Capítulo 11
A ENFERMEIRA!
Dois dias depois Iara teve alta do hospital e levou consigo a filha, Constance e uma infinidade de recomendações do Doutor Giane. A única que dispensava recomendações era Beatriz, que a cada dia ficava mais esperta e gorduchinha! Constance, que no período em que ficara no hospital havia sido submetida à fisioterapia intensiva, deveria continuar com o tratamento sem cessar. A perna apresentava uma melhora considerável, andava cada dia menos claudicante e a bengala era usada mais para lhe dar segurança que propriamente apoio.
Jordi voltou para ficar de vez! Seu romance com Carlo estava tomando um rumo bem sério e ele decidiu que ficaria alguns dias na Vinícola, mas depois tentaria se estabelecer em Siena, onde Carlo morava e tinha seu escritório. Pensava em continuar trabalhando na sua área, marketing, mas não sabia como entrar no mercado de trabalho. Até que Constance propôs contratá-lo para fazer um trabalho direcionado ao mercado sul americano para divulgação e distribuição dos vinhos e espumantes produzidos pela Vinícola. Teria que viajar bastante, mas sua casa seria a Toscana, bem pertinho daqueles que amava.
Com a chegada de Beatriz, a casa e a vida de Constance pareciam ter sido iluminadas por aquele pequeno anjo de luz. Sua vida encheu-se de alegria e trouxe uma energia que a fez ressuscitar a Constance de antes do acidente! Ela retomou hábitos há muito deixados de lado, como cavalgar por suas terras acompanhando o plantio e a produção dos vinhos, interou-se novamente nos negócios e voltou a estudar novas espécies de vinhas!
O ar parecia ter ocupado novamente os seus pulmões! O coração batia outra vez…forte…feliz!
As mudanças na aparência e no comportamento dela eram não só evidentes, mas também contagiantes! Tudo passou a funcionar melhor tanto na parte produtiva da Vinícola, como na rotina da casa principal! Todos haviam sido contaminados por aquela boa vibração trazida por um ser que nada sabia, que sequer entendia existir…o anjo Beatriz!
À contragosto de Iara, que ainda estava debilitada, Constance contratou uma enfermeira para ajudá-la nos cuidados com a filha. Apesar das reclamações, acabou perdendo diante dos fortes argumentos e do poder de convencimento dela…
– Iara, você ainda precisa de cuidados! Seu parto foi muito difícil e quase a perdemos! Por favor, não seja teimosa, aceite ajuda! Uma criança tão novinha carece de cuidados especiais e a enfermeira só vai estar aqui para te ajudar e não tirar a Bia de nós!
Constance dizia tudo com um sorriso no rosto, como se falasse com uma criança birrenta!
Iara estava emburrada dando o peito à filha, mas no fundo adorava todo aquele cuidado e, para não perder a pose, falou com altivez…
– Mas eu só vou aceitar essa tal de enfermeira até me restabelecer completamente! Não preciso de ninguém pajeando a mim e a minha filha, a não ser você, Jordi e Emma!
E por fim sorriu aceitando a vontade de Constance.
Após quatro dias que haviam chegado do hospital, finalmente Constance encontra a profissional que procurava. A enfermeira foi cuidadosamente selecionada dentre três profissionais indicadas pelo Dr. Giane. Por fim decidiu por uma que era solteira e sem filhos, pois precisava de alguém que estivesse disponível o tempo que fosse necessário. O salário era bem acima da média para aquele tipo de serviço e a mulher ficou extremamente feliz quando Constance a chamou e firmou o contrato por três meses…
– Giovanna, você foi muito bem recomendada pelo Dr. Giane, suas qualificações são bem satisfatórias e você parece ter bastante experiência com crianças recém nascidas.
– Sim, Senhora. Eu trabalhei por dez anos em uma maternidade e unidade neonatal. Decidi sair para trabalhar por conta própria por questões pessoais, me sinto mais feliz profissionalmente estando sempre em lugares diferentes e atendendo famílias que precisem de mim por um tempo específico. Não pretendo mais me fixar a nenhuma clínica ou hospital.
Giovanna era uma mulher bastante interessante. Loira, alta, cabelos médios em um corte Chanel clássico, corpo longilíneo, olhos claros, pouco mais de 30 anos e um ar sedutor. Não era exatamente a imagem de uma enfermeira tradicional, parecia com aquelas fantasias masculinas das enfermeiras sedutoras! Mas Constance não via desse jeito, sequer havia notado beleza na mulher à sua frente. Estava com o currículo dela nas mãos e o achou muito bom, o melhor dos três e o fato de não ter marido e filhos que cobrassem seu tempo e sua atenção era um ponto a favor dela.
– Bem, na verdade a mãe da criança também precisa de alguns cuidados, mas ela acha que não precisa mais, então terá que ser paciente e atenciosa! Ela também pensa que pode cuidar da filha sozinha, mas como o estado de saúde dela ainda inspira cuidados, sabemos que ela precisa de ajuda e por isso você está aqui!
A mulher queria muito aquele emprego! Sabia da história de Constance, do acidente, dos problemas que a acometiam vez ou outra, da sua homossexu*l*idade e todos esses fatores eram por demais interessantes para ela!
Com um sorriso meigo falou demonstrando bastante animação com a nova função...
- Fique tranqüila, Senhora Constance, tenho experiência com pessoas arredias e adoro crianças! Acho que farei um ótimo trabalho em sua casa!
Distraída, Constance não percebia os olhares insinuantes da mulher...
- Então acho que estamos combinadas! A Senhorita pode começar quando?
- Imediatamente!
- Que ótimo! Então venha comigo que vou apresentá-la à Iara e a nossa princesinha!
Iara estava em seu quarto com Beatriz no colo a fazendo arrotar. Já sentia vontade de sair do quarto, de se movimentar, mas o corte ainda não estava completamente sarado e o corpo ainda exigia cuidados. Sua anemia havia piorado depois da hemorragia sofrida e não podia fazer muito esforço sob risco de sentir os efeitos de uma hora para outra.
Pensava em como sua vida tinha dado uma guinada. Havia saído do egocentrismo absoluto, do individualismo sem remorsos, para uma vida cheia de afetos que jamais pensara um dia sentir e, menos ainda, receber!
Ter a filha em seus braços, cuidar dela, olhar para aqueles olhinhos que a buscavam cheios de reconhecimento, saber que seria responsável por aquele ser por muitos anos e que não se sentiria mais só no mundo como sempre fora, fazia sua alma encher-se de um amor sem medidas! Sentia uma alegria infinita em amar incondicionalmente e saber que também seria amada assim!
Beatriz havia enchido não só sua vida, mas também a de todos naquela casa de um amor sem precedentes, pelo menos para ela e Constance! Sentia que ela também tinha um amor como o de mãe pela irmã! Costumava passar a manhã trabalhando na Vinícola, mas na hora do almoço voltava para casa e só saia se algo excepcional acontecesse. Constance parecia querer estar perto delas todo o tempo que tivesse disponível. Sabia que voltar a trabalhar era importante para sua vida e sua auto estima, mas não queria perder nada da rotina e do desenvolvimento de Beatriz.
Além disso, Constance e Iara desenvolveram uma convivência extremamente harmoniosa, sentiam-se muito bem ao lado uma da outra! Passavam a tarde conversando e lambendo a cria, faziam todas as refeições juntas e, até mesmo no silêncio, apreciavam estar perto. Não precisavam estar falando, bastavam sentir a presença uma da outra para estarem bem! Apesar de terem personalidades distintas, pareciam se completar em suas diferenças: a impulsividade diante da ponderação, a ansiedade diante da calmaria, a altivez diante da simplicidade, o individualismo diante da generosidade, a carência diante da doação!
Iara sentia que Constance era seu contraponto em todos os sentimentos negativos que pudesse ter! Ela definitivamente trazia paz não só ao seu dia, mas ao seu coração!
Porém essa paz de vez em quando era perturbada por emoções novas e estranhas que sua enteada provocava nela. Já se pegara por várias vezes desejando tocar Constance de forma diferente...lasciva! Vontade de tocar a pela clara e suave, sentir o cheiro natural dela, levemente almiscarado, emaranhar suas mãos no meio daquela cascata cor de avelã que eram os cabelos sedosos dela. E a boca...aí, aquela boca que tirava seu sono e que por infinitas vezes já imaginara beijar!
“Não...não...não!!! Tenho que tirar esses pensamentos de mim! Droga...não deveria pensar nela desse jeito! É a irmã da minha filha! Ela não me olha assim, jamais se interessaria por mim! Acho que nunca vai se interessar por quem quer que seja, a tal da Camille levou o coração de Constance com ela!”
Ainda lutava com seus pensamentos quando a porta do quarto se abre e Constance entra acompanhada de uma mulher loira e alta vestida com um jaleco branco até quase os joelhos. A mulher ficou parada atrás de Constance olhando atentamente para Iara. Com seu jeito sempre calmo e a voz suave, Constance fez as apresentações...
- Iara, esta é Giovanna, a enfermeira que contratei para te ajudar a cuidar do nosso anjinho e no que mais você precisar! Ela é muito bem qualificada e Dr. Giane a recomendou com louvor!
Com um belo sorriso e olhar atento, Giovanna falou tentando ser agradável...
- Muito prazer, Senhora Gomide! Estarei ao seu dispor para o que for preciso! Quero lhe informar que tenho muita experiência com bebês e gosto muito do que faço, por isso vai ser um prazer cuidar da Senhora e de sua filhinha. Posso ver a pequena Beatriz?!
Um tanto esquiva e seca, Iara responde...
- Ela acabou de mamar e está arrotando...daqui a pouco vai dormir...é bom não agitá-la...vá resolver os detalhes com Constance e depois te direi como quero que trabalhe!
E olhando com ar impaciente para Constance falou...
- Depois que terminar com ela, preciso falar contigo...a sós!
Frisou bem a última palavra.
Constance já a conhecia muito bem para notar que não estava gostando nem um pouco da idéia da enfermeira, mas achava que era necessário, pelo menos nos primeiros três meses de vida de Beatriz! E quando queria, Constance sabia ser convincente e teimosa também!
Fez um gesto de afirmação com a cabeça e saiu do quarto conduzindo Giovanna pelo ombro, o que não passou despercebido por Iara!
Algo no jeito e no olhar de Giovanna não combinava com a idéia da enfermeira altruísta!
Constance mostrou onde a enfermeira dormiria, em um aposento improvisado na saleta junto ao quarto de Beatriz, que por sua vez ficava ao lado do quarto de Iara e em frente ao dela. Colocou a enfermeira a par dos horários da casa e da rotina básica de cada uma delas. Combinaram uma folga por semana, que poderia ser domingo ou segunda-feira, e Constance decidiu tranqüilizar a mulher diante da forma seca com que Iara a havia recebido...
- Bem, foi como eu te disse antes...eu tive que convencê-la a aceitar a ajuda de uma enfermeira, ela está um pouco arredia ainda, mas logo se acostuma com você, e quando ela baixar a guarda, verá o quanto é especial!
Giovanna notou o tom mais carinhoso que o normal na voz de sua interlocutora. Isso a preocupou, mas disfarçou bem.
- Pode deixar, Dona Constance, eu saberei lidar com ela!
- Por favor, jamais entre em confronto com ela! Terei que dispensar seus serviços caso isso aconteça! Qualquer problema que venha a surgir, me comunique que saberei como falar com Iara!
- Está bem!
- Vou deixá-la para que arrume suas coisas! Pode descansar até a hora do jantar. Peço para Emma vir chamá-la mais tarde.
- Obrigada. Acho que vou gostar muito daqui!
Constance se retirou e Giovanna pensou...
“Desde que essa Brasileira não me atrapalhe!”
Giovanna havia saído do hospital em que trabalhara por 10 anos por causa do seu envolvimento com a diretora da unidade. Era inegavelmente uma ótima profissional, mas tinha ambições acima da média para sua vida financeira. Quando percebeu que o caso de mais de dois anos jamais passaria daquilo, ela pressionou a diretora para que pelo menos desse a ela uma posição de destaque no hospital, afinal essa era sua intenção desde que começaram o romance. A mulher não concordou e sem pestanejar, Giovanna partiu para tentar realizar suas ambições de outra forma. Sabia que com sua qualificação conseguiria facilmente trabalhar com as famílias mais ricas da região e isso acabaria por trazer um dia a oportunidade que esperava para se dar bem.
E esse momento poderia estar surgindo agora, ali na Vinícola da família Gomide, a mais importante e rica de Montalcino e adjacências.
Todos na Vila conheciam a triste história de Constance, assim como sabiam que ela nunca havia se relacionado com homens, exatamente como Giovanna, que viu ali naquele emprego a oportunidade de ouro para tentar conquistar aquela mulher sofrida, carente e muitíssimo rica, que cultivava sua solidão desde a morte da amada! Pensava...
“Se consigo conquistar essa mulher, nunca mais vou ter que limpar xixi e coco de criança nenhuma, nem aturar essas mães chatas que me torram a paciência com suas reclamações! Com o dinheiro que ela tem, vou ter a vida que sempre sonhei! E para melhorar, ela ainda é bem bonitinha, o que não será sacrifício algum, pelo contrário, acho que vou adorar seduzir a viuvinha desconsolada! Só espero que a madrasta não resolva atrapalhar a minha vida por aqui! Vou ter que ser bem cautelosa para não estragar tudo!”
Beatriz já dormia no berço quando Constance entra no quarto de Iara. Esta a olha com ar de poucos amigos e começa a falar demonstrando irritação...
- Você acha mesmo que vou deixar Beatriz aos cuidados dessa mulher?
Sem entender, Constance retruca...
- Ué e porque não?! O que há de errado com ela?!
- Ora, Constance...ela parece que saiu das páginas da playboy direto pra cá! Você tem certeza da qualificação dessa sujeita? Será que Dr. Giane não a recomendou porque está caidinho por ela?
Constance balançou a cabeça e riu do comentário que para ela parecia totalmente surreal...
- Meu Deus Iara, você não sabe nada da vida do Dr. Giane! Ele é completamente apaixonado pela esposa ainda, mesmo depois de mais de 30 anos juntos! Ele não faz o tipo safado que fica arrumando emprego pras amantes! Se ele a recomendou é porque de fato ela é qualificada! Acho que a aparência dela é muito boa e não vi nada demais com isso! Se ela é bonita, bom pra ela né?! Que diferença faz ter uma enfermeira bonita ou feia? Aposto como Bia nem vai notar isso!
Iara ficou ainda mais irritada - ”Ela achou a enfermeira bonita!”
- Eu só acho que ela pode ter outras intenções aqui dentro, não gostei do jeito dela! Tem olhar de ave de rapina, como se estivesse à espreita, querendo algo ou alguém!
- Alguém? Não entendi! Isso aqui é uma casa de mulheres, quem ela poderia querer?
Definitivamente Constance era totalmente desligada de tudo, principalmente que ainda era uma mulher atraente e extremamente rica, o que poderia atrair muita gente de olho nisso!
- E você por acaso sabe qual é o “bichinho” da preferência dela?
- Hein?!
Impaciente Iara explica...
- Em que time ela joga...que banda ela toca...
- Do que você tá falando, Iara?!
- Tá bom, Conca, deixa isso pra lá! É viagem da minha cabeça! É que não suporto a idéia de ter uma estranha entre a gente! Tava tão bom aqui só nós...eu, você, Bia, Emma, Jordi...pra quê essa mulher aqui?!
Constance se aproxima de Iara e pegando em sua mão diz carinhosamente...
- Porque você ainda tem que recuperar suas forças, tem que estar forte para amamentar nosso anjinho, não pode fazer muito esforço e nos próximos meses vai perder muito peso devido a amamentação! Então admita que essa ajuda vai ser boa! Pelo menos experimente! Eu a contratei por 3 meses, mas se antes disso não se adaptar com ela, eu juro que podemos substituí-la quando quiser, tá bem?!
O calor das mãos de Constance nas suas não a deixava raciocinar direito! Além disso a voz dela era como um bálsamo entrando em seus ouvidos e relaxando seu corpo! Perdia seu poder de argumentação diante dessas sensações todas!
Foi subindo o olhar das suas mãos para os braços alvos, os ombros delicados, o pescoço elegante, a boca rosada, o nariz reto e parou fixamente nos olhos de mar pré-tempestade!
Com a voz rouca falou...
- Acho que ninguém consegue dizer não pra você, Conca! Pode ter o que quiser de quem quer que seja!
Sentiu um leve tremor vindo de Constance e ela imediatamente puxou as mãos para se livrar do contato tão próximo! Deu alguns passos para trás se afastando e baixou os olhos como se estivesse encabulada! O gesto deixou Iara desconcertada mais uma vez e tentou disfarçar o mal estar soltando um suspiro de resignação ao comentar...
- Tá bom, prometo não implicar mais com sua enfermeira, vamos dar uma chance a ela e ver como se comporta nessa casa! Vamos aproveitar que Bia dormiu e pedir que Emma nos traga um chá?
Constance aceitou a sugestão e esqueceu o desconforto que a acometia em algumas ocasiões em que sentia Iara a olhar de forma diferente e intensa demais!
Não podia alimentar um pensamento como esse, então simplesmente não permitia que ele se instalasse em sua mente!
E mais uma vez tiveram uma tarde agradável de risos e conversa amena!
Um pouco antes de descer para o jantar, Jordi vai ao quarto de Iara e entra já comentando...
- O que é essa enfermeira hein?!
- Nem me fale! Você viu o tipinho dela?! Essa aí não me engana, Jordi...sinto cheiro de piranha a quilômetros!!!
- E a Constance aceitou na boa?!
- Ela não se tocou do tipo da fulana! Ela foi recomendada pelo Dr. Giane e parece que as qualificações são ótimas! Mas ela pode ser o Papa da enfermagem que não vai deixar de ter cara e jeito de piranha! Ela olhou pra mim com cara de sonsa e pra Constance com olhos de Predadora! Saquei logo a dela, quer apostar como vai se chegar na Constance como quem não quer nada até dar o bote?!
- Que isso, Iara...você acha mesmo que a mulher teria coragem pra dar em cima dela?!
- Posso apostar contigo que não só teria como veio pra cá com essa intenção!
- Mas você a viu por alguns minutos, como pode desconfiar de uma coisa dessas?
Iara solta um longo suspiro de impaciência e responde...
- Esqueceu o que eu fui? Uma puta reconhece a outra quase que instantaneamente e se ela for esperta como eu penso que é, também percebeu que não sou nenhuma tonta.
- Ah, mas vai ver que ela tá só querendo fazer o trabalho dela na boa. Dê um crédito pra mulher e nada de se precipitar nos seus julgamentos viu?! Já erraste muito com isso!
- Ta bom, mas vou ficar de olho nela, e você também! Não seja tão crente com certas pessoas. Nem todo mundo é Constance! Gente assim é a exceção e não a regra, Jordi!
Jordi percebeu que o tom de Iara havia ficado mais baixo e carinhoso ao falar no nome de Constance. Ele já havia percebido há muito tempo que a amiga estava se envolvendo com a enteada de uma forma jamais imaginada por ninguém, menos ainda por ela mesma!
Diversas vezes havia observado o modo como Iara olhava Constance quando sabia que ela estava distraída: o rubor que preenchia sua face quando era flagrada por Constance em algumas dessas horas; a tristeza que percebia se formar nos olhos da amiga quando a enteada se afastava e ficava esquiva; a alegria incontida quando ela se aproximava e a tratava afetuosamente; a forma como se referia a ela cheia de ternura na entonação da voz; o ciúme que percebia quando alguém mencionava Camille e, até mesmo agora, com a nova Enfermeira!
Sabia que estava acontecendo com Iara aquilo que ele sempre desejou que acontecesse, só não esperava que fosse numa situação como aquela e logo por alguém que não parecia corresponder aos sentimentos dela! Constance era um amor de pessoa, mas era assim com todos! Até havia percebido um carinho a mais com Iara, mas provavelmente por causa do tempo que passavam juntas e por ser ela a mãe de sua irmã. Não queria ver a amiga iludida com algo improvável!
- Amore, já faz algum tempo que queria conversar contigo sobre umas coisinhas que tenho percebido no ar...
Iara ficou alerta! Conhecia o amigo e pareceu antever o que viria a seguir...
- Tá falando de que?
- Do que você está sentindo por Constance!
Iara gelou! De certa forma esperava que Jordi um dia abordasse esse assunto. Ele a conhecia como ninguém e deve ter percebido algo, mas mesmo assim sentiu um choque ao ser confrontada! Não sabia o que dizer...tentou ganhar tempo...
- Como assim o que estou sentindo por Constance? Eu gosto dela, ela me trata super bem, a minha filha também, o que eu poderia sentir por ela que não fosse um enorme carinho?!
- Paixão! Amor!
Iara escovava os cabelos em frente ao enorme espelho do seu quarto. Virou-se imediatamente para o amigo com ar de indignação...
- Ta louco, Jordi!!! Não repita isso nem brincando!!!
- Porque amiga?! Desculpe, mas ta mais do que na cara sua paixão por ela! Você já quase não consegue mais disfarçar e...
- Cala essa boca, seu maluco!!! Se alguém ouve um absurdo desses é provável que Constance nos queira fora dessa casa, já pensou nisso?!
Iara falava baixo, assustada! Jordi balançou a cabeça constatando o óbvio aos seus olhos...
- Ela não nos colocaria pra fora dessa casa, ainda mais por causa desse motivo. Mas eu entendo seu medo de que ela descubra algo. Infelizmente eu também acho que ela não permitiria esse tipo de sentimento entre vocês.
Iara intrigou-se. Sabia a resposta, mas queria ouvir a opinião do amigo...
- E porque não?
- Porque ela carrega uma culpa que não a permite viver esse tipo de emoção! Amiga, ela pode até voltar a se envolver com alguém, mas acho difícil ela se permitir viver esse amor pelo simples fato dela achar que não merece! Ela sente uma culpa atroz pela morte do seu grande amor, então ela não vai se achar digna e merecedora de um novo amor pra vida dela. Ela vai querer se punir sempre, não vai aceitar ser feliz e nem fazer ninguém feliz, entende?!
Jordi dizia exatamente tudo o que Iara sabia ser verdade, era como um ventríloquo de seus pensamentos...e tudo aquilo doía demais nela! Ele, então, arrematou...
- Não quero que justamente na primeira vez em que você se apaixona por alguém, venha sofrer a rejeição desse amor! Eu posso parecer cruel em te dizer isso agora, Iara, mas não alimente esse sentimento pela Conca! Ela não vai te corresponder e se por acaso vier a sentir algo por você, ela vai fugir desse sentimento, ela vai te rejeitar! Não quero que você sofra!
Iara abaixou a cabeça e sem querer a lágrima que prendia escorreu pelo nariz e morreu no mármore do chão! Jordi a abraçou com força tentando aplacar a angústia que via estampada naquela face e disse acolhedor...
- Eu vou estar aqui com você para o que precisar! Eu sei que tudo isso será muito difícil, inclusive fugir de um sentimento tão intenso! Não sei se vai conseguir, mas pelo menos tente! Tente sublimar, tente abstrair, tente mudar o olhar, o modo como a vê! Você sabe tão bem quanto eu que mesmo que ela sinta algo não vai aceitar, vai fugir! Já vi ela fazer isso com pequenos gestos seus de carinho, imagine se souber o que você de fato sente?!
Iara não conseguiu mais conter o pranto e desabou nos braços do amigo! Seu desespero era angustiante...
- É isso que chamam de Amor, Jordi?! Essa dor sufocante?! Esse desespero em saber que não vou tê-la pra mim, que ela nunca vai me querer, que nunca vai me amar como amou Camille?! É isso? Se é, eu odeio sentir! Eu odeio amar assim! Eu não quero isso em mim...não quero! Me ajuda, Jordi...por favor, me ajuda!!!
Agarrava-se aos ombros do amigo como se dessa forma pudesse expurgar aquela dor, aquele sentimento que havia negado tanto, mas que assaltava sua alma por completo!
Jordi também chorou! Sabia que muito sofrimento ainda viria pela frente! Iara já a amava e esse caminho era sem volta, pelo menos por um bom tempo!
- Vou estar aqui, meu amor! Sempre que precisar me chame, vou estar aqui pra chorar com você! Não sei se vou conseguir te fazer mudar o que sente por ela, mas pelo menos você vai poder dividir comigo suas dores!
Segura o rosto de Iara e olha firme nos seus olhos chorosos...
- Você sabe que ninguém torcia mais do que eu para que você um dia se apaixonasse de verdade, mas jamais imaginei que pudesse acontecer dessa forma, justo por alguém que não vai corresponder ao que sente! Vai precisar ser forte e sublimar esse amor! Por você e por Beatriz, até o dia que ele se transformar em outro tipo de amor! Quem sabe você não encontra alguém que te tire dessa confusão toda?! Quando menos esperar um novo amor pode acontecer, amiga! Não se entregue! Não é de sua personalidade se entregar...FORÇA!
Enxugando as lágrimas, Iara aquiesceu com a cabeça, aceitando as palavras do amigo. Com a voz embargada disse...
- Eu sei que vou sofrer estar perto dela e não poder viver essa paixão fisicamente, mas eu juro que vou tentar mudar o que sinto! Ela não pode saber sobre como me sinto, Jordi...NUNCA! Eu não suportaria se ela se afastasse por causa disso! Posso amargar essa paixão platônica o resto da minha vida, mas não posso viver longe dela! Eu não sabia o que era ser feliz até conviver com ela, ser cuidada por ela! Eu me sinto tão bem, não posso me afastar! Eu prefiro amá-la em silêncio a ficar infeliz o resto da minha vida sem ela!
- Eu te entendo! E vou te ajudar no que for preciso! Tenho certeza que um dia irá encontrar alguém para amar completamente e que te ame também, minha querida!
Iara abaixou os olhos e respondeu com a triste certeza que seu coração gritava...
- É ela! Se ela nunca me quiser não haverá outro alguém! Posso até me relacionar com outras pessoas sexu*l*mente, mas não amarei ninguém mais! Isso é fato!
- Como eu queria poder fazer algo! Não arrancar esse sentimento de você que é tão precioso, mas fazer Constance enxergar e aceitar esse amor! Mas não se iluda, ela parece ter enterrado junto com Camille sua capacidade de amar dessa forma!
Iara respirou fundo, levantou-se e foi ao banheiro lavar o rosto. Voltou refeita e pronta para descer, com o olhar altivo e seguro falou como a convencer a si mesma de suas palavras...
- Ela não vai saber o que sinto! Vou tentar fazer o que disse, sublimar, transformar esse amor em outro tipo! Teremos bastante tempo pra isso, vou ficar aqui por pelo menos dois anos. Até lá muita coisa pode acontecer, até mesmo encontrar alguém interessante para dividir minha cama!
- Isso amiga! É assim que se fala! Confiança e tudo vai dar certo! Você vai superar isso e vou estar aqui pra te ajudar!
Num fio de voz Iara concluiu...
- Só não sei o que vai ser de mim se não conseguir...
Quando Jordi e Iara chegaram à sala de jantar Emma, Gigio, Constance e a nova enfermeira já estavam acomodados apenas esperando por eles.
Giovanna estava sentada ao lado de Constance no lugar que Emma costumava ocupar. Iara sentava sempre de frente para Constance e não gostou nem um pouco de ver aquela estranha ao lado dela tão próxima, lhe falando algo, baixinho, em confidência!
Não conseguiu evitar o longo suspiro de desagrado que saiu de suas narinas e boca. O ar estava pesado e Emma percebendo a tensão começou a servir a todos tagarelando sobre as novidades da Vinícola e como Beatriz estava cada dia mais esperta.
Todos conversavam animadamente sobre diversos assuntos, menos Iara que estava longe, com seus pensamentos, suas angústias e se recolheu a um silêncio sepulcral. A única coisa que desviou seu olhar foi a mão da enfermeira tocar o braço de Constance ao comentar algo, com uma intimidade que não havia entre elas.
Percebeu, então, que da mesma forma que já a vira se esquivar, Constance retirou o braço e rompeu o contato com a mulher, mas não ficou sem graça como costumava ficar com Iara, ela apenas afastou o braço disfarçadamente como se fosse pegar algo e depois continuou a conversa como se nada tivesse acontecido!
Iara adorou o gesto e pensou...
“Se essa vagaba veio pra cá pensando em conquistar Constance vai se dar mal! Ela não me quer, mas também não quer ninguém! Vou ficar de olho, mas acho que nem vou precisar me esforçar, Conca vai botar ela pra correr daqui quando perceber qual é a dela, senão eu mesma boto!”
E trocou um olhar cúmplice com Jordi que tinha notado toda a cena.
Estavam tomando licor na varanda quando ouvem a babá eletrônica dar sinal de que Beatriz acordara. Iara levantou para atender a filha e Giovanna foi atrás para começar seu trabalho, mas foi interrompida rispidamente...
- Não precisa vir comigo, ela quer mamar e isso você não vai poder dar pra ela!
- Mas dona Iara eu queria começar a ter contato com a sua filha e...
- Ela agora vai mamar e voltar a dormir! Amanhã você começa seu trabalho e te mostro o que fazer. Hoje não vou precisar de você!
E subiu as escadas terminando a conversa. Constance fez um gesto para que a enfermeira não insistisse e falou complacente...
- Hoje é seu primeiro dia, como disse antes, você tem que ser paciente e não entrar em confronto com ela! Aos poucos ela irá aceitar sua ajuda, apenas deixe as coisas se acomodarem!
- Sim Senhora! Eu só queria ajudar!
E olhando para Constance demonstrando cortesia falou...
- Eu sei que fui contratada para cuidar de sua irmã e da mãe dela, mas sei que a Senhora também precisa de cuidados por conta do grave acidente que teve. Por isso, quando quiser minha ajuda, se sentir mal, precisar de auxilio com os exercícios da sua perna, eu estarei totalmente ao seu dispor!
- Obrigada, mas pode se concentrar nelas, eu já tenho um fisioterapeuta que vem dia sim dia não e estou progredindo bastante! Vou iniciar a psicoterapia e não descuido dos remédios, portanto, elas que precisam de cuidados!
Educada como sempre Constance finalizou a conversa se despedindo de todos...
- Vou subir pra ficar com elas mais um pouco, boa noite a todos!
Quando entrou no quarto de Beatriz, Iara estava com ela nos braços amamentando. Sempre que dava o peito à filha Iara cobria os seios com um pano, porém dessa vez havia esquecido! A blusa que usava era num modelo que a obrigava a desnudar os dois seios para dar de mamar. Ao entrar no quarto, Constance deparou-se com os seios descobertos da mulher e instintivamente baixou os olhos ao chão!
Seu desconforto foi tão grande que tinha começado a articular algumas palavras ao entrar no quarto, que acabaram morrendo em sua boca diante da visão de Iara com os seios à mostra!
Não entendia o porquê do susto! Inúmeras vezes tinha visto Iara completamente nua antes de Beatriz nascer! Ajudava-a tomar banho, a se vestir, a se despir...não tinha sentido aquela vergonha agora! Mas o embaraço com a cena era evidente e não conseguia evitar!
Completamente sem graça e gaguejando tentou dizer algo...
- Des..culpe! Não sabia que estava...estava...
Percebendo a reação da mulher e como estava encabulada, Iara falou tentando aparentar naturalidade...
- Pode entrar, Conca...pegue aquela toalha que está no banheiro pra mim, por favor!
Constance com a cabeça baixa e os olhos grudados no chão foi até o banheiro e trouxe a toalha pedida. Iara cobriu os seios e falou com certa impaciência...
- Pode olhar agora! Não vou mais usar essa blusa enquanto estiver amamentando, tenho quase que ficar nua para dar o peito a Bia!
Sorrindo sem graça Constance disse...
- Lembra que combinamos de ver um filme depois que Bia dormir? Quando ela acabar de mamar, eu faço ela arrotar e dormir enquanto você escolhe o filme. Se não tiver nenhum bom DVD, procure no canal pago, deve ter algo pra gente ver!
Feliz Iara aquiesceu com a cabeça. Cada vez que Constance demonstrava querer passar algum tempo ao lado dela, seu coração enchia-se de um conforto ímpar! Era uma sensação de bem estar acolhedora, plena! E todos os seus medos pareciam se diluir naquela alegria que se instalava em seu interior!
- Tá bom...você prefere que tipo de filme? Comédia...romance...suspense...aventura?
- Comédia acho que vai cair bem, nada melhor que rir para acalmar os ânimos!
Desconfiada Iara pergunta...
- Porque diz isso? Que ânimos estão exaltados?
- Os seus com Giovanna! Ela só está aqui pra ajudar e não pra te deixar chateada!
Taxativa Iara disse...
- Não gosto dela! Tem algo que não bate, que não se encaixa! Mas deixa pra lá! Só quero que se lembre do que me disse, se eu não conseguir me adaptar a ela, você a dispensa ok?!
- Ok! Só te peço que tenha boa vontade com ela e não seja implicante à toa só para que eu a dispense! Não quero ser injusta!
- Não será! Se te faz bem, prometo deixar que ela me ajude com Bia.
- Que bom! Me faz bem sim, ficarei mais tranqüila! Quero que você se recupere logo!
- Eu já me sinto bem! Só um pouco fraca de vez em quando, mas logo vou estar 100% outra vez!
- É isso que eu quero!
Beatriz olhava atentamente para a mãe e para a tia, desviava os olhinhos de uma para a outra como a se perguntar qual delas era a mais importante na sua vida. Afagando os cabelos finos e cheios da irmã, Constance fala cheia de orgulho...
- Parece que cada hora que olho pra ela eu a vejo maior! Ela é tão linda!
- Sim...ela é a mistura de nós duas! Tem traços meus, mas acho que é mais parecida contigo! Seu jeito de olhar...vivo reconhecendo suas expressões no rostinho dela!
- Acha mesmo?!
- Sim! Quer ver só uma coisa?
Iara retira o bico do seio da boca da filha e segundos depois Bia franze o cenho fazendo cara de desagrado e puxa a mama de volta pra boca.
- Viu só?! É a mesma cara quando você não gosta de algo! Faz essa linha aqui entre os olhos, um biquinho invocado, exatamente igual a você!
Sorrindo muito Constance rebate...
- Eu não faço biquinhos invocados! Como você sabe se raramente me irrito?!
- Sim raramente, mas quando está impaciente faz essa mesma carinha! Parece que já te conheço uma vida inteira, Conca!
O sorriso esmoreceu no rosto de Constance dando lugar a uma face ruborizada, estava sem jeito novamente!
Como adivinhando, Beatriz termina de mamar e se volta para a irmã olhando-a atentamente, parecia pedir colo, mas era ainda tão novinha pra isso! Constance a pega e começa seu ritual de todos os dias, mas Bia parecia não querer dormir tão rápido como das noites anteriores! Estava alerta e os olhos buscavam os da mãe e da irmã como a pedir ambas ali junto dela.
Ficaram por mais de meia hora brincando com a pequena até que ela cansou e finalmente adormeceu. Quando estavam saindo do quarto para ir para a sala de TV esbarram com Giovanna entrando na saleta contígua ao quarto da criança.
Constance fala baixinho...
- Ela já dormiu! Acho que agora não acorda tão cedo! Mas se acordar pode cuidar dela, estaremos na sala de TV. Boa noite!
- Boa noite!
Giovanna deu um falso sorriso para Iara.
Havia percebido de imediato a antipatia da mulher por ela e queria descobrir exatamente porque! Percebera durante o jantar os olhares de desagrado de Iara por ela estar sentada ao lado de Constance. Ainda não sabia que tipo de sentimento era o dela, podia ser medo de ter seu posto de rainha da casa ameaçado, ou pior, uma paixão reprimida pela enteada! Mas ela descobriria e tentaria usar isso em seu benefício de alguma forma!
Um mês passou voando!
A nova rotina da casa era toda voltada em atenção ao novo membro daquela família...Beatriz! Iara decidira não entrar em confronto com a enfermeira, a fim de agradar Constance, que por sua vez se empenhava em manter Iara ocupada toda vez que Giovanna cuidava de Bia, para que elas não se estranhassem!
Constance passou a fazer psicoterapia e duas vezes por semana se deslocava até Montalcino para as sessões com um terapeuta de meia idade muito experiente na área de traumas. Desde o acidente ela não dirigia, mas adquiriu uma pequena scooter para percorrer os 15 km que separavam sua Vinícola da Vila.
Passou a observar com rigor os horários de sua medicação e a fisioterapia era sagrada, dia sim dia não, com uma profissional muito competente também indicada pelo Dr. Giane.
Cada dia mais sabia que era preciso recuperar-se, sentir-se novamente viva e bem para poder ser para Beatriz tudo o que seu pai não fora para ela! A irmã trouxera a alegria de volta para aquela casa e principalmente para sua vida!
E mesmo sem querer admitir, sabia que toda aquela energia não vinha somente da pequena Beatriz! Iara também era responsável por sua vitalidade, por sentir-se tão bem e feliz!
Com a morte de Camille achou que sua vida havia terminado com a dela! Mas bastou um olhar para a barriga de Iara e para seus olhos negros tão confusos, naquele dia em que a vira pela primeira vez, que sabia estar diante de algo que afetaria sua vida de forma definitiva! Só não fazia idéia, naquela época, que seria de maneira tão positiva!
Queria se convencer que era apenas Beatriz, mas sabia que Iara influenciava sua vontade de voltar a ser a Constance de antes muito mais do que admitia conscientemente.
Adorava ter sua atenção, ouvir suas histórias, o modo como amava incondicionalmente Bia e Jordi. Achava graça do seu modo de falar as coisas impulsivamente, do seu jeito engraçado de ser mal humorada, do seu humor ácido e irônico, da sua inteligência e perspicácia, do modo como olhava pra ela! Era sem dúvida uma mulher especial e com um histórico que a fazia merecer ser feliz!
E sabendo disso, Constance tinha plena consciência de que jamais deveria alimentar qualquer tipo de sentimento em Iara que não fosse o fraternal! Já havia notado a forma como Iara tentava prolongar certos toques, o modo como a pegava olhando languidamente em sua direção, a vergonha que se estampava em seu rosto quando era pega num desses atos falhos! Por várias vezes havia sido acometida de “flashes” da época em que estava catatônica e vinha à sua mente cenas de Iara acarinhando seu rosto, dizendo que a adorava!
Nessas horas ficava muito confusa, com sentimentos estranhos tentando invadi-la, mas imediatamente rechaçava cada pensamento inoportuno que tivesse!
Uma coisa era certa, não amaria de novo como amou Camille, e Iara não merecia menos que alguém que estivesse inteira para ela!
Iara era a mãe de sua irmã, a viúva de seu pai e não se permitiria jamais a leviandade de alimentar desejos que não deveriam vir à tona, que não deveriam existir!
Admitia pra si mesma que adorava cada momento que passava ao lado dela! Não era somente Beatriz fazendo parte de sua vida que enchia seu coração de alegria, era também a presença de Iara que tornava tudo mais cheio de cores...mais vibrante...mais vivo!!!
Mas não permitiria que esse sentimento de bem-estar desviasse para algo que não podia mais oferecer a ninguém...amor de mulher!
Constance era extremamente observadora. Por conta do seu jeito quieto e afável, as pessoas não imaginavam o quanto ela captava no ar certas coisas e, apesar de não querer dar o braço a torcer para Iara, a enfermeira também a intrigava!
Giovanna estava sempre espreitando seus movimentos, ficava atenta a cada ato seu e quando menos esperava, lá estava ela próxima demais como uma cobra se esgueirando para abocanhar sua vítima!
Ela sempre encontrava uma forma de tocar em seu braço quando falava ou retirar uma mecha de cabelos dos seus olhos e isso a incomodava bastante!
Não era a mesma sensação que tinha com Iara, se esquivava dela porque sabia ser preciso, mas no íntimo adorava sua proximidade!
Já com a enfermeira era um incômodo que beirava ao asco! Apesar de ser uma mulher bonita, Giovanna tinha algo em seu olhar que a fazia querer afastar-se de imediato! Era uma repulsa sem lógica, vinda somente do instinto, mas era assim que sentia!
Não dispensava logo seus serviços porque sabia o quanto ela era competente como profissional e Bia e Iara ainda precisavam de cuidados especiais. Porém, tinha dias que desejava que ela sumisse da sua frente, com aqueles olhares devoradores! Tinha que concordar com Iara, havia algo de falso nela! Estava atenta!
Numa manhã, Constance já havia saído para o trabalho na produção, Iara e Jordi conversavam na varanda após o café da manhã e a enfermeira estava no quarto com Beatriz trocando suas fraldas.
Jordi fala animado...
- Essa oportunidade que Constance me deu não tem igual, amiga! Vou ter que viajar para Buenos Aires semana que vem, mas estou tão feliz com esse trabalho...é um desafio! Agora o melhor você não sabe...
- O que é?
- Carlo vai poder ir comigo! Vai ser a nossa lua de mel! Desde que me mudei para casa dele ainda não tivemos muito tempo juntos...ele trabalha demais...eu também! Essa vai ser uma viagem maravilhosa! Estou tão feliz!
Percebendo a expressão de desânimo de Iara, ele pergunta...
- O que foi? Porque essa carinha desanimada?
A expressão da mulher se transformou de desanimada para irritada quando falou...
- É essa vadia fantasiada de enfermeira! Não a suporto pela casa! Tento ser paciente só pra fazer a vontade de Constance, mas por mim ela já estava na rua há muito tempo!
- Calma, amore, não vai ser só por 3 meses?! Então, já se passou mais de um mês que ela tá aqui, logo ela vai ser dispensada e estar longe!
Com um suspiro extremamente irritado, Iara comenta...
- Você tem que ver, Jordi, ela vive atrás da Constance pela casa, nos jardins. Arruma sempre um jeito de falar com ela, de estar perto dela, de tocar nela...isso me deixa puta da cara!
- É...eu já reparei nisso! Mas seja paciente, não vá perder a razão com essa mulher!
- Eu não a suporto! Meu único consolo é que Constance se esquiva dela pior ainda do que faz comigo! Tem que ver, ela não consegue esconder a cara de desagrado quando a mulher se aproxima demais ou fica de conversa mole. Quando a toca então, franze o cenho e faz aquele bico que nem a Beatriz quando está irritada! Nessas horas fico morrendo de vontade de rir na cara daquela vaca!
Ambos caíram na risada e nem perceberam que Giovanna se aproximava com Bia no colo. A enfermeira ao ver que conversavam, parou atrás da porta da varanda esperando escutar algo que a interessasse, sem ser notada.
Eles conversavam em italiano, já estavam acostumados a falar somente naquele idioma pela casa e isso facilitou a vida de quem os bisbilhotava.
Iara continuou...
- Não consigo ver Constance irritada a ponto de gritar e enxotar alguém daqui, mas se essa mulher continuar insistindo em dar em cima dela, vou acabar me embolando com ela nessa casa e enchendo aquela cara cínica de murros! Vou escorraçar essa piranha daqui!
Afetadamente Jordi retruca...
- Ai Bi, você teria coragem de fazer uma baixaria dessas?
- Esqueceu de como eu te defendia com unhas e dentes naquele orfanato?
- Mas nunca te vi se embolando com ninguém pelo chão, tinha sempre alguém pra te defender!
- Mas já peitei muito garoto folgado e muita vadia abusada que tentava dar em cima dos “Paizinhos”!
- Ai meu Deus! Esse seu lado de moleque de rua me assusta!
- Ter sido órfã e puta tinha que me servir de alguma coisa não é?!
Aquela frase estalou nos ouvidos de Giovanna como a melhor das melodias! Pensou animada...
“Eu sabia! Essa Brasileira foi prostituta e deve ter sido dessa forma que conheceu o pai de Constance! Por isso que ela implicou comigo desde o começo! Se sentiu ameaçada no seu reinado! Mas não é só você que pode se aproveitar dessa grana toda, putana, eu também posso ter a minha parte! Agora que sei quem você é de verdade, tente se meter no meu caminho, vou tirar sua máscara na primeira oportunidade!”
Dias depois, Iara desceu para o café da manhã e não encontrou Constance, sempre faziam todas as refeições juntas! Estranhou o fato!
Sentou-se e chamou por Emma que chega à sala com o semblante carregado! Notando o fato, Iara pergunta preocupada...
- O que houve Emma? Onde está Constance?
- No quarto e acho que não irá sair de lá hoje!
Iara se levanta e pergunta apavorada...
- Não me diga que ela ficou catatônica outra vez?!
Acalmando-a Emma responde com inflexão de extrema tristeza na voz...
- Não, minha querida, não é isso! Hoje faz três anos que aconteceu o acidente! Três anos que nossa Camille se foi!
Iara sentiu um aperto no peito, um vácuo em seu estômago, um mal estar súbito!
Voltou a sentar-se tentando acalmar a agitação que aquela notícia provocava em seu organismo! Procurava definir o que sentia: pesar pela moça morta, tristeza por Constance ou ciúmes de Constance?!
Saber que ela ainda sofria daquela forma, fazia os sentimentos de Iara se agitarem num turbilhão de emoções, em sua grande parte nada boas e o ciúme era a mais latente!
Iara comenta quase que pra si mesma...
- Por isso ela estava tão cabisbaixa ontem! Ela não quis passear comigo pelos campos e nem ver o filme que escolhi depois do jantar. Ficou o dia inteiro com Bia no colo enquanto ela estava acordada e até dispensou aquele abutre com uniforme de enfermeira que fica secando ela por onde vai!
- Sim, eu sabia o porquê da tristeza dela, mas não quis comentar nada com esperanças de que ela passasse por esse dia melhor que das outras vezes, pelo menos por causa de Beatriz, mas quando vi que ela não desceu para o café, fui até o quarto dela e a encontrei como sempre...arrasada...desolada...sem querer falar com ninguém!
- Será que ela corre o risco de ficar catatônica outra vez? O médico disse que sempre que ela passa por algum estresse nervoso isso pode desencadear a crise!
- Acho que isso não vai acontecer! Tem dois meses que ela teve a última crise e nunca aconteceu de levar menos que quatro meses entre uma crise e outra! Mas hoje aposto como ninguém arranca Conca daquele quarto! É o dia dela chorar sua dor sozinha! Por isso te peço que vá vê-la, mas não force sua presença se ela pedir para ficar sozinha, esse é um momento só dela!
De repente percebeu que Giovanna chegara à sala sem que tivessem notado, trazia Bia no carrinho e perguntou com ar de preocupação...
- Aconteceu alguma coisa com Dona Constance?
Extremamente irritada com aquela cobra sonsa, Iara rebateu...
- Nada que te interesse e seja da sua conta! Você está proibida de se aproximar de Constance hoje, ouviu bem?! Fique longe dela! Ainda bem que seus dias estão contados nesta casa!
Giovanna apertou os olhos como se tivesse vontade de esbofetear Iara, mas segurou seu ímpeto - ”se reagisse, com certeza aquela vagabunda atrapalharia seus planos!” – Pensou!
Tentou saber mais de Emma, que explicou a situação de forma seca e sucinta. Também não gostava da moça!
Enquanto isso, Iara subia para o quarto de Constance.
Parou diante da porta e ficou pensando o que diria pra ela, não fazia idéia, só queria estar com ela para tentar amenizar sua dor! Deu leves batidas na porta, não houve resposta!
Chamou por Constance e nada dela atender, decidiu ignorar os avisos de Emma e abriu a porta do quarto devagar...
Não estava pronta para o que viu!
Constance estava no chão com dezenas de fotos dela e de Camille espalhadas por todo lado. Nas mãos uma camisola que levava ao rosto para aspirar enquanto chorava convulsivamente de olhos fechados!
Não notou a presença de Iara!
Dizia palavras desconexas e, quando pensava que o pranto começava a cessar, ele surgia novamente com mais força ainda! Começou a olhar detidamente uma foto em que aparecia o belo rosto de Camille sorrindo apaixonadamente para ela! Tocou suavemente com a ponta dos dedos cada milímetro da foto, como se fizesse uma carícia no rosto da mulher que sorria. Nesse instante Iara apurou a audição e conseguiu entender o que ela sussurrava em meio às lágrimas...
- Meu amor...meu grande amor! Sinto tanto sua falta! Porque eu não fui com você? Eu que deveria estar no seu lugar! Você quis dirigir, lembra? Mas, eu peguei as chaves da sua mão! Era pra ter sido eu a ir embora, meu amor, eu que deveria ter morrido e não você!
Constance parecia estar em transe e não percebia nada à sua volta que não fossem suas lembranças daquele dia fatídico, a culpa que a perseguia e do rosto alegre e bonito de Camille! Não viu Iara parada junto à porta do quarto captando todo aquele sofrimento como se fosse em sua própria carne!
Ver Constance no auge de sua dor provocava nela um sofrimento inenarrável! O ciúme que a acompanhara até aquele momento, havia sumido e dado lugar a uma vontade imensa de poder arrancar aquela dor de dentro da mulher que amava!
Sim, lutava tanto em admitir aquele sentimento, mas ali diante da angústia infinita de Constance, o que mais desejava era que houvesse uma mágica que pudesse transferir todo o sofrimento dela para o seu coração! A mesquinharia do ciúme desvaneceu frente à grandiosidade do que sentia, um amor imenso e profundo que a fazia desejar estar no lugar da amada somente para não ver mais tanta mágoa...tanta culpa...tanta dor em seus olhos!!!
De repente se sentiu uma intrusa ali naquele quarto! Apesar da imensa vontade de abraçar Constance e colocá-la em seu colo até que cessasse aquele choro, sabia que o que ela mais queria e precisava era estar só com seus fantasmas! Qualquer outra pessoa seria demais! Era um momento que pertencia apenas a ela e ninguém tinha o direito de se interpor em suas lembranças! Decidiu se retirar antes que ela desse conta de sua presença!
O dia transcorria de forma sombria, estava nublado e parecia ter absorvido a alma lúgubre das reminiscências de Constance. Ela não saiu do quarto nem aceitou comer. Iara também passou a maior parte do tempo em seu quarto e só saiu para alimentar Beatriz.
Por sua vez, Giovanna já a par de toda a história, não via a hora de anoitecer logo para ir até o quarto de Constance confortá-la. Passara o dia planejando a forma como a abordaria, sabia que tinha que ser cautelosa, mas não perderia a chance de se aproximar dela no momento em que ela estava mais frágil e carente! Pensava que com certeza aqueles dois fatores estariam ao seu favor quando oferecesse seu ombro para a patroa chorar!
Era final de tarde e o cinza escuro já começava a dar lugar ao azul marinho da noite. Beatriz dormia depois da última mamada e Iara estava fechada em seu quarto. Giovanna achou que era o momento certo para dar seu tão esperado bote! Em sua cabeça, tinha certeza que Constance não resistiria às suas investidas! Sabia o quanto era bonita, envolvente e a mulher estava totalmente fragilizada com saudades do seu amor morto! Era o momento certo, assim pensava!
Colocou um vestido simples, mas de decote bem generoso, que deixava à mostra muito mais que o belo colo e a curva sensual dos seios fartos! Soltou os cabelos deixando-os esvoaçantes, borrifou gotas do seu perfume mais sexy e preparou-se para o ataque!
Chegaria meiga, sorrateira, como quem quer apenas ajudá-la a esquecer e quando visse, ela já estaria em seus braços! Já tinha agido dessa forma outras vezes e nunca havia perdido uma conquista sequer! Via ali a oportunidade perfeita para envolver a patroa em sua rede e agarra-la de vez!
Iara estava deitada em sua cama quando ouve gritos e vozes vindos do quarto de Constance! Levantou-se de supetão assustada e correu para ver o que acontecia!
Ao abrir a porta do quarto dela ainda pode ver aquela enfermeira nojenta com as mãos sobre o corpo da enteada tentando beijá-la! Constance empurrava a enfermeira com cara de asco e furiosa gritava para que ela saísse de seu quarto!
Uma nuvem negra tomou conta da razão e dos sentidos de Iara, quando deu por si, estava sentada em cima de Giovanna socando seu rosto e a xingando de todos os nomes imundos que conhecia! Só voltou a ter noção do que fazia quando sentiu as mãos fortes de Gigio arrancando-a de cima da mulher! Sem se conter continuou bradando sua ira...
- Sua vagabunda!!! Eu sabia que estava aqui só para dar o bote nela! Eu tinha certeza disso! Suma daqui! Vá embora dessa casa agora!!!
Com a boca sangrando e um tanto cambaleante a mulher se ergueu e tentou não perder a pose, tinha que tentar até o fim! Ignorando Iara, falou com a voz chorosa para Constance...
- Estou apaixonada pela Senhora, Dona Constance! Desculpe, eu tentei evitar esse sentimento, mas foi mais forte do que eu! Eu só quis ajudá-la quando a vi sofrendo tanto e...
- Putaaa...saia daqui!!!
Iara estava descontrolada! Ver aquela mulher tentando beijar sua Conca era o cúmulo do abuso! Queria quebrar todos os dentes daquela boca desgraçada!!!
Emma amparava Constance que estava com marcas de batom por todo o rosto, também não gostava da tal enfermeira e decidiu intervir...
- Acho que é melhor fazer o que Iara diz...pegue suas coisas e vá embora dessa casa! Não podia fazer isso com Constance! Você a desrespeitou de todas as formas e num dia tão horrível para a vida dela! Vá embora!
Num ato de desespero por ver que seus planos estavam dando completamente errado, Giovanna insiste...
- Eu não fiz por mal...desculpe Dona Constance...foi só o impulso da paixão que sinto! Não consegui mais me controlar nem esconder esse amor, eu a amo! Me deixe ficar!
Completamente fora de si ao ouvir aquelas palavras, Iara só não avançou novamente para bater na mulher porque Gigio a segurava com firmeza! Gritou descontrolada...
- Mentirosa! Você é uma cínica! Uma piranha dissimulada! Está aqui para tentar dar o golpe do baú em Constance, mas ela não vai cair na sua conversa tosca! Ela jamais se envolveria com alguém asquerosa como você...suma daqui!!!
Então Giovanna despiu-se da capa de apaixonada incompreendida e voltou-se para Iara sorrindo cinicamente...
- Acha que todos são como você? A prostituta profissional que deu o golpe do baú aqui foi você e não eu! Não me julgue pelos seus atos! Você posa de madame, de rainha dessa casa, mas no fundo não passa de uma puta brasileira que ludibriou o pai dela e a todos apenas por ser mãe dessa criança aí! Você que não presta! Ela não te quer e nunca vai querer, ouviu bem?! Se eu não sou digna dela, você é menos ainda! Eu nunca precisei vender meu corpo para conseguir uns trocados, sou uma profissional reconhecida e sempre me sustentei do meu trabalho e não dormindo com qualquer um por dinheiro...sua prostit...
Mas antes que pudesse concluir suas ofensas, foi bruscamente interrompida pela voz áspera e indignada de Constance...
- Cale essa boca! Quem pensa que é pra falar assim dela?! Nem que passe duzentos anos você conseguirá ser uma parte sequer do que essa mulher é! Ela é honesta, sincera, muito mais digna do que você jamais será! Nunca vi traição ou dissimulação nos olhos dela, seu coração é bom, limpo, puro e ela sabe amar sem pedir nada em troca, mas pessoas como você não sabem o que é isso! Pegue suas coisas imediatamente e suma daqui! Ninguém precisa mais dos seus serviços...vá embora agora!!!
Iara estava paralisada pela surpresa que aquelas palavras lhe causavam! Os demais, estáticos por não esperarem aquele tipo de reação em Constance!
Mas a enfermeira não desistia facilmente e resolveu dar sua última cartada...
- Acredite em mim...eu a amo, Dona Constance! Não jogue fora um sentimento como esse, só eu posso fazê-la esquecer sua falecida mulher!
Ao ouvir aquelas palavras os olhos de Constance se encheram de uma fúria jamais imaginada por ninguém que assistia a cena! Ela desvencilhou-se de Emma e avançou para a mulher segurando seus punhos com uma ira incontida! Grunhiu entredentes como se quisesse estrangular aquela pessoa...
- Nunca haverá ninguém no lugar de Camille! Ela será sempre única em minha vida! Não existe mulher que vá ocupar seu lugar dentro de mim! Nuncaaaaaa!!! Ouviu bem?!
E soltando-a bruscamente fez com que a enfermeira se estatelasse no chão! Gritou como nunca tinha feito antes com alguém...
- Desapareça!!! Nunca mais passe nem perto dessas terras ou vai se arrepender amargamente do dia em que pisou nessa casa!!!
Então se afastou e virou as costas olhando pela janela...
- Agora saiam todos! Quero ficar sozinha! Não ousem entrar novamente no meu quarto! Não quero ver mais ninguém hoje!
A enfermeira já havia sumido das vistas de todos para sair dali o mais rápido que pudesse! O jeito era passar pra outra, deu tudo errado dessa vez!
Emma e Gigio puxaram Iara pelo braço e fecharam a porta deixando Constance sozinha como ela pedira. Emma falou para Gigio...
- Vá até o quarto de Beatriz e não saia de lá até essa mulher ir embora daqui de vez. Chame um dos colonos e diga para deixá-la em Siena. Não quero desculpas para que ela fique nem mais um minuto nessa casa!
- Deixa comigo que despacho ela pra bem longe!
Iara estava em choque com tudo o que havia acontecido! Em poucos minutos uma tsunami de emoções divergentes a atingiram de uma só vez! Indignação e ciúmes ao ver aquela mulher em cima de Constance, raiva por vê-la tentar enganar com seu falso amor, alegria pelas palavras de Constance defendendo seu caráter e uma enorme decepção ao ouvir suas palavras finais!
O recado havia sido dado e Iara o compreendeu muito bem!
Não havia mais o que ser questionado nem discutido! Ou aceitava os fatos ou desistia daquela convivência! A escolha era sua porque a de Constance já havia sido feita no dia em que o seu funeral saiu junto com o de Camille!
Fim do capítulo
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brunafinzicontini
Em: 02/01/2018
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