Acordei em um quarto estranho, minha cabeça doía e parecia pesada demais, tentei esfregar meus olhos mais desisti ao notar a agulha do soro presa á meu braço, mas o que estava acontecendo afinal, me lembro de estar no meu quarto, fuxicando as coisas de Clara e então, nada, tudo era um borrão, pude jurar ter ouvido algumas vozes mais não fazia muito sentido, dei uma olhada pela pequena enfermaria constatando o óbvio, eu ainda estava no quartel, será que eu estava doente, era o que me faltava, a porta ao lado do meu leito se abriu e um médico entrou ele estava muito sério, preferi ficar calada enquanto ele me examinava enquanto fazia algumas anotações numa prancheta.

  -Como se sente Soldado Lima? – o medico me passou um termômetro que tratei logo de colocar embaixo do braço.

  -Bem eu acho. –virei para olhá-lo, aquela cara séria estava começando a me preocupar, será que eu tinha algo serio, mas eu havia feito um checape a poucos meses. –O que aconteceu? Eu estou doente doutor?

  -Bem você deve um desmaio, sua pressão estava muito baixa, você anda se alimentando soldado?

  -Acho que sim, quer dizer sim, eu como bem até demais, mas ontem eu estava meio cansada, ainda teve a doação de sangue, acho que me esqueci... –ele deu um grande sorriso como se tivesse feito uma grande descoberta.

  -Bem isso explica, ao fazer uma doação se recomenda não fazer esforço físico e que se alimente bem, pelo visto você não cumpriu nenhuma delas não é Lima, seu superior será informado. –suspirei desgostosa.

  -Minha cabeça dói.

  -Você a bateu quando desmaiou, sua colega disse que havia muito sangue, mas nada muito sério, não se preocupe, deve ficar com um pequeno inchaço nos próximos dias. -Passei a mão pela raiz do meu cabelo e senti o galo enorme, fechei os olhos de dor. –Vai passar a tarde no soro, perto do jantar eu passo para ver se está bem e te libero para o jantar.

  -Sim senhor.

  Quando sai da enfermaria já começava a escurecer, fui direto para o rancho, minha barriga roncava, peguei uma bandeja e segui as recomendações do médico indo direto para os alimentos mais leves, me servi e fui me juntar à mesa das meninas, elas estavam animadas rindo alto de alguma besteira que Paula falava, foi Ângela quem me notou primeiro.

  -Isa, você está bem?

  -To sim Ângela, nada de grave.

  -Você teve sorte Isa, parece que a azeda da Clara chegou algum tempo depois de você apagar e correu com você pra enfermaria. –Cris fazia aquela expressão zangada de quem dá bronca em uma criança que fez arte. –Se ele não tivesse te achado, só te encontraríamos hoje de manhã, palhaçada em Isabel, se estava passando mal devia ter falado.

  -Clara me achou? – ignorei todas as outras informações, se ela tinha me achado então isso significava que estava de volta... as meninas deviam achar que eu estava ficando doida, mas não teve como disfarçar o sorriso, talvez eu realmente estivesse doida afinal nem tinha motivos para sorrir.

  -Sim. –respondeu Paula estranhando a situação assim como as outras. –E por falar nela...

  Clara caminhava entre as mesas, seus olhos estavam fixos em mim, ok eu realmente devia ter batido a cabeça muito forte, quando foi que ela começou a andar daquele um jeito sexy, até a expressão metida em seu rosto parecia me instigar, foco Isabel, ainda é a Clara, a garota antipática lembra, respirei fundo para me controlar e desfiz o sorriso idiota, quando ela enfim chegou até nós meu olhar já estava serio.

  -Você esta bem Isabel? –está certo, é difícil ser antipática quando a pessoa parece estar preocupada com você, mas difícil ainda quando ela sorri simpática, fui uma garota bem educada, não sabia ser grosseira quando alguém me tratava bem.

-Sim, só uma queda de pressão, devo ter me esforçado demais...

-Até hoje cansada Isa, ta franca em. –Renata zombou chegando a mesa carregando sua bandeja, as outras três riram, Clara a olhou curiosa sem entender a piadinha infeliz. –A Japonesinha acabou com você amiga, desde aquele dia você está a cara da derrota...

  Eu ri sem graça sentindo meu rosto corar, não me atrevia olhar para Clara mais a ouvi rir, sempre tem aquela amiga infeliz que acaba soltando o que não devia.

  -Que bom que não se machucou Isabel, acho que estamos quites então.

  E sem dizer mais nada deu as costas se afastando “-Vai tarde.” ouvi Cris resmungar, isso até me alegrou, era muito mais fácil lidar com a Clara que eu já conhecia, a garota que conseguia ser chata até quando fazia algo bom. Terminei meu jantar e me despedi das garotas, os remédios que o medico me deu ainda faziam efeito e me davam sono, e também não agüentava mais as brincadeiras sobre a japa, abri a porta do quarto e ela já estava lá, sentada na cama escrevendo algo em uma apostila, ao me ver parou, nós nos encaramos por algum tempo, uma esperava a outra dizer algo, se dependesse de mim ela continuaria esperando, quem cadê a coragem de falar algo.

  -Acho que eu... bom, que eu devo te agradecer do jeito certo... Isabel...

  -Agradecer? Pelo que?

  -Por ter cuidado de mim... aquele dia foi... eu estava tão...enfim obrigada.

  Fiquei esperando que ela fosse dizer algo, mas Clara voltou a se concentrar no que fazia antes.

  -Bem... Então obrigada por me socorrer Clara.

  -Certo.

  Ela voltou a o dever e fiquei a olhá-la por um tempo, aquele clima amistoso entre nós parecia tão estranho, não era ruim, só parecia pertencer a uma realidade completamente diferente da que eu estava acostumada, essa dualidade de pensamentos ainda ai acabar comigo, fora o tanto que fazia minha cabeça doer.

  -O que você está olhando? –ela me perguntou curiosa, erguendo uma das sobrancelhas, foi a primeira vez que notei que ela fazia isso, correi ao reparar que meus olhos tinham ficados vidrados nela enquanto eu viajava na maionese.

  -Nada... estava distraída aqui... Ei Clara... Você meio que me salvou, mas ainda não gosta de mim, certo?

  -Certo.

  -Então por que fez isso?

  -Bem. –ela pareceu pensar um pouco. – Não sou tão ruim como você imagina, não deixaria você desmaiada só porque não vou com a sua cara.

-Ah... Certo.

-Certo.

  Ela voltou a se concentrar na leitura, suspirei me levantando para ir ao banheiro, tomei banho e voltei para cama, minha cabeça parecia parar de doer, meu corpo estava tão cansado que senti que poderia dormir uma semana direto, mas eu me esforcei em me manter acordada.

  -Como foi na sua casa?

  -Mau, meu pai ainda está em coma e... não voltar a me lembrar de como foi aquele enterro... –o olhos dela encheram de lágrimas, vi que ela disfarçou para os secar.

  -Eu lamento muito...

  -Você não deveria se importar Isabel nem ao menos somos amigas, vocÊ bem que podia voltar a me ignorar né? Já estou sentindo falta do silêncio sabia?

  -Desculpa. -Voltamos a ficar em silêncio, mas não me agüentei por muito tempo. -Clara...

  -Que foi agora?

  -Você tem conseguido dormir… digo.. está com umas olheiras horríveis, não leva a mal sua cara está péssima.

  Ela se calou me ignorando, já esperava isso dela, mas também não fiz a melhor escolha de palavras, suspirei derrotada, não tinha muito o que fazer mesmo, então me ajeitei na para dormir...

  -Isa...

  -O que?

  -Posso deitar um pouco com você?

  -Por que? –“droga pega de surpresa de novo”.

  -Sei lá ficar lembrando disso me deixa deixa mal e... bom… não tenho conseguido dormir...

  -Ainda vamos nos odiar?

  -Com certeza. –ela sorriu ao dizer isso. -E só pra ficar claro, sua cara também está péssima.

  -Agora me conte uma novidade… Vem cá logo.

  Me encostei na cabeceira da cama, Clara apagou a luz e mais uma vez se recostou em mim, como antes afagei seus cabelos e ela se pôs a alisar meus joelhos, ficamos assim, no escuro em silêncio, era estranho pensar que isso estava acontecendo de novo, percebi que ela havia adormecido, tratei de me ajeitar melhor na cama, ela provavelmente não dormia a dias, automaticamente me inclinei e beijei sua testa me odiando por ter feito isso depois, virei para o outro lado dando as costas para ela, o melhor a se fazer era dormir.

Fim do capítulo