Special Affair
Pov- Cosima
O aroma misto de baunilha com lembranças despertou meu sono.
A claridade do sol ao final do outono agrediu meus sonhos.
Meus olhos abriram sem querer, e ao lado meu, avistaram um corpo despido e singelo. Corpo tão particular e delicioso. Os raios de luz penetrando as persianas definiram a brancura nos seios da mulher deitada bem ali. E como ela era linda.
Procurei por meus óculos, chequei o relógio. Estava tarde para preguiça e muito cedo para ir embora, mas mesmo assim, preferi deixar Delphine inserida em seus sonhos de cor azul.
Busquei por minhas roupas ao chão, vesti cada peça com rapidez e alcancei a porta sem olhar para trás. Em minha cabeça havia o alivio de ter Delphine em minha vida, mas também havia a culpa por ter deixado Robyn sozinha.
Em todo o caminho do elevador até meu carro, fui incapaz de esconder um sorriso satisfeito. Os flashes de uma noite saborosa e cheia de prazer com aquele misto necessário de amor, rebobinavam e avançavam em minha cabeça. Cada toque de Dr. Cormier me domina feito magia negra. É mais forte que Voodoo, familiar feito Déjà vu .
Ao chegar em casa, bolei um baseado quando reparei a ausência da bela Morena que prometeu me esperar.
Um bilhete com marca de batom e cheiro tentador.
"Te esperei o quanto deu hoje, mas não se preocupe, é só ligar que eu te atendo.
E amanhã você é minha. Seu aniversário é domingo, mas o presente vem no sábado.
Beijo."
Cara, onde acertei para ter alguém assim?
Robyn é uma mulher completamente fora da realidade. Bom, pelo menos da minha realidade, aqui dentro ainda há o peso de uma história ainda não terminada.
Cada trago do Cannabis trouxe uma sensação diferente. Entre meus dentes havia o doce da sativa e da saliva da mulher que amo. Em minha língua, o sabor de uma noite com alto teor alcoólico. Eu poderia ficar largada em meu sofá o dia inteiro, e se não fosse Felix entrando pela porta feito louco, eu provavelmente teria ficado ali até o cair da noite.
"Piranha!!!!!!!" Era muito cedo para tanta empolgação.
"Presente!" Resmunguei expulsando a fumaça de meus pulmões.
"Você não vai acreditar!" Exclamou animado, muito animado mesmo.
"Então me conta." Retruquei rabugenta.
"Bom, conheci um Boa Pinta em um museu, mostrei as fotos do meu último projeto e ele quer fazer uma exposição com meus quadros!" Informou de maneira ligeira entre pausas não existentes.
O sorriso tomou conta de minha face chapada.
"Migo!" Levantei rapidamente, "Parabéns, viado!"
Felix é bem mais alto do que eu, minha cabeça encaixava perfeitamente em seu rígido peitoral depilado.
"Eu ainda estou em choque!" Roubou o baseado de minha mão e tragou com total força.
"E agora? Como vai ser?" Questionei orgulhosa.
"Bom, volto para Rhode Island para preparar os quadros e pegar o resto das minhas coisas." Ele segurava o cigarro em sua mão direita enquanto a esquerda pousava em sua fina cintura.
"Você vai mudar pra cá?" Indaguei curiosa.
"Oh yeah, baby! Colin pediu para morarmos juntos." Ele não sabia qual novidade trazia mais felicidade, porém suspeito que a segunda foi a que o ganhou de vez.
"Quem diria, até vadias encontram amor." Brinquei de maneira íntima.
"Tá andando muito comigo, biscate." Retrucou levantando a sobrancelha.
"Pois é." Sorri por fim.
"E eu bem notei que a senhora não dormiu aqui ontem, mas mesmo assim vi Robyn saindo de madrugada." Exclamou, "Onde você estava?"
"Você fica me espionando?" Perguntei intrigada.
"Claro que não! Passei por ela no corredor quando cheguei no Scott." Clarificou, "Agora, onde você estava?"
Analisei seus olhos sem a menor vontade de explicar toda aquela confusão.
"Cara..."Sentei no sofá novamente, "Você não tem noção do drama que tá rolando."
"Drama? Querida, o drama e você são melhores amigos, é tipo um parasita. Então vai, pode desembuchar."
"Você acabou de usar ‘desembuchar'? Quantos anos você tem? 87?" Meus comentários eram minha escapatória, mas de nada adiantaram.
"Vai logo, Cosima!" Demandou impacientemente.
"Tá!" Levei o baseado até meus lábios, "Lembra que o irmão da Robyn queria me conhecer, né? Então, eles planejaram um jantar lá no restaurante dele. Tinha tudo para ser mais um evento monótono, ele iria me conhecer e Robyn iria conhecer a namorada dele."
"E o que aconteceu de tão dramático?" Questionou atentamente.
"Deixa eu terminar a caralha da estória, Fe." Bufei fortemente, "A namorada dele atrasou um pouco, então fomos beber no bar, e quando voltamos...Delphine Cormier estava lá."
"E o quê ela estava fazendo no seu jantarzinho?" Logo após perguntar, Felix tomou conta de toda confusão, "PORRA! DELPHINE TÁ PEGANDO O GOSTOSÃO?"
Eu odiei o "Gostosão".
"Sim, ela ESTAVA pegando o irmão da Robyn." Afirmei.
"Menina, preciso do baseado." Roubou o cigarro de minha mão novamente. "E aí?"
"Bom, resumindo, Delphine e eu tivemos uma breve discussão no banheiro, depois ela foi embora." Informei.
"E você foi atrás dela?" Felix sentou ao meu lado completamente chocado.
"Claro que não! Voltei pra cá com a Robyn, bebemos, quase trans*mos e depois eu fui até o apartamento da Delphine." Exclamei.
"Vocês passaram a noite juntas?" Perguntou.
"Sim!" Suspirei ao lembrar de tudo.
"E a Robyn?" Porr*, eu já não aguentava mais tanta curiosidade.
"Ficou aqui me esperando e depois foi embora. Entretanto, não terminamos nosso rolo, na verdade, falei com Delphine e vou dar uma chance para as duas. Ver se realmente vale sofrer por tanta confusão." Expliquei pausadamente.
"Você vai ficar com as duas então? É muita confiança, não acha?" Provocou.
"Não é bem assim. Delphine aceitou o acordo, só falta falar com a Robyn agora." Falar aquilo tudo em voz alta soou tão egocêntrico, mas não havia outra maneira de transparecer meus pensamentos, minha decisão.
"Delphine realmente aceitou te dividir com outra mulher? Tá bom! Ela é louca de ciúme, Cos. E por mais que eu queira acreditar nela, tenho quase certeza que isso vai, ou foder com ela ou com você." Felix mirou seus olhos nos meus, como alguém que teme o futuro.
"Cara, eu não sei como isso vai desenrolar, mas eu tô cansada demais, Fe." Desabafei após minha décima tragada.
"Olha, eu sei que a Robyn vai aceitar esse seu acordozinho de boa, porém é melhor ficar de olho na Delphine. Ela passou por tanta coisa negativa, talvez isso a afunde ainda mais na merd*." Clarificou em medo.
"Bom, vamos ver, né? Já falei pra ela, essa é a última chance para nós." Confessei antes de levantar do sofá.
"Cara, sua vida é realmente muito complicada, mas boa sorte." Fe me acompanhou e fez seu caminho até porta.
"Quando você volta?" Perguntei.
"Vou na segunda e volto na quinta." Respondeu prontamente, "Tenta não sentir muito minha falta."
"Nunca." Provoquei sorrindo.
Ao ficar sozinha novamente, decidi terminar o restante do baseado e ir tomar um banho, mas não sem antes colocar uma musiquinha.
A água morna caia em mim enquanto "Special Affair", por The Internet, trazia lembranças recém nascidas.
Era como voltar no tempo, sentir tudo de uma só vez.
O sabor de uma pele suave e lisa. O choque do toque carente. A dança saliente de línguas salivando. Delphine beijando meu corpo, sugando minha carne, mordendo meu ser e devorando minha alma. Cada marca de suas unhas agressivas, cada aperto de suas mãos violentas, me levam ao súbito delírio.
Antes que eu pudesse perceber, meu polegar e indicador já haviam chegado em meu íntimo. Rodando, dançando, indo e voltando, para cima e para baixo.
Lá estava eu, tocando a mim mesma ao relembrar de como é ter Delphine de volta. E em momento crucial, um momento só nosso, só meu...
Ouvi o escandaloso toque de meu celular sobre a pia. Na esperança de ser a "dita cuja", corri em desespero até o aparelho. Por ansiedade, não li o nome no visor, mas em culpa, reconheci a voz.
"Ei! Eu deveria esperar sua ligação, mas estou pertinho da sua casa. Pensei em te visitar." Era suave, era um tanto indesejada.
"Robyn! Oi!" Umedeci minha garganta antes de continuar, "Claro, pode vir."
"Ok! Chego em cinco minutos." A Morena encerrou a ligação e minha masturbação. Não necessariamente nessa ordem.
Sem terminar meu banho, vesti um shorts curto e um top.
Eu deveria estar feliz, aliás, a presença de Robyn sempre me deixa contente. Entretanto, eu sou Cosima, a porr* da indecisa Cosima.
Ao tocar da campainha, corri para atender.
"Nossa! Não sabia que era verão." A bela moça brincou.
"Pois é!" Ri desastrosamente, "Deixa eu tirar seu casaco."
Removi a peça de roupa e estudei as curvas daquele corpo.
"Trouxe um presentinho." Exclamou, "Vinho e maconha!"
Além de linda, Robyn sabia como ganhar meu coração.
"Opa! Gosto muito." Afirmei sorrindo.
Busquei por duas taças enquanto a Morena sentava no tapete para bolar nosso baseado.
Servi a bebida e logo me juntei a ela.
O clima estava um tanto esquisito. Era nítido que eu havia dormido com Delphine na noite passada, e eu não sabia como iniciar uma conversa qualquer.
"Ouvi que talvez neve hoje à noite." Cosima, você é um desperdício de espaço.
"Sabe, isso não precisa ser assim, Cos. Sei que vocês duas conversaram, talvez até tenham feito mais do que apenas conversar. E eu entendo se tiverem voltado, então fica tranquila." Prontificou alivio em mim.
"Quero ser honesta com você e quero que seja honesta comigo também. Conversei com Delphine, decidi dar mais uma chance a ela, mas não exclui a possibilidade de dar uma chance a você também." Eu estava prestes a surpreende-la ou faze-la correr.
"E o quê tem em mente?" Questionou otimista.
"Olha, eu quero tentar encontrar paz, cansei de amar sozinha, sabe? Eu a amo tanto, mas sei que Delphine é uma labilidade, e com você...Bom, com você eu me sinto segura." Engoli todo liquido em minha frente, "Super entendo se você não quiser tentar, sei que essa ideia parece suja, promíscua, mas é exatamente do que eu preciso."
Robyn não aparentou chocada ou alegre, nada! Ela apenas analisou minha angustia por alguns segundos.
Senti uma enorme vontade de me jogar pela janela.
Logo, um perfeito sorriso começou a invadir aquele rosto delicado.
"Cos, já te disse que ainda não estou pronta para terminar com o quê temos." Sua estrutura chegava cada vez mais perto da minha, "É óbvio que aceito suas condições."
Santa merd*, quase tive um ataque do coração.
Não pude responder ou respirar, não tive tempo, pois lábios sedentos beijavam os meus avassaladoramente.
Molhado, leve e com sabor de chocolate branco.
Calor, êxtase e tesão.
Um acordo selado por excitação sem hesitação.
A música rolou por um tempo enquanto nosso momento permanecia cada vez mais tentador. Quando o fim chegou, as garrafas magicamente esvaziaram, e no cinzeiro havia apenas cinzas frias.
Eu não fazia ideia do tempo lá fora, mas não fazia tanto frio dentro de mim. Senti o sol indo embora, o cinza do inverno espalhando e a vontade de cair ainda mais nos braços que me envolviam.
Beijos delicados cobriam meu pescoço enquanto meu pulmão expulsava a densa fumaça do último baseado. Mãos inteligentes tocavam minha pele com cautela, e as pontas dos dedos brincavam de amarelinha com pequenos pulinhos em direção ao céu.
"Eu poderia te tocar até cansar." Robyn sussurrou em meus ouvidos, "Mas sinto que fumamos demais para irmos além."
"Você tá bem?" Perguntei mirando nos seus olhos vermelhos.
"Fora a sede e a fome, tá tudo tranquilo." Sorriu envergonhada.
"Podemos pedir alguma coisa, depois assistimos um filme e terminamos isso aqui." Apalpei seu farto e perfeito seio esquerdo.
"Eu topo." Concordou antes de deitar no sofá.
Tonta e faminta, abri o aplicativo em meu celular e solicitei uma pizza para nós. Enquanto esperávamos, Robyn escolhia o filme que provavelmente não iriamos assistir até o final. Eu a observava em seu habitat natural. Suas pernas abertas, coluna torta e boca semiaberta em concentração. Separei os pratos e guardanapos, copos e chá gelado. Posicionei tudo à mesa ao centro da sala.
Em menos de uma hora já havíamos comido e assistido os créditos iniciais do filme.
Não é necessário dizer que duas mulheres cheias de tesão não puderam esperar para terminar uma trans* que tanto prometia.
Com minhas pernas em sua cintura, Robyn nos levou até a cama. Removi suas roupas com facilidade e agilidade, e sem o mínimo cuidado, lancei cada peça ao chão como se ele existisse somente para isso.
Não sei como, mas a música havia começado novamente, a mesma que antes, porém a batida seguia passos e toques particulares à nossa atmosfera.
Já não sou capaz de contar as vezes que me relacionei de maneira intima com mulheres. Já experimentei quase tudo, as nervosas, as gritantes, as mudas, as calmas, as passivas e ativas. Entretanto, após trans*r com Delphine, a marca de satisfação permaneceu intacta. Não sei se é o medo de gostar tanto quanto gostei com ela, mas talvez eu nunca estivesse no mesmo contexto com outras mulheres, porém, eu seria uma tola ao negar o imenso efeito que aqueles olhos verdes, boca suculenta e quadris dançantes causavam em mim.
Sobre seus joelhos, Robyn balançava no compasso, seus cabelos a acompanhavam e seus dentes feriam seu lábio inferior.
Eu seria uma tola ao negar os arrepios.
Eu seria uma tola ao negar a lubrificação.
Eu seria uma tola se dissesse não.
Busquei por seu corpo e o lancei para baixo de mim. Não havia escapatória, não havia como retroceder ou postergar.
Mordisquei seus mamilos, sugando todos os aromas que existiam em seus poros abertos.
E então desci...
Um pouco após o rígido abdomen...
Entre coxas e virilha, encontrei quem me queria.
Clitóris agitado, com tão pouco, enlouquecido. Área perigosa, de mão única e sem saída. Escorregadia quando molhada, mas deliciosa quando tocada.
Abocanhei sua vagin* feito viciado na larica. Degustei seu íntimo como se fosse doce natalino. Investi em seus gritos feito empresária falida, e por fim, adentrei seu núcleo feito arqueólogo de longa data.
Robyn gritou, não, Robyn esperneou.
Suas unhas arranhavam minhas costas enquanto seus pés e dedos se contorciam em agonia prazerosa. Penetrei mais fundo, porém com menos calma. Rodei pelo áspero acima, vibrando meu indicador e provocando com o meu médio.
Não sei se foi por querer demais ou pensar que jamais aquilo ela teria, porém Robyn sucumbiu aos meus toques e movimentos, enrijeceu-se por inteira, gozou e logo desmoronou.
"Mals..." Disse entre suspiros ofegantes, "Não consegui segurar."
Com a palma de minha mão, limpei meus lábios melados.
"Tá tudo bem, mas você fica me devendo mais." Sorri honestamente.
Porr*, eu realmente queria mais.
Mesmo parecendo tão errado...eu precisava de mais.
Robyn apoiou os braços em sua testa e os cruzou em exaustão.
Reconheci a música seguinte e eu sabia exatamente o quê ela faria comigo.
Uma viagem na imaginação ao som de "Fruit", por ABRA.
A Morena lançou sua definida estrutura sobre mim. Salivando em meu tórax e pescoço, saboreando em sua realidade, porém despertando minha fantasia.
Delphine só podia estar controlando meus sujos pensamentos.
Enquanto Robyn me tocava, mordia e beijava, Delphine me assistia com sua expressão mandona. Ela balançava a cabeça em negação, de braços contra o corpo apoiado à parede.
Língua dançante que percorria meus extremos e lugares obscenos. Lábios sedentos, equilíbrio falho em controle lento.
Lambidas úmidas em minha frágil carne exposta. Mente perdida procurando por respostas.
"Você está pensando em mim." Delphine afirmou ao aproximar-se da cama, "Ah! Cosima, você está pensando muito em mim."
Eu sabia que estava delirando, mas parecia tão real. Enquanto Robyn ingeria meu líquido, Delphine sussurrava em meu ouvido.
"Ela faz bem, mas não faz como eu." Provocou olhando em meus olhos.
"Sai daqui." Implorei silenciosamente.
"Não é isso o que você quer." Respondeu sarcasticamente.
Sua voz penetrava meu tímpano profundamente, até mais do que os dedos de Robyn penetravam meu interior.
"Você fecha seus olhos e pensa em mim, gem* por ela, mas quer gem*r por mim." Juro que pude sentir seu calor ao exterior de meu ouvido.
"Vai, rebole mais, grite mais, peça por mim. Eu sei que você quer isso." Eu odiava essa doente projeção de minha mente.
A Morena fazia um belo trabalho, era inegável, porém o que realmente me deixava excitada era o rouco da voz falando comigo.
"Falam que sou má, egoísta, abusiva, mas é você quem pede para voltar. Você finge não me amar, não ligar, mas sou eu quem você imagina ao trans*r." Seu rosto colou no meu, "Estou na sua cabeça, estou em você."
Seus lábios rondaram os meus, ameaçaram um beijo e efetivaram mordidas agressivamente tentadoras.
"Quer me beijar?" Questionou de maneira sedutora.
Movimentei minha cabeça em acordo.
"Então peça." Demandou.
Balancei minha cabeça em negação.
"Peça, Cosima. É só dizer que sim." PORRA, alguém precisa me internar.
Meu corpo era levado pelas manobras de Robyn. Cima, baixo, cima, baixo.
"Cosima...peça!" Seu rosto perfeito, seu sotaque assassino.
"Me beija." Sussurrei padecendo lentamente.
"Não, não..." Delphine me olhava visceralmente, "Mais alto."
PORRA!
SANTA MERDA DO CARALHO!
Limpei a garganta com saliva fria, "Me beija."
"Mais alto, Cos." Ela conseguia ser mandona até em meus pensamentos.
"Delphine, me beija logo, caralh*!" Gritei, mas será que o grito ultrapassou a barreira entre realidade e fantasia?
Espero que não, porém não, isso não importava, pois consegui o quê queria.
Delphine pousou seus lábios nos meus, invadindo minha boca com o refrescante de sua língua. Senti o sabor de cigarros mentolados, os quais Cormier fuma quando não quer mascar chiclete.
Tudo parecia tão real.
Nos beijávamos como antes, porém melhor.
Suas mãos tocavam minha face e apertavam minha nuca, pressionando nossos rostos um contra o outro.
Senti calor, senti a falta de pudor e, por fim, g*zei.
Com os gestos de Delphine e as lambidas de Robyn.
Sem vergonha ou dignidade.
G*zei como nunca havia feito antes.
E para piorar minha defesa perante ao júri, eu faria tudo de novo, pois nada pareceu errado dessa vez.
E como num maldito passe de mágica maligna, Delphine desapareceu após piscar em minha direção e sorrir como quem sabe de seus talentos.
FILHA DE UMA SANTA MÃE!
"Tudo bem?" A Morena perguntou entre minhas pernas bambas.
Suspirei fundo, "Tudo!"
Robyn alcançou meu superior, posicionou seus braços para neles me envolver.
Sem conversar, rir ou pedir por mais, ela adormeceu.
O quarto estava quase tão escuro quanto a noite lá fora. A Morena dormia em paz, mas meus olhos não desviavam da sombra fantasmagórica que sentava de pernas abertas em minha poltrona. A figura vestia camisa aberta para mostrar seus pequenos seios, e o fantasma fumava e bebia sem parar. Era possível ouvir o gelo batendo dentro do copo de whisky, era possível assistir a fumaça sair de seu corpo e ser abduzida pela pequena abertura na janela. O aroma mentolado daquele cigarro sem fim, contaminou os quatro cantos daquele quarto amaldiçoado.
Estava escuro, mas sou capaz de reconhecer a mulher que amo em qualquer circunstância.
***
Não lembro de ter dormido, não lembro quando fechei meus olhos para valer, entretanto, recordo de todos os promíscuos sonhos que tive.
Robyn ainda dormia ao meu lado, mas ao seu lado era o último lugar que eu queria estar. Então levantei cautelosamente, ouvi a playlist que ainda rolava aleatoriamente. Caminhei desastrosamente até o banheiro, onde escovei meus dentes e me entreguei ao gelado da água que caia em meu corpo rodeado pelos vidros do box.
Devo ter demorado uns dez minutos lá dentro, foram duas músicas e meia. Ao sair, embrulhei meu corpo com a toalha e andei até a cozinha. Tudo parecia estar igual, porém, havia um pequeno bolo de aniversário sobre o balcão. Ele parecia ter sido feito em casa, com cobertura um tanto exagerada e sem velas para serem acessas. Em pasta de cor vermelha e rosa, havia algo cuidadosamente escrito no topo, "Joyeux Anniversaire".
Não é necessário ser tão inteligente para entender quem havia deixado aquele bolo em minha cozinha.
Porr*, Delphine!
Em desespero mal pensado, corri de toalha até o corredor. Avistei uma mulher vestida exatamente como o fantasma da noite anterior. Ela caminhava cabisbaixa como se tivessem lhe tirado algo de grande importância.
"Hey! Espera!" Gritei exageradamente alto.
A mulher parou de caminhar, relaxou os músculos do ombro e virou-se lentamente. Seu rosto avermelhado demostrava a tênue linha entre o ódio e o desconsolo.
"Bom dia." Gesticulou baixo.
"Chega mais perto." Solicitei franzindo as sobrancelhas.
Ela obedeceu e andou amedrontada em minha direção como se o chão fosse desabar.
"Obrigada pelo bolo." Agradeci mirando em seus olhos que insistiam em se esconderem.
"Não foi nada." Suspirou, "Parabéns."
"Olha pra mim." Busquei por seu queixo com minhas mãos.
Delphine sugou seus lábios formando um risco ao invés de um sorriso.
"Você que fez o bolo?" Questionei com ar recreativo.
"Sim." Respondeu sacudindo a cabeça.
"Uau! Muito obrigada." Eu tinha certeza que ela havia visto Robyn e sua nudez na cama que um dia foi nossa.
"Bom, e-eu tenho que ir." Gaguejou embaraçada.
"Delphine, me desculpe." Eu era incapaz de pensar em outra coisa para falar.
"Não há o porquê, a casa é sua, foi eu quem invadi. Eu deveria ter ligado antes ou qualquer outra coisa. Eu deveria saber que você não estaria sozinha." Confessou em voz falha e tremula, quase tão tremula quanto suas estruturas desestruturadas.
"Você tá brava?" Perguntei temendo a resposta.
"Não." Engoliu sua saliva a seco, "Eu aceitei suas condições, só preciso me esforçar para me acostumar com elas."
Meus olhos não queriam abandonar os dela.
Meu corpo, ainda molhado, pedia pelo dela.
"Ah! Tome suas chaves de volta." Estendeu os braços em minha direção, "Eu deveria ter as entregado quando me mudei."
"Pode ficar." Retruquei implorando em silêncio.
"Cosima, fique com elas..." Sacodiu o molho barulhento em suas mãos, "Por favor."
"Tudo bem, mas quando precisar...é só pedir." Informei ao recebe-las.
Um suspiro pouco aliviado, um olhar desolado, um sorriso apagado e um caminhar atormentado por tudo aquilo que ela permitiu-se perder.
Não houve despedida clara, apenas um "Se cuida.".
E eu a observei partir, novamente, sumir.
Feito o fantasma da noite anterior, feito a bela professora, a exigente chefe e a vulcânica amante, Delphine foi desaparecendo diante de meus olhos, levando meu sossego e incriminando minhas ações não tão culposas assim.
Sei que ela volta, uma hora ou outra, ela sempre volta. O problema em questão é o fato de que naquele momento, dentro daqueles segundos turbulentos, entendi que não há como me livrar da maldição e benção que é amar Delphine Cormier. E se eu pudesse escolher entre desconhece-la ou tê-la? O quê eu faria?
Não é óbvio, Cosima?
Mesmo se Delphine Cormier nunca tivesse cruzado caminhos com você, mesmo se vocês fossem nascidas em séculos diferentes, em planetas divergentes, em formas jamais contingentes. Cosima, você se apaixonaria por ela mesmo assim, e ela te amaria loucamente como se sua vida dependesse de tal sentimento.
Não é como um segredo que você decide guardar. Não é uma crônica negada em páginas amassadas. Não é uma estória que alguém escolheu não contar. Delphine Cormier foi feita, designada e pensada para te fazer amar.
Adentrei meu apartamento novamente, porém não tão contente.
Outra música, outro lembrete.
"I Can't Make You Love Me", por Bon Iver.
Vestindo meu lençol, olhando em meus olhos como quem entendeu as entrelinhas, Robyn encontrava-se apoiada ao batente da porta inexistente do outro lado da sala.
"I'll close my eyes,
No, I won't see
The love you don't feel,
When you're holding me
Morning will come,
And I'll do what's right
Just give me till then
To give up this fight
And I will give up this fight..."
Lembro quando me senti desta mesma mísera forma, no dia em quê Delphine me deixou. E sem perceber, estou fazendo a mesma coisa com a bela Morena em minha frente.
"I found love darlin'
Love in the nick of time
I found love darlin' yeah,
Love in the nick of time. "
E se você pudesse escolher entre desconhecer alguém ou permitir-se entender as condições que a vida impõe? O quê você faria? O quê escolheria?
Dúvida perigosa, decisão fatal com consequência crucial para o escolhido fina
Fim do capítulo
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