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An Extraordinary Love por Jules_Mari

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Palavras: 6909
Acessos: 3397   |  Postado em: 01/01/2018

Notas iniciais:

Boa noite a tod@s, 

Com um pequeno atraso, segue mais um capítulo. Espero que gostem e que estejam conosco nesse novo ano que se inicia. 

Feliz Ano Novo!

Capítulo 26 Sonho e Realidade

Como se um poderoso trovão irrompesse bem no centro daquele salão, todos os presentes foram envolvidos e “soterrados” por uma enxurrada de cacos de vidro oriundos das janelas e lustres que ornavam aquele luxuoso ambiente. E, por alguns segundos as luzes se apagaram, causando o impiedoso silêncio que se fez logo após o ensurdecedor estrondo. Mas logo algumas lanternas de celular começaram a ser acessas e as luzes de emergência do local foram acionadas, lançando todo aquele ambiente em uma aura avermelhada.

Ânimos mais exaltados fizeram com que um pequeno caos tivesse início em algum lugar e logo algumas pessoas se apressaram a querer sair daquele ambiente causando um certo alvoroço. Várias pessoas escorregaram e por muito pouco não foram pisoteadas, mas felizmente o pânico que se iniciara logo fora contido pelos seguranças e organizadores daquele evento, o que impediu que o caos se instalasse ali e as consequências fossem piores.

Sophie, Marc, Rene e Amélia estavam jutos no momento do estrondo e ainda procuravam entender o que acabara de acontecer com Cosima pois todos ali viram que ela não estava bem e quando tentaram ir atrás dela se sentiram paralisar. Soava como loucura, mas parecia que algo os impedia de serem movidos. Como uma espécia de parede invisível que os separava e bloqueava o caminho.

- O que porr* foi isso? – Marc praguejou enquanto sacudia os braços com cuidado para se livrar dos cacos de vidro que o cobria. Eles estavam bem próximos a um dos bares do salão quando tudo literalmente explodiu. Ele olhou para os amigos e viu que René possuía um filete de sangue escorrendo em sua face direita e que Amélia possuía alguns cortes nos braços. – Amélia! – Ele exagerou no estardalhaço.

- Calma amigo, acho que não é nada demais. – Ela olhava para seus braços e viu que não possuía nenhum corte mais profundo.

- Onde está o Louis? – Sophie alertou os amigos. – Para onde a Cosima foi? E o que danado aconteceu aqui? – Ela fazia perguntas freneticamente, o que indicava que estava muito nervosa.

- Sophie...Respire...Isso...Assim – Amélia ajudava a amiga a ficar tranquila, mas nem ela nem os demais ali conseguiam compreender o que acabara de acontecer. Ouviram ao longe alguém gritar a palavra “terrorismo” e se entreolharam pois aquilo não seria nem um pouco impossível, pois o clima de medo que envolvia o Velho Continente era latente e aquele seria um local “ideal” para um ataque terrorista pois ali estavam presentes vários políticos influentes além da elite intelectual da França. E assim que ouviram sirenes ao longe, trataram de sair daquele ambiente com todo o cuidado.

E assim que alcançaram o topo da escada deram de cara com a reitora da Universidade saindo correndo seguida de outra mulher com um ar extremamente preocupado. Logo outras mulheres se juntaram a elas e aquela movimentação chamou certa atenção dos que estavam mais próximos, contudo todos os Semideuses tiveram suas atenções verdadeiramente capturadas quando ouviram o nome de Cosima ser pronunciado por uma delas.

- O que aconteceu com a Cosima? – Marc abordou uma mulher de certa idade que os olhou com certo aborrecimento.

- São amigos dela Genevieve. – Susan Duncan explicou. – Vocês viram a Srta Niehaus? – Ela se virou para eles. Os quatro trocaram olhares estarrecidos pelo fato da reitora daquela Universidade saber o nome de Cosima, e mais, saber quem eles eram e que eram amigos dela.

- Ela acabou de sair daqui. – Disse Amélia bastante apreensiva.

- Mas ela não parecia muito bem. – Sophie emendou. Susan e Genevieve se entreolharam.

- Ela esta com os paramédicos! – Stella avisou assim que adentrou o salão, retornando de sua breve busca. Os Semideuses não esperaram para ouvir mais nada e passaram a correr para fora do palacete à procura de Cosima.

Várias ambulâncias e carros de bombeiros já se amontoavam na avenida e várias pessoas estavam sendo atendidas ali mesmo no gramado. Os quatro a procuraram ansiosos, mas logo avistaram seu corpo desacordado sobre uma maca, prestes a ser colocada em uma das ambulâncias. Ainda viram que havia uma certa quantidade de sangue em seu rosto o que os assustou.

- Esperem! É nossa amiga! – Marc começou a protestar e a forçar a passagem entre os paramédicos, alcançando a maca dela. – Cos... querida, você está bem? – Mas ela não respondeu.

- Com licença! – Uma das mulheres mais velhas se aproximou da maca. – Para onde a estão levando? – indagou ao paramédico que afivelava a maca de Cosima. Ele a olhou com ar de poucos amigos mas respondeu sem muita vontade, para onde pretendiam leva-la.

- Não! Levem-na para o Assistance – Hôpitaux de Paris! – O tom autoritário chamou a atenção de todos ali.

- Sra, a levarei para onde meu comandante designou! – O homem já subia na ambulância quando essa foi retida por outra mulher.

- Acho melhor fazer o que a Sra está solicitado. – Stela lhe lançava um olhar duro. O homem fez menção de resmungar algo mas logo o seu comandante se aproximou daquela ambulância, trazido por duas outras mulheres.

- Olá Jaqués! – Genevieve estendia a mão para o homem grisalho que se aproximava. – Que tremenda bagunça. Ainda não sabemos o que aconteceu. Mas vejo que seus homens estão fazendo um excelente trabalho – Olhou de soslaio para o paramédico.

- Sra. Cormier, em que posso lhe ser útil? – A menção daquele poderoso sobrenome fez todos os Semideuses se entreolharem e perceberem quem era aquela mulher. O paramédico calou-se após ouvir as novas ordens e tratou de seguir as instruções do seu comandante que agora conversava com a Sra Cormier.

- Nós vamos para o hospital com ela! – Marc e Amélia anunciaram, chamando a atenção das pessoas ali.

- Acho bom mesmo. Vocês também precisam de cuidados. – Genevieve lhes olhou de cima a baixo. Assim que outra ambulância se aproximou eles entraram e viram ao longe Louis se aproximar. Acenaram para ele, mas esse pareceu não os ver e logo a porta daquele veículo se fechou e seguiram já recebendo cuidados ali mesmo.

 

******

 

Cada célula do corpo de Delphine parecia estar prestes a explodir dada a intensidade do que estava sentindo. Sua alma doía como a muito não experimentara tal dor. Seus pensamentos acelerados faziam sua cabeça girar e a escuridão onde se encontrava foi gradativamente ficando para trás. Aos poucos foi conseguindo acalmar sua respiração trazendo seus batimentos cardíacos a um ritmo humanamente seguro.

Possuía o rosto lavado de lágrimas e estava imóvel, no meio daquela sala que se encontrava em perfeito caos. Além dela ali só estava Helena que segurava a sua mão com intensidade e desespero no olhar. Aqueles homens, que outrora estiveram ali haviam ido embora no instante seguinte a explosão de fúria que ela tivera.

Ela estava se sentindo derrotada mesmo tendo vivenciado uma significativa vitória contra O Martelo e Lamartine o gosto que pairava em sua boca era amargo e lhe queimava as entranhas. Havia sucumbido ao seu lado irracional e mais temível. Ninguém tinha mais medo daquele seu lado sombrio do que ela mesma, pois se todos temiam o que ela poderia fazer durante aquele seu estado, não poderiam nem se quer fazer ideia do que ela experimentava. Como se brumas negras a envolvessem e turvassem sua visão, lhe roubando qualquer resquício de luz e de sanidade, restando apenas a loucura e a perversidade.

E estava cada vez mais difícil sair daquela espécie de transe e exatamente por isso ela vinha lutando com todas as suas forças para evitar mergulhar nas trevas, mas enfrentar Lamartine daquela forma lhe despertou o que havia de pior. Reconheceu para si mesma que foi ingênua ao achar que conseguiria passar ilesa por ele. Nem todos os seus muitos anos de existência eram suficientes para lhe trazer a paz necessária para lidar com alguém como ele.

A perversa ironia da vida! A pessoa que ela mais odiava era quem melhor a conhecia, pois ele sabia de praticamente cada detalhe da sua vida e a tênue linha que os conectava também os aprisionava um ao outro.

Anos demais compartilhados. Combatidos. Disputados.

Mágoas inenarráveis que consumiam cada gota de sanidade e sensatez de Delphine. Ela sabia que sempre lhe custava muito caro esses encontros mas daquela vez tinha sido violento demais. Intenso demais. Como se algo houvesse mudado. Pela primeira vez viu o medo estampado na face tão odiada. O que aquilo significava? Em seu mais profundo intimo a resposta começava a se concretizar.

Pegou-se novamente pensando na intensidade da dor que sentira quando ouviu aquele homem desprezível chamar aquele nome. Um nome tão antigo quanto suas dores e lamentos. Um nome que lhe trazia as mais dolorosas e as mais intensas recordações. O nome que lhe atribuía toda a força e poder. O nome que vinha escondendo há séculos. Seu – verdadeiro – nome.

- Evelyne Chermont! – Ela sussurrou, causando um sobressalto em Helena, que permanecia ao seu lado como a fiel escudeira que ela deveria ser. A morena se surpreendeu com o que aquela poderosa mulher acabara de verbalizar. Estava aliviada por tê-la de volta, mas temerosa com aquelas palavras.

Desde a noite em que ouviu toda a extraordinária e melancólica história que envolvia o passado de Delphine Cormier que Helena se comovia mais profundamente e mergulhava naquilo tudo como mais intensidade, devoção e admiração. Havia jurado naquela noite, quando também teve Delphine em seus braços que a protegeria de qualquer mal, dando a sua vida para isso se fosse necessário. Porém, naquele instante, com ela novamente em seus braços compartilhou o sentimento de fracasso.

Nem mesmo a sua vingança pessoal contra Paul Dierden amenizou aquele nó que teimava em lhe subir pela garganta devido ao peso que sentia de ter falhado com Delphine. De ter falhado quando ela mais precisou. De tê-la deixado mergulhar naquela escuridão. Lembrou-se do instante antes dela transfigurar-se. Lembrou-se do olhar de súplica que ela lhe lançou e foi incapaz de ajuda-la.

No dia anterior havia conseguido trazê-la de volta, mas dessa vez não conseguiu e ela lia no semblante de Delphine que ambas partilhavam da mesma sensação de derrota.

Encarou o amado rosto e pode ver o exato instante em que a ultima sombra o deixava, dando lugar a um pesar dolorido e como se Delphine acordasse de um sonho ruim, alertou-se.

- COSIMA! – Pôs-se a perambular pela sala que estava um caos, desviando das cadeiras e demais objetos que estavam espalhados por ali. Olhou inquisidoramente para Helena. – Onde ela está? Preciso falar com ela? – Helena suspirou, denotando um misto de alivio e decepção. Não havia sido ela a responsável por trazer Delphine de volta.

- Então foi isso! Foi ela! – Disse abrindo caminho entre as cadeiras até a saída.

- Isso o quê Helena? – Mas antes mesmo que sua amiga lhe respondesse, a porta da sala foi aberta com denotada cautela. Stella adentrava a sala com certo receio.

- Está tudo bem aqui? – Ela alternou o olhar entre Helena e Delphine e percebeu que havia interrompido algo e, portanto, tratou de explicar a sua presença ali. – Cormier, a Srta. Niehaus está sendo levada para o hospital nesse instante. – Disse com demasiado cuidado denotando a importância daquela informação.

Como se tivesse sido atingida por dezenas de punhais Delphine sentiu sua cabeça girar e teve um vislumbre do que acontecera durante o seu transe. Cambaleou ao lembrar que estava se afogando na escuridão quando teve uma sutil sensação, um rápido lampejo de luz e, justamente quando estava no limite da sua sanidade a viu. A sentiu e a viu...”sofrer”! Cerrou os olhos e lembrou de tudo. Fora Cosima quem a fez acordar. Foi ela que a trouxe de volta. E algo que jamais havia lhe acontecido antes enquanto estivera naquele transe ocorreu ali. Delphine retomou sua consciência numa fração de segundo. O suficiente para pedir a Genevieve que fosse ao socorro de Cosima.

“Ela me salvou!” Arregalou os olhos.

- Me levem até ela!

 

******

 

Sua consciência ia e vinha, alternando lucidez e algum tipo de delírio. Forçou seus olhos, os coçou com cuidado e a brilhante e intensa luz do sol que adentrava pela janela, dificultava sua visão, mas aos poucos seus olhos foram se ambientando ao local onde estava e mais uma vez se viu num ambiente estranho, com móveis antigos, mas, que denotavam luxo e ostentavam o poder aquisitivo de quem vivia ali. Olhou ao seu redor e se viu sobre uma ampla cama com dorsais de madeira negra e lisa com pequenas cortinas num lindíssimo tom lilás. Uma quantidade absurda de travesseiros estava espalhada e alguns deles lhe serviam como apoio.

Respirou mais fundo e um delicioso e estranhamente familiar odor chegou até ela lhe causando uma deliciosa sensação de conforto e segurança. Forçou seu corpo para levantar-se da cama, foi só então que uma pontada de dor em seu punho direito a fez olhar para uma faixa de seda muito delicada que o envolvia. Aproximou sua mão de seu rosto e viu que por baixo do tecido havia algum tipo de substância pastosa e com um forte cheiro que lhe lembrou canfora. Tentou mover a mão e a dor latente a impediu. Certamente havia torcido algo.

Com alguma dificuldade se ergueu da cama e se viu vestida numa longa camisola de cetim bege indicando que ela não era a dona daquela peça pois pareceu um pouco cumprida demais. Perambulou pelo espaçoso quarto e encontrou uma espécie de escrivaninha onde volumes de livros de aparência antiga se misturavam com folhas de linho e penas com tinteiros. Folheou alguns daqueles livros e arregalou os olhos ao identificar alguns dos volumes e perceber que estavam escritos em latim e que alguém os estava traduzindo.

Seu choque e encantamento foram tremendos ao perceber que muitos deles eram livros que estiveram no Index Librorum Prohibitorum[1] por vários séculos e ser pego lendo tais obras poderia ser considerado crime punível com a morte. Muito pior seria traduzi-los. Admirou ainda mais a dona daquele quarto.

Mas um deles lhe chamou a atenção imediatamente. Um livro com o qual estava muito familiarizada devido às suas pesquisas. O tomou em mãos quase como em tom de reverência. Percebeu que estava em perfeitas condições de conservação embora a data escrita ali indicava que ele possuía quase três séculos indicando que se tratava de uma das primeiras edições daquela obra.

Tratava-se do Malleus Maleficarum Maleficat & earum haeresim, ut framea potentissima conterens que era “comumente” conhecido como Malleus Maleficarum que significava...

- O Martelo das Bruxas – Ela sussurrou com temor daquelas palavras e o que elas significavam. Aquele que era o “manual” de perseguição às mulheres que eram consideradas bruxas ou feiticeiras, usado pelo Tribunal da Santa Inquisição da Igreja Católica. Sentiu seu estômago revirar estranhamente e só conseguia discernir o medo crescente dentro de si. Mas esse fora substituído por algo ainda mais poderoso, assim que viu quem era a autora da tradução daquele livro e muito provavelmente a dona daquele quarto.

- Evelyne Chermont! – Novo sussurro com denotada reverencia na voz. Acariciou aquelas letras com um carinho quase apaixonado. Foi então que ouviu uma poderosa voz feminina vindo de algum lugar do lado de fora, logo abaixo da sacada da janela daquele quarto. Sorriu como uma criança e se sentiu preencher de uma súbita alegria e tratou de correr até lá. Adoraria vê-la. Atribuir um rosto àquela mulher que tanto admirava.

Assim que alcançou a sacada ainda teve o vislumbre de uma longa, volumosa e brilhante cabeleira loura passar por sob ela. Tentou chama-la pelo nome dela, mas estranhamente a sua voz não saia. Forçou ainda mais forte e nada. Não se ouviu. Assustou-se com aquilo. Mas antes mesmo que a frustração lhe tomasse por inteira ela ouviu a maçaneta da porta sendo movida. Voltou para o quarto e a esperou entrar.

Como se uma verdadeira onda de luz e energia a atingisse ela se viu diante de uma das mulheres mais lindas que já vira em toda a sua vida e ela lhe parecia impressionantemente tão familiar. Esguia e alta, com uma altivez antes só vista em uma única pessoa. Seus traços eram encantadores e o olhar penetrante de um azul reluzente. A boca era levemente carnuda e de contornos retos combinando harmoniosa com o queixo marcante. E aliado a tudo aquilo ela exalava uma elegância natural de quem pertencia a algum tipo de nobreza. Cosima achou que ela bem poderia ter saído de algum conto da Marion Zimmer Bradley[2] dada toda a aura mística que a envolvia assim como todo aquele lugar.

Aquela belíssima mulher assustou-se ao vê-la e foi em sua direção com um doce e acolhedor sorriso, quebrando a inicial impressão de intangibilidade e como se alguém lhe tirasse um tampão dos ouvidos, Cosima ouviu aquela doce e poderosa voz.

- O que você está fazendo de pé? – A lindíssima mulher tocou-lhe o braço com delicadeza e segurança a levando de volta para a cama.

- Eu...eu... – Gaguejou, mas pareceu não ser ouvida. Conseguia apenas contemplar a estonteante e madura beleza daquela mulher que lhe lembrava demais aquela que dominava todos os seus pensamentos. Como aquilo era possível? Sua mente estaria tão completamente tomada por Delphine que até em seus sonhos mais loucos ela parecia vê-la? Embora soubesse que aquela mulher não era ela. Até mesmo pela idade que aparentava ter pois era bem mais madura do que ela ou do que a própria Delphine, mas foi inevitável para ela projetar que aquela mulher poderia ser uma versão mais velha de sua querida professora.

- A Evelyne me matará se souber que a deixei sair da cama! – disse enquanto ajeitava os travesseiros da enorme cama. Cosima chocou-se com aquela informação e um reconhecimento de quem ela poderia ser começou a se formar em sua mente – Aquela minha filha tem um gênio e tanto, como você bem sabe. – Disse enquanto se afastava em direção a porta e chamava por alguém. Uma outra mulher de pele cor de canela e uma longa trança negra entrou trazendo uma bandeja de prata nas mãos.

- Aqui está o emplastro que me pediu Manu! – e o depositou na mesinha ao lado da cama dando um doce sorriso para Cosima que também sentiu algo familiar nela mas estava estarrecida demais com as revelações que estava tendo para se ater aquele breve reconhecimento.

“Manu?” “Quer dizer... Emanuelle Chermont?” Estava no quarto de Evelyne Chermont e sendo cuidada pela Mestra mais poderosa que havia estudado da Ordem do Labrys. Sentiu uma leve tontura querer lhe roubar a consciência.

“As Mulheres Chermont”

- Você está bem? – A mulher morena perguntou, causando um sobressalto na loira que se dirigiu até ela, que foi se deitando lentamente sendo tomada pela mesma sensação de antes. Do ir e vir da consciência. Mas antes de mergulhar no silêncio total ainda ouviu Emanuelle lhe chamar.

- Mel? Fale Comigo – A voz dela foi se afastando... – Melanie?! – Ouviu novamente aquele nome ser chamado e direcionado para ela. E a viu se debruçar sobre si com uma séria expressão de preocupação. A luz do Sol fazendo com que os dourados cachos brilhassem ainda mais e pendessem do coque mal preso adornando aquele rosto que lhe parecia tão familiar.

“Isso não é possível!” “Tão parecidas!” Cosima só conseguia pensar naquilo repetidamente. E a confusão a consumiu quando piscou novamente os olhos e com dificuldade focou a visão no rosto da mulher debruçada sobre si.

O Sol de inicio da manhã mergulhava aquele ambiente numa suave claridade e iluminava aqueles cachos dourados. Mas algo nela lhe dizia que não estava mais mergulhada em nenhum sonho ou delírio (será?). Piscou novamente os olhos e voltou a questionar se de fato ainda estava tendo o mais doce dos sonhos.

- Cosima? – Aquela voz que mexia com todo o seu ser estava ali. Bem próxima. O perfume estonteante lhe envolvia e o que lhe causava a plena certeza da alegria que lhe enchia o coração era o toque dela, acariciando sua testa. Não era sonho. Ela estava lá!

Sentada a seu lado. Segurando sua mão. Acariciando seu rosto e chegando com o seu bem próximo, para ter a total certeza de que aquela mulher tão querida estava bem. Repetiu.

- Cosima?

- Diz de novo! – Cosima respondeu com um filete de voz o que provocou o mais radiante dos sorrisos proferido por Delphine. Daqueles que ela só seria capaz de oferecer aquela mulher ali, diante dela. Cosima sorriu com toda a sua força mas logo seu rosto se converteu numa careta. – Ai... O que é isso? – tentou tocar o curativo em sua testa, mas foi gentilmente impedida por Delphine.

- Calma. Cuidado. – Disse docemente. – Você está com um pequeno corte em sua têmpora. – Cosima, em toda a sua teimosia fez menção de se levantar, mas foi novamente impedida, só que dessa vez com um pouco mais de intensidade. – Cosima Niehaus! – fingiu seriedade – A Srta precisa ficar deitada pois levou alguns pontos na testa e teve uma leve concussão. Até que os médicos lhe autorizem, vai ficar deitadinha ai. – Bufou forçadamente ao final da fala. Cosima fingiu birra mas estava radiante demais por ter Delphine ali ao seu lado num...hospital.

Olhou ao redor e viu que estava num quarto muito sofisticado e bastante elegante que pouco lembrava um hospital de fato. Estava muito mais para um hotel e, de imediato, lembrou-se da mãe de Delphine.

- Esse é o hospital da sua mãe? – questionou despretensiosamente, contudo aquela pergunta pareceu incomodar um pouco Delphine que desviou o olhar por um instante.

Cosima não sabia mas aquela mulher poderosa e sempre segura de si não conseguia mais manter aquela postura diante dela. Temia que tudo dentro dela pudesse ser facilmente acessado por Cosima pois parecia que não tinha nenhuma defesa contra ela e se perguntava se realmente queria se defender. Contudo, também persistia a dúvida se deveria contar tudo aquilo, toda a sua história para ela.

A sentia chocar-se contra a sua mente. Ela estava tentando estabelecer aquele inacreditável contato entre elas e Delphine mais uma vez temeu, mas cedeu às investidas de Cosima, tentando manter seus mais profundos segredos nos confins mais sombrios de sua mente.

“Não me deixe sem respostas Delphine.” Suplicou e ela sabia que devia mais explicações a sua confusa orientanda. Voltou a debruçar-se sobre ela, tomada por uma necessidade absurda de tê-la e sem que nem mesmo Cosima pudesse esperar, teve seus lábios capturados pelos de Delphine que os comprimia repetidas vezes e logo passou a espalhar pequenos beijos pela face de Cosima, que se sentia preencher de um misto de ternura e tesão, pois enquanto Delphine se debruçava sobre ela, quase sentia o peso daquela mulher sobre si e delirou com a ideia de tela completamente sobre si, sem nada as impedindo. Seus corpos nus... Suas peles se tocando... Seus seios roçando... Seus sex*s se procurando...

Delphine soltou um grunhido rouco, que fora abafado pois tinha o rosto afundado no pescoço de Coisma pois se deixou levar pelas alucinantes imagens projetadas por ela e percebeu que já estava praticamente deitada com parte de seu corpo sobre o dela.

“Por favor, Cosima pare com isso!” Implorou apoiando as duas mãos aos lados da cabeça de sua orientanda a encarando.

“O que eu estou fazendo?” Perguntou com fingida inocência enquanto insistia em focar a sua atenção num cena que desconcertou Delphine completamente a fazendo encarar a mulher diante de si com os olhos arregalados e engolindo seco.

- Cosima eu...  Ahhhh – levantou-se exasperada causando uma deliciosa gargalhada em Cosima que pode perceber que sua professora não estava mais com o espetacular vestido vermelho da noite anterior. Estava de volta à sua sobriedade, com uma calça de risca de giz cinturada e uma blusa masculina de botões branca, com as mangas dobradas até o fim de seus antebraços, Roupas que lhe conferiam um ar um tanto quanto andrógeno, contudo ainda mais incrivelmente atraente.

Delphine lhe lançou um olhar de desespero e certa agonia e Cosima decidiu que já a havia provocado demais, mas secretamente se deliciava com o fato de que poderia mexer com ela daquela maneira. A encarou com intensidade e doçura e inevitavelmente lembrou do sonho que acabara de ter. De como a mulher que cuidara dela lhe lembrava tanto Delphine e de como aquela mulher se referiu a ela.

A chamou pelo nome da autora do diário que tinha em sua posse assim como da sua principal fonte de pesquisa juntamente com a outra autora daquela preciosa obra. A mulher cujo quarto estava em seu sonho assim como sua mãe. De repente algo inusitado e surpreendente lhe ocorreu.

Encarou Delphine e como se ela também percebesse que havia pensando em algo, lhe devolveu o olhar duvidoso. Tentou afastar aqueles pensamentos de sua mente. Não tinha certeza se deveria compartilhá-los com Delphine. Não naquele momento. Não com ela tão próxima a si, podendo lhe enxergar por inteira se quisesse. Focou em algo tão perturbador quanto.

- Por que você falou em feitiços? – Delphine arregalou e em seguida fechou os olhos, arrependendo-se daquela palavra. – Lá no Baile após dançarmos. – Prosseguiu sua recordação, mesmo sabendo que a outra sabia exatamente do que ela estava falando.

Silêncio.

- O que foi aquilo que você fez com o lustre? - Sentou-se com certa dificuldade na cama, se recostando nos travesseiros. – Fala comigo Delphine. Você disse que tinha explicações para me dar. – A ansiedade começava a dar sinais de fugir ao controle. Delphine ergueu a cabeça para em seguida baixa-la soltando um longo suspiro e seguir para sentar-se à beira da cama de Cosima, tomando as mãos dela nas suas.

- Eu prefiro a palavra “habilidades” Cosima. Mas, há vários séculos atrás, como bem sabes, essas habilidades especiais foram chamadas de feitiços ou até mesmo... – relutou um pouco em proferir aquela ultima palavra, mas era inevitável – bruxarias. – Cosima arregalou os olhos. Embora soubesse e estudasse sociedades de mulheres que se enquadravam dentro daquela definição, jamais cogitou ser possível que de fato houvesse mulheres que dominassem algum tipo de poder paranormal.

Ela pautava todo o seu conhecimento na lógica e na racionalidade de suas pesquisas e na ciência que lhe dava sustentação em tudo. Mas desde que chegara naquele país que muito do que acreditava estava sendo posto em xeque. E ouvir tudo aquilo da mulher a qual considerava a mais inteligente que já conhecera, só lhe perturbava ainda mais pois Delphine estava bem longe de estar brincando. Ela carregava cada palavra com pesada seriedade.

- Sei que pode parecer absurdo quando falamos sobre algo assim em pleno século XXI onde a “magia” – gesticulou com as mãos para dar certo ar de leveza àquela conversa – de outrora não cabe mais mediante à tecnologia. E os dons ou habilidades são desacreditados. – Buscou o ar mais uma vez com pesar. – Mas se pensarmos em nosso cérebro. E nas quase infinitas possibilidades que ele poderia nos oferecer caso usássemos mais do que nossa espécie normalmente usa, imagine quais as habilidades poderíamos desenvolver... – Cosima arregalou os olhos e percebeu que Delphine conseguia, com a maestria que lhe era rotineira, atribuir sentido ao que parecia ser loucura.

- Sendo assim – olhou ao redor, buscando seus óculos e os colocando como se, com eles, pudesse pensar melhor – Existem algumas pessoas que conseguem atingir ou alcançar maiores potencialidades de seus cérebros e esses seriam os chamados poderes psíquicos? – Indagou. Delphine maneou a cabeça um pouco como se buscasse assentar as ideias e escolher a melhor resposta.

- Digamos que é mais ou menos isso. – Respondeu com certo receio e já começou a temer por antecipação às próximas perguntas que estavam por vir.

- Então... – Cosima coçou a cabeça – Isso quer dizer que... – lhe olhou intensamente – Você e eu somos... Algo parecido com... Bruxas? – Tentou segurar o ar de riso pois aquelas palavras pareciam esdruxulas demais, mesmo havendo lógica em tudo o que Delphine acabara de explicar. Essa respirou fundo e percebeu que não seria tão simples explicar tudo o que precisaria e decidiu que deveria ir com calma com ela. Até porque ainda precisava saber como Cosima tinha tanto acesso às informações da Ordem.

Mesmo agora sabendo que ela não era uma enviada de Lamartine e que não tinha nenhuma relação com o Martelo, ainda não sabia como Cosima tinha tido acesso a todas aquelas informações. Especialmente àquele desenho que fora feito por alguém que observou a tela original que repousava em sua sala secreta há mais de 400 anos. Lembrar daquela pintura e de sua mãe lhe causavam um pesar tão violento que lágrimas quiseram vir à tona, mas conteve-se para que Cosima não percebesse mais nada.

- Cosima... Você às estuda. Você às conhece. Não posso lhe dizer que todas elas possuíam de fato alguma habilidade especial como as que mencionei mas a História está repleta de casos como esse. De mulheres que se sobressaíram por suas peculiares e sobrenaturais inteligências. Mas que foram ridicularizadas ou taxadas como loucas ou como... – Delphine mais uma vez hesitou – Bruxas. – E então Cosima viu uma sombra passar nas profundezes dos olhos de Delphine e soube que alguma coisa relacionada ao que ela lhe explicava lhe causava muito pesar e dor. Sentiu uma pontada de arrependimento, mas ao mesmo tempo precisava de mais explicações e não tinha certeza se aquelas que estava recebendo, eram suficientes.

- Mas vamos com calma. Temos todo o tempo do mundo para conversarmos sobre isso. – Delphine disse com denotado esforço de dissipar aquela sombra dentro de si, contudo, aquela sua afirmação pareceu não passar a segurança necessária para Cosima que sentiu, bem em seu íntimo, que aquelas palavras não se concretizariam. – Mas não agora. Precisarei me ausentar por uns dias – Delphine prosseguia já se pondo e de pé e se comovendo com a cara de sincera decepção estampada no rosto de Cosima que ensaiou um pequeno bico que não conseguiu progredir pois fora deliciosamente interrompido por mais um beijo “roubado” por Delphine. – Mas agora eu preciso ir – Afastou-se um pouco a pereceu estar buscando algo no ar. – Além do mais, os seus inseparáveis e aflitos amigos estão vindo para vê-la. – Cosima cerrou os olhos e a assistiu recuar e depositar as mãos nos bolsos da calça com um ar divertido e em menos de cinco segundos todos os Semideuses podiam ser ouvidos do outro lado da porta, disputando para ver quem entraria primeiro para vê-la.

Porém, antes de algum deles entrar uma mulher mais velha adentrou a sala e se dirigiu diretamente a Delphine, lhe beijando ambas as faces com sincero carinho.

- Vejo que a Srta. Niehaus já está acordada. – a mulher se aproximou da cama e foi logo verificando o curativo de Cosima sem maiores cerimônias. E logo ela deduziu se tratar da mãe de Delphine e foi inevitável controlar o desconforto e o nervosismo diante dela. Contudo a olhou de perto e viu que as duas mulheres não possuíam praticamente nenhum traço em comum e Cosima cogitou então que Delphine deveria ser bem mais parecida com seu pai. Além do fato da mulher aparentar ter uma idade bem avançada para ser mãe biológica dela.

“Será que ela é adotada?” Questionou-se. Mais um dos muitos mistérios que envolviam aquela mulher que tanto a atraia e a envolvia.

- Cosima, essa é a Genevieve Cormier, minha mãe. – Aquela apresentação de supetão e sem maiores formalidades fez com que o rosto de Cosima queimasse como brasa. Ambas as mulheres perceberam o seu desconforto e enquanto Delphine parecia se divertir, Genevieve se compadeceu e desconversou.

- Srta Niehaus, aqui está o resultado de sua tomografia e não encontramos nenhum problema devido a pancada que levou ao desmaiar nem tão pouco... – Pausa para olhar para Delphine como se pedisse algum tipo de permissão a ela, o que Cosima achou um tanto quanto estranho. – Ao motivo que causou seu desmaio. – Nova pausa e olhar para Delphine – Você exagerou na bebida? – Cosima apenas anuiu negativamente com a cabeça. - Hum... Talvez alimentação ou... Alguma emoção extrema que tenhas vivenciado antes do episódio do desmaio... – Foi a vez de Cosima olhar para Delphine e perceber o quão penetrante ela lhe olhava e a cumplicidade presente naquele olhar fez aquela outra mulher perceber que algo extraordinário e preocupante estava acontecendo entre elas. E lançou um olhar reprovador para Delphine que a olhou com dureza, por tê-la feito quebrar aquele elo momentâneo com Cosima. – Bom, mediante esse quadro, digo que a srta já pode ir para casa.

Disse dando às costas para Delphine que cerrou seu semblante – Mas deves repousar nos próximos dois dias. – Sorriu forçadamente e olhou para a loura com certo receio. Cosima percebeu que havia algo naquela troca de olhares. Porém Genevieve pareceu baixar levemente a cabeça para Delphine de forma surpreendente.

- Delphine... – a chamou quando já se dirigia para a saída do quarto – Helena a espera no aeroporto. Ela já renovou duas vezes a sua autorização de voo. – A alertou. - E, espero que sigas as recomendações médicas Srta. Niehaus. – Assim que a mulher saiu, Cosima voltou a ouvir seus amigos do lado de fora mas não entraram. Delphine ainda tinha algo mais a lhe dizer.  

- Sei que ainda tens muitas perguntas para mim e as responderei, mas eu agora realmente preciso ir. Mas não queria fazê-lo sem antes saber se estavas bem. – Novamente tomou as mãos de Cosima nas suas e as beijou. -- -  Mas como eu lhe disse, precisarei me ausentar alguns dias e tenho um imenso favor a lhe pedir. – Deu uma pausa e observou a apreensão pairar nos verdes olhos de sua orientanda. – Bom, como és a minha orientanda de Pós-doutorado e uma pesquisadora brilhante – Cosima não conseguiu esconder o orgulho após esse elogio – Contenha seu ego Srta Niehaus, mas... Sendo assim, preciso que me substitua na minha aula da sexta-feira.

Cosima arregalou ainda mais os olhos e sentiu o ar lhe faltar por alguns segundos. Iria substituir a PhDeusa? Seria capaz de fazê-lo? Delphine confiava tanto assim nela? Logo todas essas perguntas perderam o sentido quando se deu conta de que se precisaria substituí-la na aula da sexta ela iria passar toda a semana ausente. E o entusiasmo e orgulho iniciais deram lugar a amarga frustração. Mas como se Delphine lê-se nos olhos de Cosima a sua angustia a confortou.

- Ei... Uma semana passa voando! – Novos beijinhos em suas mãos que tinham o poder quase mágico (riu daquele pensamento) de lhe acalmar o coração. Mas logo a frustração voltou quando Delphine se levantou da cama e se afastou lentamente. – E sei que darás conta dessa aula. Lhe enviarei o meu planejamento por e-mail. – Alcançou a porta mas hesitou ainda por um instante. Ela também não queria sair dali. – Siga as recomendações médicas ouviu? – E lhe sorriu pouco antes de lançar o singelo beijo ao vento em sua direção. Cosima sorriu embevecida.

Delphine respirou fundo e assim que abriu a porta deu de cara com seus outros cinco orientandos que a olharam completamente estarrecidos com a figura dela saindo daquele quarto pois foram avisados que não poderiam entrar  pois Cosima estaria supostamente recebendo a visita de um membro da família e todos ali cogitaram ser a tal namorada americana da sua amiga. Contudo era a orientadora deles que saia daquele quarto. Fora ela quem estava lá quando a médica – a mãe dela – repassou o estado clínico de Cosima.

- Bom dia Srtas e Srs. Espero que estejam todos bem. – Chegou alguns curativos deles e após todos responderem que sim, os cumprimentou educadamente e seguiu seu caminho sem aparentar incomodo algum, deixando os cinco se entreolhando até ouvirem a voz de Cosima.

- Podem entrar seus “esquisitos” que eu adoro. – Os cinco quase se acotovelaram para ver quem entrava primeiro e logo rodearam a cama dela e a encheram de perguntas acerca do seu estado e do que havia acontecido na noite passada.

- Eu realmente não sei gente. – coçava a cabeça. – Simplesmente eu tive um mal-estar repentino e só queria sair daquele lugar – Ela tentava explicar procurando ser cautelosa para não lhes revelar informações demais. – Precisava de ar e quando cheguei lá fora eu escutei um dos canhões de luz explodindo e não lembro de mais nada.

- Só isso Cos? Você não se lembra de mais nada? – Louis a questionou. Ela apenas negou com a cabeça em sincera ignorância.

- Eu acho que ela ainda não sabe gente. – Sophie disse olhando para os amigos.

- Não sei o que? – preocupou-se e os inqueriu com o olhar. E antes mesmo que mais alguém lhe dissesse algo Marc ligou a tv de desproporcional tamanho para um quarto de hospital e sintonizou no canal de notícias onde repórteres estavam diante do palacete onde ocorrera o Baile da noite anterior e o letreiro falava sobre um estranho incidente que acontecera ali, deixando alguns feridos. – Mas o que aconteceu gente? – Insistiu.

- Ninguém sabe ao certo ainda Cos. – Amélia sentou na beira da cama. – Simplesmente todos os vidros das portas, janelas e lustres explodiram ao mesmo tempo. Assim como todas as luzes.

- Mas estão falando de terrorismo ali – Cosima apontou para a TV.

- Tudo ainda é especulação, mas o que importa é que a Srta está bem e que ninguém se machucou mais gravemente. – Marc lhe beijou a testa – E aqui estão seus pertences. Entregaram na recepção do hospital. – Cosima checou a sua bolsa de mão e viu que seu documento de estudante e seu celular estavam lá dentro. Checou rapidamente e viu que haviam várias mensagens de seus amigos, de Shay e de sua mãe, certamente preocupados com o suposto “atentado” no baile.

Contudo, uma das mensagens lhe chamou mais atenção pois era um áudio de Amanita lhe dizendo que elas ficaram aflitas quando viram as noticias do ocorrido no Baile, e quando tentaram lhe ligar quem atendeu foi Delphine e que ela, muito gentil e educada, lhes avisou que estava tudo bem que Cosima não havia se machucado mais gravemente. E inclusive ela ainda pediu às suas amigas que avisassem o restante dos amigos e a família dela. Se sentiu preencher de alegria com aquele gesto de sua professora e com riu com os comentários de Nita acerca da voz de Delphine e de como ela sentia vontade de mordê-la.

Enquanto ouvia os Semideuses ao longe opinando sobre aquele ocorrido, tratou de tranquilizar a todos os seus entes queridos avisando que estava bem e confirmando o informado por Delphine.

Se pegou novamente repassando o ocorrido na noite anterior, cada detalhe lhe passou como um filme em sua mente e foi inevitável suspirar ao lembrar da dança a sós com Delphine e mais, do primeiro e inesquecível beijo entre elas. Em todas as sensações indescritíveis que experimentou e suspirou ainda mais alto, chamando a atenção de Amélia e Marc.

Pensou também na misteriosa mulher que trabalhava para Delphine e em como se sentiu incomodada com ela e com o homenageado da festa lhe abordando daquela maneira. E por fim, tentou relembrar o que a levou a passar mal e desmaiar daquela maneira e lembrou-se do que sentiu, poucos minutos antes de perder a consciência. Da sensação de estar se afastando de Delphine, como se ela estivesse indo para algum lugar onde não poderia segui-la e então constatou que fora aquele temor de perdê-la que a fizera desmaiar.

Tentou repassar mais uma vez o sonho que tivera só que dessa vez, ao contrário dos outros ela, de fato, participara dele e fora chamada por outro nome. O que era aquilo tudo? Precisava ainda mas de Delphine ali, para aplacar suas angustias e esclarecer suas dúvidas, mas teria de esperar uma longa semana ou até mesmo mais. Delphine não disse exatamente quando voltaria e perceber aquilo fez com que um nó se formasse em sua garganta. Olhou aleatoriamente para os amigos mas os ouvia ao longe pois estava mergulhada em suas dúvidas. Contudo, um novo som de mensagem chamou sua atenção e assim que viu de quem era, toda a angustia e frustração sumiram novamente, deixando apenas a ansiedade. Hesitou duas vezes em abri-la mas não aguentou mais. E incrédula, leu repetidas vezes as breves frases.

“Não se preocupe, estarei de volta a tempo para o seu aniversário daqui a exatamente uma semana.” “Comporte-se e boa aula.”

“Ela sabe o dia do meu aniversário?” E sorriu completamente embevecida.

 

 

 

 

[1] O Index Librorum Prohibitorum, em tradução livre o Índice dos Livros Proibidos, foi uma lista de publicações proibidas pela Igreja Católica. Obras eram incluídas na lista caso contivessem teorias que a Igreja Católica Apostólica Romana não apoiava. A primeira versão do Index foi promulgada pelo Papa Paulo IV em 1559 e uma versão revista desse foi autorizada pelo Concílio de Trento.

[2] Marion Eleanor Zimmer Bradley foi uma escritora norte-americana de romances sobre fantasia e ficção científica, conhecida principalmente pelas séries As Brumas de Avalon e Darkover


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