Capítulo 14
Levantamos as sete com o despertador tocando, ainda estava sonolenta quando entrei para tomar um banho, coloquei a farda e desci junto de Clara para tomar café, Davi já nos esperava a mesa, Clara se recusou a comer dizendo que passaria mal ela estava muito pálida e fungava a todo momento controlando o choro, comi em silêncio o ar parecia pesado e carregado de uma melancolia sem igual, após o café fomos para o velório, eu e Davi em um carro, Clara nos seguiu com o dela até metade do caminho, iria resolver os últimos detalhes do enterro e depois nos encontraria lá, desejei ter ido com ela, mas Davi me impediu dizendo para lhe dar um tempo.
O corpo ainda não havia chegado, mesmo assim algumas pessoas já se reuniam na pequena capela onde seria velado, Davi foi falar com alguns parentes do pai, procurei me manter afastada em um canto, estava ali por Clara, me sentia uma intrusa entre aqueles desconhecidos, então apenas fiquei no meu canto esperando por ela, notei que algumas pessoas ficavam me encarando desconfiadas, muitas passavam por mim franzindo o cenho, tinha alguma coisa errada acontecendo ali, pensei que fosse por conta da farda, pensei que pudessem estar estranhando alguém do exército ali, até uma senhora se aproximar, ela tinha um olhar assustado e apertava o terço que trazia nas mãos com força rezando baixo, Davi quando viu que ela vinha em minha direção tratou de puxá-la pelo braço para o outro lado do salão, que diabos estava acontecendo, os dois gesticulavam agitados, dois homens se juntaram a discussão que parecia ficar cada vez mais acalorada, apontavam para mim a todo o momento, dei de querer me aproximar, mas Davi fez sinal para que me manter-se longe.
Só quando Clara apareceu que a discussão teve fim, embora muito curiosa entendi que aquele não era o melhor momento para perguntar o que estava acontecendo, minutos depois o corpo chegou, os dois filhos foram para o lado do caixão receber as condolências, me postei ao seu lado o tempo todo, quando algumas pessoas usavam palavras emotivas para se despedir e Clara acabava por não agüentar a emoção e sucumbir as lagrimas eu a envolvia em meus braços deixando que chora-se sobre meus ombros, algumas pessoas me olhavam com alguma curiosidade outras, porém com abismo ou até mesmo medo, senti como se pertencesse a outro mundo.
Já no final da tarde quando o carro funerário chegou para levar o caixão, minha atenção foi tomada por um casal de senhores que acabara de chegar, eles se aproximaram do caixão, a mulher chorava muito e o velhinho ao seu lado a consolava com tanta ternura que me encantava, logo após prestar seus sentimentos para o morto eles se dirigiram aos filhos, primeiro cumprimentaram Davi e em seguida Clara, está ainda abraçada a mim, sorri para eles como os encorajando vir, senti uma inexplicável simpatia por eles, o senhor congelou no lugar quando seus olhos cravaram em mim, a mulher me olhou por alguns segundos desacreditando no que via, ela me juntou pela gola da farda me sacudindo chorando desesperada.
-Você... N-não pode... Você, não não...
Ela gritava e gritava e começou a me dar tapas pelo corpo, cada vez mais alterada, o senhor despertou do transe e a acompanhava aos berros, olhei para Clara assustada, Davi se meteu na cena se colocando entre mim e o senhor que avançava para me alcançar, cansada de me bater e senhora se atirou sobre mim me abraçando apertado, estava tão surpresa com aquilo que retribuí o gesto no automático, quando meus braços a envolveram a velhinha desmaiou roubando a atenção do marido que ainda se esforçava em passar por Davi para chegar até mim, todos que estavam em volta olhavam pra nós, Clara aproveitou o momento para me tirar de lá as presas.
–Sabe chegar até minha casa? –ela me arrastava até o estacionamento as presas.
-Clara, o que foi aquilo? O que está acontecendo? –nunca me senti tão confusa e assustada em toda a vida como estava agora.
-Sabe ou não Isabel?
-Acho que sim, mas...
-Então vá.
Ela atirou as chaves do carro pra mim e tornou a entrar no velório correndo sem nem olhar pra trás, eu queria voltar lá e tomar satisfações de tudo aquilo, eu fui agredida e não entendi bulhufas, porem meu bom senso me fez ir. Demorei quase uma hora para achar a casa de muro amarelo, eu estava agitada, quando cheguei fui direto para o quarto trocar de roupa, me atirei na cama abraçando o travesseiro que ela dormira, que diabos havia acontecido afinal, porque todos me olhavam daquele jeito, e que droga se passava com o povo daquele lugar, milhares de perguntas se formavam na minha cabeça e eu não era capaz de achar uma resposta, me levantei agoniada e comecei a andar pelo quarto, minha cabeça começava a doer, como em um lampejo de luz uma pequena possibilidade se passou por minha cabeça, me aproximei da penteadeira de Clara, minha respiração ficou pesada quando segurei aquilo em minhas mãos, fui direto para o espelho confirmando minhas suspeitas, meu olhar corria do porta retratos para o espelho enquanto assimilava tudo que tinha acontecido, era isso, só podia ser, meu Deus como eu era lenta.
As horas parecia se arrastar e ela nunca chegava, a ansiedade me consumia, perdi as contas de quantas vezes desci até a sala para ver se já tinham voltado, liguei a televisão e fiquei observando as imagens sem realmente dar atenção a nada, meu peito doía, minha cabeça ainda latej*v*, as cenas no velório martelavam em meu cérebro a cada minuto, algo me agitava por dentro de uma forma inexplicável.
Só quando começou a escurecer eles chegaram, desci as escadas correndo quando escutei o barulho do carro, Davi passou por mim de cabeça baixa, fui ao encontro dela, tudo em mim gritava por Clara, a encontrei na sala parada em pé secando o rosto, nos encaramos por um momento nossos olhos dizendo bem mais que qualquer palavra seria capaz de dizer.
-Clara. –chamei, ela correu se atirando nos meus braços me apertando com força. –Calma... está tudo bem... Eu to aqui...
Ela chorava muito, não sabia o que fazer, depois de algum tempo ela se soltou dos meus braços e subiu para o quarto me deixando para trás, a segui preocupada, entramos e encostei a porta, ela foi até o banheiro lavar o rosto e quando voltou parecia mais calma, pensei em deixar tudo aquilo de lado, mas como faria isso, eu entendia que aquele não era o melhor momento, mas se não perguntasse agora talvez nunca tivesse uma resposta.
-O que foi aquilo?
-Esquece Isabel, você não devia ter vindo. –ela suspirou cansada, percebi que seus olhos fugiam dos meus.
-Eles pensaram que eu era ela não é?
-Esquece Isa, por favor. –me aproximei segurando seu rosto de forma delicada fazendo com que me encarasse, seus olhos me suplicavam, mas como eu poderia, já não tinha como deixar aquilo de lado, não foi apenas um olhar feio que recebi, eu precisava saber eu tinha o direito de saber, mesmo me que arrependesse no final.
-Onde ela está?
-Isa...
-Por que ela te abandonou Clara? Por que todos a odeiam? Eu vi como me olhavam, com medo...
-Cala boca Isabel, você não sabe do que está falando! –ela se desvencilhou de mim irritada se afastando o máximo que podia, senti seu ódio aflorar, ela estava com raiva, já a conhecia o suficiente para saber onde aquilo acabaria.
-Então me explica, por que eu estou cansada de tentar entender Clara, é por isso que você não gosta de mim, não é? –Clara baixou os olhos apenas confirmando minhas suspeitas, então era isso, todo o desprezo que ela sentia por mim vinha por causa de Beatrize, não consegui me manter controlada, tinha que ouvir da boca dela. –Tudo porque eu te faço lembrar aquela imbecil?
-NÃO FALA ISSO. -ela gritou de todas as vezes que brigamos por algo ou discutimos aquela foi a primeira vez que Clara falou daquele jeito comigo, o pouco controle que me restava também se foi. –CALA SUA MALDITA BOCA, VOCÊ NÃO PODE FALAR DELA, SUA...
-ONDE ESTAVA A BEATRIZE HOJA CLARA? ELA TE DEIXOU, É ISSO NÃO É? ELA DEVIA ESTAR COM VOCÊ, JÁ QUE É ELA QUE VOCÊ QUERIA, SÓ QUE AQUELA IDIOTA NEM ESTÁ AQUI,, MAS EU ESTOU, DEVO SER MUITO RETARDADA MESMO E VOCÊ AINDA VEM DEFENDER AQUELA PUTA!!!
Ela me acertou mais rápido do que eu poderia imaginar, cai para o lado batendo o rosto na cadeira antes de conseguir me equilibrar, senti o sangue escorrer por meu rosto, mas ignorei, levantei ainda zonza a procura dela, Clara já não estava lá, respirei fundo buscando meu auto-controle.
Sai do quarto a sua procura, me sentia um lixo, eu tinha passado do limite, agora que começava a me acalmar percebia a besteira que tinha feito, não sabia o que tinha se passado para tirar conclusões precipitadas, eu poderia ter cometido o pior dos erros, não fui capaz de encontrá-la em lugar nenhum, desci até a sala já sem esperanças de que Clara ainda estivesse em casa, mesmo seu carro ainda estando na garagem, me jogue no sofá gem*ndo frustrada, Davi veio se sentar comigo, trazia dois copos de café, me estendeu um sorrindo triste.
-Por que você veio com ela Isabel? -se sentou ao meu lado me estendendo um lenço tirado do bolso, e apontou para o corte em minha testa.
-Eu não tenho idéia, eu só pensei que… -eu já não sabia o que tinha pensado, apenas queria ficar com Clara, apoiar ela.
-Isabel, eu simpatizei com você, mas nessa historia não te cabe, só vai se machucar ainda mais, você não sabe onde está entrando, acredite tem muitas coisas envolvidas aqui, muitos sentimentos coisas que a própria Clara não consegui entender ou não quer aceitar, insistir com isso… eu amo a minha irmã, mas não acho justo ela te arrastar pra esse burraco.
-Eu já estou me machucando Davi, então me conta logo de uma vez, cadê essa maldita menina? O que diabos aconteceu entre as duas?
-Eu não posso falar, prometi a ela...
-Então me diz aonde Clara está, eu vou falar com ela. -supliquei a ele.
-Você tem certeza que quer se meter nisso Isabel? Eu sei o que você sente, já vi como a olha. –os olhos dele por um momento me lembraram os dela, Davi me encarava preocupado, ainda em duvida do que fazer. –Acho que isso só vai destruir suas ilusões com respeito à Clara...
-Me diz logo de uma vez onde ela está. -meu nervosismo só aumentava, com todo aquele suspense, tinha tomado uma decisão eu iria saber de uma vez o que se passou com Beatrize, vendo que não mudaria de ideia ele sorriu balançando a cabeça em negação.
-Na garagem tem uma porta para lavanderia e lá tem outra porta... Ela provavelmente está lá, era o lugar delas... –me levantei decidida. –Você tem certeza?
-Eu acho que vou me ferrar com isso, mas o que mais eu posso fazer?
Fim do capítulo
Eita que no proximo será finalmente revelado o misterio de Beatrize, quem ai já advinhou?
espero vocês nos comentarios, logo eu volto...
bj
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camila cris
Em: 08/01/2018
Apesar de eu já intuir desde o início a morte de Beatrice, a semelhança entre ela e a Bel, o que ainda espero é os esclarecimentos sobre como se deu essa morte, se Clara sente culpa, remorso, ou se apenas endeuzou a ex-namorada apos sua morte;
Apanhar de graça no meio de um velório foi o inusitado da cena; adorei demais o capítulo; a ansiedaade continua em alta;
vou correndo ler o capítulo seguinte. bjs
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Donaria
Em: 07/01/2018
olá autora eu aqui de novo dando minha opnião....acho que a Beatrize morreu ou deixou a Clara. Seja o que for tó morrendo de curiosidade e torcendo horrores pelas duas. adorando sua escrita, gostosa de ler, texto enxuto, personagens bem criadas, até as coadjuvantes, já tó me apaixonando pelo jeito fanfarão da Cris e pela doidinha da Manu. aguardando os proximos capitulos, vê se não demora. beijos
Resposta do autor:
Oi Sophie TD bem?
Vc está certa na sua suposição sobre Bia.
Muito obrigada pelos elogios fico até sem graça (imagina o emojim corado)
Mais tarde devo voltar com o capítulo, espero te ver de novo aqui
Bjs pra ti
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ik felix
Em: 07/01/2018
Eu acho que a Beatrize morreu, mas não consegui entender a reação das pessoas no velorio.
Abraço e até o próximo!
Resposta do autor:
Oi eaí como vc tá?
Então... Vc meio q está certa quanto a Bia, mas sobre o velório no próximo capítulo acho q tu conseguirá entender sobre pq as pessoas estavam daquele jeito, logo eu volto com o capítulo.
Um abraço
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Tebf
Em: 06/01/2018
To aqii de novo!!
Acho q a Beatrize morreu.
E a Clara não pode descontar as frustações na Isabel.
Resposta do autor:
Oi, que bom que voltou :)
Bom... Sobre a Bia acho q tu pode estar certa, embora não seja bem assim...
já o modo como Clara trata a Isa vai muito além de apenas frustração, mas se tudo correr certo a noite tu já vai entender ;)
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