Boa noite,
Segue mais um capítulo especialíssimo da nossa pequena história.
Esperamos que aproveitem e curtam bastante e continuem nos dando o seu retorno e opinião que são importantíssimos para nós.
Xeros!
Capítulo 28 Poder Feminino
Toda segurança e firmeza adquiridas ao logo da aula pareciam se esvair a cada segundo, levando-a cada vez mais a hesitar em prosseguir sua explicação. Fora pega totalmente de surpresa por Delphine que estava ali, a assistindo dar aula. O nervosismo contrastava com a euforia de tê-la de volta.
Tê-la ali simplesmente fazia todos os dias sem notícias serem irrisórios. Ela havia prometido que retornaria a tempo para o seu aniversário, mas a surpresa de vê-la naquele momento, mexia demais com suas estruturas, quase a fazendo esquecer tudo que ainda havia planejado para a continuidade da aula, pois ainda faltava pouco mais de uma hora para ser concluída.
“Controle-se Cosima! Você consegue!” Disse para si mesma.
- Seja bem-vinda de volta Professora Cormier. – Cosima oficializou a presença dela. – Gostaria de assumir o seu lugar? – A sua voz pareceu fraquejar um pouco. Não sabia ao certo porque havia dito aquilo, visto que ela havia lhe solicitado tal favor. E se o fizera era porque Delphine confiava nela e na sua capacidade. Porém, de alguma forma pareceu não ser a merecedora daquele lugar. Chegando até mesmo a duvidar de sua competência mesmo tendo se preparado demais para dar aquela aula até o fim.
“JAMAIS duvide de você mesma Cosima! És uma das pessoas mais brilhantes que tive o privilégio de conhecer” Mesmo não verbalizando tais palavras, Cosima sentia cada uma delas em seu íntimo, lhe fazendo transbordar de orgulho e entusiasmo. “E acredito que me conheças um pouco, para saber que elogiar não é algo comum para mim.” Não poderia deixar de ser abusada. “Portanto, não se preocupe Cosima, está indo muito bem.” Delphine procurou lhe tranquilizar.
“É que você me surpreendeu Delphine.” Suspirou mais aliviada.
- Não Srta Niehaus, podes continuar com a sua explanação. – Disse solenemente – Ignore a minha presença. – “Como se isso fosse humanamente possível.” Todos os presentes focaram em Cosima que ensaiou retomar a sua apresentação, mas fora novamente e intimamente interrompida.
“Está fazendo um bom trabalho Cosima, embora tenha ignorado praticamente tudo o que lhe mandei” A provocou. “Um tanto quanto audaciosa, não acha?”
“É exatamente assim que você gosta!” Não ficaria por baixo, e essa resposta fez Delphine soltar uma breve gargalhada que atraiu as atenções para si. Desculpou-se com um gesto de mão e logo todos se voltaram para a mulher que pigarreava para dar prosseguimento a sua explanação.
- Bom, dando continuidade a nossa aula...
Cosima deu prosseguimento a sua fala reassumindo a sua recém-perdida segurança e a cada frase proferida captava ainda mais a atenção e o fascínio de Delphine. Que se deleitava com as observações e pontuações realizadas por ela, embora discordasse de algumas delas, contudo achou por bem não mais interrompê-la. Além de achar salutar para seus estudantes que pudessem ter outras perspectivas lhes sendo oferecida.
- Na entrada da chamada Era Moderna, a rainha Elizabeth I, da Inglaterra, também teve grande destaque, pois foi uma grande líder sem precisar casar-se para tal. Mais adiante, no século XVIII, temos mulheres como Catarina, a Grande, czarina da Rússia de 1762 a 1796, que foi considerada um(a) dos(as) déspotas esclarecidos(as), isto é, os reis – e rainhas - absolutistas que tiveram abertura para algumas das ideias reformistas e questionadoras propostas pelo Iluminismo e pelo movimento humanista.
Ela dava continuidade a sua aula sem aparente esforço algum e listava todas aquelas importantes e proeminentes mulheres com o claro intuito de ressaltar que elas sempre fizeram parte da História da humanidade embora não tenham recebido o devido reconhecimento. Além de terem tido suas histórias contadas por homens que, muitas vezes, atribuíam sentidos a partir de seu ponto de vista. Julgando-as e lhes atribuindo as suas perspectivas.
- E, finalmente chegando ao século XX, temos um número ainda mais significativo de importantes e atuantes mulheres das mais variadas áreas das artes, da cultura e da política. Podemos iniciar citando a vanguardista Camille Claudel que, por muito tempo, foi relegada à sombra de Auguste Rodin ou a grande Gestrude Stein, escritora e poetisa que marcou a cultura ocidental dos anos 1910, 1920 e 1930, a chamada Bélle Epoque francesa. – Olhou para seu amigo René, como se pedindo permissão para entrar em seu tema. Contudo, sempre procurava os olhos de sua professora como se buscasse a sua aprovação constante e o sorriso de canto de boca de Delphine e o brilho em seus olhos, lhe indicavam que ela estava gostando de tudo o que ela estava apresentando. – Impossível também não destacarmos o nome de Simone de Beauvoir que, como todos e todas aqui sabem foi uma escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política e feminista e teórica social francesa. – Disse denotando orgulho.
- Também não poderia deixar de citar a grande Frida Kahlo – Muitos ali suspiraram diante daquela referência . – Frida foi uma das personagens mais marcantes da história do México e eu diria que do mundo. Foi uma patriota declarada, comunista e revolucionária e que teve uma vida de superações e sofrimentos que refletidos em sua obra a tornaram uma das maiores pintoras do século XX.
Contudo, Cosima não fazia a menor ideia do que estava proporcionando à Delphine. Uma verdadeira viagem no tempo para os exatos instantes em que respirou os mesmos ares que aquelas mulheres e até mesmo conviveu com algumas delas. Fechou seus olhos e lembrou-se da primeira aula que teve com a Professora Beavoir e do quanto discutiam salutarmente uma vez que divergiam em alguns pontos filosóficos mas que acabaram desenvolvendo uma boa amizade e excelente colaboração intelectual. E também experimentou a saudosa e doída lembrança de Gertrude Stein, que foi uma das mais respeitadas e queridas Mestras da Ordem e com quem teve algumas das mais instigantes conversas que Delphine se lembrava.
“Ah Cosima, você teria adorado conhece-las” Suspirou para si mesma, não deixando sua orientanda “ouvir” seus pensamentos mais secretos. Ela ainda não estava preparada para tudo aquilo.
-... Ainda no campo da literatura temos uma das minhas autoras favoritas e que muito me influenciou no ato de escrever... – Aquela informação aguçou para, além do imaginável, a atenção de Delphine. Ansiava loucamente por mais e mais dela e, fazia uma breve ideia de qual nome seria dito por Cosima – A britânica Virginia Woolf... – A loura riu sutilmente das memórias que lhe acometeram. - ... Foi uma romancista, ensaísta e editora inglesa. Uma das principais escritoras do Movimento Modernista do século XX. Famosa por apresentar em suas obras as questões políticas, sociais e feministas. Sendo que um dos meus livros favoritos entre tantos é Mrs. Dolloway e, se permitem, gostaria de encerar minha fala com uma passagem que me é muito cara de tal obra. Fechou os olhos, assim como Delphine e ambas respiraram fundo antes que ela começasse a recitar:
“Sentia-se muito jovem; e, ao mesmo tempo, indizivelmente velha. Passava como uma navalha através de tudo; e ao mesmo tempo ficava de fora, olhando. Tinha a perpétua sensação, enquanto olhava os carros, de estar fora, longe e sozinha no meio do mar; sempre sentira que era muito, muito perigoso viver, por um só dia que fosse.”
Todos irromperam em aplausos acalorados e empolgados exceto Delphine, que ainda permanecia de olhos fechados, segurando as lágrimas que queriam vir à tona mediante a força daquelas palavras e tudo o que elas representavam para ela e sobre ela. Conhecia cada trecho daquele livro de cor e saber que ele era um dos favoritos de Cosima lhe deixou ainda mais encantada com ela. Como ela então reagiria se soubesse de toda a verdade a respeito dele? Tinha muita coisa para contar e explicar para ela. E com essa certeza em mente, abriu os olhos, certa que as lágrimas haviam retornado para sua origem.
Assistiu e esperou pacientemente todos os alunos conversarem e saudarem Cosima pelo brilhantismo da sua explanação e pôde então demorar-se ainda mais em admirar a sua figura que tanto lhe atraia quase na mesma intensidade que sua brilhante e singular mente. E ela estava ainda mais linda do que nunca, pois transbordava alegria. Seria essa por causa da sua belíssima apresentação ou teria algo a ver com sua presença ali? Sabia que era egoísmo, mas queria intimamente que fosse ela a fonte de alegria daquela lindíssima e brilhante mulher.
Por fim, só ficaram os Semideuses e alguns professores, celebrando-a com entusiasmada alegria. Marc a tomou nos braços e a girou no ar e logo todos a apertaram em abraços calorosos. Delphine pode sentir o quão sincero era o carinho de todos ali com ela e como ela conseguia, sem esforço algum, conquistar o carinho e a admiração de quem quer que se aproxime dela.
- Incrível semelhança... – disse para si mesma percebendo que a dúvida que mais a consumia desde que Cosima entrou em sua vida, começava a ganhar contornos de certeza. Mas hesitava em se deixar tomar por falsas ilusões. Precisava ter a total certeza de quem ela era.
- Desse jeito vai sufoca-la Sr Pinot! – A voz firme de Delphine fez todos os seus orientandos assumirem uma postura séria, mas logo suavizaram suas posturas quando viram o leve sorriso no rosto do sua orientadora. Cosima não conteve seu rubor ao senti-la tão perto de si. Era como se cada fragmento de seu corpo ansiasse desesperadamente pelo dela.
- Estávamos dizendo o quanto essa moça é talentosa. – Marc continuou.
- Professora, não tens ideia do quanto ela se preparou para essa aula e o quanto ela nos estressou afim de que tudo ficasse perfeito. Perdi as contas de quantas vezes vi essa apresentação! – A espontaneidade de Sophie só fez o rubor de Cosima ser potencializado ainda mais, o que encantava Delphine imensamente.
- Também não foi assim gente. – Cosima tentou se defender – Apenas quis preparar uma boa aula.
- Boa? Garota foi sensacional. – Louis a festejou.
- Acho que consegui transmitir tudo o que me planejei – Cosima disse coçando a cabeça com denotado nervosismo.
- O problema de Cosima professora, é que ela não sabe aceitar elogios e nem faz ideia do quanto é brilhante. – Amélia disse já ensaiando toma-la pela cintura, mas estranhamente algo a impediu, deixando a sua mão suspensa e parada no ar. Todos ali ficaram olhando aquela cena um pouco confusos exceto Cosima, que fazia uma breve e estranha ideia do que poderia ser aquilo que acontecia ali e teve a certeza disso quando encarou sua professora. Ela tinha uma das sobrancelhas erguida e os lábios cerrados em um sorriso reto. Linda, provocante, poderosa e não conseguia esconder seu ciúme. A vontade por ela só aumentava e os seus tão queridos amigos estavam ali representando um certo inconveniente.
- Cos, precisamos – finalmente – sair para nos divertirmos e comemorar essa aula divina. – Louis anunciou. – Nosso lugar de sempre?
- Eu ouvi celebração? – O tom provocante de Marion alertou a todos e fez com que Cosima virasse os olhos acintosamente e sem fazer a menor questão de esconder seu desgosto na intromissão daquela indiscreta mulher. Ainda estava irritada com as investidas dela e bufou audivelmente quando ela enlaçou Delphine pela cintura, que fora pega de surpresa, pois tinha sua atenção focada em Amélia.
A loura olhou para sua cintura e depois para Cosima e chegou a pensar em se divertir um pouco com ela, mas algo a fez mudar de ideia e sabia exatamente o que era. A urgência de estar com ela, de tê-la novamente em seus braços. A semana que passou longe dela pareceu uma eternidade e Delphine sabia muito bem o que aquilo representava. Desistiu de se enganar e achar que passou essa ultima semana sem entrar em contato com ela por estar muito focada e atarefada nas missões da Ordem, mas a verdade era que precisava desesperadamente conciliar seus sentimentos. Tudo que veio a tona após provar os lábios tão ansiados. Assim como tudo o que representou o seu ultimo encontro com seu inimigo.
Mas sabia que se iludia, pois a cada segundo de cada dia só aumentava a vontade perturbadora de sentir os doces lábios de Cosima, mas queria muito mais. Sabia que havia prometido e que havia falhado com sucesso em parte de sua promessa e estava prestes a sucumbir à luxúria que lhe consumia a razão.
Mas havia gente demais ali!
“Tem gente demais aqui” Cosima pensava o mesmo e aquela mensagem era o que Delphine precisa ouvir.
- Srs e Sras – olhou de soslaio para Marion e se desvencilhou – Acredito que todos e todas querem celebrar à Srta Niehaus mas antes disso – Delphine pausou sua fala, depositou suas mãos nos bolsos e maneou a cabeça levemente para a direita. Rapidamente olhou para todos que estavam ali e cerrou sua boca – E terão a sua oportunidade. Contudo... – virou-se para os Semideuses – Imagino que precisam se dirigir ao café para os preparativos – lhes piscou um dos olhos e os cinco mudaram suas posturas e se entreolharam como se lembrassem de algo simultaneamente.
- Isso mesmo professora! – René se adiantou – Temos mesmo de ir – Apressou os amigos que atabalhoadamente gaguejaram e se despediram certos que iriam se reencontrar muito em breve.
- E...Marion... – a mulher morena lhe olhou sedutoramente – Acredito que tens uma pilha de artigos para corrigir e... – ponderou um pouco – dois (?) encontros marcados para essa noite! – A mulher piscou três vezes, olhando ao redor e saiu da sala sem se quer se despedir de Cosima que assistia a tudo incrédula, pois ela estava testemunhando um pouco mais da habilidade de Delphine.
Ainda viu a professora Bowles saindo e quase batendo a porta da sala atrás dela e então Cosima hesitou por uma fração de segundo em olhar para a mulher diante de si, pois tinha a claríssima certeza que derreteria com o que iria encontrar no olhar dela e não estava errada, pois sentia o peso do olhar dela sobre si assim como sentiu a transformação impressionante da atmosfera daquela sala e logo foi envolvida pela soberba energia que emanava dela e tal sensação lhe atingia como ondas a cada respiração dada por Delphine e sentida no intimo de Cosima pois, sem nem mesmo perceberem voltaram a se conectar.
De canto de olho, a aluna viu sua professora dar o primeiro passo em sua direção e então juntou todas as suas forças e a olhou nos olhos e não estava nem um pouco errada. Foi arrebata pele desejo inominável que incandescia dos olhos de Delphine que caminhava decidida em sua direção.
Cosima não recuou. Pelo contrário, partiu ao seu encontro e em poucas respirações depois, estavam a míseros milímetros uma da outra e o inicial desejo que dilacerava a ambas misturou-se a uma ternura inexplicável e então Delphine tomou o rosto de Cosima em suas mãos e essa precisou fechar os olhos para poder suportar o turbilhão de sensações que lhe açoitava.
Ambas queriam. Necessitavam. Ansiavam.
- Senti sua falta! – Cosima sussurrou.
- Vem cá! – Delphine demandou e comandou o fabuloso beijo de reencontro. Como se ambas as bocas se conhecessem há tanto tempo, se exploraram e se provaram e a necessidade crescente de ambas fez com que Cosima assumisse, inesperadamente, o comando daquela “dança”, puxando Delphine pela cintura e a guiando contra si até se chocarem contra o birô e, antes que a loura pudesse se quer imaginar em recuar, a enlaçou pelo quadril com suas próprias pernas, cruzando-as e comprimindo a bunda de sua professora.
Delphine foi completamente surpreendida por aquele gesto e abandonou os lábios de Cosima tão somente para conferir o que ela fazia com as pernas. Voltou seu rosto para ela e a encarou com intensidade. Não era capaz de pensar racionalmente naquele momento e só conseguia focar na mulher sensacional diante de si. Na força das coxas firmes que lhe envolviam e que agora apalpava enquanto se perdia no olhar dela e um novo beijo teve inicio no exato instante em que se sentiu inundar de tesão.
Cosima queria. Ela também queria então por que não? Por que não tê-la sobre seu birô, em sua sala, em meio a tudo que dominava? A resposta se mostrou para ela com uma clareza transparente.
Cosima merecia muito mais do que aquilo. Muito mais do que sex* sobre sua mesa de forma inesperada ou desesperada. Pausou a massagem que fazia nas coxas dela e pousou ambas as mãos sobre a mesa e interrompeu aquele alucinante beijo. Ambas ofegavam num ritmo impressionante e a morena fez menção a protestar e questionar aquela atitude mas já a esperava. Porém, tinha a certeza que aquele estonteante mulher diante se si a queria desesperadamente, pois ela mordia o próprio lábio com muita força e unhava a superfície da mesa.
“Cosima...”
“Xiii... Eu sei, eu sei...” Disse tomando o rosto dela em suas mãos, beijando-lhe ambas as bochechas e depois a testa, demoradamente.
- Eu sei Delphine...Eu sinto a mesma coisa. – Tentava consola-la. – Prometo pegar leve com você. – Divertiu-se da careta que a outra fez.
- Pegar leve? Jura? – Apontou para as penas dela que ainda estava “prendendo-a”
- Ah sim! – Fingiu demência e as retirou lentamente, mas não antes de desferir um ultimo apertão, provocando um ultimo contato de seus quadris, arrancando uma espécie de rugido desferido por Delphine que procurou estabelecer uma distância segura da tentação diante de si.
- Bom...- procurou se recompor da melhor maneira possível. – Acho que é a minha vez de lhe parabenizar por uma excelente aula ministrada. – Disse enquanto vestia o seu casaco de couro marrom escuro. Cerrou os olhos quando viu o estufar de peito de sua orientanda e seu sorriso carregado de orgulho escancarado. – Pensei que a Srta tivesse problemas em aceitar elogios.
- Mas esse não foi qualquer elogio! – carregou de pompa a sua voz. – Estamos falando de um elogio da PhDeusa Delphine Cormier em pessoa! – Abriu a porta e curvou-se para ela indicando com a mão que ela deveria passar. Delphine gargalhou e passou pela porta adorando aquele clima descontraindo com sua orientanda. – Aliás, eu gostaria de saber a origem desse apelido. – Delphine a olhou enquanto seu sorriso se desfez um pouco, causando estranhamento em Cosima.
- Pergunte a quem o inventou! – Delphine se limitou a dizer já diante do elevador. Cosima a viu há alguns passos a frente e a alcançou assim que as portas se abriram e instantaneamente ambas se recordaram da ultima vez em que estiveram juntas e sozinhas naquele mesmo local. – Srta... – Foi a vez de Delphine fazer as horas para Cosima entrar.
- Não tenho certeza se é seguro! – Cos disse verdadeiramente receosa, hesitando antes de entrar e quando se virou viu que Delphine continuou do lado de fora e a olhou estranhando aquele gesto e logo as portas começaram a se fechar. – Você não vem? – reteve as portas com a mão e viu a dúvida pairar nos olhos tão queridos. – Delphine! Somos duas mulheres adultas e perfeitamente capazes de dividirmos um elevador sem que nada aconteça. Venha! – ordenou. O que provocou uma erguida se sobrancelha de Delphine.
- “Venha?” Hum! – Bufou levemente mas entrou no elevador e tratou de se manter o mais afastada possível dela. Cosima tentou, com todas as suas forças segurar o riso, mas não foi bem sucedida e acabou rindo junto a ela.
Felizmente para ambas a gargalhada compartilhada lhes impediu de pensarem no desejo absurdo que sentiam uma pela outra e assim que o elevador chegou ao térreo, as pessoas que o esperavam tiveram um susto, inclusive Gracie que achou esdruxula a cena de sua chefe gargalhando tão levemente.
- Srta Johanssem! – Delphine tentava recobrar o folego e desviar das pessoas. – Esses são os trabalhos que pedi?
- Sim Sra. Cormier. Foram deixados em seu escaninho. – A jovem lhe entregou uma pilha de papeis dentro de uma caixa de arquivo de papelão.
- Olá Gracie. – Cosima a cumprimentou.
- Oi...Cos...Quer dizer, Srta. Niehaus... – a jovem se corrigiu temendo que a sua chefe condenasse a sua intimidade com sua orientanda. – Professora, precisa de algo mais?
- Não Gracie. Já podes ir e... Tenha um bom final de semana. – A jovem ruiva voltou-se para ela com ar surpreso e despediu-se de Cosima com um aceno de mão.
- Bom... Por mais que eu não queira, tenho de ir. – Cosima lamentou-se enquanto alcançavam o final da escada que dava acesso ao estacionamento do Bloco A.
- Lhe entendo perfeitamente! – Delphine parou diante dela. Uma leve garoa caia e a noite começava a esfriar.
- Venha comigo! – Cosima lhe pediu com sinceridade. Os olhos pidões dela derretiam todas as defesas de Delphine que temia (será mesmo?) o que poderia acontecer ao final da noite se a passasse com Cosima. E olhou para a caixa que tinha em mãos.
- Cosima, eu adoraria, mas acho que não seria prudente. - suspirou visivelmente derrotada – Além do mais, o dever me chama. – indicou os trabalhos que carregava. – Vá se divertir com seus amigos. Algo me diz que eles prepararam algo especial para você! – Lhe piscou um dos olhos. Cosima a olhou com ar de dúvida, mas logo compreendeu o que ela estava dizendo. – Mas, por favor, finja surpresa.
- Pode deixar... – Ficaram se olhando e esperando qual deveria ser o próximo passo a ser dado naquele momento e ambas pareciam não saber, mas algo precisava ser feito pois já estava se tonando desconfortável aquela cena.
- Bom, preciso ir – Delphine piscou os olhos e indicou sua limusine mais atrás. Afastou-se sem ao menos se virar.
- Eh...eu também! – Cosima olhou para seus pés. – Mas... – Delphine parou de súbito. – Quando...nos veremos novamente? – Era a pergunta que ambas queriam fazer uma a outra e se dependesse de Delphine, seria a todo instante mas ela entendia que Cosima precisava ter sua vida e encontrar seus amigos. Além de perceber uma certa sombra no olhar tão doce dela. Algo que a estava incomodando e ela, por alguma razão, não queria compartilhar.
- Não sei ao certo Cosima... – hesitou – Mas... – Causou uma expectativa demasiada na outra que a olhou com expressão quase infantil – Mas tenho que lhe entregar o seu presente. – Lhe sorriu docemente e aquela informação atingiu diretamente o coração de Cosima que se derreteu e precisou conter a vontade de jogar-se nos braços de sua professora. Mas no instante seguinte o sorriso se desfez, pois a sombra que Delphine viu, avultou-se ainda mais. – Algum problema Cosima?- Após um profundo suspiro, ela respondeu.
- Shay! – Delphine sentiu uma leve pontada em seu estômago ao ouvir aquele nome. – Ela está chegando amanhã. – evitou olhar nos olhos de Delphine que buscava os dela.
- Ei? – aproximou-se dela com forçada tranquilidade. – Tudo bem! – tocou em seus baços – Ela ainda é sua... – hesitou e preparou-se para o gosto amargo que aquela palavra teria em sua boca – namorada! – Cosima a encarou e percebeu que aquilo também não era fácil para ela.
- Sim... “Ainda” é! – Como se precisasse se justificar de algo – Mas será boa a vinda dela. Pois poderemos conversar. Não seria justo terminar com ela por telefone. – Cosima disse e viu o brilho mais luminoso tomar conta de toda a ires escura dos olhos de Delphine. E mais uma vez constatou que não estava sozinha naquele sentimento. Aquela mulher poderosa também parecia sentir o mesmo e compartilhar de cada instante de ansiedade e necessidade que sentia. Mas antes precisava tentar resolver sua história com Shay. Pois não se considerava mais capaz de resistir a absurda atração que sentia por Delphine. Achava que estava prestes a enlouquecer.
- Não se preocupe. Guardarei seu presente para lhe entregar assim que possível. – Despediu-se docemente debruçando-se em sua direção. Cosima ainda entreabriu a boca para recebê-la, mas ela, divertidamente a provocou, beijando-a nas bochechas com certa demora.
“Você não tem jeito Delphine Cormier!” Essa gargalhou alto e se virou para ir embora.
“Divirta-se Ma chérie!”
Cosima a viu se afastar caminhando em toda a sua exuberância e, como de costume, atraindo todos os olhares das pessoas que cruzavam seu caminho. Ela parecia não perceber ou não se incomodar com aquilo pois entrou em sua limusine sem dar atenção para ninguém ao seu redor. Cosima suspirou e ergueu a cabeça contemplando as estrelas e disse baixinho.
- Delphine, você será minha!
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- Dogra! – praguejou enquanto tentava acertar o buraco da fechadura em sua porta. Sua coordenação estava visivelmente comprometida devido ao alto ter alcoólico em seu organismo. Resistiu o quanto pode aos prazeres do absinto, mas findou sucumbindo a ele e as investidas dos seus amigos, que haviam lhe preparado uma pequena festa surpresa no Les Deux Maries, inclusive retribuindo o presente que ela lhes deu. Ou seja, cada um deles escolheu uma canção para cantar para ela. Ela riu ao lembrar da quase total falta de talento musical de todos exceto pela surpreendente performance de You´ve Got a Friend lindamente cantada por Sophie.
Finalmente conseguiu entrar em seu apartamento enquanto cantarolava o refrão da música e jogava a sacola com todos os presentes que ganhara dos amigos e tratou de tomar o máximo de água possível, na clara tentativa de evitar uma nova ressaca fenomenal, já que teria um final de semana agitado e isso envolvia buscar Shay no aeroporto em algumas horas.
“Droga Shay!” Jogou-se no sofá e abraçou-se com a garrafa de água de onde bebia diretamente. Arrancou os sapatos dos pés, os sacudindo longe e se deitando ali mesmo sentindo que o sono já começava a lhe dominar. E, ao longe, ouviu os acordes de Brave tocarem em seu apartamento. A principio não entendeu bem, mas logo a consciência lhe disse que tratava-se do seu celular. Ergueu-se com certa dificuldade para alcança-lo e assim que o pegou, estranhou quem lhe ligava.
- Shay? – Conferiu as horas e isso só a alertou ainda mais. Pois ela deveria estar no avião, sobrevoando o atlântico naquele momento. Algo lhe alertou. Sentou-se e atendeu a ligação.
- Alô Shay? Está tudo bem?
- Oi Cos... – o tom triste da mulher a preocupou. – Comigo sim, não se preocupe mas...Não consegui embarcar. – E ficou em silêncio. Cosima também não conseguia processar aquela informação, da mesma forma que não conseguia decidir o que sentir. - Cos?
- Eu...eu...Estou aqui. O que houve? Você tinha me mandado uma mensagem já do aeroporto, prestes a embarcar... – Esforçou-se para não deixar a embriaguez transparecer em sua voz.
- Pois é... Eu já estava prestes a fazer o check in quando recebi uma chamada urgente do hospital. Dois de meus pacientes do estudo que faço passaram mal e precisavam de mim lá. Ainda tentei ver se conseguiria pegar o voo seguinte para chegar no domingo mas já não havia mais acentos disponíveis. – Disse com clara decepção na voz. Cosima processou cautelosamente o que ouvia e tentava escolher as melhores palavras para dizer. E percebeu que ficou realmente triste com aquela notícia. E não sabia exatamente o porque.
- Poxa Shay... Lamento muitíssimo. Mas... Como eles estão? Seus pacientes.
- Um deles veio a óbito! – a voz chorosa a comoveu. Voltou-se a deitar com o telefone no ouvido e deixou que sua namorada lhe relatasse tudo. Ouvia cada palavra e só pensava na frustração que começava a comprimir suas entranhas. Havia feito planos para o seu aniversário com ela e também havia decidido conversar com ela e tentar dar o devido desfecho que aquela mulher merecia.
Passaram mais uns longos minutos conversando e terminaram aquela ligação porque Shay se deu conta da hora em Paris e de que a voz sonolenta de sua namorada a denunciava.
- Por favor, não fique chateada comigo! – Shay lhe pediu. – Esses são os males de namorar uma médica. – Cosima riu sem muita vontade. Despediram-se sem combinar mais nada, pois tudo dependia do quadro do paciente da Shay. E, assim que a tela de seu celular escureceu, ela se sentiu preencher pelo sono e por uma estranha tristeza. Adormeceu.
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- Finalmente você acertou o caminho da cama! – Helena comentava enquanto terminava de preparar uma boa quantidade de café.
- Meu corpo pedia cama Helena. Ainda mais após essa semana maluca que tivemos e por Manu conseguir ocupar toda a extensão da cama mesmo sendo tão pequena. – Lembrou-se das sensações contraditórias que vivenciou nos últimos dias com a alegria gerada pela Pequena Manu e por toda a tensão das missões da Ordem. - Tens notícias da Siobhan? – indagou enquanto “roubava” a caneca de café que sua protetora havia enchido para ela mesma. Helena cerrou os olhos e a olhou com fingida indignação.
- Sim. E como você bem presumiu, ambas as casas estavam vazias! – Helena repassou o tablet para Delphine que viu a mensagem enviada por Siobhan juntamente com as fotos.
- Bom, eu imaginei que ele as esvaziaria depois do que aconteceu em Istambul. – Espalhou creme de ervas finas em uma torrada. – Mas pensei que ele prepararia algum tipo de emboscada para nós. – abocanhou sua torrada.
- Ele teve medo Delphine! – Helena disse enquanto retribuía a “gentileza” de sua amiga e lhe roubou a torrada seguinte. – Além de não querer ser novamente derrotado por nós. – Delphine a contemplou. Tão segura de si e não pôde deixar de pensar que parte importante do medo que consumia Lamartine provinha de Helena.
Lembrou-se da expressão estarrecida e assustada do homem quando ele percebeu que não teria influência alguma sobre quem protegia a Mestra e a Ordem. De fato, Delphine jamais teve uma Protetora como Helena e com tal habilidade. A de ser completamente imune a qualquer outra habilidade. Isso conferia a Helena uma vantagem impressionante que somada a toda sua destreza e coragem, lhe atribuíam o tão merecido orgulho. Novamente sentiu-se feliz em tê-la por perto e desejava ao máximo que ela também encontrasse a felicidade.
- Mas... Como estão as coisas com a Stella? – Delphine perguntou em tom divertido. Helena a olhou com fingida indignação e sorriu em seguida. Adorou poder passar algum tempo com ela e sentia que algo dentro dela crescia em relação àquela mulher.
- Não sei ao certo Del... A Stella sempre foi muito escorregadia. Além de sempre existir a sensação de que ela está sempre me escondendo algo. Algum segredo.
- Helena...Ela é uma espiã! Ter segredos é o trabalho dela. – Delphine voltou para a sala seguida por sua protetora.
Provavelmente era isso mesmo, mas não conseguia afastar a sensação que mais a incomodava. A descoberta que fizera na mansão em Dublin. A de que havia sido Siobhan quem entregara as informações da Ordem para Cosima. Lembrou-se da difícil conversa que teve com ela e de como se sentiu mal em confrontá-la daquela maneira. Mas era o seu dever enquanto Protetora e lembrou-se das palavras de Siobhan
- “Muito bem Helena. Eu não esperaria outra coisa de você. Mas tenho um pedido muito importante para lhe fazer. Confie em mim! Acredite que tive bons motivos para fazer o que fiz. E tenha certeza, jamais traí a Ordem ou planejo algo ruim para ela.”
Helena ponderou o que ela queria lhe dizer e o que representava aquele pedido. Sempre confiou cegamente em sua mentora e precisou se esforçar ao máximo para aceitar o que ela havia lhe solicitado. E ainda havia Stella que insistiu em defender Siobhan. Mas mesmo que S não lhe dissesse, ela começou a tirar suas próprias conclusões acerca das motivações de S.
- Será mesmo? – disse.
- Será mesmo o que Helena? – Delphine saia do banheiro. Helena assustou-se.
- Nada demais. Apenas pensei alto. – Justificou-se. A mulher lhe lançou um olhar curioso. – Mas... Quais os seus planos para hoje? – Mudou acintosamente de assunto.
- Trabalhar! Tenho vários artigos para ler e corrigir. Preciso me lembrar que sou uma professora nessa vida! – piscou um dos olhos.
Helena ponderou enquanto a contemplava e só poderia imaginar tudo o que aquela mulher precisou sacrificar ao longo de sua existência. Foi apresentada a várias das identidades que Evelyne Chermont adquiriu ao longo dos séculos de sua existência e pensou que ela mesma não teria a menor condição de vivenciar nada do que ela passou. Acompanhar a passagem do tempo e ver todos os entes queridos envelhecerem e morrerem. Isso seria demais para ela.
- Portanto, podes aproveitar o seu sábado minha querida. – disse enquanto vestia uma confortável calça de algodão que completava o seu modelito do sábado, juntamente com uma camisa de alças e o seu casaco favorito.
- Grata! Então, tenha um ótimo dia Delphine. E sabes que, se precisares, é só ligar.
Delphine a viu sair de seu quarto e ouviu a porta de seu apartamento ser fechada, só então arriou os ombros e se deixou preencher por uma estranha tristeza. Já que imaginava que naquela hora Cosima estava com a sua “namorada” enquanto a sua vontade era só de estar com ela. Tentou afastar a imagem das duas juntas de sua mente e tentou focar sua atenção no que se predispôs a fazer. Foi então que, sem anuncio algum, a sentiu.
“Cosima?”
- Ela está...triste? – Experimentou um vislumbre de certo pesar assombrando sua orientanda. E sem mesmo pensar no que estava fazendo, alcançou seu celular e lhe ligou. Três toques depois pensou que ela poderia estar com a Shay e quando atinou para desligar a ouviu.
- Oi Delphine... – ouvir sua doce voz lhe fez suspirar.
- Bonjour Cosima! Você...está bem? – Ela sabia que não mas precisava ouvi-la. O silêncio a alertou. – Cosima? Não estou lhe atrapalhando não é?
- De jeito nenhum! Estou sozinha! – anunciou. E aquela informação alertou a loura que decidiu esperar, pois sabia que ela lhe explicaria. – A Shay não vem! – Era notória a tristeza na fala dela e aquilo fez com que uma onda gelada percorresse o corpo de Delphine pois ela presumiu que aquilo se devia ao fato dela ainda gostar da sua namorada.
- Claro que eu gosto dela Delphine! – Ela assustou-se! Cosima estava em sua mente sem que nem percebesse isso. – Mas estou triste pois eu queria que ela viesse para que eu pudesse conversar com ela em definitivo e... – Foi baixando o tom de voz e pausou ao final.
- E? – Delphine a questionou.
- Nada...é bobagem.
- Não Cosima, se estas triste, deve haver um bom motivo.
- É que...eu tinha planejado passar o meu aniversário amanhã com um passeio por Paris, pois eu ainda não o fiz desde que cheguei aqui. E... eu teria a companhia da Shay. Pode parecer bobagem, mas...nunca gostei de passar esse dia sozinha. – Disse cabisbaixa.
Do outro lado da linha Delphine se deixou comover pelo leve pesar de Cosima e algo maravilhoso passou por sua mente.
- Não precisas passar esse dia sozinha! – carregou de significado aquela frase.
A mensagem foi passada! O convite estava subentendido!
Cosima se sentiu estremecer. Seria possível que Delphine estaria se oferecendo para passar o seu aniversário junto à ela? A loura ansiava a resposta de sua aluna, mas mesmo antes de obtê-la já acessava uma série de sites em seu computador.
- Isso é um... Convite Srta Cormier? – foi a vez de Cosima carregar de segundas intensões aquelas palavras. Ela não viu, mas Delphine ergueu uma sobrancelha e riu de canto de boca. Tomada pela excitação de poder estar ao lado dela em um dia tão especial.
- Sim Cosima! Um convite e...Um pedido. – sussurrou ao final.
“Pedido?” Cosima teve seu coração completamente aquecido, assim como outras partes de seu corpo.
- Aceitas? – ela estava verdadeiramente ansiosa. E Cosima percebeu isso e pensou em tripudiar um pouco dela, mas estava tão eufórica que desistiu.
- É claro que aceito!
- Mas tem uma condição! – Delphine disse solenemente.
-Diga! – Cos indagou com certo nervosismo.
- Você me deixar lhe mostra a “Minha Paris”! Não aquela cidade que está em catálogos de turismo. Isso será possível? – Cosima estava de boca aberta, completamente incrédula. O ar lhe faltou e seu coração pulsava em todas as partes de seu corpo.
- Del...Delphine... Eu adoraria ver Paris pelos seus olhos. – Foi a vez da loura se derreter. – Mas... vi que a previsão do tempo amanhã é de neve e frio. – Disse tristemente. Delphine inflou o peito e sorriu audivelmente. – O que foi?
- Não se preocupe com o tempo Cosima. Só esteja pronta às 10h! – E lá estava o tom autoritário que aborrecia Cosima na mesma intensidade que a atraia.
- Estarei Delphine! – E desligaram em meio às promessas do que seria o dia seguinte.
******
Cosima mal conseguiu dormir, tamanha era a sua excitação pelo seu dia, e naquele domingo, essa excitação era muito maior. Sempre adorou seu aniversário e tudo que o envolvia pois desde que se lembra, seus pais sempre lhe preparavam algo especial tão somente para ressaltar o quanto ela era amada. E nesse ano, mesmo a distância, sua mãe tentou fazê-lo. E foi a primeira pessoa a lhe parabenizar, enviando um vídeo editado por ela contendo uma coletânea de fotos e imagens de Cosima, que ficou bastante orgulhosa de sua mãe. Pois ela estava perdendo o medo da tecnologia.
Logo em seguida recebeu uma vídeo chamada de Shay que aparentava estar exausta após um longuíssimo plantão de quase trinta e seis horas. E o tom da conversa foi estranho de ambas as partes, pois a loura só se lamentava e se desculpava por não estar com Cosima e essa estava triste e se sentindo um pouco culpada por estar aliviada com a não vinda de sua – ainda – namorada.
Lembrou-se da longa conversa que teve com Nomi e Nita na noite anterior, quando marcaram de assistir “juntas” a estreia de uma de suas séries favoritas. E suas amigas lhe disseram que ela não deveria se sentir daquela maneira pois o que estava acontecendo com Cosima era perfeitamente aceitável e que elas deveriam ter uma conversa honesta pois as meninas disseram que a própria Shay estava sentindo a Cosima cada vez mais distante.
Sons repetidos de mensagens de celular chamaram sua atenção. Assim que checou foi inevitável abrir um escancarado sorriso. Seus novos cinco amigos combinaram de lhe enviar mensagens perfeitamente sincronizadas, onde cada uma continha um trecho do “parabéns a você”. Lhes respondeu um a um e depois ficou encarando a tela do seu celular pensando que, talvez, ela lhe mandasse uma mensagem de bom dia.
- Deixe de ser boba Cosima! – disse para si mesma. – Você vai passar o DIA com ela... Aliás, não qualquer dia... SEU dia mais especial. – Com aquela convicção, saltou de sua cama quando percebeu que não adiantava mais permanecer ali e algo lhe ocorreu. Foi em direção da janela de seu quarto e com certa apreensão abriu as cortinas e para sua total surpresa e contrariando todas as previsões climáticas, um lindo e brilhante sol iluminava aquela manhã de março. Riu como uma criança em manhã de natal e com a sua característica alegria, correu para tomar banho já tendo em mente o que iria vestir e tentando descobrir quais os locais seriam visitados por elas.
Mal conseguiu comer nada, pois o frio gélido da ansiedade, congelava suas entranhas. Checava o relógio a cada cinco minutos o que só lhe deixava ainda mais nervosa.
- Deixe de ser tola Cosima! – Se repreendeu diante do espelho em seu quarto. Avaliou sua roupa e optou por uma combinação com uma blusa de crochê vinho com um sutiã num tom de vinho mais escuro. Vestiu uma insultante saia curta de couro sintético cor de telha. Calçou botas de cano médio e bem confortáveis com um pequeno salto e optou por um casaco longo também vinho. Estava como de costume...
“Linda!” Cosima assustou-se com aquilo, mas em seguida percebeu do que se tratava. “Agora me deixe vê-la com meus próprios olhos.” “Desça!” Era Delphine que já a aguardava pontualmente em frente ao prédio de Cosima e havia estabelecido aquela poderosa conexão, exatamente no memento em que Cosima se admirava diante do espelho.
Caminhou lentamente em direção da porta, respirando fundo e sentindo a alegria ser potencializada a medida que descia cada degrau. Sentia-se como se estivesse sendo envolvida por um delicioso e caloroso abraço e alcançou a porta de seu prédio e assim que a cruzou a viu. Parada, encostada em um belíssimo carro preto, com ambas as mãos nos bolsos de uma calça cinza de cintura baixa e tecido leve. Vestia uma linda e delicada blusa branca sob um leve casaco preto de mangas que iam até seu antebraço. O cabelo estava preso em um coque despretensioso e com alguns cachos caindo do lado esquerdo de seu rosto e para completar o lindo e suave visual ela usava um colar fino e longo com um belíssimo pingente triangular e no rosto não havia maquiagem alguma, apenas um elegantíssimo óculos escuro marrom.
Ficaram paradas por alguns segundos se observando, se contemplando e naquela apreciação mutua e silenciosa, as promessas para aquele dia foram feitas e ambas tinha a convicção de que estavam prestes a viver um dia inesquecível.
Fim do capítulo
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