Isabella

Alice preferiu que eu a deixasse na cama, vesti o pijama, fiz ela escovar os dentes. Deitei ela, beijei sua cabeça e ela perguntou.

- A mama está chateada comigo? – os olhinhos estavam cheios de água.

- Um pouquinho, você sabe que se comportou mal no restaurante?

- Sei sim, desculpa.

- Não é para mim que você tem que se desculpar, a mama ficou triste com seu comportamento.

- Fala para ela que me arrependi.

- Filha não é assim que funciona. Você fez a mama se chatear então você se desculpa, isso vale para qualquer pessoa que você machuque. Entendeu? – ela balançou a cabeça. – Amanhã você se desculpa com ela. Dorme bem filha.

- Te amo.

- Também te amo linda. - Sai do quarto e encontrei Larissa estirada na cama.

- Alice está arrependida. – ela só me olhou por cima dos óculos de grau. – Amanhã ela se desculpa.

- Tudo bem.

- Vou tomar banho e já venho deitar.

Quando retornei ela já dormia, peguei o livro que estava em cima de sua barriga, tirei seus óculos e me deitei. A noite foi conturbada, como todas as outras desde o dia que Alana morreu, sonhava a mesma coisa sempre. O domingo amanheceu chuvoso, acordei com Alice na nossa cama com medo dos trovões, ela estava agarrada em Larissa. Por mais que estive chateada era incrível a ligação das duas.

- Amor volta, está frio. – reclamou Larissa quando sai da cama.

- Vou só ao banheiro. – falei baixinho.

- Poderíamos ficar o dia inteiro nessa cama. – comentou quando me deitei de novo.

- Quanta preguiça. – ela fez careta.

- Muita amor, está frio demais. – se cobriu junto com Ali.

- Pensei que íamos para a casa da mamãe.

- Se parar de chover vamos.

- Tudo bem. – sorri e ela me encarou.

- Alice é espaçosa igualzinho a você. – riu.

Eu fiz careta me levantei e coloquei um filme, não demorou e acabamos dormindo. Acordei com Alice me fazendo carinho no rosto.

- Bom dia mammy. – sorriu aberto.

- Bom dia meu amor, acordou faz tempo?

- Não, a mama me mandou te acordar, vamos para a casa da vovó.

- Onde está a mama?

- No banho. Ela já me arrumou, estou bonita? – fez pose para mim olha-la.

- Está linda meu amor. – beijei seu rosto. – Vai brincar no seu quarto enquanto a gente se arruma.

- Tudo bem. – correu em direção a porta.

- Bom dia amor. – sorri beijando seu ombro, ela penteava os cabelos.

- Bom dia, não parou de chover, mas sua mãe ligou nem tive tempo de falar que não íamos.

- Eu imagino, vejo que Alice já está normal com você.

- Sim ela se desculpou. – sorriu me olhando. – Obrigada por falar com ela ontem. – Agora toma seu banho que eu vou me arrumar. – sorriu e saiu do banheiro.

O domingo foi em família, Alice recusou a sobremesa que minha mãe ofereceu, mesmo sabendo que ela estava de castigo sei que dona Helena acabou dando escondido. Milena e Isac foram almoçar conosco também. Os dois estavam calmos diante da situação, viemos para casa já estava quase anoitecendo. A chuva não deu trégua dormimos tarde, Alice estava elétrica, brincou até quase dez da noite.

Acordei procurando Lari na cama, pelo horário já devia estar tomando café. Fui para o banho com dificuldade ainda estava muito frio. Me arrumei e levei minha pasta para baixo, Larissa estava dando o café da manhã para Ali, que conversava sobre algo.

- Bom dia meus amores. – sorri beijando as duas.

- Bom dia amor.

- Porque não me acordaram?

- Você fica mal-humorada. – Ali falou rindo.

- Tudo bem, preparou todas as coisas dela?

- Sim, está tudo arrumado. Eu preciso ir, será que você pode ir deixar ela na sua mãe?

- Claro posso sim.

- Certo, amo vocês. – me beijou em seguida beijou Ali e saiu.

Sai de casa mais de oito da manhã, por mais que eu tentasse era impossível apenas deixar Ali, minha mãe me fazia entrar, tomar café. Nunca conseguia só deixar Alice sem ter que descer, nem adiantava dizer que estava atrasada, ela parecia nem me escutar.

 

 

Larissa

Isabella dormia tranquila, lá fora chovia muito, observei a porta do quarto er aberta e Ali colocar a cabeça para dentro. Ela se assusta com um trovão, fica me olhando como se pedisse autorização para ir deitar conosco.

- Vem filha. – ela caminhou até a cama, se aconchegou em meus braços.

- Mamma, me desculpa por ter desobedecido. -falou baixinho.

- Tudo bem meu amor, só que você precisa obedecer a mamma. Quando eu falar algo você tem que fazer.

- Prometo que vou fazer.

Precisava ir deixar Alice antes de sair para a empresa. Arrumei suas coisas, assim quando Bella acordasse não nos atrasaríamos tanto. Recebi uma mensagem de Milena dizendo para encontrá-la no hospital de Luciana, não sabia ainda o que ela iria fazer. Estava terminando meu café quando Bella apareceu pronta para trabalhar. Me despedi de Bella e Ali, segui para o hospital, encontrei Milena na recepção.

- Está tudo bem? – questionei lhe abraçando.

- É a hora da verdade. – sorriu de canto.

- Seja qual for o resultado será a vontade de Deus. – segurei sua mão. Luciana chegou alguns minutos depois.

- Bom dia, Milena podemos fazer agora, preciso recolher seu sangue.

Fomos até um ambulatório, Luciana fez o procedimento, Milena estava ansiosa demais. Como iria demorar algumas horas ela resolveu não esperar.

- Obrigada pela ajuda. – falou com Luciana.

- Imagina, quando o resultado sair eu te comunico.

- Certo.

Milena me abraçou quando chegamos ao estacionamento. Seguimos para a empresa em carro separados. Fui direto para a sala de Samantha, a secretária me anunciou e eu entrei.

- Bom dia.

- Bom dia Larissa.

- Então está tudo bem? – perguntei séria.

- Sim, vai ficar não se preocupe. Vamos trabalhar, o John marcou uma reunião para hoje à tarde, ele chega lá para as duas.

- Certo, eu já comecei a fazer a planta. Preciso que ele avalie.

A manhã inteira fiquei analisando alguns documentos sobre a divisão da minha herança com Andressa. Sabia que já deveria ter cuidado de tudo isso, porem tanta coisa aconteceu que acabei deixando de lado.

- Larissa podemos conversar? – Benjamim perguntou da porta.

- Claro, entra.

- Bom preciso que você olhe uma planta para mim, não consigo deixar ela como a cliente quer.

Não teve jeito, me perdi ajudando no projeto de Ben, quando percebi já era hora do almoço. Milena se juntou a nós, aproveitei que os dois estavam ali e mostrei o que já havia feito até agora sobre o projeto do shopping.

- Acho que a escada ficaria melhor desse lado. – Milena opinou. O celular dela tocou e ela pediu licença se afastando para atender.

- Eu concordo, tomaria menos espaço. – Benjamim se pronunciou.

- Milena você está bem? – perguntei observando-a.

- Eu, eu.

- Você? – Benjamim tentou faze-la completara frase.

- Eu estou grávida. – falou e deixou o corpo cair sobre o sofá.

- Oi? – exclamou Ben.

- Milena isso é uma ótima notícia. – fui até ela.

- Eu não acredito nisso. – ela começou a chorar.

- Você está chorando de felicidade? – Benjamim perguntou confuso.

- Sim, não quer dizer, eu não seiiii. – desabou no choro mais uma vez.

- Mile se acalma. Respira. – tentei ajuda-la.

Aos poucos ela foi se controlando, passados alguns minutos ela me olhou assustada.

- Como vou contar isso para o Isac?

- Tipo Isac lembra nossas trans*s maravilhosas, então o resultado delas vai aparecer daqui a nove meses. – Benjamim brincou. Milena sorriu.

- Acho que essa seria uma ótima forma. – concordei.

- Bem meu estilo mesmo. – ela concordou e nós gargalhamos. – Sério, por favor não comentem com ninguém, preciso contar para ele.

- Pode deixar. – concordamos.

Depois do pequeno ataque de medo de Milena ela saiu dizendo que precisava pensar. Eu fui para a sala de Isabella, lá encontrei Isac trabalhando com Isa.

- Vocês já almoçaram? – questionei me sentando em frente à mesa de Bella.

- Ainda não amor, e pelo visto não sairemos daqui.

- Eu estou saindo para comer, querem almoço? – perguntei.

- Cunhadinha nesse momento você é a minha pessoa preferida no mundo. – Isac brincou.

- Mandem o que querem pelo whatsapp que eu trago. – fui para trás de Bella. Beijei seus lábios.

- Vai sozinha? – questionou.

- Acho que vou convidar Samantha. – ela fez careta.

- Tudo bem, juízo.

- Pode deixar.

Sai direto para a sala de Samantha, bati a porta e vi que Minerva estava lá.

- Oi, é... Sam estou saindo para almoçar vem comigo?

- Vou sim, me dá só um minuto. - Concordei e sai da sala, me sentei no hall de espera.  Não demorou e Samantha apareceu.

- Vamos?

- Vamos sim.

No carro fomos para o Santé como de costume, era o lugar mais perto e onde nos conhecíamos bem a comida. Samantha estava pensativa, quando descemos no restaurante fomos levadas até uma mesa um pouco mais afastada. Andressa não estava ali hoje. Fizemos nossos pedidos e eu pedi o almoço do meu cunhado e minha esposa.

- Então o que está acontecendo? – perguntei seria.

- Acho que Bianca está tentada a voltar com Ester. – falou triste.

- Como assim?

- Ester tem rondado ela, ligações, mensagens. Já chegou a ir até a empresa. – suspirou.

- Certo, ela está cercando Bianca, mas e ela? O que diz?

 - Que estou ficando louca, que ela jamais voltaria para Ester depois do que ela fez, porém sinto ela distante sabe. Não quer dormir lá em casa mais.

- Samantha você precisa conversar com ela, jogue a real. Pergunte o que ela espera do relacionamento de vocês.

- Eu tentei, ela foge. Estou arrasada, amo ela sabe. E não gosto de imaginar que possa acabar assim.

- Dá um tempo a ela, se afasta um pouco deixa ela se decidir. Se for para vocês continuarem juntas ela vai voltar.

- Eu sei, farei isso. Nem me reconheço mais, quem diria que um dia eu sofreria de amor.- sorriu sem graça.

- Acho que você é a prova viva que as safadas também amam.

Consegui arrancar um sorriso verdadeiro dela. Almoçamos em um clima mais ameno, ela fez questão de pagar a contar por ter alugado meus ouvidos. Paguei apenas os almoços que iria levar para a empresa. Fui direto para a sala de Bella.

- Alguém pediu almoço? – coloquei as sacolas na mesa.

- Obrigada cunhada. Vou ao banheiro rapidinho.

- Disponha. – sorri olhando ele sair.

- Como foi o almoço? – perguntou com a sobrancelha erguida.

- Tranquilo, Sam está achando que Bianca está balançada, Ester voltou a rondar ela.

- Então era isso que ela tinha para te contar? – questionou.

- Era sim meu amor, você ainda tem ciúmes de Sam? – perguntei rindo sabendo a resposta.

- Não gosto do que tiveram no passado. – fez bico.

- Mas não tivemos nada amor. – sorri da cara que ela fez.

- Amor não importa sempre terei ciúmes.

- Eu sei coisa linda, eu preciso ir. Tenho uma reunião com John daqui a pouco. – beijei seus lábios.

- Isso é assedio, fora que é um lugar inapropriado. – Milena falou brincando.

- Oi Mile, você está bem? – perguntou Bella preocupada.

- Sim, e como pedi para Larissa não contar, mas pensei melhor e acho que você merece saber.

- O que? – Milena me olhava e Isabella estava em cólicas de curiosidade. – Fala gente.

- Você vai ser titia de novo. – sorriu com a mão na barriga.

- Não acredito. – sorriu se levantando da cadeira e indo abraça-la. As duas começaram a chorar. Isac entrou e viu a cena, não precisava ser gênio para saber o que se tratava.

- É verdade? – sorriu ele emocionado.

- É sim amor, eu estou grávida. – sorriu para ele.  Isabella veio até mim, se posicionando ao meu lado. Me abraçou e ficamos olhando os dois.

- Não acredito eu vou ser pai. – sorriu passando a mão na barriga de Milena. -Eu te amo Milena.

- Também te amo muito. – se beijaram.

- Arrumem um quarto, melhor não afinal já temos um herdeiro ai. – brinquei apontando para a barriga dela.

Todos riram resolvemos deixar as celebrações para depois. Milena e eu fomos para a reunião com John. Quando chegamos na sala Benjamim já nós esperava junto de Samantha e John. A reunião demorou mais do que imaginávamos, fizemos todos os ajustes na planta. Ao menos na parte que já estava desenhada, precisava passar para o computador. Dar vida ao desenho, essa parte Ben ficaria responsável.  

Saímos da sala já estava escuro, entretanto olhei o relógio e me espantei por estar escuro não por ser noite, mas sim pelo tempo fechado lá fora. Milena também ficou assustada.

- O céu vai desabar. – falou olhando pela grande janela de vidro.

- Pois é, mas e aí vai jantar conosco na casa de Helena?

- Não, preciso conversar com minha mãe. – sorriu.

- Ela vai ficar animada com a ideia de ser avó.

- Vai sim. Bom até mais tarde.

- Até. - Encontrei Isabella saindo de sua sala. – Vamos pedaço de mal caminho? – ela sorriu aberto segurando minha mão.

- Vamos sim, a reunião terminou agora?

- Foi sim, uma trabalheira que já estou pensando que nós três não daremos conta.

- Então contrate alguém.

- Samantha não vai permitir. – brinquei.

- Só espero que você vá com calma, afinal não está totalmente recuperada. E agora Milena...- parou olhando para os lados e falou baixinho. – grávida, vai ter que pegar leve.  

- Depois resolvo isso. Vamos no mesmo carro? Eu deixo o meu aqui.

- Tudo bem.

Fomos até a casa de Antônio e Helena. Estacionamos o carro e já chovia forte. Alice estava fazendo uma bagunça na sala, meu sogro estava sentado no chão brincando de boneca com ela.

- Não lembro de você brincar de boneca comigo. – Bella reclamou.

- Você preferia carrinho. – Antônio fez graça e nós rimos.

- Oi filha. – Alice beijou seu roto e depois o meu.

- A vovó me deu um presente. Olha. – mostrou uma boneca.

- Mais uma mamãe? – Isa reclamou.

-  Sim, deixe de ser assim Isabella. É apenas um brinquedo.

- Olha todos os que ela já tem. – apontou para o chão. – Fora os lá de casa, assim ela vai ficar mimada.

- Isabella, não exagere, você sempre teve tudo que quis e não é mimada.

Eu e Alice apenas observávamos as duas discutindo, Ali sentou em meu colo mostrando a boneca nova.

- É linda filha. Já tem nome?

- Linda, o nome dela vai ser Linda.- ela sorriu me encarando.

- Por que Linda? – nunca falei o nome da minha mãe para ela, não queria faze-la entender o que aconteceu.

- Por que vi uma mulher no meu quarto. Ela me disse que o nome dela era Linda. E eu gostei. – sorriu e correu para junto do avô.

Não me contive, me afastei para a varanda, olhei o céu escuro e chorei. Minha mãe visitou Alice, não havia outra explicação. Isabella me abraçou por trás, colocando o queixo em meu ombro.

- O que houve?

- Alice, me disse que o nome da boneca é Linda porque uma mulher visitou ela e disse que o nome era Linda.

- Sua mãe? – questionou surpresa.

- Sim, só pode ter sido ela. – sorri apertando as mãos de Bella em minha cintura.

- A vovó tá chamando para o jantar.

- Vamos lá meu amor.

Nos sentamos a mesa, Alice adorava os mimos que a vó Helena fazia. Isabella ficou na cozinha com Ali, ajudando ela a comer um pedaço de bolo de chocolate. Helena me levou para a sala.

- Está tudo certo para a surpresa. Eu viajo na sexta feira de manhã, é torcer para não chover no dia. – sorriu.

- Mesmo se chover será o dia mais feliz da minha vida.

Saímos de lá já era pouco mais de sete da noite. Alice cantarolava uma música baixinho, ainda chovia muito. Entramos em casa e Isabella foi para o quarto, peguei Alice no colo e a levei para o quarto.

- Te amo mama. – fechou os olhinhos e dormiu.

 

- Também te amo filha.   

Fim do capítulo