Manuela acordou decidida a resolver as coisas com Cecília, não sabia exatamente o que tinha acontecido, mas iria concertar. Havia uma semana desde episodio da sala da morena e ela já não sabia mais o que fazer, chegou a sair com todas juntas, mas Cecília parecia querer ficar distante dela a todo custo. E conseguia.

 

A morena se arrumou e foi direto na porta da vizinha, não ia deixar ela falar, estava decidida demais em se resolver, pediria desculpas se extrapolou mas ia deixar claro seu interesse. Bateu na porta e colocou a mão na cintura, escutou o barulho da fechadura e respirou fundo, Cecília abriu a porta e vestia um conjunto de moletom, sorriu quando viu a vizinha e saiu do apartamento, trancando ele.

 

— Vem, vamos ali comigo! – Cecília deu um beijo na testa da outra e seguiu para o elevador, Manuela estava confusa e ainda parada de frente para a porta. – Vem Manu, chegou, não quero me atrasar.

 

— Vamos exatamente onde? – Perguntou enquanto seguia para o elevador e via a loira apertar o subsolo.

 

— Eu estou indo treinar, depois vamos pra casa da Catarina, os pais viajaram e ela quer dar uma festa. – Respondeu rindo.

 

— Cecília, temos que falar sobre aquele di...

 

— Vamos falar sobre, mas agora não! – a loira disse sorrindo e deu um selinho na outra, que ficou vermelha em questão de segundos.

 

O trajeto até a academia onde Cecília lutava não ficava longe, o caminho todo foi em silêncio, Manuela se perguntava a todo momento o que se passava na cabeça da outra, que parecia tão calma. Chegaram na academia e todos os olhares foram em direção as duas, Manuela viu Cecília cumprimentando todos, a loira era muito simpática e isso era nítido.

 

O lugar era grande, tinha uma parede de vidro que separava a academia do lugar onde já havia um grupo de dez pessoas que conversavam e riam alto de modo descontraído. Quando Cecília adentrou no lugar, um homem alto forte veio em direção da loira, ele era negro e tinha os olhos verdes, a boca era carnuda e Manuela não deixou de reparar na beleza do homem.

 

— Achei que não ia voltar a treinar nunca! – Ele disse abraçando a loira e virou para Manuela – Oi, eu sou o professor dela, Juan!

 

— Oi, eu sou a vizinha, Manuela! – A morena se apresentou de forma parecida, o homem riu e apertou a mão da outra.

 

— Vamos Cecília, vai aquecer, tá muito tempo parada, quero dez voltas. – Ele disse tomando uma postura firme. – Manuela, pode sentar ali, a menos que queira dar dez voltas... – Disse sorrindo com a sugestão.

 

— Não obrigada! – Manuela respondeu rindo e foi sentar.

 

Manuela viu Cecília tirar o moletom e revelar um top preto e um short folgado que ia até a metade das coxas, a barriga da loira era bem definida e as pernas já conhecia muito bem, a loira começou a correr e Manuela não conseguia disfarçar mais as olhadas que dava pra ela, na quinta volta, todos os outros começaram juntos até a décima volta. A morena tava achando fácil, mas depois de 10 minutos começaram a se aquecer de verdade e ela ficou assustada, sabia que não conseguiria a metade daquele treino. Cecília de longe era a mais preparada ali e ajudava o professor com todos ali, Juan deu uma pausa de 1 minuto contado e Cecília foi em direção ao bebedouro e depois em direção da morena.

 

— Tá muito entediada, né? – a loira perguntou preocupada.

 

— Não, eu to gostando, é até divertido. – Manuela riu – Por que tem vindo pouco?

 

— Faculdade, final de semestre, sabe como é, né, precisava me concentrar – respondeu suspirando.

 

— Cecília, vem! Ajuda a Agnes. – Juan chamou e a loira se levantou e foi em direção a menina.  

 

Manuela viu o sorriso da garota quando Cecília se aproximou, a morena se sentiu incomodada com aquilo. Cecília falou algo com Agnes que Manuela não conseguiu escutar, foi pra trás da garota que tinha cabelos castanhos com as pontas pintadas de rosa pastel, o coração da morena batia forte e sentiu o rosto esquentar de raiva, sentou numa postura mais polida tentando disfarçar o desconforto da aproximação, a menina parecia muito confortável nos braços da loira.

 

Cecília tentava ensinar o modo certo de se proteger de um golpe para a menor. Por ser mulher, Juan a fazia ensinar esse tipo de coisa, não queria correr o risco de alguém achar que ele estava se aproveitando do cargo de professor para se aproveitar das alunas, jamais faria isso.

 

— Vamos, Agnes, é assim – Cecília foi para frente da menina e ajudou na posição – Agora você deveria chutar, tenta em mim.

 

A menina fez o movimento e Cecília riu da má postura dela, Agnes olhava para a loira e estava muito encantada, estava com as bochechas vermelhas mas não conseguia desviar os olhos.

 

— Me ajuda, sou uma tonta – Agnes pediu.

 

Cecília concordou com a cabeça e foi pra trás da menina a segurando pela cintura, fazendo se mover quando a mesmo chutava. De longe, Manuela via a cena e já tinha a respiração pesada olhando aquilo, ia acabar explodindo sem ao menos ter esse direito, mas achava a menina tão abusada, era nítido que ela errava de propósito só pra ter aquelas mãos firmes em sua cintura.

 

— Vamos acabar por hoje pessoal – Juan falou num tom alto e Manuela soltou a respiração quase indo abraçar o homem.

 

— Você é ótima nisso, Cecília – Agnes se virou chamando atenção da loira quando a sentiu largar sua cintura e se afastar.

 

— Eu gosto do esporte, me faz relaxar e pensar melhor – Cecília respondeu sorrindo – Quer ajuda aí? – A loira viu a dificuldade da outra em tirar as faixas da mão e foi ajudar, estava perto demais, mas não sentiu nada com isso, nem maldade, nem interesse.

 

Manuela viu a aproximação e seus olhos arregalaram, sua mão suava frio e uma sensação tão estranha tomava conta do seu corpo. Seu peito subia e descia rápido, os olhos revezavam entre uma e a outra, estava prestes a levantar.  

 

— Você não sabe disfarçar o ciúmes! – Escutou uma voz conhecida soar por perto e olhou pro lado com a mão no peito.

 

— Que susto, Ana! – Manuela suspirou quando viu a amiga sentada do lado, estava tão concentrada na loira que não viu ela se aproximar. – Eu não estou com ciúmes.

 

— Você parecia uma tigresa prestes a arrancar o couro daquela menina – Ana disse rindo da cara de assustada da outra – Aliás, parece! Calma.

 

Manuela virou novamente para a loira e a viu coçar a nuca de modo desajeitado, sorriu sem graça e se despediu da menina, mas antes que Cecília pudesse dar mais um passo, a mais baixa a puxou e colocou um papel em suas mãos, a loira guardou no bolso e suspirou. Quando Cecília chegou perto das duas, abraçou a de olhos puxados.

 

— Já até sei o que veio fazer! – Sorriu ao dizer.

 

— Fica quieta, eu só quero olhar. – Ana respondeu e se levantou – Vai logo tomar banho!

 

Cecília pegou a bolsa e foi em direção ao banheiro, todos já haviam ido embora, menos Juan, com quem Ana conversava animadamente num canto. Manuela ainda estava sentada quando viu Cecília se aproximar com um short jeans e uma blusa branca curta de manga.

 

— Vamos? – Cecília perguntou sorridente e viu Manuela se levantar, apenas olhar e balançar a cabeça indo em direção a saída.

 

— Tá encrencada! – Ana passou pela loira rindo com Juan do lado.

 

A loira estava confusa, seguiu a morena e quando saiu da academia, a outra já esperava do lado do passageiro de braços cruzados, abriu o carro e viu Manuela entrar sem nem olhar para o lado. O caminho todo foi em silencio e Cecília não entendia o bico e cara amarrada.

 

Quando chegaram no prédio de Catarina, o porteiro abriu a garagem pro carro que já conhecia, o estacionamento era grande e cada apartamento tinha até duas vagas, uma vaga já estava preenchida pelo carro das irmãs, Cecília colocou na outra. Manuela mal esperou o carro parar e já estava saindo, a loira segurou a outra e a fez sentar novamente.

 

— Que foi, Manu? – Cecília perguntou séria.

 

— Nada. Posso sair? – Manuela ainda não olhava em direção da outra.

 

— Manu, o que foi? Aconteceu algo? – A loira virou retirando o cinto e se virando preocupada.

 

— Nada, Maria Cecília. – A morena bufou irritada.

 

— Você nunca me chamou pelo nome... Manu, o que foi? Me fala, por favor! – A loira suplicou.

 

— Faz o seguinte, pergunta pra Agnes! – Manuela saiu do carro e foi em direção ao elevador, Cecília saiu do carro as pressas e segurou a morena pela cintura enquanto entrava no elevador, a prensou na parede e apertou o botão da cobertura.

 

— Manu, você tá com ciúmes? – Cecília perguntou sorridente e ofegante. Manu abriu e fechou a boca várias vezes e por fim, ficou séria.

 

— Ciúmes, Cecília? – A morena arqueou as sobrancelhas e sorriu com maldade – Você vai ver o que é ciúmes.

 

O elevador parou e no andar só tinha uma espécie de sala com uma porta gigantesca e dois vasos de plantas de cada lado, havia também um sofá e uma mesa de vidro. Manuela bateu na porta e Catarina logo abriu, abraçou a morena e foi logo abraçando a loira que estava embasbacada ainda, Catarina se encontrava com uma faixa na cabeça enquanto em suas mãos estavam pinceis.

 

— Estão todas se arrumando já, vão logo, Júlia já está aí, – Catarina puxou as duas – a festa começa daqui a quatro horas, fizemos um bolão de quantas brigas Júlia e Melina vão ter até a primeira pessoa chegar! – riu divertida. – Lia, ainda precisamos comprar bebida, vai se arrumar pra ir comigo.

 

Manuela foi ver a irmã, que estava com uma mochila com as roupas da outra, conversaram um pouco e Manu foi pro banho. Já Cecília foi pro outro quarto, onde Ana já se encontrava.

 

— Conseguiu acalmar a fera? – Ana perguntou rindo e Rafaela, Melina e Catarina a olharam confusa – Manu tava morrendo de ciúmes da Agnes, aquela novinha da academia da Lia.

 

— Eu acho que ela me ameaçou. – Cecília riu pegando a toalha na cama – Ela disse: você vai ver o que é ciúmes.

 

As meninas riram e foram terminar de se arrumar. As primeiras pessoas já haviam chegado, a música soava alta, todas elas se encontravam lindas, Manu usava um vestido preto de alça com uma abertura pequena na perta, usava um salto branco e os lábios vermelhos. Cecília usava uma calça branca que contornava bem as pernas torneadas, um cropped vermelho bordado e um salto da cor da blusa. Catarina tinha optado por um vestido nude e sandália da mesma cor. Melina estava com um vestido vermelho frente única, a saia era colada mostrando as curvas. Rafaela preferiu um short de tecido leve e cintura alta, usava um bpdy pra acompanhar. Júlia usava uma saia colada e um cropped que era conjunto, ambos pretos. Já Ana, usava também uma saia, mas rodada de camurça com uma blusa de manga aberta nas costas.

 

A sala ampla de Catarina estava lotada de pessoas, alguns se agarravam em um canto, outras dançavam no meio, outras estavam na varanda fumando ou conversando. Manuela se encontrava numa conversa gostosa com Rafaela, as duas riam, mas logo Rafaela encontrou uma antiga “amiga” e foram “conversar”. Manu olhava a vista e sorria, era realmente lindo, tudo no Rio encantava a mulher.

 

— Por que sua irmã é tão irritante? – Melina apareceu bufando, já estava embriagada e andava um pouco torto.

 

— O que aconteceu? – Manu perguntou já rindo.

 

— Ela tá agarrada com aquelazinha no sofá, ela nem é tudo isso e fica se achando! – Melina suspirou e olhou pra trás – Só porque ela tem aquele olhar cafajeste e é linda... E gostosa... E inteligente... E...

 

— Você tá com ciúmes! – Manu riu quando a baixinha a fuzilou com o olhar – Tudo bem, tenho que admitir que hoje eu quase morri de ciúmes com a Cecília.

 

— Me contaram – Melina riu baixo com a cara de indignação da outra – Foi a Ana!

 

— Só digo uma coisa, ela vai ver só, ela deixou aquela abusada se esfregar nela. – Manuela dizia mais para si do que para a outra.

 

— O que está pensando? – Melina olhava para a outra curiosa.

 

— Vou fazer o mesmo, estou esperando a oportunidade! – Manuela disse decidida, mas logo bufou – Isso é tão infantil, mas eu estou morrendo de raiva. – Manu suspirou e colocou as mãos na cabeça.

 

Um toque mais sensual começou a tocar e Melina arregalou os olhos e sorriu.

 

— Vem comigo, Manu, essas duas tem que aprender uma lição – a baixinha começou a puxar a outra para o meio da pista.

 

— Duas? – Manuela arqueou as sobrancelhas.

 

— Quis dizer a Cecília, só vem, Manu!

 

Melina chegou perto do som e parou a música, a festa inteira olhava para as duas perto do som, Cecília estava em um canto conversando com Catarina, todas meninas a olhavam com uma interrogação na cara. Melina trocou a música por uma do the weeknd, the hills, continuou puxando para perto de uma mesa e subiu, estendendo a mão para a morena, que logo entendeu e subiu. Júlia se aproximou de Cecília e já estava da cor do cabelo.

 

— O que essas duas estão fazendo? – Perguntou raivosa para a loira.

 

— Eu aposto a minha vida que elas estão com raiva, Manu com raiva de Cecília, mas e Melina... – Ana disse quando se aproximou.

 

— Tá com raiva da Júlia! – Rafaela chegou rindo da situação.

 

As duas dançavam sensualmente atraindo os olhares de todos da festa, um homem chegou subiu na mesa e chegou perto de Manu, ele segurava a cintura enquanto ela dançava olhando para Cecília que respirava fundo. Já Melina dançava com uma mulher, estava de frente e muito perto, vez ou outra olhava para a ruiva e sorria maliciosamente.

 

— Eu vou tirar sua irmã dali, Júlia! – Cecília disse nervosa

 

— E eu vou tirar a sua, Rafaela! – Júlia disse enquanto ia em direção a mesa. – Desce Melina, você está bêbada.

 

— Não desço! – Melina respondeu rindo.

 

— Mas tu vai descer, Manuela! Desce as duas. – Cecília olhou séria pra morena, que olhou em direção da baixinha do seu lado e sorriu.

 

— Me obrigada! – As duas disseram juntas.

Fim do capítulo