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She's Got Me Daydreaming por Carolbertoloto

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Palavras: 4366
Acessos: 2723   |  Postado em: 18/12/2017

Mad About You

Pov- Delphine

Manhã fria, cor de cinza.

Vento forte e cama vazia.

Não precisava ser assim, mas meu acordar desacompanhado foi assim.

Ainda de olhos fechados e movimentos postergados, senti o cheiro de sua pele, de seus selvagens cabelos. Senti a alegria de te ter de volta para mim, senti tudo o que precisava sentir. E então, calmamente ansiosa, estiquei meus braços para acolher seu corpo nu. Ele deveria estar tão quente, tão manhoso, tão sereno. Entretanto, não encontrei nada além da absurda quantidade de travesseiros amassados e lençóis desabitados.

Cosima partiu sem se despedir.

Não há cura ou medicina custosa para arrependimentos ou tempo perdido.

Admito que não fui capaz de compreender sua ausência. Confesso minha incapacidade para racionalizar a ira dentro de mim, mas sei que isso faria parte de minha rotina presa às condições de uma menina indecisa; quase tanto quanto eu.

Sentei para melhor analisar o vazio daquela imensa cama bagunçada. A noite passada foi de grande esmero, a pobre manhã não merecia tanto ar efêmero. Sei que sou a culpada, fui a ladra de um roubo terceirizado por maus pensamentos. Mesmo assim, ainda dói aqui.

Cosima não tem a mesma face, está tão mudada, fica até difícil reconhecer seus olhos na escuridão. E confie em mim, eu reconheceria seus olhos em contextos mais complexos e labirínticos.

Compreendo que nada será como um dia foi, entretanto, minhas esperanças são inegáveis.

Será que estou delirando? Encontrando a insanidade em pequenos ladrilhos de trilhas já exploradas, mas não devidamente aventuradas?

Será que estou ficando louca? Gostar de sofrer só para encontrar desculpas em nome da falta de amor próprio, ou por apenas se auto destruir como se o amanhã jamais chegasse?

Sim, admito, estou ficando cada vez mais louca...

Insana...

...Mentecapta

Alucinada...

...Desatinada

Por uma Menina indecisa, quase tanto quanto eu.

Quebra de linearidade em fluxo de inconsciência ilimitadamente merecido.

Sim, mereci, e ainda mereço tudo o que irei sentir nesta guerra fria entre dois mundos completamente opostos. Sendo um deles o favorito, não por realmente ser, mas por ainda não ter cedido, por ainda querer aqueles lábios ressacados, aqueles cabelos adoidados, aquele sorriso simetricamente assimétrico, aquelas bochechas escassas de ossos e olhos castanhos em tons verdes florestais.

Respirei, levantei.

Eu sabia que não a encontraria em minha cozinha, porém isso não impediu que as esperanças malcriadas esperassem por algo que nitidamente não estaria lá.

Choque da verdade. Uma dose de whisky em troca da dose de realidade.

Era muito cedo para beber, porém muito tarde para me conter.

Vestindo apenas minha branca calcinha, mostrando meu colo, estomago e seios para os fantasmas que habitam a naturalmente iluminada sala. As pontas de meus cabelos ondulados, de maneira falha, tentavam cobrir minha intimidade. Entretanto, há coisas que não merecem ser escondidas, guardadas. E o corpo de uma mulher desprovida de mútuo amor é, com certeza, uma delas.

Jogada em uma poltrona quase tão clara quanto a pele que habito, guiada por uma música composta de violinos, cellos, castanholas e cordas vibrantes. "Impossible Love", por Melody Gardot. A atmosfera que me envolvia, também manipulava meus luxuriosos devaneios. Cosima deveria estar pensando em mim, a imagino tocando-se ao louvor de meu nome. Sou o sussurro em seu ouvido, sou o plano de sua guerra interna, e, apesar dos pesados pesares, imagino que ainda sou quem a tem tão vulnerável assim, quase tanto quanto para mim.

Em breve e lucidas ações, caminhei conforme a harmonia vindo de minhas caixas de som, carregando a garrafa próxima ao meu dançante corpo exposto. A voz de Melody Gardot possuiu a lista escolhida para um dia nostalgicamente nauseoso.

Dentro de um box transparente, banhei-me com água pouco ardente. Sóbria e solitária, vesti calças e camisa sociais. Eu não precisava, mas queria sentir-me imponderada.

Com maquiagem para esconder a tolice em amar a dor. Com perfume ensurdecedor do pudor. Cabelos soltos e sorriso preso ao reflexo do espelho. Sou mais do que aquela bela mulher, porém ela tem seus jeitos e dons; tolo seria alguém capaz de negar o efeito de meu reflexo compresso em lamurias secretas.

Ouvi a companhia soar atrapalhando a gravidade em minha esfera.

"Aldous?" Ao abrir a porta, o enrugado rosto de meu mentor cumprimentou-me amarguradamente.

"Delphine, precisamos conversar." Leekie adentrou meu lar sem licença dada ou solicitada.

"O quê houve?" Questionei.

"Ouvi rumores, e espero que sejam apenas rumores." Comentou, "Dra. Niehaus anda trabalhando em um projeto paralelo ao que deveria. Você sabe algo que eu não sei?" Com pés firmes ao chão e braços cruzados para compensar a falta de livre espírito, perguntou.

Eu não perderia a compostura, afinal, estava vestida, fardada para ser imponderada.

"Não sei ou ouvi sobre tal rumor, e não faço ideia se Dra. Niehaus anda fazendo algo por fora." Menti, porém muito bem.

"Delphine, você entende que se Cosima fizer qualquer coisa sem permissão, ela terá de ser julgada como Dra. Niehaus, não como sua amante." Informou o desnecessário.

"Aldous, sei de minhas obrigações e responsabilidades. Não é necessário ser lembrada de meu cargo no Instituto." Retruquei.

"Pois bem, se Dra. Niehaus for pega fazendo algo que não deve, você será encarregada de demiti-la." Ameaçou em tom jurássico.

"Sem problemas." Respondi antes de leva-lo até a saída.

Em um suspiro perturbado, reconheci o provável destino das boas intenções de Cosima. E se antes a discrição era necessária, agora, ela pode ser fatal.

Charlotte está escravizada por sua cura encubada. Todas nós somos dependes de uma esperança disfarçada em ciência.

Eu precisava de álcool, mas em minha casa já não havia mais nada.

Busquei por minha bolsa e chaves, desci pelo elevador e adentrei meu carro. Dirigi até o mercado mais próximo de maneira imprudente e ligeira.

Empurrando um carrinho de rodas tortas entre corredores longos, avistei uma figura familiar. Ela segurava uma lista quase tão longa quanto os corredores ao meu redor.

"Paige?" Chamei pela moça focada nos itens escritos no papel.

"Del! Amiga, como é bom te ver." Seu sorriso era acolhedor, ele sempre foi.

"Tudo bom?" Perguntei segurando-a em meus braços.

"Sim, e você?" Retrucou imediatamente.

"Respirando mal, mas com o coração pulsando." Meu sarcasmo era uma das poucas coisas que ainda me restavam.

"Oh! Querida, por quê?" Seu rosto expressava preocupação.

"Bom, é só olhar para mim daquele jeito que só você sabe." Auxiliei sua curiosidade.

"O bebê! Cosima!" Exclamou em alto e piedoso tom.

"Sim." Mordi meus lábios para poupa-la de tantos tristes detalhes.

"Amiga, estou terminando a lista, e quando acabar volto com você para conversarmos." Anunciou de maneira firme.

Eu pensei que não precisasse de alguém, porém era engano meu.

"Tudo bem." Respondi.

"O quê você ainda precisa pegar?" Questionou olhando para o vazio em meu carrinho.

"Whisky e vinho." Comentei embaraçada.

"Me poupe e me siga. Deixa que eu cuido da sua alimentação." Demandou pegando em meu braço.

Paige selecionou queijos, carnes, pães, café, sucos e chás, ovos, chocolates, farinhas e frutas. Cada um dos itens fazia falta em meus armários e geladeira. Além da companhia, eu necessitava de algo sólido. Alimentos e suplementos. Nutrientes e vitaminas. Sexo com amor e uma vida melhor.

Após as compras, como decidido, voltamos ao meu apartamento. Enquanto minha amiga enchia as prateleiras, enchi duas taças com tinto, e o ambiente com músicas dançantes para os que não sabem dançar.

Novamente, a voz de Melody Gardot comandava a harmonia.

"Del, tira isso! Coloca algo mais animado." Paige costumava ter um ótimo gosto musical.

Selecionei, então, "Give Me One Reason", por Tracy Chapman.

"Socorro, me dá isso aqui." Furiosa, ela pegou meu celular para fazer sua própria seleção.

De repente, "Haven't Met You Yet", por Michael Bublé, invadiu com alegria minha depressão contida.

"Agora sim." Exclamou movimentando os pés fora de sincronia com seus quadris.

"Ele não faz somente músicas natalinas?" Provoquei em sarcasmo.

"Não! Mas as natalinas são ótimas também." Comentou sorridente.

Espero não viver o dia no qual ouvirei suas músicas de natal.

Com uma tábua de queijos e presuntos em nossa frente, sentamos para conversar. Em detalhes de eufemismo, contei tudo o que aconteceu entre Cosima e eu. Sobre o bebê que nunca nasceu, sobre o reencontro de um antigo amor, a batalha recorrente entre Robyn e eu, e as condições da mulher que escolherá o grande vencedor.

Expressões marcadas pela surpresa, tom definido pela dó sentida, e abraços encaixados nos momentos corretos.

"E amanhã é aniversário dela." Completei após detalhar a bagunça em minha vida.

"E o quê você vai fazer?" Perguntou ansiosa.

"Não sei." Suspirei, "Não há o quê comprar, ela não liga para presentes."

"Então faz um bolo." Paige sugeriu como se aquilo fosse a solução para meus problemas amorosos.

"Eu posso comprar um bolo." Adicionei em tom piadista.

"Não, Del! Se você fizer um, vai ter um valor maior." Insistiu.

"E como vou fazer isso? Não sou boa na cozinha." Confessei.

"Eu te ensino, vem cá." Paige buscou por minha mão levando-me ao balcão.

Farinha, baunilha, ovos, chocolate branco, fermento e frutas picadas, leite condensado, amido de milho. Formas e louça para lavar. Aroma caseiro, cobertura espessa. Quarenta e oito minutos, e Bublé cantando sem parar.

Era pequeno, mas era grosso. Deu trabalho, mas tirou-me um sorriso. Em pasta de framboesa e morango, sobre a exagerada cobertura, cuidadosamente escrevi "Joyeux Anniversaire". Poderia ser algo simples, porém aquele modesto bolo representava algo maior que sua receita, ele significava o quê não fui ou sou capaz de descrever, pois ele traria sorrisos e adocicaria uma querida língua minha.

E de repente, fiquei animada. Permiti-me dançar aos clássicos de filmes programados para mostrar o lado bom do amor. Entre comédias e romances, encontrei a escapatória para meu terror independente. O gore, a violência e a penúria de longa-metragem, por um breve segundo, não faziam parte de meu roteiro.

"Agora, deixe ele na geladeira até amanhã, assim ele fica bem molhadinho e o recheio durinho." Demandou Paige, "Você sabe como..." Provocou feito a hétero que era.

"Não teve graça, mas mesmo assim, sorrirei." Informei mexendo meus pés com passos não marcados.

"Bom, preciso ir agora. Vou encontrar com o Art no terreno de árvores." Anunciou apressada, "Art quer comprar um pinheiro de verdade esse ano."

"Não terei nem um de mentira neste natal." Confessei antes de terminar minha quarta taça.

"Você quer passar com a gente?" Minha amiga ofereceu sob a pressão de um triste evento.

"Acho que ficarei sozinha mesmo." Meu corpo implorava por mais vinho tinto.

"Bom, você quem sabe. Nossas portas estão sempre abertas para você." Informou tentando esconder o fato de que sou solitária.

"Obrigada." Agradeci honestamente.

Paige organizou o balcão, abraçou-me e logo partiu para o encontro com seu amado.

Eu estava sozinha novamente.

Aproveitei meu ócio para lavar as louças, terminar a garrafa, escovar meus dentes, e imaginar como a manhã seria. Admito que fui invadida por um sentimento sombrio, uma visão confusa de Cosima e o quê ela poderia estar fazendo naquele exato momento.

A cólera que sinto ao imagina-la com outra pessoa é ainda maior quando sei, exatamente, com quem ela poderia estar. Convenci-me de que aquilo seria apenas o medo de perde-la, mas mesmo assim, servi-me uma dose de meu melhor whisky. Sentei-me na poltrona próxima à janela em meu quarto. Desabotoei minha camisa e observei a cama onde obtive tanto amor e prazer na noite anterior. Para amenizar o amargo de minha bebida, selecionei meus cigarros mentolados. Sempre que posso, evito mascar gomas de plástico. Traguei e traguei. Bebi e bebi. Logo, ali naquela mesma poltrona, padeci em sono de sonhos terríveis.

***

O sol mal havia despertado. A neve caia vagarosamente dando beleza ao cinza da manhã. Com dores na lombar e pescoço, levantei da poltrona gelada. Fazia frio tanto fora quando dentro de minhas quatro paredes. Eu provavelmente ficarei doente por ter dormido ao lado da janela aberta durante a noite toda.

Apressei meus paços até a cozinha. Eu necessitava ver como o bolo tinha ficado. Meu corpo inteiro implorava por água e um Advil, porém, satisfiz minha curiosidade primeiro.

Lá estava ele, em sua prateleira exclusiva. Tão pequeno, porém tão grande.

Tudo estava andando conforme o plano ainda não existente. Após ingerir o quê pareceu ser três litros de água, tomei uma ligeira ducha morna, escovei meus dentes, e vesti a mesma roupa do dia anterior. Refiz a maquiagem, melhorei o perfume. Busquei por meus cigarros mentolados sobre o criado-mudo, peguei minhas chaves, e sem auxílio de GPS algum, dirigi até o apartamento de Cosima.

O porteiro cumprimentou-me sorrindo embaraçosamente, como alguém que sabe algo a mais. Ignorei o pressentimento de estar andando em direção à uma emboscada. Preferi pensar positivo, imaginar-me em um filme de final de domingo, do tipo daqueles com as canções de Bublé. O corredor estava mais escuro do que eu me lembrava. Escuro e frio, até pareceu que a neve havia sido transferida para dentro.

Feito criança assustada, caminhei pela passarela cercada por paredes em tons verde escuro. Eu ainda tinha a chave do apartamento. Conhecendo Cosima, pensei que fosse estar dormindo. Então, resumi uma doce visão de acorda-la aos beijos, devora-la enquanto ela devoraria o singelo bolo feito por mim. Uma visão tão tola; quase tanto quanto eu.

Adentrei o local sentindo em minhas células que eu deveria sair dali o mais rápido possível. A luxuriosa playlist, os copos vazios sobre a mesa, os muitos cigarros de erva no cinzeiro, o tapete desarrumado, o cheiro de peles que roçaram-se uma na outra durante um longo tempo. Tudo ali mendigava-me para ir embora. Entretanto, a teimosia e audácia inseridas em mim, são características afloradas de ruptura com a sabedoria.

Segurando o pequeno bolo em minha mão direita, caminhei com coração em minha mão esquerda em direção ao quarto que já foi meu.

Roupas ao chão.

Avistei nudez de uma bela mulher deitada sobre a cama que já foi minha. Reconheci o perfeito corpo de minha perfeita oponente. Ela não precisou de estratégia sofisticada. Ela não utilizou armas de fogo, bombas ou veneno. Robyn venceu nossa imaginativa, porém real batalha.

Captei o barulho de água caindo vindo do banheiro. Soube exatamente quem banhava-se ali.

Era cedo demais para uma decepção, então imagine o quão cedo estava para outra.

Pousei o bolo sobre o balcão e parei para analisa-lo uma última vez.

Ele era tão pequeno, tão minúsculo.

Sem mais delongas, com muito pesar e a maldita cólera, retirei-me do lar que já não era mais meu.

Ao fechar a porta, senti meu estomago embrulhar. O jejum baixava minha pressão e acelerava o suor em mim. Calor infernal, sufoco carnal. O fim de meu carnaval.

Perambulei lentamente enquanto meus olhos assistiam o carpete do corredor. Pressenti que uma cratera abriria em minha frente apenas para comigo acabar de vez.

E como a maioria dos romances Franceses, o infortuno final não previsto.

"Hey! Espera!" Cerrei meus olhos ao captar aquela voz.

Eu não estava pronta para encarar a face dona de meu apogeu.

Tentei relaxar meus músculos, engoli o amargo do desamor e virei-me calmamente.

"Bom dia." Gesticulei em baixo tom.

"Chega mais perto." Cosima solicitou sem saber o quão perigoso o ‘perto' seria para mim. Ela não fazia ideia do quão longe eu precisava estar dela naquele momento.

Mesmo não querendo, obedeci a mulher enrolada em uma toalha branca. Era possível estudar as gotas escorrendo em sua pele. Por pressa ou desleixo, o banho foi mal tomado.

"Obrigada pelo bolo." Agradeceu sorrindo.

Odeio amar aquele sorriso, às vezes.

"Não foi nada." Suspirei, "Parabéns."

"Olha pra mim." Exigiu segurando meu queixo com a suavidade de suas mãos, "Você que fez o bolo?"

"Sim." Respondi prontamente.

"Ual! Muito obrigada." Ela agia como se nada tivesse acontecido. Ela sorria como se não houvesse uma mulher despida em sua cama.

"Bom, e-eu tenho que ir." O nervosismo inserido em ira alterou a sinapse de meus neurônios, o quê causou-me uma repugnante gagueira.

Então caminhei para longe, dois passos dela, o que já considerei ser uma distância segura.

"Delphine, me desculpe." Cosima desculpava-se demais, sempre foi assim. E eu sempre odiei tal fato, ainda mais agora, quando a culpa de tudo isso que estamos passando, é exclusivamente minha.

"Não há o porquê, a casa é sua, foi eu quem invadi. Eu deveria ter ligado antes ou qualquer outra coisa. Eu deveria saber que você não estaria sozinha." Confessei em voz falha. Minhas pernas tremiam feito sem tetos no vigoroso frio do inverno.

"Você tá brava?" Questionou amedrontada.

"Não." Engoli saliva a seco, "Eu aceitei suas condições, só preciso me esforçar para me acostumar com elas."

Houve uma breve pausa até reconhecer que suas chaves ainda estavam comigo.

"Ah! Tome suas chaves de volta." Entendi os braços para não ter que andar em sua direção, "Eu deveria ter as entregado quando me mudei."

"Pode ficar." Resposta errada, Cosima.

"Cosima, fique com elas..." Aquilo era inimaginavelmente difícil, "Por favor."

Dra. Niehaus pegou o que lhe pertencia e assistiu-me partindo para qualquer outro lugar.

Cercada por quatro paredes metálicas, notei a decadência dos nutrientes de meu corpo. Percebi as consequências da ausência de algo sólido em meu organismo. Não foi necessário olhar-me no espelho para entender minha palidez. Ao parar do elevador, apressei-me para o exterior do prédio, mas não sem antes conferir em relance a expressão de dó inserida na jovem face do porteiro.

Minhas pernas decidiram parar de funcionar. Apoiei todo meu peso contra a parede de concreto. Com respiração ofegante e suor corrente, senti todo meu mundo desabar. O frio do começo do inverno trouxe um certo alívio à minha situação, entretanto, notei que minha consciência não seria de longo prazo.

"Delphine, você tá bem?" Cabisbaixa, forcei minha vista para compreender a figura em minha frente. Fui capaz de reconhecer sua feminina voz, mas não pude responder, não tive tempo. Logo, tudo escureceu. O dia tornou-se noite, a noite roubou o dia. E não recordo-me de um só acontecimento após o catastrófico evento daquele domingo de manhã.

Ao abrir meus olhos, não reconheci onde estava.

"Delphine?" Aquela mesma voz.

Eu definitivamente estava deitada em um sofá.

"Delphine, você tá bem?" Olhos tão maquiados, um hálito mentolado.

"Felix? Onde estou?" Questionei atordoada.

"Graças a Deus! Você tá viva!" Seu tom quase danificou meus tímpanos.

"Onde estou? O quê aconteceu?" Levantei-me lentamente.

"Você apagou do nada, então te carreguei até o apartamento do Scott, mas calma estamos sozinhos aqui." Respondeu segurando um copo de água em minha frente.

"Obrigada." Suspirei antes de beber todo o conteúdo daquele longo copo.

"O quê aconteceu com você?" Perguntou já sabendo do ocorrido. Felix era terrivelmente ruim em disfarçar o óbvio.

"Não comi nada e acabei passando mal." Entretanto, eu era terrivelmente péssima em mentir também.

"Reparei, você é o ser humano mais leve que já carreguei." Informou de uma maneira particular dele, "Fiz umas torradas para você. Vamos colocar carboidrato e sal nesse seu corpinho."

Aceitei o café da manhã, mesmo o relógio marcando duas horas da tarde.

Consumi tudo o que me foi oferecido. E então, a hora das verdadeiras explicações havia chegado.

"Você sabe exatamente o que aconteceu." Acusei-o.

"Sim, você pegou as duas na cama, certo?" Comentou franzindo a testa.

"Correto." Afirmei.

"Olha, não sei por onde começar, então vou improvisar." Ajeitou o cabelo antes de continuar, "Não sei como será o desenrolar do drama de vocês. Não sei até onde Cosima vai com esse negócio de dar chance para duas mulheres ao mesmo tempo, mas eu sinto muito por você estar assim. Eu entendi o seu afastamento desde o começo, entendo pelo o quê você passou, e se quer saber, admiro muito sua coragem e sua vontade de correr atrás do que perdeu. Mas Delphine, cuidado para não voltar à escuridão. Você não precisa sofrer de novo; ninguém merece sofrer tanto assim."

"Eu sei, Felix. Estou tentando, me esforçando, mas dói tanto, não consigo disfarçar." Confessei ainda segurando o copo vazio entre meus dedos.

"Não disfarce. É nítido que vocês duas vão se acertam novamente. Não é fácil esquecer ou seguir em frente depois de tudo o quê vocês viveram." O afeminado rapaz soava incrivelmente preocupado com minha saúde, tanto mental quanto física.

"Estou melhor agora, eu só preciso sair daqui." Informei angustiada.

"Olha, teremos uma festa pra Cos na casa do meu namorado, o Colin, eu te chamaria, mas acredito que não será bom você estar no mesmo ambiente que as duas." Felix não precisou citar o nome da outra mulher, já estava mais do que entendido.

"Fica tranquilo, estou bem." Continuei ao levantar-me da cadeira.

"Não mente pra mim, você não está bem." Insistiu na verdade.

"Realmente não estou, Felix, mas logo ficarei melhor." Dizer algo em voz alta pode fazer este algo acontecer, certo?

"Se cuida e vê se come." Feito mãe preocupada, o rapaz conduziu-me para fora do prédio. E no caminho, evitei olhar para o quê aquele corredor tentava demonstrar, e para a face do jovem porteiro que observava-me.

Adentrei meu carro sem saber para onde ir. Sem muito pensar, segui em direção do único lugar que me traria paz, a presença de Charlotte. Passei pelos corredores vazios do Instituto até alcançar o interior do colorido quarto da criança que pendurava luzes de natal sob sua cama.

"Delphine!" Aquele sorriso seria a cura para a doença de nossa sociedade.

"Princesa!" Acolhi a pequena menina em meus braços, "Como você está?"

"Estou bem. Dr. Leekie me deixou decorar meu quarto para o natal." Informou animada.

"E cadê sua árvore?" Questionei curiosa.

"Ele só me deu esse pisca-pisca, mas tem algumas lâmpadas queimadas." Anunciou segurando o curto fio branco.

"Você gosta muito de natal, né?" Indaguei em tom recreativo.

"Sim, muito mesmo! E você? Você já decorou sua casa?" Perguntou sorrindo largamente.

"Ainda não." Respondi aos olhos castanhos mirando nos meus.

"Ah! Se eu pudesse decoraria tudo aqui. Talvez quando eu tiver minha casa, vou decorar durante o ano todo." Charlotte não era uma criança qualquer, porém sua inocência e imaginação eram do mesmíssimo aspecto.

A jovem, provavelmente, jamais teria sua própria casa. Ela talvez nunca sairia daquele Instituto de vez. E ela, com certeza, não merecia nada do que estava sujeita a ter.

Em um devaneio inocente, audacioso e imaginativo, arquitetei um plano improvisado.

"Quer me ajudar a decorar minha casa?" Sugeri ao dentes brancos expostos pelo imenso sorriso em sua pálida face.

"Sim!" Respondeu aos pulos.

Preparei uma pequena mochila com seus pertences e algumas roupas. Como amanhã será segunda-feira, poderei traze-la antes que Aldous notasse sua ausência.

Posicionei o sinto de segurança cautelosamente ao redor da alegre menina sentada no banco de trás do meu carro. Dirigimos até o terreno de árvores e Charlotte escolheu um mediano pinheiro, o qual seria entregue ao final da tarde em meu apartamento. Logo, decidimos ir ao Wal-Mart próximo à rua onde moro. Compramos uma quantidade absurdas de enfeites e luzes de natal. As tradicionais meias de pano, chocolates, biscoitos e o mais novo CD natalino de Michael Bublé. Sim, ele de novo. Ordenei o jantar da noite em meu restaurante preferido, e ele seria entregue ao cair da noite.

Ao chegarmos no apartamento, Charlotte foi, apressadamente, desembrulhando tudo o que havíamos comprado. Aprontei a mesa para o jantar e desfiz a pequena mochila cor de rosa. Abduzida pelo espírito natalino, a jovem montava a árvore que chegou no horário certo. Conduzidas por melodias serenas, pela atmosfera imensamente alegre inserida naquele triste apartamento, decoramos todos os cantos existentes dali. Havia muitos bonecos de Papai Noel distribuídos sobre as mesas. Os Elfos disputavam espaço com as renas, e as luzes de natal consumiram não somente a perfeitamente decorada árvore, como também os batentes das portas e janelas. Até o papel higiênico continha as figuras do feriado. Tudo estava lindo, estranhamente lindo. Fazia tempo que eu não sorria como sorri naquelas horas ligeiras.

Penduradas no hack, três meias de cores vermelhas, verdes, brancas e azuis, ganharam etiquetas com os nomes "Cosima", "Charlotte" e "Delphine". Colocamos chocolates dentro delas enquanto ouvíamos o CD pela terceira vez.

Após o jantar, tomamos banho e escovamos nossos dentes. Minhas bochechas estavam fatigadas por sorrir demais, e eu queria mais. Entretanto, já era tarde para a mocinha vestindo um pijama absurdamente colorido. Coloquei-a em minha cama e a fiz dormir sem a menor dificuldade. E então, voltei até a sala. Tão iluminada, tão feliz. De baixo da árvore havia o presente de Charlotte, o qual ela escolheu. Havia também o meu pacote, o qual ela, também, escolheu. Eram apenas dois, mas logo viraram três. Pousei a pequena caixinha que guardei em meu cofre antes de perder o bebê. Dentro dela havia dois anéis cobertos de diamantes e esperanças. Lembro-me do dia em que comprei as alianças de noivado. Cosima já havia partido para seu apartamento, então inventei uma reunião com a equipe como desculpa pelo meu atraso. Era uma quinta-feira à noite. Era uma noite feliz. Era um tempo diferente. Era um amor sem igual.

Servi-me uma dose generosa, sentei-me na poltrona próxima a janela iluminada e ascendi um cigarro regular desta vez. Ao som da última canção do bendito Bublé, admirei o interior de meu lar e o seu exterior também. A neve caía sem pausa ou misericórdia. Era lindo, era estranhamente lindo.

"It's Beginning To Look A Lot Like Christmas" deu o iniciativa para meus devaneios começarem: com nossas alianças em nosso dedos, com a mesa farta, com a alegria e as risadas de Charlotte, até mesmo com Michael Bublé dominando a trilha sonora. Cosima e eu passávamos um natal só nosso. Uma família fora dos padrões, mas uma família imensuravelmente feliz.

Gole e trago, trago e gole.

Estou delirando por imaginar algo assim?

Mesmo morrendo por dentro por saber que neste exato momento Cosima ri e dança com outra mulher, estou aqui imaginando como seria um futuro improvavelmente nosso. Estou aqui observando as luzes natalinas refletirem na pequena caixinha debaixo de minha árvore completamente decorada.

Contida em sonhos despertos, cheguei à conclusão do que nunca quis ou precisei.

E espero viver o dia no qual passarei o resto de minha vida ao lado Cosima e Charlotte.

Espero viver o dia no qual, enfim, serei feliz. Não por realmente ser, mas por sentir-me assim.

Um futuro esperançoso, quase tanto quanto eu.

Fim do capítulo


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