• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • LUZ
  • Capítulo 8

Info

Membros ativos: 9525
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,492
Palavras: 51,967,639
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Azra

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Legado de Metal e Sangue
    Legado de Metal e Sangue
    Por mtttm
  • Entre nos - Sussurros de magia
    Entre nos - Sussurros de magia
    Por anifahell

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Broken Strings
    Broken Strings
    Por Lis Selwyn
  • Mônica e Thayná em Reencontro
    Mônica e Thayná em Reencontro
    Por May Poetisa

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

LUZ por Marcya Peres

Ver comentários: 1

Ver lista de capítulos

Palavras: 4539
Acessos: 6096   |  Postado em: 13/12/2017

Capítulo 8

AS MONTANHAS


Quando Ana levantou-se na 2ª feira, Alberto já havia saído e lembrou-se, então, que ele só voltaria na 6ª feira de São Paulo. Não sabia explicar porque, mas sentia um certo alívio com a ausência do marido naquela semana. Era como se pudesse sentir o olhar dele a invadindo e isso a perturbaria ainda mais nos seus conflitos internos. Aqueles sentimentos novos e tão estranhos martelavam assiduamente em sua cabeça e não precisava naquele momento da inquisição silenciosa do olhar de Alberto sobre si, mesmo não podendo vê-lo.


Ana arrumou-se e foi esperar Lívia buscá-la, no dia seguinte teriam uma pequena viagem a fazer para uma cidade vizinha, e havia muito trabalho pela frente durante todo o dia para aprontar as petições e a documentação necessária para a Audiência.

Lívia chegou e quando Ana tocou em seu braço para caminharem em direção ao carro, notou algo diferente...Ana não se voltou em direção a Lívia como sempre fazia com aquele sorriso alegre e o toque meio que aleatório...havia uma tensão qualquer, ela estava mais séria que de costume, baixou os olhos quando Lívia se aproximou e pegou em seu braço com mãos firmes e mais intensamente que o normal. Ana estava diferente, um novo clima havia se instalado e Lívia não conseguia perceber o que exatamente. Mas sentiu seu coração bater mais fora do ritmo, ficou meio apressado, como que fugindo daquilo que ela estava sentindo com aquele toque tão firme que chegava a doer um pouco. Quando Lívia sentou Ana no banco do carona, ela segurou seu braço e disse com a voz meio entrecortada:

- Eu gosto muito de trabalhar com você, Lívia. Adorei nossa corrida e quero muito que vire uma gostosa rotina também. Que nossos problemas pessoais nunca venham a interferir ou estragar nosso companheirismo, tá bom?!

Lívia acho estranho o comentário e a insegurança que Ana parecia estar sentindo, era como se ela tivesse medo que Lívia pudesse ir embora por algum motivo, como se ela fosse correr dali...

- Eu também adoro os momentos que passamos juntas, seja no trabalho, no lazer, o que for...por que essa tensão? Não pretendo fazer como Janine. Não vou me casar tão cedo! Talvez nunca!

Bateu a porta e tomou a direção do automóvel. Ana foi calada e assim permaneceu por todo o dia. Era como se estivesse muito concentrada com seus próprios pensamentos. Lívia transmitiu a Ana os dados do processo que iriam ter Audiência no dia seguinte e as petições que seriam atravessadas nele, os cálculos feitos pelo contador, a contestação da parte contrária, todos os detalhes que seriam muito importantes para sua réplica...Ana parecia ouvir tudo, mas Lívia sentia que ela muitas vezes não estava ali. Incrível como aprendera a conhecer as reações daquela mulher, como lia em seus olhos cegos seus conflitos, como reconhecia quando ela se ausentava e ficava em seu lugar apenas um espectro dizendo: “Sei...ranran...entendi...tá ótimo!”


Ana definitivamente não estava ali e Lívia queria muito ir até ela, saber o que a estava incomodando. “ Apostava que era aquele marido idiota dela, que se achava o máximo da gostosura e não dava à mulher a atenção que ela merecia. Ah, como queria ter a sorte daquele imbecil e poder desfrutar da companhia de Ana todo o tempo! Não deixaria que aquela ruguinha entre as sobrancelhas endurecessem sua fisionomia, como agora...”

- Ana, desculpe a minha intromissão, mas notei que você esteve distante o dia todo, e isso não é comum. Parece muito preocupada com alguma coisa. Posso ajudar?

Lívia tinha baixado no colo uns papeis que estava tentando ler para Ana há quase meia hora e era a terceira vez que ela pedia pra repetir, pois não tinha entendido alguma parte.
Ana pareceu meio desconcertada com a pergunta e disfarçou...

- Não Lívia. Você não pode me ajudar. São coisas minhas, que só eu mesma posso resolver.

Ana foi curta e meio seca, não queria prolongar aquela conversa com Lívia. Não podia dizer nada, pois nem ela mesma saberia definir o que estava sentindo. O Porquê dos seus pensamentos tão conflituosos, dos sentimentos estranhos... “Chega, Ana! Concentre-se!” – Pensou. E assim passou a agir pelo resto do dia...sempre que um pensamento ou sentimento esquisito se aproximava, gritava pra si mesma que ele se afastasse. “ Concentração!!!”
A estratégia funcionou e Ana conseguiu terminar o trabalho junto com Lívia, para que tudo corresse ao seu contento no dia seguinte.
Lívia respeitou a introspecção de Ana naquele dia e não tocou mais no assunto.

No dia seguinte, foi buscar Ana em casa bem cedo, teriam que viajar por 180 km até Campos do Jordão, onde teriam a audiência, que caso fosse ganha, traria bons lucros para o Escritório. Ana havia dito que Lívia começaria a receber comissões sobre as causas ganhas em que atuasse, pois sua dedicação era total e merecia ter seu esforço bem recompensado. Estava empolgada com a nova perspectiva de ter seu trabalho reconhecido e ver o resultado financeiro disso.

Chegaram cedo a cidade, o Fórum só abriria às 10:00 h., Ana e Lívia então resolveram sentar em um dos cafés da cidade e tomar um bom café da manhã, daqueles que só se encontram na serra. A manhã estava linda, o sol já vinha alto àquela hora, mas a temperatura estava bem amena, devia estar uns 20° C e Lívia comentou:

_ Nossa, pelo clima que está agora, imagino que à noite deva fazer uns 10° C ou menos, hein?! Hummmm...um friozinho bem gostoso pra se curtir em boa companhia, em frente a uma lareira com uma bela taça de bordeaux e um queijinho brie derretido....rsrsrs.

- Pelo jeito você sabe apreciar muito bem as coisas boas da vida. Nunca duvidei disso, pelo seu modo de viver. – Ana levantou o rosto em direção ao céu como se quisesse captar para si todo o sol do dia e continuou:

- Acho que o mais difícil de se conseguir é uma boa companhia...o bordeaux e o queijo brie qualquer boa “pâtisserie” possui...a lareira, uma pousadinha aconchegante também tem...já a boa companhia...é muito difícil ter o que se quer ou contentar-se com o que se tem.

Lívia virou-se e disse gracejando:
- Por acaso a Dra. Ana cobiça algo ou alguém que não está ao seu alcance? Pensei que tivesse tudo!

Ana ficou muito desconcertada, pigarreou e levantou-se da cadeira, puxou sua bengala e disse pra Lívia:

- Conversa sem pé nem cabeça! Pague logo esta conta e vamos ao trabalho, a audiência será a primeira e não quero ficar por aqui além do necessário, temos muito a fazer no Escritório.

Lívia ficou sem graça, pagou a conta e deixou que Ana a segurasse para irem em direção ao Fórum. Lívia já havia estado em Campos do Jordão antes, mas era a primeira vez que notava como eram agradáveis os cafés em volta da praça, as casas de chocolates, os canteiros com aquelas flores multicoloridas em torno dos bancos, as árvores de “maples” da bandeira do Canadá, as pessoas elegantes que circulavam pela cidade, o teleférico, o vai e vem dos turistas...sim, era um lugar muito agradável, mais ainda quando a noite chegava. “Que pena que não estarei aqui pra curtir a noite. Adoraria tomar um vinho e comer um fondue em frente a lareira com esta Doutora mau-humor” – Pensou.

A Audiência estava marcada para as 11:00 h., mas algo parecia estar errado, já eram 14:00 h. e o Juiz não chegava. O Secretário vinha a cada meia hora justificar o atraso do Magistrado para as partes, e a espera se prolongava. Até que o advogado da parte contrária reclamou que não poderia mais esperar, pois tinha outra Audiência e já eram quase 15:00 h., nesse momento o Juiz chega e explica aos presentes o porquê da sua demora, dizendo que teve um problema doméstico sério e não pôde chegar antes; e que ante a impossibilidade da realização da Audiência naquele dia, em vista do outro advogado ter outra Audiência, adiaria aquela para o dia seguinte às 14:00 h..


Ana ficou muito irritada com todo aquele inconveniente, mas nada podia fazer, afinal o Magistrado é que deveria decidir quando a Audiência ocorreria e dependia dele para ver resolvida logo aquela lide. Conformou-se e começou a pensar logo o que deveria fazer então. Não estava disposta a viajar quase 3 horas de volta pra casa e no dia seguinte ter que refazer todo o caminho. Pensou e decidiu por ficar na cidade. Alberto estava viajando mesmo e sua única preocupação era o pequeno Flávio. Ligou pra casa, fez recomendações várias para Cininha. Ligou para a Mãe pedindo que ela dormisse na sua casa pra não deixar o pequeno só com a empregada. Gostava muito de Cininha e confiava nela, mas não queria que Flávio se sentisse sozinho quando a Mãe precisasse viajar, afinal Alberto também estava fora. Resolveu tudo por telefone e virando-se para Lívia, disse:

- Agora vamos em busca de um hotel pra ficarmos até amanhã. Isso estava totalmente fora dos meus planos, mas já que não temos outra alternativa senão esperar até amanhã, que pelo menos possamos aproveitar o que essa cidade tem de bom! Conhece Campos do Jordão?

- Sim conheço, mas já não venho a esta cidade há uns 8 anos. Meu Pai nos trouxe umas três vezes em feriados prolongados. Lembro que eu e minha irmã nos divertíamos muito nos Hotéis-Fazenda da região. Mas confesso que hoje olhei para a cidade com outros olhos...notei coisas que a infância não deixa a gente perceber...

- Como o que?

- Não sei exatamente o que é. Talvez o clima de sedução da cidade, todas essas flores, o charme das construções em estilo suíço, a magia no ar...sei lá...você conheceu a cidade quando ainda enxergava?

Ana baixou os olhos tristes

- Não. Vim a esta cidade algumas vezes, pois Alberto adora a sofisticação daqui, os restaurantes caros, os concertos elegantes do festival de Inverno, mas já estava casada. Pra ser sincera, o único clima que sinto aqui é de frivolidade, cada um querendo mostrar ser mais rico ou importante que o outro. Alberto adora essas festas, os encontros com seus amigos metidos a ricos. Eu prefiro sentar numa chocolateria e tomar um bom chocolate quente com a barra derretendo dentro da caneca...hummmm, já provou?

Lívia riu divertida:

- Não. Mas acho que teremos tempo suficiente pra tomarmos esse tal chocolate que deve ter umas 2.000 calorias deliciosamente desculpadas.

E seguiram sorrindo em direção ao carro. Passaram o resto da tarde rodando pelos hotéis mais conhecidos da cidade tentando uma suíte. Mas havia um festival de música acontecendo na cidade e, apesar de ser uma segunda-feira, os turistas lotaram os principais hotéis e pousadas da região. Ana e Lívia já estavam cansadas de tanto rodar e telefonar tentando vaga e já haviam quase desistindo e indo dormir em qualquer pousadinha disponível, quando alguém falou sobre uma pequena pousada no alto de um monte em uma cidadezinha vizinha a Campos do Jordão, chamada Santo Antonio do Pinhal. O local era muito próximo a Campos do Jordão, apenas uns 15 minutos de carro e poderiam descansar num lugar aprazível e por um preço excelente.


Ana já estava exausta e resolveu que deveriam tentar ver a tal pousada. Seguiram pela estrada principal e mais ou menos 15 minutos depois avistaram a placa de entrada da pequena cidade. Era um local bem simples, com pousadas pequenas e aconchegantes e aquela morosidade que só o interior do mundo conhece . Seguiram as instruções e pegaram uma estradinha de terra que ia montanha acima, parecendo levar até o topo do monte mais alto da cidadela. Quando chegaram ao fim da estrada, abriu-se uma clareira que tinha ao centro uma bela casa em estilo colonial Germânico. Eram tantas as flores por todos os lados, árvores de maples, pinheirinhos de Natal, pedras pintadas de branco, bancos em volta dos jardins que se espalhavam por toda a área, que pareciam ter saído de um conto de Andersen. Pelas encostas da área de uns dois hectares, havia chalés de madeira, com aqueles telhados que chegam quase ao chão. O espaço entre eles era de uns 50 metros mais ou menos, o que garantia uma privacidade fora do comum para pousadas do tipo. O local era simplesmente lindo e aquelas casinhas de madeira pareciam de brinquedo, eram como casinhas de boneca da qual ninguém quer sair.

Um rapaz jovem, magro e com cara de Italiano, aproximou-se e deu as boas vindas a ambas, logo que pararam o carro. Fez questão de mostrar todo o local em volta e a vista deslumbrante que se tinha do alto daquela montanha mágica. Disse que havia somente um chalé disponível, que os outros 11 estavam ocupados com as pessoas que vieram para o Festival, mas que era um chalé muito charmoso e que ambas dariam graças a Deus pelo Juiz ter adiado a Audiência. Todos riram muito e foram ver o tal chalé. “Que lindo!” Pensou Lívia, quando entrou. Ela queria tanto poder passar para Ana toda a emoção do que ela podia ver, da beleza daquele local. Ana apertou o braço de Lívia e foi como se percebesse a intenção dela e pediu no seu ouvido:

- Diga pra mim o que você vê. Todos os detalhes, por favor!

Lívia segurou a mão de Ana e começou a relatar o que via:

“Tudo é tão lindinho, Ana. O chalé é dividido em uma pequena ante sala, onde há dois pufes de couro em volta de uma mesa baixa, como aquelas japonesas.” – Andou pelo ambiente carregando Ana pela mão – “Aqui chegamos numa cozinha estilo americana, ela tem uma abertura com um pequeno bar que dá para a grande suíte. Há a porta do banheiro, aqui no lado esquerdo, onde se tem uma banheira de hidromassagem e uma ducha que deve ser deliciosa, com toalhas bem branquinhas e felpudas esperando a gente” – Ana ria de Lívia e segurava firme sua mão – “ A suíte tem uma enorme cama de casal, onde cabe pelo menos um casal com 150 quilos cada. Do lado direito da cama há uma varandinha super charmosa, onde tem uma rede e a vista...ah, a vista é deslumbrante Ana! O Sol está se pondo, são quase 7 horas e pode-se ver todas as montanhas dessa região de Campos do Jordão e adjacências, está tudo de uma cor meio laranja e o céu ficando azul rei...respire, sinta o cheiro que essa montanha nos trás...” – Ana respirou profundamente e foi como se estivesse vendo todos os detalhes que Lívia lhe contava, via o céu avermelhado nas extremidades próximas aos montes, a cordilheira descortinando pelo vale ao fundo, imaginou as flores descendo pela encosta, com cores múltiplas e balançado com aquela brisa fria da noite que chegava.

Lívia trouxe Ana de volta para o quarto e mostrou ao lado da varanda, a lareira que contava com toras de madeira para várias noites de frio e um “mexedor” de cobre para espalhar as brasas. Fez com que ela tocasse o contorno de pedra da lareira e sentando no confortável sofá em frente a lareira, disse ao rapaz que as observava:

- Esse chalé é encantador...aliás, todo o lugar é encantador...estou me sentindo como numa história infantil e vou dormir numa casinha de bonecas...se você assim quiser Ana.

Ana virou-se em direção ao rapaz de pé ao lado da varanda e disse:

- Ficaremos por uma noite. Pela descrição que ela fez, esse local merece se aproveitado por uma noite e meio dia que seja. – e virando-se pra Lívia completou: - E não pense que estamos de férias viu mocinha? Só ficaremos por ser mais cômodo e menos cansativo...mas já que estamos aqui...faça do limão uma limonada!

- E que deliciosa limonada será essa – disse Lívia levantando-se, rodopiou e abriu os braços – melhor ainda, vou aproveitar esse limão pra fazer é uma caipirinha! Já que minha chefe concordou, ficaremos com ele. – Disse virando-se para o rapaz, que entregou as chaves a Lívia e saiu dizendo:

- Amanhã o café é das 7:00 às 10:00, se quiserem jantar, hoje teremos uma noite especial. Virá um Cantor ótimo aqui da região, que canta MPB, música internacional e um pop romântico que agrada muito aos casais. O cardápio principal é o fondue de carne, queijo e chocolate, mas também preparamos um ótimo Mignon se for o caso. Temos uma excelente adega, mas também preparamos caipirinhas se for o caso. – Disse piscando o olho para Lívia - e tenho certeza que vocês irão aproveitar muito a noite e o dia amanhã. Qualquer coisa que precisarem, é só interfonar para a sede. O jantar irá começar em uma hora, mas ficaremos até a meia-noite hoje. Sabe como é, segunda-feira...

Retirou-se e deixou as duas.

Lívia suspirou e continuou olhando o local em volta, não se cansava de admirar aquela coisinha singela que era o chalé com toda a decoração suave no seu interior e aquela vista deslumbrante do lado de fora. Levantou Ana segurando-a pela mão e continuou mostrando a ela todos os detalhes do local. Vez ou outra fazia com que ela tocasse os objetos, a cortininha romântica da pequena janela de madeira ao lado lareira. Dizia a ela a cor de todas as coisas e a forma. Queria que ela pudesse ver tudo o mais próximo possível da realidade, pra que sentisse toda a alegria que ela, Lívia, estava sentindo naquele momento, por ver tanta beleza a sua volta.

Depois da inspeção geral, Ana virou-se para Lívia e disse:

- Sabe que não temos roupa pra trocar, lembrou-se disso?

- Xiii, é mesmo! Teremos que ir com essas mesmas roupas amanhã para a audiência. Será que elas agüentarão até lá? E o cheiro? – Lívia riu de si mesma e completou – pelo menos não precisaremos dormir com elas, temos roupão de banho pra nós duas aqui, disse mostrando-os a Ana.

Ana aproximou-se de Lívia e pegou um dos roupões que estava em sua mão. Era incrível a capacidade dela de perceber os objetos, as pessoas, as distâncias:

- Me leve até o banheiro. Ligue a água quente e traga minha bolsa, pelo menos meus artigos de “toillete” eu trago sempre comigo nas viagens. Vou tomar um banho bem relaxante e vamos ao jantar, estou morrendo de fome! E louca de vontade de provar o tal bordeaux que você comentou pela manhã lembra? Será que eles tem algum por aqui?

Lívia fez o que Ana pediu e ficou indecisa se deixava ela sozinha ou não. Ana resolveu o conflito:

- Pode ir Lívia, eu tomo banho sozinha desde os 5 anos de idade, mesmo sem enxergar, conheço cada milímetro do meu corpo. – riu gostoso quando sentiu que tinha deixado Lívia muda e constrangida, pois ela gaguejou quando disse:

- Cla-claro que sim Ana. Não duvido disso. Só não sabia o que fazer direito...

Ana entrou no banheiro, fechou a porta e relaxou deliciosamente naquela banheira de água morna, que Lívia preparara pra ela...tinha espuma de banho, sais e a temperatura era a ideal. “ Que delícia de banho! Era tudo o que eu precisava! É estranho, geralmente não gosto muito desses contratempos, mas tem coisa mais gostosa que um incidente como esse? Ter que ficar na cidade pra pernoitar num lugar tão aconchegante...hummm, acho que vai ser bom...a impressão que tive foi que Lívia também gostou de ter ficado por aqui...então que aproveitemos!” – Ana fechou os olhos e voltou-se para seu banho relaxante.

No quarto, Lívia continuou apreciando o ambiente, mas os pensamentos pululavam em sua mente, andava de um lado para o outro cogitando:

“Caramba! Só tem uma cama, será que ela vai dividir comigo ou vai me mandar dormir no sofazinho da lareira? Não sei o que pode ser pior...tenho medo de ficar tão próxima dela...sentir o cheiro, a energia do corpo...ai meu Deus, que faço?!”

Ana saiu do banho 40 minutos depois, com a mesma roupa, mas com um frescor, como se tivesse acabado de levantar...estava com uma leve maquiagem e um cheiro muito agradável de flor. “ Como ela conseguia se maquiar tão bem?” – Se intrigava Lívia.

- Bem, agora é a minha vez de relaxar. Mas fique tranqüila Dra. Ana. Não vou demorar tanto viu?! Acho que 15 ou 20 minutos já vão me fazer bem – disse entrando no banheiro.

Quando Lívia estava pronta, decidiram ir até o restaurante da pousada. Chegaram na casa principal onde havia um salão com umas 15 mesas em volta. A decoração era toda em madeira e com quadros de montanhas geladas e lagos da Suíça. No fundo da sala havia uma grande lareira acesa e no lado oposto um pequeno palco onde um rapaz alto e magro ajeitava o som para o começo de show. Havia apenas 3 mesas desocupadas e Lívia calculou que não eram apenas os hóspedes que freqüentavam o restaurante. Sentaram numa delas e logo o garçom aproximou-se para pegar os pedidos. Escolheram um bom vinho bordeaux, para acompanhar o fondue de carne e o de queijo Ementhal, o de chocolate seria a sobremesa. O lugar era muitíssimo agradável e Lívia descrevia em detalhes tudo ao redor...a decoração...as mesas com os vários casais...as velas perfumadas em forma de rosa que decorava cada mesa...a penumbra do ambiente...os quadros e objetos...

Ana absorvia as palavras de Lívia com muita atenção e parecia conseguir transportar para seus olhos todos os detalhes descritos pela amiga. Tinha mais de 10 anos de relacionamento com Alberto, e durante esses anos todos, mesmo nos momentos mais românticos, ele nunca conseguira passar pra Ana as sensações que Lívia lhe trazia com suas descrições...era seu jeito de dizer as coisas...o modo como descrevia em detalhes cada objeto ou situação... as palavras que usava... o tom de sua voz... – “Ah, o tom da voz dela! Era tão bom ouvi-la dizer sobre tudo e mudar o tom de acordo com a emoção que queria passar...gostava ainda mais quando ela sibilava próximo ao seu ouvido...adorava aquele leve sussurrar...” – Ana teve seus pensamentos interrompidos pelo cantor que começou seu show.

O rapaz realmente era bom e o som estava no volume perfeito, sem incomodar as conversas baixinhas que os casais mantinham entre si. Era tudo muito romântico e parecia que somente elas estavam meio fora do ambiente, pois só haviam casais de namorados em volta. Mas ninguém notava isso...cada um se preocupava somente com quem estava na sua frente...elas eram mais um casal...de duas mulheres, mas ainda sim um casal...quem se importava?

O jantar transcorreu perfeito. Tudo estava no seu melhor! A comida deliciosa...o vinho na temperatura e de bouquet perfeitos...o aroma das velas acesas e perfumadas em volta...as canções de Amor que o músico entoava...a conversa bem humorada e agradável...todo o clima exalava sedução e leveza! Beberam uma garrafa e meia de vinho e quando só haviam duas mesas ocupadas, resolveram levantar e voltar para o chalé, deixando a incumbência de fechar o salão, para o último casal que ficou.

Ana ao levantar-se, dessa vez agarrou o braço de Lívia com força. Cambaleou e teve medo de perder o equilíbrio. Estava meio tonta pelo vinho. “Foi tudo tão inebriante, que meu equilíbrio se foi” – pensou sorrindo.

- Ôpa Dra. Ana, cuidado! Apóie-se em mim. Acho que o vinho já fez seu efeito!

Ana ria um pouco mais que o normal e disse mordendo os lábios:

- Não se preocupe, Lívia! Eu nunca perco a noção do que estou fazendo. Sempre sei até onde posso ou devo ir, mesmo que meu equilíbrio às vezes me confunda.

Entrelaçou seu braço no de Lívia e foram andando para o chalé. A noite estava bem fria àquela hora e ambas se colaram ao corpo da outra instintivamente, procurando calor. Lívia abraçou Ana e foram rindo, correndo até a porta do chalé. Entraram e Lívia foi logo acendendo a lareira para esquentar o quarto, estava tudo muito frio. Ana, que não estava acostumada ao local, tropeçou no tapete e, não fosse a agilidade de Lívia em segurá-la, teria se esborrachado no chão perto da cama.

- Cuidado, Ana! Você esqueceu que não conhece o lugar! Deveria estar com sua bengala na mão! – Lívia disse preocupada.

- Pra que a bengala se tiver você ao meu lado todo o tempo me guiando? Fora este descuido, você é muito melhor que o Fred! Sabe de uma coisa? Acho que vou contratá-la a partir de hoje como minha bengala oficial. Só tem um detalhe, eu nunca dormi com minha bengala e muito menos com o Fred ao lado antes...será que você também irá guiar meus sonhos? – Ana disse isso rindo, meio que de pilequinho, tendo Lívia a segurando pelos braços e ela agarrada à sua blusa. Os Olhos de Ana brilhavam como nunca e ela não tinha a menor noção do que estava fazendo com Lívia. Era a sua visão de infância ali, a menos de meio palmo do seu rosto, sorrindo linda, radiante, com as faces levemente rosadas pelo calor do álcool. Lívia começou a tremer o corpo involuntariamente, as pernas bambearam e Ana sentiu que era como se ela também fosse perder o equilíbrio:

- Eita! Acho que você também bebeu bastante desse vinho, é melhor não deixar que você beba o restante da garrafa, vai ficar só pra mim! – Ana ria e segurava-se ainda mais a Lívia.

Lívia estava muito desconcertada com aquela proximidade e mais ainda com o que sentia...colocou Ana sentada na cama, deu a ela um dos roupões e falou:

- Acho melhor irmos dormir Dra. Ana. Nada mais de vinhos por hoje! Vista o roupão, vou estar no banheiro me preparando pra dormir. Amanhã teremos uma Audiência complicada pela frente e não quero perder minha primeira comissão. Lembra-se de sua promessa?

- Claro que sim, querida...vamos ganhar essa!

Ana começou a tirar a roupa pra vestir o roupão e Lívia entrou correndo no banheiro, envergonhada... “ Meu Deus, me ajude! Não posso dormir ao lado dessa mulher, sentindo todo esse desejo louco! O que eu faço?”

Lavou o rosto com a água gelada da montanha e pareceu ficar mais sóbria e controlada. Voltou para o quarto e Ana estava de pé na porta do banheiro para entrar.

- Agora é a minha vez. Pode deixar, já sei onde está a pia e o vaso sanitário, apenas ponha minha escova de dentes na minha mão.

Lívia assim o fez. Virou-se para ir em direção ao sofá da lareira, quando ouviu Ana dizer do banheiro:

- Nem pense em dormir nesse sofazinho ridículo, Lívia! Não tem o menor cabimento você se espremer nele, tendo uma cama desse tamanho pra nós dividirmos. Não precisa ter vergonha de mim. Estamos na mesma situação.

Lívia estancou: “Como ela se lembrou do tamanho do sofá? Ela tocou em tantas coisas! Ai, ai, ai...o que eu faço agora?” – Mexeu na lareira, ajeitou as brasas e foi para a cama. Cobriu-se com o edredom macio que estava na cama e apagou as luzes. “Ana não precisa da luz acesa!” – e ficou deitada, tensa, esperando a Dra. Ana Mendes vir para a cama.

“ A cama em que eu estou deitada! Surreal este momento!”

Fim do capítulo


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 8 - Capítulo 8:
Lea
Lea

Em: 26/05/2022

Adoro esse casal, mesmo não sendo um casal...ainda!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

cidinhamanu
cidinhamanu

Em: 16/12/2017

No Review

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web