O CASO DAS ROSAS por pamg
Capítulo 2 - As apresentações
— Furtado, boa tarde! — Cumprimentou ao senhor.
— Não tão boa, minha querida Emily.— Disse em um tom tristonho e completou em seguida. — Embora as circunstâncias sejam péssimas, é um prazer tê-la conosco.
— Concordo, imaginei que nossa transição aconteceria de forma bem mais leve.
— O bom é que com a magnitude dessa caso, você já conhecerá quase toda a equipe hoje.
— Pensava nisso enquanto vinha para cá. Inclusive me lembrei que temos uma especialista, certo?
—Exato. Vocês já devem ter se esbarrado na vida, mas é melhor reapresentá-las. Por aqui. —Ao dizer isso caminhou junto com a loira em direção a Alycia.
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Alycia, tinha 26 anos, era morena de pele clara, olhos verdes, cabelo levemente ondulado pouco abaixo do meio das costas. Sua beleza era de uma harmonia incrível. Tudo nela era tão perfeito que mesmo quase sem maquiagem e com seus terninhos pretos de sempre (que ela carinhosamente chamava de uniforme espanta olhares), seus colegas de trabalho quase quebravam o pescoço quando ela passava. Entretanto, ela nunca se interessou por nenhum deles.
Antes mesmo de terminar seu curso superior, com 21 anos, já havia passado na prova da OAB. Poucos depois que se formou, passou no concurso para investigador criminal da Polícia Civil de Minas Gerais, aos 22 anos. Em seu treinamento, na academia de polícia, recebeu um prêmio por se destacar. Sua carreira, iniciada há quatro anos, era repleta desse tipo acontecimento exitoso. Por isso, todos que a conheciam diziam que a jovem era um prodígio.
A detetive, porém, não gostava desse título. Ela sabia que isso era resultado de uma série de situações ruins que começaram há 16 anos, quendo seu pai havia traído sua mãe e saído de casa. Assim, sua jovem mãe, com 30 anos na época, precisou dar conta de criar duas filhas, uma de 9 anos e outra de 10 anos. As dificuldades foram muitas e de tanto trabalhar sem ter tempo para se cuidar, a jovem senhora faleceu, dois dias antes da formatura da detetive na faculdade. A irmã de Alycia, por nunca superar a separação dos pais, acabou se envolvendo e casando com um homem que era a cópia exata do seu pai. – Freud explica! – Pensava sempre que tinha que "acudir" sua irmã.
A detetive aprendeu, desde cedo, a se dedicar com afinco as suas tarefas, sabia que para não ter a vida que sua mãe teve, precisaria estudar muito, não depender de nenhum parceiro sentimental e conquistar um emprego estável.
Assim, por ter consciência do próprio contexto de vida, ela odiava o adjetivo prodígio, sabia que, na verdade, não tinha dom algum, o seu destaque era fruto do medo de repetir a história da mãe. Ela não era um gênio, era uma sobrevivente.
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— Nossa, quem é aquela gata? — Um perito criminal que acabava de entrar na sala perguntou para um colega que já estava no por ali. Alycia viu que eles olhavam para a mulher que ela havia entrado no ambiente há pouco. Revirou os olhos, não simpatizava muito com a loira. Resolveu continuar a observar o interorior da casa para ver se mais alguma coisa ali parecia estranha.
— Não sei o nome, mas tenho quase certeza que se trata da substituta do Furtado. — Alycia congelou ao escutar a resposta que foi dada ao perito. Ela sabia que Furtado ia se aposentar, mas não que as coisas já estavam tão encaminhadas. Gostava dele, desde que fora seu professor na faculdade, ela o via como algo semelhante a um pai.
Seus pensamentos foram interrompidos ao perceber que Furtado e a loira caminhavam em sua direção.
— Era o que faltava, agora terei interromper meu trabalho para dar atenção a minha nova chefe. — Pensou a morena ao ver os dois caminhando em sua direção, mas, por um instante, olhou para a loira e se sentiu hipnotizar. Até aquele momento nunca havia reparado nela de verdade.
A mulher era alta, loira de cabelos na altura dos ombros e ao sorrir, ainda que discretamente, franzia o nariz. Ela era realmente linda e se movia com charme. O que fazia com que todos a observassem, enquanto caminhava.
— Detetive Alycia Dias, essa é a Delegada Emily Rios. Rios, essa é Dias. — A voz de Furtado despertou Alycia de seu transe.
— Muito prazer. — Emily disse com um sorriso discreto e estendeu a mão para Alycia.
— O prazer é meu, Delegada Rios. — Foi a única coisa que a detetive conseguiu articular.
— Prefiro que me chame de Emily, sem delegada, doutora ou sobrenome. — Disse a loira sendo simpática e abriu um sorriso franzindo o nariz.
— Sendo assim, pode me chamar apenas de Alycia, como os colegas já o fazem.
Ambas assentiram com a cabeça e se olharam nos olhos. Alycia sentia algo estranho em seu corpo e isso lhe incomodou, desviou o olhar. A loira, por sua vez, percebeu uma sensaçao nova em si. Furtado, alheio ao mundo interior das duas mulheres, começou a falar sobre a pesquisa de Alycia e de como achava que ela deveria coordenar essa investigação. Para a surpresa da morena, a loira concordou. E mais, disse que havia lido o artigo da morena há alguns anos e que acreditava que ela seria a esperança para a solução do caso. A morena corou ao ouvir isso.
— Que graça ela fica constrangida! — Pensou a loira. — Sem Pressão, Alycia. FIque tranquila, mas me diga, o que temos até o momento? — Emily perguntou tentando amenizar o constrangimento da detetive e, ao mesmo tempo, agir de uma forma profissional. Mesmo achando aquele rosto vermelhinho lindo.
— Temos exatamente o mesmo MO dos casos anteriores. — Alycia disse, esforçando para se concentrar no caso.
— Alguma testemunha?
— Até o momento, nenhuma.
— Acha que pode ser um imitador atrás de fama? Afinal foram quase cinco anos sem agir.
— Embora seja cedo, posso garantir que não é um imitador. — Disse a detetive. — Na cena há um detalhe que nunca foi divulgado para a imprensa, a fita que une as rosas tem a palavra “obrigada” escrito. Então, é um parceiro da criminosa de cinco anos atrás ou é a própria.
Enquanto Alycia falava, Emily a observava com genuíno interesse. A morena tinha muita segurança em sua fala e, aos olhos da loira, ficava extremamente atraente explicando com tanta seriedade o caso. Alycia narrou a recente descoberta sobre a mensagem no celular do pai da vítima. E contou mais detalhes dos casos anteriores. Emily assentia com a cabeça, mas em silêncio.
— Estou impressionada e não sabia de tanto detalhes dos casos anteriores. Vou me inteirar de tudo para te auxiliar. – Falou a loira após ouvir toda a narrativa.
— Me auxiliar? Mas você será minha chefe.– Disse uma confusa morena arrancando um sorriso de Furtado.
— Sim, mas o que eu disse antes não foi da boca para fora ou apenas para concordar com Furtado. Esse caso merece ser chefiado pela melhor detetive da nossa unidade e essa pessoa é você. É claro que a unidade será chefiada por mim, mas o caso, sem dúvida é seu. Alycia, Furtado também foi meu professor. Sei que ele a treinou bem, confio no julgamento dele e no seu.
Olhou para o senhor grisalho e sorriu. Fez um aceno com a cabeça, como quem diz “ótimo, prossiga com seu trabalho!” e sem dizer mais nada, a loira deu uma volta na sala e se dirigiu para a parte externa da casa.
— Bom trabalho, menina! Você já a impressionou. — Foi o que disse Furtado e logo depois saiu acompanhando sua substituta.
— Mas eu ainda não fiz nada. – Pensou a morena olhando na direção em que a loira e seu chefe haviam saído.
A verdade é que a loira era mais legal do que Alycia imaginava, também pareceu muito segura e séria. Nada a ver com a imagem de "legalmente loira" que a morena tinha dela. E isso perturbou Alycia. Ficou alguns segundo refletindo sobre isso, mas logo percebeu que estava parada feito boba no meio da sala, sacudiu a cabeça para se livrar daquela enxurrada de pensamentos desconexos e voltou a se concentrar na tarefa que tinha nas mãos.
Cerca de meia hora depois, se sentia segura para deixar a residência e começar a investigação. Sabia que não era um caso de sequestro em que seria reivindicado pagamento do resgate, mas mesmo assim deixou uma equipe de prontidão no local. Além disso, deu ordens para que eles não deixassem os pais da vítima falarem com a imprensa de forma alguma.
Voltou-se para os pais de Júlia e disse que precisaria se retirar por algum tempo para dar continuidade ao caso, mas que em breve estaria de volta. Pediu ao pai da vítima, Robson, que comparecesse à delegacia em quarenta minutos. Avisou que uma viatura o levaria. Quando a mãe da vítima, Léia, a olhou de forma desconfiada, a detetive logo esclareceu:
— Calma, Léia. Ainda não há nada de novo no caso. Não estamos escondendo nada de você. Estou pedindo para o Robson ir até lá para formalizar o caso. — Mentiu, pois imaginou que se a mensagem que Robson recebera fosse de uma amante, Léia ficaria ainda mais arrasada. Quis poupá-la.
A mãe de Júlia se acalmou. Alycia se despediu e saiu. Não avistou Furtado ou a loira em lugar algum, perguntou para um polícial que fazia a guarda na portão, ele disse que eles já haviam saído. A detetive pegou seu carro e seguiu para a delegacia.
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Na delegacia, Emily estava na sala do delegado. A partir daquele dia, a sala seria sua. Antes, o combinado era que a transição aconteceria na semana seguinte, mas com o novo caso em andamento, foi preciso adiantar as coisas.
Ela observava a movimentação, quando viu a linda detetive Alycia entrar no local. Estava com uma feição séria. Não era para menos, o caso era seríssimo, mas ainda sim estava linda.
— Ela é nova, será que vai aguentar tanta carga emocional? — Perguntou para Furtado, mantendo os olhos fixos em Alycia. Furtado levantou os olhos dos papéis e também olhou para a detetive, que estava no corredor alheia aos lhares dos dois.
— Ela é mais forte do que pensam! — Respondeu com amabilidade,seu tom de voz transmitia carinho, o que sua substituta notou.
— Sente orgulho dela, não é?— Disse a delegada, agora olhando para o homem grisalho.
— Sim, como se fosse o pai dela, mas você verá que não é apenas por carinho que digo isso.
— Há algo que você possa me contar que não apareceu no dossiê de Alycia, Furtado? – O homem não queria expor sua pupila, mas conhecia Alycia e Emily bem, sabia que compartilhar a história da morena poderia ser uma boa ideia. Por ser muito fechada, talvez ela nunca o fizesse e a nova chefe a entenderia melhor se soubesse da sua história. Assim, contou a história de vida de Alycia. Tudo o que sabia sobre o pai, a mãe e a irmã.
— Impressionante que tenha se tornado essa mulher tão forte, o mais provável era que seguisse o caminho do crime ou algo semelhante. Era de se esperar que se revoltasse com a vida. — Disse Emily.
O homem, então, retomou a palavra:
— É impressionante sim, mas sua história deixou algumas marcas. Ela se tornou uma jovem tão centrada que se fechou para o resto do mundo. Vive para o trabalho. — Furtado falou.
Ambos ficaram em silêncio por algum tempo. Furtado terminou de assinar alguns papéis em sua mesa e disse:
— Chegou a hora, vamos reunir o pessoal?
— Talvez seja melhor fazer isso agora, sim. Daí já nos concentramos no caso dos raptos. Ambos assentiram, Furtado ligou para a secretária e pediu para que ela avisasse a todos na unidade que em 15 minutos haveria uma reunião.
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— Seu protetor está nos deixando. Quero só ver como você irá se sair sem um puxa sacos. — Um homem alto, forte e com cérebro do tamanho de uma azeitona falou para Alycia e logo se sentou ao seu lado. Alycia revirou os olhos e o ignorou. O homem sorriu provocativamente. A detetive sentia certa angústia por perder Furtado, não era seu protetor. Ela sabia que trabalhara duro para chegar onde chegou, mas ele era como um pai. Já sentia saudades antecipadas.
— Boa tarde!— Disse Furtado ao microfone e a reunião de transição começou.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Livs
Em: 01/07/2018
Oi, boa noite!
A história é muito boa, no primeiro capítulo tive vontade de ler sem parar. Porém, essa troca de narração pode deixar o leitor confuso. Ver a perspectiva de cada personagem é interessante, mas acaba deixando a história solta e trabalhalhosa para entender.
mtereza
Em: 15/01/2018
Muito legal a sua história adorei os detalhes na discrição das personagens principalmente da Alicia pq da Emily ainda precisamos saber a história
Resposta do autor:
Oi, Mtereza! :)
Agora já estamos conhecendo mais a Emily! <3
Amanhã tem mais, um bjo!
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