Um divino amor. por SrtaM
Boa leitura! :)
Seguindo a trilha de seu doce aroma.
Linus andou apressadamente puxando Tárcilis pela mão até perceber que estavam longe o bastante. Parou, e, com as mãos nos ombros da amiga, e posicionou-a a sua frente.
--Estás indo longe de mais, Tárcilis.Dizes que queres esperar até o momento certo para contá-la, mas não consegues passar um dia perto dela sem quase denunciar-te. A tua sorte é que Atalanta é bem ingênua.
--E-Eu não consigo controlar!É mais forte do que eu,Linus...-Tárcilis dizia com o rosto rubro. Sentia seus olhos queimarem, e eles se encheram de lágrimas, como que tentando apagar o incêndio. Após se acumularem aos montes, extravasaram pela sua face. Isso sensibilizou seu amigo, que a acolheu em um abraço.
--Olhe, perdoe-me, Tárcilis.Fui incompreensível. O que estou tentando dizer-te é que, se sentes algo por Atalanta, tens de contar-lhe. Atalanta é bela, e há vários homens querendo possuí-la. Um exemplo são esses metidos a homens que vão participar da corrida, principalmente Hipomene.
--Aquele imbecil!-Exaltou-se ao se lembrar do maldito homem, apertando involuntariamente seu amigo com força, como que externando sua ira-Ele sempre foi um idiota. Atalanta nunca o escolheria.
--Au, minha coluna! Tens razão. Após a corrida, sabes o que fazer.
--Sim. Tens razão. Falarei com ela.-Disse mostrando um singelo sorriso. Um singelo sorriso no meio de uma rubra face coberta de lágrimas.
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--Os próprios cães de caça dele o matou.-Senteciou a deusa.
--Ooooooohhhhh...-Todas as ninfas sonaram unissonamente, como sempre faziam quando estavam deslumbradas.
--Caladas!Todas caladas! Isto tudo é culpa da incompetência de todas!-Diana se mostrava furiosa.
--Mas Diana...-Dafne se pronunciou tentando apaziguar a situação.-Se ficares alterada em Lua minguante até a noite, alterará a Lua ,e por consequência a colheita, o mar e até o calendário.
--Mandei ficar calada.-Disse a deusa bem pausadamente, como que saboreando cada sílaba, ou melhor, se concentrando para não explodir em raiva. Dizia tudo entre dentes. Dafne estava totalmente amedrontada.
--Iiiiiiiihh.Pega leve aí, Diana.-Interpelou Salmácis com seu jeito despojado, e pondo a mão no ombro da deusa. A mesma, apenas movendo os olhos fuzilou a mão da ninfa.-Não podes negar que foi hilário.
--Não mereço isto...-Confessou a deusa num suspiro enquanto fazia um sinal de negação com a cabeça. Diana começou andar para longe do local.
--D-Deusa, onde vais?-Perguntou Eco preocupada, mas recebeu o silêncio como resposta e um tapinha nas costas de consolo vindo de Salmácis.
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--''Mas, Diana, se ficares alterada em Lua minguante até a noite, alterará a lua ,e por consequência a colheita, o mar e até o calendário.''-A deusa imitava a voz de Dafne de modo falsetado e gesticulativo.-Esse meu ataque de fúria foi, de fato, uma boa desculpa para me livrar delas...-Fez cara de tédio revirando os olhos ao se lembrar das ninfas.-...Eu deveria ser uma atriz de espetáculo de comédia e tragédia. Hehehehe.
Diana, a passos largos, seguiu para sua casa. Ao contrário dos demais deuses, não morava no Olimpo, nem no Hades. Morava na Terra, pois era o único lugar bom para caça. Isso a fazia, mesmo a contra gosto de Diana, ser a mais ''humana'' dos deuses.
Ao chegar em seu chalé nada modesto, a deusa já se prontificou em inalar o cheiro da madeira e em se jogar em sua gigante cama. Tentou se acalmar, afinal, realmente ficara com os nervos explodindo com a audácia do asqueroso homem. Remexeu-se na cama.
--Acalmar-se é uma ova. Estou saindo.-Disse Diana, como se pudesse ouvir a voz da narradora.
A deusa pegou seu arco e flecha, junto com suas facas e as demais armas. Envolveu-se com sua pele de ursa, arrancou a coroa da cabeça e lançou-a em um lugar desconhecido. Saiu batendo a porta.
--Dane-se a Lua, a colheita e o maldito calendário. Os mortais não fazem por merecer.
Diana começou a perambular pela floresta à procura de um animal que fosse digno de sua flecha. Ao invés disso, encontrou vozes, que supostamente eram de suas ninfas(Palpitou isso, pois reconhecia o tagarelar de Eco em qualquer lugar). Apressou seus passos para longe da matriz das vozes.
Sentiu um cheiro que invadiu suas narinas sem permissão, mas sempre ser-lhe-ia concedida, pois o cheiro era magnífico. Por puro impulso, pensou em sua corredora. Qual era seu nome mesmo?Atalaia...?Atlanta...?Ah sim...Atalanta!Como a deusa desejava vê-la...Queria deslumbrar-se com sua corrida...E, talvez mais. Esses pensamentos assustavam a deusa. Não podia ter vínculo amoroso com mortais. Era a deusa da castidade. Todos pensavam que era a deusa virgem e casta. Bem, julgaram-na virgem, pois nunca deixara um homem sequer vê-la, e o que diria manter relações sexuais. Como as pessoas eram ingênuas. De fato era, até então, casta,porém de alma, pois nunca entregara seu coração com amor de Eros a nenhum mortal.
--Será que ela será afetada com este meu ato de fúria em um dia sagrado?-Perguntou Diana a uma árvore.
--Talvez ela goste de colheita, mares e tenha um desejo secreto por calendário...-Disse a sutil voz do vento, assim arrancando uma risada da deusa.
--O quão és bondoso, vento...Porém não posso retribuir-lhe o favor. Não podes ser acariciado. Em contra partida, acaricia a todos, mesmo que aqueles que não te merecem. E destrói a muitos, mesmo aqueles que não te merecem. Obrigada por trazer o aroma mais belo que senti às minhas narinas
Ao terminar suas confissões ao vento,-Efeito da lua minguante-pegou sua pele de ursa, armas e outros bárbaros utensílios, e enterrou-os próximos a grande árvore. Resolveu, de fato, acalmar-se ''para o bem de todos''(ou seja, de Atalanta) e foi se entregar ao belo aroma.
De tanto andar de olhos fechados, e, de apenas se guiar pelo cheiro inebriante, acabou por bater seu delicado nariz em uma grande rocha. Com a mão massageou o local da ferida. Normalmente, praguejaria em alto e bom som a pobre rocha, mas, desta vez, não deu muita importância, e seu praguejar foi substituído por um bobo sorriso. Se sua irmã Minerva soubesse... Seria o fim.
A deusa, de repente, teve uma brilhante ideia. Concentrou-se, e aspirou uma quantidade imensa de ar, mas não qualquer ar: Apenas os ares que possuía o aroma que a fazia lembrar da corredora. Sentiu-se honrada, pois, agora, algo de belo que a deixava em deslumbre estava dentro de si(...coisa de deuses...). Para completar sua ideia, resolveu se banhar num riacho próximo para tirar todo o odor alheio que estava impregnado em seu corpo.
Após terminar seu banho purificador, a deusa da caça foi para uma caverna, tomando o devido cuidado para que nenhum cheiro entrasse em contato com sua pele. Adentrou no interior da gruta, e expirou todo o ar que reteve. O aroma que lembrava Atalanta reverberava pelas paredes das rocha e acabava se chocando de encontro com a pele da deusa. Agora Diana tinha o cheiro rementente à corredora cativo em sua pele.
Diana começou a tocar e a cheirar cada parte de seu corpo de forma terna. Passava as pontas dos dedos pela sua pele de veludo. Parecia amar-se. Laçava-se com seus braços de forma delicada, como o choque entre duas nuvens. Parecia estar cultuando ao seu próprio corpo. Quem visse diria que era mais um de seus atos egocêntricos e orgulhosos, mas não era a ela mesma a quem ela estava cultuando, mas sim à corredora. Tocava em seu próprio corpo inconscientemente desejando tocar o de Atalanta.
Saiu da caverna, mas levando consigo a experiência de ter ''tocado em Atalanta''. Após alguns minutos caminhando levemente como uma pena, de repente, sentiu uma dor muito forte em seu coração, fazendo-a cair sobre o chão.
--Maldição!O que é isso em meu peito?Parece que me atingiram com algo...-Disse Diana tocando em seu peito, e, depois, checando para ver se havia sangue, mas não havia nada.-É como um vazio agoniante que suga a minha alma. Parece que vai me sugar por inteira a não ser que esse vazio seja preenchido adequadamente.Será que...Não é possível... Aquele desgraçado! Cupido, com certeza, atingiu-me com uma de suas flechas. Mil vezes desgraçado! Justamente no momento que vejo-me mais vulnerável, ele acerta-me!-A deusa praguejava contra o deus da paixão injustamente, pois o mesmo nada tivera a ver com o ocorrido.
O fato da deusa Diana ser atribuída à castidade plantava muitos ciúmes nos corações dos deuses atrelados ao amor, principalmente no de Vênus(Afrodite). A deusa do amor não podia acreditar que Diana não amava nenhum mortal eroticamente, e, por isso, no dia de Lua Minguante,-Período ápice da forma de deusa casta-costumava a pregar peças na deusa da caça juntamente com os outros deuses que tinham vínculo com amor(chegavam até a promover competições entre si), porém Diana sempre escapava de modo safo. Cupido sempre, neste período, voava descarregando suas flechas miradas em Diana, mas a deusa era ágil como ninguém. Portanto,neste período, sempre ficava escondida aos olhos dos deuses.
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Um gole trêmulo. O excesso escorre pela barba. Um tropeço. Mãos retas para cada lado do corpo para se equilibrar. Outro gole trêmulo. Mais excesso escorre pela barba. Mais um tropeço. Outra vez, mãos retas para cada lado do corpo para se equilibrar. Assim seguia Hipomene fazendo esse ritual, que era muito comum entre os seguidores de Baco(Dionísio).Estava totalmente embriagado. Sentia sua cabeça leve e vazia. Só não a sentia mais leve e vazia, pois nela contia a palavra ''Atalanta'', que pesava consideravelmente.
Seus lábios procuravam os da bela moça, mas acabavam, ao invés, achando o chão por suas incontáveis caídas. Por fim, acabou achando uma árvore, que julgou ser ''sua'' bela Atalanta. Ele julgou ser a própria, aliás, eram muito iguais, pois tinham quase a mesma altura(Obs.: A narradora está sendo sarcástica).A árvore era apenas alguns metros maior que a jovem, mas nada que o álcool não pudesse disfarçar.
--Atalanta,minha mulher, vim buscar-te!-Exclamou Hipomene com voz tão cambaleante quanto seu andar.
O jovem bêbado finalmente, após muitas vacilações no andar, conseguira chegar até a sua ''Atalanta''. Passou sua mão pelo áspero e grosso tronco da árvore, que julgava ser os seios da corredora, e disse:
--Como é fofo e macio o seu seio, minha cara...-Com certeza estava bêbado. Em sua face, habitava uma expressão cafajeste.
Após alguns segundos brincando com o suposto corpo da corredora, quis dar ''um passo adiante''. Tirou sua roupa e tirou seu p*nis para fora das calças. Segurou-o e roçou-o contra a árvore, e disse entre suspiros:
--Minha bela mulher, isso. Veja como ele está duro e latejando por ti. Queres maior prova de amor do que isto?-Dizia Hipomene com voz rala. Suas ''declarações de amor'' eram, no mínimo, dignas de vômitos e cóleras.
O caçador bêbado prosseguiu com seu ato, e começou a ''penetrar'(Pois, na verdade, não conseguia ) na árvore que julgou ser Atalanta. O ato seria cômico se não fosse terrivelmente trágico.
Neste momento, Apolo pousava no local, e flagrou Hipomene em seu ato de prazer.
--...Que merd* é esta?-Disse em um tom baixo e reflexivo de forma tão natural quanto o respirar.(Bem sei que naquela época este palavrão não existia,eu acho, mas não existe outra palavra para descrever o que Hipomene estava a fazer).
--A-Apolo! M-Mas que momento mais importuno para aparecer!-Repreendeu Hipomene, mas Apolo não levou em consideração o tom autoritário do outro contra ele, pois estava ocupado de mais tentando entender o que Hades seu protegido estava fazendo.-Ponha a roupa, por favor Atalanta-Disse olhando para a árvore e botando sua roupa de volta.-Isso! Agora venha. Apresentar-te-ei a Apolo...Um amigo íntimo meu...-A última frase o caçador disse cochichando com tom esnobe. Tentou puxar a suposta Atalanta para perto de Apolo, mas a raíz da bela mulher impedia qualquer movimento.-Ora, ela está um pouquinho retraída, pois está sem jeito por ter sido pega em um momento tão íntimo comigo.-Falou em tom de desculpa dando uma risadinha sem graça no final.
O deus solar, que, até então, estava pasmo com a mão na boca, que estava aberta ,e tentando processar alguma coisa, chegou a brilhante conclusão de que Hipomene estava embriagado. Apolo, então, pegou seu amigo e abriu bem suas pálpebras , fazendo um flash de luz atingir as retinas de Hipomene. O mesmo, rapidamente, recobrou um pouquinho de sobriedade. Não o suficiente para fazê-lo parar de cambalear e desenrolar a língua, mas o suficiente para fazê-lo enxergar sua garfe.
--Uma árvore...-Disse um reflexivo Hipomene.-...Finjamos que isso nunca aconteceu...
--De acordo. Agora vamos. Mostrar-te-ei onde Atalanta está,e, após ficares totalmente sóbrio, chama-me. Tenho que te contar sobre nosso progresso com sua queria Atalanta.
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--Isso mesmo, minha cara Tífani, o velho Esqueneu mordeu a isca como um jovem bagre. Logo logo, estaremos cercados de todo o tipo de ouro e pedras preciosas e reinando por todo o Ciros.-Constatou o magnata, que negociara com Esqueneu o casamento de sua filha, solvendo um pouco do vinho que estava retido em uma taça de cristal, dando uma risada maquiavélica logo após.
--Nácis, és magestoso em tudo que fazes. Pagaremos a uns otários para sabotarem está competiçãozinha, e dando espaço para que um de nossos filhos ganhe.-Disse Tífani, a esposa de Nácis,quem sorria sadicamente.
Nácis e sua família já foram muito ricos, mas, recentemente, só possuíam status, o que, por sua vez, ameaçava sumir também. Desde muito tempo, essa família fica de olho nas riquezas e no castelo de Esqueneu. Acharam na inocente Atalanta uma forma de se apoderar de toda a fortuna daquela pequena família. Fariam o que fosse preciso.
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--Olhe como é bela a minha Atalanta.-Disse Hipomene de modo imaginativo a Apolo, quem tinha apontado onde a bela corredora estava. Agora ambos estavam a observando escondidos atrás de árvores.
--Sim,sim, claro. Agora faças o que tens de fazer. Eu estou indo embora, pois estou aterafado.-Disse o deus empurrando seu protegido adiante.
Hipomene foi desequilibradamente para trás de Atalanta, mas a moça não o viu. O jovem caçador se aproveitou da situação para fazer um ataque surpresa, pois, se tentasse a abordagem normal, com certeza, Atalanta fugiria. Agarrou-a por trás fazendo ambos cairem.
--Seu maluco idiota! Passastes do limite! Largue-me, desgraçado!-A corredora se debatia muito enquanto gritava cada palavra, mas não podia competir com a força do homem que a agarrava.
--Não podes correr agora, meu amor. É como por sal no rabo do pardal.-Hipomene falava enroladamente exalando um hálito alcoólico que fazia até com que os olhos de Atalanta lacrimejassem.
--Largue-me!
--Ora, por que queres tanto fugir de mim se serás minha mulher?-Hipomene tentava beijar a bela moça à força.
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Diana continuava passeando com seu belo e leve vestido sendo guiada belo doce aroma que a arrebatava em alma. Acabou por perceber que estava ficando próxima à matriz do cheiro pelo fato do mesmo ficar mais forte a cada passo, motivo que fez a deusa andar mais de pressa.
Finalmente chegou onde estava o cheiro, e viu a velocista que invadia sua mente e narinas inconcientemente,e teve uma surpresa: Sua corredora estava sendo imobilizada por um homem desajeitado e desprezível. Aquela cena fez suas pupilas dilatarem. Sentiu seus dentes trincarem. Seu coração desejava sair pela boca ou por qualquer outro lugar, como se ele fosse lá dar um soco naquele homem. Seus nervos pulsavam demasiadamente, ou melhor, eles berravam as batidas de seu coração demasiadamente, e o mesmo estava sobrecarregado de ira. Já iria explodir a qualquer momento. Os gritos de protesto da corredora eram de esmagar o coração. Desejava dar um chute naquele homem de modo que ele cruzasse uma montanha. Ela bem podia assim fazê-lo, mas, se fizesse, denunciaria sua divina natureza. Teria que abatê-lo à forma humana.
--Seu desgraçado infeliz! Largue-a!-Bradou a deusa enquanto avançava para cima de Hipomene.
--Saia daqui, sua idiota! Não se meta em assunto de marido e mulher!-Hipomene gritava, mas com os olhos fixos em Atalanta ainda, não percebendo que era a deusa Diana quem o atacava. Gritava com tanta ira que, misturada com seu estado alcoólico, fez com que cuspisse involuntariamente na corredora.
--Que nojo...-Pronunciou-se Atalanta.
--Agora já chega!-Sentenciou Diana arrancando o homem de cima da moça, e jogando-o para trás.
Uma vez caído, Hipomene tentou se levantar, mas a deusa caçadora fora mais rápida, e acertou-lhe um soco certeiro no olho, fazendo-o cair desacordado. Mesmo estando inconsciente, não houveram desculpas para que o homem não levase outras boas pancadas da deusa. Matá-lo-ia se tivesse tempo,mas agora desejava ver o estado de sua corredora. Desejava cuidá-la.
Andou até Atalanta, que estava ainda caída com uma expressão estupefada. A deusa tinha habitando em seu olhar uma preocupação gritante. Se agachou para falar com a corredora enquanto a examinava:
--Como se sentes? Tens se machucado?
--N-Não...E-Estou bem.-Atalanta dizia ainda imóvel tentando entender de onde surgiu a ''imprudente caçadora''.
--Ainda bem...-Disse Diana após um suspiro de alívio. Estendeu a mão para a corredora se levantar, e continuou.-Quem é esse idiota?
--Hipomene. Um insano desgraçado que vive a importunar-me...Aliás... Obrigada por me salvar...-O rosto de Atalanta corou ao agradecer a caçadora, pois sabia que ela se lembrava que a chamara de imprudente outrora.
--Não há de quê. Estava apenas a fazer o certo.-A deusa mentiu, pois sabia que, se fosse qualquer outro humano, pouquíssimo caso faria a respeito.
Diana estava extasiada com a presença da corredora. Não percebera, mas aquela ruptura em seu coração havia sido fechada. Com um assobio característico, chamou seu cavalo, que sempre estava próximo a si para serví-la. O animal prontamente apareceu. Era branco , malhado e seus cabelos e rabo eram dourados como o Sol.
--Por Júpiter! Mas que belo cavalo!-Atalanta estava totalmente deslumbrada, o que fez Diana ficar esnobe.
--É, bem sei disso. O mais veloz que há. Talvez eu te diga o nome dele um dia.-A deusa deu uma piscadinha após dizer.
--Prefiro o meu cervinho. Talvez eu te diga o nome dele também.-Disse uma Atalanta de nariz em pé, mas, na verdade, nem ela sabia o nome de seu animal. Talvez dar-lhe-ia um depois.
--Aceitas um passeio à cavalo?
--Não...Estava indo para casa e...
--Por favor...-Interrompeu a deusa apelando para sua cara de cachorro abandonado.
--E-Eu certamente iria, mas estou com meu cervo.-A corredora se mostrava sem jeito perante o belo rosto da mulher que a salvara e conhecera a pouco tempo.
--Que isso não seja nem sombra de problema!-Diana disse de forma radiante.-Dê-me!-Disse se referindo ao cervo.
A corredora, mesmo a contra gosto, deu o animal para a caçadora, que prontamente se aconchegou no colo da deusa, deixando Atalanta enciumada. Diana o botou com a barriga apoiada nas costas do cavalo,e aproveitou para montar também. Depois, estendeu a mão para puxar a velocista.
O cavalo galopava levemente. Atalanta sentiu-se nas nuvens tal como Diana. A deusa sentia borboletas na barriga com os braços da corredora envolvendo sua cintura. Tais borboletas a deusa não ousaria caçar.Eram sagradas.Essa regra não valia para as outras, que voavam ao redor delas, como que as seguindo tomando a guarda do passeio e contemplando-as. Diana com sua delicada mão pegou uma borboleta. É de universal conhecimento que as asas de borboletas são frágeis, e que, ao tentar pegá-las voando, normalmente, as asas acabavam se despedaçando, ainda mais com essa brutalidade humana. A deusa pegou-a como num bote de cobra, mas, mesmo assim, com deveras delicadeza.
--Tome.-A deusa ofereceu o inseto à corredora, quem reteve-o com as mãos para, logo em seguida, soltá-lo.
--Como voas magestosamente.-Velava a corredora o vôo da borboleta com um olhar de plena admiração.
--Soltastes a borboleta. Dei para que ficastes com ela, porém soltou-a, mas, no fundo, sabia que solitarias.
--Sabias?Hhmmmmm o quão sábia és...-Disse Atalanta trazendo junto de suas palavras um clima divertido e irônico.-Então diga-me:Qual é minha cor favorita?-A corredora com um olhar provocante deixou pairando no ar um desafio digno de uma certa deusa caçadora.
Diana logo pegou outra borboleta e mostrou as partes externas de suas asas, que eram azuis, para a corredora, e disse:
--Eu diria que é azul...
--Ledo engano...-Atalanta a cortou ao ver que a imprudente caçadora palpitara no azul. O rosto da corredora se encheu com um sorriso maquiavélico, e se aprontou para constatar à caçadora sua verdadeira cor favorita,mas a caçadora a contra interrompeu continuando sua sentença.
--Mas, no fundo, sei que é roxo-Disse expondo as partes internas das asas da borboleta, que eram roxas. Um sorriso esnobe e travesso surgia nos lábios de Diana.
--M-Mas como?!-A corredora estava totalmente incrédula.
--Tenho vários talentos,minha cara.Adoro a velocidade.-Foi o que a deusa disse antes de acelerar com o cavalo, porém, mais do que a velocidade, Diana adorava o aperto dos braços de Atalanta, que aumentava a medida que o cavalo ia mais rápido, assim fazendo da tal velocidade uma desculpa para sentir o corpo da corredora no seu.
O cavalo corria com suas ritmadas galopadas pela verde grama. Seus galopes se mesclavam com as batidas dos corações de ambas, e iam aumentando...aumentando...aumentando. As flores do campo saudavam as duas companheiras de montaria. Coloridas flores, que tingiam o gramado. Tingiam também as narinas com os seus aromas. Atalanta se encantava com tudo, como um bebê que desbrava o mundo pela primeira vez. Diana não podia explicar, mas a alegria da corredora a dexava alegre.
O tal vento não podia deixar de comparecer em tal cortejo. Se unia às belas damas em um abraço refrescante. Jogava os cabelos das mulheres pelo ar. Fazia o cabelo de Diana tocar a face de Atalanta, quem não se importou. Ao contrário, cheirou-o. Percebeu que era o mesmo cheiro que o seu. Ficou inconformada, e se pôs a cheirar o ombro e pescoço da deusa de forma averiguante. A mesma se arrepiou da cabeça aos pés, e fechou os olhos para contemplar mais daquele momento.
--Cheiras como eu.-Disse Atalanta com uma expressão cheia de dúvidas.
--Cheiro como tu...-Diana apenas repetiu concordando com a corredora para dar qualquer resposta, pois estava, na verdade, no mundo da Lua se recordando do toque do nariz da velocista de alguns segundos atrás.
--Como conseguistes cheirar como eu?-Interrogava uma Atalanta indignada.
--Cheirar como tu?-Voltou para Terra. Pegou uma das mãos da corredora, cheirou-a, e, depois, cheirou sua própria mão, e concluiu calmamente-Cheiro como tu.-Mas em sua mente pensava-''Aquele cheiro inebriante era dela! Isso explica o porquê de eu pensar nela logo que senti aquele cheiro''.
--Mas esse meu cheiro vem de minha essência secreta, que eu mesma produzo. Era para eu ser a única a cheirar assim.-Constatou a corredora como uma criança que faz birra.
--Talvez eu tenha adquirido este nobre cheiro quando aguarrastes minha cintura com enorme força chocando seu corpo contra meu-Provocava a deusa virando sutilmente seu rosto para ver a reação de Atalanta, e se deleitou ao ver que a mesma estava com a face corada, e optara não responder.
--Como conseguistes capturar as borboletas?-Atalanta prontamente mudou de assunto.
--Já tenho te dito: Sou uma caçadora.
--Mesmo assim, nunca ví nenhum caçador, ou melhor, ser humano fazer isso.-Apenas uma Atalanta investigativa.
--Mentes.
--Minto?!
--Sim.
--Por que minto?!
--Porque, de fato, vistes.
--Como?!
--A alguns minutos atrás. Uma belíssima caçadora imprudente pegou uma borboleta na sua frente. Na verdade, duas vezes.
--Boba.-Mas não tão boba quanto o sorriso de quem ousou dizer essa frase.Diana sorriu da reação da outra.
Continuaram com o passeio de cavalo até que Diana,com um pesar no coração, decidiu levar a corredora para sua casa. Começou a ir em direção à casa de Atalanta, quem franziu o cenho, pois reconhecera o caminho. A deusa percebeu que a corredora suspeitaria, pois estava indo para casa da velocista, sem a mesma lhe contar onde morava. Então, a divina caçadora, suando frio, usou de sua melhor encenação, e perguntou:
--Onde moras?
--No castelo de Ciros,mas, por sorte, estás no caminho certo. Não precisarás voltar no trajeto.-O quão ingênua(ou seria inocente) era Atalanta.
--Sorte mesmo...
Após alguns minutos, Diana finalmente parou o cavalo, desceu, tirou o cervo,e estendeu os braços para que Atalanta descesse. Ao sair do cavalo, a corredora acabou se desequilibrando, e caindo nos braços da deusa, quem a prontamente a agarrou. A caçadora sentiu a pele macia da corredora. O contato fez com que Diana fosse atingida por uma energia, que tomou todo seu corpo. A ilustre frase ''A felicidade está nas mãos de quem a deseja'' nunca fizera tanto sentido quanto naquele momento. Parecia que todos os elementos, as vidas,os seres e o tempo tivessem parado de existir, e naquele momento só existisse Atalanta e ela; como que só existisse o elemento Atalanta, a vida Atalanta, o ser Atalanta e o tempo Atalanta.
O abraço foi bem duradouro, e, na hora de se apartarem, Diana se separou bem lentamente. Bem lentamente mesmo. Parecia que separava uma célula por vez do corpo da corredora para se desunirem.
Olhavam-se uma nos olhos da outra, como que tentando dizer algo, ou melhor, tentando não dizer nada. Pareciam procurar algo no olhar da outra. Seus olhos pareciam dois casais de amantes. A deusa sentiu seu corpo se inclinar para próximo do de Atalanta,e, desta vez, não foi pelo vento do céu, mas sim pela tempestade de seu coração. Seu forte movimento foi cortado por meras e ralas palavras, que saiam da boca da corredora como soldados que saem do forte do castelo até o portão para defendê-lo:
--Obrigada pelo passeio.-Essas foram as palavras da velocista.
--Não há de quê-Disse Diana voltando a realidade.
--Entre, por favor, para que eu...
--Não!-Disse a deusa num impulso, pois sabia que Esqueneu estaria lá.
--Ora, tudo bem.-Disse Atalanta com cara de indignação.-Que vá em paz caçar com suas armas e sua imprudência!-A este ponto, a velocista já esquecera do fato da caçadora ter salvado sua vida. A corredora fazia sua típica cara de birra de criança.
--De certo,vou-me em paz!-Atestou Diana com um olhar travesso, montando em seu cavalo e partindo.
--Ela é uma dissimulada!-Disse a velocista ao seu cervo. Estava dando, na verdade, uma desculpa ao animal para justificar seu sorriso sutil que tinha germinado no canto de sua boca.
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Fim do capítulo
Diana mostra suas infames habilidades de cortejos. E, para quem ainda duvidava de que Hipomene não vale nada...
Comentar este capítulo:
Nanni
Em: 07/02/2018
A mitologia é fascinante
Estudar sobre os deuses é uma ida sem volta é viciante...
Vamos ver no decorrer oque será... Minha imaginação está longe haha...
Beijo
Resposta do autor:
Realmente é viciante. Comecei estudando a greco romana, e, quando eu fui ver, eu já estava dentro de um livro de mitologia persa. Hahahhahahaa. As nórdicas e célticas são ótimas mitologias também.
PS.: Estou prestes a postar um novo capítulo. :D
Beijos
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Nanni
Em: 06/02/2018
Já sou fã da Diana...
Ja quero o primeiro beijo delas...
É essa família de Status ehn? Tomara que não consigam sabotar a corrida.
Pensando aqui qual será a reação da Corredora ao saber quem é a caçadora?
Hahahah
Beijo
Volte logo...
Haaa tem como eu colocar pra me notificar quando vc postar?
Resposta do autor:
A Diana, embora muito cabeça dura e devassa, tem suas honradas virtudes. :)
Hmmmmm... O primeiro beijo tem que ser bem especial. (>___<|||) meta,meta,meta.
Essa família trapaceira não é de desistir na primeira tentativa fracassada não, hein.
Bem, de fato, vai ser um momento bem interessante a descoberta de Atalanta sobre Diana, já que a deusa tem a fama de nem sequer querer papo com um mortal. Será dito mais sobre isso mais lá pra frente. Hipólito, como fora relatado na mitologia greco-romana foi o único mortal que manteve vínculo interpessoal com a deusa.
Bem, sou meio muito nova escrevendo aqui. Eu só lia romances mesmo, então eu não sei de muita coisa. A prova disto foi que eu consegui a ''proeza'' de deletar o capítulo 1 antes de postar. Tive vontade de engolir 3 facas hahahahaha...('---')
Voltarei logo sim. Amanhã se possível.
Beijos também.
:)
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