Boa noite a tod@s e esperamos que o Natal de vocês tenha sido encantador. E justamente devido a isso que, excepcionalmente, estamos postando em uma segunda-feira. E isso também ocorrerá no Réveillon.
Aproveitem o nosso pequeno presente para vocês. O Capítulo 25 no Dia 25 rs...
Boa leitura.
Ps: colocamos os links das músicas nas Notas Finais.
Capítulo 25 A Hora das Bruxas: O (Re)Encontro (Parte Final)
Completamente imersa no poder de cada mínima, única e indescritível sensação que percorria seu corpo, tudo nela extrapolava as barreiras do sentir. Parecia que seus pés não tocavam o chão! Sentia como se sua vontade pouco importasse, comandada pela energia titânica que a expectativa do momento irradiava! Duvidou jamais ter sentido tamanha excitação e, alheia a tudo que a cercava e como se o mundo estivesse em câmera lenta, o balançar ritmado de alguns cachos maravilhosamente dourados e o calor que pulsava do toque de suas mãos era tudo que Cosima conseguia focar.
Seu olhar consumia aquela imagem, passando pela nuca lisa e alcançando as costas nuas de sua orientadora. Hipnotizada, foi inevitável se perder nas constelações espalhadas por ela. Um suspiro discreto acompanhado de um escancarado sorriso irrompeu nos lábios de Cos... Delphine era simplesmente um sonho inebriante e um pecado de mulher! Lembrou-se da outra noite... De Cassiopeia... Do táxi... Da promessa! Sim, a promessa que Delphine havia feito a ela. A promessa que fez com que Cosima a admirasse e a desejasse ainda mais e de uma maneira que parecia impossível; A promessa de que a esperaria estar verdadeiramente livre para se entregar a ela por inteiro. Porém, por mais certo e correto que aquilo parecesse ser, intimamente, Cosima sentia que ambas já haviam ultrapassado todos os limites possíveis e impossíveis da espera.
Porém, ainda assim, Cosima hesitou! Por uma única fração de segundo, suas pernas recobraram um resquício de razão e vacilaram pelo caminho.
Entretanto, Delphine Cormier era, em todo o significado que a expressão carrega, uma força extraordinária da natureza. Era imparável e, naquele instante, ela parecia ainda mais absurdamente invencível! Assim que sentiu a hesitação de Cos, ela só precisou olhá-la. Bastou que a chama vívida que queimava na galáxia perdida que morava em seus olhos, alcançasse os de sua aluna... Bastou que aquele olhar a tocasse, carregado por tudo o que Delphine sentia, para que os pés de Cosima voltassem a segui-la. Cos não podia e não queria evitar.
Independentemente do que acontecesse, aquele momento seria delas e Cosima teve a mais cristalina certeza de que seguiria aquela mulher até os confins da terra se preciso fosse. E mais uma vez, experimentou aquela mesma sensação; a sensação de que nada era mais poderoso do que o que sentiam... Do que as trouxe até aquele exato momento. Sentiu seu coração e cada célula de seu corpo serem preenchidos por uma alegria quente e envolvente, um tipo único de sentimento que somente Delphine era capaz de proporcioná-la, fazendo com ela mal conseguisse conter a emoção que insistia em querer transbordar... Vir à tona.
Cos sorria doce e bobamente, totalmente envolvida por absolutamente tudo que Delphine era. Ali, com a mão dela na sua, seguindo para onde quer que fosse, constatou seu coração pulsar em cada milímetro de seu corpo, surpreendendo-se quando Delphine intensificou o toque em seus dedos no exato instante em que uma mulher quase se interpôs no caminho delas. Quando seus olhos se encontraram, Cosima teve a nítida sensação de que conhecia aquela mulher e não somente isso; o que ela pôde captar naqueles olhos castanhos e intensos foi o suficiente para que um novo receio a invadisse. Seria medo o que eles indicavam? Ela não tinha certeza, todavia, seja lá o que fosse, os olhos dela pareciam querer dizer alguma coisa.
Mesmo com o pequeno receio instalado em sua mente, a dúvida momentânea foi logo dissipada assim que Cos observou Delphine desviar daquela intrigante mulher, chamando-a pelo nome, porém, ignorando o que ela teria a dizer. Elas se conheciam. Alguma coisa estava acontecendo e, assim que a ultrapassaram, Cosima olhou para trás e ainda pode vê-la balançar a cabeça em negativa, baixando-a, num claro sinal de derrota. Quem seria ela?
Não teve tempo de pensar duas vezes na estranheza daquele breve e irrisório contra tempo, uma vez que poucos segundos depois, Cosima percebeu a real intenção de Delphine assim que avistou uma imensa e delicada porta de ferro, ornada por impressionantes vitrais coloridos e que dava acesso a algum outro espaço daquele recinto. Ela finalmente elucidaria toda a loucura dos últimos dias. Cosima finalmente teria um momento com ela.
A deliciosa melodia que provinha daquela cantora magnifica ainda alcançava seus ouvidos, porém, não era mais possível discernir qual canção era cantada. Toda a energia daquele luxuoso evento e todas as pessoas que ali se encontravam e se perdiam, simplesmente não importavam mais. Nada, em toda a extensão do universo, fazia qualquer mínimo sentido, além da inexorável certeza de ser conduzida por ela! Em meio a catálise da grandeza que aquele momento representava, Cosima sentiu uma surpreendente familiaridade, diferente das que costuma ter ao lado de Delphine, como se uma lembrança muito antiga a alcançasse. Todavia, ela não tinha a clareza do que era e nem sabia discernir o real contexto da sensação que a invadia... Ela apenas sabia que estava ali, presente e viva, como se ela se reconectasse com algo há muito perdido.
Essa sensação foi potencializada no momento exato em que ela passou sob aquele portal e pensou ter visto as imagens do vitral se moverem, se reajustarem. Um reconhecimento impossível a assolou. Tentou se enganar na expectativa de compreender aquilo tudo, julgando estar vivendo uma espécie de déjà-vu, entretanto, tinha a palpável certeza que nunca havia estado naquele lugar. Ainda assim, a sensação era um tipo de memória... Uma memória afetiva e incisiva demais. Cosima podia senti-la sob sua pele, muito próxima à sua alma.
Novas dúvidas foram lançadas sobre o oceano de incertezas em que estava mergulhada. Naquele instante – e em todos os que viriam - Cosima sentiu... Ela tinha a noção perfeita de que a única pessoa capaz de esclarecer aquela loucura e sanar todas - ou quase todas – as suas dúvidas, era a fascinante e mística mulher que a conduzia. Precisava desesperadamente de respostas, mas, não queria estragar a atmosfera que imperava naquele momento. Ali, na iminência de romper o silêncio, focou na absurda e surreal maneira que elas tinham de se comunicar... Uma em que palavras não eram necessárias. Definitivamente, aquela conexão era o que mais a atormentava e a admirava, na mesma proporção! Como aquilo era possível? Jamais ouvira falar de nada parecido e, por mais racional e lógica que fosse, em seu íntimo, ela sabia que a pura e simples razão era a última coisa que iria encontrar ali. Em meio ao mar de dúvidas em que ela lutava para não se afogar, uma certeza pairava como um bote salva vidas: Delphine era mística, fascinante e indescritivelmente única... Não havia um centímetro sequer de Cosima que não a desejasse e ansiasse por desvenda-la por inteiro, desesperadamente.
“Para onde estamos indo?” Reiniciou aquela estranha conexão que as unia.
“Confie em mim!” Delphine respondeu, olhando para trás e sorrindo de um jeito tão surreal e lindo que chegava a ser criminoso. ‘’Como ela faz isso?’’ Pensou somente para si. Cosima sentia o ar faltar e a cabeça girar com aquele sorriso, questionando-se como alguém podia ser tão maravilhosa. Era incrivelmente linda e fodidamente sexy, de um jeito que destruía a sanidade de qualquer um que tivesse o privilégio de colocar os olhos nela por mais do que perigosos 10 segundos, porém, não eram essas características que mais chamavam e a capturavam sua atenção, prendendo-a e mergulhando-a no poderoso magnetismo que Delphine exalava. Era mais a espécie de energia e mística que envolvia aquela mulher, potencializando tudo que já era impressionante e arrebatador nela. Inevitavelmente, questionou o fato de alguém tão surreal quanto Delphine ter prestado a atenção nela, na mesma avassaladora intensidade em que ela se viu completamente louca por sua desorientadora.
Essa resposta ela certamente teria, todavia, esperaria o melhor momento para busca-la, já que naquele instante, estavam passando por um escuro corredor onde Cosima mal podia enxergar, porém, não temeu aquilo, lembrando-se da promessa que ela havia feito a Delphine... ‘’Eu não tenho medo do escuro...’’ Não era uma promessa explícita, era mais como uma certeza de que ela estaria pronta para o que quer que precisasse enfrentar.... Ela estaria ao lado de Delphine! Aquela reconfortante sensação de segurança e familiaridade a levou a segurar a mão de Del com a sua outra que estava livre, acariciando o antebraço.
Aquele gesto fez com que a loira diminuísse a velocidade de seus passos e olhasse para trás, encarando-a. A atmosfera daquele corredor se eletrificou e Cosima sentiu o ar errar os pulmões! Apesar da escuridão que as envolvia, Cos conseguiu ver com uma nitidez assustadora os olhos de Delphine; contudo, eles estavam diferentes. Cosima jamais os viu daquela maneira e duvidada ter visto algo parecido em toda a sua existência... Eles possuíam um brilho quase místico, enigmático, como se minúsculas estrelas dançassem mergulhadas na íris escura e impenetrável.
Com absoluta certeza, ela nunca viu nada parecido com o novo e encantador aspecto que os olhos dela assumiam. Cogitou que talvez nem fossem exatamente humanos, já que lembravam nitidamente os de um felino sábio e feroz... Daqueles que pertenciam à noite e tinham a escuridão como seu habitat natural.
Por uma fração de segundo, pensou que sentiria medo, porém, novamente foi envolvida por uma sensação quente e acolhedora, e mais uma vez, ela teve a certeza de que Delphine não era uma mulher comum – absolutamente longe disso. A velocidade com que caminhavam foi diminuindo até que Delphine finalmente parou, fechando os olhos e respirando profundamente. Olhou novamente por sobre o ombro, encontrando um misto de alegria, paixão e profunda expectativa no olhar de Cosima. Então era isso. O momento havia chegado... Haviam alcançado o objetivo. Delphine espalmou a mão livre na imponente porta diante dela e, antes de força-la, encarou Cos mais uma vez, que assentiu com um leve movimento de cabeça, como se consentisse em silêncio com tudo que as aguardava do outro lado... Seja lá o que fosse.
Assim que o ranger da pesada porta anunciou a entrada delas naquele ambiente, Delphine gentilmente se desvencilhou das mãos de Cosima, deixando-a parada, quase encostada na porta, apenas observando a maravilhosa luz que pulsava em Delphine assim que ela mergulhou naquele novo salão. Cosima sorriu com aquele cenário... A exuberância e o brilho de Delphine se fundiam naquele momento, deixando-a ainda mais linda. Cos olhou ao seu redor e viu que haviam chegado a outro espaço amplo para festas, só que um pouco menor que aquele onde estava acontecendo o baile. Aos poucos, seus olhos foram se acostumando àquela luminosidade e ela pôde jurar que o carregado céu de final de inverno começou a se abrir, desnudando uma lindíssima e imponente lua que iluminou aquele ambiente.
Vislumbrou algumas mesas e cadeiras que estavam amontoadas pelos cantos, o que não desabonou em nada a aura que circundava o lugar. Forçou a visão e identificou vários quadros pintados e que estavam pendurados nas paredes, ressaltados por imensas portas e janelas de vidro que permitiam que a luz penetrasse ali. Era lindo. Caminhava lentamente até o centro do salão onde Delphine a esperava parada e visivelmente ansiosa. Assim que a última nuvem se dissipou do céu, a luz do luar atingiu o fabuloso lustre de cristais que pendia logo acima delas, lançando centenas de pequenos raios e feixes de luz pelo ambiente, conferindo ao local um ar ainda mais mágico e envolvente.
À medida em que se aproximavam uma da outra, o ar parecia se eletrificar cada vez mais, carregado com o palpável desejo e a gigantesca expectativa que as duas emanavam. Cada segundo que se passava, a certeza de que aquele encontro era realmente para ser e acontecer, as consumia por completo! A poucos passos de poder tocá-la, Cosima sentiu-se profundamente impactada com a real dimensão do quão magnifica e extraordinária Delphine era. Cada gesto, cada trejeito, cada respirar era de uma beleza simplesmente hipnotizante e inacreditável... Ainda mais fenomenal sob a luz da lua. Antes que fosse capaz de perceber, Cosima deixou um suspiro audível escapar por entre os lábios, completamente enfeitiçada pela visão do que era sua orientadora.
Já Delphine, sentia cada célula de seu corpo vibrar e gritar por Cosima, ansiando ferozmente por tudo o que ela era... Por quem ela era. Assombrada, mas igualmente encantada, Del se pegou entregue, rendida a tudo que aquela mulher a fazia sentir. Ali, diante dela, Cosima estava ainda mais estonteante e deslumbrante, despertando um completo fascínio em qualquer um que pudesse admirá-la. Coincidentemente, o vestido que ela usava refletia harmonicamente os pequenos raios de luar que o atingia, fazendo-a literalmente brilhar. Era uma visão única e magnífica. Tanto Cosima quando Delphine sentiam-se tomadas pela emoção de estarem ali, uma para a outra... Desejaram registrar aquele singular momento em suas mentes, eternizando-o. Ainda assim, queriam muito mais do que aquilo... Muito mais. Cos finalmente se aproximou, parando a irrisórios centímetros de Delphine, que podia sentir o calor úmido que o corpo dela irradiava.
“Dança comigo?” Delphine estendeu à mão para Cosima, olhando-a ainda mais intensamente, fazendo com que um atrevido calor se espalhasse em seu ventre. Cos focou na elegante mão diante de si e deixou que seu olhar percorresse o braço dela, finalmente alcançando o impressionante rosto que ostentava o mais quente e acolhedor dos olhares. Como resistir?!
- Mas... não tem música! – Cos verbalizou a resposta e Delphine precisou conter o riso! Só mesmo ela para ser capaz de soltar um comentário daquele sem estragar o clima.
- Cosima... – Um choque percorreu o corpo de Cosima no instante em que ouviu seu nome pronunciado por ela. Ouvir Delphine chama-la daquela forma, de um jeito tão apaixonante, a fazia derreter por inteiro. – Dança comigo...! Você confia em mim? – Profundamente tocada por aquele pedido, Cos apenas se sentiu preencher por um calor avassalador no exato momento em que depositou sua mão na dela, assentindo com segurança. ‘’Eu confio.’’ Confiaria a vida a ela, se assim ela desejasse.
“Então se permita...” Antes mesmo que a frase chegasse ao fim, Delphine tomou Cosima em seus braços, enlaçando sua cintura com o braço direito e entrelaçando suas mãos, pressionando-as contra o peito. Os corações se tocavam e batiam em ritmos alucinados. A deliciosa e tão ansiada proximidade fez o tempo desacelerar e o mundo praticamente desaparecer... Naquele instante único, uma pertencia à outra.
Com seus corpos colados, todos os sentidos foram potencializados. Delicada e lentamente, Delphine recostou sua testa na de Cosima, sentindo a poderosa energia que as envolvia e que fluia de uma para a outra. Suas respirações ofegantes e entrecortadas denunciavam o estado em que se encontravam e, cada vez mais, o mundo se resumia a elas... Era cada vez mais difícil resistir... Mais impossível não se entregar. A proximidade das bocas era enlouquecedora, levando-as ao limite da razão.
“Cosima... deixe-me leva-la...!” Com aquela permissão intimamente suplicada, ela prosseguiu. “Feche os olhos... Se permita sentir...” Como se seu corpo tivesse vontade própria, Cosima repousou os olhos e se deixou levar, completamente entregue àquele contato, àquele toque... à ela. Um segundo depois, Delphine pressionou levemente o corpo de Cos para o lado e em seguida para o outro, ainda em movimentos tímidos, mas conduzidos com maestria. Ao longe, Cosima pareceu ouvir uma suave melodia, que parecia ir aumentando à medida em que os passos daquela dança se tornavam mais amplos e ritmados. E antes mesmo que se fosse capaz de perceber, ainda de olhos fechados, ela sorria, sendo habilmente conduzida por Delphine ao som de uma belíssima valsa.
Parecia surreal, - e era - mas, ela dançava ao som alto e claro de uma harmoniosa orquestra, porém, não havia ninguém ali além delas, sem contar o fato de que estavam longe demais do salão principal para serem capazes de ouvir com tamanha clareza o som provindo de lá, então... Como aquilo seria possível? Vagarosamente, Cos abriu os olhos, deparando-se com a beleza inumana do rosto de Delphine, que ainda permanecia com os olhos fechados. Num súbito, se deu conta que aquela poderosa conexão estava acontecendo, só que dessa vez, com uma nova - e maravilhosa - faceta. Cosima mal poderia acreditar, mas estava ouvindo com assombrosa clareza uma música que, naquele momento, era lembrada por Delphine. ‘’Por todas as Deusas...’’ Como se aquela constatação a arrebatasse definitivamente, se permitiu, se entregando por inteira àquela dança. Num rodopio magistral, passaram a percorrer todo o espaço do salão.
Cosima estava completamente embevecida, maravilhada pela enxurrada de sentimentos que a preenchiam naquele momento. Sentia-se admirada por cada constatação irracional que obtinha. Embora jamais houvesse dançado valsa em toda a sua vida, os passos surgiam em sua mente com assustadora familiaridade, como se ela os estivesse... Recordando? Como era possível? Desistiu de tentar compreender e mais uma vez, mergulhou em toda aquela loucura.
Imponente e exuberante, Delphine as conduzia com poderosa segurança e com a naturalidade de quem sempre fizera aquilo... De quem estava acostumada a comandar magistralmente cada detalhe de sua vida. Cosi adorou aquela sensação, porém, como uma chama que se inicia com cautela e depois se torna a poderoso queimar de uma floresta, ela sentiu em seu íntimo uma súbita vontade de conduzi-la, de comandá-la... Num movimento rápido, trocou a posição dos braços, surpreendendo sua orientadora, que finalmente abriu os olhos e se deliciou com a ousadia daquela mulher. Contrariando a tudo o que estava acostumada, estranhamente, Delphine cedeu... Se entregou e se deixou levar por ela em meio a uma estrondosa e espirituosa gargalhada. Mesmo a despeito da diferença de estatura entre elas, Cosima não se permitiu intimidar e se mostrou uma excelente condutora naquela dança tão tradicional. Naquele momento, foi ela quem fechou os olhos.
Novamente surpreendendo-a, outra melodia começou a ecoar e alcançar os ouvidos de Delphine. Ainda sem ter certeza, parecia que aquela doce melodia queria duelar com a que estavam vivenciando e, logo, Del percebeu que aquela canção provinha da memória de Cosima, que mesmo sem ter a noção do que estava fazendo, realizava a mesma projeção que ela! Completamente fascinada, Del se permitiu ouvir e encantou-se pela intensidade dos dizeres daquela canção, e não apenas isso... Se permitiu ouvi-la, senti-la, assim como sua aluna fazia. Então, Delphine olhou para ela... Pôde vê-la... Enxergá-la muito além do corpo e senti-la muito além do desejo. Contemplou o belíssimo rosto que trazia toda a paz que pôde sentir nos últimos dias... Experimentou provar da alegria inocente daquela mulher que tão firmemente a segurava. Se entrelaçou ainda mais a ela, só que dessa vez, era as almas que se tocavam. Mais conectadas do que nunca, Del vislumbrou as imagens que pairavam na mente de Cosima e que a incendiaram instantaneamente. Mergulhou ainda mais. Cos ainda a levava, mas o ritmo havia mudado... Novamente, Del colou sua testa na dela, sentido tudo que o momento as oferecia.
(...)Tell me that love is enough / Diga-me que esse amor é o suficiente
The seas will be parted for us / Os mares serão separados por nós
Tell me that love is, ooh / Diga-me que esse amor é...
In another lifetime / Em outra vida
I will never change my mind / Eu nunca mudarei de ideia
I will do it again / Eu farei isso de novo
Ooh, a thousand times / Mil vez
Just to let you in here / Apenas para deixá-la aqui
Where you make me lose my mind / Onde você me faz perder a cabeça
And I know that I find you / E eu sei que vou te encontrar
If I only get a thousand times (...) / Se eu tiver apenas mil vezes
In another lifetime / Eu outra vida
I would never change my mind / Eu jamais iria mudra de ideia
I would do it again / Eu faria tudo isso de novo
Ooh, a thousand times / Mil vezes
Just to let you in here / Apenas para deixá-la aqui
Where you make me lose my mind / Onde você me faz perder a cabeça
In another life I'd do it all again a thousand times / Eu outra vida, eu faria tudo de novo, mil vezes
Como se estivessem se afastando gradativamente da melodia, a música ficava cada vez mais distante, e os ritmados movimentos daquela encantada dança foram diminuindo de maneira cadenciada... O mundo desacelerou mais uma vez, drasticamente.... A certeza do que aconteceria em seguida finalmente as alcançou, e o fez com perfeita sincronia.
Os acelerados batimentos do coração de Delphine quase a ensurdeciam, tamanha era a emoção desencadeada por aquela canção... Tamanho era o desejo provocado por ela. Cosima finalmente estava em seus braços, e dessa vez, não através de uma conexão... Ela estava ali. Assim que o balançar de seus corpos cessou, Delphine sentia o frio da expectativa dançar em seu estômago, consumida pela vontade de tê-la ali.. Estavam paradas, mas ainda abraçadas. Ainda assim, sentiu uma ponta de receio... Um fragmento de dúvida crescer e assombra-la. Ela disse que esperaria por Cosima, porém, estava falhando miseravelmente e com muito sucesso em sua promessa! Tudo – absolutamente tudo - o que Delphine mais queria naquele singular momento, era finalmente provar os lábios tão desesperadamente ansiados. Mordeu os seus próprios assim que focou na boca de sua aluna, incapaz de impedir que sua língua deslizasse pelo lábio inferior, denunciando o já tão escancarado desejo. Delphine queria derreter-se naquela boca, e não sabia se até mesmo seu poderoso autocontrole seria suficiente para manter a promessa feita.
Cosima sentia um misto de quente e gelado em várias partes do corpo, absorta na sensualidade e no calor que o corpo de Delphine emanava. Permanecia com os olhos fechados, como se ainda não tivesse se libertado daquele maravilhoso transe que tinham vivenciado. Porém, ela podia sentir o peso da luxuriosa cobiça no olhar de Delphine, e só de imaginá-la consumida por tanto desejo já dava água na boca... Entreabriu os lábios com aquele pensamento, expirando pesadamente, fazendo com que o calor de seu hálito atingisse Delphine, que cerrou o maxilar e engoliu em seco com a fragrância deliciosa que Cosima exalava... Del sentia o meio de suas pernas se contrair com a vontade que a assolava. Cos relutou ao máximo em abrir seus olhos, perdida no magnetismo surreal que as envolvia ali. Porém, como se fosse arrebatada por uma furiosa onda de coragem, os abriu repentinamente, deslumbrando-se com a visão daquela mulher. Delphine era, com total abrangência da palavra, uma verdadeira Deusa. Assim que Cosima contemplou a impetuosidade exalada por cada poro de Delphine, toda e qualquer hesitação foi mandada para o espaço; nada mais importava.
Numa única fração de segundo, Cosima colou sua testa e seu rosto no dela, fazendo com que seus lábios praticamente se tocassem. O calor, o cheiro, a textura, o tesão... Tudo foi potencializado! Respiravam com dificuldade, sentindo a necessidade de se tocarem, se explorarem... Delphine tomou a cintura de Cosima, evidenciando que estava no limiar de qualquer resquício de controle que ainda restava! Cos espalmou uma das mãos nas costas dela, subindo até sua nuca, fazendo com que uma corrente elétrica a percorresse por inteiro. Fechando os olhos e entreabrindo os lábios, Delphine deixou que um gemido baixo e rouco escapasse e, assim que os abriu, se afastou apenas para que pudesse olha-la nos olhos, sentindo toda a força e a intensidade do olhar de Cosima sobre o seu.
O desejo as consumia como o fogo que se apossa do ar para manter-se vivo... O tesão era palpável e as envolvia inteiramente, sem medo, sem insegurança, sem a menor sombra de dúvida. Quando Delphine fez a mínima menção de dizer algo, sentiu-se arrebatada, envolvida e lançada num furacão das mais alucinante e surpreendentes sensações.
Cos a encarou por mais uma única fração de segundo e, em seguida, sem anúncios, sem palavras, sem amarras, sem que qualquer permissão fosse necessária, tomou os lábios de Delphine com os seus, primeiro, com uma candência temerosa e deliciosa, entre pequenos gemidos e respirações entrecortadas, deslizando a língua pelos lábios dela, saboreando-os, decorando a textura, a umidade, o calor. Avidas por mais, suas bocas se exploravam de forma alucinada, sensual e deliciosamente sedutora. A loucura da excitação que sentiam não podia ser descrita e nem mesmo explicada, fazendo com que correntes elétricas invadissem seus corpos, elevando o desejo a níveis alarmantes e até então, desconhecidos. A perfeição daquele contato, daquele sabor, daquele calor era simplesmente demais e, mais uma vez, Deusa e mortal haviam de fundido, em carne e osso dessa vez.
O mundo deixou de existir e o universo era somente as duas. Ambas sentiam os corpos fora do chão, flutuando no mais profundo desejo. E não apenas desejo... A sensação era de que suas almas haviam finalmente se encontrado, se tocado naquele beijo. A grandiosidade daquele toque tão íntimo era completamente surreal e extraordinária... Finalmente estavam provando uma à outra, perdendo-se na vontade de se conhecerem, de se explorarem, de se pertencerem.
Mergulharam em suas salivas da mesma forma que compartilhavam todas as indescritíveis sensações que vivenciaram... E muito melhor e mais vívido do que qualquer delírio outrora experimentando, o que elas dividiam ali, era a mais ancestral das conexões, dos desejos! Era único, colossal e erótico demais...! Quando pensaram que haviam chegado ao limite de suas razões, a explosão as dominou assim que suas línguas se provaram, se devorando, se explorando... Aquele toque era o ápice do tesão enlouquecedor que as consumia e cada terminação nervosa parecia um fio desencapado! Um gemido rouco e extasiado escapou por entre os lábios de Delphine, imediatamente seguido por um gemido deliciado e enlouquecido proferido por Cos, que mal podia se conter diante daquela mulher, daquela louca vontade, daquele profundo encontro de almas. Reagindo à insanidade que as dominava, as mãos começaram a explorar seus corpos com ávido fervor... Cada toque era ainda mais ardente e envolvente.
Porém, subitamente e com esforço sobre humano, Delphine interrompeu aquele beijo.
- Espera...! – Murmurou com visível dificuldade, visto a força com que buscava o ar. Se afastar de Cosima daquele jeito chegava a doer fisicamente. Mas era preciso. Assim que ela fez menção em insistir, fora novamente detida por Delphine. ‘’O que você está fazendo?’’
- Eu preciso de você! – Cosima choramingou com verdadeira súplica, comovendo uma desesperada Delphine, que oscilava entre a necessidade absurda e violenta que sentia dela, com o que era preciso e mais correto a fazer naquele momento. Largou a mão de Cos, tão somente para segurar o rosto dela entre as mãos.
- Eu também preciso de você, Cosima... Mais do que tudo... – A veracidade daquelas palavras parecia aumentar ainda mais o desespero que sentia. Os grandes e redondos olhos da morena suplicavam por ela. Que droga! Ela precisava de Cos, mais do que desejava admitir. – Porém, eu lhe fiz uma promessa. – Concluiu, suspirando com o que aquilo significava, assistindo Cosima bufar com aquela constatação. – E eu acredito que até ultrapassamos certos limites aqui, inclusive. – Sorriu com delicadeza, encarando o misto de sensações e emoções que perpassavam pelo olhar de Cos. – Além do mais, viemos aqui para que eu pudesse responder algumas perguntas, não foi? ‘’Ah, é... As perguntas...’’ Cos pensou de forma tão despretensiosa que fez Delphine rir.
Cosima abriu a boca três vezes, como se tentasse protestar, mas não foi capaz de dizer nada. Sabia que Delphine tinha razão. Sabia que haviam ido longe demais e aquilo a estava perturbando na mesma proporção. A verdade era que ela não pôde evitar! Não queria, e não poderia nem mesmo se quisesse. Não conseguia entender como Delphine estava ali, resistindo bravamente enquanto ela mal era capaz de se conter, ansiando desesperadamente pelo beijo dela de novo... Pelo pecado que era a boca daquela mulher... Por sentir o calor do corpo dela contra o seu, conduzido pela loucura do que sentiam. Como se uma luz se acendesse em forma de ideia, decidiu ir além. Cos encarou Delphine nos olhos, devorando-a com sua intensidade.
“Eu quero tudo isso com você...!” Reestabeleceu aquela conexão, estando plenamente ciente de que todas as imagens deliciosamente despudoradas e incrivelmente eróticas que passavam por sua cabeça, também eram projetadas na mente Delphine, que literalmente cambaleou para trás e apertou seu próprio abdômen.
“Cosima... Pare com isso.” Não havia convicção nenhuma naquelas palavras! O que Cosima pensava que estava fazendo? Aquilo era golpe baixo, baixíssimo, para não falar outra coisa. Cos sorriu com a falta de confiança no pensamento de sua orientadora.
“Tem certeza que quer que eu pare?” Sem a menor noção do perigo, Cosima provocou ainda mais, já partindo em direção a ela. Delphine mordia os lábios de maneira escandalosamente sensual, lambendo-os em seguida, sentindo a torrente de atrevidos calafrios percorrerem todos os seus membros, todos o seu corpo. Foi a vez de Cosima quase cambalear com aquela visão.
- Não, Cosima... Eu não tenho certeza... Eu não quero que você pare... Eu quero que você seja minha. – Dessa vez, foi ela quem irrompeu em direção à morena, na clara intenção de toma-la ali mesmo. A luxúria que permeava as fantasias projetadas por Cosima era impossivelmente torturante e Delphine não poderia suportar mais! Porém, em segundo antes de exigir a boca dela na sua, Del parou. – MERDE! – Praguejou enquanto largava Cosima, que a encarava com um misto de frustação e expectativa enquanto observava Delphine perambular pela sala com ambas as mãos em sua cabeça.
- Então, me diga... O que é isso? – Cosima estendeu as mãos. – O que é essa... Essa... – Gesticulava demasiadamente, em um claro sinal de agonia. – Essa...
- Conexão! – Delphine a ajudou.
- SIM! – Ergueu as mãos para o alto. – Então você realmente saber o que é! – Cos concluiu, mas não havia acusação em seu tom de voz. Delphine assentiu com um leve movimento de cabeça. - Por que eu tenho isso? E por que eu a tenho justamente com você?
- Não só comigo, Cosima. – Respondeu com fingida tranquilidade, tentando controlar o tom de voz. Estava extremamente receosa, já que o temido momento de esclarecer algumas coisas à Cos havia chegado, inorexavelmente. Ela não sabia se conseguiria se fazer entender ou mesmo se ela aceitaria tudo aquilo. Se entenderia o que aquilo poderia significar.
- Como assim? – Cos estava visivelmente consternada. Como explicar?
- Bom... Isso que nós temos... Essa conexão em específico, essa é só nossa. Mas, já pude presenciar você estabelecendo comunicações mentais com outras pessoas. Está mais para “sugestões” – Delphine falava pausadamente, procurando as melhores palavras. Ela continuava a andar pelo salão, mas num ritmo não tão frenético. – Como na noite em minha boate, quando você sugeriu ao DJ a música que você queria ouvir naquele momento. – Complementou assim que viu a interrogação e a confusão estampados no semblante de Cosima – Ou no taxi... Quando você informou ao motorista o nosso destino sem sequer dizer uma única palavra. – Del finalmente parou, aguardando que ela absorvesse tudo aquilo.
- O que? Mas... Eu... – O mundo tinha saído momentaneamente do eixo, e não da maneira incrível como havia acontecido a minutos atrás. Cos sentia sua cabeça girar e Delphine assistia com pesar e compaixão a agonia que pulsava em sua orientanda. Como se percebesse que algo recorria a ela, Del entendeu que Cosima estava repassando outros eventos como aqueles. Eventos que outrora não se explicavam ou ela considerava como pura sorte. Tomando fôlego, Cos a encarou. – Então, isso seria um tipo de...
- Habilidade mental? Poderes psíquicos? Magia? – A última palavra foi dita com demasiada cautela. – Os nomes são muitos, mas o fato é que algumas de nós – mulheres - os têm com mais intensidade do que outras. – Assim que concluiu a frase, a luz do luar que iluminava aquele lugar deu lugar a uma iluminação artificial, oriunda do lustre que pendia acima delas e que começava a ter algumas de suas dezenas de luzes acesas. ‘’O que??’’Cosima arregalou os olhos e a boca, percebendo que ele não havia sido aceso mecanicamente, mas sim, por outra coisa... Ou melhor, alguém. Engoliu em seco.
- Você... - Indicou o lustre, porém, antes que Delphine pudesse responder, o ranger da porta chamou sua atenção.
- Delphine! Desculpe interromper... – Helena estava nitidamente pouco a vontade em estar ali, claramente evitando olhar Cosima nos olhos. Prosseguiu. – ...Mas, chegou o momento. – Ela dizia com certo receio, já que, evidentemente, que ela não queria externar de forma claro do que se tratava aquele chamado. Cos encarou Delphine imediatamente, que alternava seu olhar entre ela e a mulher que as interrompera. ‘’Merda!’’ Suspirou pesadamente e com visível frustração.
- Eu já estou indo, Helena. – Disse, virando-se para Cosima, que estampava a incredulidade em sua expressão. Como ela ousaria sair naquele momento, deixando-a em meio a tantas dúvidas já adquiridas e todas as novas que acabara de conjecturar? – Cosima... – O pesar era o traço mais proeminente em seu tom de voz. - Eu realmente preciso ir... Tenho algo de extrema urgência para resolver nesse momento. – Fitou a impaciência de Helena a lhe apressar e revirou os olhos. – Todavia, peço que me espere. Volte ao baile se quiser, mas não vá embora sem antes falar comigo, por favor...! – Cosima sentiu-se comover com o tom de suplica carregado nas palavras de Delphine, assentindo com a cabeça e concordando em espera-la, embora sentisse sua mente girar em meio as dúvidas que lhe corroíam. Del sorriu um meio sorriso e Cosima a assistiu se afastar acompanhada de Helena. Antes que ambas alcançassem a porta, Delphine girou em seus calcanhares e correu em sua direção, parando por um segundo antes de senti-la e, mais uma vez, seus lábios se encontraram. Cos foi pega extremamente de surpresa, mal tendo tempo de reagir! Quando pensou em aumentar a intensidade daquele beijo, ele teve fim. Ainda assim, Delphine segurou o rosto dela entre as mãos com impossível doçura, olhando-a profundamente. Muito mais era expressado por meio daquele olhar.
“Espere por mim, Cosima.” A insistência daquela súplica demonstrava toda a insegurança que sua poderosa professora possuía. Como se precisasse certificar-se de que seu pedido seria atendido, segurou novamente em sua mão e voltou a guia-la. Passaram por Helena, que as encarava com uma expressão atônita, porém, não disse absolutamente nada, apenas abrindo passagem para elas, seguindo-as depois.
Fizeram todo o caminho de volta em silêncio, só que dessa vez, caminhavam lado a lado e com as mãos entrelaçadas. Ambas sentiam o peso do olhar de Helena logo atrás delas; e cada uma, a seu modo, tinha receio do que aquilo poderia significar, mas também não falaram nada.
Cosima pode ouvir as notas finais da performance da banda que tanto adorava e até se lamentaria por ter perdido boa parte do show, caso não tivesse acabado de vivenciar a experiência mais fantástica de toda a sua existência. Assim que chegaram à porta que dava para ao salão principal, Delphine parou e a fitou novamente, exalando ternura e doçura através do olhar. Levou a mão Cosima até sua boca, beijando-a demoradamente, porém, sem quebrar o poderoso olhar que compartilhavam. Aquela era a despedida, entretanto, não definitiva. Ela voltaria.
Helena abriu a porta para Delphine passar e Cosima pode perceber que aquela lindíssima e misteriosa mulher trabalhava para sua professora. As observou seguirem até onde um outro grupo de mulheres se encontrava e precisou controlar todo o seu entusiasmo quando viu, mesmo que de longe, a maravilhosa Florence se aproximar e cumprimentar Delphine.
“Ela a conhece...!” É claro que ela a conhecia. Contudo, ao contrário do que se poderia esperar, elas não se abraçaram ou trocaram beijos nos rostos. A cantora ruiva fez um gesto que Cos pareceu não reconhecer de imediato, porém que, de alguma forma, não lhe era totalmente estranho. Era uma batida no peito esquerdo com o punho fechado e depois, lançado em direção à Delphine. O que aquilo significava? Mal teve tempo de processar aquela imagem e foi calorosamente abraçada por seus amigos que já estavam preocupados com o “sumiço” dela.
“Se eles soubessem...”
******
Assim que se despediu de Florence Welch que saiu sendo levada por Helena, Delphine respirou fundo e seguiu os passos de Genevieve, que a guiaria até o local onde seu grande inimigo aguardava por ela. Era uma sala ampla e que ficava no andar de cima daquele palacete. O espaço era usado como sala de música, contendo alguns instrumentos espalhados por ali, além de cadeiras dispostas em filas e viradas para um pequeno palco que ali se encontrava.
Bastou que Delphine cruzasse a porta para que pudesse sentir a densa mudança na atmosfera do ambiente, localizando-o sentando na primeira fila de cadeiras, ainda de costas para ela. O ar parecia pútrido e carregado, mas não havia nada que fisicamente contaminasse o local, a não ser a presença sórdida de Lamartine. Susan Duncan estava sentada ao lado dele, levantando-se assim que percebeu a chegada de Delphine. A Mestra da Ordem finalmente estava ali.
- Patético! – Ele sibilou enquanto balançava as pernas cruzadas. – Não espera que eu me levante para você também, não é? – Concluiu com cortante ironia, ainda sem se dar ao luxo de virar-se em sua cadeira. Delphine revirou os olhos diante de toda a arrogância e pedantismo exalados por ele, todavia, estava mais do que acostumada aos trejeitos imundos e ao jeito tosco de Lamartine. Sabia como conduzi-lo, de certa forma. Fingiu impaciência!
- O que você quer comigo, Lamartine? – Caminhou em direção a ele que, assim que a percebeu ao seu lado, colocou-se de pé num átimo.
- Por favor, minha cara... Para você, é John! Para quê essas formalidades entre velhos... “amigos”, Delphine? – Representou as aspas teatralmente. Del precisou utilizar de todo o seu controle para não estapeá-lo na cara! O tom debochado que ele atribuiu ao seu nome, a enervou profundamente. Ela apenas rebateu com um sorrido ainda mais sarcástico, controlando a ânsia em seu estômago. Ele jamais se cansaria de ser inconveniente e estúpido. – Vamos ao que interessa, não é mesmo? A convidei aqui, juntamente com as suas... Como é mesmo que vocês se chamam? – Bateu com o dedo no lábio, fingindo pensar. – “Irmãs”. – Caprichou ainda mais no tom de escárnio. – As convidei aqui para agradecer a belíssima homenagem que me prestaram e, para tanto, eu gostaria que as Senhoras tomassem seus acentos... Bem aqui, na primeira fila.
As três mulheres ali trocaram olhares sugestivos. Susan e Genevieve pareciam receosas em seguir as instruções do maldito, porém, Delphine silenciosamente as tranquilizou e solicitou que ambas sentassem; assim elas fizeram, uma de um lado e a outra, do outro.
- Muito bem, “Jonh”... O que tem para nos mostrar? – Delphine indagou com fingida apreensão enquanto cruzava as pernas e depositava as mãos sobre a coxa. Aquele gesto fez com que Lamartine a encarasse mais demoradamente, pensando ter visto algo diferente nela. Como se alguma coisa tivesse acontecido com ou para ela. Ela parecia ainda mais confiante do que ele poderia se lembrar e, o temor que o acometera antes, retornou com ainda mais intensidade. Por fim, se deu conta que duas delas não estavam ali, sobressaltando-se com essa constatação.
- Antes de começarmos... Onde estão a Srta. Gibson e a... – Estalou os dedos como se buscasse algo em sua memória – Ah... A sua mais nova cadelinha? – Ele queria provoca-la. Delphine cerrou o maxilar com aquela afronta, dando o primeiro sinal de que estava sendo atingida. Como ele ousava?
“Huum... Então ela é realmente especial para você, não é?” Catalisou, totalmente deliciado.
- Estão cuidando de algumas questões do baile. – Ela respondeu enquanto mudava sua posição na cadeira, claramente exasperada. – Ande logo com isso, Lamartine... Tenho coisas mais importantes para fazer. – Ele cerrou os olhos, mas não sucumbiu à provocação dela, sorrindo com fingida expectativa. Subiu os três degraus até o palco, prostrando-se bem à frente das longas cortinas cor de vinho.
- Pois bem! – Pigarreou teatralmente. – Senhoras e senhoras... Estou aqui para mostrar o quanto eu sou grato por tão caloroso gesto para com a minha pessoa e, como forma de agradecimento, preparei um... – Escolheu as palavras. – Um pequeno show para vocês! – Anunciou estendendo os braços, porém, logo, a segurança tão exibida por ele deu lugar a certo desconforto, como se ele esperasse por algo, ou como se algo devesse acontecer ali, naquele exato momento.
- Algum problema? – Delphine o provocou.
- Não! Nenhum! – Bufou. O fato era que ele estava esperando a entrada de seus homens, visto que aquela era a deixa para que eles se juntassem a ele, trazidos por Paul e Ferdinand. Como a paciência não era lá uma de suas virtudes... – Se é que ele possuía alguma. - Desistiu de esperar e sem que nada fosse acionado, as cortinas começaram a se moverem sozinhas, revelando uma tela de projeção branca, iluminada por uma lua azul que provinha de e um aparelho projetor colocado no centro do palco. – Então, minhas caras, espero muitíssimo que apreciem o “presente” que tenho para as senhoras... Especialmente para você, Delphine. – Esboçou o seu melhor sorriso sádico e deu dois passos para o lado, acionando a projeção.
A imagem projetada parecia estar um pouco desfocada do outro lado daquela transmissão, e logo começou a tremer, indicando que alguém ali corrigia o problema. Lamartine mal conseguia conter sua ansiedade e Delphine não tirava os olhos dele. O foco da imagem estava no rosto de um homem moreno, ao qual Lamartine logo reconheceu como sendo um de seus homens de confiança, todavia, algo estava errado... Um traço de sangue escorria da lateral do rosto dele. Que diabos estava acontecendo?? Não se conteve.
- Osman? – Indagou exasperado!
- O Sr. Osman encontra-se impossibilitado de falar agora, meu querido. – Uma poderosa voz feminina se fez ouvir do outro lado da transmissão e, assim que a filmagem mostrou o quadro geral daquela cena, Lamartine literalmente cambaleou, tamanha era a incredulidade no que seus olhos viam.
“O que? Como?” A imagem revelava Siobhan Sadler, toda vestida de preto, empunhando seu rifle enquanto posava ao lado de um de seus capangas já totalmente rendido. John podia sentir o pavor irromper de seu estômago, espalhando para os demais órgãos de seu corpo! Temeu olhar em direção a Delphine, sabendo que ela certamente estaria se deliciando com aquela situação. Que porr* estava acontecendo?
Atordoado, ele tentou processar o significado de tudo daquilo. De alguma maneira, aquelas mulheres haviam descoberto seu plano e não somente isso... Ele fora desmantelado! Sentiu a ira começar a consumi-lo, lhe queimando as entranhas. Olhou novamente para seu celular e constatou que nenhuma das inúmeras ligações que fizera para Paul e Ferdinand, foram retornadas.
- Não se preocupe, Lamartine... Seus meninos passam bem, na medida do possível, é claro! – S continuou a falar no seu melhor tom irônico. Como se aquilo tivesse sido ensaiado, um estrondo se fez ouvir e, de uma porta lateral ao palco, ele viu, estarrecido, seu filho e seu capanga serem empurrados sobre algumas cadeiras. Aquilo não podia estar acontecendo! Sua confusão aumentou ainda mais no instante em que avistou Stella e Helena surgirem atrás deles, sem sequer um fio de cabelo fora do lugar. – E os demais que você enviou também estão em excelente companhia, assim como esses aqui. – Se afastou um pouco para que a câmera enquadrasse vários de seus homens amarrados ou algemados uns nos outros.
O sorriso de Siobhan só não era maior que o de Helena, que se regozijava ao provar o doce gostinho da vingança, mesmo que só uma parte dela. Lamartine caminhou a esmo pelo palco, passando freneticamente uma das mãos em seu cabelo. Quando estava prestes a assumir a derrota, algo lhe ocorreu, enchendo-o de uma frágil, mas suficiente esperança. Só então se virou para encarar Delphine e imediatamente se arrepender de ter feito! Quase voou sobre ela no intuito de esganá-la devido a raiva desvairada que o consumiu no instante em que contemplou o diabólico sorriso que ela tinha no rosto. Não! Ele não poderia sair por baixo ali.
- Hum... – Pigarreou – Se pensa que conseguiu me abalar, está muito enganada, minha cara! – Vangloriou-se. – Tenho uma surpresinha ainda guardada para você! – Estufou o peito e enfiou as duas mãos nos bolsos. E como se um soco fosse desferido bem no meio de sua cara, ele ouviu uma alta e quase estridente risada infantil. Completamente descrente, virou-se lentamente, deparando-se com a pequena menina loira que repousava no colo de Siobhan.
- Olha lá... Dê um tchau para aquele “simpático senhor”! – S conversava com a garotinha em seus braços. A pequena Manu olhou fixamente para aquele homem por um longo instante, em seguida lhe ofereceu um empolgado aceno de mão.
“INFERNO!” Como aquilo era possível? Ele constatou que todo o seu plano, plano este que havia sido milimetricamente planejado, acabara de ser destruído por sua inimiga! Incapaz de se conter, olhou com fúria para seus homens logo a frente, em seguida, encarou Siobhan, que ostentava um lindíssimo sorriso, sendo o suficiente para que a exasperação o consumisse. Porém, o golpe de misericórdia fora dado quando seus ouvidos captaram o som que ele mais odiava. Maravilhosa e plena, Delphine acabava de iniciar uma pequena e muito charmosa gargalhada. Ele se arrepiou.
- Cale a boca! – Cuspiu entre os dentes, ainda de costas para ela. Ele iria enfartar?? Parecia que sim! Cerrou seus punhos e fechou os olhos, inclinando levemente a cabeça para o lado. A imagem daquela projeção começou a falhar e a chiar, fazendo com que Delphine risse ainda mais alto, ainda mais deliciada. Respirando com muita dificuldade e totalmente ofegante, Lamartine estava chegando ao seu limite. – Cale-essa-maldita-boca – Insistiu enquanto retorcia o pescoço. A transmissão sumiu e o aparelho pareceu pifar, soltando faíscas inofensivas. As luzes daquela sala começaram a piscar e ele sentiu o calor incendiá-lo de dentro para fora. Mas... Ela não se calou. As demais mulheres assistiam aquela cena com evidente receio, temendo o que ambos poderiam fazer, torcendo para que Delphine mantivesse o controle da situação. Todavia, presenciar o desespero do inescrupuloso do Lamartine foi demais para ela. Delphine irrompeu numa gargalhada ainda mais estrondosa e provocadora, empurrando aquele homem ao abismo do descontrole. Possesso, ele urrou:
- CA-LA-DA! – Virou-se em direção a ela e, assim que a última sílaba fora desvairadamente gritada, uma onda de ar varreu o ambiente, lançando todas das cadeiras para trás, chocando-as contra as paredes. Um segundo antes daquilo acontecer, Delphine pousou ambas as mãos sobre as pernas das mulheres ao seu lado, claramente intuindo protege-las. Como se algo as envolvesse, elas não foram afetadas pelos efeitos daquela “onda”. Delphine ainda olhou para Helena e Stella, suspirando aliviada assim que constatou que estavam bem. O mesmo não poderia ser dito dos dos dois homens que estavam sobre as cadeiras, já que foram lançados juntamente com elas.
- Você pensa que ganhou alguma coisa com isso, sua vadia? – Inqueriu num tom de voz possuído pela ira enquanto descia do palco, seguindo em direção a ela. – Você não sabe de nada, sua vagabunda! – Bufou! – Existem várias casas como aquela! VÁRIAS! – Indicou a parede onde havia sido projetada aquela famigerada transmissão.
- E iremos acabar com todos elas! Uma a uma. – Helena se intrometeu enquanto se aproximava dele.
- Fique fora disso, cadela! – Ele berrou, brandindo sua mão direita como se pretendesse sacudir alguma coisa. Ele tentou “empurrar” mentalmente aquela desafiadora mulher, mas nada aconteceu. Foi a vez de Helena rir e alimentar ainda mais a sensação de vitória que entorpecia Delphine.
- Chega, Lamartine! – Finalmente ela se pronunciou, já se levantando e obrigando todos ali a ficarem verdadeiramente apreensivos. – Assuma sua derrota e suma daqui! – Concluiu com uma calma assombrosa, ainda divertida e levemente ofegante, tentando se recuperar da gargalhada magistral que havia dado.
- JAMAIS! – Novo urro. – Isso foi só um... Contratempo! – Mentiu descaradamente enquanto tremia de raiva. A vontade animalesca que o consumia, era a de esganar Delphine ali mesmo... Partir para cima dela e presenciar sua a vida esvaindo pelas mãos deles. Porém, ele sabia que aquilo não era possível. – Você não ideia do que tenho guardado para você e suas cadelinhas. – Ria debilmente, a despeito do desespero e do ódio que o possuíam. – O Martelo NUNCA irá se curvar sob o machado! – Cuspiu as palavras que ele sabia que iriam atingi-la em seu íntimo. – Você nasceu para me servir! Todas vocês, vadias rebeldes!
Delphine respirou profundamente, encarando-o com dureza e cólera no olhar. Aquela troca de olhares imediatamente eletrificou o ambiente, tornando-o ainda mais tenso, cada vez mais difícil de respirar. Mais uma vez, as luzes do local voltaram a piscar ainda mais frenética e enlouquecidamente. A energia oriunda daqueles dois poderosíssimos seres começou a extrapolar os limites daquela sala e, antes mesmo que pudessem assimilar o que verdadeiramente acontecia ali, todas as luzes que iluminavam o baile no salão principal, começaram a piscar e falhar também.
Cosima, ao contrário dos demais ali presentes, tinha uma ideia do que aquilo poderia significar, embora não tivesse a total clareza daquilo. Ainda assim, sentiu-se preencher por uma angustia tão dolorida, que um bolo se formou em seu estômago, acompanhado de um sufocante nó subiu por sua garganta, impedindo-a de respirar direito. Cos, cambaleou! Só não caiu porque fora amparada por seus amigos no instante em começava a desmaiar. Alarmados, os Semideuses viram o quão pálida ela estava.
- Cosima? O que você está sentindo? – Marc e Amélia perguntaram, nitidamente preocupados.
- Eu... eu... – Sua visão começou a ficar turva...
Enquanto isso, na sala onde um impressionante duelo de mentes era travado, várias luzes começaram a estourar e lançar estilhaços para todos os lados. O medo começou a tomar forma, dominando todos ali, com exceção dos dois. Helena se aproximou de Delphine e, temendo encontrar aquele sombrio olhar, sussurrou:
- Delphine... Por favor... – Tocou-lhe o braço suavemente. Sem maiores dificuldades, Delphine a encarou, quebrando o contato com o maldito do Lamartine. No instante em que interrompeu o olhar, as luzes da sala pararam de piscar. De fitou Helena com ternura no olhar, tocando a mão dela que ainda estava em seu braço.
- Não se preocupe, Helena. – Disse tranquilamente. – Vamos embora daqui! – Concluiu resoluta. As outras mulheres mal acreditaram no que estavam ouvindo! A incredulidade de tamanho controle demonstrado por Delphine tinha sido demais, num ponto em que ele voltou a ser inteiramente consumido pela ira, que fora potencializada no instante em que Delphine lhe deu às costas, afastando-se dele e sendo seguida pelas outras 4 mulheres.
- Não ouse me dar às costas, sua cretina!! – Cuspiu entre os dentes. Ela não se importou com o showzinho dado por ele e continuou se afastando, totalmente resoluta. – Para onde você pensa que vai? Acha mesmo que eu e meus homens seremos presos? Está redondamente enganada! – Ele falava num tom furioso, quase babando de raiva! Delphine e as demais sabiam que ele dizia a verdade. Os contatos e influências que ele possuía lhe garantiria imunidade total, pelo menos por enquanto. Ainda assim, nem aquela afirmação a abalou. Ela seguiu caminhando em direção a porta enquanto as demais mulheres a olhavam com certo receio. Imundo do jeito que era, ele não desistiu.
- Você não conseguiu nada. NADA! Está me ouvindo? – Ele continuava sendo ignorado. – Você pensa que tirou alguma coisa de mim, impedindo o meu pequeno prazer com aquelas garotinhas...?? – Aquela colocação fez com Delphine balançasse levemente a cabeça, reafirmando seu controle diante daquele ser tão desprezível. – Isso não foi nada, Delphine!! – O desdém se fazia ainda mais presente na pronuncia de seu nome. – Nada comparado a tudo que você tirou de mim! – Ela diminuiu a velocidade dos passos... – Você acabou com a minha vida... Quando A ROUBOU DE MIM!!! – Ele urrou. Ela cerrou os punhos.
- Minha filha, por favor...Não! – Genevieve a segurava pelo braço.
Do lado de fora, Cosima sentia sua cabeça girar e, como se alguém estivesse comprimindo seus pulmões e lhe roubando o ar, ela bufou.
- Eu preciso sair daqui! – Desvencilhou-se dos braços dos amigos que, ao contrário do que poderia ser esperado, permanecerem imóveis, encarando-a se afastar como se algo os estivesse impedindo. Caminhou tropegamente em direção a saída e pensou ter ouvido a voz de...
“Delphine?” Mas não obteve resposta, ao contrário, Sentiu como se a mulher por quem ela nutria um intenso sentimento estivesse se afastando dela, desaparecendo gradativamente. Náuseas começaram a fervilhar e lhe embrulhar o estômago, fazendo-a correr para fora dali. Abriu as portas do salão num rompante, assustando os rapazes que recepcionavam os convidados. Tentaram questioná-la sobre alguma coisa, mas ela nem prestou a atenção... Não conseguia focar em nada. Seguiu cambaleante pelo caminho que a levaria até a avenida. As luzes que ladeavam esse percurso também começaram a piscar.
- VOCÊ A TIROU DE MIM! – Ele continuava a berrar dentro daquela sala, recomeçando a caminhar em direção a ela. – Olhe para mim! OLHE PARA MIM, SUA BRUXA CRETINA! – Insistia e se esgoelava, mas Delphine resistiu e alcançou a maçaneta da porta, lutando bravamente contra a vontade absurda e avassaladora que sentia de partir para cima dele, porém, não era sensato e ela não poderia fazer aquilo sem se expor. Ele estava usando as piores e mais baixas armas para atingi-la, mas ela precisava resistir... Ela seguia resistindo. – OLHE PARA MIM! – Lamartine não se dava por vencido! A loucura que pairava sobre seus olhos e a frustração pela memorável derrota que acabara de sofrer, consumiam inteiramente o seu ser e o impeliram a ultrapassar o último limite... Aquele que certamente a desestabilizaria, aquele que a perfuraria mais fundo que qualquer lâmina, que a machucaria como nenhuma arma física seria capaz de fazer.... Aquele, era o golpe de misericórdia que John guardava para si.
- OLHE... PARA... – dizia cada palavra em sincronia com seus passos – MIM... – Respirou profundamente e cuspiu o final daquela frase com toda a intensidade de sua obscura alma: – EVELYNE CHERMONT!
Ela paralisou.
Ele vibrou.
As demais mulheres sentiram o sangue gelar em suas veias, percebendo que nenhuma delas seria capaz de evitar o que aconteceria ali.
Delphine Marie Cormeir... Aquela poderosa mulher estremeceu até o mais profundo canto de sua alma ao ouvir aquele nome... Um nome há tanto tempo esquecido. Sentiu o gosto de toda a amargura e ódio alimentados por tanto tempo em seu coração. Olhou rapidamente para Helena... Seu olhar carregava uma dolorosa suplica, juntamente com um silencioso pedido de desculpas. Em seguida, Delphine cerrou o maxilar e baixou a cabeça... Quando voltou a ergue-la, seu lindo e impressionante rosto estava completamente tomado pela expressão sombria e pelo fantasmagórico olhar que tanto apavoravam Helena. Ele tinha conseguido... Delphine havia mergulhado na escuridão que tanta lutava para combater.
- Eu não tirei nada de você! – Ela sibilou, virando-se para ele que, por um átimo de segundo, pareceu apavorar-se com o que via nos olhos dela. As cadeiras e os demais moveis daquele lugar começaram a tremer. – Foi você, seu maldito! Você quem tirou tudo de mim! – Ela rugia entre dentes, oprimindo-o com a energia obscura que pulsava dentro dela. Ele recuou àquela investida. – Foi você... Você quem roubou a minha vida, a minha razão de viver. – As portas e janelas daquele lugar começaram a tremer para em seguida, abrirem e fecharem repetidamente. Ela continuava a caminhar em direção a ele. – Ela era o meu mundo! Ela era a minha alma, e você a arranco de mim! – As lágrimas amarguradas começaram a escorrer por seu rosto. – Eu a amava mais do que tudo! Mais do que a minha própria vida! – Já estavam bem próximos um do outro.
- Eu também a amava! – Ele disse com uma pontada de receio na voz. Ela riu de maneira sádica e debochada, acenando negativamente com a cabeça. Aquela tinha sido a afronta final dele. Como toda a ira e dor que consumia seu coração, ela gritou:
- EU A AMAVA E VOCÊ A MATOU! – Era isso... Lá estava o início de uma escuridão que há muito tentava predominar.Todos os vidros de todos os ambientes daquele palacete explodiram em milhares de pedacinhos.
Lá fora, no instante em que Cosima passava por entre os dois canhões de luzes, eles também explodiram, lançando inúmeros estilhaços de vidro sobre o corpo dela que caia desacordado ao chão.
Fim do capítulo
Link da Valsa: https://www.youtube.com/watch?v=urpFyDeZZ7A
Link da Música: https://www.youtube.com/watch?v=l3FV7pnTNeo
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Flavia Rocha
Em: 01/01/2018
Capitulo bom. Deu pra sentir muitas coisas boas quando elas estavam dançando, e também na hora do beijo.
E respondendo a pergunta: Eu pensei que o Lamartine era o pai da ruiva por causa do sonho da Cosima, em que a ruiva briga com o pai, e o pai fala que odeia a mulher que ela esta sempre junto.
Será que a Helena é imune ao poder da Cosima também?
Ah, tenho que falar que não aguentei a curiosidade e fui ver a série. E, minha nossa! Não sabia o que tava perdendo. Viciei, ja vi todas as temporadas, reprisei alguns capitulos. Que atriz maravilhosa essa Tatiana Maslani. E o sorriso dela é de matar.
Resposta do autor:
Oi Flavia,
Fico muito feliz que tenhas ido ver Orphan Black. Uma das minhas séries favoritas de todoso os tempos e a Tat é genial e a química dela com a Eevelyne Brochu é algo surreal.
E você está certíssima em sua suposição. Isso mostra o quanto estais atenta.
Caso queiras falar mais sobre a fic e/ou a série, podes me adicionar no face:
https://www.facebook.com/profile.php?id=1223930183
Xeros e Feliz Ano Novo
Ska
Em: 27/12/2017
Ooow q capítulo em?!
Maravilhoso, essa e a hora q cosima começa a saber se tudo, pena q aconteceu aquilo no final e agora será q ainda vai ter conversa entre elas?? mal posso esperar o próximo capítulo, para começar o ano bem ja sei oq vou fazer!! vou estar lendo lógico. rsrs feliz ano novo meninas.
Resposta do autor:
Cosima está tentando entender o seu papel nisso tudo mas não vai ser fácil. E só postaremos na segunda-feira dia 01/01 viu?
Bom Ano Novo
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Angel68
Em: 26/12/2017
As sensações descritas nessa história são tão reais, que é como se estivéssemos na pele de Delphine e Cosima sentindo a mesma coisa, tão forte e real a maneira como as autoras descrevem os sentimentos delas....esse embate de Delphine e Lamartine foi épico, uma verdadeira catarse....é sobrenatural....Delphine é poderosa, mas essa Lamartine me dá medo...louca para saber em detalhes tudo que aconteceu pro ódio mortal que existe entre os dois, e nessa equação, Cosima, que pra mim ainda é uma incógnita nessa situação toda....
Resposta do autor:
Como eu disse em outro comentário, Cosima ainda está tentando compreender o seu papel e a sua origem. O porque dela ter recebido a tal "herança" (livro e diário) e sobre toda a mística que envolve a Delphine que já sabemos, não ser essa a sua verdadeira identidade.
E acredite, o ódio entre eles é real e vai muito além da Guerra dos Sexos. É muito mais profundo e sombrio.
Xeros
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