Olá, colocamos uma foto capa para o capítulo e esta não foi inserida atoa! Senhoras e Senhores, apresentamos a vocês a nossa maravilhosa Helena Katz!
Desejamos a todos uma deliciosa leitura!
Capítulo 11 Uma noite sem Lua.
’ Lamento muito por isso ’’
As palavras de Siobhan ecoavam na mente dela. ‘’Merda’’. Parada, Helena encarava o tão estimado arsenal de rifles armazenados sobre a lareira já acessa aquela altura. O frio não dava trégua e o súbito peso daquela declaração caiu feito chumbo em seu corpo, dificultando os movimentos. É claro que ela sentiria muito... Delphine era completamente impossível e naquele instante, trazer a tona essa constatação fez com que o transe se quebrasse.
Helena agora andava de um lado para o outro, dando vazão à inquietação sufocante que se instalou ali, agravando ainda mais seu descontentamento por precisar ficar de fora do que estava sendo decidido além das famigeradas portas, mesmo sabendo que assim que Delphine saísse, certamente ela ficaria a par de todas as informações importantes – pelo menos as que podiam ser compartilhadas - em relação ás medidas que seriam tomadas para impedirem seja lá o que o filho da puta do Lamartine estivesse pensando em aprontar. Ainda assim, isso não diminuía a sensação de impotência que a dominava. Fechou os olhos com força, sentindo na boca o gosto do ódio que sentia por aquele infeliz.
Todo o árduo treinamento que recebeu ao longo de sua invejável carreira militar, aliado à sua peculiar inteligência e perspicácia, fez com que se destacasse de maneira brilhante e significativa, sendo convidada a trabalhar no serviço de Inteligência Israelense e tornando-se uma agente importantíssima e de nível elite na luta contra a expansão do terrorismo em seu país de origem e em toda a Europa.
Entretanto, não demorou muito para que começasse a discordar de alguns duvidosos posicionamentos e atitudes vindos de seus superiores, o que fez com que decidisse pedir exoneração, passando a oferecer seus serviços de forma particular e privada. Foi assim que começou a trabalhar para Delphine Cormier. Siobhan Sadler, a lenda viva em pessoa foi quem as colocou em contato, visto que já havia trabalhado com Helena algumas vezes e atestado pessoalmente as habilidades que ela possuía. Mesmo com toda a vasta experiência de Helena, nada do que ela havia feito se igualava ao desafio de trabalhar para a toda poderosa Cormier.
A princípio, realmente acreditou que não seria possível trabalhar com Delphine, já que nunca tinha visto na vida pessoa tão teimosa e cabeça dura feito sua chefe! A incompatibilidade de gênios era gritante e Delphine faltava enlouquecer Helena, – em todos os sentidos – que acabou não demorando muito à perceber que nada ao lado de daquela mulher seria normal, já começando pelo magnetismo sobrenatural que emanava de cada mínimo gesto dela, por menor e mais insignificante que fosse, abalando severamente toda a moral de Helena, inclusive, levando-a a sacrificar sua vida pessoal em detrimento da profissional e assim, permanecer ao lado dela.
Essa decisão lhe custou um relacionamento, o qual Helena insistia em se enganar, repetindo a si mesma que estava fadado ao fracasso... ‘’Não tinha mesmo como dar certo...’’ A dolorosa verdade era outra e em seu íntimo, ela sabia. Sabia que o fim se devia a ela... ao fato de ter se apaixonado completamente por ela, um furacão que atendia pelo nome de Delphine Marie Cormier, magnífico e incontrolável. Cormier se tornou prioridade na vida dela e é claro que isso enfureceu sua até então namorada. Inegavelmente, Helena teve o seu coração dividido entre a mulher que ela sabia que a amava, e aquela por quem havia se encantado e se apaixonado - completamente.
Helena respirou profundamente, suspirando em seguida com palpável angústia. De repente, o peso da lembrança do desfecho que aquela história carregava, fez com que caísse sentada – e visivelmente derrotada - numa pequena poltrona bem próxima à lareira. ‘’Recomponha-se, Helena... Isso é... É passado.’’ Recostou a cabeça e apertou os olhos com força, fechando-os com desesperada intensidade, na tentativa de impedir que uma lágrima impertinente escapasse. Agradeceu por estar sozinha naquela sala. Não queria que ninguém a visse daquele jeito, fraca e vulnerável. Sem mais conseguir evitar, foi tomada por toda a emoção que fluía de dentro daquele lugar e que a envolvia com incrível potência, arrastando-a numa nostálgica viagem no tempo, há pouco mais de 3 anos atrás.
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- VOCÊ A AMA, não é, Helena? – A pergunta que era mais uma raivosa acusação foi cuspida entre os dentes. O ódio doído e escancarado na voz entrecortada atingiu Helena como um potente soco na cara, vindo da última pessoa que ela desejaria machucar. Por que aquela merd* toda tinha que acontecer? ‘’Puta que pariu!’’
- Joana, por favor...! – A voz era suplicante e urgente. Helena tentava desesperadamente acalmá-la e Joana, por sua vez, tinha os olhos completamente marejados, encarando-a com profunda decepção e com o doloroso sofrimento de quem estava prestes a perder a mulher que amava. A expressão devastada de Joana fez a respiração de Helena vacilar.
Em dois passos rápidos, Helena a alcançou tentando abraça-la. Queria transmitir a ela qualquer mínima sensação de conforto e segurança, mesmo sabendo que não seria de maneira sincera. Ela mesma não era mais capaz de afirmar que não amava a mulher para quem trabalhava e se odiava cada vez mais por constatar aquilo. Para completar o inferno de sensações que estava vivendo e que a confundiam ainda mais, sabia que ainda nutria fortes sentimentos por sua namorada, por quem havia sido completamente apaixonada. Como aquela loucura toda era possível? Helena estava perdida.
Assim como ela, Joana Johnson era ex-agente da Inteligência, porém Americana. Trabalhou por vários anos na CIA e tinha uma carreira igualmente impressionante a de Helena. De aparência segura, linda e elegante, a mulher de pele morena e porte imponente era alguns anos mais velha que ela. Seus traços eram delicados e charmosos, caindo com perfeição no rosto anguloso e emoldurado por cabelos castanhos escuros e curtos num penteado sofisticado. Com toda certeza era uma mulher extremamente bonita e inteligente e ainda assim, sentia-se muito ameaçada pela estranha e acentuada proximidade que a sua companheira havia estabelecido com a chefe dela. Aquilo não era normal, não era somente profissional... Joana podia sentir.
- Você não consegue nem negar, não é mesmo? – Insistiu enquanto se desvencilhava dos braços de Helena. O tom de voz era raivoso e amargurado e ela a encarava com a expectativa de quem implorava por uma negativa que sabia que não viria. Helena engoliu em seco, sem conseguir articular qualquer gesto ou resposta, sendo capaz apenas de sustentar o olhar inquisidor e decepcionado que a encarava. Seus olhos, em contrapartida, carregavam o sofrimento contido e o perdão não dito. Joana interrompeu o contato visual e movimentou-se.
– Não sou nenhuma criança e nenhuma idiota, Helena. Não vou me interpor entre você e o seu trabalho e muito menos exigir que você faça essa escolha... Sei muito bem reconhecer uma batalha e esta – Pausou, sorrindo com um deboche angustiado – já está claramente perdida pra mim. – Finalizou, pegando uma mala deixada atrás do sofá enquanto Helena a assistia chocada.
- O que você está fazendo? – Questionou com a voz trêmula e embargada. Apesar de toda a loucura que aquela situação representava, Helena a amava muito, mas estava completamente dividida em seus sentimentos e não podia mais pedir paciência a sua namorada. Sabia que não seria capaz de se afastar de Delphine e que não seria justo com Joana. Helena não tinha esse direito.
Haviam se conhecido há alguns anos antes, quando Joana ainda era casada com um importante diretor da Inteligência Americana e, embora o sentimento tenha surgido naquele momento e tenha sido recíproco, só após um doloroso divórcio é que finalmente puderam ficar juntas. O problema era ironia sádica da vida, que lhe ofereceu a liberdade da mulher por quem se apaixonou primeiro, quase no mesmo período em que Helena começava a nutrir sentimentos indevidos – e impossíveis de serem controlados - por sua atual chefe.
- O que eu estou fazendo? Eu estou saindo de sua vida, Helena... agora mesmo e preste atenção... Essa mulher não merece você. Tenha certeza disso. – As palavras saiam entre às lágrimas que ela não mais conseguia segurar e Helena só queria morrer por fazer Joana se sentir daquela forma. – E te digo mais... ela vai arruinar você, Helena! Pode escrever.... – Joana quase cuspiu entre os dentes e a raiva e a amargura continuavam presentes. Helena não tinha mais forças para argumentar e nem sabia se realmente queria. Sua namorada estava ali, decidida a sair de sua vida, deixando-a... Justamente a mulher por quem havia se apaixonado e desejado por tantos anos e exatamente por que? Sim... por ela! Delphine Cormier.
– Quer saber o que me deixa mais triste? – Joana continuou, encarando-a com forçada firmeza, porém, antes que pudesse responder à própria pergunta, sua atenção foi capturada pelo insistente toque em seu celular. ‘’Que ótimo’’ Pensou com ironia e quase revirou os olhos. Embora aquele fosse o pior momento da vida para atender uma ligação, ela aguardava instruções de um importante trabalho que precisaria executar. Ponderou rapidamente a respeito, ela tinha que atender. – Merda! – Praguejou alto já sacando o aparelho do bolso de sua jaqueta de couro.
- O que? É sério que vai atender o telefone agora? – Helena reuniu forças para argumentar de alguma maneira e o ultraje em sua voz era quase palpável.
- Olha só quem fala! É só aquela puta escrota te ligar a qualquer hora que você sai correndo feito uma cadelinha apaixonada! – Sim, tratando-se de términos dolorosos, os xingamentos são inevitáveis. Como se pudesse esmurrar a cara de Helena, Joana desferia toda a raiva que sentia e só parou quando o celular que já não tocava mais acusou o recebimento de uma mensagem. Assim que leu o conteúdo, um leve sorriso cínico brotou em seus lábios, seguido de um suspiro quase desvairado. O olhar de Joana faiscou de forma sádica, provocando um frio na espinha de Helena.
– Olha, Helena... minha cabeça está explodindo e eu não aguento mais essa discussão. – Respirou profundamente e continuou - Cansei de lutar sozinha por nós duas e de vê-la submeter-se àquela cretina e a tudo o que ela faz com você! – Essa última parte saiu mais alto do que Joana pretendia. Apertou os olhos com força e quando voltar a falar, a decepção e frieza contidas na voz eram cortantes.
- Como eu ia dizendo, o que me deixa ainda mais triste é por você saber, Helena... Você sabe que ela jamais vai olhá-la dessa forma. – A raiva havia dado lugar a um duro pesar e as palavras de Joana atingiram Helena com tudo. Um murro na cara doeria menos. Por segundos que pareceram horas, elas apenas se olharam. Por que Helena não reagia? Joana quebrou o silêncio ensurdecedor. – Eu... eu preciso ir agora, já estou atrasada e não posso perder o voo. – ‘’Diga alguma coisa, sua imbecil!!’’ Helena tentava processar algo que pudesse dizer, mas apenas a assistiu pegar a chave do apartamento e deixa-la sobre a mesinha próxima a porta. Joana saiu pela porta e da sua vida sem nem olhar para trás.
Confusão e vazio eram os sentimentos que preenchiam cada parte do corpo de Helena naquele momento. Odiava-se por fazer aquilo com alguém tão incrível e especial como Joana, porém, tinha consciência de que aquela situação ficaria cada vez mais insustentável e em seu íntimo, sabia que sua namorada – ex-namorada - tinha razão. É claro que ela tinha a porr* da razão! Delphine jamais a olharia com os mesmos olhos e muito menos corresponderia seus sentimentos, embora tenha literalmente implorado para que Helena ficasse quando essa tentou se demitir num gesto desesperado, numa última cartada para tentar salvar sua relação com Joana.
- AAAH! DROGA! – Gritou, chutando uma inocente cadeira com uma força descomunal, causando um forte estrondo ao chocar-se contra a parede. Toda a sua disciplina militar estava caindo por terra e ela detestava se sentir daquele jeito: Sem controle algum sobre si mesma, incapaz de administrar aquele inferno de confusão que reinava em sua cabeça. – Que merd*... merd*! - Sussurrou, balançando a cabeça freneticamente, tentando recobrar o tão estimado controle.
Encarou a cozinha de seu apartamento e um súbito pensamento emergiu com demasiada intensidade, algo ao qual ela evitava ao máximo. ‘’Foda-se...’’ Andou a passos largos e alcançou a geladeira, sacando de lá uma garrafa de vodca russa. Sem perder tempo, entornou 3 doses puras, sentindo o liquido gelado começar a lhe entorpecer.
Ligou a TV na tentativa de tentar preencher o silencio que a sufocava, pouco se importando com o que estava sendo noticiado. O canal em questão começou a exibir os preparativos para a observação do raríssimo evento astronômico que aconteceria naquela noite. Tratava-se de eclipse lunar completo aliado a uma impressionante chuva de asteroides. O raro episódio acontecia uma vez em centenas de anos, Helena não sabia ao certo quantos e foi inevitável não pensar em Delphine naquele instante, uma vez que ela é quem era a especialista no assunto e havia falado daquele evento a semana inteira.
Se lembrou de quando descobriu o interesse e domínio que Delphine possuía em relação a fenômenos astronômicos e que jamais imaginaria que a sua chefe gostasse de algo como astronomia. Sim, Delphine era surpreendentemente interessante. ‘’Uma mulher inigualável...’’
- Que porr* hein, Helena!! Você está mesmo apaixonada...ridiculamente. Não, ridícula é você, por se permitir, por não se controlar... – Riu sarcasticamente da própria desgraça. Como se fosse possível evitar.
Ainda com a garrafa em mãos, foi até o banheiro e se prontificou a colocar a banheira para funcionar. Precisava relaxar urgentemente e um demorado banho certamente ajudaria nisso. Assim ela esperava. Ela sabia que não era uma situação fácil e jamais seria, mas também não imaginou que seria algo tão árduo e custoso. Sem pensar, retirou suas roupas e antes de mergulhar na água morna, tomou outra longa e caprichada dose. Como não tinha o hábito de beber, a quantidade ingerida já começava a entorpecer seus sentidos e intimamente ela agradeceu por isso. Era exatamente o que queria... não sentir nada mesmo que por um breve instante, já começando a perceber uma névoa letárgica abraçando sua razão e percepção, prestes a entrarem no modo stand by enquanto afundava em sua banheira.
Porém, antes de se deixar desconectar por completo, ouviu o toque de seu celular vindo da sala. Ponderou a respeito sem saber ao certo o que fazer enquanto o som persistia insistente. Pensou que talvez pudesse ser Joana se arrependendo da pesada discussão que tiveram e riu amargurada desse pensamento. Helena a conhecia muito bem e sabia que Joana jamais voltava atrás em nada. ‘’Teimosa... igualzinho Delph..’’ – Merda... dá um tempo, Helena... esquece.
Censurou-se irritada e fez menção a se levantar, sentindo a cabeça pesada e recuando em seu movimento. Estava bêbada? “Patético... muito patético!” Esforçou-se um pouco mais e rapidamente se levantou, recobrando os sentidos com tudo ao cogitar ter ouvido um pequeno ruído, como uma quase imperceptível mexida na maçaneta da porta. Podia estar levemente alterada, mas a descarga de adrenalina associada aos anos de treinamento de elite que havia recebido a deixavam em estado máximo de alerta, fazendo com que as habilidades específicas que possuía tomassem o controle de sei corpo.
Num movimento incrivelmente rápido e silencioso, Helena já estava de pé. Uma poça de água se formou ao redor de seus pés enquanto sua mente trabalhava a uma velocidade louca. Lentamente, ligou o chuveiro no intuito de indicar que estava ali, já que tinha certeza de que não estava mais sozinha. Seu apartamento fora invadido. Puxou a toalha de rosto que estava mais a frente, enrolando as extremidades em suas mãos. Fechou momentaneamente os olhos e concentrou-se ao máximo, expandindo sua audição e tentando perceber quantas pessoas estavam ali. Abriu os olhos e captou uma sombra no chão, alguém se aproximava.
Prendeu a respiração e aguardou, parcialmente escondida atrás da porta. Assim que identificou a ponta de uma pistola adentrar no banheiro, usou toda a agilidade que tinha e rapidamente enrolou a toalha no braço do invasor, torcendo-o, fazendo-o soltar a arma e urrar de dor, caindo de costas sobre Helena que passou os braços pelo pescoço do homem, sufocando-o com a mesma tolha! Quando o segundo invasor irrompeu o local, ela usou uma das pernas para chutar a porta do banheiro de forma violenta contra o rosto do homem, fazendo-o cambalear para trás, levando a mão instintivamente ao nariz certamente quebrado pelo choque.
Numa fração de segundo, Helena largou o homem que acabara de sufocar, tomando a arma dele e acertando um disparo abafado contra o segundo homem já aturdido, caindo desacordado no corredor.
Ainda com a arma em punho, Helena tentava controlar a respiração acelerada e processar o ocorrido. Passado o susto inicial, partiu para checar os bolsos dos invasores atrás de qualquer pista sobre quem eles eram ou quem os enviou até lá, mas não encontrou nada ali que os identificasse.
– Droga! – Praguejou exasperada e subitamente atentou-se ao seu celular que ainda tocava insistentemente, alertando-a novamente e fazendo com que um frio cortante descesse por sua espinha. Correu para a sala ainda nua e quando constatou o nome no visor do aparelho, sentiu as pernas fraquejarem.
- Sra. Cormier? – Estava completamente alerta.
- Ah, Helena!!! Você está com Delphine?? – O tom de urgência e medo na voz da mulher fizeram o coração de Helena falhar dentro do peito.
- Não! – Chocou-se com o tom desesperado de sua resposta. O timbre era estridente e mais alto do que o necessário – Ela me dispensou essa noite, Sra. Cormier; O que está acontecendo? – Helena respondeu enquanto encarava os dois corpos em seu apartamento. Que merd*!
- Helena, ONDE você a deixou? – A urgência se intensificou! Puta que pariu.
- Na Universidade, ela.... – Então a ficha caiu com o peso de uma tonelada sobre ela.
- Meu Deus, Helena!! Você precisa correr! Delphine está correndo perigo e...
– O restante do que Genevieve dizia ficou sem ser ouvido por Helena, que já se enfiav* nas mesmas roupas que tinha acabado de tirar, correndo em direção ao quarto e alcançando um compartimento reservado em seu guarda roupa, pegando uma de suas pistolas e dois pentes de munição, saindo em disparada do apartamento. Optou pelas escadas, saltando os degraus de 4 em 4.
Em poucos segundos o carro já estava ligado e Helena acelerava descontrolada, cantando os pneus enquanto calculava mentalmente o tempo que gastaria para chegar à Universidade. 10 minutos. Talvez uns 6 ou 7 com o tempo que economizaria ignorando os sinais de trânsito. Durante todo o percurso, ligava insistentemente para o telefone de Delphine, sem nenhuma resposta. O som da secretária eletrônica de sua chefe fazia seu estomago embrulhar. Helena suava frio. ‘’Delphine... não, por favor... estou quase!’’ Se recusava a pensar no que aquilo poderia significar e seguia dirigindo enlouquecida, ultrapassando todos os sinais fechados, agradecendo ao tranquilo fluxo de carros devido a avançada hora.
Assim que alcançou o estacionamento dos blocos onde ficava a sala de sua chefe, desceu do carro sem se preocupar em estacioná-lo ou mesmo trancá-lo, percebendo que restavam pouquíssimos veículos no local. Aturdida, focou o olhar e varreu o espaço, identificando ao longe a silhueta tão conhecida indo em direção ao carro dela. Antes mesmo que Helena pudesse soltar o ar preso em seus pulmões, um novo nó se formou em sua garganta quando seus olhos captaram outro movimento. Alguém estava seguindo Delphine.
Achou melhor não alertar sobre sua chegada, empunhando sua arma e correndo silenciosamente em direção à Delphine que ainda estava longe. Tentou mirar em quem a seguia, mas as pilastras do prédio e a pouca iluminação dificultavam sua visão. ‘’PORRA!’’ O pavor dominou sua mente quando assistiu o perseguidor sacando a arma e apontando em direção e ela... sua chefe, sua amiga, sua paixão impossível e proibida. Helena sentiu que suas pernas cederiam.
- DELPHINE! – Gritou desesperada, fazendo com que ela se virasse, procurando por quem a chamava e dando de cara com seu perseguidor, que mesmo com o alerta de Helena não se intimidou e nem hesitou, disparando o primeiro tiro contra o abdômen dela. Com o impacto da bala, seu corpo foi lançando para trás, projetado sobre o capô de um carro branco. O estalo do tiro seguido do estrondo da batida do corpo de Delphine contra o veículo fez o sangue de Helena gelar nas veias, impelindo-a a correr ainda mais, conseguindo uma visão limpa do indivíduo e aproximando-se o suficiente para apontar a arma contra o assassino.
- Largue a arma! Agora! – Gritava entre os dentes! O sujeito, que vestia roupas pretas e um boné também escuro ficou totalmente imóvel, ainda mantendo a arma apontada para a cabeça de Delphine. Um segundo que mais pareceu um século, se passou.
- Saia daqui, Helena. – A respiração de Helena falhou. O coração de Helena perdeu o compasso. Ela iria desmaiar? Ela não podia, mas tudo perdeu o sentido e o mundo parecia girar dentro de sua cabeça. Uma gota de suor escorreu pela testa dela e seu corpo inteiro tremeu. Aquela voz era... inconfundível e... absurdamente familiar.‘’Não pode ser...!’’ Não! Helena não podia acreditar naquilo. O que estava acontecendo? O indivíduo finalmente se virou e seus olhos se encontraram.
- JOANA?? – O silêncio perdurou por eternos segundos e alguma coisa estava errada com o oxigênio. Helena mal era capaz de respirar, completamente aturdida e imersa na incredulidade do que seus olhos enxergavam, arrastada do estarrecimento em que se encontrava e sendo trazida de volta a realidade pelo gemido agonizante de Delphine, já prostrada no chão.
- Vai atirar em mim, Helena? – A indagação era carregada de ceticismo. Joana a encarava. – Se não for, abaixe a porr* dessa arma! – Cuspiu as palavras.
O raciocínio de Helena vacilava e nada com lógica e coerência surgia em sua mente. Joana estava atacando Delphine!! Mas, porque?!!! Por ciúmes? Ressentimento? Não! Joana não era do tipo passional. Era profissional e comedida demais e aquilo nada tinha a ver com a término de pouco tempo atrás. Foi então que Helena ligou os pontos e a conectou à invasão de seu apartamento... ao homens enviados para mata-la. Não podia ser.
- Você... você trabalha para o Lamartine? – Sussurrou incrédula, mais para si mesma do que qualquer outra coisa. A terrível constatação fez Helena questionar todo o envolvimento delas. Foi tudo uma mentira? Toda a história delas e tudo que viveram era apenas uma armação? Cogitar tal hipótese provocava ânsia de vômito em Helena. ‘’Não não não não não...’’ Estava dilacerada? Não, estava completamente destruída. A realidade do momento era demais para ela, para qualquer um! Voltou sua atenção para Delphine envolta em seu próprio sangue por um ferimento causado por... Joana. Meu Deus. Sem pensar em mais nada, deu o primeiro passo.
- Pare onde está! – Joana advertiu.
Segundo passo.
- Não estou brincando, Helena! – Quase gritava.
Terceiro passo.
- Se você não se afastar... – Dessa vez a hesitação era a principal nuance na voz de Joana. Era a brecha que Helena precisava e com ela, partiu em direção às duas. Entretanto, não confrontou a morena, simplesmente se jogou sobre o corpo de Delphine, se interpondo entre ela e Joana que a encarava total descrença. Helena levantou o olhar e a fitou. Os olhos estavam atormentados e cansados.
- Você vai ter que me matar também...! – Disse. A voz estava embargada e trêmula.
- Helena... minha... dói. – Delphine tentava se comunicar. O sussurro era quase inaudível e entrecortado.
- Shiii, vai ficar tudo bem. Estou aqui. – Helena segura a cabeça de Delphine em seu colo, tentando confortá-la.
Joana assistia aquela cena e balançava a cabeça em negação. Como aquilo era possível? Como Helena poderia dar a sua vida por alguém como Delphine Cormier? Não conhecia aquela mulher, mas o caráter e lealdade de Helena eram inquestionáveis. Tomada pela confusão e por tudo que sentia por Helena, ela hesitou. Teria sido enganada?
- Anda! Atire ou vá embora! – Gritou Helena. A expressão era um misto de profundo ódio e decepção. – Se não for atirar, corra Joana. Corra o mais rápido que puder e se esconda! Eu vou atrás de você... eu vou procurar você nas profundezas no inferno, se preciso for. – Fúria. Era tudo que Helena conseguia imprimir em sua fala.
Joana cambaleou, vacilando em suas certezas. Ela seria capaz de atirar na mulher que amava? Não... nunca. Derrotada, encarou profundamente os olhos de Helena e teve certeza que algo estava errado. Aquela mulher não tomaria partido de uma psicopata feito Cormier. O que estavam escondendo dela? Desempunhou a arma e começou a se afastar, recuando e se perdendo na escuridão.
Quando Joana saiu de seu campo de visão, Helena se voltou para Delphine, que tinhas os olhos entreabertos e gemia angustiada, sussurrando suas dores. Tentou estancar o sangramento com a mão, mas Delphine perdia muito sangue.
- Calma! Vou chamar uma ambulância, você vai ficar bem. Vai ficar tudo bem. – O desespero na voz de Helena era quase palpável. Delphine estava morrendo em seus braços.
- Não! Minha mãe... – Sussurrava com extrema dificuldade, começando a sentir o liquido quente e encorpado subir por sua garganta. – Liga.. ligue para minha mãe.
Helena não sabe bem o por que fez aquilo, mas atendeu ao pedido dela. Sacou seu telefone do bolso e antes de destravar a tela, ele começou a tocar. Era Genevieve.
- Você está com ela? – Perguntou urgente e exasperada.
- Ela... é... sim... estou com ela... – A trêmula hesitação de Helena fez o desespero da mulher explodir. – Ela está muito ferida, Sra. Cormier... Eu não sei... eu...– Mal conseguia se ouvir.
- NÃO! – Helena se arrepiou com o desespero e o alerta na voz da mãe de Delphine. – Preste atenção, Helena! Leve-a para o meu hospital, AGORA! – Helena pensou em dizer que talvez fosse melhor esperar uma ambulância, mas o alto barulho de um cantar de pneus a alertou.
Avistou uma SUV preta dobrando a entrada do estacionamento. Reconheceu o motorista assim que ele se aproximou e reduziu a velocidade, porém, Benjamim não parou o carro, pelo contrário, acelerou de repente fazendo com que Helena se sobressaltasse. Um novo estalo ecoou e então ela compreendeu o que estava acontecendo.
Bejamim atropelou outros dois homens que também estavam ali para garantir a morte de Delphine, mas não antes de um deles atingi-lo com um tiro no ombro esquerdo. Mesmo machucado, o motorista deu ré e conseguiu ajudar Helena a colocar Delphine no banco traseiro do carro. O grito de dor que ela proferiu fez com que os dois se olhassem em total desespero. O tempo estava acabando e a vida se esvaia dela. Helena podia sentir a luz se apagando. O motorista fechou a porta do carro e correu para o banco da frente.
- Corra, Benjamim, o mais rápido que puder! – Foi só o que Helena conseguiu dizer enquanto acariciava o rosto contorcido de Delphine. Encarou a porr* daquele ferimento e o sangue que não parava de jorrar. A blusa branca que Del usava já estava completamente ensopada. Helena tirou sua jaqueta numa velocidade impressionante e a pressionou sobre o local. – Delphine... me escute, preste atenção em mim... - Helena chorava. A eminência de perde-la era desesperadora demais. – Não desista... fique comigo! ‘’Eu preciso de você.’’
Os minutos mais pareceram uma eternidade enquanto Helena tentava montar aquele quebra-cabeça. Estava extremamente confusa e magoada, pra não falar no medo avassalador que sentia de que não fosse possível salvá-la. Assistia impotente aquela mulher única e especial se esvair em suas mãos, segundo por segundo. Helena preferia ela mesma morrer do que presenciar aquilo e percebeu que Delphine queria falar alguma coisa.
Aproximou seu rosto do dela afim de tentar ouvir o que ela queria dizer. Pensou ter ouvido um nome e um soluço escapou de sua garganta. – Delphine! Merda! Você não vai me deixar, entendeu? Eu não vou permitir! – Perdê-la seria um golpe do qual ela jamais se recuperaria. Tentou identificar o que foi dito, sabendo que a probabilidade de Delphine sussurrar seu nome em delírio era praticamente impossível, sem contar o fato de que ouvir o nome de outra mulher a machucaria demais. Esse pesar dissipou-se num piscar de olhos assim que Delphine tossiu a primeira porção de sangue.
-Rápido, Benjamim! – O homem dirigia com certa dificuldade em detrimento do ferimento em seu ombro.
Assim que chegaram ao hospital, um verdadeiro exercito já havia sido mobilizado para recebê-los. Benjamim estacionou de qualquer jeito e quando a porta da SVU se abriu, Genevieve se aproximou, mas deteve-se ao visualizar o estado de Delphine, sentindo as pernas fraquejarem e cambalearem para trás.
Alguns enfermeiros rapidamente retiraram o corpo desfalecido de Delphine, colocando-o sobre uma maca enquanto os outros tentavam estancar o sangramento. Todos estavam mobilizados e debruçados sobre ela, levando-a para dentro e deixando uma atônita e paralisada Helena de lado de fora. Suas roupas estavam completamente ensanguentadas e... não! Ela não ia pensar o pior, não podia. – Delphine... fique comigo... eu te imploro. – Ela pronunciou aquelas palavras? Não tinha certeza.
As horas passavam de um jeito dolorosamente lento. Ali, largada na sala de espera, Helena se permitiu finalmente chorar. Era um choro sentido, inconsolável. Difícil era distinguir sobre o que exatamente chorava. Seria pela terrível traição de Joana? Ou pelo imenso risco de perder Delphine?
Benjamim estava na poltrona ao lado e parecia cochilar. Já havia sido medicado, mas estava decidido a não sair dali até que tivessem alguma notícia. Helena o encarou, se perguntando o porquê de ele estar em Paris. Acabou deduzindo que ele veio com Genevieve, uma vez que era o motorista de confiança dela.
No mesmo instante, um dos médicos saiu e pediu que Helena entrasse na sala, informando que a Dra. Cormier solicitava sua presença. “Qual das duas?”. Torceu muito para que fosse Delphine. Infelizmente, não era.
- Sra. Cormier, como ela está? – Os olhos marejados de Genevieve não significavam boas notícias. – Para onde a estão levando? – Questionou enquanto os enfermeiros a colocavam numa maca removível. Estava verdadeiramente incomodada, afinal, o estado de Delphine era altamente grave! Estavam em um dos melhores hospitais de toda a Europa, pelo amor Deus!
- Helena... Ela não pode ser cuidada aqui. Precisamos leva-la para a Dublin. Peço que confie em mim. – A voz era baixa e expressava uma seriedade nunca antes vista por Helena, que mesmo não entendendo absolutamente nada, sabia que não deveria contrariar e nem contradizer Genevieve. Respirou fundo.
- Não vou contradizê-la, Sra. Cormier, mas não vou deixar Delphine... Eu vou junto! – Cormier se surpreendeu. Mesmo sabendo da devoção de Helena para com sua filha, não esperava por isso. Naquele momento, soube que Delphine estava amparada e verdadeiramente protegida por ela.
- Muito bem, vamos logo! – Tocou-lhe o ombro de forma gentil, olhando-a com ternura.
Naquele exato instante, Helena teve a certeza que a sua vida estava definitivamente ligada a de Delphine.
- Helena.... - A voz gentil de Siobhan a despertou, devolvendo-a à realidade. Helena abriu os olhos, deparando-se com um par de enigmáticos olhos azuis encarando-a.
- Helena! Delphine pediu que lhe chamasse. – A expressão no rosto daquela mulher era difícil de ser lida. O que estava acontecendo? Seu corpo era pura letargia. Por quanto tempo se perdeu em suas lembranças? Helena a seguiu e não foi capaz de esconder a incredulidade ao notar Siobhan parando em frente à famigerada porta. A porta a qual ela sempre desejou cruzar.
- Mas... – Helena não foi capaz de dizer mais nada. Seu coração cavalgava em seu peito e ela mal podia acreditar.
- Chegou a sua hora, minha querida! – A mulher mais velha sorriu com verdadeira complacência e alegria. Helena novamente não conseguiu proferir nada, apenas se deixou levar e sentir. Custava a processar aquilo. Custava a acreditar no que via nas paredes daquele corredor. Todas aquelas mulheres incríveis! Todas elas eram ou foram membros da Ordem do Labrys. E agora, ela finalmente faria parte daquilo. ‘’Não vá desmaiar Helena, por favor!’’
Diante do tão almejado e desejado portal com a símbolo de toda a resistência, ela respirou fundo e entrou, mesmo com certa hesitação. Assim que escutou as portas se fecharem atrás dela, se deu conta. Ela conseguiu.. estava lá! Lá dentro, Genevieve a esperava de pé, bem no centro da sala. Correu os olhos pelo ambiente e localizou Delphine num canto, sentada sob a escuridão. Mal podia vê-la, mas sabia que os olhos dela a observavam.
- Minha cara Helena, todos esses anos de profunda lealdade e dedicação à Delphine, mais do que legitimam sua moral e merecimento. Também qualificam você para ser a próxima Protetora. – Helena surpreendeu-se... Aquela função era ocupada por Shioban. O que aquilo significava? Genevieve notou a confusão estampada em sua expressão. – Não se preocupe criança, Shioban é a minha Protetora enquanto Mestra, entretanto, eu não posso mais ocupar este lugar... por direito, ele pertence à Delphine. – Nova surpresa. Uma puta surpresa! Como assim?
- Eu... Eu não sei como agradecer a confiança que estão depositando em mim, mas posso garantir que a honrarei até o meu último suspiro. Obrigada. – Tentou encarar Delphine, que ainda permanecia imóvel em meio as sombras.
- Não temos dúvidas de sua capacidade e temos certeza de que você está mais do que qualificada, porém, para que isso seja possível, você precisa saber de toda a nossa história e a verdade sobre à Ordem. – Helena arregalou os olhos involuntariamente e percebeu que somente então Delphine se moveu, saindo da escuridão.
- E essa verdade começa com o fato de que Genevieve Cormier não é a minha mãe!
Fim do capítulo
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olivia
Em: 13/09/2018
Sabe autora, você me surpreende ,pela profundidade de seu romance ,Estou emocionada com a evolução de cada capítulo ! Leio cada parágrafo com profunda atenção,menos a parte do sexo, prefiro a explanação do conteúdo da pesquisa ,já que tenho fome do saber . Sou seme analfabeta , e atualmente alimento de leutura que , me ajuda ter força para enfrentar minhas limitações! Tenha certeza que estou amando!! Abraço????
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