Estamos com mais um capitulo para a apreciação de vocês! Em tempo, é importante ressaltar que o nome desse capitulo, bem como o anterior, é a nossa homenagem ao maravilhoso livro A Hora das Bruxas, de Anne Rice!
Como não podia deixar de ser, segue a imagem da nossa maravilhosa Stella Gibson,
Desejamos a todos uma leitura incrível e mística!
Até domingo que vem :)
Capítulo 24 A Hora das Bruxas (Parte 2)
Helena contemplava o corpo nu da mulher que repousava adormecida em sua cama. As longas madeixas loiras repousavam espalhadas em seu travesseiro e o seu lençol mal cobria aquelas pernas torneadas e exuberantes. Tê-la ali, envolta em tudo o que era seu, lhe causou uma sensação acolhedora, uma que há um bom tempo ela não sentia.
Era realmente uma mulher fascinante e intrigante. Sua absurda liberdade e autossuficiência poderiam assustar e até mesmo intimidar qualquer um, mas não a ela. Era justamente isso que a atraia e permitia que o entrosamento entre elas fosse quase explosivo, exatamente como havia sido há algumas horas, ali mesmo, naquela imensa cama, minutos após terem chegado de seus compromissos, porém, com o mesmo propósito em mente.
Ali, tão próxima a ela, observando-a dormir, Helena lembrou-se da satisfação que sentiu ao entrar na sala de desembarque exclusiva do aeroporto Charles de Gaulle e encontra-la lá à sua espera. Stella Gibson, em toda a sua elegância e soberba. Helena adorou observar o encontro dela com Delphine, já que, para ela, as duas praticamente se equivaliam em presença de espirito e, acima de tudo, um charme avassalador.
Stella Gibson, membro da alta cúpula da Ordem do Labrys, aquela que fora a melhor pupila de Siobhan Sadler e que tinha sido escolhida para ser a substituta como Protetora de Delphine. Contudo, sua inteligência singular e perspicácia extraordinária seriam muito melhor aproveitadas em outras esferas; obviamente, S não se enganou. Atualmente, Stella é uma das diretoras da CIA e uma das melhores agentes que a agência já teve e, como tal, é a essencial e principal fonte de informações acerca de todas as ações escusas e ilícitas de John Lamartine em âmbito internacional e não somente isso; foi ela quem conseguiu e disponibilizou todas as informações referentes à Cosima Niehaus.
Helena também se lembrou que foi Stella quem a apresentou à S e a Ordem há uns anos atrás, quando tiveram um tórrido e conturbado relacionamento que ia e vinha. Também fora ela quem lhe apresentou Joana, com quem se envolveu de maneira mais séria, uma vez que Stella não desejava estabelecer um relacionamento com Helena, não do jeito que ela queria. Ainda concentrada na respiração leve e relaxada da mulher à sua frente, ela riu dessa lembrança. O destino era mesmo surpreendente e lá estava ela, mais uma vez, de volta a sua vida e mais... De volta a sua cama.
Voltou a olhar as informações que Stella trouxe acerca dos últimos anos da vida de Cosima, como ela havia solicitado. E, para a total frustração de Helena, nada de suspeito fora encontrado. Nenhum contato aparente com qualquer membro Ordem do Labrys, o que só aumentou suas suspeitas e desconfianças. Como era possível que Cosima tivesse obtido tantas informações sigilosas sem a ajuda de alguém de dentro? Não sabia exatamente o porquê, mas não conseguia confiar nela. Talvez ela não tivesse a consciência de quem era ou de que estivesse sendo usada por alguém, mas ainda assim, essa suposta ignorância não a inocentava.
Com certa frustração, largou os papeis sobre a beira da cama e um segundo depois, a campainha de seu apartamento soou. ‘’Merda.’’ Aquele som fez Stella se mexer na cama ainda completamente sonolenta e, antes que a campainha voltasse a tocar, Helena correu até lá. Era a moça da lavanderia trazendo os trajes para o baile de logo mais. O famigerado e altamente arriscado baile... Helena suspirou; por mais que entendesse a necessidade daquele evento, não sentia-se nada confiante e a vontade naquela situação. Os surtos doentios e sádicos de Lamartine eram imprevisíveis. Agradeceu gentilmente e assim que fechou a porta, a escutou chama-la.
- Que horas são? – Perguntou descontraída com sua característica voz rouca e aveludada. Helena se virou para encará-la e assim que o fez, sentiu um tremor invadi-la por dentro.... Ela estava completamente nua. Maravilhosamente nua. Stella era linda - pra dizer o mínimo - e tinha um corpo invejavelmente escultural, com músculos bem definidos e torneados, reflexo de todo o seu pesado treinamento e, embora fosse mais baixa que ela, tinha uma presença que a agigantava. Helena não resistiu e foi a seu encontro, tomando-a novamente nos braços.
- Hora de nos prepararmos. – A beijou intensamente, sentindo as mãos dela apertarem sua bunda de um jeito sugestivo e muito atrevido. – Não senhora! – Helena sussurrou com a boca ainda na dela, segurando as mãos que insistiam em querer provoca-la. – Não temos tempo para isso. - A loira protestou, mas não se deu por vencida! Num inesperado movimento, tirou o pé de apoio de Helena, obrigando-a a cair deitada no chão enquanto ela se jogando-se sobre a morena, sentando em sua cintura. – Falo sério, Gibson! – Tentou engrossar, já completamente dominada por ela.
- Então me vença, Katz! – Stella a desafiou, já metendo sua mão direita dentro da calcinha da morena em baixo dela, arrancando-lhe um gemido baixo. E como sempre, Helena não conseguia vencê-la, embora não se esforçasse verdadeiramente para isso... Stella conhecia todos os caminhos do corpo dela e o dominava com absurda maestria, fazendo com que aquela poderosa mulher sucumbisse e se entregasse como a nenhuma outra diante dela. – E um pequeno atraso é extremamente elegante! – Brincou enquanto virava a morena de bruços. – Além disso... – Continuou enquanto arrancava a calcinha de Helena! – Você me deve uma, pelo “favorzinho” que me pediu. – Helena riu deliciada com o tom provocativo de Stella.
- É mesmo, Srta. Gibson? Eu estou aqui... pronta para pagar o que lhe devo...! – Ouviu o som da risada de Stella, cheia de expectativa com aquela intima permissão. Helena sentiu-se totalmente entregue aos encantos daquela mulher, que a tomava e a explorava em todos os lugares possíveis, mergulhando aquele apartamento na deliciosa loucura do que faziam.
*****
Canhões de luz eram vistos em quase toda a cidade e toda a alta sociedade parisiense havia sido convidada para aquele solene baile. Autoridades da política e da academia estavam ali e boa parte da Imprensa Nacional estava à espera de todos que iriam chegar para o ilustre evento da noite.
De dentro de sua luxuosa limusine, John Lamartine assistia a todo aquele circo montado para recebê-lo. Em sua expressão, um doentio êxtase imperava, uma vez que ele sentia um prazer sórdido e quase lunático em ser o centro das atenções, justamente por saber o efeito que causava nas pessoas e pela forma como adorava “jogar” com suas percepções e vontades.
- Já temos notícias de Osman e de Istambul? – Questionou aos outros dois homens que estavam ali com ele. Ambos trocaram olhares receosos, já sabendo do que aquele homem era capaz de fazer caso fosse contrariado.
- Ainda nada até o momento. – Paul hesitou assim que captou a mudança no semblante do pai. – Porém, recebemos uma mensagem dele há algumas horas, informando que estava tudo encaminhado. – Tentou trazer alguma tranquilidade.
- Ferdinand... – Fez quentão de ignorar o filho como forma de castigo, como se ele nem estivesse ali. – Me dê boas noticias. – Ferdinand retesou a postura assim que lhe foi dirigida a palavra.
- Sim, Sr. Lamartine. Nossos homens já se infiltraram nas dependências do Salão principal. – Informou, inflando o peito e olhando de soslaio para Paul, na clara intenção de provocá-lo.
- Ótimo! É muito bom ter alguém competente por aqui. – Respondeu Lamartine enquanto ajustava o seu sobretudo. – Não vejo a hora de olhá-la nos olhos enquanto ela assiste o pequeno show que preparei para ela. – Tratou de mudar o sorriso assim que a porta do seu lado foi aberta. Uma avalanche de flashs invadiu o ambiente e aquele elegante homem distribuiu sorrisos educados e calorosos para todos os presentes. Ele desfilava sobre o tapete vermelho com a naturalidade de quem sempre o fizera. Os outros dois homens vieram mais atrás, também cumprimentando os presentes ali.
Logo, ele alcançou a base da imponente escadaria que dava acesso ao Salão e, assim que ergueu seus olhos, avistou a exuberante e elegante mulher que o esperava.
- Minha querida Susan! – A abraçou com suavidade, beijando as bochechas dela.
– Seja muito bem-vindo de volta, meu querido. – Ela respondeu, posando ao lado dele a pedidos dos fotógrafos e jornalistas.
- Há muito tempo que não venho aqui! Acredito que a última vez tenha sido... – Pareceu pensar com intensidade. – Ah sim... Pouco antes de nosso divórcio! – Apertou a mulher pela cintura e essa, muito se esforçou para controlar o embrulho em seu estômago e o arrepio que lhe subiu pelas costas.
******
Luxo. Um incomparável e extremo luxo era a expressão mais apropriada e mesmo assim, não chegava nem perto de definir o que era aquele baile. A elegância e sofisticação estavam estampadas em cada mínimo detalhe, evidenciando que não haviam economizado em absolutamente nada, proporcionando um evento digno da Realeza.
Aquele peculiar e incrivelmente estiloso grupinho não poderia passar desapercebido em meio aos convidados. Os cinco semideuses haviam chegado juntos, trazidos por uma limusine que fora alugada para aquela tão esperada ocasião.
Marc, Louis e René estavam extremamente elegantes em seus smokings pretos formais. O mais ousado dos três era, surpreendentemente, Louis, que tinha alguns detalhes marcando a gola do seu blazer, além de chamar atenção com os sapatos azuis de bico fino que brilhavam chamativamente. Marc parecia verdadeiramente incomodado com o fato de ter pedido no quesito ousadia! Todavia, rapidamente esse detalhe passou a não ter importância, uma vez que as duas Semideusas roubavam toda e qualquer atenção para elas!
Sophie vestia um belíssimo e provocante tomara que caia verde musgo e de corte reto, que tinha uma insinuante fenda na parte de trás. Já Amélia, era um show à parte. Começava pelo corte feito em seus belos cabelos, deixando-os audaciosamente curtos. Vestia um ousado vestido amarelo de alças finíssimas, mal sendo vistas e de corte mais rodado nas pernas. A cor contrastava e destacava sua cor de pele, atraindo a atenção e os olhares de homens e mulheres que estavam ali.
- Meus caros Semideuses... – Marc chamou a atenção dos amigos. – Merecemos um brinde, por sermos o grupo de pessoas mais incrivelmente lindo e gostoso desse baile! – Ergueu uma taça de champanhe, indicando que os amigos fizessem o mesmo. – Aos Semideuses! – Aos Semideuses! - Repetiram em uníssono.
- Pena que a Cos ainda não chegou. – Lamentou Sophie. – Será que ela vem mesmo? Quando eu falei com ela mais cedo, ela disse estar em dúvida se viria ou não.
- Ela que nem se atreva... – Louis a interrompeu. – Aquela obra de arte em forma de vestido precisa ser exibida!
- Ela virá! – Marc disse com profunda segurança. – Felix disse que iria buscá-la assim que deixasse a Professora Cormier aqui.
- Gente... Vocês tem a noção do Champanhe que está sendo servido nesse baile? – Amélia questionou, chamando a atenção dos demais. – Nada mais, nada menos que um Moët & Chandon – BiCentenary Cuvée Dry Imperial. – Contemplou a taça e sorveu mais um gole, reverenciando a bebida em mãos.
- Como você sabe? – René a indagou.
- Passei pela copa quando voltava do banheiro e vi os garçons servindo. Isso é pura ostentação!
- Estou chocado! Quem vocês acham que está bancando tudo isso? – Louis se mostrou curioso.
- Dizem as boas línguas que é ninguém menos que a nossa digníssima orientadora. – Marc confidenciou em tom de cochicho, fazendo os demais arregalarem os olhos!
- Como ela está belíssima! – Sophie interrompeu o amigo assim que seus olhos alcançaram uma das convidadas que acabara de chegar. Era a professora Marion Bowles que impressionava pelo insinuante vestido preto, absurdamente colado a seu corpo e que atraiam muitos olhares para ela, contudo estava acompanhada de um jovem rapaz moreno que logo os Semideuses identificaram como sendo um de seus mais novos orientandos.
- Parece que ela lhe substitui muito rápido René! – Amélia provocou o amigo que apenas lhe respondeu com um sorriso sem graça. A professora Bowles reconheceu o distinto grupo de estudantes e fez questão de se dirigir até eles.
- Boa noite a todos! – disse sem ter a preocupação de apresentar seu acompanhante. – Mas vejo que falta um integrante desse seleto grupo de jovens pesquisadores – Ela disse após varrer a todos ali com os olhos. – Onde está a Srta. Niehaus? – Haviam muitas intensões por trás daquela pergunta.
- Ela está a caminho professora! – Louis disse secamente, denotando que não pretendia dar maiores explicações. A mulher lhe lançou um olhar mais duro mas logo desviou sua atenção para outro membro daquele grupo.
- E como estas meu caro René? – falou enquanto ajeitava a gravata do rapaz – Precisamos repetir aquele jantar, ou melhor... Continua-lo! – disse entre dentes. Todos ali olharam desconcertados para o rapaz que acompanhava a professora e o mesmo parecia envergonhado mas nada disse.
O desconforto de todos só foi suplantado pelo burburinho causado pela passagem do homenageado da noite, que vinha acompanhado da Reitora daquela secular instituição.
John Lamartine exalava elegância e soberba, arrancando suspiros de muitos dos convidados ali. Ele caminhava com incrível pompa, como se tivesse saído direto de um baile da antiguidade. Seu smoking impecavelmente branco se destacava em meio aos demais homens. Os cabelos castanhos, mesclado de fios grisalhos estavam perfeitamente cortados e, o cavanhaque perfeitamente aparado, emoldurava um belíssimo rosto, iluminado por dois redondos e altamente expressivos olhos verdes. Insanidades à parte, era o charme em pessoa.
Finalmente, o mestre de cerimônias do evento deu inicio aos rituais planejados e anunciou a primeira valsa da noite, que seria aberta pelo homenageado e pela reitora da universidade. A brilhante orquestra ali presente, iniciou os primeiros acordes da poderosa Valsa do Imperador de Strauss e o casal bailou com eximia maestria, hipnotizando todos os convidados ali, que apenas assistiam encantados e de queixo caído àquela aula de valsa! A banda emendou um Danúbio Azul e logo vários casais se formaram e partiram para a pista de dança. O esplendor e a elegância preenchiam aquele salão desde a maravilhosa melodia, até o envolvente charme dos casais que bailavam ao ritmo da orquestra.
Quando a música já estava próxima do fim, as atenções começaram a ser a atraídas para algum ponto próximo a entrada do evento e, tão logo, os convidados mais próximos começaram a abrir passagem para alguém. Os Semideuses erguiam as cabeças na tentativa de verem quem causava aquele burburinho e logo puderam vislumbrar um belíssimo e impossivelmente provocante casal de mulheres que seguia em direção ao homenageado da noite.
Um exuberante e extremamente sexy mulher loira, que tinha os cabelos soltos numa proposital e charmosa bagunça, ainda mais ressaltados pelo vestido que ela ousava vestir, sendo a verdadeira definição de provocação! Era um branco perolado, frente única e que ajustava-se perfeitamente àquele corpo escultural. Os braços torneados e as costas de músculos definidos estavam à mostra. Seu olhar era sedutor e provocante na medida certa.
Sua acompanhante não ficava em absolutamente nada atrás, muito pelo contrário, visto que ela trajava um ultrajante e absurdamente lindo smoking feminino de cor preta, alternando com um leve brilho e detalhes em cinza escuro. A calça estava perigosamente colada em suas pernas esguias, que eram sustentadas por lindíssimas sandálias de salto alto! Para completar o visual e atraindo todas as atenções do lugar, um magnifico blazer que fechava cruzando diante de si e sem mais nada por baixo dele, evidenciando um escandaloso decote ornado por uma sofisticada corrente de um metal fosco. Seus cabelos estavam maravilhosamente alinhados e soltos, apenas preso nas têmporas.
Eram Stella Gibson e Helena Katz!
Assim que as duas alcançaram seu alvo, o homem fechou o escancarado sorriso que ostentava assim que encarou Helena, maravilhosa e imponente diante dele. Enquanto estendia sua mão para cumprimentar aquelas mulheres, olhou por sobre o ombro, buscando seus dois acompanhantes, encontrando um atônito Paul que quase estourou a taça que tinha em mãos, dada a intensidade com que a apertada em detrimento da inconveniente surpresa em ver aquela mulher goz*ndo de perfeita saúde.
- Lamartine... Como vai? – Stella foi a primeira a apertar a mão do sujeito, porém, o fez com descarado desdém no tom de voz.
- Srta. Gibson. Não esperava encontrá-la aqui. – O evidente desprazer era compartilhado por ambos, mas, para Lamartine, algo parecia preocupa-lo verdadeiramente.
- Não sei se já conhece minha companheira... – A última palavra foi carregada de um significado intrínseco e que não passou desapercebido. – Helena Katz! - Essa por sua vez, ameaçou não estender a mão em cumprimento a ele, porém, um olhar mais intenso de Stella a obrigou, mesmo em total contra gosto.
- Sr. Lamartine... – Helena imprimiu uma força demasiada naquele aperto de mãos, deixando clara toda a antipatia e raiva que sentia por ele. – Parabéns por sua nomeação. – Usou de todo o seu cinismo.
Lamartine sentia-se cada vez menos confortável em estar ali, na presença de todas aquelas mulheres; mulheres que representavam tudo o que mais repudiava e, para o seu azar, muito mais estava por vir.
- Jonh Lamartine! – Uma poderosa voz feminina se fez ouvir em meio àquele pequeno grupo. Era Genevieve Cormier, que havia acabado de se juntar a eles. A antiga Mestra da Ordem estava elegantíssima, com mais um de seus vestidos brancos, ornada por luxuosas e lindíssimas joias, ostentando todo o seu poder aquisitivo. – Faz tempo que não nos vemos! – O cinismo que permeava o ambiente já assumia níveis alarmantes e as quatro mulheres se puseram lado a lado diante daquele imponente homem que já começava a dar indícios de um desconfortável temor.
- Genevieve... – A cumprimentou com evidente desdém, encarando seus homens e os convocando à prostrarem-se ao seu lado, numa clara tentativa de equiparar forças.
- Paul Dierden... – Helena aproximou-se perigosamente daquele homem, encarando-o de igual para igual. – Vejo que se recuperou muito bem... – Debochou enquanto tocava o rosto dele, verificando o nariz que havia sido quebrado por ela na última vez em que se viram. – Terei que caprichar mais da próxima vez. – Deu dois tapinhas na bochecha esquerda dele com um irônico sorriso em seu lindíssimo rosto. A verdade era que Helena esforçava-se ao máximo para conter toda a sua raiva e a vontade descomunal de partir para cima daquele cretino, reivindicando sua tão ansiada vingança. Entretanto, ela sabia que não tardaria nisso e optou por aguardar, resignando-se.
A tensão que pairava sobre aquele pequeno grupo parecia passar desapercebida pelos demais convidados da festa, que continuavam a usufruir de todo o luxo e requinte oferecidos ali. A orquestra agora tocava sucessos mais atuais e a pista de dança já estava tomada por empolgados e alegres convidados, todavia, a Orquestra pareceu encerrar a música bruscamente, desafinando as últimas notas, claramente pega de surpresa! Essa gafe chamou a atenção de todos os presentes no salão, fazendo com que as quatro mulheres gargalhassem em puro deleite, como se soubessem exatamente o que estava acontecendo ali! Um segundo depois, um burburinho começou a percorrer o local com a velocidade e intensidade de uma onda que foi ganhando força e que arrebentou no topo da escada de acesso ao salão.
Parada, em toda a sua soberania e magnificência, exalando poder e ressignificando o conceito de que é belo, estava a surreal e magnífica definição de perfeição, beleza e sensualidade... Envolta em um espetacular vestido vermelho de um tecido leve e que parecia pairar em volta de seu extraordinário corpo, Delphine Cormier simplesmente brilhava, inevitavelmente capturando a atenção de cada relés mortais ali presentes e, apesar de ela poder fazer aquilo deliberadamente, naquele momento, ela os capturava apenas com a visão do que ela era naquela noite.
Fugindo ao seu predominante estilo sóbrio, Delphine ofendia a todos com um lindíssimo e deslumbrante vestido vermelho, de alças finas e muito bem ajustado ao seu tronco, porém, deixando muito dos languidos braços e das perfeitas costas a mostra, enlouquecendo qualquer um que se atravesse a admirá-la. Os mágicos cabelos estavam presos num coque que evidenciava as ondulações e atribuía-lhes um tom de loiro mais escuro. De fato, ela era a personificação de uma beleza única, quase dando para ouvir o barulho dos queixos de encontro ao chão!
Delphine ignorou todos os olhares que se perdiam e mergulhavam nela enquanto varria aquele imenso salão na clara tentativa de encontrar alguém... Na tentativa de encontrá-la. Para seu profundo descontentamento, os olhos tão ansiados não se estavam ali. Suspiro profundamente após piscar os olhos de maneira cadenciada e demorada, como se preparasse seu espírito para tudo que aquela noite prometia. Começou a descer os degraus e praticamente flutuar por entre as pessoas que, como de costume, abriam espaço para a sua passagem quase como uma reverência.
Pouco antes de atingir o seu objetivo, ela parou bem diante do grupo de seus estudantes, que a encaravam com puro encantamento. Acenou para eles com um leve e elegante movimento de cabeça, acompanhado por um discretíssimo sorriso, contudo, esse ganhou uma proporção impressionante no instante em que seus olhos encontraram os de Marc. Ela pode ver através do olhar dele que aquela por quem tanto ansiava, estava para chegar.... A qualquer momento. Se fosse uma outra ocasião, Delphine bem poderia abraçar aquele rapaz por isso, porém, conteve-se em nocautear todos ali próximos com um sorriso que parecia iluminar e resplandecer por todo aquele salão.
Porém, assim que virou-se em direção àquele outro pequeno grupo, seu sorriso desapareceu. Delphine fez questão de cumprimentar todas as mulheres ali presentes com beijos e abraços confiantes, ignorando os homens, especialmente ele. Demorou-se ainda mais em um caloroso abraço em Genevieve.
- Como é bom vê-la, mamãe! – Segurava as mãos dela nas suas.
- Tocante! – Ele sibilou com a voz azeda. – Quase me fizeram acreditar nessa farsa. – Complementou, já abrindo um cínico, assustador e doentio sorriso. Mesmo sem vê-lo ainda, ela podia sentir o peso e a cobiça do olhar dele sobre ela. Delphine encarou profundamente os olhos de sua mãe e então, virou-se para ele.
Finalmente seus olhos se encontraram e, no exato momento em que se olharam, uma força pareceu desprender ali. Suas almas se encararam e a intensa e pesada energia que emanava deles provocou uma onda de tremores nos convidados mais próximos.
O monstro e a Deusa apenas se encaravam e não moviam um músculo sequer. Todavia, tanto as mulheres da Ordem como os homens de Lamartine sabiam o que estava acontecendo entre eles e podiam jurar que a energia daquele confronto era concreta e palpável. Tratava-se de um formidável e impressionante duelo de mentes! Lamartine tentava a todo custo penetrar na mente de Delphine, que o repelia enquanto tentava fazer o mesmo, contudo, ambos compartilhavam daquela poderosíssima habilidade e, como sempre, pareciam se equiparar na esfera do poder.
Naquela altura, a orquestra já havia reiniciado e as pessoas começavam a se recuperar do Impacto Cormier, seguindo alheios ao confronto travado em meio àquele grupo.
- Como sempre, continua lindíssima... Chega a ser um crime. – Lamartine fora o primeiro a desistir do duelo, sustentando um sorriso sórdido após o comentário ainda mais escroto. – O tempo tem sido generoso com você, minha cara. O passar dos anos lhe caiu com perfeição. – Aproximou perigosamente dela, no intuito de afastar um impertinente cacho que se soltou do primoroso coque. Aquele irrisório gesto fez com que as mulheres da Ordem e os dois homens de Lamartine se colocassem em posição de alerta, entreolhando-se enquanto ele delicadamente tocou o rosto dela.
Delphine cerrou os punhos e retesou seus músculos com impressionante força, buscando todo o seu poderosíssimo autocontrole para não se expor ali, diante de todos, fazendo um esforço hercúleo para controlar a repulsa inumana que sentia. O toque gélido daquele homem parecia alimentar sua ira de uma forma desenfreada e descabida. O mais profundo nojo não chegava a definir a sensação que aquele contato desencadeava nela.
Helena deu um passo em direção a Delphine, claramente ignorando a tentativa de Stella e das demais de segurá-la e contê-la. Assim que alcançou o olhar de sua amiga, Helena estremeceu. Era aquele mesmo olhar sombrio e distante... Os fantasmagóricos olhos negros dominavam aquele belíssimo rosto, apagando o brilho que Delphine irradiava.
- Delphine... – Helena a alertou, mas ela parecia nem tê-la escutado.
- ISSO! – Lamartine quase urrou. – Liberte-se para mim! – Provocou, deliciado com tudo que via refletido naquele olhar.
- Pare com isso, Delphine! – Helena novamente se posicionou entre ela e seu alvo, na clara tentativa de impedir qualquer loucura que Delphine decidisse fazer enquanto estivesse envolta naquele manto de escuridão.
- Saia da minha frente... – Lamartine cuspiu entre os dentes, aproximando seu rosto bem próximo a ela, que permanecia de costas para ele, ignorando-o completamente. – Eu mandei SAIR! – Sibilou, tocando o braço de Helena. Ela apenas o encarou por sobre o ombro e sorriu, fazendo com que o homem quase cambaleasse para trás!
“Mas como isso é possível?” Lamartine questionava-se acerca de Helena não sucumbir às suas vontades.
- Ela é imune a você, meu querido...! – Delphine disse, reassumindo a postura controlada. Helena a encarou aliviada e, naquela rápida troca de olhares, a loira a agradeceu pela intervenção. Sabe-se lá o que poderia acontecer ali, caso Helena não tomasse uma atitude.
Totalmente incrédulo, Lamartine chocou-se com aquela informação e sentiu algo que há muito não verdadeiramente experimentava... Medo.
- Medo... – Como se verbalizando o sentimento dele, Stella falou, encarando-o. – Sinto o cheiro do seu medo, John! – Lamartine arregalou os olhos ao constatar que o medo dele estava estampado em sua cara, fazendo com que as cinco mulheres rissem da expressão ridícula que ele sustentava, umas mais discretamente, outras quase gargalhavam perversamente. Ser motivo de piada era demais para ele, que acabou dando dois passos para trás enquanto lançava olhares rápidos para seus homens. Sentindo-se sufocado ali, olhou ao redor e observou um homem grisalho se aproximar do grupo.
- George Arnaud! – Lamartine partiu com evidente pressa para cumprimentar o homem, saindo de perto daquelas mulheres que acabaram não acompanhando os passos dele. Era a fuga perfeita para ele.
- Você tem de se conter, minha filha! – Genevieve a alertou, aproximando-se dela assim que o inescrupuloso se afastou.
- Exato, Cormier! Controle-se! – Stella se juntou a súplica, quase sussurrando.
Delphine nem as olhou nos olhos, apenas buscando o olhar de Helena, que ainda sorria sadicamente, mas ainda assim, também a repreendeu. Aquele não era o momento nem o lugar para medidas impensadas. Tinha gente demais ali!
- Tem razão. Esse Baile tem outro propósito. – Resignou-se e se afastou das demais, seguindo até uma das portas que dava acesso ao jardim daquele antigo e luxuoso edifício, como se tentasse buscar forças na fria brisa da noite que continha poucas nuvens e era iluminada por uma impressionante e lindíssima lua nova.
Ali, parada com os olhos fechados e com a cabeça levemente inclinada para cima, Delphine tomava fôlego enquanto ouvia a Orquestra tocar lindamente canções que a tocavam profundamente. Cansada de todo aquele circo, se permitiu senti-las e deixa-las acalentar toda a sua angústia, assim como toda a sua ira, que a corroía e a assolava violentamente. Olhou para bem além da noite e indagou ao vento:
- Onde você está? – Sussurrou erguendo novamente a cabeça para buscar serenidade e qualquer mínimo resquício de paz. A pergunta retórica muito a confundia, uma vez que ela já não tinha mais a certeza daquilo que queria. A volta de seu grande amor ou a mulher que a tirava do eixo e a dominava como nunca antes alguém havia feito.
“E se...?” Seu pensamento foi interrompido no instante em que ouviu outro desafinado descompasso da perfeita orquestra. Abriu os olhos com ardente expectativa e, como se algo a atraísse de volta ao imenso salão, se deixou levar... Em seu íntimo ela a sentia... Sentia a presença dela ali, bem próxima.
Assim que entrou no salão, percebeu que novamente a atenção de cada um ali havia sido arrebatada. Avistou o topo da escada, mas não havia ninguém lá. ‘’Onde você está...?’’ Ergueu a cabeça procurando por ela. De imediato, encontrou o olhar de Helena, que a encarava com um misto de preocupação e receio, porém, o burburinho a atraiu ainda mais e a movimentação das pessoas abrindo caminho a alertou completamente. Foi então que vislumbrou parte do cabelo dela, deslizando entre as pessoas. Caminhou rapidamente naquela direção, simplesmente se deixando levar pela emoção e necessidade de encontrá-la... de vê-la. Como se caminhassem uma em direção a outra, Delphine venceu o último grupo de pessoas postadas à frente dela e, assim que seus olhos finalmente a encontrou, seu coração pareceu disparar e seu sangue pareceu congelar nas veias.... Delphine literalmente cambaleou quando a viu!
“Por todas as deusas...!”
Cosima estava incondicionalmente magnífica... Inacreditavelmente extraordinária! Todo o seu maravilhoso corpo era provocantemente envolvido por um audacioso vestido com um fundo pérola insinuantemente transparente e toda a sua extensão era revestida por rendas metálicas em alto relevo... O fechamento dele era em formato de envelope, prendendo pouco acima de sua cintura e deixando muito de seu colo e barriga a mostra. Da mesma forma, suas belíssimas e torneadas pernas podiam ser vistas graças a uma fenda estupida e infinitamente provocante que ornamentava a peça. Calçava uma maravilhosa e delicada sandália de salto alto que a deixavam ainda mais esguia e sensual; os cabelos estavam presos em um coque num estilo mais ousado e diferente de tudo que Delphine já tinha visto.
Era a imagem da mais completa e alucinante perdição...
Ainda assim, o que mais consumia o juízo de Delphine, era o belíssimo rosto de Cosima. Pela primeira vez, a viu sem seus óculos característicos, mergulhando naqueles olhos com a evidente intenção de se afogar, de se perder e de se encontrar. Engoliu em seco, totalmente estarrecida com a beleza que pulsava de sua orientanda.
Apesar de ter roubado as atenções, Cosima não conseguiu esconder o absurdo impacto que sentiu com a visão de Delphine. Por um átimo de segundo, chegou a pensar que não era ela. Nunca a vira vestindo uma cor tão viva, a deixando ainda mais impossivelmente linda do que nunca.
“Como isso é possível?” Questionou-se.
Em poucos passos, já estavam frente à frente, ignorando tudo e todos ao redor. Nada e ninguém mais importava além daquele encontro de almas. As duas fecharam os olhos ao mesmo tempo, apreciando e assimilando a presença e o calor uma da outra... E como se houvesse sido ensaiado, os abriram com igual e perfeita sincronia, no claro intuito de verificar se a visão que tinham uma da outra era mesmo real, e não mais um sonho ou delírio.
“Você está mesmo aqui?” Delphine rompeu as barreiras e iniciou a conexão.
“Só estou porque você também está...” Cosima respondeu com o mais sincero dos pensamentos.
A Deusa e a impossivelmente mística mortal sorriram deliciadas com a certeza de estarem ali. Delphine fez menção de quebrar o silêncio quando foi interrompida.
- Cos...Você está lindíssima! – Marc buscava a atenção da amiga enquanto envolvia sua cintura por trás.
- Que vestido realmente maravilhoso! – Sophie também se aproximou dela e a abraçou gentilmente.
Cosima ria sem jeito dos elogios rasgados que seus amigos faziam e ficava cada vez mais desconcertada quando percebia olhares mais sugestivos para ela. Entretanto, sabia que estava realmente exuberante e que o seu alvo havia sido atingido com sucesso, já que, mesmo de costas, sentia o peso do olhar de Delphine sobre ela. Mesmo assim, decidida a certificar-se de que a atenção da PhDeusa ainda era toda dela, bruscamente olhou por sobre seu ombro e deu de cara com o olhar de Delphine, que escalava seu corpo de baixo para cima, sem o menor pudor... A boca dela estava desejosamente entreaberta... Sua professora estava quase literalmente babando por ela. Assim que seus olhos se encontraram, Delphine ruborizou! A Toda Poderosa estava profundamente é... alterada naquele instante.
“Gostando do que vê...Delphine?” Cosima a provocou, fazendo com que sua orientadora engolisse em seco. Não deixando por menos, Delphine cerrou os olhos, ajeitou sua postura e respondeu a altura:
“Adorando, Srta. Niehaus... Mas tenho certeza de que vou gostar muito mais do que não estou vendo nesse momento...” Cosima estremeceu! Foi a vez dela engolir em seco, sentindo a brasa em sua garganta.
- Você está bem, Cos? – Amélia alisou seu braço sugestivamente. Novamente, Cosima olhou para Delphine, que agora não mais a encarava, apenas conversava com o mestre de cerimônia do evento. Assim que o homem se afastou, ela caminhou em direção aos seus orientandos.
- Espero que estejam aproveitando a noite! – Desejou verdadeiramente.
- Está tudo espetacular, professora! – Louis respondeu, erguendo sua taça de champanhe.
- Pois bem... Fiquem á vontade, divirtam-se e aproveitem o show. – Despediu-se de todos e, assim que passou por Cosima, piscou um dos olhos, deixando-a – e outra coisa mais - estarrecida com aquele gesto.
Pouco depois disso, as luzes do salão se apagaram e o palco foi iluminado por expressivos e magníficos canhões de luzes com cores vibrantes e vivas e os primeiros acordes de uma conhecida música, fez com que todos ali sentissem um delicioso frisson! Uma característica e incrível voz deu início ao tão esperado show.
Assim como os demais, Cosima não pode se conter e constatou que seu queixo estava no núcleo da terra quando detectou a voz que irrompeu pelo salão! No palco, estava ninguém menos do que uma de suas cantoras e bandas favoritas.
- É a Florence... – Foi tudo o que conseguiu dizer! Um segundo depois, aquela poderosa melodia envolveu cada um dos convidados como num transe coletivo e, a medida que a intensidade da melodia aumentava, todo mundo se permitia invadir e se deixar levar.
It's a different kind of danger
And the bells are ringing out
And I'm calling for my mother
As I pull the pillars down
It's a different kind of danger
And my feet are spinning around
Never knew I was a dancer
'Till Delilah showed me how
Então, a “fada”, como era conhecida aquela exuberante cantora, capturou a todos, proporcionando uma experiência única a cada um dos presentes ali. Logo, Cosima dançava livremente, arrasando e, sem querer, atraindo muita atenção. Muitos olhos gulosos varriam seu corpo com escancarado desejo, porém, Cosima não se importava com nenhum deles. Apenas uma pessoa a interessava... e justamente a única que não estava ali, naquele momento. Onde ela estaria?
******
Um grupo de oito homens ajustava seus ternos enquanto se preparavam para entrar no salão e cumprir com a tarefa que lhe fora delegada. Aguardavam apenas que a porta traseira daquele prédio fosse aberta por um de seus homens que já estava lá dentro, misturado com os demais garçons da festa.
Todos pareciam extremamente tensos, já que o seu líder estava lá dentro e qualquer deslize seria duramente punido. A demora em aquela porta ser aberta só aumentava ainda mais a ansiedade de cada um ali. Porém, um barulho os alertou. Risos e vozes femininas que riam e falavam alto em meio à palavras desconexas, evidenciando que estavam sob o efeito de uma certa quantidade de álcool.
- Nossa, garotas! Venham ver o que acabei de encontrar aqui. – Uma mulher negra de longos cabelos ondulados chamava mais alguém. Ela era muito bonita e atraente, porém, mal conseguia ficar parada sem balançar. As outras três que chegaram depois dela, não estavam muito melhor do que ela. Tanto que uma delas correu para uma lata de lixo ali próxima, na clara intenção de vomitar devido ao alto grau de embriaguez.
- Acho que tiramos a sorte grande, meninas! – Uma loira lindíssima e com a maior pinta de modelo se insinuou para os homens que as encaravam com expressões que alternavam surpresa e repúdio.
- 1, 2, 3... – Uma outra loira também lindíssima, contava os homens ali presentes. – Tem dois para cada uma de nós, meninas. – Disse com um ritmo embolado na fala e gargalhou alto, sendo seguida pelas demais.
- Vocês deveriam se envergonhar! – um dos homens as repreendia com denotada reprovação no tom de voz.
- Deveriam se dar ao respeito! – Outro disse, indo em direção a elas – E não encher a cara e ficar procurando homem.
Essa afirmação fez as mulheres se entreolharem, até mesmo a que continuava debruçada para vomitar se ergueu e alternou o olhar deles em direção à elas, e como se sentisse o enjoou lhe consumindo, debruçou-se novamente sobre a lata de lixo, porém, dessa vez, quase mergulhou ali dentro, fazendo um dos homens rir debilmente.
Num movimento incrivelmente rápido, aquela mulher foi para trás da lixeira e puxou de lá duas pistolas automáticas. Em seguida, chutou a lata, virando-a e espalhando o seu conteúdo aos pés das outras três mulheres. A cena não durou mais do que cinco segundos e, antes que os homens percebessem, as quatro mulheres estavam empunhando suas pistolas e os rendiam se esforço algum.
- Eu não disse? Dois para cada! – A mulher ria e mostrava as duas armas em suas mãos.
Aos estarrecidos homens, só a rendição era uma opção. Um a um, eles foram se ajoelhando enquanto as mulheres amarravam suas mãos.
Foi então que num supetão a porta se abriu e de lá, saíram Paul e Ferdinand, que já partiram para cima das mulheres que estavam de costas para a porta, porém, antes que pudessem dar mais do que dois passos, foram habilmente detidos.
Uma espécie de corda metálica foi enroscada no pescoço de Paul, que só teve tempo de tentar impedir o sufocamento e logo sentiu uma dor aguda em sua coluna. Helena segurava firmemente o que outrora era o seu colar contra o pescoço de Paul, empurrando-o com todo o peso de seu corpo, pressionado seu joelho direito contra a espinha dele, imprensando-o contra um carro que havia ali.
Ferdinand já estava no chão urrando de dor, uma vez que também tinha o joelho de Stella pressionado contra suas costas e seu braço direito sendo puxado contra a sua posição normal, quase deslocando seu ombro.
Helena a encarou para verificar se estava tudo bem e a assistiu jogar o cabelo para trás com um rápido sopro de canto de boca. Um gesto tão característico dela e que a morena adorava. Riram deliciosamente uma para outra.
******
No salão, Cosima dançava livremente encantando todos que ousavam admirá-la, entretanto, ainda esperava que Delphine aparecesse ali. Ansiava por um pouco mais de tempo com ela. Até tentou procura-la através daquela misteriosa conexão, mas não a encontrava em lugar algum. Foi então que sentiu um olhar mais invasivo sobre si. Seria ela? Para sua decepção e total constrangimento, outros olhos dissecavam seu corpo com escancarada gula.
E aquele homem não se conteve apenas em ficar olhando, já caminhando em direção a ela. Cosima não conseguia compreender o porquê, mas, à medida em que ele se aproximava, ela sentia uma energia semelhante a que sempre sentia quando Delphine se aproximava dela, só que com ele era algo mais opressor, como se lhe roubasse o ar ou a algo vital em seu íntimo.
- Muito boa noite, Srta... ? – Ele se aproximou e estendeu uma das mãos. Cosima sabia de quem se tratava, contudo, o reconhecimento que experimentou era algo muito diferente do que tê-lo visto em algum programa de tv.
- Niehaus! Cosima Niehaus... – Apertou sua mão e assim que se tocaram, Cos sentiu uma espécie de choque elétrico percorrer seu corpo inteiramente, porém, não de uma forma positiva. Era como experimentar uma sensação antiga, mas não prazerosa... Era mais como algo angustiante e sufocante. Todo o seu desconforto foi potencializado quando o encarou, assustando-se com a frieza que os olhos dele emanavam.
Nem Lamartine, nem Cosima conseguiam vê-la, mas Delphine estava bem próxima a eles, assistindo aquele breve encontro. Havia chegado a hora. Todo aquele “circo” fora montado exatamente para aquele singular momento. Ela precisava confronta-los e coloca-los cara a cara para que pudesse confirmar definitivamente a inocência de Cosima, ou obter a tremenda e mais profunda das decepções, caso constatasse que eles já se conheciam.
E lá estavam eles, frente a frente. Delphine tentava ler os trejeitos de cada um, embora soubesse exatamente o que deveria fazer. Ainda assim, algo a impedia e ela sabia exatamente o que era.... Era Medo... Medo do que poderia encontrar na mente de Cosima naquele instante e de não saber lidar com o que encontraria. Mais uma vez, estava dividida. Os olhares das outras mulheres sobre ela indicavam a urgência e a preocupação de todas, ainda mais potencializada pela evidente hesitação por parte dela. Elas se entreolharam, temerosas demais com o rumo que aquilo poderia tomar. Jamais em suas vidas, viram Delphine hesitar daquela maneira em absolutamente nada.
Não poderia nem deveria mais esperar e, num ultimo suspiro demorado, mergulhou na consciência e na mente de sua orientanda. Dessa vez, não queria ser “descoberta” e se precaveu. Sentindo o coração disparar, foi com um profundo pesar que encontrou um estranho reconhecimento dele na mente dela... Suas pernas pareciam não aguentar o peso de seu corpo! Não podia ser... Não ela... ‘’Não...!’’ Em seu íntimo, o desespero ecoava.
- Ela o conhece... - Deixou seus ombros arriarem em um claro sinal de derrota. Num súbito, Delphine se apagou. As mulheres ali trocaram olhares sugestivos e Helena, que deveria estar festejando aquela constatação, pareceu ser quem mais ficou consternada com aquela informação. Sua raiva provinha do fato de não ter conseguido descobrir absolutamente nada entre eles. Como aquilo era possível?
Para Delphine, aquela constatação foi um golpe certeiro e dolorido demais. Muito mais do que poderia imaginar, cogitar e esperar. Mal conseguiu esconder a lágrima que brotou em seus olhos. Ali, ela soube que jamais se recuperaria; ele tinha conseguido... Tinha destruído o último resquício de luz e fé que morava em Delphine.
“Por quê, Cosima?” Ergueu a cabeça como se jogasse aquela pergunta ao vento, sentindo o coração apertado e pressionado dentro do peito. Desolada e destruída, quebrou bruscamente aquela conexão e preparou-se para sair dali o quanto antes. Não importava para onde iria, ela só precisava sumir dali.
“Quem é você, mocinha?” “Ah! O que eu faria com você em minhas mãos...”
Delphine congelou, totalmente atordoada e chocada! Ela ouviu, pela primeira vez em toda a sua vida, a mente daquele homem desprezível. Foi por um brevíssimo instante, mas fora o suficiente para provar que era a primeira vez que ele via Cosima! Ela realmente a primeira vez!
A mágoa que tomou conta de seu coração há alguns instantes, deu lugar a um acelerado e descompassado palpitar de seu coração! A luz que havia se apagado, reascendeu com força total.
- Ele não a conhece! – Dessa vez ela não sussurrou! Verbalizou aquela frase com evidente intensidade e expectativa, pegando todas as mulheres ao seu redor de surpresa. E, as surpreendendo ainda mais, seguiu em direção a eles!
Cosima sentia-se cada vez mas oprimida pela presença sufocante daquele homem que possuía uma aparência elegante e de traços harmônicos, porém, algo muito mais profundo em seu ser a incomodava cada vez mais e mais insistentemente.
De repente, a atmosfera ao seu redor começou a mudar. Tornou-se mais leve e até mesmo mais clara; uma familiar sensação de segurança começou a envolve-la e, de imediato, Cosima entendeu o que aquilo significava. Não precisou olhar para saber que ela vinha em sua direção. Tinha razão.
- Vejo que acabou de conhecer minha mais nova orientanda. – Delphine postou-se ao lado de Cos e a tocou sutilmente nas costas, provocando nela o mais escandaloso dos sorrisos. – Uma das melhores pesquisadoras do Universo das mulheres que já tivemos aqui na Sorbonne. – Delphine não só a defendia, como a elogiava descaradamente, fazendo com que Cosima precisasse controlar toda a felicidade que a consumia ali e não se jogar nos braços daquela mulher incrível e maravilhosa.
Ainda assim, existia algo ali em meio aquela sensação que ainda a deixava desconfortável. Foi então que percebeu a dura troca de olhares entre John Lamartine e Delphine Cormier, sendo quase palpável a animosidade entre eles. Cos chegou a sentir um desagradável arrepio escalar suas costas e como se Delphine percebesse aquilo, elevou levemente sua mão, dedilhando a coluna de Cosima, que insinuantemente a mostra. Aquele toque foi demais.
“Pelas Deusas!” Cos pensou, completamente excitada.
“Eu que o diga...” Delphine respondeu sem que palavras fossem necessárias, estabelecendo mais uma vez aquela incrível conexão entre elas, ignorando descaradamente o homem diante delas, que falava sem praticamente ser percebido. Elas apenas se dignavam a responde-lo com palavras soltas, fazendo com que o homem se afastasse delas sem protesto algum.
“Sempre sendo a minha salvadora, Delphine?”
“Sempre se metendo em más companhias, Cosima?”
Nesse exato instante, uma nova melodia tomou conta do ambiente e as envolveu por completo, como se fosse cantada apenas para elas.
Sometimes I feel like throwing my hands up in the air
I know I can count on you
Sometimes I feel like saying "Lord I just don't care"
But you've got the love I need To see me through…
Se perderam uma na outra e naquela incrível melodia que as envolvia. Sem demoras, Cosima postou-se diante de Delphine e começou a balançar ser corpo suavemente, numa dança incrivelmente sedutora. A pouca luz que incidia sobre o salão lhes garantia uma certa privacidade, e isso era o que importava naquele momento... O olhar embevecido de Delphine era escandaloso demais, revelando a profunda emoção que a consumia naquele momento.
“Dança comigo...” Cosima pediu.
“Cosima...” Delphine inclinou a cabeça para o lado, olhando-a intensamente.
- Delphine, dance comigo! – Dessa vez, decidiu verbalizar seu desejo, certificando-se de que ela a ouviria. Porém, ela apenas sorriu deliciada e negou levemente com um movimento de cabeça.
“Você vai dançar comigo e vai me explicar o que é essa conexão que temos... Eu preciso entender...” Delphine foi pega de surpresa com a força daquelas palavras, percebendo a mudança no semblante de sua orientanda. A expressão sensual não estava mais em evidencia, dando lugar a uma súplica sincera e ansiada.
- Por favor, Delphine. Eu preciso saber que não estou enlouquecendo. – Insistiu com explicita apreensão. – E eu sei... Eu sinto que você sabe exatamente o que é isso. – Ergueu as mãos e as postou diante dela.
Delphine sabia que não poderia mais adiar aquela conversa e que certamente não haveria um momento mais propício que aquele, justo quando ela acabou de descobrir que Cosima era inocente de todas as suas desconfianças. Sentiu-se transbordar num carinho imensurável por ela, juntamente com uma vontade avassaladora de compartilhar cada pedaço de sua alma e de seu corpo com ela.
Num rompante, tomou uma das mãos de Cosima na sua e a guiou por entre as pessoas que estavam ali. Precisava desesperadamente estar com ela... Somente com ela! Caminhava tão decidida que mal percebeu Helena vindo em sua direção.
- Delphine, eu...
- Agora não, Helena! – Com um gestou de mão, Del a afastou para o lado. Os olhos de Cosima ainda alcançaram os de Helena, mas esse contato não durou mais do que um segundo. Delphine voltou a puxar Cosima pela mão, e ela só conseguia se permitir ser levada, guiada e conduzida para o seu destino.
Fim do capítulo
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Angel68
Em: 20/12/2017
Estou simplesmente extasiada por essa história... poucas me arrebatam dessa forma...tem mistério, misticismo, sedução, amor, paixão...Deplhine linda e misteriosa, Cosima é doce, sedutora, sem nem imaginar o quanto sua vida está ligada misticamente á Delphine, essa conexão que elas possuem, fantástico....fiz uma maratona pra deixar em dia e esperar pelo próximo capítulo...autoras, parabéns !!! Não sei se o próximo será domingo á noite como planejado, se for, é um olho na ceia e o outro no site, rssssssssssss......
Resposta do autor:
O êxtase é nosso sempre que recebemos feedbacks tão quanto o seu.
Toda a mistica por trás de Cosima e Delphine é muito mais intricada e a estamos revelando aos poucos. Só lhe peço uma coisa, tenha sempre a mente aberta rs...
Xeros
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Ska
Em: 20/12/2017
Nossa !! Meu Deus q história.
Quantos capítulos maravilhosos, comecei a ler ontem fui dormir as três da manhã acordando as sete pra continuar lendo, parabéns meninas, quantos detalhes quanta devoção ao escrever ,minha vontade e der ler sem parar mas acabou, agora tenho q esperar estou mega ansiosa vcs poderiam postar pelo menos uns oitenta capítulos de uma so vez não tem como não? Rsrs
So por favor, não abandonem a fic eu estou lendo tantas histórias maravilhosas e quando vou ver não é atualizada a quase um ano isso dá uma tristeza absurda.
PS: adorei esses negócio delas terem tipo um poder ou coisa do gênero afinal cosima e um clone na série nada mais justo q fic ser fora do comum parabéns parabens mil vezes parabéns .
Resposta do autor:
Que delicia de comentário. Muito nos emociona saber que nossa historia tem uma receptividade tão boa. E que maratona hein? Sim, estamos nos esforçando para conclui-la embora ainda esteja um tanto quanto longe disso rs... Sem contar que temos outros planos além rs...
Adoraríamos postar grandes quantidades de capítulos, mas é humanamente impossível então vamos lutar para manter a regularidade e a periodicidade.
E sim, nada mais justo que a fic tem toqies de fantasia. Mas muito está por vir.
Xeros
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Flavia Rocha
Em: 19/12/2017
Que delicia de capitulo foi esse, hein? Me deliciei muito lendo e me deixou super ansiosa pra ver o próximo.
O que eu pensei do Lamartine é que ele seria o pai da Ruiva dos olhos verdes, do sonho da Cosima. E esse baile serviu pra provar a inocência da Cosima, mas também para por ela na mira do Lamartine.
Boa semana, autoras.
Resposta do autor:
Esses capítulos do Baile são FUNDAMENTAIS para a sequência da história, pois encontros e revelações estão acontecendo. Mas o qie a levou a pensar que o Lamartine é o pai da Melanoe (ruiva dos olhos verdes)?
Xeros.
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Liana
Em: 18/12/2017
Parabéns a autora, cada dia mais encantada por este conto !
Dose certa de mistério , suspense , ação , romance e mitologia .
Aguardando ansiosamente pelo próximo capítulo .
Resposta do autor:
Muitíssimo obrigada pelo comentários, mas somos autoras rs... Escrevemos a quatro mãos.
E como já deves ter percebido, a nossa periodicidade é aos domingos a noite. Salvo alguma raríssima exceção.
E a nossa história está só começando.
Xeros
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