O CASO DAS ROSAS por pamg
Capítulo 5 - Júlia, milagre ou descuido?
— TEM UMA MENINA CAÍDA ALI!!
Um dos agentes gritou. A delegada e a detetive sentiram o coração disparar, de imediato, souberam que era Júlia. O que se confirmou. Há poucos metros do veículo em chamas, em uma ribanceira, no final de uma rua sem saída, a adolescente estava caída com um saco plástico amarrado à sua cabeça.
O militar dos bombeiros que seguiu junto com as mulheres, ao escutar o aviso do agente que encontrara Júlia, foi quem primeiro se aproximou. Rasgou o saco plástico que cobria a cabeça da criança e logo disse:
— O pulso tá fraco, mas ela está viva!
De imediato, os demais agentes começaram a acionar uma ambulância.
Enquanto isso, o oficial começou os procedimentos de primeiro socorros. Com cuidado removeu o plástico por completo. Em seguida, colocou uma das mãos sob o pescoço e outra sobre a testa, elevando a cabeça da adolescente para trás. Iniciou a respiração boca a boca e com os dedos da mão que estavam sobre a testa, tapava as narinas de Júlia. Ao perceber que o peito da criança se expandia, tirava a boca para que o ar fosse expelido.
Ele repetiu a manobra, sob os olhares atentos de todos os presentes, até a chegada da ambulância. O local foi tomado por um pesado silêncio. Ninguém ousava pronunciar uma só palavra. Os paramédicos chegaram, deram continuidade ao procedimento e moveram a vítima para a ambulância. Emily se prontificou:
— Eu vou acompanhá-la!
Nesse momento, a loira e a morena perceberam que assistiram ao procedimento de primeiros socorros extremamente próximas uma da outra, mas nenhuma delas parecia querer quebrar o contato.
A delegada que precisava entrar na ambulância disse para detetive, em tom bem baixo e suave, ainda ao seu lado, de forma que somente a Alycia a escutasse:
– Fique tranquila, ela vai conseguir. Me encontra no hospital?
– Estarei logo atrás de vocês.
A voz de Emily tranquilizou Alycia, de alguma forma, ela acreditou nas palavras da loira. Não sabia o porquê, mas a voz da loira lhe passou segurança.
Emily seguiu na ambulância, para o Hospital Risoleta Tolentino Neves, o mais próximo do local. A detetive ainda ficou por mais um tempo para fazer alguns encaminhamentos, queria que cada centímetro do local fosse periciado.
— Mendonça, coordene os homens aqui e estabeleça o perímetro o mais rápido possível. A imprensa vai invadir esse local em poucos minutos. — Ela olhou para o veículo incendiado e soube que a criminosa havia feito uma escolha inteligente. As chamas mais a água para contenção do fogo eliminavam em quase 100% as chances de se encontrar alguma evidência.
— Não vamos conseguir muita coisa, mas preserve ao máximo esse veículo. Assim que possível, já verifique o chassi. – Ainda sim, determinou:
O homem, que em vários momentos, havia sido debochado com Alycia e a hostilizado por ser tão próxima de Furtado, o antigo chefe, agora obedecia as ordens de imediato. Todos sabiam que havia uma menina lutando para sobreviver naquele momento, e isso parecia se sobrepor a qualquer outra situação. Todos trabalhavam concentrados.
A detetive deu mais uma olhada no local e resolveu seguir para o hospital. Ao descer do veículo, Alycia parou por um instante e ligou para o departamento de polícia:
— Bianca?
— Pois sim, como ela está?
— Viva, mas ainda não sei o prognóstico. Estamos chegando no hospital agora. Preciso que entre em contato com o pais de Júlia e providencie para que eles sejam trazidos até aqui. Não quero que venham por conta própria.
— Agora!
Desligaram.
Alycia respirou fundo e seguiu para dentro do hospital. Ela sentia uma leve dor de cabeça, mas sabia que era porque não havia se alimentado direito, já passava das 23 horas e, desde às 10 horas da manhã ela estava por conta do caso.
Entrou no hospital pensando em quão longo estava sendo o dia. Se identificou e lhe indicaram o caminho. Seguiu e encontrou Emily em um dos corredores:
— Não podemos passar daqui. — A loira foi a primeira a falar.
— Já pedi para que os pais dela fossem trazidos. Como ela está?
— Dentro da ambulância teve duas paradas, mas foi reanimada. Temos que aguardar!
Repentinamente, Alycia sentiu uma leve tontura e teve que se apoiar na loira para não cair. Essa se assustou, segurou a outra e sentou-a em um cadeira.
— Alycia! Você está bem? Vou chamar um médico!
Ela já estava saindo, sem nem mesmo esperar uma resposta, quando sentiu a mão da detetive detendo-a.
— Não precisa, eu estou bem… Desculpe por ter te assustado. Deve ter sido uma queda de pressão. O dia foi agitado e eu quase não me alimentei.
— Você está pálida, a Júlia já está sendo atendida não tem porque você não ser atendida, quero que alguém cuide de você.
— Eu agradeço, mas por favor, não faça isso. Daqui a poucos os outros agentes estarão aqui, não quero que pensem que não consigo fazer meu trabalho.
A delegada estava assustada e muito preocupada, a morena estava palida e não parecia nada bem. Entretanto, entendia o que a morena havia acabado de dizer. Ela sabia que ser mulher em um “trabalho dominado por homens” exigia esse tipo de abnegação. Assentiu com a cabeça.
— Espere aqui, vou buscar água para você!
A loira saiu no primeiro corredor perpendicular que viu, queria sair do campo de visão da morena. Ela não desrespeitaria sua vontade, mas sentia necessidade de cuidar da detetive.
Parou uma enfermeira, explicou a situação e disse que precisava de algo rápido e discreto, pois estavam no meio de uma ação policial delicada. — tinha consciência que essa última parte não era exatamente verdade, mas sabia que aquilo ajudaria a conseguir agilidade e discrição.
— Pelo que a senhora acabou de narrar, imagino que seja apenas uma baixa de glicose que pode levar a diminuição da pressão, traga ela aqui e seremos discretas.
— Vem!
— Para onde? Eu estou bem! Eu disse que não quero atendimento!
— Calma! — A loira respirou fundo e falou em um tom bem baixo. — Os outros agentes estão chegando, me acompanhe, por favor, detetive Alycia.
Emily estava calma, mas a formalidade de seu tom indicou que não se tratava de um convite. Seguiram e em questão de segundos estavam no posto de enfermagem que a loira havia visitado há poucos momentos.
— Alycia, essa é Maria, uma enfermeira daqui. Ela sabe o que fazer. — Te aguardarei no local onde estávamos.
A enfermeira fechou a porta, assim que a loira se retirou.
— Não se preocupe, sei que você deve ficar isolada e ter um atendimento discreto. Sua colega já me falou o que aconteceu, deve ser apenas uma queda de glicose. Vou fazer algumas perguntas e um breve exame para ter certeza do quadro e, rapidamente, você voltará para o seu posto.
Após algumas perguntas, a enfermeira constatou que realmente havia sido hipoglicemia. Como sabia que estavam “no meio de uma operação policial delicada” ponderou que a detetive não conseguiria se alimentar de imediato e achou melhor injetar o glucagon, um hormônio que aumenta o açúcar no sangue.
Em menos de 15 minutos Alycia já estava retornando para o local de antes. No trajeto encontrou os pais de Júlia que chegavam ao hospital desesperados. Ao ver essa cena, Emily veio ao encontro de todos não sabia se a morena estava bem e sabia que os pais estavam instáveis e desesperados. Correu e interveio, antes que qualquer um dos três se pronunciasse:
— Robson e Léa, Júlia está viva! — Continuou. — O estado dela é grave e não temos muitas informações no momento, mas a acompanhei até aqui e ela chegou viva.
A loira resolveu omitir as paradas, sabia que deveria deixar claro que a situação era grave, mas apenas isso. Deixaria as outras informações a cargo do médico. Ela olhou rapidamente para a morena, essa não percebeu, viu que ela estava com uma aparência melhor e voltou a falar com os pais de Júlia:
— Já estamos aqui há aproximadamente meia hora. Em breve um médico virá nos dar notícias.
Quando ela terminou de falar, o médico apareceu.
— Esses são os pais da menina, Doutor! — Fez uma rápida apresentação.
— A filha de vocês está bem. — Começou o médico. E os pais da menina começaram a chorar e agradecer a Deus. Ele continuou. — A paciente está estável e fora de perigo. Entretanto, preciso que o organismo dela se recupere. Além da asfixia, o corpo dela tem alguns hematomas, indicando que sofreu alguns traumas recentes. Possivelmente agressão física. Assim, a manterei sedada pelo resto da noite. — Virou para a delegada. — Eu sei que vocês vão querer falar com ela, mas hoje, infelizmente, não será possível.
— Podemos vê-la, Doutor? — Foi Léia quem perguntou, quase em uma súplica.
— Sim, neste momento, só os pais poderão entrar. Me acompanhem.
O médico se afastou e Mendonça chegou:
— Delega, o carro era clonado. Verificamos e pelo chassi não pertencia aquele senhor. Por isso não há nada na casa abandonada. As buscas continuam no bairro, mas sem uma descrição, não há muita chances de encontrarmos alguém. A menina já falou alguma coisa?— A vítima não prestará depoimento até amanhã, pela manhã. Ordens médicas. – Disse, lacônica, a delegada.
Todos sabiam que daquele momento em diante a investigação estaria praticamente paralisada. A esperança que restava estava no depoimento de Júlia.
A delegada olhou para todos ao redor e viu a exaustão de todos. Falou:
— Mendonça, continue seguindo as orientações anteriores da detetive Alycia. Volte para o local e só saia de lá quando a ultima cinza do carro estiver devidamente embalada e como prova. Falo sério! Não há espaço para erros. Nós estamos em desvantagem.
— Detetive Alycia, a senhora vai voltar a campo comigo? — Perguntou o homem.
— Não. — Foi a loira quem respondeu. — Preciso dela aqui e depois vamos para a delegacia, eu não estou completamente familiarizado com o departamento e preciso que ela me oriente em algumas ações burocráticas para coletarmos o depoimento da vítima.
A morena nada falou.
— Mendonça, quando estiver de saída designe alguns homens para ficarem aqui no hospital. Ninguém, além de Robson e Léa, terá acesso à Júlia.
Terminou de falar e pegou o celular.
— Patrícia, aqui é a delegada Rios. Preciso que venha até o Hospital Risoleta Tolentino Neves. A vítima está internada aqui e a imprensa já deve estar lá fora. Não quero que seja publicado nenhum boletim sobre o quadro médico de Júlia. Inclusive, ninguém deve confirmar que ela está viva. Ninguém! — A delegada ficou em silêncio, escutando algo que estava sendo respondido do outro lado da linha. E logo falou. — Ótimo! Estamos de saída, há agentes aqui se você precisar.
Desligou. E viu que o agente Mendonça continuava no local olhando para ela:
— Mendonça, o que você ainda está fazendo aqui?
O homem se desculpou e saiu na velocidade da luz. Ela revirou os olhos. Percebendo que finalmente estavam sozinhas, a delegada, enfim, se dirigiu a detetive:
— Você está bem?
— Sim, desculp…
— Não termine essa frase. Hoje você trabalhou como se fosse mais 10 pessoas juntas. Seu corpo apenas precisou de uma pausa. É perfeitamente normal.
— Obrigada. — Foi a única palavra que a detetive conseguiu falar.
Ambas se olhavam, a loira sentia uma vontade imensa de cuidar da morena que, embora estivesse visivelmente melhor, parecia cansada. Por sua vez, a morena sentia-se cuidada. Algo que há muito não acontecia. Não havia percebido como isso fazia falta até aquele momento. Esse pensamento lhe trouxe lembranças tristes, então, rapidamente, ela desviou o olhar. Não queria parecer ainda mais frágil.
A loira percebeu a mudança, mas nada comentou. Se pôs ao lado da morena e disse:
— Vamos?
A delegada queria passar o braço ao redor da cintura da morena, mas sabia que aquilo não faria o menor sentido. Então, se contentou em caminhar bem próximo da outra. Desviou do caminho que dava para entrada principal e retornou para o local onde a enfermeira atendera a morena. Alycia a seguia sem nada dizer.
— Maria, desculpe te atrapalhar. Eu vim agradecer e gostaria de saber se pode nos indicar outra saída, que não seja a principal, para o estacionamento. — A delegada falou.
A enfermeira, que a essa altura já estava por dentro do caso em que ambas estavam trabalhando assentiu.
— Claro, por aqui.
Ela guiou e liberou as portas para que elas conseguissem sair pelo fundos, diretamente no estacionamento, onde Alycia havia estacionado.
— Eu dirijo. — Novamente, a loira usava aquele tom gentil, educado, mas firme indicando que não havia espaço para retrucar. Alycia lhe passou a chave. Entraram no carro em silêncio e a loira deu partida.
A morena foi quem quebrou o silêncio:
— A senhora não precisa preencher os papéis hoje, eles devem ser preenchidos assim que conversamos com a garota.
— Emily. — A loira disse calmamente.
— Hãm? — Disse a morena confusa.
— Para você é Emily. — A morena entendeu que havia usado a palavra “senhora” novamente e ficou sem graça. A loira percebeu e sorriu: — Você se acostuma. — Disse abrindo um sorriso maior ainda. — E sim, eu sei que não há mais nada a ser feito hoje. Cobrimos todos os pontos. Não deixei você voltar com Mendonça porque pressenti que aquele agente ia te deixar fazendo o serviço braçal dele e ir embora. Além disso, você merece e precisa descansar. E antes que você proteste, não estou fazendo isso porque somos mulheres, estou fazendo isso porque você é a especialista nesse caso. Preciso que você esteja bem e descansada para prosseguirmos amanhã.
A morena não tinha como protestar depois disso. Então se rendeu:
— Obrigada! Obrigada por tudo. Eu realmente fui tola em te julgar precipitadamente.
A loira soltou uma gargalhada gostasa e fizeram o restante do trajeto conversando de forma tranquila. Chegaram à delegacia ainda conversando, passaram pela mesa da assistente de Emily e nela havia uma sacola, certamente deixada por Elize, com um bilhete:
Emy, vou te esperar acordada. Sua assistente me disse que você teve que sair às pressas, mas que eu poderia deixar essas coisas aqui. Bjos, Li.
O bilhete foi escrito com caneta vermelha, então, mesmo olhando rapidamente, Alycia conseguiu ler. A morena não soube porque, mas sentiu certo desconforto ao ler isso e de forma inconsciente voltou a sua habitual postura fechada. Se despediu da loira e disse que chegaria no hospital às 7h.
A loira percebeu a mudança repentina, sabia que tinha a ver com o bilhete, mas não entendeu. Apenas assentiu e se despediu. Entrou em sua sala já discando para a amiga doidinha que logo atendeu, a morena que seguia em direção ao QG, escutou o começo da ligação da loira.
— Oi, Li! — O tom da loira era descontraído.
Alycia sentiu uma pontada no coração e andou mais rápido.
Fim do capítulo
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annagh
Em: 17/01/2018
Olá Pam!!! Tudo bem?
Primeiro que tudo, PARABÉNS pela história!!!
Amooooooo romances policiais, e claro que eu não poderia deixar de ler O Caso das Rosas. Apenas 5 capítulos e quase 2 mil visualizações!! Isso não é pra qualquer uma...só demonstra que tua história é realmente incrível!!! Que você é uma Autora Incrível (amo essa palavra...rsrsrsr)!!!Tudo me chamou atenção, a sinopse, o título que já deixa a gente super curiosa pra saber que "caso" foi esse afinal, a descrição das personagens. A escrita tá perfeita...capítulos com muitos detalhes (amo isso...sou muito detalhista). Tem certeza que é sua primeira história???
Alycia e Emily me cativaram...quando li a sinopse pensei que Emily fosse aquele tipo de delegada antipática e grossa sabe...mas é um encanto...um docinho (pelo menos com a Alycia ela demonstra isso né...rsrsrrs). E Alycia fica fofíssima com ciúmes..kkkkkk...amei!!! Elas nem sabem o que sentem e já estão com ciuminho uma da outra...adoro cenas de ciúme...fofo demais. Essa sensação de descobertas de sentimentos é algo que me prende em uma história, é gostoso de se vê as duas se descobrindo e se encantando uma com a outra. O cuidado de Emily com Alycia foi lindo de se vê...apesar da detetive passar uma imagem de mulher forte me pareceu uma garota frágil e com alguns traumas.
E realmente concordo, ser mulher numa sociedade machista já é complicado imagina então exercer cargos como o de Emily ou de Alycia em um ambiente onde a maioria são homens. Eles se sentem meio que humilhados por estarem sendo mandados por uma mulher.
Então Querida Autora, pra não prolongar mais esse comentário (gosto de falar bastante...kkkk) vou me despedindo por aqui, agradecendo imensamente por compartilhar conosco essa história que promete muitas emoções, suspense e romance (espero que tenha muito sexo também...kkkkk)...e fiquei feliz em saber que posta de dois em dois dias, espero sinceramente que não abandone a história!!! Volte logo!!!
Desculpe por algum erro.
Um abraço bem apertado!!!
Resposta do autor:
Ei, Anna!! Que delícia ler seu comentário <3
Pode escrever sempre e quanto quiser. Fique tranquila, estou gostando de receber retorno e adorei o seu.
ahahah sim, é a minha primeira história, mas sou leitora ávida do site. No começo, eu acompanhava o Fator X (Conhece?), depois o finado ABCLes e, agora, o Lettera. Acho que é isso que está me ajudando. :)
Sobre Emily e Alycia... olha, eu me apaixona cada dia por uma ahahahah Prometo que vai ter muito amorzinho e cenas quentes ahahah mas é que a nossas mocinhas estão muito preocupadas com esssa serial Killer de criancinhas ahahah
Anna, volte sempre, foi muito bom ler seu comentário.
Um abraço apertado em você tb!
Bjo!
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