Estamos de volta com mais um capítulo para vocês. Temos apenas um breve pedido. Tentem sempre ouvir as músicas que são citadas nos capítulos. Certamente irá potencializar a sua experiência. Se já fazem, continuem.
Uma ótima leitura à tod@s.
Capítulo 16 Entre Prazeres e Tormentos
(...) “Portanto, antes mesmo que existira ou pudesse vir a existir qualquer classe de movimento de mulheres ou o próprio movimento feminista, existiam as lesbianas, mulheres que amavam a outras mulheres, que recusavam cumprir com o comportamento esperado delas, que recusavam definirem-se em relação aos homens, aquelas mulheres, nossas antepassadas, milenares, cujos nomes não conhecemos, foram torturadas e queimadas como bruxas.”[1]
Lábios entreabertos... Pálpebras repousadas... Respiração profunda, pesada...
Êxtase! Deleite! Satisfação plena!
Temor! Mágoa! Profunda tristeza!
Como luz e trevas que dançam e se confundem na imensidão apocalíptica de uma galáxia extraordinária e perdida, todos esses prazeres e tormentos se digladiavam em seu íntimo. Completamente hipnotizada pela surreal beleza e singular destreza daquela escrita, Delphine saboreava, sentia, respirava e devorava cada palavra brilhantemente escolhida, cada frase deslumbrantemente arquitetada e cada argumento engenhosa e magnificamente elaborado por ela... Ela, que chegou sem pedir licença e ainda pior... entrou, invadiu e dominousem permissão, sem consentimento. ‘’Cosima Niehaus’’ Como aquilo era possível?? Delphine queria – precisava – desesperadamente saber... Aquela mulher era simples e perigosamente brilhante!
Del fazia um esforço quase sobre-humano, na tentativa de esconder ou mesmo camuflar a intensidade que a atingia, fazendo-a – por inteira – reagir com demasiado fascínio e alguma coisa mais a tudo que lia, porém, totalmente em vão. A certeza de que estava falhando com incrível maestria era tão concreta quanto a ar que ela respirava, já que nem todo empenho do mundo seria verdadeiramente capaz de impedir a maneira absurdamente mística e surpreendentemente profunda com que havia sido tocada por cada ímpar detalhe daquele texto. O texto. Delphine inspirou lentamente, permitindo que a magnífica sensação que aquela preciosidade havia lhe proporcionado se potencializasse em seu corpo. ‘’Absolutamente fantástico.’’ De modo inegável, ele cumpria com total excelência o objetivo pretendido no título – como prometido.
Era a mais perfeita e bem estruturada justificativa que aquele tema poderia receber, inclusive, fazendo-a até ousar em duvidar que alguma vez já tivesse lido um artigo que justificasse um projeto de maneira tão poderosa como aquele. Porém, assombrosamente, não era o brilhantismo e genialidade do conteúdo desenvolvido ali que mais a impressionava e emocionava... o que a tocava com verdadeira paixão, de um jeito puro e límpido, era a promessa implícita naquelas linhas, tão secreta e inesperadamente desejada, partindo do singular intelecto de Cosima diretamente para o dela... íntima e apaixonadamente.
No momento em que começou a ler, desde as benditas primeiras linhas daquela obra prima, Delphine soube. Ela sentiu que cada vírgula daquele texto tinha sido escrito para ela, intimamente dedicado, direcionado e exclusivo… quase como uma oferenda a uma cultuada divindade e, ali, mergulhada na devoção daquelas palavras, ela sabia que aquela Deusa era ela… Ela era o alvo a ser atingido por Cosima: A - absurdamente linda - mortal que se propôs não somente a aceitar e tomar para si aquele desafio, como também, demonstrar num tempo recorde e com esforço hercúleo, toda sua impressionante eficiência.
Em toda a sua exuberância e digna de um lugar de destaque no panteão grego, Delphine permanecia estática e totalmente imersa diante de uma Cosima um tanto apreensiva, porém, absurdamente atenta – a ela. A princípio, sentiu-se estranha e completamente desconfortável por estar ali, sob a mira dela enquanto seu artigo era lido e avaliado. Entretanto, o inicial desconforto metamorfoseou-se num nítido e inebriante prazer enquanto ela assistia – excitada - concentradamente às mudanças que dominavam o corpo de sua orientadora... Cos era até capaz de jurar que tinha visto a fina e dourada penugem dos braços de Delphine se eriçando à medida que alguns nada sutís – e impertinentes - arrepios percorriam o corpo dela, provocados pela expectativa e pelo êxtase que sentia em relação a tudo que lia.
Poder observar Delphine daquele jeito, fascinada e entregue era tentador demais! Cosima precisou usar cada gota de autocontrole que existia dentro dela para não permitir que aquele insano e inapropriado desejo a dominasse ali mesmo! ‘’Inferno! Controle-se, respira!’’ Teve certeza de que Delphine tinha percebido - e sentido – o verdadeiro significado e as reais intenções que aquela justificativa carregava quando ela, visivelmente tomada por uma intensa emoção, suspirou longa e profundamente, cerrando os olhos e sorrindo com o canto da boca de um jeito que fez o coração de Cosima falhar por um longo segundo. ‘’Minha Nossa.’’ Dentre todos os sentimentos presentes em Cos naquele exato momento, o orgulho que sentia de si mesma era o mais proeminente. Sua desorientadora vivenciava um prazer quase palpável e esse era proporcionado inteiramente por ela, que sentia seu coração martelar no peito a cada página virada por Delphine.
Como se já não bastasse a sensação indescritivelmente – e deliciosamente - louca que toda aquela situação proporcionava, a ansiedade de Cosima praticamente transbordou assim que seus olhos captaram a expressão estampada no rosto deslumbrante de sua professora... Sim, Delphine tinha chegado ao tão esperado ponto final. Ela novamente fechou os olhos, só que dessa vez, por um tempo maior, deixando que a prazerosa satisfação fluísse por cada célula dela. Cos a encarava com total atenção, percebendo o quão descompassado os batimentos do coração dela também estavam, evidenciados no acelerado e quase imperceptível tremor de seus – absurdamente convidativos - seios.
Não sendo capaz de controlar os malditos olhos, Cosima contemplava os seios de sua orientadora com escancarada intensidade, assim como todo o corpo esplendoroso daquela mulher diante dela. Delphine usava uma blusa social branca num corte extremamente elegante, com botões que fechavam o ‘V’ em seu colo e que de forma torturante, – e deliciosa - estavam impertinentemente e totalmente abertos. Será que ela fez de propósito? Cos desconfiava que sim. Todavia, o auge do visual de sua professora estava na peça de baixo. Era um short social de cintura alta, destacado num preto cintilante, não muito justo, mas o suficiente para ressaltar de forma nítida e quase enlouquecedora o provocante quadril e as pernas luxuriosamente definidas que compunham aquela Deusa.
O visual altamente elegante e insuportavelmente sexy, confeccionava à Delphine a impressionante e sensual superioridade de sempre, inabalável e convictamente sedutora, fazendo Cosima mordiscar o lábio inferior em resposta à infernal onda de calor que se espalhou em seu ventre. Naquele momento, agradeceu por Delphine estar de olhos fechados, já que estava completamente ciente que todo o tesão e o insano desejo que sentia estavam escancarados em seu rosto, fluindo por cada célula de seu corpo.
Cosima sentiu todo seu íntimo latejar quando a viu abrir os fascinantes olhos, provocante e vagarosamente, encarando-a como se quisesse decorá-la, como se gravasse de forma definitiva e profunda, tudo que o que enxergasse dentro e através dela... A sala se aqueceu, eletrificando o absurdo magnetismo entre elas. A emoção que emanava de Delphine era latente e Cosima pôde senti-la – mais uma vez. Estavam perdidas no poder daquele olhar.
Delphine sentiu sua cabeça flutuar! O que sentia era simplesmente intenso demais e ela sabia que, em toda a vastidão de sua existência, jamais havia sentido tamanho prazer em uma leitura. Constatar aquilo era totalmente assustador e completamente revelador, na mesma proporção. O que aquilo significava? Se pegou almejando e fantasiando o quão glorioso e grandioso seria conversar com aquela mulher ali, naquela sala, naquele épico momento, sem muros erguidos ou nenhuma cortina de obscuros segredos. Del suspirou profundamente, sentindo ainda mais vontade de se mostrar- verdadeiramente - para ela. Algo na parte mais profunda de seu íntimo dizia - gritava, vibrava, vociferava - que o contato de suas mentes seria explosivamente poderoso e maravilhosamente divino.
Porém, toda luz tem a sua escuridão e, o que Cosima não sabia, era que muito do que ela havia escrito ali, machucava – destruía - Delphine na mesma intensidade que a proporcionava toda aquela surreal e inebriante satisfação. Cos havia mencionado e explorando com imensa maestria, assuntos confidencias e que mexiam muito com a Ordem, mas acima de tudo, com a própria Delphine. A alma de Delphine sorria com imenso deleite e chorava com profunda tristeza, exatamente ao mesmo tempo. A morena jamais poderia entender ou até mesmo compreender a dimensão de tudo aquilo, porém, Delphine tinha omitido determinados fatos em suas pesquisas e obras de forma proposital, justamente porque alguns deles representavam aquilo que mais doía nela, destroçando-a.
Os prazeres e os tormentos habitavam a mente de Delphine, entretanto, a desconfiança ainda permeava seus pensamentos, alimentada por sua razão e pela necessidade de uma explicação lógica para aquilo tudo. Sim, Cosima era brilhante e novamente sim, as informações de Helena eram 100% verdadeiras... foi Cosima e apenas ela quem havia escrito aquele texto e quem tinha elaborado aquele incrível projeto, o que ainda não explicava o absurdo conhecimento que sua orientanda possuía. Como ela obteve acesso àquelas informações? Como ela pôde citar aquele livro? O seu livro?
Nesse complexo turbilhão, Delphine tinha apenas uma única certeza: Precisava estar com Cosima... Necessitava – desesperadamente - conhece-la mais do que qualquer outra coisa, mesmo sabendo que seu corpo e sua mente eram seus inesperados e improváveis inimigos, tratando-se de sua orientanda. Porém, não se permitiria cair na mesma armadilha de outrora – Não mesmo. Ainda assim, sentia que dessa vez algo estava diferente... alguma coisa tinha mudado e ela precisava saber o quê.
No íntimo vínculo determinado por aquele olhar, intensas e silenciosas mensagens foram contadas, transmitidas e prometidas num secreto e inquebrável pacto que pareceu se estabelecer entre elas, mesmo que nenhuma da duas tivesse real consciência disso. A PhDeusa intensificou o olhar e respirou profundamente, alguma coisa precisava ser dita.
- Muitíssimo obrigada, Srta. Niehaus... – A afrodisíaca voz era precisa, baixa e cadenciada, tornando-se ainda mais poderosa quando somada à fogueira vívida que era o olhar de Delphine. Aquelas foram as únicas e sinceras palavras que ela fora capaz de elaborar, deixando Cosima completamente hipnotizada e com os olhos arregalados enquanto a assistia erguer-se da confortável - e convidativa - posição em que estava para poder se sentar no sofá, depositando o texto em seu colo, mas sem desviar o poderoso e penetrante olhar dos olhos dela. – Obrigada por me proporcionar isso... Essa leitura absolutamente esplêndida e formidável. – Okay, Cos ia desmaiar? Parecia que sim!
Cosima entreabriu os lábios na tentativa de dizer algo, ruborizando violentamente e sentindo o rosto completamente em chamas – e outros lugares também. Conseguiu apenas ajustar os óculos no rosto e sorrir de um jeito ridiculamente bobo, mas igualmente adorável. Deplhine sorriu com leveza e espontaneidade, achando aquela reação tão charmosa e encantadora.
“Por todas as Deusas... que mulher é essa?’’ Exatamente! Delphine precisava saber quem ela era. Cosima se remexeu na cadeira, claramente ansiosa.
- Sério mesmo, professora? – Indagou um tanto incrédula. Del a encarou com curiosidade, aumentando o suspense.
- Duvidando de si mesma, senhorita Niehaus? – Divertiu-se, olhando-a com atrevido fervor. – Posso garantir que não deveria.
- ‘’Puta merd*!’’ Não é isso, é que... a senhora sabe... mediante quem você é e sua reputação... – Hesitação total! ‘’Cale a boca, Niehaus!’’
- Minha reputação? Hum... E qual seria ela? – A PHDeusa interessou-se verdadeiramente na explicação de sua orientanda, totalmente curiosa a respeito dos mitos que circundavam seu nome. Cos a encarou com um semblante quase divertido, porém contido.
- Posso ser sincera? – Ousou uma Cosima totalmente catalisada pela certeza de que havia conquistado sua orientadora. Delphine semicerrou os olhos, cruzando os braços frente ao peito.
- Tenho a sensação de que a ‘sinceridade’ será um pilar entre nós, Srta. Niehaus – Provocou, um tanto ansiosa pela resposta.
- Ótimo! Bom... para começar, a senhora é muito exigente!
- Muito ainda é pouco, admito! O que mais? – Isso não vai prestar, vai??? Cos prosseguiu, totalmente resoluta!
- Super tirana em suas cobranças. – Começando a brincar com fogo, senhorita Niehaus??
- Hum... – Delphine umedeceu os lábios muito rapidamente, sendo suficiente para causar um mini infarto em Cosima, que se recuperou com igual velocidade! Nem morta ela perderia aquela oportunidade! Del prosseguiu. - Reconheço que sou incisiva em minhas cobranças. Acabou?
- Eu poderia mentir e dizer que sim... – Soltou com implícito divertimento, sustendo o olhar desafiador que Del tanto gostava. Cosima definitivamente perdera a noção do perigo! Ela acaba de ressignificar a expressão ‘’Cutucar a onça com vara curta’’!
- Eu certamente saberia se estivesse mentindo. – Rebateu com exagerada e divertida ameaça no tom de voz. Delphine estava simplesmente ADORANDO aquela relação recém estabelecida entre elas. Cosima fingiu um semblante intimidado, fazendo Delphine sorrir intimamente.
- Promete que não vai me bater ou me expulsar do programa? – Levantou as mãos sinalizando que estava na defensiva, supostamente, é claro!
- Acho que violência não faz parte de minha reputação! – Delphine contra-atacou, erguendo linda e sedutoramente uma das perfeitas sobrancelhas. Agora era a vez de Cosima sorrir com a inevitável proximidade que se firmava ali.
- Então tá bom! Você é uma megera inatingível e inabalável! – Falou muito apressadamente, cruzando os braços diante do rosto e insinuando com escancarado fingimento que esperava que algo fosse jogado em sua direção! Após um breve silêncio e louca expectativa, Cosima se sentiu derreter ao ouvir a mais doce, sexy e deliciosa gargalhada do fucking mundo inteiro!. Delphine se divertia com ela, inesperadamente e verdadeiramente. – Então, sairei daqui ilesa? – Cos definitivamente entrou na brincadeira dela. Sua orientadora não conseguia parar de rir, apenas respondendo à retórica pergunta com uma veemente negativa de cabeça, tentando buscar forças para cessar a espirituosa gargalhada.
- Muito bem, Cosima Niehaus! – Respirou mais fundo, enxugando as divertidas lágrimas que se formaram com a deliciosa gargalhada. – A senhorita está salva, por enquanto! – Finalizou enquanto se colocava de pé, encarando sua orientanda com um sorriso tão desgraçadamente arrasador que destruiria o juízo de qualquer reles mortal.
- Então... eu sobrevivi ao pelotão de fuzilamento Cormier? – Estava indo longe demais? Cosima simplesmente não conseguia evitar... Ela queria aquela intimidade entre elas – mais do que tudo. Delphine lançou lhe um olhar forçadamente sério. Sabia que havia se mostrado demais à Cosima, porém, estranhamente, ela realmente parecia não se importar muito com aquilo – não mais. Estava sendo voluntariamente desarmada... deliciosamente rendida. Delphine lutava, mas não conseguia impedir à avassaladora vontade de se entregar à sua orientanda – de todas as maneiras humanamente possíveis.
- Sim, Srta. Niehaus... Entretanto, – Súbito tom de um fingido alerta – esteja pronta para suportar vários meses de trabalho árduo sob as rédeas exigentes, tirânicas e carrascas dessa que vos fala. – Concluiu, lançando uma encantadora piscada de olho à Cosima, que sentiu-se resplandecer sob a leveza que sua orientadora emanava.
“Quem é essa mulher e o que ela fez com a verdadeira Professora Cormier?”
- Não há absolutamente nada que eu deseje mais, professora... – As duas foram surpreendidas pela intenção implícita que morava nas entrelinhas daquelas palavras. Sentiam que, de alguma maneira inexplicável, uma sutil – e luxuriosa – promessa se estabelecia ali, fazendo com que mais uma – inebriante – vez, se perdessem uma na outra.
O clima dentro daquela sala era deliciosamente tenso. Elas se olhavam, - se consumiam – mergulhando no ardente desejo contido naquele olhar, expondo e baixando suas guardas. Porém, independente do inconsequente e quase incontrolável desejo, algo mais forte dizia à ambas que aquele ainda não era o momento - não poderia ser. Aquela constatação assustou Delphine muito mais do que espantou Cosima. Por algum motivo louco, Del sentia que precisava ir com mais calma, equilíbrio e serenidade, embora cada fragmento seu desejasse o corpo e a mente de sua orientanda. Não tinha mais como negar... Delphine desejava, fantasiava e perdidamente ansiava por ela, mesmo sabendo que era um desejo totalmente proibido.
- Então, vá aproveitar o seu final de semana... – Del falou, querendo afastar a irracional tentação de perto dela, mas essa parecia ser irreprimível e incontrolavel, mais poderosa até mesmo do que ela era. Cosima reprimiu o pensamento que invadiu sua mente, referente à uma fantástica – totalmente inalcançável – e muito inapropriada maneira de aproveitar o fim de semana dela. ‘’Vai sonhando, Niehaus.... vai sonhando!’’
- É o que pretendo, professora. Marc e os demais me chamaram para conhecer uma boate... uma casa noturna bem badalada, na verdade. – Para o bem de sua sanidade mental e com visível relutância, Cos quebrou a transe do contato visual, checando a mensagem em seu celular no intuito de conferir o convite. – Uma tal de Les Nymphes! – Concluiu despretensiosamente. Delphine sobressaltou-se, esboçando uma expressão curiosa e um tanto divertida, sendo notada por Cosima. – Você conhece?
- Já ouvi falar, na verdade... Dizem que é um excelente lugar, de muito bom gosto e totalmente diferenciado. – Completou de forma provocativa, carregando o tom de voz com uma gostosa e quase imperceptível excitação. – Inclusive, também ouvi dizer que o acesso é altamente restrito... Me parece um local exclusivo e bastante seleto.
- Foi o que me disseram, mas, aparentemente, Marc tem os contatos certos! – Cos piscou um dos olhos de um jeito que só ela era capaz de fazer... muito gentil e totalmente provocante ao mesmo tempo. Ela era adorável! “Você está sendo ridícula, Cormier!”
- Ah, sim... O Sr. Pinot e seus “contatos”! – Representou as aspas de um jeito teatral, rindo das estrelinhas. – Muito bem, divirta-se enquanto pode... Temos muito trabalho pela frente, senhorita Niehaus.
- Eu mal posso esperar, professora Cormier. – O tom de Cosima fez Delphine estremecer e uma nova e atrevida troca de olhares aconteceu. Por Ártemis, o que era aquilo? ‘’Firme, Nieuhaus! Segura a onda, sua louca!’’ – Eér... então, se a senhora não se importar, – Aaah, mas ela se importa sim, com certeza! – eu já vou indo! – Delphine a encarava com indescritível calor e intensidade naquele mar de estrelas que flutuavam em seus olhos.
- Eu preciso dormir um pouco se quiser ter pique para hoje à noite...afinal, uma certa professora carrasca e tirana tem me tirado o sono. – Ela nem fazia ideia! – Nova e ainda mais ousada piscadela! Del a encarou, suspirando discretamente. Aquele flerte já estava atingindo níveis perigosos e quase irreversíveis!
- Fique à vontade, Senhorita Niehaus... Mas, cuidado para não exagerar no absinto! – Foi a vez de Delphine provoca-la. Cosima pareceu ficar sem jeito e acabou corando graciosamente, rindo de si mesma.
- Ah, sim... Deixe comigo... Até mais, professora! – Cosima novamente estendeu sua mão e, dessa vez, Delphine não temeu e muito menos estranhou, imediatamente tocando a delicada mão de sua orientanda, saudando-a. Outra maldita e embriagante onda de pequenos choques acometeu a professora e a aluna e uma luxuriante eletricidade perpassou por elas... Aquilo era delicioso demais! – E, mais uma vez, agradeço por essa segunda chance... Garanto que não irá se arrepender. ‘’Eu realmente espero que não, Cosima...’’ - Delphine assentiu com um leve aceno de cabeça, exalando a arrasadora elegância que aparentava fluir por seus poros enquanto Cosima parecia uma criança feliz, sorrindo com escancarado contentamento, a despeito da alegria que a inundava por dentro.
Delphine a encarou com uma expressão focada e totalmente boba, sorrindo de volta e observando-a sair da sala quase que saltitando de felicidade, porém, inverossimilmente irresistível e deslumbrante. ‘’Como.ela.faz.isso?’’Assim que sua orientanda fechou a porta, uma ideia audaciosa e arriscada começou a se formar em sua mente sagaz. Não tinha certeza se aquele pensamento tinha se originado no fato de ela estar profundamente e incondicionalmente envolvida pela justificativa de sua orientanda, - ou pela orientanda propriamente dita! – e decidiu que não pensaria naquilo agora... sabia exatamente o que queria e pretendia fazer.
******
- Você tem certeza disso, Delphine? – Helena a encarava de braços cruzados, encostada na porta do closetde sua amiga e sustentando um semblante não muito amistoso.
- Absoluta! – Deu um leve e terno beijo em uma das bochechas de Helena enquanto passava por ela para buscar uma calcinha, numas das inúmeras gavetas do imenso closet. – Helena, minha amiga... foi você mesma quem disse não ter encontrado nada que relacione Cosima à Lamartine, não foi? – A segurança revirou os olhos com nítida relutância, mas foi obrigada a concordar, mesmo carrancuda! Del sorriu com a expressão aborrecida dela. – Então, eu não vejo nenhum problema em tentar me “aproximar” da minha nova – atraente, sexy e tentadora - orientanda. – Esboçou as aspas com a mão, brincando com sua amiga.
- Essa “aproximação” pode ser bem perigosa, Delphine! – Helena repetiu o gesto com exagerada intenção, mas com visível insatisfação.
- O que a preocupa, exatamente? – Del a encarou, resoluta e insuportavelmente sedutora. Estava a uma distância mínima de sua protetora, a poucos e atrevidos centímetros, vestindo apenas um robe de seda preto e que sabe-se lá por que inferno, estava torturantemente entreaberto. Helena tentou – muito - desviar os olhos, mas, convenhamos! A beleza surreal e a infernal sensualidade daquela mulher eram uma afronta à humanidade. Delphine fazia aquilo de propósito? Ela sentia prazer em desconcertar Helena? Não era possível, era? A morena piscou rápido, recuperando o sagaz raciocínio.
- Eu... Eu não quero que se machuque, Delphine! – O tom inicialmente despretensioso, tornou-se sério, porém, igualmente terno. Era legítima a preocupação de Helena e Delphine imediatamente soube, intimamente agradecendo o cuidado e a atenção de sua leal amiga e a tocou no braço, transmitindo-lhe seu mais sincero agradecimento.
- Eu sei, Helena... E posso assegurá-la de que não irei me machucar, afinal de contas, não sou mais uma “criança” indefesa, não é!? – Delphine a olhou com descarado divertimento, levando Helena a gargalhar espontânea e ferozmente com a piadinha interna e implícita contada ali!
De fato, Delphine estava muito longe de ser uma criança ingênua no que diz respeito às suas decisões e a várias outras resoluções, inclusive, muitas das quais foram diretamente responsáveis pela proteção e segurança de inúmeras vidas. Entretanto, ela estava agindo de forma diferente e um tanto imprudente nos últimos dias, elevando a preocupação de Helena a níveis alarmantes devido à gravidade do que estava na iminência de acontecer. Ela sabia que Delphine poderia se expor e se arriscar demais, justamente no pior momento, exatamente quando seu inimigo estava claramente aprontando alguma coisa, se preparando, se organizando... elas precisavam agir!
Mas ali, admirando-a, observando aquele espetáculo de mulher se produzir, Helena sentiu medo... Ela precisava saber mais, saber absolutamente tudo sobre Cosima e iria até o inferno se fosse preciso! Quem era aquela mulher e por que diabos ela mexia tanto com Delphine? Sua chefe simplesmente não tinha forças para combate-la e aquilo poderia significar a ruína dela e de tudo que Delphine representava... Isso, Helena não iria permitir. Precisava saber se suas desconfianças iriam se confirmar e, exatamente por isso, esperava ansiosamente por uma ligação, checando o seu telefone a cada cinco malditos minutos. Del a olhou curiosa e rapidamente.
- Nossa, Helena! Se essa mulher não ligar logo, você vai ter uma sincope! – Riu enquanto colocava os maravilhosos brincos.
- Deixa de ser besta, Delphine! Não é nada disso, é apenas trabalho, okay!?! – A segurança se justificou, exagerando no ultraje fingido enquanto tentava disfarçar a inquietação que sentia em ver sua chefe daquele jeito... deslumbrante. Um segundo depois, a esperada ligação finalmente aconteceu e, antes que Helena pudesse sequer piscar, Delphine pegou o telefone da mão dela, sendo mais rápida e ágil do que a própria morena, que estava quase numa espécie de transe enquanto admirava a arrasadora produção de sua chefe para aquela noite. – Eu vou matar você, Delphine! Me devolve aqui, agora!
- Olha o que temos aqui...! São os fantasmas do natal passado! – Del ironizou, abusada e brincalhona enquanto sacudia o telefone para Helena, que imediatamente partiu furiosa na tentativa de tomar o disputado aparelho das mãos de Delphine e essa, “lutava” contra ela de um jeito leve – ridículo - e engraçado, tentando atender a ligação. – Olá, Stella! Boa noite, tudo bem? – Utilizou seu tom de voz mais formal e intimidador enquanto segurava o abafado riso! Helena a encarava ultrajada e com fingida raiva – Sim, sim, a Helena está aqui. Ah, claro que vou passar, antes que ela quebre o meu braço! – A toda poderosa riu descaradamente, se divertindo com a aflição da amiga enquanto ela revirava os olhos.
Helena finalmente teve o seu telefone de volta e, antes de colocá-lo no ouvido, lançou ameaças veladas para Delphine, que gargalhava alto enquanto voltava para o closet.
- Oi, Stella. Me desculpe por isso. Hoje a Delphine está impossível!
- Eu ouvi isso, hein!!! – A loira gritou lá de dentro, fazendo a morena sorrir.
- Ei, Helena! Tudo bem. O que está acontecendo? Ela está de bom humor? – Surpreendeu-se a mulher do outro lado da linha, nitidamente incrédula. – Acho que em todos esses anos, eu nunca a vi nem mesmo sorrir! – Helena não respondeu o comentário descontraído, fazendo com que Stella focasse no que realmente interessava. – Enfim, sobre o que você me solicitou por e-mail... – O tom da conversa ficou subitamente sério e Helena procurou se afastar o suficiente para que Delphine não pudesse ouvi-la. Stella continuou. – Isso é muito sério, Katz! Se o que você está pensando for realmente verdade, pode muito bem significar uma traição ou até mesmo, um motim dentro da Ordem.
- Eu sei, Stella... E é exatamente por isso que eu recorri a você nessa confusão toda... você é a única em que eu confio e que pode levantar as informações que precisamos. – Confidenciou.
- Eu pensei que as informações que eu consegui e repassei a você sobre a tal Niehaus, tivessem sido suficientes. – Apreensão era a principal nuance na voz de Stella. Helena olhava atenta o corredor de acesso ao closet, certificando-se de que Delphine continuava lá.
- Foram extremamente úteis, Stella, e eu lhe agradeço muito por isso. Porém, talvez tenhamos olhado para o lado errado. – Explicou – E quero descartar todas as possibilidades. Precisamos ter muito cuidado e cautela. – A outra não disse nada, apenas aguardou por mais instruções.
– Tente encontrar algo referente aos últimos dois anos. Delphine me disse que a Niehaus comentou que tinha passado os últimos dois anos dedicada à essa pesquisa. O mais lógico é que alguém tenha entrado em contato com ela no intuito de entrega-la algumas informações e é nisso que acredito. Precisamos saber quem foi. Posso contar mais uma vez com você? – Breve silêncio, interrompido por um profundo e preocupado suspiro.
- Bom... Se é pelo bem da Ordem... Tudo bem! Hei... Você sabe que faço tudo por você, não sabe? – O leve tom de brincadeira não escondia o real significado daquelas palavras e Helena sentia isso. Ela sabia que toda a dedicação de Stella Gibson tinha origem mais profunda.
- Muito obrigada, Stella. Ficarei aguardando. – Despediu-se cordialmente e desligou em seguida. O fato era que Helena mal teve tempo de pensar a respeito do caso passado vivenciado entre elas, sendo completa e inacreditavelmente impactada pela insultante visão do que era Delphine Cormier naquela noite. ‘’Puta.que.pariu’’ Helena precisou engolir em seco e certificar-se de que não estava babando naquele momento. Se Delphine já era violentamente linda e luxuriosamente sexy por natureza, naquela noite, ela havia ultrapassado TODAS as expectativas... Estava perversamente soberba e inacreditavelmente magnífica. Helena simplesmente não conseguia parar de olha-la e foi totalmente inevitável não sentir uma absurda inveja do motivo daquela produção toda: Cosima Niehaus.
******
Às 23h00, uma incessante e escandalosa buzina alardeava a chegada de seus animados amigos! E era óbvio – claro, lógico e evidente - que Cosima estava naturalmente atrasada, já que havia passado boa parte do dia alternando entre longos cochilos e várias ligações, narrando seus agitados e intensos dias na cidade dos amantes. Inclusive, chegou até a cogitar desistir do programinha noturno, mas acabou sendo incentivada por Shay que havia ligado mais cedo, querendo saber o resultado da famigerada reunião. Por fim, Cos acabou concluindo que não seria nada mal e que não haveria problema nenhum em sair com seus – malucos - amigos para fazer uma das coisas que ela mais – loucamente adorava: dançar! Exatamente às 23h18, Cosima descia as escadas de seu prédio e uma estranha adrenalina a invadia, deixando-a agitada. Se esforçava para não pensar nela, no que eladeveria estar fazendo naquela agradável noite de sábado. ‘’Já deu, Niehaus.’’ Sacudiu discretamente a cabeça, decidida a afastar o pensamento e curtir o que a noite reservava pra ela.
O carro de Marc estava com a lotação quase completa. Nele, também estavam René, Amélia e Sophie. ‘’Curiosamente’’, o lugar reservado para ela era justamente entre Amélia e René. Cos revirou os olhos para a nada sutil forçação de barra que aquilo representava e, naquele momento, uma pontada de arrependimento a dominou. Que ótimo.
“A noite vai ser realmente longa!” O desânimo de Cosima aumentava à medida em que ela alternava o olhar entre os dois, que descaradamente a comiam com os olhos!
Ainda no carro, deu-se início ao impertinente interrogatório acerca de sua reunião com a Toda Poderosa. Mais cedo, ela havia explicado a eles que tinha se salvado da temida expulsão, mas não deu maiores detalhes, mesmo com toda a insistência por mais.
- Então, conta pra gente, Cos! Como é estar cara a cara e sozinha com a PhDeusa? – Indagou Sophie. A expectativa era quase palpável e todos estavam curiosamente atentos à resposta.
- Aaahh, vocês sabem... – Cosima sobressaltou-se com o sonoro e uníssono ‘’NÃO!’’ que recebeu de todo mundo. – Como assim, ‘’não’’? Vocês são orientandos dela tanto quanto eu! Pelo amor da Deusa, gente!
- Pera lá! Nossas reuniões de orientação são sempre coletivas ou através de e-mail ou até mesmo por chamadas de Skype quando ela está fora! – Afirmou René, resoluta e divertidamente.
- O que acontece muito, vale salientar! – Emendou Amélia, parecendo mais interessada que os demais.
- É tão assustador assim?? Quero dizer... estar na presença dela, sozinha? – Insistiu a jovem de sardinhas no rosto e ondulados cabelos castanhos.
- Reza a lenda, que ela suga a vida das pessoas! – René brincou, fazendo todos gargalharem do comentário zombeteiro e idiota. Entretanto, Cosima não conseguia mais enxergar a Delphine que seus amigos viam. Ela pôde conhecer mais daquela mulher intrigante, misteriosa e fascinante, surpreendendo-se com a maneira gostosa e exoticamente natural com que começava a sentir-se à vontade com ela, na presença imponente e ao mesmo tempo acolhedora que fluía dela... sem mencionar os torturantes e proibidos – e enlouquecedores - desejos que insistentemente invadem e dominam seus pensamentos, seu corpo e sua essência...
- Então... a princípio ela é realmente intimidadora... tipo, muito mesmo, mas... – Cosima desfocou o olhar e pareceu absorta em suas próprias palavras, como se a estivesse sentindo ali, enquanto falava dela. - Depois, ela acaba sendo uma pessoa diferente... mais leve e até mesmo...gentil, eu acho. – Silêncio mortal por um infinito segundo. Os Semideuses pareciam petrificados com a resposta de Cos!
- Para T-U-D-O! – Marc aproveitou o sinal vermelho, virando o corpo em direção ao banco de trás para poder encará-la. – Estamos falando da mesma Professora Cormier? A megera inatingível?? – Nova rodada de poderosas gargalhadas! Cos se pegou mais uma vez pensando nela, sentindo um – delicioso - frio percorrer sua espinha ao recordar o som inebriante e sensual que era a risada de sua orientadora. Fechou os olhos e sorriu, experimentado a gostosa sensação de um atrevido calor que se apossava do ventre dela.
Estavam virando a esquina que dava para a entrada da boate e Cosima pode constatar o quão impressionante e totalmente sofisticado era o espaço do lado de fora, ocupando praticamente todo o quarteirão e esse, era cercado por uma imensa fila de pessoas visivelmente ansiosas para entrarem no local. ‘’Les Nimphes’’Cosima avistou o fenomenal e elegante letreiro que evidenciava o nome do lugar e que, por sinal, muito a agradou e surpreendeu, já que as Ninfas eram os seres mitológicos que viviam nas florestas e eram as companheiras da deusa Artémis. Ou seja, o feminino era o destaque naquele lugar, o que ficou ainda mais claro pela quantidade de mulheres naquela fila.
Assim que desceram do carro, Cosima já ia caminhando inocentemente para o final da fila quando foi sutilmente interrompida.
- Onde a senhorita pensa que vai? – Amélia segurou seu braço, aproximando-se dela de um jeito um tanto insinuante. Cos a encarou meio confusa.
- Para o fim da fila, não?! – Rebateu. Amélia riu e a olhou com fingida decepção!
- Minha querida, você está com Marc Pinot! Nesse momento, isso significa que não somos reles mortais... – Amélia piscou para ela.
- Somos SEMIDEUSES! – Louis gritou, aproximando-se do grupo de amigos com escancarado sorriso. Estava acompanhado de um outro homem um pouco mais velho e muito bonito; era o namorado dele.
- Cos, onde está o seu amigo? Nós já vamos entrar! – Marc indagou e Cosima pediu um segundo enquanto sacava o celular, já ligando para ele.
- Fee, onde você está? Estamos prontos para entrar e só estamos te esperando. Onde? Na fila? – Marc indicou um ‘’não’’ com a cabeça. – Fee, venha para a entrada agora! – Com muita expectativa, Marc acenou divertidamente às pulseiras com um leve brilho neon que tinha acabado de conseguir com o seu maravilhoso e muito útil contato! – Temos acesso vip!
Em poucos segundos, Felix se aproximou do grupo, surpreendendo geral com o estiloso visual. Ele realmente sabia como chamar a atenção, além do fato de ser um homem belíssimo e muito atraente. Como havia presumido, Cosima acertou em cheio no palpite de que Felix fazia o tipo de Marc, não demorando muito para que começasse a sugestiva e envolvente troca de olhares entre eles enquanto entravam na majestosa boate, numa empolgação total!
Se a fachada daquele espaço já se destacava pelo extraordinário luxo e a sofisticação, o interior era puramente inenarrável, simplesmente de cair o queixo e de tirar o fôlego! A indescritível decoração e inacreditável ambientação, harmonizavam com absurda perfeição os elementos da antiga Paris da Belle Époque com a distinção e elegância dos componentes do modernismo do século XXI. Até mesmo as tonalidades de todas as cores existentes ali pareciam se articular num dégradé perfeito. O local estava abarrotado de gente e mesmo assim, não era lotado e desconfortável, disponibilizando bastante espaço para a livre circulação. Assim que passaram pelo corredor de entrada, deixaram os sobretudos nos armários da recepção e, no instante em que Cosima retirou o dela, foi acometida por um vultoso constrangimento, já que todos do seu pequeno grupo e até algumas pessoas mais próximas a eles começaram a assoviar e dar gritinhos, demonstrando o chocante impacto que o visual dela havia causado.
Cos olhou para si mesma e verdadeiramente não achou nada demais naquela produção, but², essa claramente não era a mesma opinião de aparentemente TODOS que puseram os olhos nela, sem exceção! Cosima usava um vestido leve e fino, de fundo azul petróleo com detalhes estampados também num tom de azul, porém quase cinza, preso apenas na base de sua nuca, deixando os ombros e braços à mostra. O cumprimento daquela peça era um show à parte, visto que não chegava nem até a metade de suas torneadas coxas. Cos calçava botas pretas de cano longo até os joelhos e salto médio, porém fino, realçando ainda mais as maravilhosas pernas. Os dreads estavam soltos num estilo único e completamente dela, ressaltando ainda mais a beleza formidável de seu rosto, já evidenciada pela sombra escura no olhos e pelo batom num vermelho vinho, mais fechado e insuportavelmente sensual. Como complemento, as estilosas e alternativas pulseiras adornavam o visual, conferindo um ar ainda mais sexy a ela. Definitivamente, era um espetáculo de mulher.
- Você está simplesmente maravilhosa, Cosima! – Amélia sussurrou em seu ouvido, estranhamente provocando-lhe um arrepio. A verdade era que todos os integrantes daquele grupo chamavam muita atenção, até mesmo pela diversidade que os compunha, tornando-os uma atração por onde quer que fossem.
Logo chegaram a um exclusivo lounge que ficava bem próximo a principal pista de dança e ocuparam uma mesa redonda com um grande e aparentemente confortável sofá de couro acinzentado. Cosima observou o surreal cenário que dava vida àquele lugar. Vários telões e projeções reproduziam as várias pessoas que dançavam ali. Era impressionante. Surpreendeu-se também ao avistar a imensa parede de vidro que cobria toda a extensão dos 3 andares daquele lugar, magicamente ladeada por inacreditáveis quedas d’Água que formavam um efeito magnificamente lindo quando eram tocadas pelos canhões de luz.
Ainda nem tinham se acomodado quando foram cumprimentados por uma belíssima mulher de pele alva e ondulados cabelos num ruivo fechado.
- Pessoal, essa é Adele Dubeaux, gerente do Nimphes! – Marc a introduziu.
Todos a cumprimentaram entusiasmadamente, agradecendo a calorosa recepção num lugar tão grandiosamente luxuoso como aquele. Para o espanto de todos do grupo, dois garçons vieram em seguida, trazendo algumas bebidas antes mesmo de terem pedido qualquer coisa e Adele logo se adiantou a esclarecer.
- Essa rodada de drinks são as boas-vindas à nossa casa, totalmente por nossa conta. Aproveitem e se divirtam! - Sinalizou para que os garçons depositassem as taças de vodca, as cervejas e os martinis na mesa. Entretanto, algo chamou a atenção e despertou a curiosidade de Cosima e do restante do grupo. Aquelas bebidas eram exatamente os drinks que muito provavelmente seriam pedidos ali, cada um por uma pessoa, exceto Cosima. Nada do que foi trazido tinha sido para ela! Um segundo depois, percebeu um terceiro garçom aproximar-se de onde estavam e, para sua completa e inesperada surpresa, ele trazia uma taça do mais raro, exclusivo e convidativo Absinto. ‘’O que?’’ Cosima encarou Marc totalmente incrédula!
- Hei, não olhe para mim! Não tenho nada a ver com isso! – Levantou as mãos nas laterais do corpo, num gesto de declarada e exagerada inocência! Em seguida, tomou rapidamente sua dose de vodka.
O grupo trocava olhares curiosos e especulativos, não entendendo como suas preferências foram parar ali, magicamente diante de cada um deles! Repentinamente, uma hipótese irrompeu a mente de Cosima assim que os lábios dela provaram o impetuoso absinto. Automaticamente, seus olhos varreram o lounge inteiro e também a pista principal, na insana e descabida tentativa de encontrá-la... Seria possível aquilo? Era claro que não! Ela estaria enlouquecendo? Bem possível que sim! ‘’Pare com este inferno, Niehaus!’’ Mas ela não parava – não podia! O fato era que seu corpo tinha vontade própria quando se tratava daquela mulher e sem mesmo perceber, começou a movimentar-se pelo espaço do lounge, procurando, desejando... porém, nenhum sinal dela. Adele despediu-se de cada um e Cosima ainda tentou acompanhar os passos da gerente, porém, logo a perdeu de vista enquanto Adele se misturava a multidão.
“Okay... é apenas coincidência! Só isso.., Esquece.” Uma louca e impossível coincidência! Sorveu o segundo gole daquela bebida diabolicamente divina.
- Sabia que o Absinto é afrodisíaco? – René se insinuava na maior cara de pau.
- Era a bebida favorita dos artistas e boêmios franceses do início do século XX – Interrompeu Amélia, igualmente insinuante. Os dois encaravam Cosima e depois se entreolhavam não muito amistosos. – Porque será, né? – Estavam – ridiculamente - audaciosamente disputando quem teria a atenção dela, fazendo-a revirar os olhos no exato instante em que Felix a encarou com uma expressão divertida e muito safada enquanto levantava dois dedos, indicando a quantidade de pretendentes que ela tinha. Cos sorriu com a brincadeira do amigo. Mal sabia ele que o que ela realmente – desesperadamente, loucamente - queria, com cada célula do corpo dela, era que uma outra – única - pessoa estivesse ali, mais precisamente, a chefe dele. Cos mordeu o lábio num sorriso cafajeste, fazendo com que a respiração da dupla de pretendentes falhasse audivelmente! Certamente, aquele lugar badalado não seria um ambiente para Delphine Cormier, apesar de ser de extremo bom gosto e elegância.
Okay! O jeito era parar com aquela loucura e aproveitar a noite! Cosima se conformou com o fato de que aquele inconsequente e leviano desejo jamais seria concretizado, ‘’É claro que não!’’ sorvendo o terceiro gole, já começando a sentir o efeito inicial daquela poderosa e deliciosa bebida no exato momento em que uma de suas músicas favoritas começou a tocar. Virou o restante do absinto de uma vez, balançando a cabeça com a prazerosa sensação que a aquela bebida - e sua professora - lhe proporcionava.
- Eu necessito dançar AGORA! Quem vem? – Cos comentou, já seguindo em direção à pista de dança que ficava logo abaixo de onde estavam. Sophie, René, Amélia, Marc e Felix a seguiram, começando a sentirem a energia da batida da música, exatamente como todos naquele lugar incrível;
Icona Pop - I Love It
I got this feeling on the summer day when you were gone
I crashed my car into the bridge, I watched, I let it burn
I threw your shit into a bag and pushed it down the stairs
I crashed my car into the bridge
I don't care, I love it, I don't care!
Linda e totalmente autêntica, Cosima dançava e cantava divertidamente com os amigos e os demais presentes ali, natural e facilmente hipnotizando quem ousasse olha-la por mais do que despretensiosos – não tanto assim - 5 segundos. Sem nem perceber, já estava sendo envolvida por Amélia e René, que agora já não faziam nenhuma questão de esconder a disputa entre eles e por ela! A situação era tão ridícula que fazia Cosima rir! Ela se divertia tanto que simplesmente os ignorava, tranquila e resoluta. Inesperadamente, foi arrancada do universo paralelo em que estava quando seus amigos indicaram os grandes telões que adornavam a pista... Cosima ficou euforicamente perplexa ao perceber que a projeção do momento era ela, surpreendendo-se com o quanto estava gostando daquilo, se entregando ainda mais à dança e a misteriosa energia que envolvia aquele lugar.
******
- As bebidas foram entregues exatamente como você solicitou, Delphine! – Adele informou enquanto adentrava a ampla e invejável sala que pertencia à direção daquele estabelecimento.
- Eu vi, Adele... Muito eficiente, como sempre. Obrigada – Delphine respondeu de costas para ela e sem a menor intenção de encará-la, uma vez que estava absurda e inteiramente concentrada no paradisíaco cenário logo abaixo dela. Daquela ostensiva e luxuosa sala, Delphine assistia Cosima hipnotizar a pista de dança com assombrosa naturalidade e impossível sensualidade, completamente deliciada com a visão irreverente – - e tentadoramente irresistível – de sua orientanda. Tinha toda a privacidade que aquela parede de vidro lhe conferia, revelando completamente todo o lado de fora para quem estava dentro e omitindo totalmente o interior da parede para quem está fora. Exatamente como um magnífico espelho.
Cosima dançava com a alegria, entusiasmo e a espontânea energia que lhe eram tão característicos. Cada mínimo movimento dela era encantadora e naturalmente sexy, sem mencionar o quanto ela estava insuportavelmente atraente – e deliciosa. Delphine percebia os olhares gulosos e descaradamente desejosos de homens e mulheres que a cobiçavam – demais – e, mesmo sem compreender exatamente como e o porquê daquela sensação, aquela constatação muito a incomodava, começando a irritá-la. Uma batida de coração depois, esse incomodo atingiu o patamar do insuportável quando viu Amélia enlaçar o pescoço de Cosima, na clara e insolentemente ousada tentativa de beijá-la. Delphine suspirou nitidamente exasperada. ‘’Muito abusada, Srta. Mayfair...’’
Amélia estava achando que era quem? Não poderia e muito menos permitiria que aquilo ficasse daquele jeito! – não mesmo. Alguma coisa ainda mais forte que o invejável auto controle que possuía, pulsava dentro dela, impossível de se ignorar! Seguiu em direção à porta da sala secreta, firme e decida, pegando um pequeno objeto sobre a mesa antes de alcançar a saída. Assim que a porta que dava acesso ao andar da pista principal se abriu, cada mero mortal que estava mais próximo ficou mortalmente paralisado, num completo e incontrolável transe enquanto contemplavam o explosivo e sensual andar daquela mulher exuberante e terrivelmente poderosa.
Enquanto Delphine petrificava um lado da pista de dança, no outro, Cosima usava todo o seu gingado para se esquivar das ousadas investidas de seus dois “pretendentes”! Aquilo já começava a alcançar o famoso limite quando num súbito, como se algo fosse acionado dentro dela, uma mística e inexplicável energia a possuiu e sem a completa consciência de seus movimentos, virou a cabeça para a direita e podia jurar ter visto um resplandecer de fios dourados e exuberantes, deslizando em câmera lenta por de trás de uma pequena multidão de pessoas que estranhamente não estavam dançando. Não, não era possível! Era? Não podia ser! Cos chegou a esticar a cabeça e ficar na ponta dos pés no intuito de ampliar o ângulo para ver melhor, porém, logo perdeu aquele dourado – único– de vista.
‘’O que... não seja iludida, Niehaus!’’ Duvidava se realmente tinha visto o que imaginou ver, ou se era efeito dos poderes daquele raro Absinto, fazendo-a delirar. Pelas Deusas, que diabo de sensação era aquela? Lentamente fechou os olhos, voltando a dançar no ritmo da música seguinte, só percebendo que o fazia sozinha quando abriu os olhos e sobressaltou-se com as expressões mortificadas nos rostos de seus amigos e até mesmo dos desconhecidos ali. ‘’O que está acontecendo?’’ Todos – absolutamente todos - estavam embasbacados e totalmente boquiabertos enquanto olhavam na mesma direção, em algum ponto logo atrás dela – ou mesmo através dela. ‘’Não pode ser...’’ Cosima fechou os olhos... Seu coração parecia ter recebido uma injeção da mais pura adrenalina, batendo disparado no peito! Suas pernas tremeram na eminência de fraquejarem, cedendo à louca e assustadora expetativa que a devorava. Mais uma vez, sentiu a mística energia apossando-se dela, novamente acionando algo em seu íntimo, alertando-a... Só que dessa vez, tinha a absoluta certeza do que seus olhos encontrariam ao virar-se para trás.
Cosima estaria pronta para aquele encontro? Estaria pronta para ela? Não sabia responder e também não se importava mais, entregando-se a incontrolável e impetuosa vontade de vê-la. Encheu-se de uma súbita coragem e virou-se lentamente, sendo imediata e sobrenaturalmente impactada com o que seus olhos puderam ver, juntando-se aos demais reles mortais petrificados ali, que simplesmente reverenciavam aquela vigorosa Deusa diante deles. Muito honestamente, aquela mulher não podia ser real! Mas, ela era. Por uma fração mínima de segundo, Cosima acreditou que suas pernas não suportariam a opressora e inebriante presença dela.
Ela estava realmente lá, em toda a sua intimidante grandeza e... PUTA QUE PARIU! A beleza e a luxúria que pulsavam dela era insultante e absurdamente impossíveis! Delphine estava ultrajantemente ainda mais linda e deslumbrante. Aquilo era possível?? ‘’MINHA NOSSA.’’ Cosima piscou os olhos várias vezes, certificando-se de que não se tratava de uma – tentadora – miragem... Ela podia jurar que naquele momento, estava no mais quente e seco dos desertos, dado o poderoso calor que a invadiu ali, sentindo uma potente sequidão em sua garganta, contrastando violentamente com a inundação em outros lugares.
Delphine permanecia exuberantemente parada, ainda mais majestosa e sensualmente soberana do que nunca! Estava toda de preto. O visual inumanamente arrasador começava com um belíssimo Scarpin num preto aveludado, de saltos finos e altos, ainda mais ressaltados por uma sofisticada calça de linho, perfeitamente ajustada naquele esplendoroso corpo e de cintura baixa. Por último e logicamente não menos importante, a peça que finalizava a produção impressionante e destruidora de qualquer psicológico; Cosima sentiu o ar faltar nos pulmões e a respiração vacilar no instante em que ergueu o olhar... A imponente Deusa usava um blazer de corte altamente elegante e quase masculino, convidativamente aberto e sem ABSOLUTAMENTE NADA por baixo! Nada... A única coisa que impedia que aquela peça se abrisse e causasse um mortal e concreto genocídio ali, era uma pequena e sofisticada corrente prata que ligava os dois lados daquele blazer, justamente - e impertinentemente - na altura dos seios... Era a mais pura e provocante luxúria.
Os mágicos cabelos estavam propositadamente mal presos num exuberante coque e a maquiagem era quase sombria, com uma sombra escura e perfeitamente esfumaçada em seus olhos, contrastando com o maravilhoso batom vinho e que realçava ainda mais os perfeitos e - insuportavelmente - sedutores lábios. O tempo parecia totalmente desacelerado e o calor entre as penas de Cosima rapidamente se acentuou! Naquele instante, ela teve certeza que não seria mais capaz de – tentar – esconder o insano desejo que a dominava, estremecendo-a por inteiro.
Aparentemente, todo mundo ali estava completamente vidrado na imponente e impressionante Deusa que Delphine era naquele momento, mas ela simplesmente não enxergava absolutamente ninguém... todo o seu foco, atenção, interesse e profundo desejo pertenciam a ela... Delphine só tinha olhos para uma única mulher: Cosima Niehaus. Estava completamente vidrada em sua orientanda e propositalmente acentuou a intensidade do olhar, evidenciando o - delicioso – desejo que seus olhos continham, fazendo Cosima pensar que cairia totalmente desfalecida ali mesmo! ‘’Puta merd*!’’ Estavam a alguns metros de distância e Delphine a olhou com a expressão mais hipnotizante e absurdamente provocante que Cosima poderia imaginar ser humanamente possível... encarando-a com o olhar mais sacana e delicioso - quase selvagem – que conseguiu expressar ali. Delphine entreabriu os lábios vagarosamente e de maneira muito envolvente, balbuciando de um jeito pausado e inquestionável, se fazendo entender:, apesar da música alta. Mas isso pouco importava pois inexplicavelmente, Cosima poderia ouvi-la bem em seu íntimo.
- Dance pra mim, Cosima...
A mensagem atingiu o alvo com uma força e precisão absurdas, dominando-a, consumindo-a, enlouquecendo-a. Como se sua vida dependesse daquilo, Cosima desejou - desesperadamente - dançar - se entregar - para ela, inclusive, chegando a sentir em seu íntimo a música que ela gostaria que tocasse naquele momento, tanto pela letra como pela impetuosa e envolvente batida. A energia e o profundo magnetismo que as envolviam era palpável e onipresente, ocupando cada mínimo espaço daquela pista de dança, daquela boate, daquele país, daquela galáxia. Como por encantamento e como se o DJ pudesse ler o seu pensamento, a música desejada começou a tocar, disparando sua ansiedade e potencializando a insana vontade que a percorria.
Baby, this is what you came for / Baby, foi para isso que você veio
Lightning strikes every time she moves / Um relâmpago nos atinge cada vez que ela dança
And everybody's watching her / E tudo mundo está olhando para ela
But she's looking at you, you... / Mas, ela está olhando para você…
You / Você…
Lentamente, Cosima começou a serpentear seu corpo da maneira mais escandalosamente sedutora possível, erguendo e baixando os braços com movimentos precisos e absurdamente sensuais, fazendo com que seu vestido subisse audaciosamente e um pouco mais, quase revelando o que tinha por baixo. A atmosfera soltava faísca e todos ao redor das duas pareciam paralisados e completamente envolvidos na excitante tensão entre elas! Aquela cena era digna de ser eternizada na mente de qualquer um que pudesse presencia-la. Os mortais alternavam os olhares completamente em transe, ora para a Deusa estática e impossivelmente perfeita, ora para a irresistível tentação que era a mulher dançando diante dela, para ela.
Totalmente envolvida e completamente hipnotizada, Delphine perdia cada gota de razão e bom senso que possuía à medida que a música avançava e Cosima aumentava o ritmo de seus – fascinantes e convidativos – movimentos. Surpreendente e inesperadamente, Delphine assustou-se com a súbita certeza de que sua orientanda se sentia exatamente como ela, sendo capaz de sentir o que Cosima sentia com nítida e inexplicável clareza. ‘’Mas... como?’’ Numa lenta e descompassada batida de coração, Delphine catalisou aquela – deliciosa – loucura... Ela estava dentro da mente de Cosima e quase enlouqueceu com tudo que pôde ver e sentir ali...Queria, cobiçava, ansiava em vê-la de todas as formas possíveis. No segundo seguinte, acionou o dispositivo que trazia em mãos e um momento depois, todos os telões que adornavam a pista começaram a projetá-la... Exibindo apenas a imagem de Cosima, impressionante e linda.
Naquele místico lugar, inundada por um turbilhão de sentimentos e sensações, cercada por sua própria imagem, Cosima foi novamente arrebatada por um fio de uma poderosa e misteriosa energia. Porém, dessa vez, teve a impressão de que esse fio a ligava diretamente à Delphine, conectando-a com a mente dela, fazendo com que imaginasse com nítida vivacidade sua desorientadora ordenando-lhe, voraz e determinada:
- Senhorita Niehaus... – Cosima fraquejou com o absurdamente provocativo tom daquela afrodisíaca voz, sussurrando seu nome quase como uma deliciosa prece.
- Toque-se pra mim...
A morena estremeceu por inteiro, mas não hesitou nem por um momento! Sem parar de dançar, desceu uma de suas mãos, deslizando-a enlouquecedoramente por entre seus seios... sua barriga... parando por um infinito segundo, apenas para saborear o cerrar dos olhos de Delphine e vê-la morder de um jeito insanamente delicioso o lábio inferior... absurdamente excitada. Cosima sorriu com o canto da boca, completamente extasiada pela imagem de sua orientadora ali, querendo devorá-la. Sem precisar pensar uma única vez, enfiou a mão por baixo do seu vestido. Delphine quase cambaleou com aquela poderosa visão e teve o último e frágil resquício de sanidade violentamente drenado quando assistiu Cosima, totalmente confiante e completamente consumida pelo desejo, retirar a mão do meio das próprias pernas e leva-la até a boca, sugando e lambendo os dedos desavergonhadamente. Delphine fechou os olhos e sem conseguir se controlar, soltou um gemido rouco e cadenciado.
- Você me dá água na boca, Cosima...
Agora, era a vez de Cosima invadir a mente de Delphine:
- Você quer, Delphine...? – A loira umedeceu os lábios em resposta; Cosima não deixou por menos... – Então, vem pegar...
Em um único fôlego, Delphine lançou-se em direção à ela, parando a ínfimos centímetros de seu rosto e, naquele momento, as duas sentiam o intenso calor e a excitante vibração de seus corpos... Sentiam o poder avassalador do sobrenatural magnetismo que desesperadamente as atraia. A vontade pulsava e acelerava seus corações enquanto admiravam com profundo ardor o que enxergavam nos olhos uma da outra... desejando, implorando - e loucamente – ansiando absolutamente tudo que encontravam ali. Sem mais conseguirem esperar pela permissão das Deusas ou mesmo do próprio universo, suplicaram e exigiram num intenso sussurro e com inacreditável sincronia, o profundo e desesperado desejo que com muita ânsia e vontade, implorava para ser saciado...
- Me beija...
Assim que seus desesperados lábios se tocaram, um poderoso frenesi das mais indescritíveis sensações se desencadeou... provocando o mais absoluto e profundo dos êxtases... Elas tinham encontrado o que tanto ansiavam. Elas tinham encontrado o que suas almas tanto imploravam: Uma a outra.
Glossário e Referências:
[1] Texto original: “Antes que existira ou pudesse existir qualquer classe de movimento feminista, existiam as lesbianas, mulheres que amavam a outras mulheres, que recusavam cumprir com o comportamento esperado delas, que recusavam definirem-se em relação aos homens, aquelas mulheres, nossas antepassadas, milenares, cujos nomes não conhecemos, foram torturadas e queimadas como bruxas.” Adrienne Rich
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]