Capítulo 20:: AONDE QUER QUE EU VÁ...
Abri os olhos, minha visão embaçada não podia acreditar no que via: minha mãe. Pensei, ou eu morri e São Pedro tem a cara da minha mãe, ou estou alucinando.
-- Ela está acordando querido...
Apertei os olhos e vi meu pai ao lado de minha mãe, imaginei: “É, essa droga que me deram é potente mesmo...”
-- Alex minha filha, você está nos ouvindo? – Era a voz do meu pai.
Senti as dores do corpo, e aos poucos fui me situando no espaço e no tempo, e a primeira coisa que falei foi:
-- Marisa! Onde está Marisa? Como ela está?
-- Ei... Calma filha... Você precisa descansar, olha quem está aqui, a Juliana.
Juliana se aproximou de mim, aferindo minha pressão, com aquele olhar confortador, afagou meu rosto e disse:
-- Preciso que você fique quietinha para eu aferir seus sinais vitais Alex.
Juliana mal desabotoou o aparelho que usava para aferir minha pressão e eu já segurava seu braço, perguntando ansiosa:
-- Juliana, me responde, a Marisa, como ela está?
-- Alex, tente ficar quietinha, você precisa de todas as forças para se recuperar, você foi ferida por uma bala, que atravessou seu corpo... Por favor, não se mexa muito, vou chamar o doutor Fábio para examinar você.
-- Será que ninguém está me escutando? – Berrei. – Quero saber como minha namorada está!
Notei a apreensão nos olhares de meus pais e de Juliana, o que só aumentou meu pavor, foi quando Fábio entrou no quarto me reprimindo:
-- Que gritaria é essa aqui?
-- Fábio, me fala, como está Marisa? Fala Fábio!
Gritava, mesmo com a censura de Juliana me segurando.
-- Alexandra não vai adiantar nada você berrar assim. Marisa não está aqui, foi transferida para um hospital da capital.
-- Transferida? Mas, por quê? Como ela está?
-- Por que ela precisava de uma UTI com mais recursos, os melhores médicos estão cuidando dela Alexandra, a mesma bala que te feriu, atravessou seu corpo, atingiu Marisa e se alojou no abdome dela, o estado é muito grave.
-- Eu quero ir para lá, pai, eu preciso ficar perto dela, quero ser transferida também!
-- Filha calma...
Minha mãe se aproximou apertando minha mão, em outra situação me emocionaria por nossa reconciliação, mas minha única preocupação era Marisa.
-- Não fico calma, quero ser transferida, quero ficar perto de minha namorada, ninguém vai me impedir.
Fiz menção de me levantar, enlouquecida, só notei Juliana administrar qualquer coisa na minha veia com o olhar cúmplice de Fábio, em minutos apaguei.
Acho que algumas horas depois despertei com a mesma sensação de ressaca, visão embaçada, e outra vez minha mãe estava ao meu lado, antes que um déjaviu se fizesse, percebi minha mãe fazer sinal com a cabeça para alguém, e vi Elaine se aproximando com os olhos inchados, sua pele alva denunciava seu nariz avermelhado, evidenciando as muitas lágrimas que ela derramou há pouco tempo.
Com alguma dificuldade falei:
-- Elaine? O que houve? E Marisa? Alguma notícia dela?
Elaine segurou minha mão, não conteve as lágrimas, meu coração acelerou, temendo ouvir o que nem em meus piores pesadelos eu ousaria supor. A ruiva respirou fundo, apertou minha mão e disse:
-- Alex... Eu acompanhei Marisa até a capital no UTI aérea... Mas... Ela não resistiu, ela se foi Alex.
Momento surreal para mim. Vi-me numa realidade paralela de horror, fiquei estática, me recusei a acreditar no que Elaine aos prantos me disse.
-- Quero vê-la.
Disse baixo, em estado de choque.
-- Minha querida, seu estado ainda inspira cuidados, você não pode sair daqui, imagine viajar.
Minha mãe me disse mansamente.
-- Eu já disse que quero vê-la!
Berrei, arranquei o jelco da minha veia, me desfiz dos aparelhos que me prendiam ao leito, e levantei esmurrando quem se aproximasse tentando impedir meus movimentos.
-- Ninguém vai me impedir, vou vê-la no fim do mundo, mas eu vou! Não ousem me dopar de novo!
Elaine balançou a cabeça e informou:
-- Alex, Marisa já foi enterrada, o pai dela não quis prolongar nada, ele está morrendo também, sofrendo de malária, está muito debilitado.
-- Mas como assim já foi enterrada? Quando ela morreu?
-- Ontem de manhã. Foi enterrada horas atrás no jazigo onde seu irmão e sua mãe estão sepultados, eu esperei a cerimônia e cheguei há pouco tempo de Porto Alegre.
-- Mas... Eu dormi quanto tempo?
-- Filha, você está aqui há dois dias, passou por cirurgia, acordou ontem à noite, logo depois o médico administrou calmantes para lhe proteger de si mesma...
Minha mãe tentava se aproximar de mim, mas eu afastava todos que chegavam perto. Estava revoltada, não era eu mesma naquele momento, iniciei um quebre-quebra no quarto, mesmo com uma hemorragia no local da cirurgia, somente com a força de meu pai, Fábio e mais dois enfermeiros fui contida e mais uma vez dopada.
Uma semana depois de uma rotina de calmantes, e de inúmeras horas de sono drogada, saí do hospital parecendo um zumbi, meus pais do meu lado todo tempo, me cobrindo de paparicos, mas eu não via mais a menor vontade de comer, de falar, se quer de me levantar da cama. Minha vida perdeu o sentido, Juliana foi minha amiga mais leal, por muitas vezes foi ela que conseguiu me tirar da cama e me dar banho, não atendia nenhuma ligação, abandonei meus contos, meu livro e o jornal.
Uma notícia boa em meio ao meu luto foi a recuperação do Dan, que saiu do coma e aos poucos voltava à sua vida normal, planejando cirurgias plásticas para refazer seu rosto muito machucado e com algumas fraturas causadas pelo sadismo na tortura que passara.
Passaram-se meses, e eu dependente de medicações para dormir, ainda acordava diversas vezes na noite com pesadelos lembrando o episódio que acabou com minha vida. Quando estava acordada, me refugiava nas lembranças felizes dos momentos que tive com a mulher mais linda e mais incrível do mundo, olhava nossas fotos, reli os comentários da doutora misteriosa, tendo a certeza que se tratava mesmo de Lisa.
Meus pais se esforçavam para me tirar daquele estado praticamente vegetativo, sentia que uma parte de mim morreu com Marisa, metade de mim, nunca mais seria a mesma pessoa. As poucas vezes que saí do quarto com muita insistência de meus pais, por vezes até com crises de choro de minha mãe, o fiz por influência de Juliana, que diariamente me visitava, não se cansando de me cobrir de carinho e de arrancar alguns sorrisos sem brilho de mim. As outras vezes que eu saía, tinha um único objetivo: visitar a casa de Marisa, passava o dia inteiro lá, deitada na cama, buscando o cheiro dela, perdida na minha dor.
Numa tarde de sábado, enquanto eu continuava minha rotina de luto, dessa vez abraçada com as roupas de Marisa que eu fiz questão de trazer de sua casa, duas batidas na porta tiraram meu sossego:
-- Mãe quero ficar sozinha, por favor.
Estranhei o silêncio por segundos, minha mãe nunca desistia tão fácil. Até que, a porta se abriu com gritos de algazarra:
-- Surpresaaaa!!!
Eram minhas amigas fiéis: Márcinha, Renatinha e Eveline, que saltaram na minha cama me abraçando.
-- Suas loucas! O que fazem aqui nesse fim de mundo? – Perguntei me sentando na cama depois de conseguir sair debaixo do bolo humano que elas promoveram.
-- Viemos resgatar você! O que mais poderia ser! – Renatinha com sua empolgação típica respondeu.
-- Você não estava na Argentina maluca? – Perguntei a Renatinha.
-- Estava, mas a missão me chamou de volta...
Fez cara de santa, algo que não parecia nada com ela.
-- Emprego novo? – Perguntei.
-- Claro que não né sua tonta! Minha missão de melhor amiga de todos os tempos... Aí resolvi trazer essas duas aqui de contrapeso...
Márcinha e Eveline estapearam Renatinha, indignadas.
-- Alex, viemos por que estamos preocupadas com você, sua mãe nos ligou, contou o que aconteceu, não sabíamos de nada... Por que você não nos telefonou? – Perguntou Márcinha.
-- Minha vida acabou... Ela acabou diante dos meus olhos e eu nem percebi... Não me despedi, não lhe dei meu último beijo, as vezes me esforço pra me lembrar, quando foi nosso último beijo, e não lembro... Ela me deixou... A bala que a matou devia ter cumprido seu papel e me matado primeiro...
Notei os olhos de minhas amigas marejados com minhas lágrimas naquele desabafo de dor.
-- Minha querida, não a conheci, mas se você a amava tanto, imagino o quão incrível ela foi, e eu tenho certeza que ela não aprovaria esse comportamento...
-- Eveline, não adianta, Marisa me deu sentido novo de vida, sem ela nada tem cor, nada tem graça...
-- Novas cores, e um novo sentido são possíveis, desde que você seja responsável com sua vida e com as pessoas que te amam. Você não acha que está sendo muito egoísta? Carregando com sua tristeza seus pais, seus amigos?
Márcinha sempre foi a mais sensata entre nós, e não poupava palavras duras quando julgava ser necessário.
-- Não estou obrigando ninguém a ficar ao meu lado. Não pedi para meus pais ficarem aqui, nem muito menos chamei vocês aqui...
-- Opa! Espera aí mocinha! Vai nos expulsar da sua vida assim? A Márcinha fala bonito, mas eu sou de ação! Você vai sair dessa cama, fazer suas malas e voltar conosco para a capital. Se você quer se despedir de Marisa antes de recomeçar sua vida sem ela, ótimo, se arrume, vamos para Porto Alegre agora mesmo, cumpra seu ritual, estaremos ao seu lado, como sempre estivemos.
Renatinha me arrancou da cama, separou uma muda de roupas em uma mochila, e não me deu opção, no mesmo dia, como ela mesmo sugerira, as quatro juntas, pegamos a estrada com destino a Porto Alegre.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Fiquei triste agora!
O que você fez autora? Matando a doutora desse jeito?
Ou será uma estratégia da Interpol pra protege-las?
????????????
marcellelopes0
Em: 09/12/2017
Acredito que doutora não tenha morrido. Mas sacanagem heim cá Alex....
[Faça o login para poder comentar]
Rafaela L
Em: 07/12/2017
Impossível ela ter morrido.Sei q vc gosta de matar suas pobres personagens,mas aí tá c cara de que Marisa,Lisa...seja quem for.Ta escondida.Ou que a louça da Larissa a sequestrou.E inventou isso tudo.Pra protegê-lo ou não.Ainda assim, é muita maldade c a Alex.
Espero q a senhora ressucite a doutora!
Juliana na cola,pra variar (rsrs)
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]