CAP.5. GABRIELA. O PRIMEIRO RAIO DE SOL
Lá estava eu, novamente dentro do carro, dirigindo... indo de encontro com meu mais novo desafio, que por sua vez, o maior deles até hoje. Se eu ganhar serei reconhecida nacionalmente, tenho certeza, casos destas proporções são muito noticiados. Mas, pra falar a verdade, nem ligo muito pra isso, estou bem acomodada nesta minha zona de conforto. Ninguém para me encher, nem para intrometer na minha vida. Na realidade estou preocupada com isso, casos com muita repercussão tendem a incomodar, somos demasiadamente vigiados pela mídia, o que é um horror.
Enfim, estaciono meu carro e já avisto um amontoado de urubus, vulgo, jornalistas na porta da delegacia. Ainda bem que ninguém sabe ainda quem sou, então minha passagem por el@s foi bem fácil. Entrei e fui direto falar com a recepcionista.
- Olá, bom dia, sou a advogada de Cecília Baesse, gostaria de falar com minha cliente.
- Olá, bom dia! Desculpe, mas a senhora tem que esperar a delegada, que já está chegando.
Mais essa, não sei pra quê isso. Contudo, não vou brigar com a moça educada em minha frente.
- Tudo bem. Agradecida.
Vejo algumas cadeiras de espera, em frente ao balcão de recepção e sento desconfortavelmente, depois de alguns minutos vejo uma moça muito bonita, loira, bem vestida, chegar para também falar com a recepcionista.
- Bom dia, sou Rebeca Baesse, vim para o depoimento.
- Bom dia, a delegada está chegando, você pode se sentar e esperar.
- Certo, muito obrigada.
Quando escutei o seu nome compreendi imediatamente quem era, a filha da vítima. Melhor eu ficar quietinha aqui no meu canto, porque não quero discussões infundadas a esta hora da manhã... Eu queria ficar calada, mas a mulher não.
- Oi.
Ela me disse.
- Oi.
Disse simplesmente.
- Você está aqui para prestar depoimento também?
Pensei em mentir, mas não valeria de nada, ela iria me conhecer a qualquer momento.
- Não, estou aqui para falar com minha cliente.
- Bobeira a minha, você está toda bem vestida, devia ter percebido que é advogada.
- Sim sou.
- Entendo.
Disse me olhando nos olhos, me pareceu tão tão triste, aquele olhar de dor, de perda. A única coisa que consegui fazer foi dar um sorriso sem graça.
- Você conhece meu pai? Augusto Baesse?
- Não pessoalmente.
- É... foi assassinado esta noite. Pela mulher que tem praticamente minha idade.
- Entendo... Você também está esperando a delegada?
Disse rapidamente querendo mudar de assunto.
-Sim, somos amigas, ela está investigando o caso de meu pai, pediu para vir prestar meu depoimento.
Amiga? Isso pode? Não sei... irei verificar depois, razões pessoais podem intervir nas investigações.
- Certo.
- E você? Qual sua história, já que contei a minha...
Tossi seco, olhei pra moça do meu lado com os olhos inchados, deve ser de tanto chorar, conclui.
- Vim ver minha cliente.
- Isso eu já sei, quero saber o que ela fez.
- Isso é confidencial, minha ética não permite que lhe diga.
- Tudo bem... Qual seu nome?
- Gabriela Novaes.
- Prazer o meu é Rebeca Baesse.
Disse me estendendo a mão, foi um aperto não só de mão, mas no coração, um sentimento de que a estava enganando, ela parecia uma boa pessoa. Nisso ela abriu seu tablet, e foi ler as notícias que já estavam bobando, sobre a morte de seu pai.
- Meu pai está em todos os jornais do Estado e do Município. Acredita como isso funciona rápido?
- Verdade.
O que eu não esperava veio no segundo seguinte.
- Você pode me dizer novamente seu nome?
- Gabriela Novaes.
- ENTÃO É VOCÊ QUE VAI DEFENDER AQUELA PIRANHA QUE MATOU MEU PAI.
Levei um susto com o grito, ela levantou apontou o dedo para mim e continuou.
- EU AQUI CONTANDO MINHA HISTÓRIA PRA VOCÊ E VOCÊ FINGINDO QUE NÃO SABE DE NADA. SÓ UMA PIRANHA PRA DEFENDER OUTRA.
Não consegui falar nada, fazer nada, o inesperado me pegou de jeito.
- VAI, ME RESPONDE! NÃO VAI NÉ, PORQUE SABE QUE ESTÁ ERRADA POR DEFENDER UMA ASSASSINA! DEVERIAM RECOLHER SUA CARTERA DA OAB, POR DEFENDER UMA MULHER DAQUELAS. QUE MATOU, EU DISSE MATOU MEU PAI. EU VI.
- Calma, disse com a voz trêmula, é só o meu trabalho, você está me ofendendo.
- CALMA? CALMA? É SÓ O SEU TRABALHO, MAS É A VIDA DO MEU PAI QUE ESTOU FALANDO.
No segundo seguinte ela veio pra cima de mim, pensei que eu apanharia ali mesmo, na recepção da delegacia, quando escuto uma voz grossa bem alta.
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA MINHA DELEGACIA?
Só consegui fechar os olhos de vergonha e escutar um homem dizer a mulher que já estava chegando para averiguar o que estava ocorrendo.
- EU ESTOU COLOCANDO ESTA MULHER NO SEU DEVIDO LUGAR ISABELLA. Disse Rebeca.
- Não estou entendendo Rebeca, mais respeito, aqui é meu lugar de trabalho, e não sua casa, sinto pela sua perda, mas, não posso suportar tamanho insulto.
E eu só conseguia ficar de cabeça baixa tamanha era a vergonha. Só escutava as conversinhas que rolavam pela sala.
- E VOCÊS VOLTEM AO TRABALHO, NA HORA DE FAZER ALGUMA COISA, NINGUÉM FEZ, SÓ FICARAM AÍ ASSISTINDO.
Percebi um silêncio e passos, as pessoas estavam saindo.
- E você Rebeca, espere na minha sala, preciso conversar com essa moça, que ainda nem sei quem é!
- ELA É A DESGRAÇADA DA ADVOGADA DE CECÍLIA!
- CHEGA! EU DISSE PARA ME ESPERAR EM MINHA SALA, NÃO PERMITO MAIS ESTE SHOW AQUI!
- Tudo bem, disse a moça, já mais calma.
Só neste momento consegui levantar meus olhos em direção aquela voz. E o que dizer? Nem sei se tem como dizer, era é linda, como é linda, seus olhos brilham como a luz do sol, vestia uma jaqueta preta que a deixava muito sexy e aquela voz... O que você está pensando agora Gabriela?
- Você está bem? Ela me perguntou.
Fiquei alguns segundos olhando para seus olhos e me perdi neles.
- Olá, perguntei se está bem?
Não sei o que aconteceu, mas, só consegui responder friamente.
- O que você acha? Sua amiguinha é louca! Veio me agredindo do nada.
- Do nada também não, ela acabou de perder o pai e você é a advogada da suspeita.
- O que eu posso fazer se esse é meu trabalho “senhora delegada”, disse ironicamente.
- Não quero discutir agora, então me diga o que você quer.
- Ver minha cliente.
- Ok. Vou liberar sua visita. A “senhora advogada” tem nome? Ela retrucou.
- Lógico! Gabriela Novaes.
- Ótimo. Pode ir vê-la, depois passe na minha sala para pegar a cópia do depoimento dela.
- Uhum.
Olhei mais uma vez para aquela mulher que rapidamente se virou e foi falar com um oficial, que veio até mim logo se apresentando.
- Bom dia, eu sou o oficial Fagundes, encarregado de levá-la para conversar com a suspeita.
- Bom dia, obrigada.
Adentramos a delegacia, até a sala que poderia conversar confidencialmente com minha cliente. O oficial se retirou dizendo que voltaria em instantes com ela.
Quando a porta abre novamente, fico estarrecida com a beleza da mulher, ainda com a roupa suja de sangue e com o visual maltratado, ela é realmente linda. Veio logo em minha direção.
- Graças a Deus meu tio conseguiu rapidamente um advogado, digo uma advogada.
- Bom dia, sou Gabriela Novaes, responsável pelo seu caso. Gostaria que me contasse a verdade sobe os fatos, primeiramente não estou aqui para te julgar e sim te ajudar.
- Tudo bem, mas, eu disse toda a verdade no depoimento que dei a pouco.
- Mas, quero saber exatamente o que aconteceu por você, importa se eu gravar?
- Não, tudo bem.
Abri minha pasta, peguei meu pequeno gravador, apertei REC.
- Pronto, pode começar.
- Como eu disse para a Delegada, eu estava em casa cortando a carne do jantar na sala, quando eu escutei Augusto me gritando, ele estava nitidamente bêbado, corri para ver o que era, e ele veio me xingando dizendo que eu o trai. Ele me socou, eu caí, ele veio sobre mim, começou a abrir o zíper da calça, o medo foi maior que a razão, então eu enfiei a faca que ainda estava em minhas mãos nele.
- Estas reações de seu marido eram costumeiras?
- Sim, antes do casamento ele era um homem maravilhoso, eu me apaixonei perdidamente. Sei que muitas pessoas pensam que era pelo dinheiro que estava com ele, mas não era. A idade não importava para mim, muito menos sua conta bancária. Contudo, isto mudou completamente depois do casamento, ele se tornou possessivo e agressivo. Me proibiu de entrar em contato pessoalmente com minhas amigas e minha família. Apenas quando ele deixava alguém podia me visitar, ou poderia fazer ligações dizendo que estava tudo bem.
- Se estou entendendo bem o que está me dizendo, é que o casamento perfeito não era tão perfeito assim.
- Sim, ele me obrigava a passar essa imagem de eterna felicidade.
- E @s filh@s o que dizia do comportamento do pai?
- Nada, @les não sabiam, eu era ameaçada de morte e ameaçava também a vida de minha mãe, então quando recebíamos visitas eu fingia que estava tudo bem.
- Sei, então está me dizendo que não tem provas que sofreu agressões por todo este tempo?
- Não, foram dois anos de inferno, que suportei sozinha.
- Mas, nenhuma amiga que você conversou, ou algo do tipo?
- Sim, tem a Amanda, sempre ligava pra ela escondida, é uma amiga de infância e sempre contava o que acontecia.
- Uhum, mas, ela já te viu com hematomas ou presenciou alguma coisa?
- Não, Augusto a odiava muito, me mandou nunca mais falar com ela, mas foi impossível.
- Não vou mentir pra senhora, é um caso difícil, porque você não tem provas suficientes para alegar legítima defesa.
- Mas e esse roxo bem no meio da minha cara?
- Então, esta é nossa única prova até agora, contudo, irei trabalhar para que consigamos mais evidências.
- Tem @s empregad@s, el@s sempre estavam presentes, mesmo eu crendo que não irão falar nada, você pode tentar. E também tem as câmeras de segurança.
- Vou atrás disso, uma pergunta evasiva, entretanto, preciso que me responda. Você já foi abusada sexualmente por seu marido?
- Lógico que não, eu era casada, não tem como ser abusada sendo casada.
- Desculpe a sinceridade, mas tem sim, contudo, mudarei a pergunta, alguma vez você teve relação sexual sem vontade com seu marido?
- Sim, todas as vezes, desde que ele assumiu este comportamento doentio, é impossível querer algo com alguém assim. No começo eu até pensava que era só insegurança dele, por eu ser bem mais nova, ainda tinha esperança dele voltar a ser o Augusto que amava, mas com o tempo fui desistindo dessa ideia.
- Compreendo. O que eu posso fazer neste momento é trabalhar para que você possa esperar o julgamento em liberdade. Vamos ser otimistas, certo? Irei fazer o possível para que você saia inocentada deste caso, tem minha palavra.
- Obrigada Doutora.
- Não, me chame de Gabriela, agora vamos nos ver muito, só lhe peço uma coisa, seja sempre sincera comigo, como disse, não estou aqui para julgá-la.
- Tudo bem, eu agradeço.
Levantei da cadeira, meio tonta com toda aquela história, se ela for mesmo real, essa mulher sofreu muito e ainda mais sozinha. Estiquei minha mão para cumprimentá-la e ela a apertou e deu um sorriso fraco em agradecimento. Logo ela foi levada e eu? Fui direcionada a sala da delegada que já tinha terminado com a filha da vítima, que bom, estava segura daquela tal Rebeca. Bati duas vezes na porta.
- Pode entrar.
Escutei do lado de fora, respirei fundo e adentrei.
- Bom dia novamente senhora delegada.
- Bom dia senhora advogada.
- Não quero perder meu tempo, que é precioso, então vamos direto ao assunto.
Nossa, que olhos, só conseguia olhar pra eles, aquele brilho era tão único.
- Também não quero perder o meu, então sente-se.
Mas, é uma delegada mal-educada essa.
- Fiquei a par que a senhora é amiga da família, não gostei de saber disso.
- Não venha interferir no meu trabalho, eu sou ética e sei separar muito bem as coisas.
Ela me olhou seriamente, com a face vermelha de raiva e continuou.
- Então minha cara, não se preocupe com isso.
Fiquei espantada, e resolvi ficar calada. Ela ficava linda irritada, isso é... Gabriela, você anda reparando demais nesta mulher, pelo amor da deusa. Melhor você deter toda a sua atenção ao caso e não a delegada dele. Suspirei. Ela me olhou com um olhar indecifrável, não era mais aquele irritado, mas, estranhamente calmo. Como essa mulher muda de humor rápido! Aqueles olhos eram fáceis de serem lidos, profundos e iluminados à vista. Pegou um envelope e esticou o braço em minha direção com ele nas mãos.
- Aqui está, os depoimentos da suspeita e da filha da vítima.
Levantei-me para pegar e ir embora. Olhei bem para seus olhos de cima pra baixo.
- Obrigada.
- Disponha, mas, da próxima vez seja mais educada, aqui eu sou a autoridade e não vou suportar ofensas.
- Olha, não me diga o que fazer, não é porque você é Delegada que manda em minhas ações. Com licença.
Saí batendo a porta. Quem ela pensa que é? Só porque passou em um concurso quer ser melhor que eu e me dizer o que fazer? Jamais. Quando dei por mim já estava frente ao meu carro. Entrei batendo a porta, fazendo o caminho de volta ao trabalho.
Caramba, não consigo deixar de sentir essa raiva daquelazinha. Não acredito que vou ter que ficar esbarrando sempre com ela. Não acredito. Vou ter que receber muito bem por este caso, muito bem mesmo. Já me tirou do sério esta hora da manhã.
Reclamei tanto mentalmente que nem estava prestando atenção no caminho, nem sei como cheguei no trabalho inteira. Passei como um raio na recepção, não queria falar com ninguém e nem sorrir pra ninguém. Do elevador, fui direto pra minha sala, me trancando. Nem o Vini quero ver hoje.
Comecei a trabalhar no caso, transcrevi a conversa que tive com minha cliente e depois fui ler o depoimento de Rebeca, que realmente era emocionante. O que acabou me despertando uma certa dúvida da inocência da Senhora Baesse. Fiquei divagando por tanto tempo, que acabei perdendo a hora.
Já era noite quando fazia o caminho de volta para casa. Com tantas coisas na cabeça, não consegui novamente ouvir a música que estava sendo transmitida pelo rádio. Abri a porta da garagem e estacionei meu carro. Já da entrada de casa eu gritei.
- Mãe??
- Aqui na cozinha.
- Novamente na cozinha Ângela?
- Mais que coisa, não me chame assim, nem minhas amigas me chamam assim.
- Tá mãe, era só brincadeira, hoje foi um dia difícil.
- Trabalho?
- Sim, você ouviu falar do assassinato de Augusto Baesse, o dono das inúmeras lojas de joias da cidade?
- Sim, passou hoje na TV, vi quando estava fazendo meu crochê, que por sinal está ficando lindo. Mas, o que tem ele filha?
- Eu sou a advogada de defesa da senhora Baesse.
Minha mãe me olhou assustada, as rugas no canto do olho ficaram evidentes, e sua pele morena da testa se ergueu fazendo várias rugas na horizontal. Ela, amarrou seus cabelos pretos, ela sempre faz isso quando fica nervosa.
- Que foi mãe?
- Por favor, cuidado minha filha, mexer com gente rica é perigoso.
- Que isso mãe, não tem nada demais e não é a primeira vez que faço isso, nem sei porque do espanto.
- Tudo bem, você sabe o que faz. Mas, me diga você acha mesmo que ela é inocente.
- Sinceramente não sei, contudo, tenho que crer que sim, porque estou trabalhando para inocentá-la.
- Não sei como você consegue.
- Nem eu...
- Vai tomar seu banho, logo o jantar estará pronto.
Nisso subi as escadas. Que dia cansativo, mais que os outros, nossa! Um banho relaxante é tudo que preciso. Tirei minha roupa já dentro do banheiro, liguei o chuveiro, sentindo os primeiros jatos gelados na minha pele, esquentando aos poucos... fechei meus olhos e a imagem da delegada apareceu na minha frente, tão linda... comecei imaginá-la sem aquela jaqueta e camisa branca, seus cabelos longos e loiros soltos. Acabei ficando excitada apenas com estes pensamentos... Pela deusa não posso ficar assim por aquela delegadazinha de meia pataca. Me recuso, isso, me recuso, digo não. Então comporte-se Gabriela, isso é falta de sex*, já que faz muito, muito tempo que você não faz... desde... a morte dela...
Saí do chuveiro deixando meus pensamentos pra trás, vesti minha roupa de dormir rapidamente, uma calça larga e uma camiseta. Gritei do meu quarto que não queria jantar para minha mãe. Ela brigou comigo como sempre, logo fechei a porta deitei, adormeci rapidamente, pensando no difícil dia que seria amanhã.
Fim do capítulo
Desculpe as jornalistas de plantão, não sou eu que chamei vocês de urubus e sim Gabriela.
Acho que não estão gostando da história, não recebo muitos comentários.
Tristeeeeeee.
Boa leitura, mesmo assim.
(:
Comentar este capítulo:
Day Persil
Em: 30/01/2018
Cada episódio eu gosto mais dessa estória!
Que venha o próximo.
Resposta do autor:
O próximo já saiu!!! Me diga o que achou!
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]