Capítulo 5
“ Eu olhava para aquela versão embaçada do meu quarto, achava incrível conseguir o reconhecer mesmo que meus olhos não pudessem o focar, mas naquele momento nada parecia realmente importar, nada além dela, Clara, bem ali na minha frente chorando baixinho, dei um passo a frente tentando alcança-la, a vi se afastar negando com a cabeça, senti meus olhos marejaram, o que eu tinha feito...
-Isabel porque você fez isso comigo? -a tristeza presente naquela voz doia em mim, eu estava errada, eu sabia que estava, não sabia o motivo, mas eu a machucara de algum jeito.
–O que eu fiz Clara?
–Você ainda pergunta...
–Não eu não...
–Esqueça Isa, esqueça...
Ela saiu correndo pela porta do corredor, eu a segui, quando atravessei a porta estava enfrente a uma escada enorme que descia em espiral por um corredor escuro, não pensei, desci atrás dela eu precisa a encontrar, ela tinha que me explicar eu precisava de uma resposta, comecei a correr mais rápido, eu vi a luz no fim do túnel, estava tão perto dela, algo me dizia que Clara me esperava lá, eu estava tão perto...mais alguns passos… uma pisada em falso... meus pés patinarem e cai, cai por muito tempo até bater em algo duro...”
Acordei no chão do quarto, minha cabeça girava e parecia que iria explodir, olhei para o despertador 04:00h, mais uma noite mal dormida, fazia três dias que eu havia saido com as meninas, eu e a japonesa andávamos trocando algumas mensagens, mas nada parecia muito concreto sobre nós, sentia que era melhor manter assim, desde aquela noite além dos pesadelos habituais que vinha tendo, Clara começa a invadir meus sonhos para me perturbar ainda mais, meu corpo estava um caco, tinha ficado de guarda no dia anterior e não consegui descansar nada, tomei um banho para despertar de vez e coloquei a farda, meu estomago estava enjoado naquela manhã, por isso dispensei o café e fui direto para o ponto onde deveria encontrar o resto do pelotão quando soasse a corneta, hoje o quartel começaria uma campanha de doação de sangue, todos os cadetes iriam participar e alguns de nós ficariam pelas ruas divulgando para a população, nossa meta era conseguir abastecer todos os estoques da cidade que estavam baixos, meu pelotão foi um dos primeiros a doar sangue, não participaríamos nas ruas, estávamos responsáveis pela manutenção do quartel naquele dia.
Na divisão das tarefas acabei ficando com a limpeza dos corredores, era o que faltava pro meu dia ser ótimo, pesadelos, enjoo, ter aquela agulha enorme tirando meu sangue e ainda faxinar corredores, quando acabei minha parte o sol já estava se pondo, me sentia tão cansada que não conseguia desejar nada que não fosse a minha cama, me atirei na cama e peguei as apostilas esperando o sono chegar, minha cabeça começou a girar “Se concentra Isabel” ordenei ao meu cérebro e voltei a ler, olhei para o despertador 19:35h tomei outro banho para ver se aliviava minha dor de cabeça, vez ou outra tudo saia de foco, sentei na minha cama, eu realmente não estava legal, olhei para cama de Clara ainda vazia suspirei desanimada, como ela deveria estar… me lembrei daquela noite, do perfume do seus cabelos, qual shampoo ela deveria usar, olhei para sua cômoda curiosa, não consegui me aguentar, não faria mal algum dar uma olhada não é… fui até lá e abri as gavetas o perfume de suas roupas pairou pelo ar, a diaba podia ser o que fosse, mas era cheirosa, comecei a procurar seus cosméticos, senti alguma coisa embaixo da sua camiseta, a curiosidade falou mais alto, eu já estava errada mesmo... apalpei e percebi que era um caderno o puxei e descobri que não era um caderno e sim um álbum o abri, Clara sorria pra mim daquele jeito doce, virei a pagina e lá estava ela de novo fazendo pose, a imagem saiu de foco por alguns segundos e tornou a voltar mesmo que um pouco embaçada, virei pra próxima dessa vez outra garota me olhava, ela tinha olhos castanhos e cabelos como os meus, a imagem escureceu e voltou de novo, olhando bem agora ela se parecia muito comigo o mesmo tom de pele os mesmo nariz me esforcei para controlar a tontura e foquei meus olhos, não era eu, a não ser que tenha tirado aquela foto algum dia e me esqueci dela, tornei a virar a página, Clara e a garota, agora eu tinha certeza que não era eu, se abraçavam felizes dava pra ver isso nos olhos delas aquela felicidade plena que poucas vezes vemos em um olhar, isso me irritou, virei a página com violência e um papel escorregou por entre as folhas, eu deveria ter fechado aquele album e o guardado no lugar, sabia que me arrependeria, mas quem disse que a cabeça pensa direito numa hora dessas, o abri.
“ Para Clara
Escrevi esse poema
Pensando na doçura do seus beijos
E no calor dos seus abraços
Na força do meu desejo.
Escrevi esse poema
Lembrando do seu toque
Do seu olhar no meu
Do meu olhar no seu.
Escrevi esse poema
Esperando o tempo passar
Rezando pra te encontrar
Querendo contigo estar.
Escrevi esse poema
Só pra você sabe
Que eu nunca vou te esquecer
E que pra sempre vou te amar...
Sei o quanto acha bobo esse tipo de coisa, mas não deixaria essa data passar em branco, espero que tenha gostado do presente, hoje mais do que nunca posso dizer que te amo, você é a melhor coisa que já me aconteceu e pensar que sempre estivemos juntas, estar com você nesses últimos quatro anos tem sido como um presente, nunca pensei que isso pudesse ser possível meu amor.
Estar longe de você às vezes é uma tortura para meu coração, mas agüento firme sabendo que logo estarei nos seus braços…
Da sempre sua – Beatrize...
Meu Deus Clara tinha namorada!
Senti o quarto voltar a rodar, o álbum caiu das minhas mãos e se abriu em uma página onde Beatrize beijava seu rosto e Clara simplesmente olhava pra câmera como se nada no mundo fosse capaz de fazê-la mais feliz, senti meus joelhos fraquejarem e em seguida uma horrível dor na cabeça...
Fim do capítulo
Mais um capitulo pra vocês...
bjs e até o proximo
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