: “Quer dizer que vou ter que pagar o aluguel em sangue?”
“Não! Não! Jamais, não se preocupe, isso nem passou pela minha cabeça e juro que nem vai passar! Você está segura aqui!” Repetia sem parar uma Sophie envergonhada, enquanto eu chorava de tanto rir até que a convidada se entregou e começou a rir também. “Calma mina! É só uma piada! Relaxa!”
“Mas, agora é sério? Como você consegue o sangue para se alimentar?”, “Principalmente de bancos de sangue, uma vez por mês a gente assalta um e leva algumas bolsas. Sempre do tipo mais abundante é claro. E passo longos períodos sem me alimentar.” Respondeu Sophie.
“Na Deep Web também conseguimos pessoas que vendem seu próprio sangue, abstraindo que a maioria delas é meio maluca dá para se virar!” Complementei.
Sacha se levantou e encheu a chaleira de água e pôs no fogo, mais uma garrafa de café a caminho me indicava que as perguntas estavam longe de cessar.
“Vocês mencionaram algumas vezes a palavra sociedade e a expressão ‘pura de nascimento’ e que Ashley é sua guardiã, estou um pouco confusa, tipo...se existe uma sociedade o que vocês estão fazendo aqui no meio da favela? E porque você precisa de uma guardiã? E se existem lobos puros de nascimento há outra classe de lobos e vampiros?” Sacha metralhou as perguntas na direção de Sophie. Mais uma vez trocamos um olhar e começamos a responder as duas ao mesmo tempo.
“Lobo puro de nascimento quer dizer que eu fui gerada por um pai e mãe que carregam o cromossomo do lobo e esse cromossomo foi ativado quando eu entrei na puberdade. Mas, não é uma regra, eu tenho um irmão que não é lobo, nele o cromossomo está inativo. Um lobo pode criar outro lobo através da mordida, mas, esse lobo não é considerado puro e é mortal. Já um lobo puro depois de atingir a maturidade física tem o seu envelhecimento retardado. Como se a cada 10 anos eu envelhecesse 5, minha expectativa de vida varia entre 150 a 200 anos.”
“Já a criação de um vampiro é diferente, podemos nascer de um pai ou mãe vampiro que acasalou com um humano. Uma das sementes tem que estar viva para gerar um novo ser. O nosso nascimento sempre resulta na morte do humano. Análogo ao que acontece com os lobos após atingir a maturidade física não envelhecemos mais. Também podemos criar vampiros se deixarmos um humano a beira da morte e o alimenta-lo com o nosso sangue. Entre os vampiros puros chamamos esses tipos de bastardos.”
“E sobre ser a guardiã dela esse papel já estava marcado para mim antes de eu nascer. Todo lobo puro quando chega na puberdade é separado de sua família e cresce em uma escola de treinamento com outros lobos de várias partes do mundo. Além de aprender técnicas de defesa e ataque e outras habilidades fazemos um juramento de proteger o vampiro designado a nós com a nossa própria vida. Nos entregamos de corpo e alma à essa tarefa e vivemos como sombras até a nossa proteção não ser mais necessária.”
“E existe relacionamentos? Casamentos, namoros esse tipo de coisa? Pegação”
“Bom, entre os vampiros sim. Entre os lobos não, é terminantemente proibido qualquer tipo de relacionamento amoroso para todos que fazem parte da guarda.”
“Porque isso? Vocês são como padres e freiras?” Continuou indagando a nossa convidada curiosa.
“Por uma questão muito simples. Se eu amasse alguém e Sophie e essa pessoa estivessem no mesmo recinto sob ameaça de morte eu hesitaria antes de me lançar na frente de Sophie, e esses segundos poderiam significar a morte.”
Fim do capítulo
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Faby_AngeL
Em: 17/03/2018
Estou adorando a histotia, não demore a postar
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Day Persil
Em: 13/03/2018
Capítulo cheio de explicações, agora corta pra parte do "tiro, porrada e bomba" heueheuehe
Ansiosa pelo próximo capítulo!
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