Capítulo 19: PESADELO
Estranhei a demora de Marisa naquela noite. Apenas um agente fazia sua segurança, uma vez que os demais compunham a equipe que viajaria para Colômbia, o outro agente estava comigo na casa de Marisa. Dividi com ele minha preocupação, e esta, só aumentou quando o celular de Marisa permanecia desligado e no hospital relataram que ela já havia saído a cerca de uma hora e não obtivemos resposta do policial que fazia a segurança de Marisa. Angustiada, liguei para Larissa imediatamente:
- Larissa, Marisa desapareceu. Celular desligado, já saiu a cerca de uma hora do hospital e o agente Borges não atende também o celular...
- Calma Alexandra... Eu já estou sabendo...
- Está sabendo? O quê aconteceu? – Perguntei angustiada.
- Está tudo sob controle, Lisa está aqui conosco...
- Aí onde? Por que ela não me ligou, não me avisou...
- Alexandra, é questão de segurança, fique tranqüila, Lisa está segura, houve mudanças em nossos planos e ela vai participar das negociações para libertação do pai dela.
- Mas... Larissa, preciso falar com ela, passa o telefone para ela...
- Não posso, ela está nesse momento em uma reunião com o setor de inteligência da polícia federal.
- Então eu vou aí!
- Você nem sabe onde estamos Alexandra, acalme-se, está tudo sob controle.
- Então me diga onde vocês estão, quero ver minha namorada, eu exijo isso!
Ouvi um riso irônico da policial:
- Você o quê? Exige? Ai Alexandra, me deixa trabalhar e deixe Lisa cuidar da vida dela e do pai dela, boa noite.
- Larissa não desliga o telefone na minha cara! Larissa? Larissa? Alô?
A vaca desligou mesmo na minha cara! Andei de um lado para outro, possessa de raiva e obviamente tensa pela informação que Larissa acabara de me dar, e me perguntando por que Marisa não me ligou avisando qualquer coisa, uma série de questões surgiu na minha cabeça, nenhuma delas excluía a idéia fixa de encontrá-la de alguma forma.
Resolvi usar dos meus talentos de atriz para convencer o policial Borges, que fazia minha segurança, a me levar onde os outros agentes estavam, já que fazia alguns dias que eles não se reuniam mais na delegacia da cidade.
- Borges, está tudo bem, Marisa está no quartel de vocês, você me leva lá, por favor?
- Desculpa dona Alexandra, mas não posso.
- Como assim não pode? A própria Larissa me disse que você podia me levar...
- Dona Alexandra... A agente Marques me advertiu que a senhorita ia insistir para que eu a levasse até no nosso ponto de apoio... E reiterou a proibição, sinto muito.
Entrei em casa fumaçando de raiva daquela biscate, ela armou tudo diretinho para me separar de Marisa, e pior, eu não sabia o que tinha acontecido à minha namorada, a ponto dela não se preocupar em me manter informada sobre seu paradeiro. Foi uma noite interminável, dormi com o celular na mão, cansada de esperar uma notícia, sem esperança de ouvir a voz da mulher que eu amava, o cansaço me venceu, e quase ao nascer do sol caí no sono.
A falta de notícias de Marisa me causava pânico, agora, Larissa também desligara o celular, não consegui comer nada, nem muito menos ficar parada em casa alimentando minha mente fértil então, como todos os dias, fui ao hospital visitar o Dan na esperança de encontrá-lo consciente. Naquele dia, chorei sentada junto ao leito de meu amigo, exausta de tanta angústia, pelo estado dele, pela ausência de Marisa, pelo sentimento de impotência me inundando. Enquanto eu desabafava solitária, senti uma mão no meu ombro, quando virei, vi o sorriso lindo e confortador de Juliana me dizendo:
- Tenha fé Alex, ele vai sair dessa...
Sorri meio amarelo, pensando: “Ah se ela soubesse o tamanho da minha culpa...” Juliana completou:
- Apesar de estar em coma, acreditamos que o prognóstico é bom, pelo estado de saúde dele... Acredite que é uma questão de tempo minha querida...
Balancei a cabeça positivamente enxugando minhas lágrimas, Juliana segurou minha mão e me tirou da UTI, levando-me para a sala de repouso da enfermagem ali perto, serviu-me um copo de água, nem contestei, nada falei, estava precisando de colo, de atenção, e não via outra pessoa mais propícia para me dar isso naquele momento que não fosse Juliana.
Continuei muda, sentei-me na cama de solteiro ali disposta, Juliana puxou uma cadeira e sentou-se de frente para mim:
- Quer desabafar um pouco?
Bem que eu queria, mas não podia:
- Ju minha vida parece estar desmoronando... Eu me sinto tão culpada pelo estado do Dan...
- Culpada? Mas por quê?
- Por que... Eu devia ter dito o que eu achava desse cara estranho que ele estava saindo, devia ter feito algo pra ele fazer as pazes com Diego... Sei lá...
- Alex não é justo você se culpar, foi uma fatalidade.
Juliana segurava minha mão, e eu só conseguia pensar onde estava Marisa, por que ela não me ligava, e minha expressão de angústia não se desfazia, apesar de todo carinho da enfermeira.
- Há algo mais te incomodando? Onde está Marisa que não veio com você hoje?
- Han? Não, nada mais me incomoda... Marisa precisou viajar, algo relacionado à universidade...
- Hum... Então, hoje te faço companhia, espera meu plantão acabar, que saímos para almoçar juntas, que tal?
- Tudo bem... Espero você no estacionamento.
Eu precisava mesmo de uma companhia agradável como a de Juliana para dissipar aquele sentimento de impotência. O agente Borges chegava a olhar penalizado para mim, quando eu insistentemente usava o celular sem obter resposta nem de Larissa, nem de Marisa. Ele se aproximou de mim, tentando me acalmar:
- Alexandra, fique calma, daqui a pouco ela estará de volta...
- Mas por que ela não pode me ligar? Preciso ouvir a voz dela...
- Alexandra, isso é informação confidencial, mas só para você ficar mais tranqüila, ela não ligou e Larissa desligou o celular, por que não sabemos quais linhas estão seguras, você já deve saber que há um agente duplo entre nós, provavelmente na Inteligência, o momento é crucial, hoje a operação de negociação terá início.
- Hoje? Então Marisa está na Colômbia?
- Alexandra, já falei demais...
- Borges, por favor!
- Alexandra, a operação mudou, por que membros das FARC chegaram a Nova Esperança e por pouco não pegaram a Lisa, cercaram-na no estacionamento...
- Meu Deus! Ela está ferida não é?
- Não, ela está bem... Mas o policial Gouveia... Bem, ele foi ferido, e... Não sobreviveu.
- Mas como ninguém soube disso?
- Alexandra somos da polícia secreta...Temos meios para abafar esses episódios...
- Borges me leve até ela...
Implorei, mas o agente estava insensível agora.
- Já falei mais do que podia, agora acalme-se, deixe-me fazer meu trabalho que é de proteger você e reze pra que dê tudo certo na operação.
Minha angústia agora era outra, era o risco que minha namorada estava correndo. Juliana entrou no carro que nem percebi, me dando um susto tão grande que apertei a buzina do carro sem querer:
- Ai Juliana! Que susto!
- Ei! Calma...
Juliana sorriu divertida, afivelando o cinto de segurança.
- Podemos passar na minha casa? Quero tomar um banho, trocar de roupa...
- Claro.
E assim, a gentil e adorável enfermeira foi uma amiga leal naquele dia nublado. No final do dia, depois de almoçarmos, e descansarmos na casa de Juliana, que durante todo tempo foi educada, não ousando se insinuar para mim, voltei para casa de Marisa, com o agente Borges sempre no meu encalço.
Ao de chegarmos à estrada de terra que dava acesso à casa de Marisa, me dei conta que o carro do agente Borges, não me seguia como de costume, comecei a me apavorar, até um carro me fechar na estrada estreita e dois homens descerem com armas em punho e me arrancarem do meu carro com violência, jogando-me no banco traseiro do carro deles.
Amarraram minhas mãos e me amordaçaram, logicamente, eu estava apavorada, mas tinha a certeza que eles não me matariam imediatamente, supondo que eu seria usada para pressionar Marisa nas negociações, o que me apavorava ainda mais pela vida dela. Nunca rezei tanto na minha vida como naquele momento.
O percurso não foi longo, cerca de quinze minutos depois pararam o carro, e com a mesma violência que me jogaram no carro, também me arrancaram. Empurrou-me por um caminho de terra, aparentemente um sítio que eu desconhecia. Entramos numa espécie de depósito de ferragens, prenderam-me com correntes em uma viga de madeira e me deixaram ali sob a vigilância de quatro homens armados com fuzis, pelo menos era o que eu achava, qualquer arma de cano longo para mim era fuzil...
Não sei por quanto tempo fiquei ali, pode até ter sido alguns minutos, mas para mim foi uma eternidade, o medo por minha vida e a vida de Marisa, a ignorância acerca do que estava acontecendo, transformaram aquele cárcere em uma tortura psicológica, qualquer movimentação daqueles homens mal encarados acendia um sinal de alerta no meu nervosismo.
E foi justamente uma movimentação estranha que anunciou a situação drástica de desfecho, e no depósito novos rostos apareceram se multiplicaram, e para meu desespero ouvi tiros, de diversos sons, e pela porta lateral vi um homem igualmente rendido como eu, era trazido por dois homens. Visivelmente abatido, debilitado, com barba mal feita, mancando, o homem foi jogado ao chão. Deduzi que se tratava de João Marcos Pimentel, o pai de Marisa.
Ele permaneceu no chão, sua expressão era de dor, seu rosto suado, pálido, não descrevia a personalidade de homem forte que Marisa sempre ressaltava. Imaginei a felicidade de minha namorada ao reencontrar seu pai, e isso me encheu de esperança e de força para enfrentar aquele momento de guerra.
A troca de tiros era intensa, vi membros da organização feridos, e um que me parecia ser o líder deles, falava ao celular aos berros, eu entendia pouca coisa, meu espanhol nunca foi dos melhores, especialmente no quesito palavrão. O fato foi que o líder após a ligação ordenou o cessar fogo.
O cenário dentro do depósito demonstrava que a situação não estava favorável para os bandidos, muitos caídos, inconscientes, talvez mortos, ainda inteiros apenas três dos muitos que começaram o tiroteio. Foi então que o líder apenas com um sinal, autorizou que seu compassa pegasse o refém. Numa atitude sádica, o bandido levantou o homem segurando-o pelos cabelos, e caminhou com ele até a porta.
Outra vez o líder atendeu o celular, e dessa vez entendi que ele avisava que abriria a porta para liberar o “Joca”. Assim, tive a certeza que o refém era mesmo o meu sogro. A porta se abriu e o bandido apontando a arma para a cabeça do senhor Joca saiu, seguidos dos outros dois, deixando-me sozinha, presa no depósito.
Vi a oportunidade de tentar me desvencilhar daquelas correntes, e não ser a arma secreta dos bandidos contra a polícia supus que ninguém sabia que eu estava sob o poder deles, e assim, uma hora os membros da quadrilha me usariam.
Não consegui ouvir bem o que conversavam, e minha preocupação era soltar-me das correntes e fugir pela porta lateral, e a chance que eu tinha era quebrar a viga de madeira, deduzi que aquela madeira velha não resistiria a muitos choques, usei de toda minha força, com chutes e socos, solavancos com a corrente, me animando quando notei o ranger da madeira evidenciando sua fragilidade. Intensifiquei o esforço e enfim, a madeira quebrou e me soltei. Corri pela porta lateral, esquivando-me, vi Marisa atrás dos carros da polícia, Larissa bem perto dela, e um homem mais velho, devidamente equipado, com colete à prova de balas que aparentemente fazia a negociação com o líder da quadrilha.
Havia resistência do líder em liberar o senhor Joca, exigiu que Marisa levasse o filme e entregasse em suas mãos, o que obviamente, Larissa não permitiu, até que a própria Marisa se colocou a disposição, profundamente emocionada por ver seu pai, bem ali na sua frente.
Com um embrulho nas mãos, ela caminhou lentamente, e eu com meu coração na mão assistindo aquilo. Até que observei, atrás de uma árvore, um homem que lembrava o policial Gouveia, com uma arma apontada na direção de Marisa, e um ponto de laser vermelho vagueando no seu corpo.
Desesperada, lembrei-me do que o policial Borges me falou sobre o agente duplo, e se Gouveia fosse esse traidor? Não sabia o que fazer e como um impulso corri para a frente de Marisa gritando:
- Marisaaaaaaaa!
Joguei meu corpo derrubando Marisa no chão no momento exato que dispararam o tiro contra ela, gritei:
- Larissa atrás da árvore!
Meio atônita sem entender direito o que se passava, Larissa olhou na direção que apontei e viu um homem correndo, não pensou duas vezes e atirou, derrubando o atirador. O fato é que minha loucura pode ter salvado a vida de Marisa, mas, instalou o caos. Deu o início a um novo tiroteio, e o senhor Joca, foi mais uma vez levado para dentro do depósito sendo usado como escudo. Permaneci no chão com Marisa, sentindo uma dor intensa no abdome, deduzi que algum estilhaço da bala me alvejou, mantive a mão sobre as costas de Marisa, como se isso tivesse o poder de protegê-la.
Alguns minutos depois, e depois de uma intensa troca de tiros, o comandante da operação ordenou a invasão do depósito, e rapidamente, saíram com dois bandidos presos e João Marcos Pimentel livre.
- Marisa, meu amor, acabou! Levante-se, venha abraçar seu pai!
Quando pensei que o pesadelo chegara ao fim, me dei conta que ela só começara. Ao retirar minha mão das costas de Marisa, a vi embebida em sangue, e os olhos cerrados de minha namorada atestaram o pior pesadelo da minha vida.
- Meu amor! Fala comigo, Mah, pelo amor de Deus, não faz isso comigo...
Sacudia Marisa, desesperada, quando Larissa se aproximou acompanhada do senhor João Marcos:
- Meu Deus! Lisa!
Larissa se ajoelhou imediatamente e gritou para os demais:
- Chamem uma ambulância!
Marisa não dava nenhum sinal de vida, seu pai também desesperado chorava clamando:
- Lute minha filha... Lute!
Larissa virou o corpo de Marisa, retirou sua própria jaqueta para tentar estancar o sangue do sangramento e elevou sua cabeça, visivelmente apavorada. Eu suplicava aos céus pela vida da mulher que eu amava, falando ao seu ouvido:
- Não me deixa meu amor... Fica comigo...
A ambulância chegou e quando fiz menção de levantar para acompanhar Marisa, senti-me tonta, minha visão ficou turva, e Larissa observou tensa:
- Alexandra você também está ferida.
Passei a mão na minha barriga e confirmei o que Larissa observou, não vi mais nada, desmaiei.
Fim do capítulo
Gente, não identifiquei partes do conto faltando, alguém mais percebeu?
beijos a todas
Comentar este capítulo:
Olá para mim está no raciocínio lógico.
Quero aproveitar e parabeniza-la pelo conto.
Estou curtindo cada capítulo!
contosdamel Autora da história
Em: 08/12/2017
Pessoal, tinha um capítulo faltando, eu inseri: O armário ficou pequeno
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