Cheguei ao quartel por volta das 19:00h dei, estava um caco a noite mal dormida e a viagem de ônibus tinham me esgotado, teria ido direto para o quarto se minha barriga não reclamasse de fome, por isso mudei meus planos e segui direto para o rancho, peguei uma bandeja e me servi, joguei minha mochila na cadeira ao lado de Cris, a única que estava na mesa.

   Cristina abriu um sorriso travesso pro meu lado, eu conhecia aquela expressão, lá vinha bomba, da ultima vez que ela me esperava com essa cara, nós saímos sem autorização num sábado, até teríamos conseguido entrar sem sermos notadas, mas Renata estava meio bêbada e falava tão alto, que nos pegaram e acabamos levando uma bela advertência e um castigo físico que fazia sentir as dores musculares até hoje, a coisa só não foi pior por que o pai de Renata era muito respeitado e moveu alguns pauzinhos para aliviarem as coisas.

   -Eu estava te esperando Isinha... –disse sorrindo ainda mais.

   -Ih... golpe errado não tenho dinheiro não.

   Ela me olhou de um jeito sacana e em seguida olhou para os lados verificando se não estávamos sendo observadas, pronto não era coisa boa mesmo, baixou um pouco a voz antes de dizer.

    -As meninas estão entrando com pizza e vodka pra cá. –ok, se nos pegassem com pizza daria problemas, mas se nos pegarem com bebida alcoólica daria um baita problema, meus músculos doeram lembrando do castigo. - estávamos te esperando pra começar. - Ela sorria feliz como se fosse a melhor coisa do mundo, como será que elas conseguiam essas coisas.

   -E se pegarem a gente de novo? Eu tenho dores só de lembrar Cris.

   -Relaxa Isa, está tudo dentro do plano, Jorge vai ficar de vigia no seu corredor hoje e vai encobrir a gente, se for dar merd* ele me da um sinal.

   -E quem é Jorge?

   -O Carinha que está afim da Ângela, lembra? Cara é super tímido, arrumei um encontro com ela e ele vai quebrar essa pra mim.

   -Deus do céu, tu vai direto para o inferno sabia? –fale o que falar mais Cris era muito engenhosa. –Tá legal como vamos entrar com as coisas?

   -Nem precisa se preocupar,a Duram já facilitou na entrada pro quartel, está tudo no seu quarto.

   -No meu quarto? Você está doida Cris, imagina se a maluca da Clara pega isso.

      -Ângela escutou o Coronel Braga dar permissão a ela de só voltar na terça, sendo assim você esta livre da odiosa e nós livre pra festa, você é a única que está com o quarto livre, Já mandei todas pra lá.

   -Quando você diz todas esta se referindo a quem exatamente?

   -Rê, Paula, Ângela, Maria Eduarda, eu e você lógico.

   -Maria quem???

   -A tenente ruiva gostosa. –ela respondeu meio decepcionada como se eu tivesse o dever de lembrar da mulher.

   Subimos para meu quarto, e como ela disse as outras já estavam lá bebendo e comendo pizza, parecia que estavam lá há muito tempo, provavelmente a Cris só estava me esperando pra ter certeza que eu concordaria, Renata me passou um pedaço de pizza e a tal de Maria me passou um copo de suco batizado, ficamos conversando e comendo por um bom tempo rindo de coisas idiotas, quando já estávamos alegrinhas Paula pegou um baralho sabe-se lá da onde um jogo de caxeta, eu era horrível e como se só a vitoria não bastasse as meninas começaram a ficar alegrinhas demais e apostar pecas de roupa, idéia da Cris, eu já falei que ela ia pro inferno?

   -Bati. –riu-se Cris jogando os pares na mesa. –Podem tirando as camisetas as mostrando esses peitinhos.

  Continuamos o jogo, cada rodada as meninas iam ficando mais alegres o riso estava solto, era uma besteira atrás da outra, Paula que não era forte pra bebidas já começava a falar enrolado e Renata ia pelo mesmo caminho.

   -Isa meda Piza. –pediu Ângela tombando para os lados completamente mole, nós rolamos de rir,

   -MAIS QUE DIABOS ESTA ACONTECENDO AQUI! –pulei de susto, Clara estava na porta, os olhos faiscavam de raiva olhando de uma cara culpada para outra, começamos a procurar as peças de roupas perdidas durante o jogo as pressas, foi uma confusão só. –VÃO EMBORA DO MEU QUARTO AGORA...

   Quarto dela? Desde quando o quarto era dela? As garotas levantaram em um pulo, arrumando as coisas as presas, acho que era a bebida falando mais alto e uma enorme raiva me invadiu, ela podia ser uma idiota comigo, mas já estava de saco cheio dela e de todas aquelas coisas que andava sentindo.

   -Não! Nós vamos ficar aqui!– as meninas olhavam da minha cara pra dela já esperando o pior, nós duas estávamos alteradas. –O quarto também é meu, Clara, e se você não quer ficar aqui com a gente da o fora, você sabe onde fica a saída não sabe?

   -Saiam daqui agora ou vou chamar o tenente. –ela ameaçou.

   -Chama, é bom que eu já peço pra trocar de quarto, to de saco cheio de você. – parei a centímetros dela, o quarto estava em silêncio. –por isso que ninguém de agüenta, deixe a gente se divertir até dar o toque de recolher pelo menos, para de ser tão chata! Se quiser sair saia, se você não sabe se divertir não vem estragar a diversão dos outros.

   Meu deus eu falei mesmo tudo aquilo? Agora que ela vai me odiar mesmo, mas pelo menos eu tinha colocado um pouco da minha frustração pra fora.

   -Isso ai Isa, mostra quem manda. –incentivou Paula, Angela a olhou de cara feia, ela deu de querer cair pro lado e Maria a segurou a tempo.

   Ficamos nós encarando aqueles olhos nem piscavam, avaliando a situação ponderando sobre meu pedido, por fim dando-se por vencida Clara sorriu e disse:

   -Tá legal Isabel, vocês podem ficar até o toque de recolher, mas fiquem longe das minhas coisas –ela se virou pra sair, porem parou antes de chegar na porta. –pensando melhor, vou ficar para me assegurar disso, O que estão jogando?

  -Caxeta. –foi Renata que respondeu enquanto voltávamos a sentar no chão. –Mais você acabou com a graça do jogo...

   -Justo agora que eu estava pra bater. –disse Cris desapontada.

   -O que vamos fazer agora? Ainda temos uma hora antes da Clara, nos expulsar daqui.-Ângela falava meio mole voltando a encher os copos, Clara fungou da onde estava.

   -Que tal o jogo do Rei?

   -Lá vem a Cris com as idéias loucas, como joga isso? –perguntei.

   -Simples, vou pegar uma carta com um numero pra cada, uma delas ao invés do numero será o reis, vou embaralhar e cada uma pega uma carta, quem sair com o rei diz o numero de uma das cartas, quem estiver com ela tem que pagar uma prenda...

    -Isso está parecendo joguinho adolescente, eu gostei. –Renata começou a separar as cartas .

   Fizemos uma roda e qual não foi à surpresa a o ver que Clara havia se juntado a nós, ficamos a encarando desconfiadas.

   -Que foi? Se vou ter que agüentar mais uma hora disso preciso de distração...

   Cris deu o baralho, Paula foi a primeira a tirar o rei e escolheu o numero que estava com Renata.

   -Rê, eu tenho uma pergunta, vele né? –Cris acenou um sim. –Quando foi a ultima vez que tu transou?

   -Já faz 84 anos... To brincando a uns dois meses atrás com o Pedro do Pelotão 1857.

   Demos as cartas de novo, dessa vez Maria foi quem tirou o rei e Clara teve o numero escolhido. 

   -Como você nós viu só de roupa intima nada acho justo te vermos também... seu desafio é ficar de sutiã por umas... três rodadas.

   Clara se levantou e começou a tirar a blusa, meu rosto queimou na mesma hora, que mulher era aquela, não tinha reparado direito antes, quer dizer até tinha, mas não daquele jeito, ela estava de Lange ri preta que entrava em contraste com a pele alva, os cabelos com a coloração louro tingido cobriam um pouco do busto,a barriga completamente lisinha e definida tinha umas quatro pintinhas envolta do umbigo, a maior parte das mulheres ali tinham um corpo em forma e era comum nós vermos sem roupa, mas olhar pra ela me fez sentir coisas bem diferentes, meu senhor tira de mim esses pensamentos, voltei a olhar para seu rosto e quando ela me encarou de volta desviei o olhar corando, nessa hora Renata voltou a juntar as cartas soltando gargalhadas nada discretas quebrando o clima esquisito, mais uma rodada e meu numero foi escolhido por Cris que segurava a carta soltando um risinho maligno.

   -Isa, vai lá no meu quarto e trás mais uma pizza pra gente.

   -Moleza.

   Desci correndo as escadas e dei de topo com um soldado, deveria ser o tal Jorge, ele acenou amigável, entrei no quarto de Cristina bem rápido, a maluca tinha deixado a pizza bem em cima da cama, imagina se alguém me vê isso, eu sei que parece besteira mais o quartel segue uma alimentação rígida, podemos comer outras coisas, mas trazer um monte de pizza aqui pra dentro não seria muito bem visto.  

   -Ei aonde você esta voltado pro quarto? –Jorge me parou quando estava chegando em meu quarto –Avisa pra Cris que só faltam 15 minutos para o toque de recolher.

   -pode deixar.

   -Certo, não demorem que já já o coronel passa fazendo a ronda dele.

   Entrei correndo no quarto, mas não tinha ninguém lá só Clara, e já estava vestida, só me faltava ela ter aproveitado que eu tinha saído pra expulsar as meninas, ela veio em minha direção parando na minha frente.

   -Pra onde as meninas Fo...

   Não tive tempo de reagir, Clara me segurou pela blusa e grudou seus lábios nos meus, eu fiquei lá parada sem saber o que fazer, ela se afastou um pouco, seus olhos me encaravam a espera de uma resposta, o que foi aquilo senhor, devo ter ficado louca de vez só pode, só isso para explicar aquele beijo repentino, Clara se afastou um pouco pude ver o receio em seus olhos, antes que eu pudesse conseguisse raciocinar a puxei de volta unindo nossos lábios novamente. Era como se minha mente tivesse entrado em colapso, o chão parecia girar embaixo de nós, tudo sumia a minha volta e no fim só restou eu e ela ali, meus braços envolveram sua cintura colando seu corpo no meu, meu coração batia acelerado, enquanto minha mão viajava por cada curva de forma desesperada, nossos corpos buscavam um ao outro com certo loucura, senti uma onda de calor me invadir e se espalhar por cada canto do meu corpo, e só ela existia só o beijo dela tinha sentido naquele momento era como se tudo que eu sempre quis estivesse ali, entre seus lábios, eu queria mais, eu precisava de mais, mais de seus lábios macios, da sua boca gostosa, em algum momento minha respiração se tornou pesada, eu não conseguia parar, aguentei o máximo que pude para não me separar daquela boca... mordi seus lábios com carinho os segurando entre os dentes até que eles se soltassem de mim e me afastei um pouco respirando com dificuldade, Clara gem*u baixo do jeito que eu sabia que fazia quando algo a desagradava...

   -Já pode parar agora Clara, baita beijão hem. –a voz de Cris cortou a cena, ela se separou de mim com violência, quase como se tomasse um choque de realidade, demorou um pouco para cair a ficha, as meninas saiam do banheiro todas de boca aberta pela cena que proporcionamos. –desafio cumprido, ela beijou a Isa, Rê você me deve 20 reais.

   -Quê? –minha voz saiu antes que pudesse parar, então compreendi o que tinha acontecido, um desafio idiota.

   -Ah Isa você me fez perder 20 pilas, poxa! –resmungou Renata. –Apostei que você ia afastá-la...

   -TA LEGAL AGORA CHEGA. –Clara pareceu despertar de um transe. –Já passou das dez deem o fora...

   As meninas me olharam com esperança de que voltasse a me opor, mas dessa vez eu não reagi, elas limparam a bagunça antes de sair, me deixando sozinha com Clara, ela parecia possessa, andava de um lado para o outro resmungando consigo mesmo, vez ou outra soltava um palavrão, por fim se atirou na cama socando a parede de forma furiosa.

   -Se você ou qualquer uma delas falar disso pra alguém eu mato uma por uma Isabel...

Fim do capítulo