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LUZ por Marcya Peres

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Palavras: 7280
Acessos: 6145   |  Postado em: 13/12/2017

Capítulo 14

A VOLTA...


O carro foi estacionado na garagem da casa de Ana. Ficaram, as duas, ali por vários minutos, imóveis, sem olhar nem dizer absolutamente nada. Apenas as respirações eram ouvidas e sentidas com um profundo pesar pela volta. Nenhuma tinha coragem de ser a primeira a quebrar o vidro da cúpula que criaram por três dias. Não foi preciso o esforço para tal, pois a porta da área de serviço é aberta e Flavinho entra na garagem chamando pela Mãe:

- Mamãe, que bom que você voltou! Estava morrendo de saudades!

Ana abre a porta do carro e segura o filho um pouco afastada para não ser pisada no pé machucado:

- Meu querido, eu também senti muito a sua falta! Cuidado com o pé da mamãe!

- O que houve com seu pé, Mãe?

- Caí no quarto da pousada, tropecei em um tapete e fui ao chão e só não foi pior porque Lívia me segurou e amorteceu minha queda, senão teria quebrado o tornozelo. Dessa vez só luxei.

- Tá doendo?

Perguntou o menino com expressão preocupada, a mãozinha no pescoço da mãe:

- Não, meu bem! Não dói, mas vou ter que andar com esta cadeira que está ali atrás até poder colocar o pé no chão, o que deve demorar umas duas semanas.

- Que legal, Mãe! Eu vou poder andar nessa cadeira também? Posso empurrar ela?

Ana riu da ingenuidade e empolgação do menino...

- Isso nós vamos ver mais tarde...agora venha cá, deixa eu te abraçar um pouco...

Lívia já tinha começado a retirar as bolsas do carro a tirou também a tal cadeira de rodas, montando-a após. Flavinho deu um beijo nela – gostava muito de Lívia – e pediu para ajudar a pôr Ana na cadeira e empurrá-la pra dentro de casa. Cininha veio e pegou as bolsas com Lívia. Entraram em casa com Ana sendo empurrada pelo filho. Ele estava feliz com o novo “brinquedo” da Mãe e com sua volta...fez uma infinidade de perguntas e ficou esperando algum presente, Ana sempre comprava algo para o filho nas viagens, nem que fosse um bombom. E dessa vez não foi diferente.

Nesse instante o telefone toca e Cininha vem com ele na mão dizendo que era Alberto. Ana pega o fone:
- Olá, tudo bem e você como está indo aí na Capital? Sim acabei de chegar e estou dando uns presentinhos que trouxe para o Flavinho...ah, para que você não se assuste quando chegar, eu torci o tornozelo e estou com o pé imobilizado, além disso tenho usado uma cadeira de rodas pra me locomover, pois cega e andando de muletas não dá, né?! Logo iria quebrar a outra perna...

Lívia levantou-se e estava caminhando em direção à porta quando Ana a interrompeu:

- Espere um pouco Alberto....

Tapou o bocal do fone e disse:

- Pode me esperar um pouco, Lívia? Quero combinar para amanhã...só um instante, ok?!

Para Lívia era horrível ter que ouvir Ana conversar com o marido e ficar contando detalhes da viagem...só faltava ela contar o que houve entre elas...”que saco isso! Não quero ficar aqui! Vou embora!”...e já estava novamente levantando, quando Ana desligou o telefone:

- Ele vai chegar amanhã e queria dizer a ele sobre o pé imobilizado para ele não se assustar com a cadeira de rodas...

- Coitadinho né Ana! Pobre Alberto! Que se dane ele! Estou cansada dessa viagem e quero ir pra minha casa! Boa noite e conversaremos amanhã no Escritório...

Estava quase na porta, quando ouviu a voz grave de Ana num tom de severa autoridade...

- Lívia, volte aqui! Não acabei de falar com você e pelo que sei, você não é mal educada pra me deixar aqui falando sozinha! Não acabamos e você ainda não foi dispensada! Fique tranqüila que suas horas extras serão todas pagas!

Lívia ficou extremamente irritada. Tanto pelo tom autoritário de Ana obrigando-a a ficar, como pelo ciúme ao deparar-se com o cotidiano de Ana e o marido. “Eles não são um casal em crise! É um casal em estado “morno”, daqueles em que a Paixão já foi há algum tempo. Mas quem garante que ainda não se amam? Eles tem um filho, são uma família e isso pesa demais. Estou sobrando nessa!”
Virou-se relutante para Ana, num tom entre o debochado e o irritado:

- Pois não, Doutora Ana. O que mais a Senhora quer de mim?

Ana respirou profundamente, sempre fazia desse jeito quando precisava acalmar-se:

- Eu sei que este lugar não é neutro, nem um pouco. Que você chegou e logo se deparou com minha rotina...empregada, filho, marido...mas eu gostaria que esta noite, pensássemos bem sobre tudo o que se passou e também sobre as pessoas em nossas vidas...

Apesar de saber que Cininha estava no andar de cima com Flavinho, baixou bem o tom de voz e voltou a dizer:
- Amanhã quero conversar com você sobre o que aconteceu e como será entre nós daqui em diante. Pense também na sua vida e me diga o que pretendes...não gosto de joguinhos e acho que você também não...quero apenas honestidade em tudo o que fizermos, seja qual for a decisão...ela terá que ser sempre verdadeira, sem mentiras....não gosto de jogos, mas quando jogo, é limpo! Cartas na mesa!

Lívia mudou o tom de voz e disse também baixinho:

- A única coisa que queria neste instante era te dar um grande beijo na boca de despedida...mas sei que voltamos para o mundo real...o sonho ficou lá trás e agora só o tenho como recordação...não se preocupe, eu sou um pouco impulsiva, por isso fico irritada com certas situações, mas vou cumprir o que prometi lá no chalé....jamais vou colocar você em uma situação difícil perante a sua família intencionalmente...farei o possível para ser formal e apenas profissional.

Já estava saindo, mas voltou e falou próxima a Ana:

- E não seja arrogante comigo! Sei que você não é assim! E posso te provar que faço cair essa máscara em dois segundos...é só o tempo de dar dois passos e alcançar sua boca...

E saiu com um triunfo no olhar...

Ana ficou ali parada, com o coração batendo rápido, já sentindo saudades de Lívia...
“É...voltamos para a vida real e ela se fez notar logo que cheguei...minha amada Lívia, você não vai agüentar...e eu, será que vou?”

Em breve as perguntas começariam a ser respondidas....

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Quando Lívia chegou em casa, a primeira pessoa que encontrou foi Caio, e isso a deixou muito irritada. Não estava preparada para encontrá-lo tão cedo!

- Oi Amorzinho, estava cheio de saudades de você!

- Olá Caio, não esperava encontrá-lo tão cedo aqui...porque não esperou que eu te ligasse antes de vir?

Lívia não conseguia disfarçar a irritação. Olhou de soslaio para Caio e entrou em casa com ele vindo atrás. Encontrou logo sua Mãe na sala e abraçou-a com carinho:

- Olá Mãe...sentiu minha falta?

- Claro querida, seu Pai também. Como foi a viagem? Você vai ficar para o jantar ou vai sair com o Caio?

- Não vou sair hoje! Quero ficar em casa descansando, a viagem foi um pouco cansativa e Caio também irá para casa, não é mesmo Caio?!

- Nossa! Isso é jeito de me receber?! Eu só queria ficar um pouco com você!

Falou Caio mostrando estar magoado. Lúcia, a mãe de Lívia achou melhor retirar-se pra não deixar o moço constrangido e foi para a cozinha preparar o jantar.

Lívia estava muito incomodada com a intromissão de Caio. Não queria ele por perto naquele momento. Precisava de um tempo só, com seus pensamentos, com as novas emoções que a invadiram nos últimos dias. Tentou ponderar:

- Caio, por favor, não quero ser grosseira com você, mas eu preciso ficar sozinha! Amanhã nos falamos ao telefone e se eu estiver melhor, poderemos sair pra conversar um pouco.

- Você já está sendo rude comigo me escorraçando daqui desse jeito! Pôxa, eu vim te dar as boas vindas e sou recebido assim?! Estava louco de vontade de trans*r com você...

E segurou Lívia pela cintura enfiando a língua em seu ouvido. Lívia o afastou com rispidez e ele perguntou irritado:

- O que houve pra você mudar tanto em apenas três dias?! Conheceu alguém por lá?

Lívia não se controlou mais e alterando a voz disse:

- Nós não estamos mais oficialmente namorando, portanto você não tem o direito de me exigir nem perguntar nada, muito menos de me tocar sem permissão. Estávamos saindo um com o outro por pura acomodação, por não termos outras pessoas conosco. Eu não quero mais isso. Basta! Quer saber...acho até bom que você esteja aqui Caio e ouça bem o que tenho a te dizer...ACABOU!!! Não haverá mais encontros entre nós. Não quero mais! Não tem por quê!

Lívia quase gritava e Caio ficou descontrolado. Segurou-a pelo braço e a sacudiu exigindo mais explicações para o “fora” que estava levando:

- Ora sua vagabunda! Você pensa que sou algum traste pra me jogar fora assim?! Nós estávamos trepando e não era só isso! Como você chega e me diz que não era nada e que só estávamos passando o tempo um com o outro?! Você não presta, Lívia. É cruel, sem coração! Não liga a mínima para o que os outros sentem! Aposto como conheceu alguém lá em Campos do Jordão...foi isso né?!

Lívia percebeu o quanto havia sido dura com Caio...era verdade, mas não precisava ser dita daquela forma...tentou ponderar:

- Caio, solte o meu braço. Você está me machucando! Eu não quis dizer que você não foi nada. Eu gostava de você, mas acabou, não existe mais sentimento! Não posso forçar algo desse jeito. Confesso que sentia atração sexual por você, mas até isso acabou! Desculpe! Vai ser melhor pra nós dois assim. Você é um cara super bonito, interessante, tem um bando de mulheres doidas pra ficar com você, não fique aqui perdendo seu tempo comigo!

Caio soltou o braço de Lívia, mas ainda não estava convencido:

- Me diga, você encontrou alguém nessa maldita viagem não foi?!

Lívia respirou fundo para recompor-se e disse:

- Sim, Caio. Encontrei! Foi a mim mesma que encontrei. Não foi homem nenhum. Foi apenas a mim mesma! Percebi que estava vivendo num vazio e sou muito jovem pra me acomodar a certas situações. Eu quero viver! Seja com alegrias ou com dores! O que importa é viver, é ter emoções. Prefiro a dor ao vazio!

Meias-verdades não são mentiras. Caio desistiu de discutir. Gostava de Lívia e sentia como se tivesse levado um soco no estômago. Tinha que se afastar dela um pouco para pensar melhor no que ela lhe dizia.

- Então o que nós tínhamos era somente um passatempo e que no fundo você vivia num vazio, é isso?

Lívia não respondeu, baixou a cabeça e pediu:

- Desculpe Caio, não quero mais discutir. Preciso ficar só.

Caio andou até a porta e saiu sem olhar para trás. “Ela parecia gostar de mim! Pelo menos quando estávamos na cama! Eu sinto que ela adorava o sex* comigo. O que será que houve? Será que está gostando de outra pessoa? Eu ainda gosto muito dela, não queria perdê-la assim...”
E foi para casa, cabisbaixo, pensando no que tinha acontecido de errado entre ele e Lívia.

Lívia suspirou aliviada quando Caio saiu. “Não queria dar de cara com ele logo na minha chegada! Precisava de um tempo primeiro! Mas por outro lado, ainda bem que aconteceu logo! Seria inevitável mesmo, mais cedo ou mais tarde eu teria que dizer...não iria mais conseguir ir pra cama com ele...não enquanto meu coração estiver assim, tomado por Ana. Disse o que pensava e sentia, só não queria magoá-lo. Ele é um cara legal e não merece descaso!”
Foi para o quarto, deitou-se na cama e ficou as horas seguintes pensando em tudo o que havia acontecido naquele chalé, durante os melhores três dias de sua vida. Não podia imaginar-se longe de Ana a partir de agora... “o que será que ela iria fazer? Provavelmente despachá-la daquele escritório o mais rápido possível. Ela tem medo e com toda razão. Tem muito a perder...família, trabalho, amigos...então seria melhor que eu perdesse o que tenho, só o emprego, pois assim tudo poderia voltar ao normal...será? Não, mentira!!! Nada jamais será como antes, nem para ela, nem para mim. Podemos até fingir que sim, mas viveremos numa mentira...”

Na hora do jantar, estava a família reunida, Lívia e os Pais, sentados à mesa, conversando sobre como havia sido a viagem e o fato de Lívia ter ganhado sua primeira comissão pelo trabalho como Assistente Jurídica. A conversa fluía muito bem e de repente Dr. Olavo lembrou de algo:

- Minha filha, diga a Dra. Ana que quero vê-la o mais rápido possível! Diga para ela ligar pra minha secretária e marcar uma hora assim que puder.

Lívia ficou intrigada:

- Porque Papai? Tem algo errado com Ana? Será que pode acontecer algo pior que a cegueira que ela já tem?

Dr. Olavo sorriu para filha e disse:

- Pode sim, ela pode ter ulcerações e lesões na córnea que venham a se agravar e a façam perder as últimas chances que tem de voltar um dia a enxergar, mesmo que parcialmente de uma das vistas. Por isso ela vem periodicamente ao meu consultório. Mas não será uma visita de rotina. Tenho novidades no tratamento dela e gostaria de expor o que penso para a teimosa da Dra. Ana.

Lívia estava muito curiosa sobre o assunto:

- Teimosa porque?

- Porque ela se recusa e ter esperanças de um dia poder voltar a enxergar...é o medo da decepção, afinal ela é bem esclarecida sobre a doença dela e sabe que no caso de um transplante ser possível, ainda assim, o índice de rejeição é grande! A Dra. Ana parece ter horror ao fracasso, então prefere nem tentar.

Lívia sentiu que essa constatação poderia ser verdadeira em todos os aspectos da vida de Ana e sentiu um nó formar-se na garganta. Queria saber mais:

- Mas Pai, me fale mais sobre isso...existe uma esperança de transplante para a Ana e ela poder voltar a enxergar?

- Não vou discutir isso com você agora, Lívia. A primeira que tem que saber é Ana. Ela é a maior interessada. Além do mais os novos medicamentos são apenas experimentais ainda e acho difícil Ana querer submeter-se a eles. Ela é muito reticente a novos tratamentos, parece até que prefere continuar assim. Quero que ela vá me ver para que eu explique todos os detalhes para ela. Quem sabe consigo convencê-la ao menos de entrar na fila do transplante, que leva em torno de um ano.

- Mas Pai...

Lívia não se conformava em não saber mais sobre o que poderia acontecer à Ana. Tudo que se referia a ela lhe era de extrema importância. Mas parecia que Dr. Olavo levava à risca seu código de ética profissional:

- Querida, não insista! Tenho que falar com Ana primeiro, se depois ela achar que deve, te conta mais tarde.

Lívia não insistiu mais, sabia que o Pai era muito sério com sua profissão e seus clientes e não faria nada que achasse ser contra os princípios éticos da sua classe.

Lívia conversou com os Pais durante o jantar sobre a viagem, como havia gostado da cidade e sobre a Audiência, onde teve sua primeira comissão. Contou a eles sobre o entrevero entre ela e Caio e que dali em diante eles não estariam mais juntos. Após o bate-papo, despediu-se e foi para o quarto. Queria muito estar só e pensar um pouco.


O dia seguinte seria o primeiro em que elas encarariam a realidade depois de tudo o que havia acontecido de mágico naquelas montanhas. Não tinha como fugir daquilo e o único dilema agora seria como se portar diante de dois fatos: o primeiro, que amava Ana de maneira inconteste; o segundo, como conviver com esse sentimento diariamente ao lado de Ana.
Talvez essa fosse a pior parte, ter que vê-la, estar com ela todos os dias, sem poder realizar este Amor. Não seria nada fácil e Lívia tentava preparar-se para as dores que viriam desse sufocamento...seria como um garrote no membro amputado...doloroso, mas necessário para sobrevivência. Não poderia iludir-se e achar que Ana passaria por cima de sua vida, de sua família, para ficar com Lívia a qualquer preço. Ela sabia que Ana era racional demais pra se permitir uma loucura como essa. Além disso, havia Flavinho! Aquele menino adorável que sofreria por demais diante de qualquer ato insano de sua Mãe.


Lívia também notara que Ana não tinha um relacionamento completamente falido com o marido, como chegara a pensar...eles tinham uma vida a dois comum! “Quem garante que Ana não o ame mais? É bem provável que seja eu a grande ilusão dela! Só em pensar os dois fazendo Amor, fico louca de ciúmes! Tenho vontade de morrer!”

Lívia passou muito tempo antes de pegar no sono, se torturando com imagens de Ana e o marido, da vida que tinham em comum, do mundo deles...entremeava os pensamentos que a afligiam, com as lembranças dos dias de Paixão entre as duas. “Também não é possível que tudo o que vivemos lá não signifique nada pra ela. Ela foi tão inteira comigo, foi tudo tão perfeito entre nós, que isso não pode ser uma coisa comum! Deve ter ficado algo nela também, ela deve estar balançada, tem que me querer como a quero...pelo menos fisicamente!”
E dormiu alta madrugada, um sono inquieto, entremeado de pequenos sonhos ruins.


Ana também não dormia direito...ficara brincando com Flavinho até dar sono no pequeno, quando foi para o quarto telefonar para a Mãe. Contou a ela sobre a viagem, omitindo os detalhes com Lívia, é claro. Conversou com o Pai e desligou o telefone para recolher-se. Não conseguia pregar os olhos. Todas aquelas imagens que sua mente formava sobre o acontecido no chalé, lhes vinham à cabeça em profusão. Imaginava como seria sua vida dali em diante. “ O que sinto por Lívia é único! Achava que um dia havia amado Alberto e que agora era normal a relação ficar assim desse jeito, sem graça! Mas tenho a impressão que nunca amei Alberto de verdade. Se fosse Lívia no lugar dele, acho que nunca a deixaria de amar. Mesmo que a Paixão arrefecesse, o Amor ainda estaria lá, intocável, intenso, não importando o quanto de tempo já passou. E o que vou fazer agora? Não tenho como abandonar minha família. Lívia é apenas uma menina, quem garante que o que ela sente não seja apenas uma empolgação natural da idade, uma novidade, uma curiosidade....tenho medo, muito medo! Posso perder a guarda de meu filho...o mundo é tão preconceituoso...e se for apenas uma empolgação, ela irá me “chutar” logo que alguém mais interessante apareça...ela se mostrou tão apaixonada, foi tudo tão intenso, que a sensação era de que sentíamos igual, o mesmo Amor, com a mesma intensidade, mas como saber?! E agora? Como iremos conviver diariamente sem que essa Paixão aflore? Tentando esconder nosso desejo, será que conseguiremos? Será que queremos esconder?”

Ana passou horas revirando-se no travesseiro e deu Graças a Deus que Alberto não estava ao seu lado naquela noite pra fazer-lhe perguntas. Precisava de um tempo para recompor-se e colocar as idéias em ordem. Demorou muito a pegar no sono e sabia que estaria um “caco” no dia seguinte. O sono veio acompanhado de sonhos agitados.


No dia seguinte, às 9:00 horas em ponto, Lívia tocou a campainha da porta de Ana e Cininha veio abri-la, falando alto para Ana:

-Dra. Ana, a Dona Lívia já chegou!

Lá de dentro da copa, Ana respondeu:

- Mande-a entrar na garagem e preparar o carro, já estou indo pra lá.

Flavinho chegou na garagem empurrando a cadeira da Mãe:

- Oi tia Lívia! Cuidado com o pé da mamãe! Ela disse que quer se livrar desse negócio logo!

Lívia sorriu e afagou os cabelos do menino:

- Pode deixar, Bonitão! Vou tomar bastante cuidado, pois quero voltar logo à Campos do Jordão para levar de volta esta cadeira.

Aproximou-se de Ana e a fez apoiar-se em seus ombros enquanto a tirava da cadeira para colocá-la no carro. Ana sentiu o perfume tão característico de Lívia e teve muita vontade de beijá-la naquele momento. Mas sabia que dali em diante, todos esses desejos impróprios deveriam ser imediatamente abafados. Não havia mais espaço para loucuras como as que se permitiram lá no chalé.

- Bom dia Doutora.

Disse Lívia, bem próxima a Ana, que podia sentir seu hálito fresco bem junto a sua boca.

- Bom dia.

Ana foi seca e manteve-se calada até chegarem ao escritório. Lívia não se atreveu a quebrar o silêncio imposto por Ana. Sentia que era melhor desse jeito.
Ao chegarem, Ana teve que contar a todos como luxou o pé e que teria que se locomover com aquela cadeira por duas semanas ainda. Satisfeitas as curiosidades, pediu que Lívia a levasse até sua sala. Começaram a trabalhar e Ana disfarçava a vontade de tocar em Lívia, falando sem parar sobre o processo que teriam audiência naquele dia. Lívia ouvia, mas toda a hora tinha sua atenção desviada pelos gestos que Ana fazia, seu jeito de apertar os lábios quando não estava satisfeita com algo, seu modo de franzir o cenho de preocupação, o desenho que as mãos de dedos longos faziam no ar ao gesticular...Lívia era vidrada naquela mulher e o menor dos seus movimentos era meticulosamente apreciado e sorvido em pequenos goles, saboreado como se faz com vinhos de boa qualidade.

De repente Ana percebeu que falava e Lívia não lhe dava a devida atenção para o caso:

- Lívia, você entendeu o que estou dizendo? Estou te perguntando o que você acha de juntarmos esses documentos ao processo e você fica aí, parada, pensando sabe-se lá em que!!!

Lívia voltou a si e percebeu sua gafe, mas estava um pouco estressada pela noite mal dormida e rebateu com ironia:

- Não sabe mesmo no que estou pensando Ana? Aliás, em QUEM estou pensando?
Será que você não faz a mínima idéia?

Ana ficou desconcertada e nervosa pela abordagem tão direta de Lívia. Não queria começar aquela conversa desse jeito, tão de sobressalto. Precisava de mais tempo.

- Lívia, eu não gostaria que começássemos com esse assunto agora. Podemos deixar pra depois da audiência?

- Podemos fazer tudo o que você quiser, Dra. Ana. Terá que ser assim mesmo, do seu jeito!

- Eu gostaria que você fosse um pouco mais compreensiva e me ajudasse com esse trabalho, depois conversaremos com mais calma.

Mas a própria Ana estava bastante nervosa com aquela situação.

- Sem problemas. Não vou atrapalhar de jeito nenhum. Onde paramos?

E continuaram a estudar a melhor estratégia até chegarem ao Fórum. A Audiência começou a Ana não foi nada bem. A noite mal dormida se fazia sentir na falta de concentração e agilidade de raciocínio. Teve dificuldades em rebater certas considerações e conseguiu apenas arrancar, graças a habilidade do outro causídico, um acordo menos que razoável para o seu cliente, que obviamente não ficou nada satisfeito.
Estava visivelmente irritada consigo mesma e pediu que Lívia a levasse para casa direto. Não queria mais voltar ao escritório naquele dia. Ligou para Márcia e avisou do fiasco e que qualquer problema ligassem para ela.


Chegaram na casa de Ana por volta das 15:00 horas, e ainda não havia ninguém em casa. Cininha tinha saído para sua aula de alfabetização de adultos e após iria buscar Flavinho na escola às 17:00 h. . Não foi um ato pensado de Ana levar Lívia para sua casa naquele momento, em que não havia ninguém por lá. Mas percebeu que era bastante conveniente que assim fosse, para que pudessem conversar e tentar pôr em ordem a confusão de sentimentos que as estava dominando, não permitindo sequer que trabalhassem direito.
Lívia levou Ana para dentro da casa e quando chegaram na sala, Ana pediu:

- Eu não sei você, mas eu estou com fome! Tem pão, frios e suco na geladeira, será que você poderia preparar um sanduíche para nós duas?

- Já volto!

Lívia voltou da cozinha trazendo uma bandeja com sanduíches, suco e bolo que encontrou. Ana estava sentada no confortável sofá da sala de estar e Lívia pôs a bandeja na mesa de centro em frente. Sentou-se ao lado dela, pegou na mão de Ana e a levou pra “ver” o que havia na bandeja. Ambas começaram a comer em silêncio e foi Ana quem o quebrou:

- Eu tinha me esquecido que não haveria ninguém em casa a essa hora. Não lembrei que Cininha começou suas aulas no Centro Cívico. Mas acho que foi bem providencial estarmos sós aqui. Eu gostaria que essa conversa fosse em um lugar neutro, mas acho que precisamos falar logo, sem demora, porque senão nossa convivência vai se tornar muito tensa e difícil.

Ana demonstrava essa tensão em sua voz e também nas mãos, que brincavam com o guardanapo sem parar. Lívia apenas escutava, querendo que ela abordasse diretamente logo o assunto:

- Primeiro eu tenho que te dizer que, independente do que seja daqui pra frente, esses três dias que ficamos em Campos do Jordão foram os melhores que eu já vivi, os mais intensos em matéria de emoção e a realização do que eu acreditava só ter em sonhos...

Tomou fôlego e continuou:

- Você foi a melhor coisa que me aconteceu na vida além do nascimento do meu filho...e tenho a sensação que continuará sendo a melhor coisa sempre...a partir do momento que me dei conta do que sinto por você, não escondi esse sentimento nem um minuto...mas não tenho como renegar a minha vida, minha família, meu filho, minha carreira...não sei o que fazer desse Amor!!! Não podemos vivê-lo com a vida que tenho! Sou casada, tenho um marido e Alberto não merece que eu faça isso com ele! E por outro lado, toda vez que eu abafar esse sentimento, que eu sufocar meu desejo por você, vou morrer um pouquinho a cada dia, vou secar por dentro, até virar um nada! Uma sombra do que eu poderia ter sido!

Ana falava exprimindo em sua voz muita dor. Apertava o peito por sobre a blusa que usava e seu rosto demonstrava o sofrimento que aquele dilema lhe causava. Lívia olhava pra Ana e tinha vontade de aninhá-la em seus braços e cobri-la de beijos para afastar dela aquela nuvem negra de mágoa que lhe cobria os olhos cegos e úmidos de lágrimas. Mas conteve-se, sabia que tinham que ter aquela conversa, tinham que esclarecer como conviveriam dali em diante com aquele sentimento tão forte e tão inconveniente na vida de Ana, muito mais que na dela. Lívia segurou a Mão de Ana e disse:

- Eu tenho poucas certezas na minha vida, Ana. Mas uma delas, martela insistentemente em meu peito e mente há três dias. O Amor que eu sinto por você! Não me pergunte como nem porque te amo. Apenas amo e pronto! Quero estar ao seu lado e o que me dá mais medo é que você não queira mais que eu fique junto de você! Eu sei que seria loucura largar todas as coisas que construiu na vida para viver esse Amor comigo, e acho até que você sofreria tanto com isso depois, que poderia acabar me odiando ao invés de me amar...

Ana apertou forte a mão de Lívia e disse:

- Não diga bobagens...não poderia odiá-la nunca...impossível...

- Mas largar sua família, pôr em risco sua carreira, brigar com as pessoas que você gosta, expor-se a comentários maldosos e jocosos dos outros, iriam lhe trazer um sofrimento tão grande, que você acabaria por perguntar se teria valido à pena arriscar tudo por esse Amor...

Ana estava impressionada com a maturidade de Lívia. Logo ela que normalmente era tão impulsiva e agora estava sendo mais racional que um doutor em matemática!

- Engraçado! Você está dizendo tudo o que EU deveria dizer! Parece que você leu minha mente! Sim, confesso que foi exatamente isso que pensei! Você é tão jovem! Tem tanto ainda o que viver, tantas pessoas a quem amar...não seria justo metê-la numa situação como essas...uma mulher mais velha, casada, com filho...eu seria um entrave para sua vida...você tem tanto ainda para experimentar!

Lívia não concordava com Ana, não era esse o ponto que ela queria chegar! Deu uma risadinha sem graça e falou:

- Porque eu tenho que ter experiências? Aposto como em alguns aspectos tenho muito mais experiência que você Ana...eu já namorei vários homens, já tive trans*s a três onde outras mulheres participaram, já beijei uma infinidade de bocas e nem por isso fui feliz! Já experimentei drogas, já morei sozinha, viajei metade da Europa e Estados Unidos, e nem por isso fui feliz! O grande obstáculo não é o fato de eu ser jovem e não querer mais experiência alguma na minha vida que não seja com você. O problema é a sua vida! É o que você carrega!

Lívia segurou as duas mãos de Ana e as beijou com paixão:

- Por mim eu mudaria da minha casa hoje mesmo para onde você quisesse ir viver comigo. Seria um grande sonho virando realidade! Mas você não poderia deixar a sua vida...ela é completa! Você acha que Alberto aceitaria algo desse tipo sem um bom escândalo nos tribunais? Será que seus clientes continuariam a procurá-la depois disso? Seus amigos ainda continuariam ali? E a família a apoiaria? Seu filho entenderia essa situação tão delicada entre nós? Ana, eu posso estar perdendo você nesse momento, ao fazer você ver todos esses fatos tão claramente...mas são fatos! E nós não podemos ignorá-los! É a mais pura verdade e eu fiquei quase toda a noite em claro pensando nisso! E aposto que você também. Tenho certeza que você concorda comigo!

Ana chorava baixinho, não conseguia conter as lágrimas que teimavam em rolar por aquela face morena e delicada. Pensava que Lívia lhe daria um monte de motivos para ficarem juntas, para superarem os obstáculos e que diria a ela exatamente tudo aquilo que ela estava lhe dizendo. Os papéis haviam se invertido. Ana achava que teria que convencer Lívia de todos os empecilhos que havia entre elas, mas era Lívia quem lhe mostrava isso. Não sabia dizer o por quê, mas isso a magoava! Ela pensou que Lívia fosse querer lutar contra isso, fosse querer convencê-la a superar as dificuldades juntas, mas não! Ela estava ali, na sua frente, mostrando da maneira mais crua possível a realidade da vida de Ana.
Esta disse com mágoa na voz:

- Acho que você pensou em todos os obstáculos que enfrentaríamos, caso decidíssemos por viver esta insanidade! Não me deixou o que falar! Disse tudo o que precisávamos ouvir, não é mesmo?! Você está coberta de razão, Lívia! E depois sou eu quem sou racional demais, hein?!

Retirou bruscamente suas mãos dentre as de Lívia e prosseguiu:

- Pelo que você disse ainda há pouco, tem muita experiência de vida pra sua idade, e acho que essa multiplicidade de aventuras, não deve ser interrompida por conta de um romance absurdo. Alberto foi meu segundo namorado e primeiro e único homem da minha vida. Talvez eu que não tenha muita experiência para comparar e por isso esteja até confundindo sentimentos, achando que estou apaixonada por você só porque tivemos uma boa cama!

Lívia não entendia a súbita reação de raiva de Ana, tampouco aquelas últimas palavras que a machucavam tanto:

- Não tô entendendo, Ana! Estou apenas me antecipando a você e dizendo aquilo que sei que você me diria. É a verdade! São os fatos da sua vida e não podemos fugir deles! Porque faz isso então?! Porque age como se eu fosse culpada de tudo! Você está querendo pôr a culpa na minha pouca idade, que eu não devo atrapalhar a minha vida para ficar com você e na verdade o grande obstáculo é a sua vida! São os seus problemas e não os meus! Eu sou solteira, livre, faço o que quiser da minha vida! Durmo com quem quero, meus Pais me respeitam e mesmo que não gostem muito, não iriam me enjeitar porque estou com uma mulher e não um homem! Me responda uma coisa...você ficaria comigo? Você deixaria sua casa e viria ficar comigo?

Ana levantou-se e fez um longo silêncio. Sabia a resposta. Jamais largaria seu filho com o Pai; não abandonaria Alberto sem uma preparação, sem muita conversa; não arriscaria um escândalo naquele momento que pudesse prejudicar seu trabalho; ainda tinha o desgosto que daria aos Pais, pessoas simples, de bons sentimentos, mas que Ana não sabia como reagiriam a uma situação como aquela.
Ana sabia a resposta, mas essa era a resposta da razão. Ana também tinha consciência da resposta que gritava em seu coração. Se fosse guiada apenas pelos sentimentos, não pensaria duas vezes em pegar Flavinho e ir morar com Lívia num hotel até que pudessem montar uma casa. Era essa sua vontade mais íntima, mais latente...ficar com Lívia sempre, todo o tempo...mas sabia ser algo inviável naquele momento. E ficava muito chateada em saber que Lívia não lutaria por aquele Amor. “Ela parece já ter aceito os entraves da minha vida como insuperáveis e não está demonstrando a menor vontade de tentar lutar contra eles. Ela não me ama! Fui mais uma experiência na vida dela!” Virou-se para Lívia e disse com amargura na voz:

- Você sabe que eu não deixaria meu filho aqui! Não, eu não ficaria com você de uma maneira tão leviana!

Ana sentou-se na cadeira de rodas e afastou-se do local onde estava Lívia, indo para o outro canto da sala um pouco mais distante. Precisava estar um pouco longe daquele perfume, daquela presença que mexia tão intensamente com ela....continuou...

-Acho que o fato de estarmos sozinhas naquele lugar tão mágico, nos aproximou e contribuiu muito para o encantamento que sentimos uma pela outra. Mas ele parece estar se “desconstruindo” com tanta rapidez quanto fez surgir esses sentimentos confusos em nós. Penso que o melhor a fazer agora é ficarmos uns dias sem nos vermos, para pensarmos melhor sobre tudo isso...não me ligue até segunda-feira e depois das 10:00 horas. Preciso colocar a cabeça em ordem e sua presença me confunde muito. Acho que você foi bem racional e eu uma tola em esperar algo diferente de você!

Lívia levantou-se e foi em direção a Ana, precisava estar perto dela pra dizer que não era nada daquilo, que a amava...mas ela a fez estancar com seu comando autoritário:

- Não se aproxime mais de mim, Lívia! Eu não quero que você chegue tão perto! Já disse que estamos apenas nos confundindo. Temos que ser racionais como você acabou de ser e o primeiro passo é nos afastarmos fisicamente o máximo possível!

- Mas Ana, não entendo a sua reação...o que você esperava de mim exatamente? Que eu contasse pra todos o que aconteceu? Que eu falasse com seu marido que estou apaixonada e quero ficar com você? Que colocasse você contra a parede e exigisse uma decisão sua? Foram três dias inesquecíveis, mas apenas três dias! Como medir uma vida, como jogar fora tudo, por três dias? Por mais que eu quisesse isso de você, sei que não me daria! Seria insano demais! E você não é assim!

- É você tem razão! Eu não sou assim! E se por acaso eu fosse acometida de uma loucura e agisse desse jeito, acho que você não mereceria todo esse sacrifício. Afinal não demonstrou nenhum esforço em me querer apesar das dificuldades. Deve ser uma situação muito cômoda pra você né Lívia?! Trepou com a Patroa e sorte sua ela ser casada, pois não criará problemas quando não a quiser mais!

Ana estava descontrolada pela mágoa do que pensava ser descaso de Lívia. E esta não entendia e tentava imaginar como deveria ter agido...

- Me diga Ana, como você quer que eu aja? Diga o que quer e eu farei! Faço qualquer coisa pra que você não me afaste! Quero continuar ao seu lado! Qualquer que seja o preço...

Ana deu um sorriso sarcástico:

- Muito engraçado, Lívia! Não se preocupe com seu emprego! Não costumo misturar as coisas, apesar dessa ser a primeira vez! Você continuará no escritório, só não sei se será como minha Assistente. Posso deixá-la como Assistente dos outros sócios enquanto você não se forma e depois fica como advogada trainée...só o tempo dirá o melhor a ser feito.

Lívia estava inconformada. Fora totalmente mal interpretada em suas intenções e Ana estava querendo afastá-la. Não suportaria ficar sem estar ao lado dela. Mas só em saber que ela não a mandaria embora do escritório já era um grande conforto. O pior mesmo seria ficar longe dela, lá pelo menos a veria todos os dias. Mas ainda havia tempo de tentar fazer Ana continuar com ela como Assistente. Era só não querer se impor na vida dela a força. Teria que se paciente e controlar seus impulsos. Daria a Ana o tempo que ela achasse necessário para resolver suas emoções e não iria impor sua presença de maneira nenhuma, pois isso só a afastaria ainda mais. “Eu a amo tanto que prefiro tê-la nos meus sonhos, mas próxima de mim, que não vê-la mais. Será feito como ela quiser!” Lívia falou com a voz carregada de melancolia:

-Desculpe se te decepcionei! Acho que quis facilitar as coisas pra você e acabei estragando tudo. Como já disse antes, jamais atrapalharia sua vida ou faria algo que pudesse prejudicá-la.. Eu só peço que pense bem durante o final de semana, e não me mande embora do escritório. Acho que podemos resolver isso deixando o tempo passar, sem falarmos mais nesse assunto. Prometo que serei extremamente profissional e evitarei conversas sobre nossas vidas pessoais...quero continuar sendo sua luz, Ana...pelo menos no que diz respeito ao trabalho.

Lívia segurou as lágrimas enquanto falava e tentou não demonstrar o quanto estava destroçada por dentro. Ana não olhava em direção a Lívia, mantinha a cabeça baixa, mexendo com as mãos sem parar, como sempre fazia quando ficava nervosa...parecia nem estar ouvindo Lívia. Mas a verdade é que cada palavra entrava nela como uma agulha fina, espetando e fazendo doer agudamente seu peito. Sentiu uma vontade incontrolável de abraçar Lívia e dizer que se danasse todo mundo, que o que mais queria era estar com ela, era amá-la sem medo de mostrar ao mundo, era se entregar aquele Amor louco, pois só assim poderia ser feliz de verdade! Mas pensou em seu filho e no medo que tinha de ter sido apenas mais uma aventura na vida de Lívia, somente mais uma experiência diferente. “Ela diz que também me ama, que eu não senti sozinha, mas como ter certeza se ela é tão volúvel?! Logo vai estar com outro cara ao lado, tendo com ela todo aquele prazer que ela me deu! Droga! Não vou conseguir conviver com isso! Vou odiar saber que ela tem alguém! Eu queria ela só pra mim! Eu acho que largaria tudo por você sim, Lívia! Poderia não ser agora, mas ao longo do tempo, inevitavelmente...”
Nesse momento seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho de chave abrindo a porta e Alberto entrou cumprimentando a mulher:

- Olá meu Amor! Sentiu minha falta? Estava com saudades de você!

Passou por Lívia dando um pequeno aceno de cabeça, foi até onde estava Ana e deu-lhe um beijo na boca. Lívia virou o rosto e saiu apressada da casa de Ana. “Ver essa idiota beijando a Ana é demais! Eu queria socar sua boca e quebrar seus dentes pra que ele não a beijasse tão cedo! Eu tenho vontade de quebrar as mãos dele só em saber que elas tocam a minha Ana! Eu tenho que sumir daqui! Quero sumir do mundo!!!”

Saiu correndo e foi na direção do Rio que corta a cidade. Precisava ver a água, só o Rio poderia acalmá-la um pouco!

Enquanto isso, na casa de Ana:

- Lívia você está aí? Já foi? Ela já se foi, Alberto?

Ana estava com a voz angustiada e o marido quis saber:

- Ela já foi! Saiu em disparada daqui, que nem uma louca! O que aconteceu? Vocês estavam brigando?

Ana recompôs-se:

- Não, estávamos apenas discutindo sobre uma causa e não pensávamos da mesma maneira. É só!

- Era só o que faltava! A estagiária, que nem se formou ainda, discordando de uma advogada renomada como você! Ela não se enxerga mesmo, hein?! Bem que eu acho essa garota muito arrogante! Dá um “pé na bunda” dela! Aposto como vai ter fila de gente querendo o lugar dela, e melhores ainda que essa metida!

As palavras de Alberto irritavam ainda mais Ana e ela cortou a conversa de maneira brusca:

- Isso não é assunto seu, Alberto!

-Calma, só quero abrir seus olhos com relação a essa garota! Não se pode falar nada dela que você defende com garras afiadas! Acho que você deposita confiança demais nela!

- Eu não vou discutir isso com você! Assuntos do meu Escritório eu resolvo por lá mesmo! Ah, tem um detalhe novo. Como não posso subir escada, estou dormindo no quarto aqui de baixo. Eu preferia que você ficasse lá em cima mesmo e não viesse para cá, pois meu pé apesar de estar imobilizado, ainda dói e tenho medo que com seu mau dormir, você me machuque.

Alberto ficou intrigado com o mau humor da mulher e o modo como ela o tratava depois de quatro dias fora:

- Isso quer dizer que não teremos sex* até você tirar esta porcaria?

- Isso quer dizer que não teremos sex* por enquanto, pois estou com dores ainda! Quando estiver melhor eu falo! Não esperava que você chegasse tão cedo, está com fome?

Alberto não gostou nem um pouco da atitude da mulher em relação a ele. Parecia que tinha ficado irritada com sua volta. “ Pô, não fiquei mais em São Paulo porque acabei cedo com meus compromissos e achei melhor vir passar o final de semana em casa a cair na esbórnia na noite Paulistana. Fiquei com medo das tentações! E quando chego em casa, encontro uma mulher com T.P.M., me tratando mal e ainda por cima sem sex*! Era só o que faltava! Melhor se tivesse ficado o fim de semana por lá. Dava uma desculpa qualquer e podia até ter tirado uma casquinha daquela secretária gostosa do Diretor de Marketing. Ela me deu muito mole! Acho que fiz um mau negócio!”

Comeu e levou Ana até o quarto, pois esta disse ter voltado mais cedo pra casa por estar com dor no pé machucado e na cabeça e queria muito descansar. Sozinha!
Alberto acatou seu pedido e foi para o quarto tomar um banho e descansar também. Estava cansado da viagem e a pequena discussão com Ana o deixava ainda mais estressado. “Daqui a pouco chegaria também o Flavinho e aí é que meu sossego vai todo embora!”

Eram três vidas, cada qual com seus próprios dilemas pessoais. Entrelaçavam-se e se distanciavam na mesma proporção...as amarras eram evidentes, um casal com laços fortes de convivência e família. O outro, frágil, pequeno, escuso, cuja ligação era apenas a do sentimento profundo, nada mais os unia além desse sentimento, que nem mesmo entendiam. O que tornava esse triângulo peculiar era que o vértice principal era uma mulher e os outros dois vértices eram um homem e outra mulher! Estava armada a confusão!




Fim do capítulo


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Comentários para 14 - Capítulo 14:
Lea
Lea

Em: 27/05/2022

A Ana queria o que,que a Lívia rastejasse aos seus pés para que no final fosse exatamente isso que iria sair pela boca  dela!

A Lívia fez o certo.

E o Alberto,que grande homem, preocupado só com o fato de quê não terá sexo com a esposa que ele adora trair. Sabe-se a saúde dela, né. Mas nojo ainda sinto dele pela forma que pensa no filho,como se ele fosse um problema.

 

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cidinhamanu
cidinhamanu

Em: 16/12/2017

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