Capítulo 3
Clara sorria para mim o seu sorriso mais lindo, mais meigo, seus olhos brilhavam de
excitação de um jeito que eu nunca havia visto antes, olhei para os lados tentando
reconhecer o lugar, as coisas a minha volta pareciam em movimento, entravam e saiam de
foco toda vez que eu tentava fixar meus olhos nelas, mas por algum motivo eu sabia que
aquele ainda era nosso quarto, ele parecia mais bonito quando conseguia o focar, estava
mais harmônico, era como se uma aura nova pairasse sobre o ar.
Voltei a me concentrar em Clara, ela ainda mantinha aquele sorriso nos lábios e murmurava coisas que eu não conseguia ouvir, mais uma de suas frases então soou nítida a meus ouvidos “– Você foi muito importante pra mim… Você sabe que foi….. mas….” ela se inclinou, beijou minha bochecha,
na verdade senti apenas um resvalar dos lábios que foi capaz de fazer meu rosto queimar, o lugar tocado ardia de uma forma inexplicável, meu rosto todo estava quente, uma sensação ruim que havia começado em minha bochecha tomava meu corpo como um aviso do que viria “-Obrigado” ela sussurrou e se virou para sair do quarto dando uma ultima olhada para trás, assim que ela passou pela porta que ia para o corredor tudo ficou escuro.
Acordei assustada, o corpo de Clara estava praticamente sobre o meu, ela chorava entre o
sono resmungando palavras desconexas, não conseguia compreender todas elas mas “você não é, você não é” e “importante” eram repetidas tantas vezes que mesmo embriagada de sono elas cravaram em minha mente, medi sua temperatura, estava quente, suava, tentei sair daquela cama, foi
em vão, o corpo se entrelaça ao meu de um forma que me imobilizava de fugir, depois de alguns minutos tentando acabei me rendendo a situação, a abracei forte colando ainda mais seu corpo no meu, estranhamente aquilo fez ela se acalmar, aos poucos o resmungar cessou e o semblante antes tenso voltou a suavizar, não demorou muito para que meu sono voltasse também.
Clara tornou a aparecer, naquele que era o nosso quarto “-Clara senti tanto a sua falta” aquela não era a minha voz, porem sabia que era eu quem falava, meu sorriso era largo, abri meus braços como se esperasse que ela se atirasse entre eles, mas ela não se mexeu, dei um passo a frente para alcançá-la, meus dedos passaram por ela como se tocassem uma nuvem, ela se afastou dando aquela gargalhada, aquele som me fez tremer toda. “-Você continua patética Isabel.” seus olhos se tornaram de um negro absoluto, todo o brilho que eu havia visto nas ultimas horas pareceu nunca ter existido naquele mar negro que eram agora, era como se Clara estivesse se transformando, mudando bem diante dos meus olhos e tudo de ruim que existisse estivesse com ela “ –Tenho pena de você Bel, às vezes é tão
manipulável.” Eu virei para o lado segurando as lagrimas de medo, quando tornei a olhá-la ela voltou a gargalhar daquele jeito nefasto, presas cresceram de seus dentes e ela se atirou sobre mim, suas unhas rasgavam minha pele pouco a pouco, meus gritos ecoavam por aquele lugar se misturando
aquela gargalhada demoníaca, eu via meu sangue escorrendo por suas presas, eu via o
ódio dela por mim estampado naqueles olhos, tentei lutar, mas eu sabia que já era tarde pra
mim, não importava mais, eu estava acabada, Clara me dominava e nada me salvaria daquele
fim, apenas me preparei para a morte...
–Não!!!
Acordei assustada, o quarto girava diante dos meus olhos sendo iluminado pela fraca luz
que vinha do corredor, por algum tempo nada parecia fazer sentido, pouco a pouco minha
mente foi clareando, eu estava na cama de Clara, havíamos brigado, seus pais sofreram algum tipo de acidente, dormimos na mesma cama, ela havia me coberto, olhei para os lados a sua procura, ela não estava ali, consegui respirar mais calma, meu despertador brilhava longe de mim, pisquei
algumas vezes antes de poder ver eram 06:00h, ótimo estava atrasada, a corneta soou bem
naquele instante confirmando meu pensamento, me troquei as presas, quando fui pegar o
boné sobre a cômoda reparei em um bilhete encima de meu travesseiro o joguei embaixo
do Notebook e sai correndo, o leria depois agora eu estava atrasada “Maldita Clara nem pra
me acordar” fui o mais rápido que pude ao encontro do meu pelotão, estava ofegante
quando cheguei a sala onde eles se encontravam, pigarreei alto para atrair a atenção do tenente e me coloquei em ordem de comando.
–Diga soldado?
–Desculpe pelo atraso Senhor...
–Vá para seu lugar soldado, mesmo tendo sido avisado, você está me devendo 50 ao final
do dia.
–Sim senhor. – ela havia os informado, bem então ela não era tão ruim
assim, não é, o tenente podia ter me aliviado, Renata está mesmo certa, isso ai só pode ser
falta de sex*. –Posso me sentar senhor?
–Rápido!
Caminhei apresada até uma das carteiras e sentei, olhei para o lado a procura de Clara, ela
não estava na sala, não consegui me concentrar no que era falado, meus pensamentos
estavam longe dali, vagavam por algum lugar atrás de Clara, será que ela estaria bem, eu
sabia o quanto era difícil perder um pai, eu conhecia a dor que ela estava sentindo, acho
que por isso me sentia tão ligada ao que ela passava, quando isso aconteceu comigo não havia ninguém para me dizer que tudo iria melhorar, nem me dei conta quando fomos dispensados, fui Renata que me cutucou para levantar, arrumei minhas coisas e segui ela e Cris
para o rancho em silêncio, e teria permanecido assim se não tivessem me tirado do torpor
em que eu estava.
–Então Isa o que aconteceu com a odiosa? –Cris perguntou quebrando o silêncio.
–Não sei ao certo, parece que os pais dela sofreram algum tipo de acidente...
–Oh... –Renata deixou escapar. –Que barra em...
–A mãe dela morreu. –eu continuei, eu não queria realmente estar falando sobre aquilo com elas, só que imagem daqueles olhos tão fragilizados invadiam minha mente, os pesadelos da noite passada ainda estavam tão vivos e me sentia tão atordoada que quando percebi já tinha soltado o assunto.
–Deve ter sido difícil. -Cris falava. –provavelmente ela chorou a noite toda antes de ir e não te deixou descansar...
–Ir? Pra onde ela foi? –eu quase gritei me controlando no ultimo segundo.
–Oras Isabel, ela provavelmente teve licença para ficar com a família. –dessa vez foi Renata
quem respondeu. –Mas veja pelo lado positivo, vai ser bom ficar uns dias sem ela não é? A convivência de vocês andava bem difícil.
-É... Andava não é...
Eu me esforcei para dar um sorriso falso e mudei rápido de assunto, o resto do dia demorou
para passar, agora a todo momento eu me pegava distraída pensando em Clara e em como
deveria estar sendo duro para ela, as vezes seus olhos apareciam na minha cabeça me
fazendo devanear as vezes eram os brilhantes, outras os negros dos meus pesadelos.
O dia havido sido horrível, corri para meu quarto no anseio de me isolar, tomei um longo banho e me atirei na cama, puxei minhas apostilas da bolsa e comecei ler sobre o tema que o tenente rabugento havia falado hoje, cerca de duas hora depois dei por encerrada a leitura, coloquei as apostilas na cômoda, só então que vi o Notebook e me lembrei do bilhete.
“Isabel
Obrigado por hoje pode ter certeza que retribuirei o favor, não se preocupe comigo
eu sou durona, muito mais do que você pensa, também não pense que viramos amiguinhas, isso foi um caso isolado, mas sou grata por ter me amparado, sim eu sei o que é gratidão.
Você deixou meu cabelo todo molhado com sua choradeira, manteiga derretida.
Clara”
Um sorriso se espalhou por meu rosto, era cômico que ela conseguisse fazer meu gesto
parecer caridade, bom isso facilitava tudo, Clara ainda continuava sendo a odiosa de
sempre...
Fim do capítulo
Mais tarde eu volto com outro capitulo.
comentarios são sempre bem vindos :)
Comentar este capítulo:
menteincerta
Em: 07/01/2018
Bizarro esse sonho da Isabel, acho que vem mais coisa por aí em relação a isso.
Agora é esperar a Clara voltar kkk
Resposta do autor:
Oi nat
Acho que só mais uns capitulos e tu vai ter uma ideia do porque dos sonhos embora não seja só aquilo...
Que será que sai desse encontro hem? Lê lá e me diz se foi como tu imaginou :)
Bj
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