CapÃtulo 12
Capitulo 12 - Christiane
Depois que a Caroline saiu de casa, falando que ia para Portugal mesmo e depois dela ver as mensagens da Malu, parecia que eu estava anestesiada. Mas nao de um jeito que sentia dor, mas pouco, nao… De um jeito que eu nao sentia absolutamente nada.
Quando ela saiu de casa, cantando pneu, eu fiquei na janela da sala, apenas olhando a noite. Nao consegui chorar, me sentir culpada ou ter raiva. Apenas olhei a noite. Fiquei olhando a lua e sentindo o vento bater no meu rosto. Nao sei quanto tempo estive nessa mesma posiçao, apenas “acordei” quando o despertador tocou, me avisando que o horario de levantar para ir trabalhar havia chego e eu nem tinha dormido.
Meu casamento com a caroline deve ter terminado por definitivo, mas nao houve um ponto final, apenas um “conversamos quando eu voltar de Portugal”, mas eu nem tenho ideia de quando será isso. Ate la, me considero casada ou solteira? Nao sei, só sei que me sinto cansada e com sono.
Me mantive no automatico enquanto me arrumava para o serviço e durante todo o trajeto até o hospital. Sei que meu trabalho é minha válvula de escape, entao, o que eu mais quero é muito trabalho. Bati meu ponto e entrei no plantao. Eu estava escalada de novo para a sala vermelha, durante o decorree da manhã atendi batida de carro, baleado, facada. O meu sono, por estar mais de 24 horas acordada, foi embora. Nao senti cansaço, nem fome.
Quando deu meio dia, meu chefe me chamou e pediu para que eu ficasse mais 6 horas de plantão. Eu estava tao cansada, destruida… mas trabalho nao pode ser recusado e me mantive mais 6 horas no pronto socorro. Quando deu 19:30 eu estava mais morta que um zumbie. Eu praticamente nao havia comido, muito menos descansado. Nas 12 horas que trabalhei nao pensei na Caroline em nenhum momento.
Meu celular havia acabado a bateria, entao nem ia dar para pedir comida. Apesar de muito cansada, estava sentindo no fundo do estomago um ronco, a fome estava batendo. Passei em uma lanchonete e pedi um pao com carne e queijo, a Carol iria brigar comigo por jantar uma “porcaria” deliciosa dessas, mas como a Carol foi embora eu vou comprar mesmo. Levei o lanche pra casa.
Dirigi no piloto automático novamente, quando me dei conta, ja estava em casa. Abri o portao e o carro dela nao estava la. Estacionei ele na vaga da direita. Quando eu entrei em casa um vazio gigante bateu em mim, um vazio como se eu tivesse perdido um pedaço de mim, tivesse perdido quem eu era. A casa parecia que tinha ganhado quilômetros de extensão, estava grande, vazia, fria, sim eu estava sentindo frio.
Todas essas emoçoes juntas, todas olhando pra mim e me batendo, o cansaço, a fome, a dor no corpo, somadas. Nao fui capaz de segurar, me arrastei pela parede e cai sentada ali mesmo na sala. Só o que eu fui capaz de fazer foi chorar. Chorar tudo que estava machucando minha alma, meu coraçao. Chorar cada palavra que ouvi da Carol, chorar cada vez que eu dormi sem esperar ela, chorar cada beijo que eu neguei ou cada risada que nao dei. Chorar até perder a ideia de quem sou, chorar ate o cansaço me consumir e eu dormir ali na sala mesmo, no tapete que 24 horas atras eu transei com minha esposa.
Em algum momento da noite acordei com meu corpo doendo, levantei e fui para o meu quarto, onde me joguei na cama e continuei a dormir, sem ter ideia da hora que era, da minha fome ou do status do meu casamento.
O telefone de casa tocou ao fundo, la longe, como parte de um sonho. Continuou tocando e a cada barulho que ele fazia parecia que uma mareta batia na minha cabeça. Tum, tum, tum, tum, tum… a cada toque meu cerebro estremecia em uma dor de cabeça que nao existia.
Com muito custo abri os olhos, o dia estava claro. Nao sou capaz de determinar que horas sao. Tentei me sintonizar, mas o telefone continuava a tocar. Cacete de barulho.
- Alo?!
- Caraca, voce ta viva! Achei que tinha morrido. Voce nao atende o celular nao? - olhei em volta, procurando meu celular, mas ele nao estava la.
- Acho que acabou a bateria Ana. E para de ser dramatica. Que horas sao?
- Sao 2 da tarde Christiane. Estou tentando falar com voce desde ontem. O qur aconteceu?
- Eu acabei fazendo 12 horas de plantao ontem e quando cheguei em casa morri. Acho que foi isso.
- Você conversou com a Caroline?
- porr*, odeio esse seu jeito direto. Sim. Falei com a Caroline. Ela deve estar embarcando pra porr* de Portugal agora. Se ela quer ir mesmo, foda-se. Se ela quer se separar, foda-se também. E outra, nao quero falar sobre ela, ok?!
- Que puta mal humor voce esta. Quer que eu passe ai na sua casa?
- Melhor nao. Eu preciso tomar um banho, comer alguma coisa. Estou ainda com a roupa de ontem. Só acordei porquê voce me ligou.
- To saindo do hospital e vou passar ai, e nada de voce reclamar. Vai tomando um banho que logo eu chego.
Nao queria que a Ana viesse, alem de eu estar cansada, ela é meu ponto fragil. Sei que quando ela estiver aqui ela estiver aqui eu vou cair e voltar a chorar. Quero ser forte, mas nao sou.
A primeira coisa que fiz foi tirar a calça jeans branca que ainda estava no meu corpo. Desci para a sala. Estava um caos, minha bolsa de um lado, roupa jogada de outro, tinha alguma coisa cheirando estranho ( acho que é o meu lanche de carne com queijo).
Achei meu celular jogado nessa zona toda. Completamente morto e sem bateria. Peguei o coitado e coloquei pra carregar. Daria tempo de eu tomar banho. Subi de volta para o quarto. Tudo naquele lugar parecia da Caroline, tudo milimetricamente organizado.
Tentei nao pensar mais, arranquei as peças de roupa que haviam sobrado no meu corpo e entrei no chuveiro. Liguei uma agua morna, aconchegante. Fiquei um tempo parada embaixo. Esse turbilhao de emoçoes esta me matando. Me sinto culpada pela Carol ter ido embora, ao mesmo tempo que me sinto livre. Me sinto triste por ela ter me abandonado e ido para Portugal, mas me sinto tranquila e com a consciência leve. Nem sei se da pra uma pessoa sentir tudo isso, mas eu estou sentindo.
Quando finalmente tive coragem de sair do chuveiro, coloquei uma bermuda larga e uma camiseta de manga curta, simples, de ficar em casa. Quando abri a porta do quarto um cheiro delicioso tomou conta do espaço, a Ana tinha chegado e ja estava cozinhando. Dar uma chave da minha casa pra ela foi uma otima ideia da Carol.
Quando entrei na cozinha, percebi a fome que eu estava. Nem lembro minha ultima refeiçao, meu estômago começou a roncar e eu a desejar seja la o que ela esteja cozinhando.
- A ideia da Caroline te dar uma chave daqui agora faz todo o sentido. Que comida cheirosa.
- Ela nao me deu a chave pra cozinhar pra voce e sim pra te socorrer se acontecer alguma coisa.
- Ela sempre preocupada comigo. - e automaticamente meus olhos começaram a encher de lagrima de novo.
- Chega de falar da Caroline por hoje. Fiz um macarrao sucesso, receita de familia. Seca esses olhos e vem comer. Pela sua cara palida, voce nao deve ter comido. E pelo que conheço, isso é um problema, ja que voce come igual a.um rinoceronte.
Comemos o macarrao da Aninha. E posso dizer estava uma delicia. Não tocamos maid no assunto Caroline. A Ana falou do trabalho e de um novo cara que ela tinha conhecido, um tal de Thales, medico novo do hospital.
- Mas como é esse cara? Ja falou com ele pelo menos? Hahah
- Claro que ja falei com ele. Ele é lindoo. É gordinho, uma barbinha por fazer, mas super aparada e arrumada. Conheci ele ha uns 4 plantoes atras. Ele vai dar plantao no hospital amanha de novo.
- E voce ja esta super babando pra ver ele de novo? Ana, ana… conheço esses caras que voce arruma.
- Nao conhece nada nao. Pois quem entende de boys nessa sals sou eu. Voce nem de ppkas anda entendendo
- Nossa, amiga sincera é foda. M3 conta mais sobre o Thales - falei o nome do cara quase dando risada. Sempre fico brincando com a Ana, mas ela precisa mesmo de alguem legal.
- Ele foi dar plantao la no hospital ne?! Ai alguem precisava explicar pro cara os protocolos e como mexer no sistema. Claro que sobrou pra mim. Sempre sobra eu receber os medicos novos. Ate ai ok. Em um dado momento, eu estava trabalhando e uma coisa linda parou na minha frente, simpatico, educado. Ele se apresentou e perguntou se eu poderia auxiliar ele. Chris, voce nao tem ideia, que cara simpático.
- Ele é o que? Pediatra? Pediatra que é simpatico e fofo full time.
- Nao. Ele é otorrino. Trabalha em cirurgia de cranio.
- Gente… Mas voce esta rapida, ja levantou o curriculo do cara!
- Mas é claro. Preciso saber dele, pra poder puxar assunto.
Terminamos de comer, depois lavamos a louça e fomos pra sala. Fiquei deitada no colo/pernas da Ana por um bom tempo, ficamos conversando sobre o tal Thales, amor platonico dela. Ate que nao consegui mais fugir da conversa.
- Ta mocinha, eu ja falei do Thales lindo, do trabalho, das aulas que voce perdeu, da tese. E voce fugiu o tempo todo. Vamos ao assunto do momento, Caroline. Me conta o que aconteceu.
- Serio mesmo? Nao consigo fugir mais um pouco?
- Nao. Chega. Me conta logo.
- Ela veio aqui em casa, me comeu, cuspiu no prato e foi pra Portugal. Ponto final.
- Hahahahhahs, belo resumo, so que nao. Me conta direito.
- Cacete. Se eu te contar, vou começar a chorar e nao estou dando mais conta disso.
- Vou pegar vinho na sua geladeira, sempre tem vinho la. Entao voce fica bebada e me conta ok?!
- Quem sabe bebada eu nao chore.
Pouco tempo depois a Aninha voltou com uma garrafa de um vinho da Caroline e duas taças. Sempre tive essa liberdade com ela, podia mexer em tudo la em casa e a Carol nao se importava, ate achava divertido, desde que tudo ficasse organizado depois
- Posso falar qualquer coisa da sua esposa, mas a dra sabe escolher uns vinhos bons hein. Caraca, que delicia.
- Sim. Esse é um talento super relevante dels. Um vinho melhor que o outro.
- Para de me enrolar e conta o que aconteceu.
- Sai da sua casa naquele dia e liguei pra ela, mil vezes. Mas ela estava no hospital, claro, e nao viu. Quando foi quase de madrugada ja me retornou.
- Voce pediu desculpas, falou que ela era gostosa e mandou ela voltar pra casa?
- Quase isso. Falei que ela nao poderia ir pra Portugal, que eu amo ela e aquele mel todo. Ela caiu, obvio e falou que depois do parto vinha aqui em casa.
- Posso fazer so um comentario?
- Pode.
- Ela saiu de casa, dizendo que só voltava daqui 2 meses. Voce ligou pra ela falou que amava e a dra voltou. Voce é muito idiota. Essa mulher te ama. E ama muito pra aguentar voce. Mas ok, prossiga.
- Enfim. Quando ela chegou aqui eu tava de camisola branca, aquela que voce foi comigo comprar, lembra? Eu estava com ela e um fio dental branco por baixo. Se era pra fazer a Carol voltar, eu ia sim usar essa roupa. Era mesmo para um momento especial. Ta ok. Quando ela entrou e me viu, ela parou na porta, ali eu percebi que estava no caminho. Ela ainda sentia tesao por mim.
- Cara, eu nem sou sapatão, mas até eu sentiria tesao por você naquela camisola. Ela é de atacar mesmo. Vou comprar uma pra mim, quem sabe o Thales quer tirar hahahahhaha
- Besta de mais voce. Então, ai ela chegou, foi tomar banho e tals. Quando desceu, eu tinha arrumado vinho, queijos e fondue pra ela, ja que ela estava com fome. Ficamos comendo e bebendo.
Ela falou que nao ia desistir de Portugal, que ja tinha comprado passagem e tudo estava certo pra ir, que precisava de um tempo pra pensar, um tempo longe de mim e tals. Mas que me amava, como nunca amou ninguem.
Eu nao perdi a deixa, meti um beijo. Claro que rolou sex* depois. E diga-se de passagem que se todo sex* de despedida for igual a esse, quero sex* de despedida sempre.
- Foi la em cima ne? Diz que foi.
- Nao srta. Foi aqui no sofá mesmo e depois continuamos no tapete.
- Aff. Sua nojenta. Nao tem cama nao?!
- Nao. Gosto de batizar a casa. Tá, quando acabou, eu fui na cozinha. Quando eu voltei a Caroline começou a me perguntar se eu tinha outra, se eu já tinha traido ela, senti que ela estava jogando um verde.
- Sera que ela sabe que você visitou a Malu? Mas na real você so visitou, nao fez nem nada com ela. Nao foi?
- Ela olhou meu celular e leu minha conversa com a Malu. Tentei explicar que ela era uma paciente, que eu nao tinha nada com ela e tals. Mas a Caroline nao acreditou. Pegou a mochila e saiu cantando pneu.
- E oq tinha nas mensagens com a Malu? Caraca sua idiota, como deixa o celular solto.
- Eu esqueci do celular. Tinha que eu fui visitar a Malu, que ela adorou a tarde comigo, que queria me ver mais. Tem alguma coisa que ainda não li, a minha bateria acabou. Depois eu dei 12 horas no hospital e ainda nem carreguei.
- Você contou pra Malu isso?
- Nao. Nem fui visitar ela hoje, nem ontem. Nao sei nem se quero ir. Sabe, o foda é que ao mesmo tempo que me sinto culpada, me sinto livre. Não quero que a Caroline va embora, mas se isso for melhor pra gente quero sim. Eu estava e estou sufocada nesse casamento.
- Ja te falei o quanto é idiota? porr* Chris, a Carol te dá de tudo, te protege, te ama, ja abdicou de tanta coisa por você e você ai reclamando. Se fosse igual a Dani, te traindo com a faculdade toda pelas suas costas você ia curtir. Quanto tempo você demorou pra esquecer a Danielle? Lembro que foi um tempão e até te bater a menina te bateu, mas a louca que te pediu em casamento em uma ilha, nao rola, te sufoca.
Nao aguentei, meus olhos começaram a encher de água. Eu sei que a Ana estava completa de razão, mas eu realmente estava sufocada e querendo esse tempo da Carol.
Fiquei em silêncio, chorando no colo da Ana. Ela não tocou mais no assunto, apenas me fez cafuné até eu me acalmar e pegar no sono. Uma amiga como essas, nao sao todos que dão a sorte de ter.
Acordei um tempão depois, sem nem saber quanto tempo dormi. Eu ja nao estava mais no colo da Ana. Ela estava sentada na mesa mexendo no computador, provavelmente na tese dela, coisa que eu deveria fazer também.
Peguei meu celular, que a essa altura do campeonato já estava carregado. Quando liguei ele, uma enxurrada de mensagens apitou. Mil pessoas atrás de mim, tinha mensagem do Lucas ( meu cunhado), do pessoal do trabalho, do meu orientador e muitas da Malu, mas muitas mesmo.
Ela deve estar triste comigo, esse foi meu primeiro pensamento, nao visitei ela nem ontem, nem hoje, nao respondi mensagem alguma, nem ao menos li. Ela estava contando com uma visita minha. Acho melhor eu nem responder nada, amanhã passo lá na ortopedia e converso com ela, explico o que aconteceu e peço desculpas.
Quanto as mensagens do Lucas, é melhor eu abrir e ver. Ele raramente me manda algo e quando manda, na maioria das vezes, é serio.
Antes eu nao tivesse aberto, o Lucas me mandou o seguinte:
Christiane, boa tarde. Te falo boa tarde pela educação que minha finada mãe me deu, mas a minha vontade é de te mandar a merd*.
Minha irmã, você lembra dela? Sim, a Caroline, sua esposa, chegou aqui em casa aos prantos, quebrada. Eu nunca vi minha irmã assim, nem mesmo na morte da mãe, que ela madura como é segurou as pontas minha e do papai.
Sim, a minha irmã madura, forte e que lida com a morte como ninguém, está destruída, quebrada e sem rumo. Posso te dizer que a culpa é sua. Nao sei o que aconteceu com vocês, mas se a Caroline fala que a culpa é sua, então é sua.
Minha irmã está indo para Portugal para dar um tempo do casamento, para nao se machucar mais. Se em algum momento algo acontecer com ela ou ela resolver viver em Portugal, eu faço questão pessoalmente de acabar com você.
Você é uma das pessoas que mais conhece a Carol e sabe o quanto ela já sofreu na vida, o quanto ela carrega de carga e o quanto ela segura a emoção. Eu nunca vi minha irmã quebrada como estava. Nao se atreva a machucar ela mais, nem ao menos ligar pra ela ou procurá-la. Tenha o mínimo de vergonha na cara e dê pra ela esse tempo.
Nem se dê ao trabalho de me responder ou tentar se defender. Gosto muito de você, mas amo minha irmã, que praticamente me criou, e farei o possivel e o impossível para defender ela das merd*s que você faz.
Caraca, nunca imaginei o Lucas me mandando uma mensagem dessa ou me cobrando algo. Se a Caroline foi mesmo pra casa dele ontem, ela estava mesmo destruída. Caralh*, eu só faço mal a pessoa que mais me fez bem. Nao fui capaz de segurar mais a lágrima, voltei a chorar e copiosamente. Que merd* de pessoa eu sou ?!
Quando a Ana escutou meu choro, na mesma hora largou o que estava fazendo no computador e voltou para o sofá para me abraçar. Me envolveu em seus braços e ficou ali, apenas me abraçando, me dando cafuné e fazendo eu me sentir protegida. Que merd* de pessoa eu sou?
Quando acordei no dia seguinte, meu corpo nao dava sinais de descanso, apenas sinais de destruição. Meu cérebro estava saindo da minha cabeça, só pode, de tanta dor que eu estava, meus olhos vermelhos e fundos mostravam o quanto eu havia chorado e o buraco no meu peito refletia o quão machucada eu estava. Por mim nao iria trabalhar, apenas ficava na cama.
Olhei para o lado, a Ana ainda dormir como um anjo, em paz, em calma. Tentei não fazer barulho. Tomei um banho e me arrumei, quando sai do banheiro, ela ja estava em pé.
Fomos para o hospital em dois carros, depois do trabalho ela iria pra casa dela e eu voltar para o vácuo que minha morada se tornou.
A manhã no hospital se manteve no padrão diário das desgraças paulistanas, acidente de carro, queda de laje, tentativa de suicídio. Pra quem gosta de emergência, hospital público em São Paulo é natal todo dia. E posso dizer que o papai noel está me garantindo muita ocupação, mas muita mesmo.
Sai atrasada do hospital, o plantao nao foi nem um pouco fácil, mas tudo bem. Adoro me manter mentalmente ocupada. Fui direto para o refeitório do hospital, acho que ate o cheiro da comida estava me virando o estômago, fome nenhuma. Acabei pegando só um suco.
Voltei para o hospital e fui direto para o prédio da ortopedia. Eu precisava conversar com a Malu, nao que eu tivesse qualquer obrigação com ela, mas o mais justo e adequado seria explicar porque não visitei se eu havia prometido ir. Subi de elevador até o andar que a Malu estava internada. Com o meu crachá de funcionário, o acesso é praticamente liberado.
Quando entrei no andar, automaticamente olhei para o quarto ao fundo, onde teoricamente ela estava internada. Mas o quarto estava vazio e sem ninguém na cama. A minha opção era ou esperar aleatoriamente ou ir falar com o Vet, meu colega de faculdade, se ela estava lá, mas não queria ir la na verdade.
Fiquei um tempo enrolando no corredor, quando um técnico de enfermagem passou e me avisou que a paciente daquele quarto havia sido encaminhada para outro andar, que poderia acomodar melhor a perna dela com o fixador externo. Nao pensei duas vezes e segui para o outro andar. Bati o olho no corredor mesmo e enxerguei a Malu, toda mal humorada tentando ler algo. Apesar de eu não ter nada com ela, meu medo dela nao querer me ver é imenso. Andei a passos tímidos até a porta do quarto.
- Toc Toc! Posso entrar?
- Nao.
- Vim te visitar Malu. Posso entrar?
- Só entra quem tem a senha, mandei a senha no seu celular, mas como voce nao ve minhas mensagens nao deve saber a senha.
- Desculpa Malu. Eu tive alguns problemas e nao consegui vir, nem falar com voce. Podemos conversar?
- Caraca, se você nao fosse tao linda e fizesse essa cara de manhosa, eu nao deixaria você entrar. Mas tudo bem, entra. - Nao pensei 2 vezes, nem demorei. Entre no quarto e abraçei ela.
Acreditem, abraçar a Malu foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos dias. Quando meus braços se enrolaram no pescoço dela pude sentir o cheiro da sua pele, o toque macio do rosto. O buraco que estava no meu peito foi preenchido instantaneamente, meus olhos se fecharam para sentir melhor a energia, meus pelos levantaram. Estar com a Malu, abraçar ela e sentir seu corpo perto do meu, parece que foi uma superbonder para o pedaço que a Caroline estava arrancando, simplesmente me fez sentir algo de novo.
Nao fui capaz de segurar mais a lágrima, e comecei a chorar e copiosamente. Como posso, me divorciando praticamente, me sentir bem e me encantar por uma garota que eu vi apenas umas 3x. Que merd* de pessoa eu sou ?! Que merd* de pessoa eu sou?!
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Socorro de Souza
Em: 03/02/2018
Cris vc e uma FDP... Que raiva !!!!
Resposta do autor:
Calma calma... Aguarde os proximos capitulos.
Muitas vezes precisamos perder o que mais amamos para perceber o quanto amamos. Tudo ao seu tempo
Continue lendo, obrigada por acompanhar a história.
Abraços
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