* Apostando alto
Capítulo 24: Aponsio magna
A chuva cessou e com ela, a razão trouxe de volta à realidade Diana e Natália do seu momento encantado.
-- Precisamos voltar a chuva já parou. – Diana disse, acariciando os cabelos de Natalia que repousava sobre seu peito.
-- Mas, já? A gente não pode ficar aqui pra sempre? – Natalia fez bico.
-- “Mim ser Tarzan e você Jane?” – Diana brincou arrancando o riso de Natalia.
-- Aqui não teríamos nada a esconder, só você e eu...
-- Já prestou atenção que em menos de duas horas você já me intimou a casar com você duas vezes? Já estou ficando com medo!
Natalia sorriu tímida.
-- O que vamos dizer ao pessoal? Chegando juntas assim, vão desconfiar...
-- Direi que encontrei você perdida, foi quando começou o temporal, e nos abrigamos na cabana. Você diz que se distanciou e não sabia que trilha seguir e resolveu voltar, quando me encontrou.
Diana parecia já ter arquitetado uma resposta convincente. Sem pressa se vestiram, trocando olhares que faiscavam desejo.
-- Tem certeza que precisamos mesmo ir?
Natalia disse puxando Diana pela cintura.
-- Prometo que te sequestro outra vez, em breve...
Diana disse segurando o rosto de Natalia, beijando-lhe, provando a verdade de sua promessa.
Voltaram à casa principal em pouco tempo, dando as explicações especialmente para Lucas e Pedro, que eram os mais preocupados. Lucas tratou de paparicar Natalia como se a moça acabasse de retornar de um naufrágio, enquanto Pedro encarava Diana a fim de se convencer que não existia nada por trás daquela história mal contada.
Depois de almoçarem todos juntos, a turma se acomodou mais uma vez pelo alpendre da casa para cumprir outra tradição entre eles: o jogo de cartas. Diana era conhecida entre eles por ser a mais sagaz na arte do blefe, mas, naquela tarde, encontrou uma adversária à sua altura no pôquer: Natalia.
Quando todos na mesa desistiram da rodada, baixando as cartas, as duas se encararam:
-- Cubro sua aposta. – Natalia disse.
-- Pois bem. Aposto tudo. – Diana empurrou as fichas.
Todos que assistiam ao jogo se entreolharam. O ar de desafio de Diana instigou Natalia a acreditar que era puro blefe da loirinha, que tentava confundir a concorrente com um sorriso no canto dos lábios.
-- E então continua cobrindo minha aposta? – Diana desafiou.
Natalia fez uma expressão ainda mais enigmática, acentuando o clima de blefe no jogo.
-- Tenho muito mais fichas que você, quase o dobro, se você ganhar, vai levar muito mais que eu se ganhar. O que você me oferece para compensar essa aposta? – Natalia perguntou.
-- Não sei me diga você o que acha justo. – Diana encarou Natalia.
-- Se você perder pra uma caipira como eu, acho justo que você se passe por caipira também diante de todos que escutam você me chamar assim.
-- Como é que é? – Diana saiu do seu estado de concentração no jogo.
-- É isso que quero. Se você perder pra mim, vai desfilar pela faculdade, com roupas típicas, representando uma caipira com todo o sentido pejorativo que você usa!
-- Você está louca se acha que farei isso!
-- Só fará isso se perder Diana. Se ganhar, leva todas as minhas fichas, e meus centavos acumulados nelas...
-- Só por causa da sua petulância em me propor isso, faço questão de te deixar sem um tostão! E topo sua condição.
Natalia sorriu.
-- Então, mostre suas cartas Diana.
Diana excessivamente autoconfiante exibiu na mesa as cinco cartas que tinha nas mãos.
-- Straight flush! Fim do jogo pra você caipira e agora um pouco mais lisa também!
A loirinha sorriu vitoriosa diante da passividade de Natalia que não esboçou qualquer reação até Diana avançar sobre suas fichas.
-- Não se apresse Diana!
Natalia protegeu suas fichas segurando as mãos de Diana.
-- Ah, para né caipira! Vai me dizer que você não sabe o que é um straight flush? Deixa-me explicar: cinco cartas em sequência e do mesmo naipe, igual a... Você perdeu!
Natalia manteve sua postura, fez suspense e em seguida baixou seu jogo.
- Royal straight flush, a sequência de 10 a Às, no mesmo naipe, maior pontuação no pôquer é igual a você na aula da doutora Dorothea, vestida de caipira.
Diana e todos que assistiam o desfecho da partida olharam perplexos para Natalia recolhendo todas as fichas tranquilamente.
-- Caraca meu irmão! Finalmente alguém páreo pra Diana! – Lucas comentou em meio ao frenesi instalado.
-- Não é possível... Você roubou! – Diana acusou inconformada.
-- Se você não percebeu antes, e não tem como provar, só demonstra ainda mais meu mérito, por que além de ganhar de você, ainda te enganei. Mas, não Diana, eu não roubei.
O mau humor de Diana depois do episódio era visível, especialmente pelas chacotas dos amigos, não só pela derrota, mas pelo preço da aposta que a loirinha pagaria. A irritação de Diana antecipou a volta dela e dos que vieram no seu carro para a cidade. Ao contrário da viagem de ida, a troca de olhares pelo retrovisor, foi bem menos amigável. O silêncio só não era completo, por conta do cd player que Diana fez questão de aumentar o volume todas as vezes que Pedro tentava puxar assunto.
Pelo trajeto, Natalia foi a primeira a descer. Angustiada, temendo que o resultado daquele jogo, interferisse no que foi para ela o momento mágico ocorrido na cabana. O beijo, o gosto e o cheiro de Diana estavam entranhados no corpo e na alma de Natalia. Por mais que não houvesse um compromisso selado, Natalia se sentia dela, como de fato pediu que Diana a fizesse: “me faça sua”.
No seu pequeno apartamento, Natalia dividia seus pensamentos entre a lembrança e as marcas da sua entrega, e a apreensão por ter arriscado seu entendimento com Diana, em uma competição agora estúpida. Hesitou em ligar, ou mandar mensagem de texto para o celular dela, quando finalmente decidiu arriscar, a campainha tocou.
Abriu a porta ansiosa depois de espiar de quem se tratava.
-- Exijo uma revanche, mas dessa vez, o jogo é streap poker.
Diana exibia seu ar malicioso ao dizer isso. Natalia lhe puxou pela gola da jaqueta, mergulhando sua boca na dela, calando as angústias sobre um novo desentendimento entre elas com um beijo apaixonado.
-- Não pense que vai me dissuadir a desistir da revanche só com um beijo. – Diana fingiu indiferença aos beijos que Natalia deixava percorrendo o pescoço dela com sua boca.
-- Faço questão de perder pra você nesse jogo, se o que você quer é tirar minha roupa inteira, entrego todas as minhas fichas agora mesmo!
Natalia se afastou de Diana depois de empurrá-la para o sofá. A loirinha não teve chance de argumentar, ao ser jogada no sofá, não havia nada mais a fazer que não fosse destinar toda sua atenção a Natalia que sensualmente se despiu na sua frente, jogando as peças para o ar. Quando restaram apenas as peças intimas, Natália sentou-se no colo de Diana, envolvendo a cintura da loirinha com suas pernas, deixando seus seios à altura na boca de Diana.
-- Agora, você termina o serviço, tirando o que falta...
Diana apesar de completamente excitada com a cena, não escondeu sua surpresa com a ousadia da moça até poucas horas atrás virgem.
-- Acho que essas meninas do interior, são autodidatas...
-- Estou ansiosa pra aprender mais... Mas, com você.
Natalia sussurrou, mordiscando a orelha de Diana, levando-a a loucura. A loirinha então dominou Natalia com um beijo sôfrego, se desfazendo rapidamente do sutiã da outra, deslizou sua língua pelos mamilos eriçados, enquanto suas mãos buscavam espaço por baixo da calcinha de Natalia, que se derramava em excitação para o prazer de Diana.
Se houvesse uma medida para quantificar o desejo contido, naquela noite, as reservas se esgotaram. Natalia se entregou a Diana como se fosse próprio da sua natureza fazê-lo, tão normal e simples, como um rio corre pro mar e Diana por sua vez, parecia enfim se encontrar no corpo que se apresentava como seu encaixe perfeito, como uma reação química, chave e fechadura, plenitude, identificação, a sensação indescritível de descobrir a dimensão que sex* é mais do que carne, mas também alma, sentimento.
-- Nat, eu preciso ir.
-- Ah Di... Fica, dorme aqui comigo.
-- Não posso, nem tenho onde guardar o carro, se acontecer alguma coisa com ele, a seguradora liga direto pra meu pai, aí estou ferrada! Mas, se você me liberar dessa aposta ridícula, posso te levar pra dormir em minha casa...
-- Aháaaa! Sabia que você ia fazer isso! Não vou cair nessa! Na terça, na aula de Madimbú, a caipira será você!
-- Então vai dormir longe desse corpinho aqui!
-- Tudo bem... A punição é mútua!
Natalia brincou, enquanto Diana fazia bico cruzando os braços. A postura emburrada da moça de nada valeu quando Natalia beijou sua nuca, soprando entre os beijos e carícias com a língua.
-- Ai Nat... Nuca é covardia!
O corpo de Diana a traiu, ao se arrepiar inteiro com a investida de Natalia.
-- Se você não resistir vou te amar de novo, agora!
Diana deu um salto do sofá, ofegante disse:
-- Vai desistir da aposta?
-- Não!
-- Então boa noite!
Diana recolheu suas roupas, se apressando para ir embora, sob o olhar atento e libidinoso de Natalia.
-- Nem adianta me olhar assim... – Diana disse com ar autossuficiente. – Aliás, é isso que você vai fazer: só olhar!
Natalia se divertia com as tentativas de Diana persuadi-la a desistir da aposta, levantou-se quando Diana se vestiu, trajando apenas a calcinha, incomodando visivelmente a loirinha com a visão de suas formas sensuais.
-- Boa noite Di... Vou sonhar com você.
Natalia beijou o canto dos lábios de Diana, que perturbada, praticamente fugiu de um novo contato, sentindo seu corpo queimar, ela tinha a certeza que se demorasse mais um minuto ali, não conseguiria deixar aquele apartamento, e provavelmente faria novas apostas e perderia todas, por que Natalia conseguia o que poucas pessoas conseguiam: desfazer as suas defesas.
Fim do capítulo
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