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An Extraordinary Love por Jules_Mari

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Palavras: 7794
Acessos: 3642   |  Postado em: 27/11/2017

Capítulo 13 Duelo de Titãs.

Como numa reação química altamente explosiva e extremamente impressionante, o choque provocado pelo encontro de seus corpos desprendeu uma energia arrebatadora e incomum, desencadeando nelas, sensações absurdamente intensas e inesperadamente embriagantes, como se o mundo inteiro estivesse em câmera lenta. O cheiro indecentemente delicioso que Delphine exalava atingiu Cosima com a força de um raio tocando o mar em meio a uma violenta e incontrolável tempestade, eletrizando e aguçando todos os seus sentidos, fazendo com que seu corpo reagisse imediatamente àquela afrodisíaca fragrância, tatuada em seu íntimo desde a noite em que se conheceram. Fechou os olhos por um infinito segundo, saboreando a proibida sensação que a invadia.

Os cabelos de Delphine se agitaram devido ao inesperado impacto e Cos pôde senti-los... Toda a delicada suavidade das mechas maravilhosamente douradas que beijaram seu rosto, fazendo-a corar instintivamente. A enlouquecedora proximidade entre elas era atordoante demais e Cosima simplesmente não conseguia organizar inferno de pensamento nenhum! Tudo o que seu corpo e sua mente assimilavam era ela.... A presença inacreditavelmente erótica e quente que pulsava dela... ‘’puta.que.pariu’’

Delphine foi pega totalmente de surpresa; estava completamente absorta em seus pensamentos, repassando mentalmente o plano que havia articulado para desmascarar a impostora que Lamartine supostamente havia enviado para seduzi-la – e enlouquecê-la e encantá-la e instigá-la -  e de repente, aquele brusco encontro! Antes que pudesse processar a situação, sentiu-se absurdamente envolvida por uma onda de calor que invadia e abraça seu corpo, incendiando-o em cada ponto em que haviam se tocado.

O instante durou uma forte e descompassada batida de coração, sendo mais do que o suficiente para provocar um impertinente – e delicioso - arrepio em cada maldita célula do corpo de Delphine no exato momento em que seus rostos se tocaram, permitindo-a sentir a textura única e inebriante da pele de Cosima... Como aquilo era possível? A consciência de que a boca de sua orientada estava a uma distância quase microscópica da sua, fez sua respiração assim como suas pernas e seu raciocínio, vacilarem por um demorado segundo.

Num movimento lento e magicamente sincronizado, seus olhos finalmente se encontraram e o tempo desacelerou drasticamente. Toda a misteriosa perfeição do universo projetou-se naquele olhar e o restante do mundo não existia mais. Ali, foram facilmente capturadas pelo incompreensível e envolvente magnetismo que as cercavam, quase como se quisessem se deixar prender. Se viram completamente rendidas pela desmedida conexão que seus olhos estabeleceram, tão íntima e profunda que se durasse mais alguns segundos, seria capaz de despir as muralhas das almas que se confrontavam ali... As pupilas se dilatavam a medida que a inverossímil energia entre elas fluía, captando cada mínimo detalhe uma da outra.

A flama do verde vivido dos olhos de Cosima pareceu brilhar como os de um felino alerta ao adentrar a negra e misteriosa floresta sob a luz do crepúsculo que eram os olhos de Delphine. Quanto mais adiante ela ia, menos desejava voltar. Não, definitivamente nenhuma das duas queria quebrar a hipnotizante ligação que parecia ter sido orquestrada pelas damas do destino, entretanto, o som de algo caindo no chão as trouxe de volta, despejando um primoroso balde de água fria em cada uma. Que merd*! Era o material de Cosima, a droga dos livros e papeis que haviam escorregado de seus braços flácidos devido a inexplicável e intensa sensação que vivenciava.

Ela se abaixou apenas um segundo antes de Delphine fazer o mesmo no intuito de... ajuda-la? Del não sabia exatamente o por que havia feito aquilo e a imensa necessidade de cuidado para com sua orientada começava a ficar descabida e ridícula. O semblante de Cosima foi dominado pelo choque e estarrecimento ao constatar um dos livros sendo entregue por ela. Ela...! A toda poderosa, fria e inatingível estava ali, diante dela, quase ajoelhada, ajudando-a a recolher seu material e ainda assim, sua natural altivez e elegância se faziam completamente presentes. Delphine parecia uma rainha, soberana e prestativa. A estranheza e improbabilidade daquela cena era demais, ficando ainda pior quando tentaram ao mesmo tempo quebrar o sufocante silêncio.

- Me desculpe...

- Tenha mais cuidado...

A melodia sedutora da voz de Delphine atingiu Cosima como um tapa na cara, fazendo-a estremecer por completo! ‘’Que inferno é esse??’’  Novamente seus olhares se encontraram e a audaciosa conexão estava lá, como se nunca tivesse se rompido. Frio, calor, sede, medo, desejo... O mix de sensações e emoções era cada vez mais poderoso,  recomeçando a dança de onde haviam parado.

A força que impulsionava aquela atração inconsequente  - deliciosa -  e irracional era demasiadamente impetuosa, fazendo com que piscar -  e raciocinar - fosse completamente impossível. Desta vez foi Cosima quem quase desmaiou com a distância ridiculamente minúscula a qual seus rostos – lábios -  se encontravam, sentindo-se tremer e incandescer quando foi atingida por uma respiração pesada e exasperada de Delphine. Cos cerrou os olhos involuntariamente, saboreando o hálito límpido e maravilhoso que abraçava seu rosto. Aquela mulher não podia ser real...! Era humanamente impossível ser tão insultantemente perfeita e naturalmente sedutora.

Numa fração de segundo e como se a mágica fosse quebrada, Delphine piscou rapidamente, se recompondo e colocando-se de pé, aparentando um misto de frustração e desconforto, ainda estendendo um último livro para Cosima e este, curiosamente era de sua autoria. Cos se prontificou a recebê-lo enquanto ainda estava agachada, encarando a barra do sobretudo de sua orientadora. Assim que sua mão alcançou o livro, seus dedos roçaram nos dela com uma delicadeza desconcertante e mais uma vez o mundo pareceu inverter a rotação.

Como se uma descarga de adrenalina fosse injetada diretamente em seu coração, seus batimentos cardíacos atingiram níveis que poderiam ser medidos pela escala Richter! ‘’Mas que merd*, Nieuhaus! Controle-se!’’ Fechou os olhos com força por um segundo, tentando resgatar um mínimo de controle necessário para que não continuasse a agir como uma perfeita idiota e, assim que os abriu, sua razão pareceu vacilar quando visualizou a outra mão de Delphine estendida diante dela. Naquele turbilhão louco, Del praguejava mentalmente, repreendendo a insana vontade de voltar a tocar Cosima, mas incapaz de se conter. ‘’Inferno!’’

Cos a olhou de baixo para cima, arrepiando-se com o visual esplendoroso e com o porte magnífico que eram tão característicos à sua Professora. Porém, assim que alcançou as feições extraordinárias daquele rosto glorioso e absurdamente lindo, Delphine estranhamente não a encarava mais. O olhar parecia perdido, focando algum ponto na placa do banheiro feminino – ou algo além dela. Hesitante e ansiosa, Cosima inspirou rapidamente e segurou a mão de Delphine, que se fechou com firmeza em volta da dela, causando um imperceptível sobressalto em ambas e despertando novamente em Cos a impressão de tocar em algo inesperadamente familiar, sendo tomada pela mesma sensação de conforto e segurança que havia sentido na noite que esteve nos braços dela.

Ela definitivamente estava enlouquecendo e aquilo já estava passando do ridículo!

Fácil e gentilmente puxada por Delphine, Cos mal tinha se colocado de pé e já quase caiu novamente quando rapidamente vislumbrou a pontinha da língua de sua orientadora acariciar os lábios perfeitos e absurdamente tentadores.

Que diabo de poder era esse que aquela mulher exercia – com ilógica facilidade - sobre ela?? As Deusas estavam CLARAMENTE de sacanagem!

- Srta. Niehaus...  – Delphine hesitou por um milésimo de segundo. O tom de voz era baixo e cadenciado e a gravidade pareceu novamente trair Cosima assim que aquela melodia sublime a atingiu. Del soltou sua mão e em seu íntimo, Cos lamentou a perda do acolhedor e estimulante contato e estranhamente, -  e satisfatoriamente - sentiu o mesmo pesar fluindo de sua professora. Cormier retesou a postura e prosseguiu:

- A Srta. está bem? Tenha um pouco mais de cuidado... você pode acabar se machucando qualquer hora dessa.

Mais uma vez, Cosima não conseguiu discernir o verdadeiro sentido que aquelas palavras continham e, de alguma forma, a tênue ligação que se estabeleceu entre elas pareceu ter sido realmente desfeita. Será?

- Ah, er...sim, estou ótima. É só a minha maravilhosa descoordenação motora em ação... aparentemente o objetivo dela é me fazer passar o máximo de vergonha possível e como a Sra. pôde perceber, ela vem cumprindo seu propósito com um sucesso incontestável...

A ansiedade a fazia gesticular muito no intuito de ilustrar o que falava, balançando suas incríveis pulseiras e braceletes enquanto se recompunha, empurrando seus estilosos óculos de voltar ao lugar. Por alguma razão absurda, Delphine vacilava em sua postura de megera inatingível e acabou não sendo capaz de segurar um risinho divertido e quase involuntário, provocado pela magnífica espontaneidade que vibrava na personalidade de sua orientada. Okay, o sorriso daquela mulher era um raro e valioso espetáculo, fazendo com que as pernas de Cosima virassem gelatina e acentuassem a expressão desajeitada em seu semblante desconcertado! A risada de Delphine se ampliou e não demorou muito para que Cos a acompanhasse numa sutil e deliciosa gargalhada.

Lá estava ele... o frágil, intrigante e assustadoramente desejado elo, leve e fascinante. Porém, com a velocidade com que se estabeleceu, novamente foi rompido assim que uma sombra de razão atingiu Delphine como um pesado soco no estômago, levando-a a incorporar a postura rígida, séria e quase impenetrável que consistia sua armadura há tanto tempo. A perda daquela misteriosa conexão provocou em Cosima uma decepção a muito não experimentada e essa constatação à assombrou. Aquela porr* precisava parar!

Decidada a não transparecer seu descontentamento, Cos também enrijeceu a postura e oficialmente aquele devaneio tinha chegado ao fim. Só então perceberam que mais a frente, um grupo de surpresos e curiosos alunos às observava e a apuração desse fato evidenciou o constrangimento que sentiram, fazendo com que se afastassem bruscamente. Era René e os demais, os respeitados Semideuses, que haviam decidido esperar Cosima voltar do banheiro e acabaram testemunhando aquela cena inusitada e muito esquisita, para dizer o mínimo.

Bastou  que Delphine os encarasse com reprovação e censura no olhar para que todos eles, feito cinco baratas tontas, apressaram-se a entrar na sala, praticamente atropelando uns aos outros. Os lábios da PhDeusa se curvaram num meio sorriso quase imperceptível devido ao pequeno alvoroço. Cos não sabia o porquê, mas estava profundamente constrangida com tudo aquilo e sentiu que já estava na hora de partir para a sala de aula também, já que temia as reações inapropriadamente indecentes e involuntárias que seu corpo sofria sob o impacto de Delphine.

Respirando pesadamente, ‘’despediu-se’’ com um aceno de mão e finalmente conseguiu se mover. Sentia que precisava colocar uma distância segura entre elas e apressou-se em direção à sala, entrando por uma porta localizada logo atrás de onde sua professora estava parada. Essa a observou de forma curiosa, arregalando ainda mais a mística galáxia que eram seus olhos quando a viu entrar por ali, porém logo assumiu um semblante impassível, decidindo dar a ela alguns instantes de vantagem. Del suspirou audivelmente, assustando-se com a gostosa tensão que percorria ser corpo. A verdade que ela não queria encarar é que ainda precisava se recompor do inesperado, breve e intenso encontro com ela... a impetuosa tentação que atendia pelo nome de Cosima Niehaus.

Correu para o banheiro, já presumindo que precisaria tomar alguma providência a respeito do alarmante estado em que sua calcinha se encontrava. ‘’Era só o que me faltava!’’

Nesse interim, Cosima irrompeu sala de aula adentro, logo ao lado do imenso birô que ficava a frente de uma extensa e sofisticada lousa, cessando imediatamente o tangível burburinho que imperava no ambiente. Todos ali presentes se voltaram para encará-la... alguns completamente surpresos e outros até meio boquiabertos. Que porr* era aquela?

Cos não entendeu o que aquilo significava e assim que os cochichos recomeçaram, teve certeza de que era ela o trending topic do momento. Bufou, percorrendo o olhar pelos assentos a fim de encontrar o seu mais novo grupo. A imensa sala de aula era disposta no formato de arquibancada, lembrando muito um anfiteatro grego, ostentando paredes de tijolos aparentes que alternavam com imensas e requintadas janelas, adornadas por majestosas e escuras cortinas que atribuíam uma atmosfera luxuosa ao local, assim como obras de arte que pendiam em alguns pontos da parede e pertenciam a dona daquela sala.

Cosima localizou os Semideuses sentados na primeira fileira e percebeu que haviam reservado um lugar para ela, graças à Artemis! Rapidamente tratou de se acomodar, não querendo mais ser o centro das atenções. Não mesmo.

- Realmente, Cosima! Ou você é muito corajosa, ou muito, muuuito sem noção! – Alertou um curioso René, provocando uma careta confusa em Cos, que não havia entendido bulhufas daquele comentário. Dentre as duas opções dadas pelo seu colega, certamente o ‘’sem noção’’ era a que fazia total sentido! 

- Você entrou pela porta dela... DELA, Cosima! – Confidenciou Amélia, apontando para o lugar de onde ela veio. ‘’Que??’’ Cos não teve tempo de processar a sua estupidez, sendo interrompida pela entrada de sua professora.

- Bon après-midi à tous – Os cumprimentou formalmente, depositando sua bolsa e valise sobre o birô e sem perder tempo, desabotoou os botões de seu sobretudo cinza, abrindo-o de uma só vez enquanto seguia em direção a primeira fileira de assentos. Aquele gesto impactou  absurdamente cada um dos mortais ali presentes, como se uma onda de pura energia varresse aquele ambiente e.... Cosima pensou que precisaria ir até o núcleo da terra para buscar seu queixo caído...! “PUTA QUE PARIU...! Ela só pode estar de sacanagem...” Que terrível crime ela tinha cometido para vivenciar aquela  - excitante – tortura?? “Sério mesmo que é assim que ela vem dar as aulas?‘’NÃO, não era possível! Cos engoliu em seco, remexendo-se em sua cadeira com visível desconforto – no meio de suas pernas.

Por baixo do elegante sobretudo cinza que possuía uma discreta pelagem na parte de cima, Delphine vestia um tubinho cinza super escuro e de alças mais finas. O vestido contornava seu corpo com escandalosa perfeição, salientando as curvas majestosamente angulosas e extraordinárias que destruíam o juízo de qualquer ser humano. O corte sofisticado era uma característica dela, evidenciando ainda mais a imponência e elegância que fluíam de seus movimentos. O vestido cobria um pouco mais da metade das coxas dela e ainda possuía dois discretos bolsos onde ela depositava as mãos, assumindo sua tradicional pose de senhora de tudo e de todos.

Cosima considerou o cumprimento daquela peça não muito recomendado para uma sala de aula, mas não teve certeza se aquilo a incomodava por ser inapropriado para o ambiente acadêmico ou por simplesmente perturba-la demais. Muito! Horrores! Deus do céu! ‘’Aaaaah, pare com isso!’’ Completando o visual, Delphine calçava botas marrons de cano médio com um salto fino e não muito alto; Os cabelos – os mágicos e maravilhosos cabelos – estavam soltos e os cachos dourados estavam menos definidos, dispostos numa ondulação perfeita.  Realçando o esguio pescoço e ornamentando o gracioso colo, um discreto cordão prateado com um pequeno e brilhante pingente pendia ali, o qual Cosima teve certeza tratar-se de um diamante. No pulso, um vistoso Rolex também num prata brilhoso finalizava a produção.

Elegante, sofisticada e terrivelmente sexy! Como não ficar excitada? Cosima queria desesperadamente saber!  No centro da primeira fileira, Del parou e encarou os alunos das demais fileiras de trás.

- Como eu os havia informado anteriormente, na aula de hoje contaremos com a participação dos alunos que estão sob minha orientação direta e que irão nos prestigiar com a apresentação de seus projetos e do andamento de suas pesquisas até o presente momento. – Delphine dera início a aula. – Solicito que permaneçam atentos para absorverem ao máximo o conteúdo e a metodologia das apresentações; Será uma excelente oportunidade para buscarem informações acerca do método de pesquisas nos campos de Estudos que abrangem Gênero, Feminismo e Representatividade do Feminino nas Civilizações Contemporâneas.

As instruções eram passadas de forma tranquila e totalmente segura, evidenciando toda a confiança e conforto que a sua professora detinha, porém, Cosima percebeu que Delphine não a olhava nos olhos, chegando a evitar a olhar para ela, mesmo que num contexto geral. Seria apenas uma impressão ou a presença dela estava realmente atingindo aquela Deusa de alguma forma ou mesmo incomodando-a?

– Informo aos meus orientados que farei as devidas e pertinentes considerações em suas apresentações e depois, abriremos espaço para discussões e perguntas. – Nem uma única gota de hesitação! Delphine definitivamente tinha nascido para comandar. Prosseguiu:

– Respeitando a hierarquia, começaremos com meus orientados de Mestrado, depois os de Doutorado e por último, a Srta. Cosima Niehaus... – Finalmente Delphine a encarou e a atmosfera da sala pareceu se eletrificar! – que nos brindará com a apresentação de seu instigante projeto de Pós-doutorado. 

Del sustentou o olhar por alguns segundos que mais pareceram eras, provocando um frio cortante na barriga de Cos, fazendo-a pensar que desmaiaria ali mesmo! Era ironia o que Cosima imaginou ter captado na fala de sua professora? Uma nova onda de nervosismo se derramou sobre ela.  ‘’Merda! Calma, respira, firme.. firme!’’  Sua orientadora podia ser – e era – uma Deusa, mas Cosima acreditava no potencial de seu intelecto e sabia de sua capacidade. ‘’Você é brilhante, Niehaus! Não vai se permitir intimidar assim, não dessa forma!’’

Delphine correu os olhos pelo distinto grupo de pesquisadores que se encontravam diante dela e mentalmente estabeleceu a ordem das apresentações, decididas mediante a posição em que estavam sentados.

– Comecemos então pelo Sr. Marc Pinot, que tem como tema de estudo a homossexualidade masculina no futebol francês.  

Após um profundo e pesado suspiro, o rapaz se levantou e Delphine caminhou em direção a cadeira em que ele havia sentado, trazendo em mãos um caderno de capa preta de couro e uma belíssima caneta Mont Blanc num tom Black Piano com detalhes em dourado. Porém, um segundo antes de se sentar, ela encarou Cosima... fazendo questão de olhá-la de um jeito intrigante e demasiadamente intenso. ‘’Puta merd*!’’ Cos engoliu em seco. Delphine sentou-se muita satisfeita ao perceber o quanto estava afetando sua orientada, e de uma forma tão perigosamente deliciosa.

Sabia o efeito que causava nas pessoas e decidiu que também a provocaria daquela maneira, não somente para expô-la, mas por querer afetá-la naquele sentido... por algum motivo absurdo, Delphine sentia-se impelida a enlouquecer sua orientada e ansiava para que ela se sentisse assim. Usaria todas as artimanhas que possuía para desmascará-la, afinal de contas, Cosima havia sido enviada para seduzi-la, certo? Qual seria a reação de Lamartine se o feitiço se virasse contra o feiticeiro? “Muito bem... esse jogo pode e será jogado por duas” Um calor se emergiu pelo corpo de Delphine junto com aquele pensamento.

Ela assistia e fazia anotações acerca dos trabalhos de seus orientados, todos já bastante adiantados e dos quais ela conhecia muito bem, dominando todas as nuances possíveis. As apresentações prosseguiam uma após a outra, com temas que iam desde a legitimação da pratica sexual entre mulheres, passando pela análise dos sujeitos trans a partir da perspectiva da imposição dos papeis de gênero e até mesmo sobre a atuação de um grupo de mulheres espiãs canadenses na segunda guerra mundial.

Um pequeno momento de frisson emergiu quando Delphine anunciou a penúltima apresentação, que seria explanada por Amélia Mayfair, doutoranda que pesquisava e explorava a percepção do feminino na Belle Époque francesa. A tensão se intensificou e o receio de alguns era quase palpável, já que em sua última apresentação, Amélia não suportou a enxurrada de perguntas e apontamentos feitos por Delphine, desmoronando-se em lágrimas na presença de uma classe quase completa.

Entretanto, a verdadeira preocupação de Cosima era outra, residindo no fato de que Amélia estava sentada ao seu lado e, assim que se levantasse, Delphine ocuparia seu lugar, - aquele maldito lugar -   a poucos centímetros de distância dela... ela, que arduamente já estava suportando todos os olhares excessivamente intensos e penetrantes lançados por sua professora, toda vez em que ela ocupava o centro da sala para realizar seus apontamentos finais relativos à cada apresentação.

Cosima sentia o ar faltar cada vez que Delphine se levantava, dando as costas para os mortais e revelando a última -  e mais perigosa - armadilha que aquele vestido guardava... Uma impertinente fenda na parte de trás, denunciando os fragmentos indecorosos de suas coxas torneadas, além de marcar e ressaltar aquela bunda excepcionalmente fenomenal – pra não falar outra coisa -  e que já  havia se tornado o mais novo “pesadelo” de Cosima. Que as Deusas a ajudassem!

Foi só Amélia se levantar para Cosima engolir em seco, focando em suas anotações  e tentando disfarçar o crescente desconforto e a incoerente expectativa com a aproximação de Delphine. Cada passo dado por ela era um arranque em seu coração cada vez mais acelerado. Já se sentia patética com aquilo tudo e decidiu que precisava se mostrar mais resistente.

Assim que sua orientadora sentou-se ao seu lado, Cosima pôde sentir o calor que o corpo dela emanava e novamente foi invadida pela essência maravilhosa que a pele dela exalava... ‘’Puta.que.pariu nessa mulher!’’ Não! Ela não se daria por vencida daquele jeito! Mordeu o lábio com força e se obrigou a erguer sua cabeça, virando-se em direção à Delphine que já a olhava com a ponta dos olhos, mas... acabou desviando-os de forma suspeita quando percebeu a persistência de Cosima em continuar encarando-a. “Huum... ficou desconfortável, foi??” Cos sabia que mais cedo ou mais tarde, ela iria descobrir.

Amélia pôs-se a falar ainda com a voz tremula, mas a medida que a apresentação decorria, sua confiança aumentava e sempre que sentia qualquer tipo de hesitação, olhava para Cosima em busca de amparo. Como não podia deixar de ser, Cos retribuía e a amparava com o olhar carregado de firmeza e segurança, dando à Amélia uma injeção de convicção ao ponto de encorajá-la a citar uma observação dada pela própria Cosima, minutos antes de entrarem na aula.

Aquele comentário capturou a atenção de Delphine, que não fazia muita questão de atentar-se àquela apresentação, uma vez que já a conhecia muito bem. Del ergueu uma das sobrancelhas, surpresa com a coerência e expertise daquele apontamento, percebendo de imediato quem era a responsável pela brilhante observação assim que notou a troca de olhares entre elas e reparou Cosima cerrar um dos punhos, balançando-o no ar num claro gesto de vibração pelo sucesso de sua colega.

Descaradamente encarou as anotações de Cosima e em seguida, focou as próprias notas tão somente para constatar que havia pontuado as mesmíssimas coisas que ela. Aquilo estava mesmo acontecendo? Uma imensa satisfação invadiu o corpo de Delphine que, de forma divertida, virou suas anotações para sua orientada, indicando a curiosa sintonia de pensamentos e de perspectiva. Cos se esforçou para encarar o caderno que Delphine mostrava, no intuito de não se desmanchar com o deslumbrante meio sorriso que brincava nos lábios de sua desorientadora. Se pegou contente e logo em seguida, confusa com as atitudes de sua professora.

‘’Foco, Cosima! Foco!’’ Ela entoava aquele tipo de mantra para mantê-la firme e não desfalecer ali sempre que inalava mais profundamente o aroma maravilhoso daquela mulher. Delphine parecia claramente saber que a torturava e pior... aparentava sentir um imenso prazer com isso.

O golpe de misericórdia veio quando a apresentação de sua colega estava quase no fim. Delphine ergueu os braços na intenção de prender os cabelos numa espécie de coque propositalmente mal feito e mais uma vez, mais um inferno de vez, o mundo pareceu girar em câmera lenta enquanto os olhos de Cosima absorviam o retesar dos músculos habilidosos e firmes dos braços daquela mulher. Delphine executava a ação de olhos fechados, não precisando olhar para ter certeza de como certas pessoas reagiriam àquele simples movimento.

Cosima se recriminou com veemência, mas em vão. Seus olhos lhe traíram, não resistindo a tentação de encarar o volume dos seios de sua professora e de deixar sua boca se abrir em uma pequena fenda. Era oficial... Delphine desgraçava completamente a razão e bom senso dela e a prova disso era a agonizante sequidão em sua garganta contrastando com a inundação em outras partes de seu corpo, levando-a a inclinar a cabeça de lado quase que involuntariamente querendo melhor observá-la – devorá-la -... Estava tão absorta naquela visão que acabou demorando incontáveis segundos até sentir o peso dos olhos de Delphine sobre ela, pegando-a em flagrante encarando descaradamente o corpo dela! ‘’Cacete, Cosima!! Você tá louca?!! Argh!’’

Cos sobressaltou-se com a constatação de que Delphine a tinha pego babando daquele jeito, puta que pariu! Remexeu-se na cadeira de forma desajeitada e visivelmente constrangida enquanto Del deixava escapar uma pequena e involuntária gargalhada, deliciada com a agonia de sua orientada. Os mais próximos a elas olhavam a cena com verdadeira curiosidade e só então a loira percebeu que havia exagerado. Procurou se ajeitar em sua cadeira poucos segundos antes de uma avalanche de aplausos irromper, aclamando Amélia.

Delphine se levantou e caminhou em direção ao centro da sala.

- Muito bem, Srta Mayfair. Observei que realizou as correções pontuadas em nossa última apresentação e mais algumas novas. – Lançou à Cosima um olhar indecifrável, assentindo com um movimento de cabeça que soava como uma aprovação pela brilhante contribuição dada. Momentaneamente o peito de Cos se inflou em orgulho, mas, agora seria a sua vez...! ‘’Foco, respira!’’ Sabia que estava mais do que preparada, só precisava não pensar em quanto sua orientadora era tentadora, brilhante, exuberante e indecentemente provocante que tudo ficaria muito bem. ‘’Sim... só não pensar nela! Isso aí.’’

– E para encerrarmos eu gostaria de apresentar a todos, minha mais nova aluna; Senhorita Cosima Niehaus, orientada de Pós-Doutorado – Um novo e pequeno frisson varreu o ambiente com aquela informação. - e que tem como tema de projeto, A Sororidade dentro da ... – Fingiu dúvida, checando suas anotações. – Ordem do Labrys.

“O que?? Como assim ela não sabe o tema do meu projeto?” Questionou-se, putíssima com aquele descaso! ‘’Tá de brincadeira.’’.

Sim, aquele teatrinho era justamente Delphine iniciando o seu plano, começando por desestabilizar Cosima, agora sua “adversária’’.

- Por favor, Srta Niehaus... – Indicou com um movimento de mão o local no qual Cos deveria ocupar.  – Vamos acabar logo com isso... – Sussurrou Cosima ainda sentada. Desabotoou seu sobretudo, deixando-o aberto sobre sua cadeira. Separou suas anotações e levantou-se, indo de encontro à Delphine que pareceu estar mortalmente congelada, com a visão completamente perdida em algum lugar da sedutora faixa de pele da barriga de Cos que estava à mostra. ‘’Quem é que tá encarando quem agora, hein??’’ A descarada inspeção de sua professora lhe causou um misto de poderosas sensações, mas, acima de tudo, lhe atribui confiança, já que Delphine não se moveu até que Cos estivesse muito, muito próxima.

- Com licença, professora... – Cosima a encarou com um leve arquear de sobrancelha, solicitando passagem para poder conectar sua apresentação ao computador da sala. Delphine sacudiu a cabeça e piscou rapidamente enquanto olhava nos olhos de Cosima, cerrando seu olhar.

“Huum... então ela também está sendo afetada..!” Cos regozijava-se secretamente, deixando o prazer de saber que de alguma forma ela mexia com sua professora tomar conta de seu corpo.

Delphine alinhou à postura e abriu caminho para Cosima passar e quando deu o primeiro passo em direção à cadeira de Cos, fez questão de deixar seu braço tocar o dela, porém, a reação que pretendia causar em sua orientada reverberou nela mesma! Seu corpo inteiro era pura eletricidade e ela quase – quase- cambaleou com a descarga elétrica que a percorreu. É claro que Cos não havia passado ilesa ao toque proposital, mas pelo menos, estava de costas e não se deixou perceber quando fechou os olhos, querendo ampliar a indescritível sensação que sentia em qualquer ridículo contato com ela.

“O que é isso, Cormier? Que merd* é essa?” A indignação por se deixar afetar a inquietava e a afligia cada vez mais! Como Niehaus conseguia fazer aquilo?  “Essa não é você, Delphine... ” Se acomodou no assento que outrora fora ocupado por Cos, esperando ter alguma segurança -  e bom senso e juízo e raciocínio lógico  - retomada, mas não podia estar mais enganada! O cheiro suavemente madeirado e meio floral – e inebriante - de Cosima estava impregnado no sobretudo que havia sido deixado na cadeira. “Inferno!” Aquela situação precisava urgente de limites!

Com árduo e surreal esforço, conseguiu se recompor e tentar focar sua atenção. Aliás, ultimamente Delphine vinha se esforçando como nunca! Ridículo. Não poderia permitir que seu corpo dominasse sua mente, porém, o maldito problema era que até sua própria consciência já havia lhe traído, não sendo capaz de impedi-la de encarar atrevida e descaradamente a silhueta absurdamente tentadora de Cosima, que ainda se mantinha de costas para todos, organizando sua apresentação.

Delphine cruzou as pernas e pousou o dedo indicador em seus lábios... Foi totalmente inevitável e impossível não percorrer aquele corpo escultural com os olhos, se demorando um pouco mais na bunda levemente empinada e inadequadamente provocante. Desceu até às panturrilhas bem definidas e voltou a erguer o olhar no exato momento em que a Cos se virou. Outra vez aquela pequena  e convidativa extensão de pele da barriga impecável de Cosima a fez viajar até a imagem que a torturava noite e dia.

Cos percebeu e praticamente sentiu as reações que estava provocando em sua orientadora... Delphine a encarava com os olhos semicerrados e concentrados, fazendo-a vibrar internamente por ter conseguido capturar a atenção da toda poderosa. Agora, só bastava impressioná-la com tudo o que era capaz. E não era pouca coisa, não mesmo.

- Muito boa tarde a todas e todos! Como a Professora Cormier já mencionou, meu nome é Cosima Niehaus e meu projeto de pesquisa fundamenta-se sobre uma antiquíssima sociedade secreta conhecida como a Ordem do Labrys. – Somente a menção daquele nome fez Delphine remexer-se incomodada em sua cadeira para um segundo depois, quase cair dela! Não acreditou no que seus olhos viam e pensou ter enlouquecido de vez. Estava lá, no primeiro slide da apresentação de Cosima...  A mesmíssima imagem do Labrys que existia somente em um único lugar.

“O que...? Mas, como?” Constatar que Cosima tinha posse daquela imagem a alertou completamente, fazendo-a debruçar-se sobre a carteira e encarar sua orientada com um misto de fascinação, receio e dúvida. Cos prosseguiu.

- Para tanto, meu objetivo é apresentar essa Sociedade a vocês de forma minuciosa, explanando suas particularidades e explorando todas as incríveis possibilidades do propósito e finalidade de existência dessa Ordem. – Cos voltou-se para a imagem de abertura de sua apresentação.

- Senhoras e senhores, apresento-lhes o Labrys. Tal objeto é um machado de dupla lâmina, que acredita-se ter sido utilizado como cetro por Deméter, Deusa da Terra e por sua filha Ártemis, Deusa da Lua, da caça e da magia. Alguns relatos confrontam o parentesco das duas deidades, afirmando que Ártemis é na verdade, filha de Leto e Zeus, o que nada influência na representatividade e simbologia do Labrys, que continua sendo atrelado às duas divindades. Hoje, o machado tornou-se um símbolo da força e auto suficiência lésbica e feminista, ou seja, representa a resistência do feminino na civilização atual. Algumas teorias conjecturam que o machado surgiu originalmente na batalha das mulheres guerreiras Cíntias e era peça comum em sociedades matriarcais. Outras o interligam ao exército das Amazonas, também em peças gregas artesanais.

Novo slide contendo uma espécie de organograma trazendo toda a cadeia hierárquica da Ordem – Como podem observar, a principal característica dessa intrigante Sociedade é o fato de ser composta exclusivamente por mulheres, sendo que o título de Mestra, posição hierárquica mais alta e regente da Ordem, é ocupada através de linhagem sanguínea, remetendo a uma prática tribal e que nos leva, inclusive, à sociedades matriarcais mais antigas como as próprias Amazonas.

Cos olhou para sua orientadora buscando algum tipo de aprovação que não foi obtida. Del estava com uma expressão séria e carrancuda chegando a assustar a morena, porém estava decidida a não se deixar intimidar. Continuou. – E como toda sociedade matriarcal, a Ordem também foi regida por um sentimento de máxima união e irmandade à despeito da expansão do domínio de poder masculino sobre as mulheres, enquadrando-se perfeitamente bem dentro da noção de sororidade e todo o seu amplo contexto, entretanto, não devemos ser anacrônicos.  – Cosima era perigosamente brilhante e Delphine estava experimentando um inusitado dilema: Admirá-la ou teme-la... Puta que pariu!

- (...) Mas, são muitos séculos de história para ser contada e por esta razão, decidi desbravar o período em que considero o auge da Ordem.  – A plateia estava completamente hipnotizada pela fluidez e segurança das palavras de Cosima. – Esse, se deu entre os séculos XV e XVII e, caso façamos uma rápida analogia relativa à cronologia citada, seremos capazes de associar outro grande marco temporal ocorrido no mundo ocidental nesse mesmo período. – Piscou o olho para os seus colegas, causando uma pequena comoção, porém Delphine ainda estava assustadoramente paralisada. As perguntas se acumulavam com rapidez em sua cabeça e ela não precisava anotar nada, já tinha tudo planejado.

- ... Como muitos provavelmente constataram, trata-se do extremo e radical ápice da Inquisição da Igreja Católica e sua árdua “tarefa” de perseguir aqueles os quais considerava hereges. – A pitada de ironia em sua voz laçou uma onda de expectativa nos ali presentes. – Então, imaginem vocês, o quão perigosa e ameaçadora seria uma sociedade secreta composta unicamente por mulheres que possuíam acesso à conhecimentos dos quais muitos homens nem se quer podiam imaginar?

- Hereges! - Adiantou-se um empolgado Marc, firmemente endossado por Cosima! Estavam interagindo com ela.

- Bruxas! – Amélia acrescentou com espantosa convicção, o que fez com que Delphine se remexesse em sua cadeira, lançando um pesado olhar à cada uma delas.

- Exato! – Reforçou Cosima. – A História e a Igreja taxaram como bruxas aquelas mulheres que excediam o pacato e submisso papel imposto à elas nos fins da Idade Média e no auge do Renascimento! De acordo com CORMIER, –  Lá estava Cosima cutucando onça com vara curta, citando sua orientadora e achando que ganharia pontos com aquilo... Iludida! – As mulheres em toda a decorrência de sua existência, sempre representaram um perigo potencial à toda estrutura de poder estabelecida pelos homens, portanto, eu acredito SIM que tal Sociedade era composta por mulheres que se enquadravam nessa definição... Mulheres que não se submeteram, mulheres que desafiaram o medíocre destino que lhes era imposto, onde a mais poderosa e influente delas fora a grande Mestra Emmanuelle Chermont!

A menção àquele nome fez a cabeça de Delphine girar em total estado de choque! Estava completamente atordoada com o nível de conhecimento que Cosima possuía a respeito da Ordem. Não era possível! Ela não tinha como encontrar aquilo tudo, se não em um único lugar ou com uma única pessoa. Que porr* era aquela?

Delphine cerrou seus dois punhos com uma força sobre-humana, retesando todos os músculos do corpo e pensando que sua cabeça explodiria a qualquer momento, dada a louca e sufocante pressão que sentia. ‘’Como...?’’ Ela não conseguia imaginar as possibilidades e não tinha sido a única a contorcer-se com aquelas informações. Outras duas mulheres que haviam entrado na sala ser serem percebidas trocaram olhares desconfiados e temerosos. Lá estavam Helena e a reitora da Universidade, Susan Duncan, que também tinham muito interesse naquela apresentação. Alheia a tudo isso, Cos continuou:

- E acreditava-se que sua filha, Evelyne Chermont, seria ainda mais poderosa que sua mãe, inclusive no que diz respeito à questões de metafísica... – Os demais alunos estavam fascinados e totalmente mergulhados na explanação de Cosima que, para ilustrar sua fala, projetou a imagem de um desenho antiquíssimo que retratava uma belíssima mulher ao lado de uma jovem menina, também com traços absurdamente lindos. As mulheres Chermont. ‘’PUTA.QUE.PARIU’’ Aquele foi o extrapolar de todos – TODOS - os limites para Delphine Cormier. Estava completamente atônita, mas compreendeu que Cosima estava indo longe demais... demais! Precisava ser detida, imediatamente.

- Srta. Niehaus – Cos assustou-se com a intromissão. Aquilo não tinha ocorrido em nenhuma das outras apresentações.... Por que justo na dela?

– Sua empolgação em relação ao tema em questão é completamente compreensível, entretanto, é necessário ressaltarmos que Pesquisas Científicas somente são coerentes e passíveis de serem levadas a sério quando evidenciam a abordagem de fatos, eventos ou instituições que realmente existiram. Essa, objeto de seu estudo e citada por você, não se enquadra em nenhuma dessas definições. – ‘’OI???’’ Ela estava REALMENTE tentando deslegitimar toda a pesquisa de Cosima, que ainda não conseguia acreditar naquela inconveniente intromissão.

- Professora Cormier, se a senhora me permitir e não mais se interromper, garanto que terá as comprovações as quais se referiu! Minha pesquisa tem sim, embasamento e legitimidade! – As últimas palavras saíram quase entre os dentes, num misto de receio e raiva, provocando um acintoso burburinho no ambiente. Os demais Semideuses se entreolhavam totalmente chocados pela audácia de Cosima e Delphine.... essa já estava em chamas com a raiva que sentia, tomando ciência do leve tremor que invadia seu corpo. Como num agouro em detrimento da palpável tensão da sala, a luz do lustre principal se apagou num rápido pico, reacendendo um segundo depois.

– Pois bem, como eu ia dizendo...

- Não existem registros oficiais acerca dessa tal Sociedade. – A voz era séria e carregada de um autoritarismo implícito. Ela não acatou a solicitação de sua orientada e estava disposta a humilha-la se fosse de fato o necessário a ser feito para colocar um fim naquela apresentação. Muito estava em jogo ali e Delphine imaginou que, enquanto espiã, Cosima teria acesso restrito às informações pertinentes à Ordem. Lamartine não poderia ser tão tolo e leviano a ponto de entregar aquele conhecimento nas mãos de qualquer uma. Todavia, a compreensão que Cosima demonstrava em relação à Ordem ia muito além de simples informações perdidas em livros antigos. Mas, como? Como era possível? Cormier prosseguiu objetiva.

– Portanto, faz-se necessário que repensemos o seu objeto de pesquisa. – Concluiu, sucinta e absoluta enquanto se levantava com o intuito de encerrar aquela apresentação. Cosima era emoção pura naquele momento, indignada com a postura de sua orientadora.

- Não! – Rebateu num tom mais alto do que deveria! Que porr* de conversa era aquela? Tinha sido ela a escolher o projeto, não tinha? Que Ártemis a segurasse! Assim que proferiu a palavra, um silêncio mortal imperou na sala de aula... choque. Era o que todos sentiam naquele momento! E Delphine?? Melhor nem comentar.

- Como assim, “não”? – Confrontou uma Delphine exaltada e completamente incrédula.

– Srta Niehaus, acredito que a senhorita tenha se esquecido de como funcionam as relações estabelecidas entre nós.  – O local ia pegar fogo?? Parecia que sim. – EU sou a orientadora, a sua orientadora e sou eu quem decide os melhores caminhos e processos relativos às pesquisas de meus orientados. – Piscar?? Ninguém naquela sala sabia mais o que era isso! Delphine contra-atacou, já partindo para cima de Cosima que, ao contrário do que todo mundo poderia imaginar, não recuou um centímetro sequer.

Pela terceira vez naquela tumultuada tarde, o mundo ao redor das duas deixou de existir; Só que dessa vez, por motivos não tão agradáveis... Elas estavam duelando! Sacaram suas melhores armas e travavam um poderoso embate, atraindo por completo a atenção não somente dos alunos de Delphine, mas de outras turmas também e até de alguns professores, que acabaram parando na entrada da sala para ver quem era o pobre ensandecido com a petulância de desafiar a Toda Poderosa Cormier. Entre eles, Marion Bowles marcava presença.

- Pode ser minha orientadora, mas, de meu projeto cuido eu, professora! Eu o domino muito mais do que você. – Formalidades começaram a ser esquecidas! – E existem SIM, referências na historiografia que mencionam a Ordem do Labrys atuando em vários momentos da história antiga e medieval, inclusive no cerco à cidade de Tróia. – Enfurecida, Cosima despejava todo o seu conhecimento combinado à ilustrações em slides e citações de livros. Delphine mal acreditava no que via! Havia gastando uma pequena fortuna tentando encontrar e destruir qualquer evidência da existência da Ordem, mas de alguma maneira, algo tinha passado. Como???

- Srta. Niehaus... – O tom de alerta na voz de Delphine fez com os pelos de Cosima se eriçassem, mas não foi o suficiente para fazê-la recuar. Del atacou. - Esses autores citados por você não possuem NENHUMA credibilidade. Então diga-me! Existe algum VERDADEIRO teórico do universo e da história das mulheres que sequer mencione essa tal Ordem?! – Cosima pareceu titubear com essa última cartada de Delphine. De fato, não havia encontrado nenhum autor ou autora de peso que corroborasse com a existência da Ordem, nem mesmo...  Ela! Uma luz se acendeu no fim do túnel.

- EXATAMENTE, professora! E sendo muito sincera, isso foi uma das coisas que mais me impressionou. Como algo tão extraordinário pôde ter passado desapercebido pela teoria especializada?? – Cosima pensou ter captado um fragmento de dúvida pairar sobre os duros olhos de sua orientadora, os mesmos que a algumas horas atrás, haviam lhe encarado tão profunda e intensamente. Não perderia aquela oportunidade e prosseguiu impiedosa!

 – Nem mesmo a mais brilhante pesquisadora do Universo da História das Mulheres debruçou-se sobre esse riquíssimo tema. – Cos definitivamente ficou louca! Delphine bufou, mas Cosima não se intimidou, estava salivando por aquele confronto.

 – Sim, me refiro a senhora mesmo, professora! Em toda a sua brilhante e vastíssima obra, não existe sequer uma única menção a essa incrível Sociedade. – As palavras saíam entre os dentes e carregadas de uma implícita acusação, fazendo com que Delphine desse um pequeno passo para trás, terrivelmente incrédula. – Aproveitando o ensejo e para ser bem honesta, já peço permissão para lhe fazer uma pequena crítica... – Cosima parecia uma metralhadora! Alunos e professores tentavam segurar o queixo que à essa altura, já estavam no chão!

“Que... que audácia!” A tensão entre elas era extrema e palpável feito concreto, quase podendo ser tocada! Os expectadores seguiam paralisados, hipnotizados pelo verdadeiro duelo de titãs que se desenrolava diante deles. Aquela já havia se tornando uma aula épica! Só bastava saber que venceria aquele confronto! Cosima metralhadora Niehaus continuou:

- Uma das principais autoras – se não a principal -  da área mal cita um dos mais importantes períodos da história das mulheres... – Prosseguia sem nenhuma misericórdia e sem quebrar o intenso contato visual que haviam estabelecido, percebendo que estava prestes a vencer aquele embate. – Sua obra é vasta, impressionante e contempla milênios de eventos, mas não compreendo como uma pesquisadora de altíssimo nível como você quase não menciona o principal desses eventos, justamente o que endossa o medo que o feminino desperta no mundo: A caça às bruxas!

Delphine cambaleou e precisou apoiar-se em sua mesa para manter-se de pé. De fato, ela havia deliberadamente ignorado esse tema em suas pesquisas e livros, mas por motivos muito mais obscuros do que Cosima ou qualquer outra pessoa seria capaz de imaginar. Mesmo assim, jamais esperaria ser confrontada daquela maneira.... nunca. Não em seus “domínios”. Nada e nem ninguém poderia tê-la preparado para aquilo. Nada e nem ninguém poderia prepara-la para a força da natureza que era Cosima Niehaus. O ar ficou pesado e respirar tornou-se uma tarefa difícil para Delphine.

Estava sendo confrontada e interrogada, tendo as suas “falhas” jogadas em sua cara. O mundo parecia girar de forma estranha e um bolo crescente e amargo insistia para sair de seu peito. Como ela ousava? Como aquela fedelha ousava questiona-la? Delphine sentia... sabia que não iria suportar mais aquilo e antes mesmo que Cosima retomasse o ar para continuar sua fala, ela se adiantou, interrompendo-a novamente.

- Srta. Niehaus, discutiremos sua pesquisa mais profundamente em outro momento. – A voz saiu com visível dificuldade e Cos pensou ter captado um quase imperceptível resquício de sofrimento na voz de sua orientadora.

 – Portanto, dou por encerrada esta aula. -  Numa incrível transmutação, o tom de voz agora era frio e inquestionável. Delphine nem se dignou a olhar para Cosima, pegando seus materiais com exagerada rapidez e saindo ainda mais apressada da sala. A princípio, a plateia era puro choque e incredulidade, mas essa reação logo deu lugar a uma avalanche de aplausos e assobios.

Uma Cosima atônita e paralisada encarava a madeira da porta por onde sua orientadora havia a acabado de sair. Olhou ao seu redor, completamente entorpecida e sem conseguir processar praticamente nada do que havia acabado de acontecer ali. Ainda localizou ao longe dois alunos com algo escrito em seus cadernos, como se fossem pequenos cartazes. Neles, ela pôde identificar a hashtag #TeamNiehaus, mas Cos não conseguiu achar graça daquilo, uma vez que seu cérebro começou a assimilar o ocorrido e o medo do que poderia lhe acontecer lentamente propagava-se por seu corpo. Havia sido insolente e atrevida demais. Okay que ela era conhecida por sua audácia e certa imprudência, mas jamais havia ido tão longe! ‘’Niehaus, você está oficialmente fodida!’’

 

******

 

Delphine quase corria em direção à sua sala, sentindo o ar entrar com imensa dificuldade em seus pulmões; A cabeça era um completo turbilhão e até uma perturbadora náusea começou a atormentá-la. O que foi aquilo? Como Cosima pôde fazer aquilo com ela? Tentar desacreditá-la daquela forma! Ainda conseguiu ouvir Helena chama-la  enquanto vinha atrás dela, porém, estava tão atordoada que sequer foi capaz de responde-la. Dobrou o corredor e jogou-se dentro do elevador, tremendo dos pés à cabeça.

Toda à fortaleza, todas às fronteiras guardadas e protegidas pela sua armadura de frieza, toda a aura da expansiva soberania que possuía, haviam sido severamente abaladas.

“Quanta insolência! Quanto atrevimento... puta que pariu!” Repetia incessantemente a indignação que sentia, porém, o real sentimento que lhe corroía por dentro, bem no fundo, era a mais profunda e amarga tristeza, um tormento terrível e sufocante. Aliado a todo aquele inferno de angustiantes sensações, emergia a certeza de que naquele momento, Lamartine estaria vibrando, comemorando a profunda aflição que a assolava, acertando-a justamente na ferida que não cicatrizava nunca... atingindo-a com requintes de crueldade.

Ela sangrava. Seu coração sangrava e foi com essa sensação quase literal que Delphine se trancou em sua sala, parando encostada na porta e sentindo todos os seus músculos sacudirem. Fechou os olhos com força, experimentando a potência das lembranças que a torturavam por tempo demais. Pensou seriamente em recusar a orientação de Cosima, uma vez que os motivos que a levaram a ponderar essa opção fossem absurdamente mais sérios que a arrogância de sua orientada – até então. Delphine temia por sua própria sanidade mental.

– INFERNO!!

Num rompante, lançou-se contra sua mesa, jogando no chão tudo que havia em cima dela, completamente transtornada e fora de si. Sua respiração era curta e descontrolada e Delphine pôde sentir suas forças se esvaindo, caindo derrotada em sua cadeira e entregando-se ao choro sofrido e doloroso que a fazia soluçar.

- Lamartine, seu filho da puta... eu vou acabar com você e com sua marionete de merd*!  - A fúria cortante era a principal nuance em sua voz.

Num súbito, um pensamento inesperado e a muito tempo esquecido lhe ocorreu. E se Cosima Niehaus não fosse uma enviada de seu inimigo? Isso seria possível? Não... não poderia. Questionava-se, evitando o terror das lembranças de uma antiga promessa. Corroída por decepções e tormenta, a muito que não mais se permitia alimentar esperanças tolas, porém, nas profundezas de seu íntimo, uma forte e crescente intuição gritava, impelindo-a a uma única certeza.

- Eu preciso saber quem é ela... Tenho que descobrir quem é Cosima Niehaus! Preciso tê-la aqui... Preciso mantê-la bem perto de mim.

 

Fim do capítulo


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Comentários para 13 - Capítulo 13 Duelo de Titãs.:
patty-321
patty-321

Em: 02/01/2018

Caraca, que embate. Mistério por traz da sociedade. Cosima foi foda.

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