Capítulo 33 Vermelho Sangue
“O outro livro! – Sussurrou causando o total estarrecimento de Delphine.”
A poderosa Mestra da Ordem do Labrys sentia todo o seu mundo girar, como se acabasse de perder o rumo e o controle de seus passos e de sua vida. Aquela revelação de Cosima a atingiu em cheio e lhe pegou completamente de surpresa.
Tinha a noção de que ela havia tido acesso a algum tipo de informação da Ordem, mas presumia que essa não passava de textos antigos ou alguma publicação que tenha deixado passar durante a sua tarefa de recolher todas as provas da existência dessa sociedade tão antiga. Estava certa de que toda a informação disponível acerca da Ordem estava naquela sala ou nos porões da Fundação Ártemis, aos cuidados de Siobhan e das Anciãs.
Porém, o que ela acabara de lhe dizer fora algo inesperado e até certo ponto inacreditável. Não poderia ser possível! Não tinha como o outro livro ainda existir sem que ela soubesse. E se isso fosse verdade, representava um dos mais brutais golpes que receberia. Cambaleou diante dessa constatação.
Cosima sentiu um frio cortante tomar conta de seu interior assim que viu a expressão de choque no rosto tão querido. Os outrora brilhantes olhos de Delphine estavam sombrios e perdidos. Ela lhe olhava, mas parecia não enxerga-la, pois sua mente estava longe demais. Sentiu um incômodo desespero começar a tomar conta de si. Não tinha a clareza do que poderia ter causado tal reação na outra mulher, mas lhe doía profundamente ver a agonia que se avultava nos olhos de dela.
- Del... Está tudo bem? – Perguntou com um filete de voz tomada por um receio desconhecido. Ela não lhe respondeu e, para o seu crescente desespero, ela se afastou. Cambaleou para trás enquanto lhe olhava como a uma estranha. Cosima procurou a ternura e o carinho com o qual ela lhe olhou há poucos instantes, mas não os viu, pelo contrário, o que encontrou nos olhos dela foi dor e até mesmo... Ódio? Cosima não compreendia o que havia feito para que ela lhe olhasse daquele jeito enquanto perambulava pela sala. Tentou repetidas vezes mergulhar em sua mente, mas ela a estava bloqueando, impedindo-a de tentar descobrir o que estava acontecendo com ela.
Todas as possibilidades que ocorriam a Delphine, lhe deixavam ainda mais perturbada. Como Cosima poderia saber da existência de outro livro, quando só haviam dois? E a loira tinha a mais profunda certeza de que o outro havia sido destruído junto com tudo o que mais amava naquele fatídico dia, o pior dia de sua vida. Aquele em que decidiu não mais viver e que fora duramente castigada por isso. Punida com a pior das penas: viver uma eternidade de dor e sofrimento.
Porém, todas as certezas que possuía acabaram de ser duramente abaladas. E o turbilhão de sensações que lhe açoitavam em seu intimo diziam que havia chegado o momento de confrontá-la devidamente e se pegou deixando uma ponta de arrependimento lhe dominar. Pensou que talvez houvesse se precipitado demais ao mostrar tudo aquilo a ela.
A segurança da Ordem e de algo muito maior dependia dela e ela havia se deixado levar por emoções. Havia caído na mais antiga das armadilhas? Sucumbido a sua emoção e, com isso, posto em risco tudo aquilo pelo que mais lutou ao longo de sua existência?
Paradoxalmente a isso, a certeza do reencontro que estava experimentando lhe dizia que não havia errado, Cosima era quem mais esperava em sua vida. Mas aquela afirmação recebida lhe causou um receio antes nunca sentido.
Parou subitamente no meio da sala enquanto Cosima a acompanhava aflita. Ergueu a cabeça e ponderou tudo que lhe aconteceu nas ultimas semanas, desde que havia conhecido a sua aluna. Tudo corroborava com o fato de que não poderia estar enganada. Em mais de 300 anos de espera jamais havia sentido uma certeza como aquela. A de que seu grande amor havia finalmente retornado para ela, e assim por fim a sua agonia e espera. Não poderia ter errado, precisava definitivamente confrontá-la!
- Cosima! – O tom sério assustou a morena e a deixou ainda mais ansiosa e temerosa sobre o que poderia estar acontecendo com Delphine. – Por que você disse que esse é o “outro livro”? – A olhou intensamente. Cosima abriu a boca algumas vezes, mas não conseguiu responder de imediato e não tinha a certeza do motivo disso. – Por favor, diga-me Cosima! – Insistiu enquanto buscava tranquilizar sua mente para focá-la em acessar todas as informações que Cosima pudesse lhe oferecer e, ao mesmo tempo, não deixa-la ver demais em si. Ainda não era o momento.
- Eu não fazia ideia de que algo como a Ordem do Labrys existisse até... – Hesitou, pois também fora tomada por um estranho receio. Estava verdadeiramente com medo da expressão nos olhos de Delphine.
- Até...? – Delphine a incentivou tentando suavizar seu tom de voz, pois percebeu o receio estampado no rosto da outra.
- Até pouco mais de dois anos. Quando recebi algo que mudou minha vida por completo e... Trouxe-me até aqui. Trouxe-me até esse momento e até a você! – E lá estava a verdade sendo desnudada. – Desde meus primeiros estudos acadêmicos eu soube que desejava estudar algo assim. Grupos, instituições, grêmios... Qualquer tipo de organização comandada e composta por mulheres, pois acredito e defendo a tese da sororidade, como bem sabes. – Delphine apenas anuiu com a cabeça enquanto circulava ao redor dela, completamente atenta. Estava esperando o momento certo para mergulhar na consciência de Cosima e buscar a informação precisa do que queria. Indicou que prosseguisse.
- Você leu minha tese não foi? – Era uma pergunta desnecessária, pois em uma de suas aulas, Delphine recitou de cor o parágrafo final daquele primoroso trabalho. Mas Cosima queria construir o seu raciocínio buscando justificar-se, como boa cientista que era. Novamente Delphine apenas acenou com a cabeça. – Pois bem, eu estava buscando um tema para dar continuidade e poder ingressar no Pós-doutorado, mas não encontrava nada que me parecesse interessante e que pudesse representar uma contribuição mais do que significativa para a luta das mulheres. Minha aflição foi tão grande que até desenvolvi a droga de uma gastrite. – Pensou por um instante em Shay, mas esse pensamento logo perdeu o foco quando sentiu a consciência de Delphine se chocando contra a sua. Ela queria mais.
- E o que mudou Cosima? – Estava cada vez mais difícil controlar a agonia que a consumia, pois estava sendo comandada por uma angustia intensa e que fora sentida pela morena, que a olhou, se sentindo compadecida.
- Algo meu foi entregue! – Cosima disse tomada por um receio imenso, pois aquele era um segredo que ninguém conhecia e lhe fora confiado. Delphine arregalou os olhos e entreabriu a boca. E a imagem começou a clarear para si, conforme Cosima a narrava. – Eu já havia praticamente abandonado o plano de continuar com os estudos para me dedicar às aulas de ensino médio e gerenciar o meu negócio. Foi ai que em um dia como qualquer outro, alguém entrou em minha loja. Uma mulher. E olhou profundamente para a loira consternada diante de si, pois sabia que ela estava acessando tudo o que descrevia.
Delphine levou uma das mãos até a sua testa enquanto a outra comprimia sua barriga. Fora tomada por uma sensação de náusea e uma súbita tontura assim que uma imagem se materializou em sua mente.
- Stella!? – Delphine disse entre dentes sem conseguir realmente acreditar no que estava vendo. Jamais imaginaria aquilo. Mas era absurdo demais. – Não pode ser! Não tinha como ela saber...
- Mas não foi ela quem me entregou a mala. – Cosima prosseguiu. Delphine voltou-se para ela de súbito. – Essa Stella se apresentou para mim como Dana... – forçou a mente como se buscasse uma lembrança – Dana Scully. Era esse o nome que ela me disse. Era uma frequentadora da minha cafeteria desde que abri. Ela disse que não morava em São Francisco, mas tinha negócios por lá. Se não me engano ela disse que morava...
- Em Washington! – Delphine completou. Cosima a olhou aturdida, pois estava mais do que evidente que era alguém que ela conhecia e de quem não esperava aquilo. Muito provavelmente um membro da Ordem.
- Isso mesmo! Ela era bastante agradável, mas não falava muito de sua vida pessoal. Era uma mulher reservada que dizia apreciar o meu Mocha e a boa música que tocávamos lá. – Delphine ouvia, mas não conseguia compreender o que Stella Gibson fazia perto de Cosima muito antes dela mesma a conhecê-la. Como ela sabia?
- Mas se não foi ela quem lhe entregou esse material... Quem foi? – Precisava de alguma resposta. De algo que fizesse sentido. Pois estava se sentido tão perdida como nunca antes havia se sentido.
- Essa Stella... Ela sempre vinha sozinha, até que... – hesitou em verbalizar, mas não precisou. A imagem que Delphine vislumbrou na mente de Cosima a atingiu em cheio e não pode evitar que uma lágrima escorresse. Tal lágrima representava uma síntese de toda a confusão em que se encontrava. A incredulidade daquele fato a violentava, a ideia de que uma das mulheres que mais confiava e mais respeitava a havia traído. Na verdade duas das suas irmãs mais próximas.
Só então, com a guarda baixa, Cosima conseguiu ter uma pequena amostra do que estava acontecendo com Delphine. A angustia, a raiva e a tristeza. E assustou-se ao vê-la arriar os ombros e fechar os olhos de forma derrotada.
- O que ela lhe deu Cosima? Diga-me! – A sensação de derrota e o turbilhão de emoções que estava experimentando, tiravam-lhe a concentração e impossibilitavam que ela conseguisse se conectar com Cosima de forma clara. Estava confusa demais.
Cosima a encarou e foi impossível para ela ficar longe, assistir aquele sofrimento e então a alcançou. Não recebeu protesto algum e então a acolheu em seus braços. O pouco que pode ver lhe disse que ela havia levado um duríssimo golpe. Mulheres em quem ela confiava a haviam traído. E isso deixava Cosima se sentindo culpada e cumplice daquilo tudo, mesmo que não tivesse essa consciência.
- Ela me entregou uma maleta, com alguns papeis, documentos antigos e... – Respirou fundo antes de dizer o que tinha a certeza que Delphine já sabia, mas não acreditava ser possível. – Um livro. Muito parecido como esse que você tem aqui. – Delphine estremeceu dentro dos abraços de Cosima e caiu ao chão, obrigando-a a sentar-se com ela. E as lágrimas assumiram a intensidade de um choro doído.
- Parecido não. Idêntico. – Delphine tentou se recompor e, se desvencilhou dos braços de Cosima apenas para poder olhá-la nos olhos e dessa vez o que a morena viu a tranquilizou um pouco mais. Não via mais o ódio que a assustou há pouco, contudo a tristeza permanecia. – Existiram dois livros Cosima. Esse que possuo e outro, que eu tinha a mais absoluta certeza de que havia sido destruído há muito tempo atrás.
- E você o tem por ser a Mestra da Ordem, certo? – Cosima se adiantou e tirou suas próprias conclusões. Delphine arregalou os olhos e percebeu que a cientista nela estava buscando as respostas mais plausíveis. Não respondeu nada. – Então eu presumo que por serem duas autoras, existiram dois livros! – Ela não parava e Delphine sorriu levemente em admiração à mente de Cosima.
- A srta é realmente muito perspicaz. – Disse enquanto tentava se levantar.
- E eu sei que você adora essa minha característica! – brincou enquanto enxugava com os dedos as lágrimas que ainda permaneciam no rosto de Delphine. – Mas... – Parou por um instante causando um sobressalto na sua professora. – Aquela mulher me disse algo quando me entregou esse livro. Não se apresentou nem se demorou demais. Apenas me disse que... – olhou para as próprias mãos e depois alcançou os olhos de Delphine – Que o livro me pertencia, pois era uma herança de família. – Franziu a testa e percebeu uma nova onda de choque pairar sobre ela.
Era demais, até mesmo para ela. Estava difícil de processar todas aquelas informações. Sabia que precisava tomar uma atitude em relação à quem havia lhe traído: Siobhan e Stella, pois o que elas fizeram não poderia ser perdoado. Precisaria confrontá-las e buscar compreender o que estava acontecendo. Os motivos que as fizeram tramar por suas costas, mesmo que não tivessem más intenções. Tinha de descobrir como ambas sabiam quem era Cosima e o mais importante. Como o outro livro havia sobrevivido há todos esses anos sem que ela soubesse.
- O que você acha que ela quis dizer com isso Delphine? Por que ela me entregaria esse livro? Eu pesquisei. Busquei onde pude e nada em minha família me liga a nenhuma das duas autoras do livro. – Dessa vez era Cosima que tinha os olhos marejados e a sua emoção atingiu Delphine em cheio, fazendo com que todas as demais dúvidas e angustias fossem momentaneamente deixadas de lado e fosse consumida pela avassaladora vontade de protegê-la. De afastar todo o mal que pudesse atingi-la.
- Ei... Vem cá! – A puxou para os seus braços e selou seus lábios num beijo terno e carinhoso, levando Cosima a baixar toda a sua guarda. Era bom demais estar de volta aos braços de Delphine e mesmo ela estando fragilizada, se sentiu segura ali. – Nada mais importa agora Cos... Agora só o que me interessa é que você está aqui, em meus braços. – Ergueu o queixo dela e a olhou profundamente. – Nossos caminhos nos trouxeram até aqui – Achou melhor guardar as demais verdades para outro momento. Antes precisava buscar compreender tudo o que acabara de descobrir, mas naquele momento exato só conseguia sentir...
Sentir o amor avassalador que se avultava diante de si, sem mais dúvidas, sem mais receios nem desconfianças. Sem mais espera. Sem mais solidão. Ela estava de volta. Seu amor estava de volta e sentia cada vez mais vontade de demonstrar tudo que transbordava dentro de si.
- Cosima... Mon amour... – Segurou seu rosto entre as mãos e repetiu sussurrando - Mon amour... – beijou o canto da boca dela.
- Diz de novo!
- Mon amour... Mon amour... – E começou a encher o rosto dela de rápidos beijinhos levando-a a sorrir extasiada. Delphine voltou a se sentir derreter com aquele som doce e delicado fazendo com que naquela nova troca de olhar, suas vontades voltassem a ser ditas silenciosamente. Logo uma estava novamente nos braços da outra. E qualquer maior questão teria de esperar um pouco mais.
Cosima só desejava acalentar qualquer dor que estivesse ferindo Delphine. Ela sabia, mesmo que a outra não dissesse ou permitisse que seus temores fossem lidos. Mas sabia que algo muito ruim estava machucando Delphine profundamente. Muito provavelmente aquelas mulheres que lhe entregaram os materiais faziam parte da Ordem e eram pessoas próximas a sua professora e isso lhe fazia sentir ainda mais culpa pelo sofrimento que estava estampado nos adorados olhos verdes.
- Você não tem culpa de nada Cosima! – Delphine disse enquanto voltavam para a Biblioteca indicando que ela havia reestabelecido momentaneamente aquela conexão. – Esse é um assunto que eu precisarei resolver com brevidade, mas... Não essa noite. – a abraçou pela cintura e voltou a trazer aquele encantador sorriso nos lábios. – Agora eu quero aproveitar a sua presença aqui em minha casa. – Lhe olhou com um misto de ternura e intensidade, que fez com que Cosima ficasse ainda mais extasiada.
- Então use e abuse... Da minha presença! – Cosima se divertiu um pouco, tentando suavizar o clima e pareceu ter sucesso, pois a expressão de Delphine logo se converteu para a uma das mais provocativas possíveis. – Além do mais, quem vai aproveitar ao máximo a companhia da Mestra da Ordem do Labrys serei eu! – Delphine ergueu uma das sobrancelhas e gargalhou alto. – Mal consigo acreditar que eu acabei de dizer isso! – Levou ambas as mãos a testa, demonstrando que finalmente havia caído em si. – Caramba Delphine... – afastou-se um pouco e caminhou pela ampla sala. – Você É A MESTRA DA ORDEM DO LABRYS! Tens noção do quanto isso é sensacional?
- Faço uma “vaga” ideia! – Delphine disse sorridente enquanto caminhava em direção a ela.
- Delphine... Você é... É... A personificação de tudo o que mais admiro! – disse já de volta aos braços dela.
- Sou? – disse pouco antes de beijar-lhe o pescoço.
- Hunrum – suspirou Cosima.
- Então eu acho que posso me valer de toda essa admiração a meu favor – piscou um dos olhos. A morena engoliu em seco e sentiu o coração começar a pulsar em várias partes de seu corpo. – Fica aqui um instante! – beijou suas as mãos e se afastou, a deixando encostada no birô com uma expressão de dúvida.
Cosima a viu sair pela porta com um indecente sorriso nos lábios. Suspirou ainda mais profundamente e se sentiu preencher pela expectativa do que ela poderia estar planejando. Estremeceu por inteira e achou que se chegasse mais próxima à grande lareira que havia ali, aquela sensação de calor poderia aplacar a ansiedade crescente. Ledo engano. Contudo, assim que se aproximou foi que prestou mais atenção nos detalhes contidos ali. Especialmente o imenso painel em alto relevo que ilustrava uma cena onde várias mulheres guerreiras duelavam com homens. Imediatamente as reconheceu como sendo Amazonas, dadas às vestimentas e seus armamentos. Afastou-se lentamente para contemplar toda aquela cena que fora esculpida com maestria sobre uma imensa placa de mármore incrivelmente branca. E logo percebeu se tratar da famosa batalha de Termodonte, narrada pelos contos de Heródoto. Uma verdadeira obra prima.
Estava tão imersa em sua admiração que não percebeu o retorno de Delphine, que tinha ambas as mãos ocupadas. Só quando ela depositou o que trouxera sobre o birô e abriu uma garrafa de Terre Barollo que Cosima assustou-se e virou para olhá-la.
- Não a vi voltar! – disse enquanto se dirigia até ela.
- É realmente uma linda peça de arte. – Disse indicando o painel com o queixo. – Nunca me canso de contemplá-lo. – Lhe serviu uma taça de vinho. Cosima a tomou e assim que se aproximou da mesa viu que, além do vinho, a loira havia trazido uma bandeja prateada com uma grande variedade de queijos. Sorriu por trás de sua taça e então arregalou os olhos ao perceber qual era a intensão descarada de sua professora.
- Bom... - Disse já chegando bem próxima dela e lhe alcançando as fitas que prendiam o topo da blusa da morena. – Já que você disse que eu poderia usufruir da sua presença aqui... – desatou o laço sem maiores dificuldades e então começou a erguer aquela peça de roupa. – Lembrei-me de algo que me fora proposto ainda ontem, em meio ao nosso almoço. – Cosima riu suavemente e ergueu os braços para que aquela peça de roupa fosse definitivamente retirada. Foi a vez de Delphine sorrir maravilhada.
- O que lhe propuseram? - Provocou, pois sabia exatamente qual fora a proposta.
- De que a Srta. iria degustar... – pegou um pequeno garfo metálico e o enfiou num pedaço de Gouda e o entregou a Cosima – Uma deliciosa tábua de queijos... – alcançou o zíper da calça dela e o abriu lentamente – Completamente nua! – Arriou sua calça de vez. – Só para que eu assistisse. – Afastou-se com a mais depravada das expressões em seu lindo rosto.
Cosima a olhou com ar de desafio e em seguida olhou para si mesma. Estava vestindo apenas seu conjunto de sutiã e calcinha cor de vinho. Sentiu-se aquecer por inteira enquanto, paradoxalmente, um frio percorria a sua espinha, ambos provocados pela forma escandalosa com que Delphine a devorava com os olhos enquanto bebericava seu vinho.
- Muito bem lembrado! – decidiu que entraria naquele jogo de sedução e não pretendia se deixar “intimidar” pelas provocações de dela. Se queria ousadia, Cosima iria dar muito mais do que ela poderia imaginar e, numa fração de segundos, uma ideia deliciosa passou por sua mente. – Então sente-se! – indicou a poltrona atrás do birô. A loira pensou em protestar, mas estava tão enfeitiçada pela morena que decidiu apenas obedecê-la. Passou por ela, mas evitou tocá-la. Apenas se permitiu sentir o delicioso perfume de Cosima que precisou de todo o seu parco autocontrole para não agarrá-la naquele instante e saciar a vontade alucinante que estava dela.
Delphine sentou em sua cadeira, obedecendo sem protesto algum. Fez menção a repor o conteúdo de sua taça, contudo foi gentilmente impedida.
- Permita-me! – Cosima tomou a taça da mão dela e serviu, com certa lentidão, o delicioso vinho. Para tal, deu as costas para a sua professora de propósito, pois sabia que isso a provocaria ainda mais. – Então... Vejamos se eu entendi – disse assim que se virou e flagrou onde os olhos de Delphine estavam. – Você quer me assistir... Degustar queijos... Humm... Completamente nua certo? – Delphine suspirou e engoliu em seco enquanto concordava com um vigoroso aceno de cabeça. – Tudo bem! Mas desde que você SÓ assista! – Disse enquanto abria o próprio sutiã, levando a loira a entreabrir a boca e deixar sua língua passear entre os lábios, num claro sinal de que estava literalmente salivando. Sem demonstrar piedade alguma, retirou aquela peça de roupa, desnudando o par de seios que tinha a capacidade de fazer aquela poderosa mulher ali gem*r sem controle algum. – E então?
- Hum? O que? – Delphine disse com certa dificuldade já que estava tendo evidente dificuldade em concatenar suas ideias uma vez que permanecia hipnotizada por Cosima.
- Quero saber se vais se comportar Srta Cormier? – E a lançou ainda mais longe quando apertou o próprio seio, obrigando sua professora a mover-se na cadeira e evidente desconforto causado pela excitação crescente e novamente engolir em seco enquanto estremecia. – Vai se comportar? – Aproximou-se perigosamente. A loira cerrou os olhos e ergueu sei queixo, iniciando um pequeno desafio, mas resolver pagar para ver até onde Cosima conseguiria ir.
- Me comportarei se você também o fizer! – Empertigou-se! A morena parou por um instante e se sentiu aquecer de dentro para fora, pois naquele breve duelo, não tinha como nenhum das duas perder. Porém, era delicioso demais provocar Delphine.
- Perfeito! – Concordou com o desafio. - Com sede? – Questionou enquanto bebericou da taça que era da outra. Delphine apenas deu um leve sorriso e anuiu lentamente com a cabeça. Ergueu sua mão para receber sua taça de volta, porém teve essa iniciativa frustrada por Cosima que balançou a cabeça negativamente, fazendo a loira erguer as sobrancelhas e ser indescritivelmente surpreendida.
Cosima sorveu uma quantidade generosa de vinho, mas sem o engolir, pelo contrário, o manteve em sua boca por alguns instantes antes de dar o destino àquele dionisíaco líquido. Debruçou-se sobre Delphine, apoiando as mãos nos braços da cadeira. Aproximando seus rostos e parando há poucos centímetros. Com um rápido olhar para os lábios dela, deixou claro o que queria que a outra fizesse. E ela, compreendeu todas as mensagens e então entreabriu sua boca para lhe ter derramado aquele líquido maravilhoso da forma mais sensual possível, pois os lábios de ambas roçavam um no outro levemente. As duas tomavam todo o cuidado para que nenhuma gota fosse desperdiçada, contudo já quando ia se afastando, Cosima percebeu uma impertinente gota escorrer pelo canto da boca de Delphine e sem hesitar a alcançou com sua língua antes que ela chegasse ao queixo perfeito.
A loira cerrou os olhos e fincou as unhas no estofado onde estava sentada, justamente para não ser a primeira a ceder e atacar Cosima que se deleitou com a agonia dela. Naquele exato instante, a luminária que ficava no canto direito da mesa, piscou freneticamente. A morena olhou de soslaio e divertiu-se ainda mais com aquilo.
A sua professora “agonizava” na cadeira, mas ainda faltava o golpe de misericórdia. Então, enquanto degustava mais um pedaço de queijo, Cosima alcançou a barra de sua calcinha, insinuando que iria se desfazer dela, contudo sentiu vontade de ousar ainda mais. Aquela mulher sensacional que estava sentada ali a impelia a ser ainda mais ousada. Então virou-se! Oferecendo-lhe as costas para em seguida lançar Delphine ao limite extremo da sanidade e do tesão. Curvou-se lenta e torturantemente enquanto arriava a sua calcinha. Fez questão de leva-la até os calcanhares para que pudesse oferecer a Delphine a visão que a ela poderia muito bem atribuir ao paraíso. A bunda empinada de Cosima e algo mais estavam bem diante de si, ao alcance de suas mãos.
A morena se ergueu e voltou a ficar de frente a uma exasperada Delphine, que tinha as têmporas já com algumas pequenas gotinhas de suor, denunciando o quanto em chamas ela deveria estar.
Então decidiu provoca-la ainda mais e dessa vez colocou um pedaço generoso de Brie entre os lábios e decidiu compartilhar com ela aquele prazer. Repetiu todo o percurso, parando com seu rosto bem próximo ao dela. Delphine novamente abriu sua boca para receber aquele presente, mas foi novamente torturada, pois a outra roçou o pedaço de queijo nos lábios dela até soltá-lo no ultimo instante antes de praticamente “fugir” da investida dela.
- Quer um pouco mais de vinho? – Disse assim que retomou a taça e ergueu. Delphine disse que sim com ainda mais intensidade, já projetando seu corpo para frente. Estava simplesmente sendo arrebata por toda a ousadia e magnetismo de Cosima. Achava que ela seria intensa, mas não daquela forma tão deliciosa. – Quer mesmo? – A loira acenou novamente! – Então vem pegar! – Encerrou a frase jogando o conteúdo da taça em seu dorso fazendo com que o liquido escorresse por sobre seus seios. Foi literalmente a gota d´água.
Num movimento brusco e sem pensar em nada, Delphine partiu para cima dela, agarrando-a pela cintura com uma das mãos e com a outra jogou ao chão quase tudo que havia sobre sua mesa, deixando apenas a garrafa de vinho. Sentou sua aluna ali e essa a tomou em puro êxtase, afastando as pernas para recebê-la onde mais desejava. Delphine ignorou os lábios famintos dela e debruçou-se sobre os lindíssimos e completamente molhados seios de Cosima e os lambeu, sugou e mordeu com uma voracidade indescritível até não sobrar mais resquício do vinho.
Cosima gemia e suspirava alto e novamente se sentiu estremecer quando vislumbrou a expressão quase animal de Delphine que aproximou-se ainda mais, apossando-se violentamente da boca dela num beijo regido ao mais insano dos tesões. Porém, subitamente o beijo fora interrompido e com certa intensidade, Delphine a deitou em sua mesa enquanto pegava a garrava de vinho. Para o espanto de Cosima, ela deixou toda a etiqueta e boa educação à mesa de lado e sorveu o vinho direto da garrafa, mas sem o engolir. Com certa intensidade levou a morena a projetar seu corpo para trás, quase a deitando sobre a mesa. E então Cosima não acreditou quando a viu se curvar em direção a seu sex* e sem ressalvas ou pudor algum, abriu os grandes lábios do sex* extremamente molhado de Cosima e soltou o liquido que trazia em sua boca, fazendo-o escorrer por toda a extensão do sex* pulsante e inchado da morena que urrou no exato momento em que sentiu a língua firme de Delphine a invadi-la, dando início a mais uma noite de intensas descobertas entre elas.
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O ato de contemplar ganhou novo significado desde o momento em que Cosima entrou na sua vida e ali, naquela fria manhã de terça-feira, Delphine admirava embevecida, o sono tranquilo de sua amada.
A morena estava deitada de bruços e dormia com expressão serena e, ao contrário da manhã anterior, ela não teve o sono perturbado por sonhos ou pesadelos e isso permitiu que aquela contemplação pudesse ser apreciada pela loira que não conseguiu parar de sorrir e já havia decorado cada detalhe do belíssimo rosto da mulher diante de si.
Sentia-se cada vez mais repleta de um sentimento grandioso que lhe aquecia cada recanto de seu ser, lhe despertando sensações que pensou jamais voltar a sentir. Mal conseguia caber em si de tanta felicidade por ter seu amor de volta após tantos anos, após tanta espera e justamente no momento em que esteva mais descrente de tal evento.
O corpo de Cosima estava parcialmente coberto por uma colcha densa que chegava até um pouco acima de sua cintura, deixando toda a extensão de suas costas a mostra, representando um convite tentador ao toque. Delphine precisou se controlar ao máximo para não tocá-la, acaricia-la, beijá-la, pois não queria acordá-la, pois novamente, haviam dormido pouquíssimo na ultima noite já que passava um pouco das oito da manhã e elas haviam ido para a cama já quando a madrugada ia alta e não dormiram de imediato, pelo contrário, deram continuidade ao sex* estupendo que estavam experimentando uma com a outra, numa combinação que ultrapassava todas as noções de perfeição e sintonia. Riu deliciada com a lembrança de ter Cosima ajoelhada sobre seu rosto, rebol*ndo e esfregando o sex* em seu rosto. Literalmente salivou e se sentiu encharcar novamente, pois ainda trazia o cheiro dela por todo o corpo. Era maravilhoso demais. E apesar do tesão descomunal quem voltou a sentir, não quis acordá-la e se permitiu apaixonar ainda mais em apenas olhá-la, deseja-la e amá-la. De repente ela se mexeu devagar.
- Sabia que é esquisito ficar observando alguém dormir? – Disse com a voz sonolenta e abafada pelo travesseiro, sorrindo ao final da frase. Mas ainda mantendo os olhos fechados.
- Que culpa tenho eu se me foi presenteada a mais bela das visões? – Delphine realmente não sabia brincar, pensou a morena e se sentiu aquecer subitamente. Como ela conseguia fazer aquilo tão facilmente? Que poder era aquele? Respirou fundo e se preparou para ser mais uma vez “agredida” pela beleza surreal de Delphine e assim que abriu os olhos não se enganou.
- Pelas deusas, como você é L-I-N-D-A! – Delphine riu e deixou que suas bochechas fossem tingidas de um rosado tom. Não que nunca houvesse ouvido aquilo antes, pelo contrário, era um elogio mais do que corriqueiro para ela, mas vindo de Cosima ele representava algo muito mais intenso e verdadeiro. Queria ser tudo com e para ela. Queria lhe entregar tudo de uma forma antes impensável para si e se sentiu comprimir por dentro, pois queria verbalizar tudo o que sentia, mas temia que aquilo pudesse assustar a morena. Pois para ela, aquele amor sempre esteve dentro de si... E fora personificado em Cosima, mas para a outra era tudo novo e a “rapidez” poderia causar um efeito contrário nela e afastá-la. Decidiu segurar suas vontades um pouco mais, pois se desse vazão a elas, se lhes atribuísse força, seria bem provável pedi-la em casamento ali mesmo.
- Dormiu bem? – lhe perguntou. – Sem sonhos?
- Eu praticamente desmaiei! – Cosima virou-se para espreguiçar-se e a visão dos seios nus diante de si fez com que Delphine mordesse os lábios sugestivamente e os olhasse fixamente enquanto engolia em seco. – Com fome Delphine? – Lhe questionou com um sorriso sínico e lhe olhando de canto de olho. A loira nem se quer ousou olhar para ela, mas debruçou-se sobre ela e alternou a visão entre ambos os seios dela.
- Faminta! – E abocanhou um deles enquanto apalpava o outro, levando a morena a gem*r audivelmente com a surpresa e a deliciosa sensação. – Mas acho melhor levantarmos para comermos algo, pois seu estômago acabou de protestar aqui. – A loira abandonou os seios de Cosima e ergueu-se num salto, evitando que fosse capturada pela morena que choramingou em revolta por ter sido deixada naquele estado.
- Isso não se faz Srta Cormier! – disse sentada na cama.
- Descanse um pouco mais meu amor, enquanto eu preparo algo para aplacar sua fome. – Piscou um dos olhos enquanto vestia seu hobbie preto. Ainda lançou um beijo ao ar antes de sair pela porta.
Cosima jogou-se na cama e acariciou os próprios seios que ainda continham as ultimas gotas da saliva de Delphine e delirou. Pensou por um instante em terminar sozinha o que sua professora havia iniciado, mas decidiu guardar aquela vontade para a própria. E tomada por uma felicidade nunca antes experimentada levantou-se e partiu para o banheiro.
Cantarolou uma das músicas da Caro Emerald sob a intensa ducha quente que acariciava seu corpo e lhe ajudava a relaxar ainda mais. Ali se pôs a pensar em tudo que o que lhe fora revelado por Delphine. A verdade sobre a Ordem do Labrys, o seu mais caro objeto de estudo e que julgava instinto ainda existia e ao que presumia, em pleno funcionamento dada a dimensão do poder de sua orientadora, tanto financeiro quanto de outras naturezas.
- Delphine Corimier é a Mestra da Ordem do Labrys! – disse enquanto se olhava no espelho embaçado. – A minha Delphine! Caramba! – Levou as mãos a testa, num gesto tão seu. Foi até o closet dela, para buscar algo para vestir, pois suas roupas estavam no andar de baixo, na biblioteca. Riu de si mesma. E não conseguiu segurar a surpresa ao ver a quantidade de roupas que ela possuía. Perambulou por ali, retirando algumas dos cabides e as colocando contra o corpo, imaginando se ficaria bem em alguma delas. Avistou algumas blusas sociais e decidiu vestir uma branca de risca que ficava um pouco grande nela, chegando até o topo de suas coxas, cobrindo o necessário para que ela pudesse andar pela imensidão daquele lugar sem chocar ninguém. Pelo menos até alcançar suas roupas. Prendeu o seu cabelo num coque característico e percebeu que já estava se aproximando do momento de trocar seus apliques.
Já ia saindo do closet quando algo lhe chamou a atenção. Era o lindíssimo vestido vermelho que Delphine havia usado no Baile. Ele estava dentro de um saco plástico transparente. Sem pensar abriu o zíper e envolveu aquela peça em seus braços e percebeu que ela ainda trazia o perfume dela, porém algo lhe alertou, olhou com mais atenção e percebeu que aquela belíssima peça de roupa estava com rasgões em várias partes, alguns deles atravessando o tecido e com tamanhos significativos. Lembrou-se do misterioso ocorrido naquela noite e da suposta anomalia climática que causou a explosão das vidraças. Soube que algumas pessoas se machucaram levemente com cortes e escoriações, mas o que via naquela peça de roupa indicava que quem a usou certamente deveria ter se machucado mais gravemente.
Devolveu o vestido para o saco e passou a ter sua mente novamente tomada por dúvidas e incertezas acerca de tudo que envolvia sua professora. Algumas coisas começaram a ser esclarecidas com a revelação da existência da Ordem e de quem Delphine era. Isso fez com que Cosima compreendesse algumas reações dela. Mas decidiu que insistiria na busca por mais respostas.
Alcançou a gigantesca cozinha daquele castelo após certa procura e assim que entrou a viu de costas, diante de um moderno fogão. Cosima percebeu que ela estava com outra roupa e tinha os cabelos molhados, indicando que havia tomado banho. Entrou em silêncio e se permitiu admirá-la um pouco mais. Ela vestia um conjunto de calça e um casaco de tecido fino e leve, azul marinho com riscas brancas bem finas e por dentro uma blusa cor de mostarda. Casual e linda como sempre.
Tentou ao máximo, mas não conseguia ficar longe dela, pois o magnetismo que as unia era intenso demais. Caminhou silenciosamente até ela e a abraçou por trás, lhe envolvendo a cintura.
- Bom dia Srta. Niehaus! – disse inclinando a cabeça para trás para receber os beijos de Cosima em seu pescoço.
- Bom dia Srta. Cormier. Vejo que também tomou banho... E sem mim! Isso é um absurdo! – Disse já metendo suas mãos por sob a blusa dela, lhe acariciando a barriga. A sentiu arrepiar sob seu toque e adorou aquela sensação, a de, ao mais simples dos toques, fazer aquela incrível mulher sair de si. Delphine riu e permitiu receber as caricias de sua aluna pois tinha a total clareza de qual era o destino das mãos delas e o seus mamilos já se enrijeceram antes mesmo do toque, apenas com a ansiedade por ele. Contudo, as mãos de sua aluna não chegaram até lá, pararam um pouco antes.
- Posso perguntar o que foi isso aqui? – Cosima passava levemente os dedos sobre a cicatriz que havia ali. Delphine não conseguiu esconder a surpresa daquela pergunta embora soubesse que, mais cedo ou mais tarde ela viria. Retesou seu corpo e se virou logo após desligar o fogo que aquecia as panquecas que preparava. Olhou ternamente para Cosima e depois baixou seus olhos.
- Eu levei um tiro! Há três anos. – Não adiantava evitar aquela verdade. A cicatriz não a deixava mentir. Aquela informação chocou Cosima como ela jamais pensou ser possível, se sentiu ser tomada por um pavor inumano e então tomou as mãos de Delphine na sua.
- Como assim um tiro Delphine? Por quê? – exasperou-se.
- Por quem eu sou Cosima! Pelo lugar que eu ocupo numa batalha que vem sendo travada há milênios. – Começou a externar parte da verdade sobre si para ela, pois sabia que deveria isso a ela, mas que também teria de ir com cautela. Testando os limites de sua amada.
- Sei que existe uma batalha contra uma ideologia misógina e machista, mas jamais imaginei que em pleno século XXI esse tipo de coisa acontecesse. – apertou ainda mais as mãos dela. – Uma violência assim.
- Cos, você estuda a Ordem. Os tempos podem ter mudado, mas a luta ainda permanece. As nuances podem estar mais complexas, mas o desespero ainda leva a medidas extremas. – Tocou sua cicatriz por sobre a blusa.
- Então é por isso que precisas da Helena como sua segurança? – Cosima tentava compreender tudo aquilo enquanto procurava acalmar seu coração. Não estava nem um pouco preparada para receber uma informação como aquela. De que alguém pudesse ter atentado contra a vida de Delphine. E desesperou-se ao constatar que se tentaram antes, o que os impediria de tentar novamente? Pegou-se em pânico com a simples ideia de que algo de ruim pudesse acontecer a ela.
- Nossa Del... Isso é terrível. - Não conteve as primeiras lágrimas.
- Ei ei... Não Chore! Eu estou bem. – A envolveu num abraço apertado que acabou causando o efeito contrário, ao invés de acalmá-la, o choro aumentou de intensidade levando-a a chorar copiosamente.
- Eu não consigo imaginar... Perdê-la... Não! Não agora que a encontrei! – disse entre soluções e com a voz abafada devido o seu rosto estar mergulhado no peito dela. Delphine foi arrebatada pela absurda intensidade daquelas palavras.
- Ninguém vai me tirar de você meu amor! Não se preocupe. – Trazia o rosto dela nas mãos e a olhava intensamente já tendo os próprios olhos marejados. A dor sincera daquela mulher lhe atingiu em cheio, pois a loira sabia exatamente qual era a dimensão da dor da perda do seu grande amor. E novamente foi atingida por um temor antigo.
Promete para mim Delphine? – lhe olhou suplicante. – Promete que ninguém irá nos separar! – Exigiu. Contudo, sua professora só pode lhe olhar com ainda mais intensidade.
- Prometo Cos! Prometo! – Disse, mas sem sentir a convicção que tentava transparecer, mas selou aquela promessa com um beijo demorado e sentido. – Mas agora, vamos comer? – Quis quebrar o clima pesado que havia sido criado ali.
- Vamos sim. O que temos ai? – Cos questionou enquanto enxugava as últimas lágrimas.
- Tentei fazer as tradicionais panquecas americanas. Para que pudesses matar um pouco da saudade de casa. – as serviu num prato. – E temos aqui vários acompanhamentos e coberturas. – Cosima arregalava os olhos e batinha palminhas enquanto sentava-se em uma das cadeiras da grande mesa que havia ali.
- Quero uma de cada! – A gula era uma de suas mais marcantes características.
- E temos algumas frutas se também quiseres. Gostas de Kiwi?
- Simplesmente adoro! – disse com a boca ainda contendo restos de comida, levando Delphine a fazer uma encantadora careta fingindo reprovação.
- Pois bem. Deixe-me partir aqui.
Cosima a observou enquanto comia. Não cansava de admira-la e essa admiração só fora potencializada ainda mais com a revelação de quem ela era.
- Agora as coisas começam a fazer sentido Del!
- Oi? Que coisas? – disse ainda de cabeça baixa cortando as ultimas rodelas de fruta,
- Você ter “atacado” o meu trabalho quando o apresentei em sua aula. Desacreditado o tema da Ordem, especialmente quando mencionei as mulheres Chermont! – Cosima disse despretensiosamente, mas aquelas palavras estavam afetando sua professora intensamente ao ponto que sua mente fugiu do foco da atividade que realizava. – DEPHINE, SEU DEDO! – Cosima gritou, trazendo-a de volta e então focou em sua mão.
Um conhecido líquido vermelho minava de um corte relativamente profundo em seu dedo indicador esquerdo. Ela olhava para aquela cena sem entender de imediato o que estava acontecendo e então uma forte pontada oriunda daquele ferimento a fez soltar um gemido.
- AI! – Segurou seu dedo e então, como se a verdade despencasse sobre ela, caiu em si e compreendeu o que estava acontecendo. Olhou estarrecida para a sua mão que já estava bastante suja com aquele vermelho líquido. – Sangue! Meu sangue! – disse debilmente e então abriu um largo sorriso e olhou para Cosima que assistia aquela cena incrédula.
- Sim Delphine, seu sangue droga! – Ela já estava com uma toalha de pano tentando estancar o corte. – Só não sei o que isso tem de tão engraçado. Tens de ter mais cuidado, podia ser algo mais sério. – A repreendeu enquanto afastava o pano para ver se o sangramento havia cessado. Mas a loira continuava rindo ao ponto que sua aluna a olhava com estranhamento.
Era ela! Não restava mais nenhum resquício ínfimo que fosse de dúvida. E ter o seu sangue manchando a toalha e sobe alguns pedaços de fruta só lhe reafirmavam aquilo.
Seu grande amor havia voltado para ela r a prova cabal e definitiva disso era aquela. Estava começando a perder a sua imortalidade. E aquilo era o que mais desejava em sua vida!
Gargalhou e a abraçou intensamente! Experimentando uma felicidade nunca antes sentida.
******
Gritos femininos novamente eram ouvidos do quarto dele. Novamente John Lamartine estava usufruindo de seu fetiche favorito. Celebrando o golpe recente que dera em sua inimiga ao pegar uma das suas irmãs e de lhe mandar o devido recado através de seu fiel escudeiro Ferdinand.
Ria assustadoramente enquanto tentava dominar a mulher sob si, que se debatia em total desespero enquanto ele a possuía violentamente sem pena alguma.
Não havia sentimento algum naquilo que ele fazia, exceto um ódio canalizado, um amor deturpado e doentio que ele tentava buscar e suprir nos traços daquela pobre e infeliz mulher acorrentada a sua cama. Seu regozijo era o temor que via nos olhos das mulheres que usava. Pois era essa a mensagem que ele queria passar, a de que só precisava delas para isso.
E fazia questão de ter outras ali ao lado, assistindo a tudo, e testemunhando o que as esperava. Essa era a satisfação dele, o pânico, o pavor e a certeza de que as vidas desprezíveis delas estavam prestes a acabar da pior maneira possível.
Quando estava na iminência do gozo, voltou a olhar para as outras três mulheres ali, mas algo o incomodou. Ao contrário do que ele poderia esperar uma delas não trazia o medo estampado em sua face. Pelo contrário, lhe olhava com desprezo e total desdém. Aquilo era uma afronta! De súbito, ele abandonou a mulher a quem estava abusando e levantou-se, parando diante das demais que estavam ajoelhadas ao lado de sua cama. Aquela mulher riu.
- Do que você está rindo sua vagabunda? – Disse entre dentes enquanto a ergueu do chão e apertou o seu pescoço.
- Você é patético! – ela disse com dificuldade. – Precisa que as mulheres estejam acorrentadas para poder fodê-las! – lhe olhou duramente. Ele sentiu o sangue ferver em suas veias e, sem que tocasse em nada, as correntes que prendiam aquela mulher foram abertas.
- Ah é? Vejamos se você tem razão! – Com violência ele enfiou dois dedos no sex* dela enquanto buscava sua boca. Ela contorcia-se e tentava desviar o rosto, mas fora em vão. Então ele tomou sua boca bruscamente para beijá-la, mas em um ultimo ato de resistência ela fincou seus dentes nos lábios dele, causando uma dor impensada para ele.
Num rompante, ele a jogou contra a parede, do outro lado do quarto, fazendo o seu frágil corpo ter vários ossos quebrados e cair sem vida ao chão. Ele caminhou e parou próximo a ela para vangloriar-se, voltando a ficar excitado. Começou a se masturbar para que o seu gozo caísse sobre o corpo morto dela, foi então que percebeu algo. Um gosto férrico em sua boca. Demorou alguns instantes até que percebesse do que se tratava. Sangue!
A principio pensou se tratar do sangue da mulher que acabara de beijar antes de matar. Contudo, um resquício de dúvida foi ganhando força dentro de si, algo que jamais lhe ocorreu parecia estar acontecendo. Sendo consumido por um estranho medo, ergueu a mão e a levou até a própria boca. O líquido vermelho estava lá e para o seu total pavor ele não pertencia a mulher morta, pois assim passou seu dedo por seu lábio sentiu algo que já havia esquecido a sensação. Dor!
Estremeceu por completo e correu atabalhoadamente até seu banheiro, passando por cima das outras mulheres que ainda estavam ali. Consumido pelo pânico, ascendeu a luz que ficava no topo do espelho e aproximou seu rosto.
Lá estava! Um pequeno corte de onde minava uma quantidade significativa de sangue quente e espesso. No desespero, abriu a torneira e tentou lavar sua boca, mas o sangue não parou de sair e como se houvesse sido atingido por um violento soco, a constatação do que aquilo poderia representar o apavorou como jamais antes em sua longuíssima existência. Gritou!
- NÃÃÃÃÃÃO! – E todas as luzes da imensa mansão se apagaram! Causando um pequeno caos entre os seus empregados que tentavam, a todo custo compreender o que havia acontecido, pois aquele aterrador grito fora ouvido por todos.
Em poucos instantes Paul e Ferdinand entraram com tudo em seu quarto o procurando, alarmados pelo tom desesperado de seu grito.
- Lamartine? – Ferdinand adiantou-se enquanto entrava no quarto escuro iluminado apenas pelo pequeno feixe de luz da lanterna de seu celular. Logo atrás deles mais outros três homens vieram e ficaram ali.
- Onde ele está? – Paul ergueu as mulheres assim que as encontrou. Elas estavam apavoradas. - ONDE? – o homem sacolejou uma delas. Essa apenas conseguiu indicar a porta do banheiro, para em seguida ser abandonada no chão. Os dois foram até lá e não o viram imediatamente. – John, você está aqui? – Paul o chamou e um gemido abafado os alertou.
Ambos focaram os pequenos feixes de luz no boxe do banheiro, onde o encontraram encolhido, contra a parede e com uma toalha contra o rosto. Ele resmungava algo que não dava para compreender. Os dois se entreolharam apreensivos, pois jamais o viram daquela maneira. Especialmente Paul, que fora criado desde criança com ele.
- John! O que aconteceu? – Ele se aproximou cautelosamente do homem que agora parecia uma frágil sombra de que fora. Ele continuou a resmungar com o olhar perdido. – Fale comigo! – o homem o tocou receoso e com cuidado foi retirando a mão dele do rosto e então conseguiu compreender o que ele dizia.
- Isso é impossível... Isso é impossível... – ele repetia quase debilmente.
- O que Larmartine? O que é impossível? – Ferdinand exasperou-se. A princípio ele não respondeu de imediato e permaneceu naquela ladainha. Paul desesperou-se e puxou o pano da mão dele.
- ISSO AQUI! Isso é IMPOSSÍVEL PORRA! – os mostrou o pano manchado com o seu sangue. Os dois não conseguiram esconder o seu choque, pois sabiam do quanto àquilo era realmente impossível de acontecer. Ele jamais poderia ser ferido, porém estavam olhando para o sangue dele em uma toalha. O que aquilo poderia significar?
Ele se ergueu e saiu apressadamente para o quarto, ignorando os dois homens que o seguiram confusos. Ele não se preocupou em vestir roupa alguma, apenas partiu para fora de seu quarto, andando quase correndo, empurrando seus homens por onde passava. Ferdnand e Paul o seguiram e logo perceberam para onde ele estava caminhando.
Os três foram passando por várias portas até acessar o escritório, que também estava mergulhado na escuridão, mas aquilo não representava um problema para Lamartine que sabia exatamente onde estava indo e parou diante de um quadro imenso e antigo, que trazia uma pintura sua ao lado de uma menina ruiva que se parecia muito com ele e ambos vestiam roupas de época. Contudo, o que ele procurava estava muito além daquele quadro.
Acionou um pequeno dispositivo que havia ali e o quadro se moveu, deixando a mostra uma grande porta metálica de um cofre cujo código fora digitado por ele. Assim que a espessa porta lhe deu passagem ele mergulhou no cubículo que possuía uma iluminação própria. Dirigiu-se até uma caixa metálica que estava em uma das prateleiras e de lá tirou uma série de papéis antigos, que estavam protegidos por plásticos.
- Tem de haver uma explicação aqui! – ele folheava os papéis – PROCUREM! – berrou lançando os papeis até seus dois homens. Mas ele sabia que aquela busca seria em vão! Ele conhecia o conteúdo das páginas de cor, assim como tudo o que continha ali.
Tinha a certeza de que havia visto tudo, que sabia de tudo acerca da sua condição e de que ela deveria ser eterna. Mas então como poderia estar sangrando ou ter se ferido tão facilmente?
- Eu não deixei passar nada! – falava para si mesmo já sendo consumido por um misto de ódio e pavor!
- Mas senhor... – Ferdinand iniciou – Talvez elas... – Lamartine o olhou de canto de olho.
- Elas o que Ferdinand? Virou-se atento para ele.
- Talvez elas saibam de algo que o senhor não! – disse temeroso do que aquela afronta poderia causar em seu mestre. Lamartine o encarou duramente. Não gostou nem um pouco do tom de voz de seu subalterno, mas ele poderia ter razão. Não seria a primeira vez que elas o haviam enganado.
- É... Aquela bruxa desgraçada poderia saber sim. – Voltou a olhar as folhas que trazia em mãos e acariciou a extremidade delas, onde imperfeições denunciavam que elas haviam sido rasgadas do seu lugar de origem. – Mas então... Se elas sabiam de algo que pudesse por fim a minha eternidade por que não usaram antes? Por que só agora? O que mudou? – Ele se questionava e divagava enquanto zanzava pelo espaço de seu cofre.
- Mestre, precisamos saber o que elas sabem! – Paul se adiantou a Ferdinand, aumentando a competição entre eles.
- SIM... Precisamos. – o olhar aterrador que ele lançou assustou a ambos. – Precisamos saber e... Por um fim no que quer que seja. Tragam-na até mim! – disse enquanto batia violentamente a porta de seu cofre.
******
Delphine ainda estampava o sorriso quase infantil em seu rosto enquanto Cosima fazia o pequeno curativo em seu dedo. Estavam dentro do carro da loira, pois precisaram sair para comprar materiais de primeiros socorros já que não havia nada daquilo na mansão dela.
- Del... Por que você está rindo? – Cosima não conseguia entender a transbordante felicidade que a sua professora exalava devido a um simples corte. – Até porque eu ainda acho que você deveria ir a um hospital. Acho que precisa de pontos.
- Não Cos... Eu ficarei bem. Eu ficarei MUITO bem! – sorriu. – e assim que a outra terminou o delicado curativo, a beijou gentilmente nos lábios quando percebeu que ela ainda estava com a expressão carrancuda. - Ainda chateada porque não poderei passar o dia com você? – acariciou o seu rosto. Cosima não respondeu, mas não era necessário. Delphine estava na cabeça dela. – Meu amor... Eu realmente preciso resolver isso. Preciso saber por que Stella e Siobhan fizeram isso. Por que elas me traíram.
- Eu sei que precisas. Desculpe-me. Sei que estou sendo infantil. Mas é que eu não consigo mais ficar longe de você. É praticamente impossível para mim. – disse com a cabeça encostada no banco do carro.
- Cos, eu a levaria comigo, mas isso é assunto da Ordem. As duas vieram até Paris por uma razão! – Disse seriamente. – Mas quero... Eu preciso ver o que elas lhe entregaram.
- E eu lhe mostrarei. – disse manhosamente.
- Não sei se terei tempo hoje, mas... – Delphine pareceu pensar em algo – Amanhã, após a nossa reunião de orientação eu... Posso vir até sua casa? – perguntou apenas por obrigação, pois sabia a resposta obvia que obteria.
- Claro Del! Adorarei tê-la em meu cantinho. Claro que não chega nem no rastro do seu tríplex ou muito menos do seu castelo. – mencionou timidamente.
- Qualquer lugar é maravilhoso desde que eu esteja com você! – Delphine aproximou seu rosto ao dela e lhe olhou intensamente, enviando todas as mais apaixonadas das mensagens com aquele olhar.
Poucos minutos depois estavam parando diante do prédio de Cosima que ainda relutou alguns instantes em abandonar os lábios de Delphine, já lamentando o breve afastamento que teriam de enfrentar.
- Eu também não sei como conseguirei ficar “tanto tempo” longe de você mocinha! – Delphine novamente acessou os pensamentos de Cosima. – Mas nos veremos, na pior das hipóteses, amanhã!
- Tá certo! Preciso mesmo trabalhar em minha pesquisa. – Deu um ultimo beijo em Delphine e se despediu. A assistiu partir com o carro e sentiu um incomodo desconforto, uma espécie de receio por ela. Sacudiu a cabeça, tentando não focar na história que ela lhe contou acerca da cicatriz que possuía. Subiu as escadas de seu prédio após cumprimentar todos os vizinhos que encontrou pelo caminho, incluindo o Sr. Frontinac, que sempre lhe sorria de volta.
Já dentro de seu apartamento, tratou de ir tirando as roupas enquanto procurava seu casaco favorito e separava os livros que precisaria ler naquele dia. Não poderia se dar ao luxo de relaxar com seu trabalho só porque estava dormindo com a sua professora. Riu daquele pensamento, pois ambas sabiam que era muito mais do que apenas sex*. Além do mais, toda a sua pesquisa acabara de ganhar todo um novo significado ao saber que a Ordem do Labrys ainda existia. Isso mudava tudo. Potencializava tudo imensamente.
Batidas leves em sua porta lhe despertaram. E um escancarado sorriso se instalou em sua face. Sabia que Delphine não iria aguentar ficar longe muito tempo. Saltitante, foi até a porta.
- Sabia que não conseguirias ficar longe de mim... – Disse enquanto a abria. Não era ela. - Shay!?
- Surpresa minha linda! Feliz aniversário atrasado!
Fim do capítulo
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patty-321
Em: 19/02/2018
Pqp! Shay! E agora? Grandes revelações foram feitas. Del e o desgraçado perderam a condição de etrrnos. Del ta feliz mas o maldito ta desesperado. Cos nao faz ideia de todo o papel q ela tem.na estória das labrys e muito menos os perigos. So em saber q a Del ja foi ferida ficou abalada, imagina, se souber das batalhas por quais ela passa. Sera a sioban ja tem noção q sera confrontada pela mestra? Nossa...boa semana. Bjs
Resposta do autor:
Como sempre, adoro seus comentários. Sim, a Sgay voltou e tudo vai se complicar ainda mais.
Xeros
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