LUZ por Marcya Peres
Capítulo 10
DEPOIS...
Um facho de Luz invadiu o pequeno chalé. A lareira há muito já não tinha mais brasas. Pela fresta das cortinas que cobriam a porta da varanda, se podia ver que seria um belo dia frio de sol.
Estavam acordadas, mas não moviam um músculo sequer. Ana dormira entre os braços de Lívia e a impressão que tinha era que aquele lugar tinha sido sempre seu. – “Foi o sono mais gostoso que já tive. Dormi direto, sem pensar em nada, só sentindo esse torpor no corpo e na mente. Acho que estava anestesiada de prazer. E agora? Como encará-la? O que digo?” – Ana pela primeira vez na vida, achava bom não enxergar. Parecia mais fácil não ter que olhá-la diretamente nos olhos. –“Será que é mais fácil? Como saber?”. Quem olhasse para Lívia de olhos fechados, parecendo dormir tão candidamente, não imaginaria a torrente de pensamentos que a consumia. – “Não quero sair daqui! Queria ficar assim com ela em meus braços todo o tempo que me fosse possível! Pior é não ter o que dizer e ao mesmo tempo queria saber tantas coisas, que ela me dissesse tudo que lhe vai à mente. Que faço agora?”
Talvez tenham ficado desse jeito por um bom tempo...estáticas, mas ligadíssimas no todo em volta. Podiam sentir cada milímetro do corpo da outra, até os pequenos tremores involuntários eram captados, mas quem ousaria quebrar aquele momento primeiro? E coube a Ana mexer-se primeiro, a fim de tirá-las daquela deliciosa agonia.
Ana virou-se de barriga pra cima e continuou de olhos fechados. Lívia olhava pra ela e tentava adivinhar o que ela estaria pensando. “O que dizer numa situação dessa? Nunca fiquei constrangida depois de uma trans*. Mas também não foi uma trans* qualquer. Foi o melhor Amor que já fiz com alguém. O verdadeiro Amor realizado fisicamente. O que dizer depois disso?”
Ana por sua vez pensava: “Nada. Não há nada a dizer. Foi tudo tão mágico, tão único, que as palavras soariam vazias diante do que aconteceu aqui nesta cama. Não quero ter que falar, mas tenho que levantar e voltar pro mundo real. Isso aqui foi tudo um sonho. Tenho que agir com naturalidade. Contenha-se Ana!” – Respirou fundo e antes que desse tempo de Lívia tocá-la, ela deixou a cama.
Lívia ficou com a mão parada no ar. Exatamente na hora em que iria tocar Ana para dar-lhe um beijo de “bom dia”. Ana levantou-se e foi tateando em direção ao banheiro e lá demorou o que para Lívia pareceu uma eternidade. Quando saiu do banheiro disse com ar de naturalidade:
- Bom dia! Espero que já esteja acordada e com fome para tomarmos o café da manhã desse Paraíso que dizem ser delicioso! Que horas são?
Lívia demorou um pouco até entender que Ana tentava demonstrar naturalidade e parecia querer fingir que nada de importante, de fundamental, tinha acontecido naquele quarto. Não sabia o que fazer: entrava no jogo de Ana ou acabava com aquele fingimento e a agarrava e faziam amor novamente. Isso sim era o que Lívia queria e achava que iriam fazer quando acordassem. Ficou decepcionada, mas também não sabia como agir com Ana à partir de agora. Além do mais, Ana era sua Empregadora, sua Chefe. _ “E se ela resolvesse demiti-la pela audácia de importuná-la?! Caramba, mas ela fez Amor comigo nesta cama e aposto que não se entrega assim a qualquer pessoa! Foi comigo! Eu não posso ter sentido tudo aquilo sozinha! Ou posso?!”
Lívia estava muito confusa e decidiu por ora não confrontar Ana. Não estava preparada pra isso e talvez as coisas acontecessem naturalmente mais tarde, ou quem sabe Ana tomaria a iniciativa de tocarem no assunto.
- São dez pras dez. Me apronto num minuto.
Disse Lívia com uma voz quase sumindo.
Ana não perdeu esse detalhe. Não perdia nada, estava muito atenta a tudo a sua volta. Principalmente à voz de Lívia. Sentiu que ela ficara triste com sua indiferença, na verdade com seu fingimento de que nada acontecera.
-“Mas o que fazer? Pela primeira vez em muitos anos, não sei o que fazer. Estou totalmente confusa! Como fui permitir que isso acontecesse?! Me deixei levar pelo desejo, pela sensualidade dela...fiquei totalmente envolvida, seduzida...ela é linda! Não a vejo, mas sinto o quanto ela é linda em tudo...como pessoa, como mulher, cheirosa, sexy... e me realizou de um jeito que homem algum fez...nunca senti nada além de amizade por mulheres. O que houve comigo? De onde veio tanto desejo? Que loucura!”
Lívia saiu do banheiro já vestida e caminharam-se para o salão de refeições. Lívia não conseguia articular uma palavra. Tinha medo de dizer bobagem, de parecer piegas ou ridícula. Não tinha cara de iniciar a conversa e começar a falar sobre o que aconteceu. -“Não, não serei eu a iniciar esta conversa!” Começaram a comer em silêncio, até que ele tornou-se pesado demais e Ana quebrou o gelo.
- Ainda bem que a Audiência será só as 14:00 h. . Gostaria que você relesse pra mim algumas partes do processo e podemos discutir sobre a melhor estratégia. Quero ganhar esta causa de qualquer jeito. Além disso, será sua primeira comissão, lembra?! Quero que você esteja bem preparada e disposta, pra que nossos argumentos sejam imbatíveis.
- Eu gostaria de dar uma volta pela cidade. Preciso arejar minha mente um pouco. Não sei se estou preparada pra assumir uma responsabilidade como esta. Gostaria de não fazer explanações orais por enquanto. Não sinto segurança pra isso ainda. Você irá falar não é?!
Lívia estava apreensiva, e aquela tristeza que Ana percebera antes na voz dela, lá estava novamente, sem disfarce.
- Se você ainda não está totalmente segura, fique tranqüila que falarei na Audiência. Não quero pressioná-la de jeito nenhum. Sua comissão será a mesma. Você não será jogada às feras enquanto não se sentir completamente pronta, ok?!
Aquilo soava meio que irônico para Lívia...ela já havia sido jogada “à fera”...e fora deliciosamente devorada por ela! Só não entendia porque ela fingia que nada havia acontecido. Aquilo a incomodava muito e a deixava muito triste e ansiosa. –“Queria tanto que Ana tocasse no assunto. Que lhe dissesse o que seria à partir de agora...”
- Só preciso que você me repasse alguns detalhes que não podem ser esquecidos neste processo. Logo que acabarmos, iremos pra cidade um pouco mais cedo e você poderá dar uma volta enquanto fico em algum dos Cafés te esperando. Não quero atrapalhar seu Passeio.
- Você não me atrapalha em nada, Ana. Sabe disso. Sabe o prazer que tenho em ser seus olhos.
Ana sentiu o coração disparar. – “Porque ela tinha que me dizer isso com esse tom de voz! Droga! Como vou manter o controle desse jeito?!”
- Bem, mocinha. Já acabou? Temos muito a fazer até irmos pra cidade. Vamos trabalhar?
Lívia levantou-se e Ana segurou em seu braço, com sempre fazia. Só que dessa vez o toque parecia diferente. Era energia pura! Como se todos os conflitos e sentimentos que Ana sentia estivessem em confronto com os de Lívia. O toque de uma na outra, transmitia não só desejo, mas também tensão, medo, ansiedade. Era uma mistura que parecia querer explodir a qualquer momento.
Seguiram para o quarto e começaram a trabalhar. Uma hora passou tão rápido que quando deram conta, já deviam ir para a cidade. Como não tinham roupa pra trocar, já estavam praticamente prontas e foram pra Campos do Jordão. Chegaram na cidade quase meio dia e Ana decidiu ficar em um Café enquanto Lívia desbravava o pequeno centro da cidade. Andou de teleférico, comprou chocolates e visitou várias lojas de roupas, onde comprou dois pulôveres, um pra ela, outro pra Ana. Mas não o deu. –“ Só vou dá-lo quando voltarmos ao chalé. Quero ver se ela toca no assunto, quando eu quebrar seu gelo com esse presente.”
- Fiz umas comprinhas pela cidade. Chocolates e uma blusa de frio. Vou vesti-la assim que voltarmos pra pousada. Quero voltar pra casa de roupa nova!
Lívia parecia mais animada. E Ana notou a diferença.
- Estou vendo que o passeio te fez muito bem. Já está mais disposta. Tomara que essa energia se canalize pra nossa Audiência. Temos só quinze minutos. Vamos?
Foram para o Fórum e o Pregão foi feito na hora prevista. O Juiz não queria falhar com as partes outra vez. Lívia havia feito várias anotações pra dizer no ouvido de Ana e lembrá-la de detalhes importantes do caso. Como sempre acontecia, na hora da explanação oral, Ana Mendes deu seu show à parte e conquistou Juiz e Patrono da parte contrária para um bom acordo, que foi selado e decidido. Bom para os dois lados. Todos ficavam cativados com o jeito firme e ao mesmo tempo suave de Ana. Ela não perdia a delicadeza e isso não abalava sua perseverança em conseguir o que queria, pelo contrário, só trazia mais magnetismo pra sua figura.
Lívia olhava fascinada pra aquela mulher e ao mesmo tempo relembrava a noite inesquecível que tivera com ela. - “Parecia tão distante agora, que tudo havia sido um sonho, dos mais incríveis, diga-se de passagem, mas um sonho louco. Só que aconteceu! Ela esteve comigo a noite toda, foi minha, gozou comigo, e isso foi realidade!” – Lívia estava decidida a levar Ana a começar aquela conversa. Tinham que falar sobre o que aconteceu, sobre o que viria agora...será que queriam saber o que viria agora?
Ana estava feliz! O acordo era bom pra ambos os lados e nada melhor que um bom acordo. Seu cliente ficaria muito satisfeito e o Escritório teria um bom dinheiro injetado. Estava mesmo precisando fazer um “Caixa” pra qualquer eventualidade. Além do mais, queria reformar o ambiente e torná-lo mais “clean”. Como não enxergava, não tinha noção de como os móveis escuros deixavam o Escritório “pesadão”, como Lívia e Márcia costumavam dizer. Decidira que tornaria o lugar bem arejado e claro, com a ajuda de Lívia, que parecia ter um ótimo gosto.
- Estou morrendo de fome! E você? – Ana perguntou a Lívia, mas antes que esta respondesse, foram interrompidas:
- Eu também estou faminto! Será que as jovens se incomodariam de ter minha companhia para o almoço?
Ana reconheceu a voz do advogado da parte contrária a sua. Parece que ele também havia feito um acordo razoável para o seu cliente e estava satisfeito com o curso da ação. – “ Qual é mesmo o nome dele?”
- Oi, Dr. Luiz Carlos. Conhece algum bom restaurante por aqui que sirva uma refeição bem generosa? Estamos morrendo de fome!
Lívia salvou Ana de cometer uma gafe e ter que perguntar qual o nome do tal advogado. “Pela voz, parecia estar na casa dos 40 anos.”
- Aqui o que não faltam são bons restaurantes. Nesta terra tudo é belo e delicioso. Vamos que tenho um lugar ótimo, que irão adorar!
Disse isso pegando Ana pelo braço. Ana detestava esse tipo de gesto. Entendia o fato das pessoas que não estavam acostumadas com ela agirem assim, mas não evitava ficar irritada com isso. Simplesmente tirava seu rumo. Não sabia onde pisar, pra onde ir, ficava sem direção.
Lívia tomou a frente e fez Ana segurar seu braço. Ela sabia que Ana estava incomodada com o jeito do advogado.
O restaurante era realmente belo, no estilo suíço, com mesas e cadeiras confortáveis e um ambiente bem acolhedor. Lívia sentou Ana e acomodou-se ao seu lado. O advogado ficou de frente pras duas. O Homem tagarelava sem parar, parecia uma buzina disparada e Lívia percebeu que Ana não estava satisfeita com o acompanhante extra. Ela ficava a maior parte do tempo quieta, dando risinhos amarelos de vez em quando. Não queria ser antipática. Lívia por sua vez até achava o Homem engraçado de vez em quando. Ele atropelava tudo e devia estar muito agradecido a Ana por não tê-lo esmagado na Audiência, pois com sua retórica enlouquecida, teria posto tudo a perder, não fosse a sensatez de Ana.
Ele devia ter uns 38/40 anos, era alto, moreno, com cabelos já ficando ralos e dentes muito bem cuidados. Não era feio, mas tinha cara de advogado meio “Nerd”.
A sorte de todos é que a comida do local era maravilhosa. E isso deixou Ana bem mais solta. Todos conversaram bastante, riram, tomaram vinho e pediram sobremesas. Foi quando Ana percebeu que o Advogado estava muito voltado pra Lívia. Ele perguntava muito sobre a vida dela e estava bastante interessado no que ela dizia. Ria mais alto dos comentários que ela fazia e usava um tom de voz mais grave cada vez que se dirigia a ela.
Ana emudeceu. Notou que Lívia dava atenção aquele Homem estranho e isso a irritava demais. – “Ela está dando corda pra ele. Qual é a dela? Será que tá gostando desse panaca? Será que ele é bonito? Não consigo sentir na voz dela se ela está interessada ou não!” – Ana estava muito incomodada com aquela situação. Não era ciumenta. Nunca fora. Alberto sempre teve liberdade de fazer o que quisesse. Mas aquele sujeito assediando Lívia na sua frente, era muito irritante. E mais chato ainda era ouvir Lívia dando papo pra aquele sujeito. Ana decidiu acabar com o tal almoço e de quebra com aquele flertezinho idiota que protagonizavam na sua frente. – “Vou acabar logo com essa palhaçada. Ela que pegue o telefone dele e ligue depois se quiser. Esse babaca!” – nisso, ouviu:
- Adoraria ter o seu cartão, Lívia. Não quero perder o contato com um escritório tão bom como o de vocês. – E virando-se para Ana.
- Foi uma honra ser seu ex-adversus, Dra. Ana Mendes. A Sra. é uma lição de Direito e postura dentro de uma Audiência. Advogo há treze anos, mas hoje aprendi um pouco mais sobre como exercer bem minha profissão. E acho que nós dois conseguimos bons resultados para os nossos clientes. Mas o que mais invejo da Senhora é ter Lívia como Assistente! Sonho com uma Assistente tão competente assim ao meu lado, e pra melhorar, ainda por cima é linda! Que sortuda Dra. Ana! Onde estava escondido este tesouro?
Ana estava enjoada com toda aquela “babação” em cima dela e principalmente de Lívia. Não respondeu, apenas pensou: – “ Que cara mais chato! Um “Mala” mesmo. Se Lívia estiver interessada, ela que dê o cartão pra ele. Quero ir embora logo desse lugar!”
Lívia percebeu no ato que Ana estava irritada e queria ir embora. Fez sinal para o Garçon e pediu a conta, dizendo para o Dr. Luiz Carlos:
- Obrigada Doutor, agradeço por mim e pelo escritório. Mas a Dra. Ana deve estar muito cansada, pois não dormimos muito bem esta noite. Vamos voltar à pousada pra descansar um pouco antes de pegarmos a estrada de volta, será um longo caminho. Quer mais alguma coisa Dra. Ana?
A voz de Lívia estava suave e gentil. Ana achou que soava um pouco irônica, doce demais para o momento.
- Sim, estou cansada e quero voltar logo pra casa. Obrigada pelo almoço Doutor e tomara que não tenhamos que nos confrontar novamente. Boa sorte!
Ana estava seca e demonstrava tédio. Mas o advogado nem percebeu, estava tão encantado com Lívia que não percebeu o mau humor de Ana.
- Aqui está o meu cartão, Lívia. Espero que me ligue, não apenas para assuntos profissionais.
- Obrigada, Dr. Luiz Carlos, mas temos que ir mesmo. Também estou cansada. Até a próxima.
Lívia esticou a mão e ele a beijou como um cavalheiro. Fez o mesmo com a mão de Ana, que quase a enxugou na blusa. Lívia teve vontade de rir da cena.
Saíram do restaurante e foram para o carro, a fim de voltarem para a pousada. Ana estava muda e Lívia sabia que ela estava aborrecida com algo. “Será que é porque ele flertou comigo? Claro que ela notou o interesse dele por mim. Mas será que ela está com ciúmes? Ah, eu queria que fosse verdade, que ela estivesse com ciúmes. Vou provocá-la um pouco pra ver...”
- Interessante esse Dr. Luiz Carlos, não acha? Engraçado, divertido, foi uma boa companhia pro almoço.
Ana não respondeu de pronto, depois de alguns segundos disse:
- “ O que é de gosto, arregala os olhos”. Se você gostou, faça bom proveito. Eu achei ele um chato. Que cara mais “mala”, não parava de falar um minuto sequer. Não sei como conseguiu travar um diálogo com ele. Comigo foi só monólogo!
- Hahahahaha! Isso é verdade, ele falava sem parar. Mas era divertido. Além disso, não é um cara feio, é até charmoso! Meio coroa pra mim, mas tem um “Q” de interessante!
- Você costuma flertar com outros homens quando está longe do seu namorado, ou vocês têm uma relação aberta e faz na frente dele mesmo?
Ana não conseguia mais esconder sua irritação e sua voz ficou alterada pelo ciúme. Lívia por sua vez, estava calma e no íntimo feliz com o descontrole de Ana. – “Consegui tocá-la! Quebrar o muro que ela levantou! Tenho que aproveitar isso!”
- Não Dra. Ana! Eu não sou leviana como a Senhora está pensando! Não estou mais namorando Caio. Apenas saímos de vez em quando, mas ele sabe que ficaremos só nisso.
- Só nisso o quê? Sexo? Nossa, então o negócio é pior do que eu imaginava. Você terminou o namoro pra ficar mais à vontade e trepar por aí com quem quiser. Enquanto isso o pobre do Caio fica atrás de você e é usado vez ou outra quando você não encontra sex* melhor! Muito nobre da sua parte, mocinha! Nobilíssimo!!!
Ana estava realmente alterada. Tinha vontade de gritar, de apertar os braços de Lívia com força e fazê-la ver o quanto era volúvel, fácil.
- Eu não vou discutir com você o meu comportamento com meu ex-namorado ou outra pessoa qualquer. Não é porque me conhece bem, que pode se achar no direito de julgar o meu caráter e me ofender. Sou jovem, estou conhecendo o mundo, a vida, posso flertar com quem quiser; não posso ser taxada de leviana por ter uma conversa com alguém. Aliás, nem flertei com ele. Ele não é meu tipo. Apenas rimos um pouco juntos, coisa que a Doutora deveria ter feito conosco, ao invés de remoer ciúmes tolos.
- Ciúmes?! Você deve estar avariando! Porque raios eu deveria ter ciúmes de uma situação como aquela? E ciúmes de quem?
Nesse instante, Lívia estacionou o carro em frente ao chalé e desceu dirigindo-se para o lado de Ana. Abriu a porta e segurou-a pelos dois braços, quase colando seu corpo ao dela e dizendo bem junto àquela boca que passara todo o dia cobiçando:
- De mim, Dra. Ana! Ciúmes de mim! Está com medo de perder sua Assistente pra outro advogado. Não tenha receio disso. Só a deixarei quando a Senhora não me quiser mais por perto. Até lá, serei seu carma eterno.
Ana baixou o rosto. Aquele hálito tão perto da sua boca a deixava tonta de desejo. Lembrava bem o gosto daquela boca. Vacilante, pediu que Lívia a levasse para o quarto, pois queria descansar um pouco antes de pegarem a estrada de volta.
Lívia estava satisfeita com o efeito que provocara. Percebeu a confusão que causou e aquele descontrole significava que pelo menos dois sentimentos Ana tinha por ela: o de posse e o tesão, e isso já era alguma coisa. – “ Melhor isso que nada. Ela pelo menos não é indiferente a mim. Eu não senti sozinha tudo aquilo ontem. Foi forte pra ela também. Ela estava fingindo que não foi importante. Ela também sente...eu adoro essa mulher! Tô louca por ela!”
Entraram no chalé e Ana quis tomar um banho pra relaxar. Lívia ia preparar a banheira, quando Ana disse que preferia uma chuveirada rápida.
Quando voltou ao quarto, tocava no rádio uma música bem suave. O cheiro de Lívia estava no ar e ela sabia exatamente onde Lívia estava somente pelo seu odor cítrico. Lívia passou por Ana, também queria lavar-se, e sussurrou ao seu ouvido:
- Volto já!
Quando Lívia voltou para o quarto, Ana estava na varanda, deitada na rede, de olhos fechados e parecia estar em total comunhão com aquela vista maravilhosa das montanhas e o Pôr-do-sol ao fundo. O coração de Lívia disparou com aquela visão. A respiração ficou suspensa por alguns segundos e tudo parecia bem pequeno ante aquele belo quadro. Ana percebeu a aproximação da outra e abriu os olhos ajeitando-se na rede. Lívia deitou-se no lado oposto da rede e disse:
- Se pudesse ver o que estou vendo, com certeza acharia todo o resto menor. O sol está se pondo por trás das montanhas, o verde das encostas é escuro, denso, parece trazer a noite. Você sente o cheiro dele? O cheiro do verde? Sabe que a cada hora do dia ele tem um cheiro diferente? O verde e seus múltiplos cheiros.
Ana estava muda. Não dizia nada e apenas tentava sentir o ambiente, seus sons, seus cheiros, sua tensão. Depois de um longo silêncio, disse:
- É o seu cheiro. Você cheira como o verde. Cada hora do dia tem uma intensidade diferente, mas é sempre cítrico, verde.
Nessa hora, Lívia mudou de lado e deitou-se junto de Ana. Esta deu um pulo da rede e já ia saindo, quando Lívia a segurou e fê-la cair junto a si. Ana tremia involuntariamente e Lívia tinha o coração a bater quase que na boca.
- Não vá, Ana. Não me deixe nessa agonia! Não podemos ir agora! Quero ouvir de você...diga pra mim...diga...
Ana estava muito nervosa, não conseguia nem pensar direito, que diria articular palavras coerentemente:
- Di-dizer o que? Do que você está falando?
- De nós Ana...do que aconteceu aqui neste quarto ontem a noite...do que vai ser agora...eu jurei pra mim mesma o dia inteiro hoje, que não iria começar esta conversa, mas você só faz fugir! Diz pra mim, diz...e agora?
A voz de Lívia era agoniada, sentida. Ana não conseguia falar. Estava tudo preso na sua garganta...o choro, o grito, o ciúme, o desejo...nada lhe vinha à mente, parecia estar entorpecida pelo toque de Lívia, pela sua proximidade, pela sua força...queria apenas beijá-la...tê-la como ontem...saciar sua vontade mais uma vez...depois...sei lá...não queria pensar no depois!
Puxou Lívia pelos cabelos e a beijou com força! Era aquele desejo represado o dia inteiro saindo de sua boca. A língua era atrevida, audaz, queria entrar e pegar pra si todo o gosto de Lívia, queria captar-lhe todo o sentimento. Mordeu os lábios de Lívia quando um lampejo de lembrança a levou até o restaurante e àquele almoço fatídico. Sentiu raiva e mordeu-lhe o rosto, o pescoço, o queixo. Agarrava os cabelos de Lívia e quase a machucava, queria puni-la por ter se sentido tão tola, tão ridícula de ciúmes.
Lívia deixava-se punir. Era uma deliciosa penitência aquela. Ter aquela mulher lhe desejando novamente, com tanta voracidade, tanto fervor. Ela lhe machucava um pouco, arranhava seus braços, agarrava seus cabelos, a mordia pelo rosto, pescoço, ombro, colo...arrancou sua blusa e passou a sugar seus biquinhos com sofreguidão. Ch*pava seus seios como se dependesse daquilo pra não naufragar. Puxou-lhe a saia, arrancou suas meias, rasgando-as e junto trouxe a calcinha. Cheirou-a e lambeu seu fundo pra ter uma prévia do gosto que sentiria a seguir. Fez Lívia deitar na rede com as pernas bem abertas, totalmente à mostra pra ela. Ana não via, mas sentia o odor de Lívia como ninguém, “via” com seus dedos cada pequeno detalhe do relevo do corpo de Lívia, o contorno, suas curvas, os lugares que mais davam prazer quando tocados. Começou a beijar-lhe os pés, deslizava os lábios e a língua na panturrilha, subindo até as coxas e se detendo por dentro delas...com as mãos arranhava sua bunda e a trazia mais pra si. Quando Lívia sentiu aquela língua tocá-la no seu lugar mais íntimo, não resistiu mais e soltou um gemido alto e lânguido. Ana a sugava, passava sua língua pra cima e pra baixo, em toda a extensão de seu sex*, enfiav*-se dentro dela e a penetrava como se quisesse se fundir a ela...ch*pou, lambeu, mordiscou...e tirou de Lívia um grito de gozo tão forte que fez tremer-lhe todo o corpo.
Lívia agarrava a cabeça de Ana e rebol*va em sua boca pra tirar o máximo prazer daquele momento delicioso. Ana subiu sua boca pelo tronco, seios e pescoço de Lívia, até alcançar novamente sua boca e por lá ficou, dividindo com ela o gosto do gozo que acabara de sorver.
Lívia não queria largar aquela boca e beijando-a começou a tirar as roupas de Ana, que ainda estava vestida. Deixou-a nua e deitou-a na rede para que o tom avermelhado do Sol se pondo, colorisse aquele corpo moreno, lindamente delineado, de seios fartos e contorno generoso, que Lívia tanto queria. Beijou cada milímetro daquelas formas tão desejadas e enquanto a beijava, sem querer, saía de sua boca o quanto a queria pra si, o quanto a achava linda. Ana gemia e contorcia o corpo conforme seu prazer. Sentiu o mesmo gozo de Lívia, também foi sugada com vontade e entregou-se totalmente àquela boca, sem reserva alguma, sem inibições, completamente entregue àquela mulher que lhe tirava o sono todas as noites, que a fazia perder o controle.
Lívia sentou Ana na rede com as pernas abertas e encaixou-se entre elas para que seus sex*s se encontrassem...elas se beijavam como se nunca fossem se largar, como se bebessem a água de um oásis...os sex*s encharcados se esfregavam com tanta paixão que a sintonia era perfeita...sabiam exatamente aonde tocar e quando aumentar o ritmo...o tesão exalava por todos os poros e deixava seu cheiro no ar...não queriam goz*r logo, mas como controlar a voracidade de seus corpos....eram eles quem mandavam agora....dançavam numa mesma cadência e então...se largaram ao prazer...goz*ram quase que simultaneamente...tremiam, suavam, gemiam, se arranhavam, se lambiam, se beijavam, agarravam-se aos cabelos uma da outra e se entregavam àquelas ondas que vinham e tomavam-lhes todo o ser.
Os sex*s pulsavam. Os corações estavam em disparada. Os peitos arfavam do delicioso esforço físico. Aquietaram-se. Lívia deitada no peito de Ana, que acarinhava suas costas. Mais uma vez nada era dito. Dizer o que? Não era preciso! Não queriam! Naquele momento, bastava sentir uma a outra.
Fim do capítulo
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