Capítulo 32 Verdades e Mentiras
- Delphine... Porque você não me disse que conhecia a Evelyne Chermont? – Afastou-se um pouco e a encarou.
A pergunta que sabia ser inevitável fora feita. Delphine fechou os olhos e cerrou os lábios. Sentiu em seu intimo uma seta gelada, pois temia que houvesse chegado o tão temido e ao mesmo tempo esperado momento de conversar com ela e começar a contar-lhe toda a história que também dizia respeito a ela. Toda uma história repleta de dor e sofrimento, mas também de muito amor e beleza, contudo beirava ao extraordinário e ao fantástico. E a personalidade racional de sua aluna indicava que essa seria uma tarefa árdua e que precisaria ir com calma, testando seus limites.
“Ah Cosima...” Suspirou enquanto procurava se posicionar sem se mover demais, pois não queria quebrar aquele delicioso contato que havia entre elas. A assistiu buscar a melhor posição, apoiando o queixo sobre as mãos que repousava pouco acima dos seios de Delphine. Sentiu-se arrepiar ao menor atrito de seus copos e até pensou em desviar o foco da conversa para uma deliciosa sessão de sex* matinal, mas sabia que devia algumas respostas a ela.
Acariciou seu rosto que trazia as marcas do sono, mesmo que pouco. Ainda estava sem os seus característicos óculos e tinha resquícios da maquiagem de seus olhos levemente borrada. Possuía uma expressão serena, porém atenta, os fios de cabelo que teimavam em se libertarem de suas tranças deixavam-na ainda mais adorável. Delphine riu levemente, pois estava perdidamente apaixonada pela mulher diante de si e só sentia aquele sentimento tomar-lhe por completa.
- Eu já disse hoje que você é linda? – suspirou, levando Cosima á corar timidamente. – E incrivelmente deliciosa? – cerrou insinuantemente os olhos e arranhou de leve as costas dela aumentando ainda mais a intensidade do vermelho nas bochechas da morena que, literalmente, afundou seu rosto entre os seios de Delphine que se sentiu arrepiar por inteira e a conhecida humidade lhe atingir. – Aiii! – Soltou um grito um pouco mais alto de surpresa, pois percebeu que Cosima havia lhe dado uma breve mordida em seu seio direito.
- Colabore comigo Delphine! – Suplicou com certa aflição – Estou tentando manter uma linha racional de pensamento aqui. Procurando estabelecer uma conversa séria. E preciso de foco! – empertigou-se um pouco – E isso é praticamente impossível, pois estou deitada sobre a mulher mais estupenda que existe e, para piorar a minha situação, ela se encontra completamente nua e me encarando com a expressão mais sacana que já vi! – respirou fundo. Delphiu sorriu deliciada.
- Tens a minha total solidariedade, pois estou passando por um “martírio” semelhante ao seu. – assumiu um tom mais solene – Pois tenho em meus braços a mulher mais incrível que conheci e que me proporcionou os orgasmos mais maravilhosos da minha vida, aqui mesmo nessa cama. – indicou com um movimento do queixo. – E que, acima de tudo, tem me feito demasiadamente feliz. Como ha muito tempo eu não era.
O tom de brincadeira foi deixado de lado e lá estava Delphine, sem mais domínio algum sobre seus sentimentos, se desnudando completamente para Cosima que se sentia preencher daquela mesma felicidade e que não conseguia discernir qual dos dois corações estava mais descompassado. O seu ou dela. Nada que pudesse imaginar a prepararia para o impacto da entrega que estava recebendo. Não conseguia, se quer conjecturar palavras que definissem o que estava experimentando. A intensidade com que as palavras e os sentimentos de Delphine lhe atingiam.
- Delphine eu... Eu também nunca senti nada como isso. Como quando estou com você. Não consigo encontrar as palavras para definir o que vivemos aqui nessa cama – reproduziu o gesto de Delphine. – E a minha vontade agora é a de repetir cada detalhe, mas... Ao mesmo tempo – ponderou suas próximas palavras – Sinto como se você estivesse escondendo algo de mim – foi diminuindo o tom da sua voz, temendo que pudesse quebrar aquela tênue camada de felicidade que estavam vivenciando. A loira a olhou ternamente, pois era nítida a confusão pela qual sua querida Cosima estava passando. Sua angustia era palpável.
- Cos... – tocou e ergueu levemente o queixo dela enquanto passou a também ponderar sobre as palavras que diria a seguir. – Você tem razão. Existem coisas que não lhe contei e que, agora eu sei que preciso compartilhar com você. Como tudo em minha vida Cosima. – beirou ao arrependimento com essa ultima frase, pois causou um sobressalto nela. – Isso se você quiser... Eh... Claro... – Cosima não conseguiu quantificar o quanto o nervosismo de Delphine lhe conquistava e acalentava seu ansioso e descompassado coração.
- Ei... Ei... Xiiii – A calou com um demorado selinho nos lábios. – Eu quero tudo com você Del. Aliás, adoro chama-la assim: “Del” – divertiu-se e tranquilizou uma estranhamente nervosa Delphine.
- E eu adoro quando me chamas assim! – Sorriu deliciada.
- Porém eu realmente acho que precisamos conversar Del. Mas... – ergueu-se e sentou-se sobre o quadril dela. – Precisamos de um bom banho e cuidar desse da nossa higiene matinal, incluindo escovar nossos dentes – Piscou um dos olhos sorrindo divertidamente enquanto levantou-se e estendeu a mão para sua professora.
- Ei... O meu hálito é maravilho, a qualquer hora do dia – espreguiçou-se na cama. – Mas podes ir na frente... Estarei logo atrás de você. – sorriu serelepe. Cosima franziu a testa e só então percebeu a forma escandalosa com a qual Delphine varria seu corpo. Mas ela não se contentou apenas com isso e começou a se levantar da cama, com a clara intenção de toma-la novamente em seus braços. Cosima começou a dar paços trôpegos para trás, mas claramente não pretendia fugir dela, pois ansiava em senti-la novamente em cada parte de seu corpo. Foi então que percebeu que jamais iria se cansar da visão estupenda que era Delphine Cormier nua em pelo.
- Deveria ser proibida a existência de uma mulher tão linda assim. – Cosima disse enquanto foi envolvida por trás.
- Pois eu não me cansarei de olhar para ela e sou uma felizarda em tê-la em meus braços. – Disse devolvendo o gracejo enquanto guiava Cosima pelo seu closet até seu banheiro. – Tome, aqui tem tudo o que precisas. – Mostrou um armário embaixo de uma das pias. Cosima olhou ao redor e só então parou para perceber a dimensão daquele ambiente e se deu conta do luxo e bom gosto em cada detalhe.
Após realizar a sua higiene percebeu que Delphine não estava mais lá e saiu a sua procura. A viu parada diante da imensa janela de vidro escura. Ela havia tomado o cuidado de lhe dar privacidade para a sua higiene pessoal. A admirou ainda mais profundamente e então foi mais uma vez arrebatada pela presença dela. A brancura de sua pele recebia a luz do sol que ressaltava os inúmeros grãos de beleza espalhados por seu corpo.
Permitiu-se recostar-se no arco da porta apenas para contemplá-la. Ela estava parada, com a cabeça levemente inclinada para trás e tinha os olhos fechados além de trazer um lindo sorriso no rosto. Cosima baixou seus olhos e suspirou ainda mais admirada com a indescritível beleza daquela mulher. Cada curva parecia ter a harmonia perfeita, como se fosse esculpida numa belíssima peça de mármore por um grande mestre como Giovanni Strazza ou Raffaelle Monti. O corpo nu de Delphine era pura poesia.
Não precisou chama-la, pois ela se virou para olhá-la e ficaram se encantando mutuamente. Cosima se perguntava como alguém poderia ser ainda mais bonita, mesmo com os cabelos bagunçados e tendo dormido pouquíssimas horas. Mas, naquele momento, só queria senti-la novamente em si.
- Vem tomar banho comigo! – E naquele pedido foi lançado o convite final, a mensagem de que ela estava mais do que disposta a compartilhar tudo com ela e foi inevitável para ambas, lembrarem-se da noite em que experimentaram a sua conexão pela primeira vez. E logo ambas começaram a serem consumidas pela excitação avassaladora que as dominou na noite anterior, contudo o “desespero” da primeira vez deu lugar a uma entrega mais lenta e delicada. O fervor da descoberta foi substituído pela delicadeza dos toques e do conhecimento ainda mais minucioso dos mais mínimos detalhes uma da outra.
Então logo estavam perdidas em abraços que alternavam ternura e paixão, e o simples toque de suas peles disparou mensagens absurdas para suas mentes e logo estavam novamente conectadas em seus íntimos e sob a deliciosa ducha quente, suas bocas se buscavam e se exploravam lenta e demoradamente e alternavam os beijos com longos olhares apaixonados no momento em que paravam para buscar ar.
Sorriam com tudo o que tinham e o vapor que imperava naquele banheiro era potencializado pela densa energia e calor emanados por elas.
Seus corpos pareciam ter vontade própria e eram comandados por suas vontades mais intimas e então, dessa vez, Delphine decidiu comandar aquela dança. Relutantemente, retirou uma de suas mãos que luxuriosamente sustentava a bunda de Cosima e desligou a ducha, pois tinha a clara intenção de sorver tudo o que pudesse da morena, que gem*u baixinho quando teve um breve vislumbre dos planos de sua professora.
Delphinhe voltou a beijá-la com mais intensidade e então, como se tivesse dando o beijo de despedida, abandonou sua boca, mas não antes de lamber o lábio inferior da morena, que sentiu seu corpo ser imprensado contra o mármore frio. Contudo, não teve tempo de se incomodar com a mudança na temperatura, pois a boca de sua professora seguia um caminho que demandou toda a sua atenção. Então decidiu oferecer-lhe tudo o que ela desejasse.
O sabor da pele de Cosima se acentuava cada vez mais, a medida que as ultimas gotas d´água escorriam de seu corpo. O frescor do banho já estava longe e pequenas gotículas de suor já brotavam indicando a temperatura que ambas liberavam. Desceu vagarosamente pelo pescoço, lambendo toda a extensão da pele arrepiada, tendo o cuidado de deixar um rastro molhado por onde passava. Simultaneamente suas mãos acariciavam suavemente as laterais do corpo de Cosima, até atingir sua cintura e aquele corpo lindo reagia a cada toque, estremecendo cada vez mais. Deixando a loira maravilhada com a forma que sua aluna reagia a ela.
Cosima estava tentando, a todo custo manter a calma e saborear cada toque, mas sentia o seu sex* pulsando desesperadamente por ela e lhe lançava o quadril buscando o dela. Delphine também estava louca por aquilo, mas estava sendo maravilhoso o jogo de provocação entre elas e então a olhou intensamente nos olhos e a mensagem foi compartilhada.
Mordiscando os lábios, Cosima foi tomada com mais intensidade e então Delphine a puxou e girou seu corpo, deixando-a de costas para si enquanto comprimia o corpo dela com o seu contra o vidro do boxe. A morena arrepiou-se ainda mais ao sentir a frieza do vidro contra seus mamilos extremamente sensíveis. Contrastando a essa sensação, havia o calor absurdo que lhe subia pelo abdômen e voltava a se concentrar para onde as mãos de Delphine se dirigiam. O seu sex*.
- Você é realmente maravilhosa Cosima! – ela lhe suspirou ao pé do ouvido enquanto mordiscava seu pescoço. A morena empinava sua bunda, oferecendo-a para Delphine, que não se fez de rogada e passou a esfregar seu sex* encharcado nela. A loira rebol*va cada vez mais rápido enquanto esforçava-se para manter alguma coerência nos movimentos de seus dedos no clit*ris de Cosima que já sentia os primeiros espasmos se aproximarem.
- Está vindo Delphine... – anunciou – Está vindo... – Subitamente Delphine se afastou dela e tirou sua mão. Com um gemido choroso Cosima se virou e a encarou. O que viu em Delphine naquele momento foi impossível de descrever, pois aquela poderosa mulher estava tremendo da cabeça aos pés. Tinha os punhos cerrados e respirava num ritmo alucinante.
Cosima quase gozou apenas a olhando cobiça-la daquela maneira. Aquele olhar felino, predador podia ser visto, mas para muito além dele existia uma necessidade muito mais profunda e poderosa e que fazia aquela mulher se desnudar de todas as maneiras.
A morena sentia o latejar de seu sex* no limiar do gozo e então começou a descer sua mão por sua barriga, se arranhado com vontade. Delphine cerrou os olhos e respirou mais fundo. Mas a outra foi além, e atingiu o início de seus pelos muito bem aparados enquanto sua outra mão apertava seu mamilo duro. Usou dois dedos para afastar seus grandes lábios, deixando sua carne pulsante toda a mostra. Delphine cambaleou e alternou em olhar para aquele ponto e para o rosto sacana de sua orientanda que demonstrava o quanto de prazer estava sentindo.
Voltou a focar sua atenção no sex* dela e assistiu com deliciosa ansiedade quando escorregou sua mão mais para baixo e então ela prendeu o próprio clit*ris entre os dedos e o apertou com intensidade. Estava tão absurdamente excitada que esse gesto fez com que um filete de seu líquido escorresse, fazendo com que Delphine literalmente salivasse e olhasse suplicante para a morena que entendeu e se compadeceu da “agonia” dela.
- Venha! – Era tudo o que Delphine precisa ouvir. Com dois passos estava novamente com seu corpo colocado no dela e se perdendo em mais um beijo apaixonado que não durou muito, pois ela tinha planos de beijar outros lugares daquela mulher.
Olhou de baixo para cima enquanto ia descendo e sem anuncio algum, abocanhou um dos seios de Cosima que urrou de satisfação e voltou a sentir os espasmos do gozo que fora suspenso e voltaram com ainda mais intensidade.
Com total consciência disso, Delphine partiu para o seu objetivo e se ajoelhou diante de Cosima que ofegava em expectativa e via Delphine se aproximar de seu sex*, mas ainda sem tocá-lo de imediato, apenas se embriagando do seu cheiro.
“Maravilhoso!” Emitiu para ela. Subiu suas mãos pelas tensas pernas dela e acariciou de leve a penugem daquele sex* que brilhava com todo o tesão liberado. Lambeu os próprios lábios enquanto gentilmente abriu aqueles lábios lambuzados e viu seu intimo a irrisórios milímetros de si e então desferiu uma súbita lambida no ponto certo de Cosima que choramingou ainda mais alto e retesou todo o seu corpo.
Delphine também soltou um gemido rouco ao sentir o gosto dela e, com um ultimo olhar, tomou toda aquela carne sensível em sua boca e em poucos segundos, aquele banheiro fora preenchido por gemidos desconexos que foram ganhando força.
Porém outra voz, que não a delas, se fez ouvir ali.
- Delphine, você precisa ver iss...
- MINHA NOSSA! – Cosima se virou para a porta do boxe enquanto Delphine se erguia tentando entender o que estava acontecendo ali.
- Delphine... Me desculpe...
- Oi Helena... – disse com denotado constrangimento, muito mais pela surpresa e por Cosima, que tentava se esconder atrás dela.
- Vou deixa-las... Eh... Lhe espero na cozinha! – Helena, que acabara de flagrar as duas saiu daquele banheiro completamente envergonhada.
Voltou apressadamente para a sala tentando entender o que acabara de acontecer. Tinha o hábito e a liberdade de entrar no quarto ou banheiro de Delphine sempre que fosse necessário, como naquele momento, pois fazia parte da sua função também, além do mais o vazo quebrado, que encontrou no corredor, lhe alertou para algum possível problema.
Mas algo a alertou ainda mais. Uma constatação que a fez se surpreender como nunca em relação à Delphine. Desde que passou a trabalhar para ela que nunca a viu levar ninguém em sua casa. Contudo, a mulher que estava com sua chefe, definitivamente não era ninguém. Porém isso não amenizava o receio dela, pois passada a desconfortável sensação, o que ficou foi o temor que sentia por sua amiga. Mesmo apesar do que havia conversado com Siobhan e Stela.
Seguiu em direção à cozinha e então percebeu que próximo ao piano havia roupas e sapatos espalhados. Denunciando o que havia ocorrido ali, além do banco virado. Suspirou resignada e seguiu para onde ia. Não poderia ir embora sem discutir aquele assunto com Delphine. Era sério e urgente demais.
*****
- Quem é ela Dephine? – Cosima perguntou enquanto se enrolava num roupão cinza que lhe fora entregue.
- Ela trabalha para mim Cos. Além de ser uma grande amiga. – o que não era mentira.
- Grande amiga mesmo... Para entrar em seu banheiro desse jeito... – voltou a olhar-se no espelho, tentando organizar seu cabelo de alguma maneira, visto que molhou seus dreads.
Delphine inicialmente estranhou aquele tom, mas logo reconheceu que sua aluna estava sendo consumida por uma pitada de ciúmes. Ficou recostada no boxe do banheiro assistindo ela terminar de se organizar. Ponderou que de fato poderia soar estranho aquele tipo de interrupção ou até mesmo a relação que ela tinha com a sua Protetora. Mas realmente estava achando fofo o bico e a birra de Cosima naquele momento, mas tratou de confortá-la.
- Ei... – A envolveu por trás e a olhou pelo espelho. – A Helena é minha segurança pessoal. Além de mim, ela é a única pessoa que tem acesso ao meu apartamento e certamente teve um bom motivo para vir até aqui. – Cosima franziu a testa, tanto pela revelação de que Delphine tinha uma segurança e porque estava sem seus óculos e esforçava-se para enxerga-la bem. – Além do mais... – Virou-a para si – É impossível, para mim, olhar para qualquer outra mulher. Agora que a tenho em minha vida. – Segurou seu rosto com ambas as mãos. – Não quero mais nada nem ninguém! – encostou suas testas.
- Del...Eu... Eu... – sentiu os dedos dela pressionando seus lábios.
- Não precisa dizer nada Cosima.
- Mas eu preciso! – retirou os dedos gentilmente. – Eu jamais senti nada igual ao que sinto por você. Chega a ser assustador, admito. Você está em mim Delphine – fez um gesto indicando todo o seu corpo. – Sei que parece loucura, pois nos conhecemos ha tão pouco tempo. – Delphine fechou os olhos, ponderando as implicações daquela frase. Pois ela sentia que conhecia Cosima ha séculos e ao mesmo tempo a estava descobrindo. – Mas eu sinto como se sempre a procurasse. Muito maluco eu sei. – Baixou o rosto.
- De forma alguma. Acredite em mim quando digo que lhe entendo. Eu me sinto plena e completa ao seu lado Cos. Você me faz um bem que não tens dimensão. – segurou as mãos dela nas suas e as beijou. – E me refiro a muito mais do que à química absurda que temos no sex*. – lhe olhou intensamente.
- Eu sei. Nem eu. Embora que fizemos o melhor sex* da minha vida! – riu e a apertou pela cintura. – E eu adoraria passar a manhã fazendo isso mas... Tem uma pessoa a sua espera e estou com muita fome!
- Além do fato de que eu lhe devo algumas respostas! – disse enquanto as guiava de volta ao quarto.
- Delphine, isso tem a ver com o fato de você precisar de segurança pessoal? – Cos a indagou e a fez parar pouco após saírem pela porta do quarto.
- Tem sim. – ponderou – Mas eu te peço apenas um pouco de paciência. Certamente tenho algo para ser resolvido, mas queria saber se posso pegá-la à noite? Gostaria de leva-la a um lugar que me ajudará a lhe explicar o que precisas saber.
- Claro Del! Vou com você onde quiseres me levar! – Se olharam apaixonadamente e Delphine se sentiu ser preenchida por uma confiança estranha a si.
Quando passaram pela sala, Cosima varreu aquele ambiente, procurando aquela mulher e algo mais.
- Procurando por isso aqui? – Helena voltara para a sala e trazia em suas mãos o vestido de Cosima e seus óculos. A expressão em seu rosto denotava o ar de ironia que desejava passar e então trocou olhares com Delphine que, estranhamente, não soube o que sua amiga queria indicar com aquilo.
Cosima voltou a sentir suas bochechas em chamas devido ao constrangimento que sentiu por estar diante dela e pela cena que aquela mulher presenciou há pouco. Olhou para Delphine e depois olhou para a outra mulher ali que lhe analisava de cima a baixo e não conseguia discernir bem a expressão que fazia.
Com cautela, foi até ela e pegou suas coisas. Imediatamente colocou seus óculos e pôde vê-la bem de perto. Surpreendeu-se com a exuberante beleza dela, embora o seu ar misterioso lhe causasse certo receio.
- Cosima Niehaus essa é a Helena Katz, minha segurança pessoal e amiga querida. – Delphine as apresentou enquanto tocava o ombro da sua Protetora. Nem ela, nem Cosima fizeram menção a dizer nada, causando um desconfortável silêncio até que Helena estendeu sua mão após um olhar de repreensão de sua chefe.
- Prazer Srta Niehaus! – Cosima apertou sua mão relutante. – Gostariam de tomar café da manhã? – Disse já se dirigindo a cozinha e sendo seguida por ambas. Só então Cosima recordou que já havia visto aquela mulher, na noite do baile. Ambas passaram a se analisar e Cosima sempre se encabulava quando o olhar da outra se demorava ainda mais sobre ela.
Delphine assistia aquela cena com denotado receio. Sabia que toda a desconfiança que sua segurança tinha devia-se a sua total lealdade e dedicação a sua missão de protegê-la. E desde o início, Cosima fora tratada com desconfiança tanto por Helena quanto por ela própria, porém tudo havia mudado Cosima a havia conquistado de uma forma que nem ela mesma poderia imaginar ser possível e sentia que precisava e devia modificar a opinião de sua Protetora a respeito de sua aluna.
- Oi... Prazer! – Foi tudo o que sua vergonha lhe permitiu responder enquanto segurava a mão dela.
- O que temos para comer Helena? – Delphine tentou quebrar aquela tensão e puxou Cosima pela mão. Sua protetora olhou para aquela cena e mudou radicalmente seu semblante. Sabia que tinha de confiar em Delphine, mas temia que sua amiga estivesse com o seu senso crítico comprometido, pois ali, enquanto as via de mãos dadas, com aquelas trocas de olhares percebeu que algo muito mais intenso estava acontecendo.
- Trouxe os croissants da Le Marais que você adora. E tem café fresco – indicou a máquina de expresso italiana que liberava um delicioso cheiro de café no ambiente.
Helena bebericava o seu café praticamente em silêncio, apenas as observando com um misto de desconfiança e uma inusitada sensação de alivio ao ver o quanto Delphine parecia bem. Mais leve. Sua amiga era completamente incapaz de retirar o sorriso dos lábios e de desfazer a sua expressão embevecida. Estava feliz pela felicidade dela e tal constatação a pegou de surpresa. Inevitavelmente pensou em Siobhan e no que ela poderia ter entregado a Cosima. Lembrou-se de tudo que lhe fora contado acerca da história da Ordem e, de como ela estava diretamente ligada a Evelyne Chermont e Melanie Verger e mais uma vez pousou seu olhar sobre aquela mulher. Se ela realmente era quem a S afirmava que era tudo estava prestes a mudar e mais, aquela mulher não tinha dimensão do quanto estar perto de Delphine representava um perigo real e mortal para ela.
Isso a lembrou do que a tinha levado até ali. Olhou novamente para o jornal que trouxera e para a terrível notícia contida nele. Certamente ela deixaria Delphine profundamente chateada e lamentou por isso, pois ela parecia tão bem, que chegou a lamentar o que teria de lhe mostrar e que, certamente, macularia aquele momento dela.
Como se tivesse percebido algo, Delphine a olhou e naquela troca de olhares, o reconhecimento de que algo importante precisava ser dito alertou-a. Cosima as observou não muito satisfeita, mas sabia que sua orientadora tinha assuntos a tratar com Helena que parecia não ter simpatizado com ela e a recíproca era verdadeira.
- Del, eu lamento ter que interrompê-las... – Helena se adiantou.
“Como assim `Del`?” Cosima a questionou mentalmente sem conseguir esconder seu ciúme.
- Eu sei Helena. Já estou indo. – Voltou-se para Cosima. – Cos, eu realmente preciso resolver algumas coisas com a Helena, mas... O nosso compromisso de hoje a noite está mantido. – lhe disse sinceramente. – Manterei minha promessa de lhe dar explicações. – Selou o compromisso com um carinhoso beijo nos lábios.
Cosima retornou para o quarto a fim de se vestir, deixando Delphne e Helena na cozinha. Essa estava boquiaberta com o que acabara de ouvir e testemunhar.
- A que você estava se referindo com explicações? – questionou-a. Delphine permaneceu em silêncio, fitando o liquido negro em sua caneca. – Você não está pretendendo contar tudo a ela não é? – Ao que sua amiga lhe olhou com certo pesar. – Não! Isso é loucura Delphine! Você mal a conhece! Vais mesmo nos expor a uma estranha? Expor a Ordem? – disse essa ultima parte entre dentes para não ser ouvida.
- Ela não é uma estranha Helena! Pelo contrário!
- Como podes ter tanta certeza? – Helena a questionava.
- Eu simplesmente sei! É ela! Sinto em cada pedaço de mim. Então eu preciso começar a contar algumas coisas a ela. E também tentar descobrir o que ela sabe e como chegou a essas informações.
Helena ponderou se deveria ser aquele o momento de contar sobre a suposta “traição” de Siobhan, mas achou melhor confiar no pedido de sua mentora assim como confiar no julgamento de sua Mestra. Mas secretamente decidiu que vigiaria Cosima ainda mais de perto, por vários motivos.
- Del... – Cosima retornara e decidiu mostrar a Helena que também tinha aquela mesma intimidade com a loira. – Estou indo então.
- Está bem. Vemo-nos a noite, certo? – Cosima acenou com a cabeça e sorriu docemente com a possibilidade de passar mais uma noite com ela.
– Meu táxi já chegou. – disse assim que viu a mensagem de Amir em seu celular. – Foi um... Prazer conhecê-la Helena. – despediu-se educadamente.
Delphine a segurou pela mão e a levou até a porta do seu apartamento. Os passos eram lentos, evidenciando que nenhuma das duas queria ficar longe da outra, mas a certeza de que se veriam novamente em algumas horas as acalentou.
- Até a noite então! – Despediu-se lançando um beijo sedutoramente e esperou até o ultimo instante, até que a porta do elevador se fechasse e a levasse embora.
Assim que retornou para seu apartamento, encontrou Helena lhe estendendo um jornal. Olhou para sua amiga e respirou fundo. Não desejava sair de sua pequena ilha de felicidade, mas sabia que tinha suas obrigações. E, de alguma maneira, anteviu o que aquilo poderia significar.
- Por favor, diga que não é o que estou pensando? – lamentou.
- Tome!
Abriu o jornal assim que o recebeu e numa rápida passagem de olho viu a manchete que a outra desejava que visse e sentiu seu sangue gelar. Toda a felicidade que a havia preenchido, deu lugar ao pesar e a raiva de ler a notícia que vinha na capa do principal jornal francês.
- Quem foi? – Questionou com voz levemente embargada.
- Página quatro! – Helena limitou-se a apenas dizer isso.
Delphine jogou-se em seu sofá à medida que lia a notícia da sessão policial que relatava mais um caso de um brutal assassinato de uma mulher e que trazia os mesmos traços de crueldade que indicava ser obra do mesmo assassino de outras vítimas que não só atuava na França, mas também em vários outros países. A polícia parisiense assim como a Interpol não conseguia achar nada em comum entre as vítimas exceto pelo tipo da morte.
Delphine e Helena sabiam que aquele crime não se tratava de um simples feminicídio pois o terrível modus operandi do assassino era uma espécie de cartão de visitas e tinha uma destinatária.
Todas as vitimas – 8 até o momento - tinham suas cabeças violentamente esmagadas a golpes de martelo, causando suas mortes e a terrível “assinatura” que o assassino possuía era de que a arma do crime sempre era deixada de forma brutalmente inserida na genitália das vitimas. Era uma mensagem clara e direta! Cujo alvo era ela e suas irmãs da Ordem.
- Sila! – sussurrou Delphine.
- Isso mesmo. Eles pegaram a Sila Ylmaz e eu não faço ideia de como, pois a estávamos vigiando Delphine, desde a sua traição em Istambul. – Helena tentava se explicar.
- Aquele monstro! – Delphine amassou o jornal entre as mãos. Ambas sabiam quem era o responsável por aquelas mortes.
- Ferdinand! – Helena cerrou os punhos.
Ferdinand Chevalier era o especialista em tortura do Martelo e um dos principais aliados de Lamartine e vinha literalmente exterminando mulheres que pertenciam a Ordem, sempre enviando a mesma mensagem.
- Precisamos acabar com ele Helena. Com todos eles! – Delphine disse enquanto trocava um olhar triste com a sua protetora. – Ligue para Stella! – Ordenou!
*****
Cosima largou sua bolsa e chaves sobre a mesa de centro de seu pequeno apartamento e antes mesmo de fazer qualquer coisa, tratou de retirar seu vestido e enfiar-se em seu pijama favorito. Já começava a sentir os efeitos da noite de pouco sono. Uma deliciosa moleza foi tomando conta de seu corpo e então se jogou em sua bagunçada cama que ainda estava repleta de suas roupas. Teve só o cuidado de empurrar algumas para o lado e se deitar.
Apesar do cansaço, não conseguia dormir, pois as imagens da noite maravilhosa que tivera ficavam rodando em sua mente como um filme. Tudo o que Delphine havia planejado para o seu dia fora perfeito. Cada detalhe parecia ser um sonho. O passeio ao lado dela, ver a Paris dela... O jantar magnifico que tiveram e que culminou com o sex* mais fenomenal que tivera em toda a sua vida.
- Definitivamente o melhor aniversário que já tive. – disse para si mesma. O som de leves batidas em sua porta a alertou. Foi até lá para checar que se tratava da entrega de um dos seus presentes de aniversário, o seu aparelho para tocar vinil. Agradeceu ao jovem entregador e procurou um espaço na mesa da tv para coloca-lo. E assim que o instalou, tratou de testá-lo, colocando o único vinil que possuía, por enquanto. E logo aquele ambiente foi tomado pela alegre melodia do Jezz vibrante de Billie Holiday. Especialmente de uma das canções favoritas. Just one of those things.
(...) Foi apenas uma daquelas noites
Apenas um desses voos fabulosos
Uma viagem a Lua em leves asas
Apenas uma daquelas coisas (...)
A musica afastou o cansaço e lhe fez companhia enquanto tentava colocar ordem no caos em que estava o seu loft, especialmente o seu quarto. Cantarolava e assoviava em pleno estado de felicidade. Uma alegria que jamais imaginou ser possível. Sempre achou piegas a expressão “gritar para o mundo ouvir”, mas a verdade era que essa era a sua vontade, verbalizar com todas as forças de seus pulmões. Gritar tudo que transbordava dentro de si e contagiar o mundo com o seu amor.
Sim, ela sabia em seu intimo que era exatamente isso que sentia por Delphine. Parecia ser loucura e muitos achariam isso, pois acabara de conhecer aquela mulher, mas cada mínimo fragmento de seu ser estava tocado por aquele sentimento e ele nascera no exato instante em que seus olhos se encontraram pela primeira vez.
Considerava-se uma pessoa racional e pé no chão, mas todas as suas certezas estavam sendo severamente abaladas pela presença de Delphine em sua vida. Sentia como se tudo em sua vida a tivesse levado àquele momento e para os braços daquela mulher fenomenal. Sorriu largamente tomada por uma certa dose de orgulho por ter uma mulher como Delphine Cormier em sua vida, compartilhando do mais puro dos sentimentos. Pois, apesar de nenhuma das duas ter verbalizado aquelas poderosas três palavras, tinha a certeza de que era o que acontecia entre elas.
Tomou mais uma vez o livro que ganhara de presente e o acariciava com denotada adoração por tudo o que aquele presente sensacional significava. O abriu assim que o chiado do seu vinil chegava ao final. Sorriu e foi novamente tocada pela emoção de segurar uma verdadeira raridade que muito provavelmente não deveria nem se quer ser possível de determinar seu valor, dada a sua grandeza e ele lhe fora dado como a mais intensa declaração de devoção.
Releu a dedicatória contida nele e voltou a se perguntar quem fora aquela misteriosa mulher para quem Virginia Woolf havia dedicado sua obra-prima e por quem evidentemente nutria algum tipo de sentimento, mas que não fora correspondido. Gabava-se de conhecer a fundo a biografia daquela autora e não se recordava de nenhuma Chloé com quem ela pudesse ter se relacionado. E se pegou sentindo pena da Virginia e inevitavelmente o doce sabor da alegria e felicidade deram lugar para um amargo e inevitável gosto de culpa.
“Shay...” Afundou-se em seu sofá e sentiu uma angustia pesar em seu peito. Precisava acabar com aquilo. Precisava ser honesta e direta com ela mesmo que isso significasse magoar alguém que jamais merecia aquilo. Voltou a lamentar a não ida dela, pois havia traído sua confiança mesmo que a relação entre elas não tenha sido devidamente oficializada. Era uma violenta contradição. O momento mais feliz de sua vida também tinha uma faceta triste. E o que ficava era a necessidade gritante de resolver aquela história.
Alcançou o seu notebook e o inicializou. Sabia que a Shay merecia uma conversa direta, olho no olho, mas não suportaria mais esperar. Teria de ser daquela maneira fria e quase impessoal. Mas era o que tinha no momento e então discou o número dela e a demora na resposta só a enervava ainda mais. Na primeira tentativa ela não foi atendida, e o mesmo aconteceu nas três ligações seguintes. Calculou a diferença do fuso e achou que ela deveria estar em casa naquele momento. Optou então em ligar para seu celular e novamente não obteve resposta. Estranhou um pouco, mas aquilo não a alertou, pois sabia que a vida de uma médica de emergência era realmente imprevisível. E certamente Shay deveria estar literalmente internada no hospital.
Praguejou alto e teve de se conformar em enviar uma breve mensagem solicitando que ela lhe retornasse assim que possível. Largou seu celular de lado e tentou aquietar seu coração, mas a euforia não a deixava ficar parada. Decidiu que seria melhor tentar trabalhar um pouco em suas pesquisas, até mesmo para conter a sua ansiedade pelo esperado encontro de mais tarde, no qual Delphine disse que iria lhe sanar várias de suas dúvidas.
Foi até seu closet e sacou da mala aquela pasta que continha suas principais fontes de pesquisa. Pensou em debruçar-se sobre aquele antigo livro que lhe fora confiado, mas assim que seus olhos alcançaram o diário de Melanie Verger decidiu toma-lo e voltar a tarefa de interpretá-lo e buscar sua tradução completa. Voltou para o sofá e depositou seu notebook em seu colo, em seguida abriu os arquivos onde ela já iniciara o trabalho de transcrição.
À medida que passava pelas páginas que já havia transcrito, as dúvidas voltavam a consumir a sua sanidade. Ainda não conseguia compreender com clareza porque tudo aquilo lhe fora entregue. A mulher que o fizera lhe disse que era uma espécie de herança de família.
Fora pega tão de surpresa que não conseguiu questionar mais nada acerca daquela informação. Só depois que sua racionalidade a levou a buscar toda a genealogia de sua família na tentativa de ver se uma das duas autoras do livro fazia parte dela, mas não encontrou ligação alguma. Contudo, não se desfez dele, pelo contrário se debruçou sobre ele como uma riquíssima fonte de pesquisa.
Porém, assim que chegou a Paris, os estranhos sonhos tiveram inicio. Sonhos que cada vez mais perdiam essa definição e adquiriam um forte senso de concretude, como se fossem memórias. Mas sabia que aquilo era impossível. Pois tais memórias – se fossem isso mesmo – pertenciam à outra pessoa.
“O que tudo isso significava?” Havia acumulado muito menos respostas do que perguntas nos últimos dois anos, desde que recebera aquele material, mas algo lhe dizia que era ali em Paris que encontraria as suas respostas uma vez que aquele livro e o diário vieram da França.
Chegou naquele país certa de que a Professora Delphine Cormier seria a pessoa que poderia lhe ajudar com sua pesquisa, mas a forma inicial que ela tratou o seu trabalho a desanimou porém existia algo mais ali e na noite anterior a sua certeza inicial voltou quando descobriu que sua orientadora conhece uma das autoras daquele livro. Resignou-se e passou a contar as horas para o encontro da noite.
******
Delphine repassava a conversa difícil que tivera com Helena acerca da sua decisão de contar parte da história da Ordem a Cosima e de como ela desaprovava aquilo. Mas sabia que era o papel dela temer, e precisava assumir que ainda havia um resquício de receio dentro de si, embora que tudo o que estava sentindo por Cosima lhe dizia que poderia confiar cegamente nela e ali, parada diante do prédio dela ponderou o que devia ou não contar, o que devia ou não mostrar a Cosima.
Porém, o que mais a assustava eram os riscos que aquilo tudo poderia significar e então chegou à conclusão de que, pela primeira vez desde que tudo aquilo havia começado, não possuía nenhum controle sobre o que estava por vir, sobre as consequências implícitas ali. E isso só poderia significar uma coisa, que toda a expectativa, toda a preparação que teve para aquele momento não iriam servir de nada. Pois existia uma variável naquela equação que era impossível de ser controlada ou manipulada. Era ela!
“Cosima!” Suspirou ao vê-la saindo de seu prédio ainda mais adorável e apaixonante do que nunca. Vestindo seu usual sobretudo vermelho.
Destravou a porta para que ela entrasse o que causou certa frustração em Cosima, pois ao contrário das outras vezes, ela a esperou dentro do carro e havia um estranho pesar em seus olhos.
- Oi... – Sentou-se cautelosamente e buscou seus olhos, mas esses estavam fixos no volante diante de si. – Tá tudo bem Delphine? – Continuou a observando e começou a sentir a apreensão e a dúvida a dominarem. – Fala comigo, o que está acontecendo? – A aflição já podia ser percebida na sua voz e aquilo atingiu em cheio Delphine que finalmente a olhou. – Eu fiz alguma coisa errada? – Questionou ainda mais temerosa.
- Não meu amor! Por favor, não penses jamais que eu me arrependi de tudo o que vivemos ontem. – soltou seu cinto e a abraçou. Havia vislumbrado o medo que passou pela mente de Cosima e não poderia deixa-la pensando aquilo. – É que eu tive um dia difícil logo após você ter saído. Que fique claro! – acariciou seu rosto e a beijou levemente nos lábios. Olhou-a intensamente. – Pronta para irmos? – Sorriu.
Cosima não conseguia responder apenas era capaz de sorrir debilmente de volta, pois ainda estava extasiada com o “meu amor” proferido tão espontaneamente por Delphine. Parecia a mais doce das melodias que chegava ao seu coração. Recostou a cabeça e acenou, concordando com ela.
O carro seguiu se afastando da parte central de Paris e Cosima se deu conta de que não iria retornar ao apartamento da noite de ontem.
- Não vamos para a sua casa? – A indagou.
- Vamos sim... Só que outra. –Respondeu enquanto segurava a mão dela na sua e beijou docemente. – Confia em mim?
- Sempre! – E a olhou intensamente, causando um poderoso arrepio em Delphine que apertou o volante com intensidade e precisou focar na estrada. Cosima procurou se ater á belíssima paisagem que as cercava. Um charmoso bairro residencial com luxuosas mansões que iam ficando mais espaçadas e logo a estrada passou a ser ladeada por densas colunas de árvores altas e pelo retrovisor, via Paris ficando para trás. Voltou a olhar para a mulher ao seu lado, mas ela estava concentrada na estrada que se tornou perigosa, com curvas sinuosas e uma leve inclinação. Chegou a pensar que estavam em alguma zona rural nos arredores daquela grande cidade, porém, ao fim de uma pequena subida, teve inicio o alto muro de pedras que seguia até onde a sua visão alcançava.
Vários metros à frente o muro de pedras deu lugar a colunas de ferro pontiagudas, formando uma grande que permitia ver um belíssimo jardim e mais acima uma construção de pedras foi sendo descoberta e então Cosima percebeu que se tratava de um antigo e bem conservado castelo. Arregalou seus olhos e entreabriu a boca quando percebeu que era para lá que estavam indo, pois assim que atingiram o imenso portão de ferro, Delphine virou, parando ao lado de um suporte onde um painel eletrônico a esperava, Ela digitou alguns números e o portão se abriu automaticamente.
- Delphine... Isso tudo é seu? – Perguntou incrédula. A loura a olhou de canto de olhou e apenas acenou com a cabeça.
- Na verdade é da minha família. - E assim que contornaram um lindíssimo espelho d´água, Cosima teve novamente a mesma sensação de deja vú. Um reconhecimento antigo, embora tenha a certeza de nunca ter estádio naquele lugar.
Pararam na base de uma escadaria onde havia duas mulheres no topo, as esperando.
- Vamos? – Delphine a questionou enquanto abria a porta do seu lado. Cosima lentamente a seguiu e assim que ela chegou ao seu lado, segurou sua mão e parou diante dela. – Cosima, eu queria lhe dizer uma coisa antes de entrarmos. – Respirou fundo – Na verdade é um pedido. – olhou para baixo por um instante e voltou a encará-la. – Tudo que eu lhe contar aqui precisa ser mantido em segredo. – Cosima fora pega totalmente de surpresa pelo tom de mistério e seriedade envolvidos naquele pedido ao ponto que não conseguiu responder com palavras, apenas concordou acenando com a cabeça. Então, de mãos dadas elas subiram as escadas e foram recebidas por duas mulheres mais velhas que lhes sorriam cordialmente.
- Cosima, essas são a Rita e a Karen. Elas me ajudam a manter esse lugar habitável! – Sorriu. As mulheres apertaram as mãos de Cosima e cumprimentaram Delphine.
- Sra Cormier, deixamos tudo pronto com nos foi pedido. – disse a mais alta delas.
- Muito obrigada Rita. Podem ir descansar agora. – As mulheres acenaram gentilmente e saíram em direção a lateral da escada.
- Prazer em conhecê-las! – Cosima ainda disse e elas se entreolharam e sorriram timidamente. Ela achou aquilo um pouco estranho, mas voltou-se para sua professora. – Delphine, quantos anos tem essa construção? – indagou enquanto olhava o requinte dos detalhes entalhados na larga e alta porta de madeira da qual acabaram de passar.
- O castelo remonta ao século XIII, mas foram feitas várias reformas e adequações. Respeitando todas as normas de conservação história, claro. – piscou um dos olhos. Cosima riu levemente, mas não conseguia fechar a boca, pois se o exterior era exuberante, nada poderia prepara-la para a grandiosidade de seu interior e a incomoda sensação de já ter estado ali se fazia cada vez mais presente.
Um pouco mais para trás, Delphine a observava com bastante atenção, pois sentiu o exato momento em que Cosima teve a sensação de já ter estado ali e aquilo só lhe enchia ainda mais de certeza de quem ela era. E lhe dizia que precisava lhe contar o que estava por vir.
Caminhou em direção ao corredor que levava até sua biblioteca e esticou a mão em direção a ela. Não precisou dizer mais nada, pois ela sabia o que precisava fazer.
Todo o ambiente estava mergulhando numa penumbra, com poucas luzes indiretas que estavam ligadas apenas para iluminar a série de telas e adereços das paredes. Luxo e tradição misturados e contando a história daquele lugar. Mas a ansiedade que a consumia não lhe permitia prestar tanta atenção nos detalhes, focou na fina blusa branca que Delphine vestia sobre uma calça social cinza. Simples e linda como sempre.
Ultrapassaram mais uma porta e Cosima não se conteve!
- Pelas deusas! O que é isso? – Olhou maravilhada para a grandiosidade da biblioteca de Delphine e a riqueza de seu acervo. Parecia uma criança que acabara de entrar em uma loja de brinquedos. Sem necessariamente pedir permissão, explorou as estantes e prateleiras até onde seus olhos conseguiam ver e não parava de se surpreender. Algo lhe ocorreu. – Esse acervo todo é seu certo? – virou-se para ela. Delphine apenas acenou que sim. – Então... Você leu tudo isso?
Delphine ponderou qual deveria ser a sua resposta, pois existiam ali alguns milhares de títulos e num rápido cálculo mental seriam necessários muito mais do que os supostos 37 anos que ela tinha para ler tudo aquilo.
- Li boa parte! – Mentiu. Pois já os havia lido todos, alguns mais de uma vez. Mas só aquela resposta já surpreendeu Cosima e lhe serviu como a devida explicação do absurdo nível intelectual de sua orientadora. – Mas eu acho que essa não é uma das perguntas que queres me fazer. – Recostou-se em seu birô e cruzou os braços. Cosima inclinou levemente a cabeça e mordiscou seu lábio. Eram tantas questões que não tinha certeza por onde começar.
- Del... Eu realmente tenho muitas dúvidas e perguntas que tem me perturbado sobre mim, sobre nós... Sobre você. – sofria sinceramente. Mas a despeito de tudo isso havia uma que gritava mais alto e que poderia muito bem magoá-la caso não soubesse nem sentisse o imenso sentimento entre elas.
- Sim Cosima, eu conheço Evelyne Chermont! – Delphine foi mais rápida do que ela.
- Então me diga por que você... – Procurou a melhor palavra para o momento – Desmereceu o meu trabalho quando o apresentei pela primeira vez? – Delphine fechou os olhos, pois sabia que aquela conversa tomaria aquele rumo. – Usei fontes legítimas e que você conhecia e mesmo assim você pareceu não aceitar minhas pesquisas sobre um grupo de mulheres que realmente existiu...
- Não Cosima! – Ela a interrompeu bruscamente. – Esse grupo de mulheres não apenas existiu como... Ainda existe!
- Mas... Mas... Como assim? – Cosima sentiu o ar começar a lhe faltar. – Delphine... Estais me dizendo o que eu acho que estais?
- Vem comigo... – Tomou-a pela mão sem esperar sua resposta. Guiou-a até o canto daquela sala, parando diante de uma das estantes de livros. Tocou numa edição de O Segundo Sexo, mas sem retirá-lo de lá e para o total estarrecimento de uma incrédula aluna, parte daquela estante se abriu, revelando uma porta metálica por trás. Delphine a olhava por sobre o ombro, apreensiva, mas não poderia mais retornar. Tinha ido longe demais para tal.
Digitou o código que lhes deu passagem para a escada em espiral. E acima dela um símbolo que Cosima conhecia tão bem, mas que jamais imaginou vê-lo ali e começou a confirmar a hipótese que acabara de levantar. Delphine olhou para aquele local e continuou puxando-a gentilmente.
A cada degrau vencido a cabeça de Cosima girava mais rápido, processando todas as informações que estava recebendo e se surpreendendo com as incríveis conclusões a que chegava. E ao alcançarem o final da escada, um imenso salão teve suas luzes acesas e Cosima não conseguia escolher onde focar a sua atenção, dada a riqueza de relíquias contidas naquele ambiente.
Só então Delphine soltou sua mão e se afastou um pouco para observá-la. Sabia que muito mais do que suas palavras, o conteúdo daquela sala falaria melhor para uma confusa Cosima que se dirigiu para dois manequins de madeira que sustentavam duas túnicas de um lilás desgastado, mas que ela reconheceu de imediato. E prendendo aquelas peças de roupa, lá estava o característico boche de Labrys. O tocou para ter a certeza de que era verdade, de que não estava sonhando. Acariciou o tecido macio e sentiu a emoção transbordar.
- Essas túnicas... Elas pertenceram a... - virou-se para sua professora, buscando nela a resposta que já possuía. – Melanie Verger e Evelyne Chermont? – Delphine achou um pouco inesperada aquela pergunta, mas lhe confirmou certa de que ela também tinha a informação acerca dos rituais da Ordem e suas vestimentas.
- Sim Cosima. São exemplos originais de vestimentas da Ordem.
- Não podias deixar que essas verdades viessem à tona não é mesmo? – disse de cabeça baixa. Ela havia juntado as peças como Delphine presumiu. Ela podia assistir e quase ouvir as peças se encaixando dentro da cabeça de Cosima.
- Não Cosima, não poderia. É meu dever manter a Ordem em segredo.
Cosima a olhou incrédula e ao mesmo tempo maravilhada.
“Seu dever?” Viu Delphine se dirigir até o final da sala e acariciar uma redoma de vidro com denotada devoção. Caminhou até ela e não conseguia acreditar no que estava vendo diante de si. Não podia ser possível, mas era.
- O outro livro! – Sussurrou causando o total estarrecimento de Delphine.
- Como assim “o outro livro”?
Fim do capítulo
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patty-321
Em: 13/02/2018
Cacete. Quanta informação pra cabeça da Cos. Ai meu core. Cos está correndo um grande perigo e nao se dar conta. Mas agora o quebra cabeça vai se montando para as duas . Heiena ta no papel de protetora e desconfiança e o medo fizeram ela nao ser amigável com a Cos. Ansiosa demais paea os próximos capítulos. Boa semana. Bjs
Pollyan
Em: 12/02/2018
Olá, Jules_Mari, gostaria de parabenizar pela história envolvente e bem escrita. Mas sobre o último capítulo gostaria de dizer que fiquei uns 20 minutos pensando sobre o que virá a seguir, então que Deus seja piedoso e faça com que o próximo domingo chegue logo (risos). Enfim, agradeço por nos presentear com sua estória. Desejo-lhe sucesso, parabéns!
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