Capítulo 10 - Continuum
Montserrat
Eu poderia muito bem dizer para aquela menina idiota que eu sou homossexual e mandar ela embora da minha casa. Eu já deveria ter feito isso há muito tempo. Onde eu estava com a cabeça de abrigar uma pessoa como ela? Maldita seja essa coisa que brotou dentro de mim. O olhar de nojo como o que ela fez quando falou que o João é gay pode ser dirigido para mim. Eu não suportaria isso, não mesmo.
Que ódio! Eu não sou assim, nunca fui. Nunca me escondi do mundo, nunca permiti que alguém fosse homofóbico perto de mim. Mas a Sara não tem culpa. Sara é só uma vítima de pessoas intolerantes. Eu sei que lá no fundo ela não pensa isso. Eu sei que mais cedo ou mais tarde ela vai perceber que... não seja idiota, Montserrat! Sara é uma refugiada ilegal, manda essa menina de volta para o país dela. Você sabe que tem esse poder, é só você acionar a polícia e acabar com essa história de ajudá-la. Não, não posso fazer isso. Não depois de ter convivido tanto tempo juntas. Daqui a pouco ela consegue a autorização e vai embora. Porém, posso estar trazendo uma preconceituosa que pode machucar pessoas.
- Mami?
Eu estava parada na porta do meu quarto pensando tudo aquilo e debatendo o que eu deveria fazer pela manhã. Dividida.
Annie abriu a porta coçando o olho direito e morrendo de sono.
- Oi amor, vamos dormir, sim? Você está caindo de pé.
Ela apenas balançou a cabeça e voltou para dentro do meu quarto.
Ajeitei ela na minha cama com carinho e percebi que ela logo dormiu.
Tomei um banho rápido e deitei-me com ela. Não estou com sono e pelo jeito nem vou conseguir dormir. Meu pensamento está na moça do quarto ao lado.
...
Passei quase a noite em claro e decidi que pediria à Sara para ir embora. Eu estou me arriscando muito por uma pessoa que sequer eu posso falar quem sou de verdade. Annie acordou agitada, queria sair do quarto de qualquer jeito.
- Mami, tô com fome.
- Vamos tomar café fora.
Comecei a arrumar Annie e em seguida fiz o mesmo.
- Agora você espera aqui que eu vou já volto.
- Tá.
Andei pela casa e não encontrei a Sara. Meu medo era dar de cara com ela e ter que explicar que a menina que estaria nos meus braços é a minha filha. Já bastou as bobagens que saíram da boca dela ontem, hoje eu só quero curtir a minha pequena. Depois, quando eu voltar, farei o que tem que ser feito.
Voltei para o meu quarto e peguei Annie no colo.
- Por que está levando a minha mochila? Já vou voltar para a casa? - Preocupou-se quando peguei as coisas dela.
- Não! Vamos passar o dia todo juntas.
- Eba! Quero sorvete de casquinha.
- Claro, meu amor. Mas só depois do almoço.
Saímos de casa e Annie ficou bem feliz ao saber que íamos esquiar juntas mais tarde.
Sara
Quando eu consegui dormir já estava quase amanhecendo. Pensei, pensei... minha cabeça segue confusa. Eu pensei inúmeras vezes em ir ao quarto da Montserrat, mas tive medo. Quando ouvi alguma movimentação pela casa, meu corpo pareceu colado a cama. Não tive coragem de levantar. Dormi mais um pouco e acordei quase agora assustada com o adiantar da hora. Já está no fim da manhã.
" - No Ocidente homens casam com homens e mulheres casam com mulheres. Temos que convertê-los ao islamismo antes que seja tarde de mais para a humanidade..."
Era a voz de um muçulmano ancião, com quem conversei uma vez, que ecoava na minha cabeça. Pareceu tão convicto e certo de que as coisas têm que ser naturais perante a Deus. Ser homossexual não é natural.
"- Errado é fazer guerra por causa de religiões. Errado é destruir a vida de milhares de pessoas em nome de Deus, Alá, de algum santo (...) Homossexuais amam, só amam. É Sara, é só isso que eles fazem: amar."
A voz da Montserrat também ecoava. E foi assim a madrugada toda.
Existe uma verdade absoluta e única no mundo? Será que amar, como a Mon disse, é errado? O amor nunca poderia ser errado... aaaaah, que confusão!
Tomei coragem e saí do quarto. Preciso falar com a mulher que está me ajudando tanto. Preciso de mais explicações, escutá-la.
Não a encontrei pela casa. Será que ela está em seu quarto?
Cheguei na porta e bati chamando-a. Nada. Eu nunca estive no quarto dela. Resolvi abrir a porta, mas está trancada. Por que será que ela tranca? Não seja idiota, Sara. Ela deve estar dormindo e não quer ser acordada.
Resolvi voltar para a cozinha e preparar um café da manhã bem gostoso. Depois da cara que ela fez ontem e da surra de verdades que me deu, um café da manhã como um pedido de desculpa pode ser um bom começo.
Na porta da geladeira encontrei um recado.
"Vou passar o dia fora. Não me espere para almoçar e nem para jantar."
Que ótimo! Se eu achava que ela estava chateada comigo, agora eu tenho certeza. O pedaço de papel que passa pelas minhas mãos falta a delicadeza e até a educação de Montserrat.
...
Estou almoçando sozinha pela primeira vez em um mês. Já estava tão acostumada a almoçar com a Mon e degustar sua comida sempre maravilhosa. Estou sentindo falta de observar como ela apreciava a comida. Tive esperança de ela voltar para almoçar até perceber que o pouco de comida que coloquei no prato já estava no fim. O recado foi bem claro e verdadeiro, não posso nem esperar a dona dos olhos mais lindos que já vi para jantar ou assistir algum filme.
Larguei o prato sujo na pia e segui para a sala. Que silêncio e que total falta do que fazer.
Liguei a TV e fiquei zapeando pelos canais. Vez ou outra, meus olhos percorriam entre a porta e o quadro que ficava em cima da lareira elétrica. Montserrat mexe com o meu coração de alguma forma. Eu não sei explicar o que sinto por ela. Gratidão, adoração... não sei. Eu estou morrendo de saudade dela e eu estou há apenas algumas horas sem vê-la. Tomara que isso não seja um apego, tenho que ter consciência de que eu estou aqui só até a minha autorização sair. Não posso e não devo importunar mais a Mon. Ela é tão legal comigo e eu retribuo sendo intolerante com os seus colegas de trabalho. Depois de pensar a tarde toda, especialmente nas suas palavras, resolvo: eu vou pedir desculpas para ela assim que chegar. Não porque me deu uma bronca, mas porque entendi que não devo ser intolerante com ninguém. Logo eu que sofro dia a dia pela intolerância.
...
Já se inicia a madrugada e a Montserrat ainda não chegou. Será que aconteceu alguma coisa? Ou será que ela está me evitando? Eu faço tudo errado mesmo. Deitei-me no sofá e segurei o choro abraçando o meu corpo e cruzando minha perna. Comecei a sentir um vazio muito grande.
Montserrat
- Your place or mine? (Na sua casa ou na minha?)
Uma mulher que conheci na balada que eu tinha acabado de sair, me segurava pela cintura e perguntava toda interessada na resposta.
Passei o dia todo com a minha filha e depois a levei para a casa da Carol. Não tive vontade de voltar para casa, não estava a fim de ouvir mais algum comentário preconceituoso. Minha chateação estava surpreendendo até a mim. Não sou uma pessoa que se ofende fácil, mas o que a Sara fez me magoou de uma forma inenarrável.
Com essa minha falta de vontade de vê-la, acabei parando em uma balada que há muito não frequentava. Não estava com cabeça e nem pensava em ficar com ninguém. Mas aquela moça começou a dançar de um jeito que ninguém resistiria. Mas, ir para a casa dela está fora de cogitação.
- I'm sorry, dear. I'm not a good company today. I'm tired and I'm going my home. (Desculpe-me, querida. Eu não sou uma boa companhia hoje. Eu estou cansada e vou para minha casa)
- Understand. Can I call you sometime? (Entendo. Eu posso te ligar alguma hora?)
- Sure! Give me your cellphone. (Claro! Dei-me seu celular)
Ela me deu seu celular e eu marquei o meu número. Hoje eu não estava no clima, mas amanhã nunca se sabe.
- Thanks, Montserrat. I want you one day, okay? (Obrigada, Montserrat. Eu quero você um dia, okay?)
- You're welcome Sa... Sorry. - Sorri sem graça. (De nada Sa... Desculpa)
- Kate.
- Of course, Kate. Like the Duchess of Cambridge Kate Middleton. (Claro, Kate. Como a Duquesa de Cambridge Kate Middleton).
Que gafe! Esquecer-me o nome da garota que há dois minutos eu estava beijando.
- No problem. Now you will never forget. (Sem problema. Agora você nunca esquecerá)
Ela me deu mais um beijo e saiu.
Ótimo, recusei um bom sex* com a bela eslovena e agora eu vou ter que realmente ir para casa. Deveria ter aceitado ir para a casa dela, assim evitaria encontrar a Sara.
Não que eu saia por aí trans*ndo com todo mundo, mas uma mulher tão bonita assim eu não recusaria se estivesse no meu normal. Mas não estou no meu normal, não mesmo. Quase que a chamo de Sara. Sim, tenho certeza de que estou ficando louca. Eu não estou me reconhecendo. Por que estou tão preocupada com uma pessoa que eu quero que saia da minha casa? Como eu permiti que esse sentimento de compaixão se apoderasse de mim?
Por que logo pela Sara, uma refugiada?
Sei que posso estar sendo hipócrita pela minha decisão por parar de ajudá-la. Um tempo atrás eu tinha preconceito e era contra refugiados. Mas agora, parece que tudo mudou. Por mais que eu dissesse que não queria eles aqui, eu nunca fiz nada para eles.
Preciso me livrar dela o quanto antes. Preciso cortar o mal pela raiz. Arrancar ela do meu dia a dia e voltar a minha vida como era antes. Voltar a ser como sempre fui e nunca mais inventar de ajudar nenhum necessitado. Carol, você me paga.
Com tantos pensamentos rodeando a minha cabeça, nem percebi que já estava estacionando o meu carro na garagem.
Pelo adiantado da hora, não corro risco de me deparar com a Sara. Então, subi tranquila. Terei toda a madrugada para pensar em uma forma de pedir para Sara ir embora e que não vou ajudá-la mais.
Para a minha surpresa, quando abri a porta e entrei sem fazer barulho, Sara estava dormindo no sofá. Será que ela estava me esperando?
Parei para admirar o seu sono e a forma como se encolhe no sofá. Pensei em chamá-la para ir deitar-se no quarto que ela ocupava, mas temi que aqueles olhos de mel me fizessem recuar na minha decisão. Apenas caminhei para o meu quarto e me preparei para tentar dormir.
Sara
Acordei assustada, estava sonhando com a minha mãe. Na verdade, revivendo o dia de sua morte. Mas às vezes eu via a Montserrat ao invés dela. Tremi e tentei apagar aquela visão horrível da minha cabeça.
Lembrei-me que a Montserrat não havia chegado até eu dormir. Será que tinha acontecido alguma coisa? No mesmo instante, ouvi barulho vindo da cozinha e respirei aliviada, só pode ser ela. Levantei-me quase que correndo do sofá e só voltei a respirar quando cheguei na cozinha e a vi que sentar-se em sua cadeira na ponta para tomar seu café da manhã.
- Oi - disse mais para ser notada.
- Oi, Sara. O café já está posto.
Notei que sua voz estava baixa e seca.
- Estou vendo. Está tudo bem?
- Tudo certo e você? Teve um bom dia ontem?
Ela nem olhava para mim. Fingia estar mais interessada na fumaça do café quente que saía de sua xícara. Meu coração disparou e senti medo.
- Tudo bem comigo.
A sua segunda pergunta era desnecessária, ela sabe que eu fiquei aqui trancada sem fazer nada.
Fiquei mais um tempo olhando para ela, pensando se deveria tentar falar sobre o acontecido. Dei as costas e fui ao banheiro me ajeitar. Depois de enxaguar minha boca pela última vez após escovar os dentes, fiz o caminho de volta para a cozinha. Preciso pedir desculpas para a Mon.
Ela continuava sentada e pensativa. Nem um sinal de que está tudo bem ou não.
Sentei de frente para ela e comecei a me servir. Não encontrei caminho para iniciar um pedido de desculpa.
- Você chegou tarde? Fiquei te esperando, mas acabei dormindo.
- Sim, um pouco tarde.
A esperança de que ela respondesse com mais entusiasmo foi embora. Eu tenho que me desculpar agora.
- Mon, eu queria te pedir desculpa.
Ela remexeu na cadeira e eu ganhei a sua total atenção. Vi uma tristeza em seus olhos verdes.
- Desculpa? - Ela soltou uma risada irônica.
- Sim, desculpa. Desculpa pelo que eu disse... é tudo tão novo para mim.
- Esquece. Não vamos mais falar neste assunto. Eu já entendi tudo o que tinha para entender, você foi bem clara na sua posição.
- Não, eu realmente quero te pedir desculpa e dizer que... que você me fez ter outra visão... eu não sei, estou toda confusa.
- Já disse, esquece. Você não precisa mudar de opinião porquê...
Ela hesitou e apertou os lábios.
- Você está chateada comigo, não é?
- Sara...
- Eu sinto isso. Vi como você ficou quando eu disse que saí correndo de perto do João. Ninguém nunca tinha colocado as coisas na maneira que você colocou, falando de amor. Eu não queria te ofender por ter feito isso com o João. Eu não pensei na hora, eu só comecei a refletir depois de tudo que você me disse.
- Para, Sara! Para! Você não vai mudar, sua cultura é intolerante e você provou que é isso.
- Mas eu não quero ser intolerante.
- Você quer ser aceita aqui, é esse o seu único desejo. Mas seja sincera consigo mesma, pense se é aqui que você quer ficar, se você conseguirá respeitar os outros.
- Você está certa - falei.
- Eu sei, você nunca vai se adaptar...
- Não, eu não acho que eu tenha que me adaptar a nada. Eu não gostaria que você chegasse na Síria e se sentisse forçada a adaptar-se a uma cultura que não é a sua. O que eu preciso de verdade é respeitar. Mon, eu não tenho religião, eu vivia dentro de uma bolha, não tive muito acesso a informações sobre os outros países, as coisas que eu ouvia sobre vocês eram horríveis e eu vim para cá porque estava todo mundo vindo trabalhar. Eu só queria fugir da fome, da guerra e da morte. Agora eu estou aqui e me deparo com uma mulher que não é casada, que é dona de seu próprio sustento e que chega tarde da noite. Me deparo com um gay que eu adorei. Tudo bem que no começo ele me detestava, mas ainda me recordo dele dizendo que tinha medo de perder o emprego. O João é tão legal que eu realmente não estou me importando com quem ele... ama. Acho que eu só preciso de um tempo e preciso de você. Preciso da sua paciência para me mostrar esse mundo novo.
- Desculpe-me, mas eu acho que não sou essa pessoa que pode te mostrar. Eu não quero ser essa pessoa, entende?
- Mas por que não? Mon, você foi a única pessoa que me estendeu a mão, que responde as minhas questões. Eu não entendo.
- Eu apenas não quero... eu sou um deles, Sara.
Percebi que aquela frase tem vários significados. Eu olhei para todos os cantos da cozinha tentando interpretar aquela frase.
- Você é do ocidente, eu sei disso. Mas você não é um deles. Você não me persegue...
Interrompi minha fala quando ouvi sua risada abafada.
- Sara, sua mãe era cristã. Ela foi perseguida porque era cristã. Você não vê? Não vê que o preconceito é o mal da humanidade?
- Mon, eu realmente não sei o que pensar, no que acreditar. Eu acho que... não estranho duas pessoas do mesmo sex* juntas.
- Sara, está na hora de pensar por si. Você tem toda as versões e cabe a você tomar as rédeas da sua vida.
Montserrat
Eu estava sendo dura com a Sara, acho que a minha paciência já se esgotou de vez. Nunca fui uma pessoa muito explicativa. Nunca fui exemplo para ninguém. Não é só ela que tem que rever as atitudes, eu também tenho. Por mim e pela minha filha. Lembrar-me de Annie me fez retornar ao meu passado. Eu jamais tomaria as mesmas atitudes que minha mãe tomava comigo.
" - Seu pai disse que você está de amizade com a filha de uma faxineira do hospital, Montserrat.
Olhei com medo para minha mãe. Meu pai já tinha me proibido de falar com a Soninha há uma semana, quando nos viu brincando de boneca em um quarto desocupado no hospital. Sua mãe foi proibida de levá-la para o trabalho e eu não entendi muito bem o porquê.
- Eu... eu... eu sinto falta da Soninha.
- Montserrat, você só tem 8 anos e amizades não vão te faltar. Vou te levar no clube das mulheres da alta sociedade este final de semana e você terá um monte de meninas da sua classe para brincar.
- Eu já disse que eu não gosto das meninas da minha escola! - falei brava.
- Não estou falando da classe de escola, querida. Estou falando de dinheiro."
O que será que minha mãe falaria se visse uma refugiada dentro da minha casa? Bom, muitas coisas. Mas diferente da minha falta de atitude quando tinha amizade com a Soninha, eu não deixaria minha mãe me afastar de Sara.
Observei o olhar perdido da Sara que parecia refletir.
Levantei da mesa e resolvi deixá-la sozinha. Eu também preciso ficar sozinha, preciso me afastar para poder repensar o que farei com a hospedagem.
Eu preciso trabalhar. É isso! Preciso ocupar a minha mente com criações e desenhos. Foi com esse pensamento que fui para o meu quarto que abriga uma mesa enorme para trabalhar.
...
- Mon.
A dona da voz que eu não conseguia tirar da cabeça me chamou assim que bateu na porta do meu quarto.
Levantei-me, fui na direção da porta e minha barriga reclamou da falta de alimento dentro.
Abri e olhei para a Sara.
- Oi - sorri sem graça.
Essa cara me olhando receosa acabou comigo.
- Eu preparei alguma coisa para nós, já passou da hora de comer. Você não está com fome?
- Minha barriga acabou de reclamar disso.
- Então vem, vamos almoçar juntas. Eu senti muito a sua falta ontem. Almoçar sem sua companhia foi difícil.
Ela sorriu daquela maneira doce que só ela tem.
- Sim, vamos.
Caminhei ao lado dela até a cozinha. Nos servimos daquela comida que só pelo cheiro já sei que está maravilhosa, como sempre. Eu sei apreciar uma boa comida e devo admitir que Sara arrasa.
Sentamos em nosso lugar habitual, uma de frente para a outra. Seus olhos quebram a minha defesa. Eu não queria brigar ou expulsar a Sara. Não posso e não consigo fazer isso.
- Você está querendo me engordar com esse kafta maravilhosa, garota? - disse dando uma deixa para tentar amenizar o clima.
- É grelhado e está bem light senhorita magrela.
- Magrela? Olha quem fala!
- Eu já disse, não consigo engordar.
- E fala isso nessa tristeza.
Demos risadas! Foi tão bom ouvir aquela gargalhada. Depois da conversa mais cedo pensei que ela ficaria estranha, mas parece a mesma Sara de sempre.
- Mon...
Ah! Estava demorando. O que será que ela falaria? Sua feição séria dava uma pista.
- Diga, querida.
- Eu pensei, pensei e pensei.
Engoli seco, ansiei pelas próximas frases que vieram quando ela percebeu que eu aguardava em silencio o que dirá.
- Eu me sinto muito presa as minhas origens. Sobre o que aprendi que é certo e errado com as pessoas, com minha comunidade, com os mais velhos que são muito sábios. Eu juro que tento entender e sinto que pode existir outros tipos de amor.
Não sabia o que falar sobre aquilo. Eu estou mentindo para uma pessoa que confia em mim e não tenho a mínima expectativa de contar a verdade por enquanto. Fiz o que sempre faço, mudar de assunto ou manipular a conversa para o superficial.
- Sabe Sara, eu estava lembrando mais cedo quando eu saí do Brasil e fui para os Estados Unidos. Também senti diferenças... não como você, é claro, mas de alguma forma tive que me adaptar e depois quando fui para a França foi a mesma coisa. Você é incrível, eu tenho certeza de que você vai abrir sua mente. Pelo menos eu torço por isso.
- Torce? Por quê?
- Porque... porque sim, oras! Quero que se dê bem na vida, que alcance seus objetivos na Europa.
- Sim, claro.
- Você tem que me dizer se está tudo bem para você trabalhar com o João.
- Eu não posso me dar ao luxo de perder o emprego, é claro que quero continuar trabalhando para você.
Ela sorriu de maneira sutil. Não era a resposta que eu queria ouvir. A comida deliciosa de repente ficou com um gosto amargo.
Fim do capítulo
Preparem o forninho para o próximo capítulo.
"Meu coração disparou quando a Mon encostou as nossas testas. Suas pupilas dilatadas chamaram a minha atenção.
- Então fica, Sara. Não vá para a Alemanha, fica aqui comigo. – Sua voz soou baixa."
Isso é tudo por hoje.
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Baiana
Em: 06/02/2018
A Sara já está começando a pensar por conta própria,ela deve se lembrar das pessoas que ela perdeu por causa da intolerância. Ou ela ia preferir morrer congelada a aceitar a ajuda da Mon,caso ela já soubesse sobre sua sexualidade?
Resposta do autor:
Bem, sim Sarav está começando a pensar ou pelo menos refletir sobre o que ela acreditava.
Talvez na hora da raiva a gente faça coisas sem pensar.
Abs.
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Nunes
Em: 05/02/2018
Querida autora, obrigada pela bela escrita e fascinante história. Estamos precisando mais disso por aqui. Você escreve tão maravilhosamente bem, que nos prende do começo ao fim. Penso que as atitudes da Montserrat vão fazer com que Sara reveja seus próprios conceitos. No mais, so me resta, como essa humilde leitora, deixando aqui toda sua mais sincera satisfação por cada linha aqui escrita, agradecer a você por nos presentear com uma história de longe, de perto, tão fascinante. Parabéns!
Resposta do autor:
Primeiro, obrigada você por gastar um tempinho aqui e pelas palavras. Fico até sem graça rsrsrsrs.
Sara já meio que fez uma mudança de visão na Montserrat. Agora, sim, a Sara com essa convivência vai rever muitos conceitos.
Eu que sou grata por ter esse acolhimentos de vocês!
Obrigada, querida.
Abs!
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sonhadora
Em: 05/02/2018
Aí meu coração falhou uma batida agora! Amo sua história! Gente coitada da Sara, temos que entender que a cultura na qual ela viveu é aquele poço de preconceitos. Vamos esperar ..porque ela é sábia e já começou a perceber por si como a Mon é importante em todos os sentidos!
Abracos
Resposta do autor:
E quantas pessoas não vivem em poço de preconceito e crescem do mesmo jeito, não é?!
Sara é uma menina que está descobrindo o mundo. E sim, Mon é importantíssima para a Sara e ela sabe disso.
Abs!
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NovaAqui
Em: 05/02/2018
Se no país que vivemos existe o pre conceito, imagina nos países mulçumanos? Lavagem cerebral total. Sara vai mudar. Irá se transformar em uma nova mulher, aos pouquinhos. Ela vai conseguir.
Tenso, mas esclarecedor
Amando
Abraços fraternos procê!
Resposta do autor:
Sim, sabemos da nossa realidade e sabemos da realidade em países mulçumanos. Dói pensar que ainda existe pena de morte para homossexuais em 13 países.
Há trabalhos ótimos de ativitas em países mulçumanos (poucos, mas existe), o que dá uma chama de esperança.
Obrigada!
Abraços para você também.
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patty-321
Em: 04/02/2018
Ai meu core. Esse clima ta me deixando numa tensão terrivel. Adoro. Essa estória e minha nova droga viciei. Rs. Quero maus doses, quer dizer capítulos. Kkkkk. Valeu gata, vc ta arrasando. Bjs
Resposta do autor:
Se você acha que já está deixando na tensão, você precisa ver o próximo :p.
Obrigada você, querida.
Beijos.
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preguicella
Em: 04/02/2018
Eitaaaa, capitulos tensos! Mas maravilhosos pq mostram a realidade, do preconceito e da intolerância, assim como também está mostrando que é possível, pensar, refletir e mudar de opinião, ou pelo menos perceber que vc pode e deve conviver com as pessoas independente do que pensa ou acredita como certo, apenas respeitando o outro!
Enfim, show de texto! Parabéns!
Bjão e até os próximos!
Resposta do autor:
Adorei! Foi exatamente isso que busquei.
Eu acredito que na nossa realidade falta um pouco mais de diálogo. Essa reflexão e mudança de opinião e esse respeito é a forma que quero encontrar para o romance.
Obrigada!
Beijos!
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dannivaladares
Em: 04/02/2018
Ai meu coração... Não sei se vou aguentar esperar...
Você realmente é Má, B.
Odeio você! snq... =]
Se cuida,
D.
Resposta do autor:
Aguenta sim! Quarta-feira já é depois de amanhã.
Sou um poço de bondade haha.
Abs!
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