LUZ por Marcya Peres
Capítulo 16
À FLOR DA PELE...
A semana passou mais rápido que Ana imaginara. O tempo dedicado exclusivamente a si mesma e ao filho fez muito bem a sua alma e ela parecia estar bem mais leve depois da confissão feita à irmã. Mais ainda em ter a compreensão de alguém que amava, isso dava forças a Ana para pensar melhor e tentar encontrar o caminho, senão menos doloroso, pelo menos o mais acertado para sua vida.
A volta da irmã no meio da semana, trouxe ainda mais alento para Ana. Era bem mais fácil ter com quem conversar sobre tudo o que se passou, sem medos, sem amarras. E fez, então, de sua irmã sua grande confidente. Passavam horas conversando enquanto Flavinho brincava e Alice ficou bastante curiosa em conhecer Lívia. Decidiu que em breve visitaria a pequena cidade natal, não somente para ver os Pais e os irmãos, bem como para conhecer a pessoa que abalara tanto as estruturas de sua irmã.
Alice aproveitou o tempo bom que fazia e decidiu passar dois dias com a irmã e o sobrinho no litoral em São Vicente. Foi uma idéia muito boa para que os três pudessem se aproximar e dividir juntos momentos únicos em família. Há muito tempo Ana não tinha instantes tão especiais com a irmã e o filho e aqueles dias ficariam para sempre em sua mente e em seu coração.
No Sábado Ana despediu-se da irmã e voltou ao flat onde estava o marido. Eles ainda teriam que ir a Campos do Jordão para que Ana retirasse o imobilizador e deixasse a cadeira de rodas alugada de vez. A sensação de se ver livre daquele desconforto era há muito tempo aguardada e não via a hora de estar sem o peso de mais uma limitação física.
Passaram pela mesma estrada que leva a Santo Antonio do Pinhal em direção a Campos do Jordão. Ana sabia que estavam próximos ao Monte onde havia a pousada com o chalé que serviu de cenário para os dias de Paixão. Podia sentir o cheiro das flores, da mata em volta, ouvir os sons daquela pequena montanha, respirar o ar fresco. Sentiu o peito doer de saudade e segurou-se para não deixar transparecer o tremor que tomou conta de seu corpo quando pensou em Lívia e nos momentos que viveram juntas naquele local.
Alberto a levou até o hospital e Ana foi logo atendida pelo mesmo médico que a socorrera no dia do tombo. Ela foi examinada atentamente e posta para dar voltas, apoiada ao marido, a fim de saber se o pé ainda doía muito:
- Como a Sra. se sente Dra. Ana? Ainda dói muito?
- Não! Dói um pouco, mas é algo que posso agüentar. Acho que com o tempo vou ficar completamente boa.
- Tenho certeza disso, mas a Sra. irá precisar de um pouco de fisioterapia. Caso contrário, essas dores podem demorar a desaparecer ou tornarem-se uma constante, e não queremos isso não é mesmo?! Foi uma torção e em certos casos, elas são mais chatas de curar que uma fratura. Portanto, vou encaminhá-la à fisioterapia para no mínimo 20 sessões e espero que a Sra. seja obediente e não fuja disso. Acredite em mim, sem dúvida será muito melhor perder tempo com a fisioterapia que sofrer sempre.
Ana sabia que o médico tinha razão, já passara por isso antes e sabia que o melhor era o que ele recomendava.:
- Pode deixar Doutor, não vou deixar de fazer a fisioterapia não. Serei bem obediente.
Despediram-se amistosamente e Alberto falou:
- Vamos dormir aqui na cidade hoje, amanhã voltamos para casa. Segunda-feira começa tudo de novo, ou você ainda pretende prolongar essas férias?
Ana tinha um certo desânimo na voz:
- Não, não pretendo prolongar essas férias e acho que já está tarde mesmo, podemos voltar amanhã sim.
- Então me diga em que hotel você ficou da última vez? Podemos ir pra lá, afinal você gostou tanto da viagem!
Ana sentiu um enorme desconforto com o comentário de Alberto e falou secamente:
- Eu gostei da viagem sim, Alberto! Mas o hotel que fiquei da última vez foi de improviso, longe daqui. Não acho que seja conveniente irmos pra lá. Arranje um por aqui mesmo.
Alberto deu de ombros e entrou no primeiro hotel interessante que viu na cidade. O que mais queria era tomar um bom banho e descansar.
Ana estava andando com uma certa dificuldade e ainda sentia dores não muito fortes, mas incômodas no tornozelo. Por isso preferiu jantar no próprio hotel para não ter que sair outra vez. Flavinho estava muito eufórico com o novo lugar e aproveitou que o Pai estava com um humor um pouco melhor e desbravou todo o local com ele. De vez em quando se aproximava da mãe para lhe contar alguma novidade ou algo de interessante que vira.
Ana tinha a cabeça voltada para um pouco mais distante dali. Pensava em Lívia e no que ela estaria pensando da sua inesperada “fuga”. Sabia que ela deveria estar muito chateada com aquela situação, mas esperava poder esclarecer para ela seus motivos para tal. “Será que ela vai me entender? Será que está com raiva de mim? Ah, Lívia! Eu te adoro tanto e estou tão confusa com o que fazer sobre nós!”
E mais uma vez o filho se aproximava e contava alguma novidade para Ana. Ela ria e pensava como seria difícil uma decisão sem feridos.
Passaram o domingo todo em Campos do Jordão e Ana não queria ir a lugar algum, mas Alberto insistiu para que levassem o filho na “Ducha de Prata” e fossem conhecer mais um pouco da cidade:
- Ora Ana, não é porque você não pode ver que vai privar o menino das belezas desse lugar né?!
- Não seja desagradável Alberto! Eu jamais faria isso com você ou meu filho. Só estou com um pouco de dor no tornozelo e não vou poder ficar andando por aí. Claro que vocês podem passear a vontade. Eu fico por aqui sentada esperando.
E assim o dia transcorreu. Um pouco lento para Ana, e ela sentia toda aquele inquietação porque se aproximava a hora do confronto. A hora em que deveria enfrentar o dia a dia com Lívia, o momento de decidir o que fazer de suas vidas. Ela ainda não sabia, só tinha certeza da falta que Lívia fazia e de que devia boas explicações para ela.
A noite já estava alta quando chegaram em casa. Flavinho dormia no banco de trás exausto pelo dia longo de muitas brincadeiras. Alberto o levou para dentro e Ana foi para o quarto de baixo dormir. O dia seguinte seria de muita tensão!
Mal colocou a camisola e Alberto entra no quarto, aproxima-se de Ana e a toca com desejo:
- Hummm, eu estava louco que você tirasse logo esse imobilizador! Tô com um tesão armazenado há um tempão!
Ana sentiu o coração disparar e um arrepio, misto de medo e horror, quando Alberto beijou seu pescoço e subiu até chegar a boca. Gostava dele como pessoa, mas não suportava a idéia de ter que dormir com Alberto, não queria mais fazer amor com ele e o pior era ter que dizer isso naquela hora.
Ana o afastou e disse:
-Alberto, por favor, me deixe dormir! Não quero fazer amor agora. Não estou com vontade e meu pé ainda dói bastante. Tenho medo que você me machuque.
Alberto reclamou desconsolado:
- Ah, Ana! Pelo amor de Deus! Eu tô esperando você tirar essa porcaria há um tempão e não agüento mais de vontade de trans*r contigo! A impressão que tenho é que você está arranjando desculpas pra não fazermos amor. O que houve? Porque toda essa frieza?
Ana estava muito incomodada com toda aquela situação. Sabia que Alberto tinha razão, mas não conseguia ser mais forte que seus sentimentos. Como se entregar ao marido com a mente em outra pessoa? Como deixar que ele a tocasse depois de ter tido as mãos de Lívia em seu corpo? Era como se ele a pertencesse à partir de então e ninguém mais tivesse o direito de tocá-lo daquele jeito!
Ana tentou contemporizar:
- Não estou me sentindo bem ultimamente mesmo, Alberto. Gostaria que você fosse um pouco mais compreensivo. Me dê um tempo, alguns dias para me sentir melhor e aí poderemos conversar e resolver essa situação.
- Que situação?! Do que você está falando?! Por acaso há alguma coisa acontecendo que eu não saiba? Realmente eu tenho percebido que você está muito diferente. Me diga logo, o que está havendo?
Alberto estava muito intrigado com o comportamento estranho da mulher, principalmente nas últimas semanas e em sua decisão tão repentina de tirar duas semanas de férias. Não era uma atitude comum em Ana, que costumava planejar cuidadosamente as coisas antes de fazê-las. Ana estava com a mente muito cansada de toda aquela pressão, pediu quase em soluço:
- Por favor, Alberto! Respeite a minha vontade e me dê um tempo, ok?! Eu vou ficar por aqui neste quarto mesmo, enquanto meu tornozelo não estiver 100% e gostaria muito que você fosse compreensivo e me desse esses dias. Vou fazer a fisioterapia logo, à partir de amanhã e assim que estiver completamente boa, voltamos à falar sobre isso.
Alberto por sua vez também parecia esta um pouco cansado ou não muito animado em continuar aquela briguinha de gato e rato. A mulher não estava a fim de trans*r e isso tirava o seu tesão também. -“ Acho que é a famosa crise dos 10 anos. Esse casamento está ficando um saco mesmo! Nem vontade de trans*r ela tem mais! E eu, nem tenho vontade de querer conquistá-la. Ela só me irrita com esses “chiliquezinhos”! Tenho mais é que arrumar uma amante mesmo, ou várias...casamento chega uma hora que vai pro brejo mesmo, aí só tendo alguém fresquinho pra poder tirar a gente desse marasmo!”
Alberto desistiu da discussão e saiu do quarto batendo a porta. Ana ficou lá, ouvindo os passos do marido do lado de fora...pensava:
“Não estou sendo justa com ele. Mas o que fazer comigo? Com o que estou sentindo por Lívia? Não consigo mais imaginar Alberto me tocando, fazendo amor comigo. Não quero mais! Não sinto mais vontade de tê-lo como homem! Sei que ele não tem culpa do que está se passando comigo, mas não vou ficar enganando a ele nem a mim mesma. Não vou fingir pra alguém que foi importante pra mim. Eu o estaria enganando mais ainda. Preciso ganhar tempo pra resolver logo esse dilema. Quero que pelo menos fique algo de bom desse casamento. O respeito que sinto por ele e ele por mim!”
Era segunda-feira, duas semanas após Ana ter saído em férias. Ela acordou cedo e após o café da manhã, por volta de 8:00 h. telefonou para um serviço de táxi e pediu que a levassem para o Escritório. Precisava chegar cedo e preparar-se para o encontro com Lívia. Sabia que haveria uma sabatina de perguntas e ter pelo menos uma hora ou duas, seria muito bom pra recompor suas emoções.
Foi a primeira a chegar, o resto do pessoal começava o expediente às 9:00 h, foi para sua sala e por lá ficou, pensativa, tentando colocar em ordem o turbilhão que a invadia. Parecia ouvir a toda hora os passos de Lívia e seu coração dava a impressão de querer saltar pela boca.
De repente ouviu duas pessoas chegando ao Escritório. Era a voz de Márcia e Denise. Foi até a sala principal e cumprimentou as amigas:
- Sua louca! Onde estava todo esse tempo? Aposto como acabou com Alberto nessa nova lua-de-mel!
- Não foi bem pra isso que viajei, Márcia! Ainda mais com Flavinho junto, mas foram dias muito bons, curti minha irmã e meu filho demais e isso me fez muito bem! Estava precisando desse tempo!
-Então você estava em São Paulo? Pensei que tivesse ido pra longe, quem sabe alguma praia do Nordeste! Ah, amiga, eu podia ter te dado dicas ótimas e....
Denise e Márcia tagarelavam sem parar e nem davam tempo de Ana pensar nas respostas pra não dizer bobagem. De repente Ana percebeu que uma terceira pessoa entrara no Escritório. As outras mulheres nem notaram a tal presença, no afã que estavam em saciar suas curiosidades. Ana sentiu o perfume cítrico invadir o ambiente, aquele perfume que conhecia tão bem...ouviu um longo suspiro e os passos estancarem...só ela percebia esses detalhes, era tão etéreo, tão leve que alguém entretido em uma conversa simples, realmente não conseguiria perceber. Sabia que Lívia tinha chegado, e deveria estar parada à porta olhando pra ela. Provavelmente estava surpresa, mas será que tinha raiva dela? Que tipo de sentimento estaria passando pelo coração dela naquele momento?
Passaram-se alguns minutos e os passos de Lívia recomeçaram, as mulheres então notaram sua presença. Ana ouviu-a dizer num tom totalmente frio, sem deixar transparecer emoção alguma:
- Bom dia a todas! Seja bem vinda Dra. Ana!
E foi direto para a sala que ambas dividiam. Lívia entrou e praticamente jogou-se no sofá da ante-sala. Havia sido pega de surpresa e seu coração batia tão descompassadamente que não a permitia raciocinar com precisão:
“- Não esperava encontrá-la assim de sopetão! Pensei que ela fosse me ligar para buscá-la ou vir mais tarde, quem sabe num outro dia! Estou muito surpresa e preciso me recompor pra não dar mancada! Ela nem sequer se despediu de mim! Não vou bancar a tola e mostrar o que ela faz comigo. Estou muito abalada e preciso ter meu equilíbrio de volta antes dela entrar aqui. Se ela não me quer eu tenho que pelo menos saber me manter de pé, erguida!”
Ana demorou um pouco ainda até conseguir se desvencilhar das amigas curiosas. Respirou profundamente e entrou na sala do seu Escritório. Sentou-se junto à mesa e sabia que Lívia estava ao lado, na ante-sala. Podia sentir sua presença de maneira tão forte que quase sentia na pele seu toque. Pigarreou e chamou por Lívia com a voz um pouco trêmula;
- Lívia! Venha até minha sala, por favor!
Ana ouviu os passos daquela a quem tanto adorava e seu coração batia tão forte que dava a impressão de poder ser ouvido ao longe. Lívia entrou na sala sem dizer palavra alguma, apenas esperando o que Ana tinha a lhe contar:
- Eu acho que temos muito a dizer uma a outra, mas não sei como começar e nem se deveríamos ter essa conversa agora, aqui...
Lívia a interrompeu com a voz num tom entre o ríspido e irônico:
- Porque não começa me dizendo porque fugiu sem nem se despedir de mim...sem dizer palavra alguma e me deixou como uma louca aqui todos esses dias, sem saber o que havia acontecido, para onde você tinha ido, se você estava bem...claro que você estava bem! Idiota sou eu em pensar que não, afinal você estava na companhia do maridinho e devem ter tido ótimos momentos juntos.
Agora tinha perdido o controle de vez, só procurava manter o tom de voz baixo, pra não chamar atenção das mulheres no outro ambiente:
- Você não se dignou a me dar um telefonema sequer...quis realmente se ver livre de mim! Aposto como acertou os ponteiros com Alberto. Talvez eu tenha servido pra isso, né Ana?! Pra te mostrar que seu casamento era bom e podia ser salvo!
Lívia estava tão fora de si que nem pensava direito no que saia de sua boca:
- Eu não te cobrei nada! Você não precisava ter sumido! Bastava me dizer pra manter afastada e eu faria isso, Ana! Eu sei que não tenho lugar na sua vida! Mas você preferiu me fazer sentir um lixo, chutada num canto como se fosse um estorvo no seu caminho! Eu tenho quem me ame também, Ana! Não preciso mendigar o seu Amor! Não preciso de você e das migalhas que você quiser me dar! Eu quero ir embora! Que se dane esse emprego, esse lugar aqui virou um martírio pra mim! Também quero ficar longe de você! Não quero saber nada ao seu respeito, nem o que se passa na sua vida...estou indo agora mesmo!!!
E levantou-se para ir embora, quando ouvir a voz enérgica de Ana:
- Lívia não ouse ir embora sem me ouvir!!! Tranque esta porta porque não quero que ninguém entre aqui!!! Sente-se ou fique em pé, como preferir, mas cale esta boca e me ouça!
Lívia acatou o pedido de Ana e voltou mantendo-se de pé para ouvir o que ela queria lhe dizer. Tremia muito e sentia-se por demais abalada emocionalmente. Ana também se postou de pé e começou a dizer numa voz um pouco rouca e nervosa:
-Primeiro eu quero que você não me interrompa. Me ouça e depois faça o julgamento que quiser!
Mexeu as mãos nervosamente e virou o rosto na direção em que Lívia se encontrava. Era incrível como Ana sabia exatamente onde ela estava parada, pra onde direcionar o seu olhar. Ver os olhos parados de Ana, olhando para o nada e marejados de água, dava um nó na garganta de Lívia que não a permitia sequer mover-se de onde estava, que dirá dizer algo:
- Desculpe sair sem falar com você. Mas eu não podia! Não tive forças pra dizer que precisava deste tempo. Que precisava estar longe pra pensar melhor. Acho que fui covarde sim, em pelo menos não ter te avisado, mas depois que fiz, achei que era melhor pra nós duas. Tive medo que isso acabasse acontecendo. Esse seu rancor pela minha atitude! Não fique com raiva de mim, Lívia. Eu posso suportar muita coisa, mas seu ressentimento seria doloroso demais!
Ana tentava segurar as lágrimas e isso aumentava ainda mais sua angústia:
- Eu fui para São Paulo. Fiquei por lá essas duas semanas e a maior parte do tempo passei com minha irmã e meu filho, no apartamento dela. Ela foi meu Porto Seguro, alguém com quem pude conversar e contar tudo o que aconteceu entre nós. Quando fui procurá-la, não tinha a intenção consciente de contar a ela, mas aos poucos fui vendo que precisava muito partilhar com alguém aquele conflito e ela foi maravilhosa comigo! Não fez julgamentos, não me recriminou, apenas me acolheu!
Lívia estava estupefata em saber que Ana havia contado tudo para a irmã. “- Que louca! Logo o marido ou a família dela vai estar sabendo também!”
Ana continuou:
- Me senti tão bem depois, que parecia ter as coisas mais claras na minha mente! Mas não é bem assim...meu casamento com Alberto está fracassado! Eu não consigo deixá-lo me tocar desde que ficamos juntas e sei que isso se deve ao fato de estar tão apaixonada por você. Eu estou num conflito terrível, ele é meu marido, sempre foi um bom chefe de família, um bom companheiro, até que nosso casamento começou a ficar monótono, vazio, sem emoção alguma...por outro lado, ele é o Pai do meu filho, ele é o homem com quem estou casada há tanto tempo, como então rejeitá-lo sem explicação alguma?
Lívia ficou incomodada com as conjecturas de Ana sobre Alberto, sentia ciúmes...
- Mas é exatamente isso que tenho feito, Lívia! Rejeito Alberto sistematicamente todos os dias e não me imagino mais com ele na cama. Só penso em você e em como nós poderíamos nos fazer felizes se tanta coisa na minha vida não impedisse esse Amor de se realizar! Eu a amo demais e não quero que você fique longe de mim! Mas se você quiser mesmo ir embora, eu vou entender seus motivos. Você é jovem, bonita, deve ter um monte de rapazes atrás de você e sei que você ainda tem o Caio a hora que quiser. Não posso também exigir que você se sujeite as minhas necessidades! Eu posso até indicá-la pra um amigo que tem um Escritório aqui na cidade também, mas...
Nesse instante, Lívia interrompe Ana. Aproxima-se dela e diz com a voz embargada:
- Só preciso ouvir uma coisa de você Ana...você quer, do fundo do coração, que eu vá embora ou fique?
Ana não consegue mais controlar o choro, deixa as lágrimas correrem e vai na direção de Lívia...toca seu rosto e a puxa pra si num abraço apertado e urgente...esperado há tantos dias...fala em seu ouvido entre soluços:
- Eu quero você pra mim! Quero ser sua por toda a vida! Não se afaste, por favor! Nem que eu peça por isso! Vai ser mentira! Meu coração grita o tempo todo que quer você perto, junto de mim! Fica comigo..
Lívia não controlou mais a vontade que tinha de tocar Ana, de beijá-la...e o fez com furor! Era tanta a vontade de estar com ela, foi tanta a saudade naqueles dias, que toda sua mágoa caiu por terra com aquelas palavras e as lágrimas de Ana. Amava aquela mulher com toda sua alma e não sabia mais existir sem Ana. Sabia que se tivesse que ficar longe dela, seria apenas um Zumbi, só um corpo sem alma! Sem Ana era nada! Só havia o vazio!
As bocas se buscavam gulosamente, numa ânsia de descontarem o tempo de distância. As mãos de Ana tocavam o corpo e o rosto de Lívia como se quisessem gravar cada partícula dela em suas digitais... agarravam-se aos cabelos, puxava o rosto pelas orelhas e sugava aquela boca de forma sedenta e medrosa...sim, sentia medo de ter que ficar longe dela outra vez, não queria mais isso, era como se tivesse nascido para ser de Lívia e não queria mais fugir disso!
Lívia também não podia resistir aos apelos de seu corpo...ele clamava a todo instante por Ana e não tinha como lutar contra esse desejo imenso...só que era mais que isso, amava Ana! Tinha certeza disso, pois estava disposta a ficar longe dela se isso a fizesse feliz! Se contentaria em saber que ela estava bem, mesmo que essa atitude platônica a destruísse por dentro. Mas Ana a queria também, com a mesma força, com a mesma intensidade e não poderia deixá-la nunca mais!
Os papeis de cima da mesa foram lançados ao chão...não interessava se eram importantes ou não, o que importava naquele momento era ter um leito pra saciar duas mulheres com sede de Amor uma pela outra. Ana sentou-se na mesa e Lívia, de pé tirava sua blusa à medida que sua boca descia ao longo do corpo. Beijou os seios, esfregou o rosto neles e sentiu o perfume que vinha da fenda no meio dos dois. Sugou cada mamilo e os fez ficarem duros. Ana gemia a cada toque, não conseguia mais controlar aquele desejo represado e entrelaçou as pernas no tronco de Lívia pra senti-la melhor junto de si. Esta continuou seu passeio e tirou a saia e as meias que Ana vestia. Deixou sua mulher só de calcinhas, linda, toda entregue a si e àquele momento! Beijou sua barriga, enfiou a língua no umbigo e Ana estremeceu sentindo o desejo invadi-la bem no baixo ventre através daquela dorzinha tão característica que a alertava! As mãos de Lívia acarinhavam as pernas de Ana na parte de trás, entre as coxas, subia até as nádegas e novamente dirigia-se para a parte interna da perna, abrindo-a. A boca seguiu seu curso tocando a virilha e beijando o sex* sobre a pequena peça de tecido que Ana usava. Lívia afastou a calcinha sem tirá-la e tocou com a língua aquela fenda que tanto amava! O clit*ris estava duro como pedra e ansiava pela língua de Lívia quase gritando por isso, mais embaixo uma pequena corrente de desejo escorria pelas pernas e pelo rego de Ana. Ela contorcia-se na mesa movendo os quadris conforme a dança da língua de Lívia, pegou uma das mãos de Lívia e a fez penetrá-la gostosamente com os dedos. Estava muito molhada e a sensação de tê-la dentro de si, quente e escorregadia era deliciosa, mais ainda com aquela boca sugando seu “nervinho” do prazer. Ana mordeu o braço para abafar seus gemidos e gozou com aquela ch*pada como sonhara durante tantas noites...o corpo se convulsionou num delicioso tremelique de prazer e ficou ainda por uns bons minutos sentindo as ondas elétricas passarem por todo ele.
Lívia subiu pelo tronco de Ana e a beijou para que esta sentisse seu próprio gosto através de sua boca. Era bom sentir o gozo misturado à saliva da sua amada e saber que aqueles fluídos eram a projeção do prazer que havia proporcionado a ela.
Ana levantou-se vagarosamente e pegando Lívia pela mão, a levou até o sofá que ficava na sala. A fez sentar-se na borda e disse sussurrando no seu ouvido:
- Eu já sei como você gosta!
Tirou a roupa de Lívia e a deixou completamente nua. Tocou cada centímetro de pele daquele corpo tão querido e baixou o rosto para sentir o perfume cítrico que ela conhecia tão bem. Nem precisava tocar o sex* de Lívia para saber o quanto ela estava molhada, o tanto de tesão que saía daquelas pernas, daquele ventre...ficou de pé e foi baixando o corpo bem lentamente, numa deliciosa tortura, até que os dois sex*s se encontrassem. A baba que saía deles deixou-os completamente encharcados e fios daquele tesão todo apareciam a cada vez que elas se afastavam um pouco para depois voltarem a se encaixar com vontade. Ana realmente aprendera a dar prazer a Lívia exatamente como ela gostava, sentindo o corpo da sua amada rebol*ndo junto ao seu, esfregando sem pudor seus sex*s em busca do gozo compartilhado. Sentir uma a outra de modo tão íntimo, tão unido era o melhor daquele intercurso, era a sublimação do prazer carnal! Os corpos suavam com aquela dança e as bocas se encontravam e se deixavam para beijar o pescoço, o colo, os seios, e então voltavam a se encontrar, com línguas ansiosas e quentes, quase no mesmo ritmo dos corpos. Lívia segurava Ana pelas ancas e a fazia vibrar no mesmo ritmo que ela, queria que ela também pudesse ter a mesma sensação gostosa do prazer chegando...do gozo se avizinhando...e assim foi...aumentaram o ritmo daquela deliciosa dança e, quase que simultaneamente, chegaram a um orgasmo profundo e gostoso!
Ficaram ali, por longos minutos, reconfortando-se uma na outra, apaziguando os corpos em transe. Quiseram tanto estar ali daquele jeito, durante todos aqueles dias afastadas, que não deixariam nada atrapalhar aquelas horas preciosas. Ana deitou recostada no encosto do sofá e Lívia ficou agarrada a ela, num minúsculo espaço, de um jeito tão forte, que não a deixava cair no chão. Diziam palavras de Amor uma a outra e se beijavam com ardor, por longos minutos. O tempo não importava mais...queriam estar ali daquele jeito e nada mais interessava...não ligavam para os outros que estavam do outro lado do Escritório, e parecia que eles também não, pois o burburinho dos empregados em mais um dia de trabalho continuava o mesmo, inabalável. Ana não se importou, sabia que ninguém entraria em sua sala sem que ela autorizasse através da secretária e que poderia ficar ali com Lívia durante todo o dia se assim quisesse.
E elas quiseram...entregaram-se de várias formas...pareciam querer descobrir num só dia tudo aquilo que dava prazer a outra...tudo que as fazia feliz no sex*...
Lívia fez Ana apoiar-se no encosto do sofá e ficar de pé, de costas para ela. Ela acariciou e beijou as costas de Ana até sentir que ela novamente tinha seu corpo mais quente que o normal. Mordiscou sua bunda, fez Ana colocar os joelhos no assento e abrir bem as pernas, com o dorso arrebitado. A visão de Ana naquela posição tão sexy acendia o tesão em Lívia violentamente. Era demais vê-la assim, tão feminina, tão sensual, com os quadris ligeiramente levantados, esperando pela promessa do gozo de viria. Lívia beijou e mordiscou suas nádegas, passou o dedo pelo rego, sentiu o orifício anal contraído e desceu até aquela racha úmida, completamente babada de desejo...penetrou-a com dois dedos e sentiu Ana apertá-la por dentro. Era tão gostoso sentir suas paredes internas contraírem e tentar mastigar seus dedos...decidiu substituí-los por sua língua, enfiou o mais fundo que conseguia e sentiu na boca as contrações do sex* de Ana. Ela apertava sua língua e gemia pedindo mais, segurou a mão de Lívia e levou seus dedos até seu grelo duro. Mexia os quadris cada vez mais forte e dizia palavras desconexas e ligeiramente obscenas. Lívia segurou Ana pelos quadris com uma das mãos e meteu a língua o mais fundo que podia, sentindo-a pulsar por dentro...percebeu quando o gozo viria...aumentou o ritmo no clit*ris e proporcionou a ela um prazer novo, indescritível! Ana se abandonou àquelas sensações e esqueceu de onde estava, soltando um grito na hora de goz*r. Ao terminar, Lívia puxou levemente os cabelos de Ana e virou seu rosto pra dar-lhe um beijo molhado, com cheiro de sex*, que ela adorava sentir e saborear...seu “odor di femina”! Ana sentou-se no sofá e estava um pouco mole do prazer que havia acabado de experimentar, mas não deixou que Lívia se sentasse. Pediu que ela continuasse de pé e a pôs de frente pra ela, com uma das pernas flexionada e apoiada no sofá. O sex* de Lívia ficou exatamente na altura da boca de Ana e agarrando a bunda dela por trás, Ana proporcionou a Lívia um gozo compatível com o que ela a havia dado minutos antes e fez Lívia sentir tremedeira nas pernas, quase indo ao chão na hora do prazer...depois jogou novamente seu corpo sobre o dela pra descansar e se abandonaram uma a outra, com a luxúria saciada e o coração mais calmo!
Ficaram por horas daquele jeito, agarradas uma a outra...Lívia não tirava os olhos de Ana e de sua expressões lindas e involuntárias...Ana não conseguia deixar de acarinhar aquele corpo macio e tão amado, que lhe proporcionava tanto prazer e bem estar...tinham medo de quebrar o encanto daqueles instantes e nenhuma das duas tinha coragem de ser a primeira a fazê-lo.
De repente o telefone toca, Ana levanta-se, ainda nua e antes de atendê-lo, Lívia diz:
- Deixe que eu atendo! Assim dá tempo de você ir ao banheiro se recompor. Eu me arrumo mais rápido!
Do outro lado Márcia fala:
- Lívia, diga a Ana que precisamos conversar sobre o caso da Vale do Rio Doce, está meio complicado e quero sua opinião. Denise e Fábio também querem uma reunião pra acertarmos os detalhes dessa ação que é muito importante. Acho que você também tem que participar. A Ana está aí ao lado?
- Não, ela está no banheiro! Estamos terminando algumas minutas e em dez minutos eu abro a porta pra começarmos a reunião, Ok?!
- Combinado.
Em cinco minutos Ana saiu do banheiro já vestida, com o rosto lavado e batom nos lábios. Eles não perceberiam nem de longe o que acabara de acontecer ali. Apesar do rosto levemente rubro pelo esforço empreendido, Ana estava recomposta e pronta pra continuar o trabalho. Lívia também já havia se vestido e foi lavar-se. Falou com Ana sobre o telefonema de Márcia e abriu a porta do Escritório pra que a reunião se realizasse.
Terminaram de trabalhar por volta de sete horas da noite e Lívia levou Ana para casa de Táxi. Chegando lá, saltaram do carro e ficaram paradas uma de frente pra outra...Ana falou:
- Não temos como fugir desse Amor. Ele é forte demais e isso que aconteceu hoje, vai acabar virando rotina e não quero que seja apenas isso. Você quer?
- Claro que não! Eu adoro você e estar na sua companhia é a melhor coisa do mundo pra mim, mas eu também quero mais...quero partilhar tudo com você...mas sei das suas dificuldades.
- Que bom que você compreende isso! Eu realmente preciso resolver minha situação em casa. Não quero ficar tendo encontros furtivos com você e continuar enganando Alberto. Não sou desse jeito e não quero esse tipo de coisa pra minha vida nem pra sua. Eu queria te pedir uma coisa....
- Diga...
- Não vamos continuar como amantes enquanto eu não resolver esse problema. Me dê um tempo. Algumas semanas...sei lá quanto tempo será preciso, mas me dê esse tempo! Eu preciso disso pra decidir sobre meu casamento. Temos que ser cuidadosas conosco e principalmente preservar meu filho! Me ajude e ser forte, Lívia! Por favor!
Ana deixava transparecer seu dilema na voz e estava ali, implorando pela compreensão e ajuda de Lívia:
- Eu te amo Ana! Vou estar ao seu lado seja qual for a decisão que você tomar! Só não posso prometer continuar por aqui se você decidir me deixar! Vou sofrer demais e não quero estar por perto vendo você retomar sua vida com seu marido!
Segurou Ana pelo pescoço e quase a beijou, quando então lembrou-se de onde estavam:
- De qualquer maneira, você terá o tempo que achar necessário pra decidir sobre isso. Eu saberei esperar...
- Eu também te amo muito e disso eu não tenho dúvidas! Tenha certeza que não vou demorar mais que o necessário pra tomar as medidas que julgar acertadas. Só não quero correr o risco de perder meu filho...isso seria duro demais pra mim, entende?
- Claro que sim! Nem eu quero ser o pivô desse tipo de coisa. Pense e tome a decisão que julgar melhor!
Ana pegou na mão de Lívia e a acariciou com muito amor. Levou a mão aos lábios e beijou cada dedo, sentindo o perfume dela entrar em si. Lívia controlou-se pra não beijá-la ali na frente da casa dela. Retirou a mão e já estava indo embora, quando lembrou-se de algo:
- Ah, Ana! Tinha me esquecido de uma coisa....meu Pai quer vê-la urgente! Parece que tem novidades no seu tratamento!
Lívia viu Ana parar de costas pra ela, de frente pra sua casa...não se virou, nem disse absolutamente nada...após um breve momento, continuou caminhando em direção ao portão, entrou, o fechou e deixou Lívia lá fora, imaginando no que será que ela estaria pensando sobre tudo aquilo!
Fim do capítulo
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