Capítulo 16: NOVOS RUMOS
Márcinha ficou mais quatro dias comigo, fez a sua reportagem e voltou com minha negativa sobre os direitos da matéria para meu antigo jornal. Juliana ligava para mim todos os dias, me mandava sempre torpedos fofos, eu evitava novos encontros temendo não resistir ao desejo que crescia em mim por ela.
O pensamento em Marisa era constante, mergulhei na escrita, concluí mais um conto e adiantei meu livro, canalizando minhas energias para esse fim, por minha vontade, eu estaria correndo atrás de Marisa, apesar de ter pesadelos relembrando a imagem dela com a tal aluna, e suas palavras me mandando deixá-la em paz ecoarem em minha mente por diversas vezes.
Nosso jornal ganhou sede própria, não mais em uma sala da secretaria de cultura do município. Com o aumento da produção e dos patrocinadores, aumentamos também em quatro vezes a tiragem, a distribuição foi expandida para toda região do sul do estado, ganhamos mais uma repórter, além de contratarmos uma secretária e mais um estagiário de jornalismo.
Os dados que Márcinha me trouxe sobre a avó de Lisa, atiçaram minha curiosidade, mas julguei que o mais seguro era deixar essa história quieta, entretanto, um telefonema inesperado me tirou da aparente calma sobre o mistério que cercava a história de Marisa.
- Alô, é o telefone da Alexandra?
- Sim, pois não, quem fala?
- Meu nome é Elizabeth, você me conheceu há alguns meses atrás quando veio aqui a procura da família do Joca...
- Ah claro! Como vai dona Elizabeth?
- Tudo em paz minha filha... Mas estou ligando por que você me pediu que eu avisasse se eu me lembrasse de alguma coisa...
- Sim claro, dona Elizabeth, aconteceu algo? Lembrou-se de algo?
- Não, mas aconteceu algo que eu achei que você gostaria de saber. Semana passada, uns homens estranhos visitaram a casa que era da Marta, a minha vizinha, a que você procurou também.
- Que homens? O que eles procuravam?
- Eram homens estranhos, com sotaque estrangeiro, desceram de um carro todo preto, com os vidros todos escuros também, procuravam as mesmas pessoas que você procurava, a Denise, minha vizinha que está morando atualmente na casa, até comentou que uma moça esteve procurando essas pessoas.
- Ela falou de mim?
- É comentou, e eles ficaram curiosos, e me procuraram porque Denise falou que você falou comigo um tempão...
- O que a senhora falou?
- Achei-os esquisitos demais, não se preocupe não falei muita coisa, só que você era uma estudante, que era de outra cidade.
- Muito obrigada dona Elizabeth...
- Minha filha... Cuidado, não senti uma coisa boa quando esses homens vieram aqui, acho que é gente perigosa.
- Pode deixar senhora, obrigada.
Fiquei intrigada com o telefonema, mas não achei que representasse algum perigo, afinal, se aqueles homens estivessem envolvidos nos assassinatos de Alcides Muniz e da família de Marisa, eles não poderiam chegar até mim apenas com as informações que eles tinham.
Era sexta-feira, e Daniel visitou nossa redação no final da tarde, empolgado com nossas novas instalações:
- Amiga que luxo heim! Não tinha visto como ficou depois da reforma, vocês capricharam!
- A casa já era linda, só fizemos ajustes. Poxa Dan, saudades de você. Você sumiu, ainda está brigado com o Diego?
- Não tem mais volta com ele Sardenta. Já estou até com affair novo... Um porto riquenho lindo! Meu Rick Martin!
- Que babado é esse?
- Nem te conto... Ele veio no meio dessa muvuca aí que vocês provocaram com essa reportagem escândalo. Ele é tipo, um correspondente de uma revista argentina.
- Nossa, então temos fama no MERCOSUL?
- Pois é menina, muito poder né?
- Nunca imaginei que atingisse essa proporção.
- Tá, tudo bem, você tem a força, é invencível! Mas podemos voltar a falar do Hernane?
- Então o nome do bofe é Hernane?
- É, nome de macho! Bofe escândalo amiga. Vim aqui pra te convidar para sairmos e você conhecê-lo.
- Ai amigo, estou evitando sair...
- Fugindo das mulheres?
Daniel olhou de rab* de olho para mim, mexendo nos enfeites da minha estante.
- Ai bicha, pára de me zuar vai...
- Ué, você acha que eu não fiquei sabendo do bafafá que deu no luau? A comunidade do brejo dessa cidade não falou outra coisa... Tem sapa até fantasiando com você.
Dei um tapa no seu braço.
- Aquilo não foi nada divertido. Mas eu estou mesmo evitando encontrar Marisa e Juliana, por motivos diferentes, e nessa cidade minúscula... Muito fácil de todo mundo se encontrar.
- Mas você não pode fugir para sempre. Não te perdôo, você vem comigo sim, no lugar de sempre: Chica’s.
Sabia que não adiantava discutir com o Dan, ô bicha abusada! O jeito era me arrumar e conhecer o tal Hernane. Sem muito ânimo para me produzir, vesti qualquer coisa, prendi os cabelos, fiz uma maquiagem discreta, e segui para o Chica’s.
O clima alternativo de sempre reinava, ficamos na mesa cativa, quando cheguei, apenas Carlos e Luiza já estavam, mas não demorou muito para Daniel aparecer com um homem de cabelos grandes, presos, moreno, usava uma barba bem feita, mas, não era nenhum pouco simpático. Limitou-se a nos cumprimentar com um seco aperto de mão, e um “olá”. Acostumados com pessoas mais sociáveis, mesmo que não fossem tão afetadas, nos entreolhamos cúmplices de nossa pouca aceitação ao novo affair de Daniel.
O Dan coitado, esforçava-se para ressaltar as qualidades do tal Hernane, mas o menudo antipático não correspondia aos esforços, estava todo tempo com cara de poucos amigos, tragando seus cigarros compulsivamente, sorvendo conhaque sem parar. Até tentei puxar assunto algumas vezes, por consideração ao meu amigo, não recebi como resposta nada além de:
- Si, si... Yo compreendo...
- Nane, a Alex é a editora-chefe do jornal que publicou a reportagem investigativa da exploração de madeira ilegal. – Comentou Dan empolgado.
- Mui buena.
- É danada essa minha amiga Nane, quando quer descobrir algo, fuça até descobrir! Até se met* em encrenca por causa disso.
Fiz sinal para o Daniel conter seus comentários:
- O faro jornalístico, o Hernane como colega deve entender.
- Si, claro.
O silêncio e o clima estranho na mesa estavam instalados. Fui salva por uma voz doce e familiar atrás de mim:
- Ora, olha quem finalmente saiu do casulo!
Juliana com aquele sorriso arrebatador, parada atrás de mim.
Levantei-me e a abracei:
- Ju! Que bom te ver.
- Você sumiu, recusou meus convites para sairmos, imaginei que não quisesse mais me ver.
- Imagina! Eu estou trabalhando muito, é isso, a mudança de prédio do jornal, o aumento da tiragem...
- Ei chega de explicações, estamos perdendo tempo, vamos colocar a fofoca em dia?
- Vamos sim.
- Mas preciso beber alguma coisa, relaxar, estou vindo de um plantão de desumano de 24horas.
- Vamos para o bar então.
Pedi licença e segui com Juliana até o bar, embalamos uma conversa descontraída de duas boas amigas, mas bastava qualquer toque acidental dela na minha pele para despertar a memória do meu corpo acerca do meu desejo por ela. Depois de horas de conversa e muitas doses de Martini, Juliana fez um comentário que me tirou da atmosfera amena da noite:
- Dei esse plantão com sua ex. Ela mal me cumprimenta. O mau humor dela está virando piada entre a equipe de enfermagem. Está exigindo ainda mais das técnicas de enfermagem, o certo seria se reportar a mim, mas como não está falando comigo...
- Mas ela era tão querida e admirada no hospital...
- Continua sendo a mesma médica competente e exemplar, mas ela mudou muito desde que vocês terminaram Alex, posso estar afundando minhas chances com você dizendo isso, mas sou honesta demais para esconder isso de você.
- Você está me assustando Ju.
- Não é para se assustar, é só uma observação que tenho que fazer. Marisa está sofrendo muito com a separação de vocês Alex, deve ter emagrecido alguns quilos nessas últimas semanas, ouvi sem querer a doutora Elaine comentando com o doutor Fábio que estava preocupada com ela.
- Preocupada por quê?
- Ela está fazendo uso de psicotrópicos para dormir, bebendo muito também. Elaine relatou um episódio que a encontrou desmaiada na cozinha da casa dela, que precisou administrar glicose para que ela ficasse consciente, despertou completamente atordoada, por certo desmaiou por causa de hipoglicemia, está se alimentando muito mal.
Senti um aperto no peito ouvindo o relato de Juliana. Como doeu saber que Marisa estava sofrendo daquele jeito por minha causa. Minha vontade foi de correr para sua casa, cuidar dela, amá-la, aliviando todo aquele sofrimento, Marisa tinha muitas marcas de uma infância e adolescência marcadas por tragédias e solidão, e antes de me conhecer não teve relações íntimas, duradouras, por que não se permitia isso.
- Alex, não queria te trazer essa preocupação, mas, por incrível que pareça, me preocupo com Marisa, ela sempre foi uma ótima colega, já me ajudou muitas vezes, não seria legal da minha parte ignorar o sofrimento dela, mesmo caída por você como estou.
Fiquei pensativa, com uma angústia absurda dentro de mim. Não sabia o que falar para Juliana, até ela se adiantar:
- Está sofrendo depois de saber disso?
- Hurrum. – Respondi com a voz embargada e os olhos marejados.
- Se você acha que pode mudar isso, então vá atrás dela...
Juliana falou com tom de frustração, relutei em decepcioná-la, mas eu tinha que seguir meu coração. Dei um beijo no rosto de Juliana e saí do Chica’s em direção a casa de Marisa.
No trajeto, comumente deserto, estranhei a presença freqüente de um carro atrás do meu, acelerei e em segundos o carro estava quase colado em minha traseira, enchi-me de pavor, apertei o pé no acelerador, o carro que me seguia tocou os pára-choques traseiros do meu carro, projetando-o para frente, contribuindo para o descontrole da direção, meu carro derrapou na pista de areia, descendo o barranco cercado de árvores, meu carro só parou quando se chocou em uma grande árvore, antes de desmaiar ouvi sirenes de carro de polícia.
Acordei em um ambiente estranho, não sei quanto tempo estive desacordada, o fato foi que eu estava sozinha, olhei em volta e concluí que estava em um quarto de hospital, sentia meu corpo doer, especialmente a cabeça e os braços, um deles, imobilizado. Lembrei-me do acidente, e todas as hipóteses acerca do carro misterioso que me jogou para fora da estrada eram ligadas ao meu envolvimento nas investigações sobre os assassinatos relacionados ao passado de Marisa, e como se meus pensamentos chamassem por ela, Marisa entrou no quarto com uma expressão preocupada, ao me ver acordada apressou os passos e sorriu aliviada:
- Alex! Graças a Deus, você acordou!
Beijou minha testa e acariciou meu rosto, eu tinha dificuldades para falar, fiz expressão de dor e ela logo perguntou:
- Está sentindo dor? Onde?
Apontei para meu braço e Marisa se apressou pegando o telefone ao lado da minha cama:
- Veja o prontuário da Alexandra, prescrevi um analgésico, ela está com dor. Obrigada.
Marisa olhava-me ainda com ar preocupado, esforcei-me para falar:
- Há quanto tempo eu estou aqui?
- Você esteve inconsciente por quase 24horas, passou por uma cirurgia nesse bracinho que está imobilizado, mas está fora de perigo, ainda bem que você estava de cinto de segurança, mas como justo você não tem carro com air bag?
- Ah... Já está me zuando né? Saiba que nunca bati meu carro...
- Pura sorte...
Marisa sorriu, e meu céu pareceu se abrir diante daquele sorriso.
- Marisa, esse acidente foi provocado... Havia um carro me seguindo...
- A polícia pediu que avisasse quando você pudesse falar. Uma testemunha ligou para os policiais falando sobre dois carros em alta velocidade na estrada, suspeitaram até que fosse um racha...
- Por causa desse carro perdi a direção Marisa...
- Mas você não estava perto de casa, como eles te seguiram?
- Eu estava no Chica’s, indo para sua casa.
Fiquei tímida, baixei a cabeça, e Marisa perguntou:
- Minha casa? Mas...
Quando Marisa se aproximava de mim, procurando minha mão, bateram à porta, era Juliana com uma bandeja de medicação nas mãos.
- Com licença... Soube que Alexandra estava acordada, vim para vê-la aproveitei e trouxe o analgésico prescrito.
- Ah sim, claro.
Marisa ficou desconcertada, e Juliana se aproximou de mim segurando minha mão, e perguntou:
- Como está se sentindo Alex?
- Atropelada por uma árvore gigantesca. – Brinquei.
- Já está de bom humor, então a dor nem é tão grande assim...
Juliana brincou, sorriu para mim, enquanto administrava a medicação. Antes de sair avisou:
- Troquei meu plantão para ficar perto de você, estou por aqui no hospital, se precisar de qualquer coisa peçam para me chamar que venho imediatamente, se precisar durmo aqui no quarto tudo bem?
Balancei a cabeça positivamente, Juliana segurou minha mão, beijou minha testa e saiu, não pude deixar de buscar Marisa com o olhar a fim de constatar sua cara abusada vendo o carinho de Juliana comigo.
- Troquei meu plantão pra ficar perto de você. – Marisa imitou Juliana fazendo careta – Ela não tem mais o que fazer?
Tentei esconder meu riso, mas não consegui.
- Bem que me falaram que você anda mal humorada. – Comentei divertida.
- Huum, quem te disse isso? Essa enfermeirinha metida?
Divertindo-me com a situação sorri e perguntei:
- Isso importa?
- Só pode ter sido ela.
- Pode ter sido Elaine também...
- Ah eu pego aquela ruiva!
Gargalhei, e com o esforço, as dores limitaram a continuação das minhas risadas.
- Alex, cuidado! Você está cheia de pontos, passou por cirurgia delicada, seu braço quebrou em vários lugares... Tem tanto pino aí nesse braço que você se transformou quase num Robocop gay!
- Ai Mah!
Foi a vez dela se divertir com minha cara assustada.
- Falando sério agora Alexandra, isso que você está falando desse carro te seguindo... Está me preocupando, vou avisar a policia que você acordou para que eles procurem por esse carro.
- Marisa... Existe uma coisa que você precisa saber antes da polícia.
A aparência de receio de Marisa, evidenciava que ela já suspeitava que meu acidente tivesse relação com sua história, prossegui:
- Você já sabe que fui até Calhetas, conversei com uma antiga vizinha de sua família lá, dona Elizabeth. Ela me ligou essa semana, falando sobre a visita de homens estrangeiros, de aparência suspeita procurando pelas mesmas pessoas que procurei, no caso, a família de João Marcos Pimentel.
Marisa ficou pálida, continuei falando:
- A atual moradora da casa que vocês moraram, comentou com esses homens que uma jovem universitária esteve meses atrás procurando as mesmas pessoas. Não sei se esse carro que me jogou para fora da estrada tem algo haver com isso, afinal, eles nunca poderiam chegar até mim só com essas informações não é?
Marisa andou de um lado para outro, visivelmente tensa e respondeu:
- Alex, quando te disse que você não imaginava com quem estava se met*ndo, e o perigo que você corria, você achou exagero não é mesmo?
- Não exatamente...
- Essas pessoas subornam quem for preciso, venho fugindo há anos, por onde você passou, deixou rastros, como por exemplo o fato de ter usado o tal amigo do Daniel para recolher informações sigilosas do ministério. Se alguém souber, grampear e-mail, telefones do ministério, podem chegar até ele e no fim até você...
Foi minha vez de empalidecer. A primeira coisa que pensei, foi o tal Hernane, o novo bofe do Dan. Percebendo meu nervosismo, Marisa perguntou:
- Algo mais para me contar?
- Temo que sim. Um porto riquenho chegou à cidade, se identificando como jornalista, e está saindo com o Daniel...
- Um porto riquenho? O sotaque espanhol pode ser de qualquer país de língua latina Alex, Colômbia, Honduras... Ai meu Deus!
Marisa levou as mãos à cabeça.
- Mah... Acalme-se. Eu estou bem, não aconteceu nada.
- Você não entende o risco que está correndo Alexandra? Se eles sabem que é você que está investigando essa história, vão querer essas informações e farão de tudo para tirá-las de você! Tudo mesmo, seqüestrar, torturar... Tudo Alex!
Marisa tremia, estava transtornada.
- Mah, vem cá vem...
Fiz sinal para que ela sentasse ao meu lado no leito. Relutou mas se rendeu. Segurei sua mão com força e disse olhando no fundo de seus olhos:
- A gente vai dar um jeito nisso, não vai acontecer nada comigo, nem com você.
- Alex, eu não vou me perdoar se acontecer algo a você. Todo meu sacrifício terá sido em vão...
- Do que você está falando? Que sacrifício?
Marisa fugiu do meu olhar e desconversou:
- Preciso ligar para a polícia, mas antes vou avisar a Larissa, ela vai orientar sobre o que você vai dizer, e como vamos proceder.
- Marisa responde minha pergunta, que sacrifício?
- Alex, isso não importa agora. Só o que importa nesse momento é zelar por sua recuperação e sua segurança.
Insistiria em saber sobre o tal sacrifício que ela se referia, mas Daniel entrou no quarto, acompanhado de Luiza, Fernanda e Artur.
- Ow mulher que adora um hospital! – Daniel exclamou ao entrar.
Todos riram, enquanto isso, Marisa se aproximava da porta pronta para sair:
- Marisa, aonde você vai?
- Depois conversamos Alex, tenho algumas coisas para resolver. Até mais gente.
Marisa saiu do quarto, Dan protagonizava a zuação comigo, ressaltando que durante o tempo que fiquei inconsciente, Juliana e Marisa disputavam o lugar de “primeira-dama” nos cuidados comigo, dessa vez, meu amigo conteve a língua, e nada falou para meus pais ao contrário do que fez na minha crise de urticária.
Passaram algum tempo comigo, até a chegada de Juliana, que pediu licença para me levar para a realização de exames. Pensei em falar com o Dan sobre o misterioso Hernane, saber mais dele, saber como se conheceram... Mas, fui tomada de sensatez (momento raro na minha vida), e julguei que fosse melhor primeiro conversar com Marisa.
Juliana me conduziu até o setor de imagens do hospital, empurrando a cadeira de rodas puxou assunto:
- Então... Você se lembra de alguma coisa do acidente? Como você foi parar fora da estrada?
- Perdi o controle da direção, estava dirigindo em alta velocidade.
- Nossa, tanta pressa assim para ver Marisa naquela noite?
- Fiquei preocupada com as coisas que você me falou. Senti-me culpada.
- Entendo... Ela foi a primeira a chegar aqui. Os policiais avisaram a ela primeiro, eu só soube do acidente por que uma colega comentou comigo na manhã do dia seguinte, quando cheguei aqui, você já tinha sido operada e ela estava aqui do seu lado.
Meu coração encheu-se de alegria ao ouvir isso, sorri discretamente. Algumas horas depois enquanto Juliana me fazia companhia no quarto após os exames, Marisa voltou, fez perguntas de praxe sobre meu estado e exames, e comunicou-me que a polícia estava vindo para colher meu depoimento sobre o acidente.
O constrangimento estava instalado no quarto, lembrei do Dan, o quanto ele me zuaria se visse aquela situação. Nenhuma das duas queria sair do quarto, e o pior, Marisa precisava me orientar acerca do meu depoimento à polícia, e para isso, precisava ficar a sós comigo. Até que ela mesmo não se conteve e disse:
- Juliana, as técnicas de enfermagem estavam à sua procura, alguma coisa sobre uma reunião com a CCIH (comissão de controle de infecção hospitalar).
- Ah, sim, vou ver do que se trata, volto logo Alex.
Marisa vibrou com a saída de Juliana, sorri com o gesto dela. Aproximou-se de mim e me orientou:
- Larissa chegará em algumas horas para conversar com você, mas de antemão, quando os policiais vierem colher seu depoimento, diga apenas que aparentemente um carro a seguia e você temeu ser um assalto por isso perdeu o controle da direção, mas não dê detalhes sobre o carro.
- Até mesmo por que eu não sei mesmo nada sobre o carro que me seguia...
- Qualquer coisa que você lembrar será importante.
- Tudo bem.
Logo os policiais chegaram e relatei apenas o que Marisa me orientou. Ficamos a sós mais uma vez, e vi a oportunidade de tocar no assunto sobre nossa relação:
- Mah... Na noite do acidente, eu estava indo para sua casa, conversar com você.
- O que nós temos a falar ainda Alex?
- Muita coisa... Como por exemplo, essa sua história de sacrifício...
- Alex, esquece essa história. Vamos nos concentrar em nos defendermos dessa ameaça.
- Ameaça a qual eu sequer sei do que se trata não é Marisa?
Marisa ficou sem graça com minha honestidade tocada de mágoa.
- Diante de tudo que você descobriu, você não pode supor como as pessoas que me perseguem são perigosas? Não pode calcular o quanto as pessoas ligadas a mim correm risco?
- Tudo que tenho são suposições, hipóteses, por tentar entender tanto mistério que envolve a vida da mulher que amo, fui punida.
Meus olhos marejados denunciaram o quanto eu sofria por sua ausência. Marisa emocionada sentou-se ao meu lado na cama, e com os olhos cheios de sinceridade confessou:
- Alex, eu te amo. Fiquei profundamente magoada, com o que você fez, invadindo, fuçando minha vida quando tudo que pedi foi que você confiasse em mim, eu tinha motivos para te proteger te deixando fora de toda essa confusão.
- Marisa eu também te amo, nem sabia o que era amar antes de você, nunca namorei uma mulher, eu sou desajeitada, curiosa, e queria saber mais de você, me angustiava te ver acordando no meio da madrugada com pesadelos... E a medida que eu ia descobrindo os fatos, mais eu ficava intrigada, preocupada.
- Alexandra, por mais que você se justifique comigo, isso não muda as conseqüências disso. Se essas pessoas me acharam, fizerem alguma ligação entre você e eu, a minha vida, a sua, e de tantas outras pessoas envolvidas estão em risco.
- Então você me perdoa? Perdoa por ter sido irresponsável... Bisbilhoteira...
- Alexandra, quem me dera se nosso maior problema fosse sua curiosidade. Além de trair minha confiança, você se expôs, e expôs pessoas e situações sem sequer considerar os riscos disso.
- Você não me respondeu. Você me perdoa?
- Alex, presta atenção: Quando nós reatamos naquele dia, antes de saber que você foi até Calhetas, mentiu pra mim e tudo que você já sabe, eu te dei mais um crédito, e ao mesmo tempo, te coloquei em risco. Larissa me advertiu várias vezes, e depois de saber o ponto que você chegou para ter detalhes da minha vida, eu vi que Larissa estava certa, que ter qualquer relacionamento na minha situação era perigoso para mim e para a pessoa com a qual me envolvesse.
Respirou fundo, e continuou:
- Estar longe de você, foi meu maior sacrifício, para sua proteção, para a minha, e para meu pai.
- Seu pai?
- Alex, isso é uma longa história... Mais do nunca, o mais seguro é que você não tenha certas informações.
- Marisa, só o que me interessa saber é se você me ama.
- Claro que amo! Alex, nunca namorei ninguém! Sempre fugi de relacionamentos, Nova Esperança é a primeira cidade que moro há mais de três anos. Até minha faculdade, residência, tive que fazer em faculdades e hospitais diferentes para me manter segura. A primeira pessoa que me apaixonei de verdade, e arrisquei seguir o que meu coração foi você! E justo você...
- Exagerei na curiosidade... Nas mentiras...
Marisa enxugou as lágrimas e prosseguiu:
- Mas eu te amo, e perdoei... Afinal, você já me desculpou tantas vezes... Mas Alex... Não posso expor você, se algo acontecesse com você... Eu... Morreria!
- Mah... Meu amor, não vai nos acontecer nada, vamos ficar juntas e enfrentar isso!
Nossos ânimos estavam exaltados, emoções à flor da pele, nossas mãos unidas, puxei Marisa com o meu braço livre, segurando-a pelo queixo beijando seus lábios suplicando em voz baixa:
- Fica comigo meu amor...
Com os rostos colados, lágrimas misturadas, fomos interrompidas por Larissa que entrou no quarto:
- Desculpe-me interromper, mas o que traz aqui é questão de vida ou morte.
Larissa tinha uma aparência preocupada, Marisa levantou-se rapidamente e perguntou:
- Conseguiu descobrir alguma coisa?
- Descobrir pessoas novas nessa cidade não é algo tão difícil. Localizei alguns carros que estão com visitantes da cidade, inclusive com o tal Hernane que você citou, puxei a ficha dele na INTERPOL e como supunha, esse nome não consta entre os suspeitos de envolvimento com o narcotráfico da América Central. Preciso da foto dele para fazer a busca nos arquivos.
- Isso não será difícil. – Comentei.
- De fato não. Já consegui descobrir onde ele está hospedado, vou montar guarda e captar a imagem dele e enviar para o serviço de banco de dados e cruzar as informações.
- Larissa, você falou sobre uma questão de vida ou morte... Do que se trata? – Perguntou Marisa apreensiva.
- É Marisa... As negociações para a libertação de seu pai não estão evoluindo, há dias não conseguimos contato com o líder da guerrilha, nossa última conversa foi ameaçadora, estão exigindo o filme em troca de nos dar provas que o João continua vivo.
- Estou cansada disso... Preciso falar com meu pai, vocês me prometeram isso!
- Você acha que não queremos fazer isso Lisa? Mas você sabe perfeitamente que precisamos agir com cautela para o bem de seu pai e do seu também.
- Há anos vocês me dizem isso, perdi quase tudo na minha vida, e me vejo forçada a perder mais uma vez, isso não é justo!
- Lisa, não queremos que você perca nada... Só queremos evitar que mais pessoas sejam envolvidas nisso, não viu o que quase aconteceu a Alex? É justo com ela?
Até ouvir meu nome, mantive-me quieta ouvindo a discussão das duas, e mais peças ao quebra-cabeças eram adicionadas, entretanto, quando senti que Marisa se referia a mim mais uma perda e a indagação de Larissa não pude ficar calada:
- O que não é justo comigo é ser excluída da vida da mulher que amo Larissa, e se amá-la implica em riscos, estou disposta a correr esses riscos, sou adulta o suficiente para tomar minhas próprias decisões.
Larissa ficou séria, desviei meu olhar para Marisa e a vi nitidamente emocionada com minha declaração.
- Muito bonitas suas palavras Alexandra, mas infelizmente, existem mais gente e causas envolvidas do que o relacionamento de vocês duas. Possivelmente a sua investigaçãozinha trouxe até a porta de Marisa membros da milícia que assassinaram a família dela e que mantém seu pai refém há anos.
Marisa franziu a testa, censurando a morena que comentou:
- Eu sei que ela não sabia disso Lisa, mas está na hora dela sair desse arco-íris que ela vive e ver no que ela se met*u e no que nos met*u também.
A hostilidade de Larissa comigo ficou evidente, desconfiei que existia pelo menos da parte dela algo além do profissional ali. O clima ficou tenso, e foi nesse momento que Juliana voltou ao quarto estranhando o peso do ambiente.
- Interrompo algo? – Indagou Juliana.
Constrangida respondi:
- Não Ju, entre, por favor.
Larissa visivelmente contrariada foi incisiva com Marisa, ignorando a presença de Juliana no quarto:
- Venha comigo Marisa agora, precisamos conversar.
Se eu já estava irritada com o comportamento de Larissa e suas palavras, depois dessa demonstração de autoridade sobre Marisa, declarei guerra interiormente a morena fatal. Marisa a seguiu sem discutir, olhou-me como se me pedisse paciência, ambas deixaram o quarto, deixando-me na companhia de Juliana que comentou franzindo a sombracelha:
- Menina que criatura antipática! Quem é a bonitona?
- Amiga de Marisa.
- Ela veio te visitar?
- Ahan...
Minhas respostas não convenceriam ninguém, percebendo que eu não estava nem um pouco a vontade, educadamente Juliana mudou de assunto:
- E como você está? Ainda com dor?
- Estou melhor, acho que a medicação fez efeito, não estou com dor.
- Que bom...
Juliana se aproximou da cama, encarou-me, e perguntou num tom tímido:
- Posso te perguntar uma coisa?
- Claro Ju.
- Você e Marisa... Vocês se acertaram?
O olhar tenro de Juliana deixou-me com o coração apertado em dar uma resposta que eu sabia que a desagradaria:
- Ju... Eu não sei te dar uma resposta...
- Entendo...
Com um olhar decepcionado, Juliana fez menção de se afastar da cama, quando segurei sua mão:
- Espera Ju...
Juliana parou, voltou-se para mim, e com o olhar fixo disse:
- Não precisa ficar sem graça Alex... Você não me prometeu nada.
- Eu sei disso, mas não quero te deixar triste...
- Ih... Olha a menina... Se achando né? Quem disse que estou triste por sua causa?
Juliana abriu um sorriso, assanhou meus cabelos arrancando um sorriso meu. Mantivemos as mãos unidas sem perceber, só notamos nosso contato íntimo, quando Marisa entrou no quarto sem bater, e fez cara de desagrado. Soltei a mão de Juliana imediatamente, o gesto foi tão automático que beirou à agressão. Notei Juliana se assustar com minha reação, constrangida, afastou-se e com uma fisionomia séria avisou:
- Meu plantão acaba daqui a pouco, alguém virá dormir com você Alex?
Não sabia o que responder, não sabia se Marisa permaneceria ali comigo, após um silêncio constrangedor, Juliana se adiantou:
- Peça para alguma técnica me ligar se precisar de mim, promete?
Balancei a cabeça positivamente, Juliana saiu do quarto e Marisa se sentou na poltrona ao lado da cama com cara de poucos amigos comentando:
- Ela não larga o osso né?
- Nossa... Sou tão pouco apetitosa assim? Osso Mah?
Desfiz a cara fechada dela com a pergunta, notei-a contendo o sorriso e continuei:
- Ela só vai pegar esse osso, se você largá-lo...
Marisa mordeu os lábios, relaxou a cabeça no encosto da poltrona e desabafou:
- Eu não quero... Mas... Não posso Alex.
- Mah... Não desiste da gente...
Marisa baixou a cabeça, quando a ergueu vi uma lágrima solitária percorrer seu rosto, comovida chamei-a para perto de mim:
- Vem cá meu amor...
Afastei-me na cama abrindo espaço para ela deitar-se ao meu lado, Marisa se aconchegou debaixo do braço que não estava imobilizado, abracei-a com todo amor que eu tinha, tentando transmitir a segurança que eu sentia de que meu sentimento iria transpor qualquer barreira ou empecilho para nosso amor. Numa troca de papéis, a doutora se consolou na paciente, deve ter cochilado naquela posição, despertando com um espasmo no corpo, deduzi que era mais um de seus pesadelos atormentando-a.
Apertei-a contra meu corpo ainda mais forte, e só então Marisa se acalmou confessando:
- Não quero te deixar Alex, eu te amo.
- Vamos ficar juntas meu amor... Quero enfrentar tudo ao seu lado.
Marisa beijou-me com paixão, suas lágrimas se misturaram a nossa saliva, dando a tônica da nova etapa de nosso relacionamento.
Dois dias depois, saí do hospital. Nesse período, Marisa não saiu de perto de mim, talvez isso tenha afastado Juliana, que me visitou rapidamente sendo educada e simpática todas as vezes, mas seu desconforto com a presença de Marisa era óbvio. Eu sabia que eu e Marisa tínhamos muito a falar,mas ela achou melhor respeitar meu tempo de repouso.
Marisa não permitiu que eu voltasse para minha casa sozinha, fez questão de que eu fosse para sua casa, não relutei, na verdade tinha adorado a idéia. Marisa se desdobrava em cuidados, tão logo chegamos em casa, ela me acomodou na sua cama, me cercando de travesseiros fazendo mil perguntas:
- Está confortável? Está com sede? Com dor? Quer comer alguma coisa?
- Meu amor calma...
- Quero que você se sinta à vontade aqui, e bem cuidada...
- Não sou uma visita aqui Mah... Pelo menos, não é o que quero ser.
Ela sorriu, sentando-se ao meu lado na cama, relaxando finalmente. Mexi nos seus cabelos tirando algumas madeixas do seu rosto, e confessei:
- Senti tanta falta de estar aqui nessa cama ao seu lado... Em algumas noites, a saudade era tanta que eu conseguia até sentir seu cheiro, ouvir sua voz perto do meu ouvido.
- Eu me contive tantas vezes antes de sair correndo e bater à sua porta de madrugada...
- Sonhei muitas vezes acordar com você batendo à minha porta...
Marisa me calou com um beijo demorado, apaixonado o suficiente para despertar todo desejo que eu mantinha guardado por ela, a saudade foi responsável por eu ignorar minha condição enferma e pedir num sussurro:
- Quero você dentro de mim...
- Mas meu amor...
Peguei sua mão e posicionei-a abaixo da minha cintura, meu corpo queimava, ardia de desejo em ter os dedos da mulher que eu amava me penet*ando, relaxei meu corpo entre os travesseiros, oferecendo meu tronco à boca de Marisa que desabotoou com a mão trêmula minha blusa, e com a outra mão acariciou minha barriga, minha pele arrepiou-se dos pés à cabeça, senti a umidade na minha calcinha quando Marisa abriu o botão da minha calça descendo com sua mão até meu sex* massageando meu clit*ris enquanto deslizava sua língua entre meus seios.
Gemia com cada movimento de língua e dedos de Marisa, meus gemid*s pareciam excitá-la que me olhava com tesão, mordendo os lábios, hora deixando no seu rosto um sorriso malicioso, hora dizendo-me ao ouvido besteirinhas cheias de volúpia, acelerando meu coração, intensificando o calor entre nossos corpos, facilmente Marisa penet*ou seus dedos no meu sex* movimentando-os suavemente, e gradualmente intensificou os movimentos, deixando-os mais rápidos e vigorosos, meu sex* pulsava tamanho era o prazer que sentia, os beijos de Marisa no meu pescoço e orelha precipitaram o gozo inevitável que se derramou entre minhas pernas, para satisfação de Marisa que confessou:
- Quero me lambuzar no seu gozo meu amor...
Arrancou o resto de minha calça, e posicionou sua boca no meu sex*, não me dando tempo sequer de me recompor, os músculos de minha perna tremiam, sentia meu corpo ter espasmos, g*zei na boca de minha namorada uma, duas três vezes, Marisa impunha força na língua enquanto sugava meus pequenos lábios, beijava-os como se fossem meus lábios, lambia toda a extensão da parte externa de minha vulva, dando-me o prazer inenarrável que só ela sabia me dar.
Sem forças relaxei com Marisa recostada em meus seios, ofegante, sentia nosso coração descompassado, embora exausta, tinha um sorriso nos lábios, estar com Marisa mais uma vez me tornava a mulher mais feliz do mundo, e decididamente eu a queria para sempre e ia lutar por isso com minha vida se fosse preciso.
Marisa pediu dois dias de folga da faculdade e do hospital para se dedicar exclusivamente aos meus cuidados, Luiza me trouxe as pautas da semana, e na medida do possível orientei-a sobre a edição e organização das matérias. Por mais lacunas que existisse na história de Marisa ou Lisa, não me interessava naquele momento remexer nesse assunto, aqueles dias de folga preferi usá-lo para matar as saudades de minha namorada e deixar evidente o quanto eu a amava e quão forte era nosso amor.
Infelizmente esses dias de folga não foram nada calmos. Marisa como era de se esperar estava tensa, os pesadelos eram frequentes até em cochilos que tirávamos na rede durante o dia e para aumentar ainda mais a tensão, Larissa apareceu com a antipatia de sempre à minha presença e com notícias nada tranqüilas.
- Consegui tirar a foto do tal Hernane, e como suspeitávamos depois de cruzar a imagem com os arquivos da INTERPOL , o identificamos como Joaquim Vasquez, ele não é porto-riquenho, é hondurenho, e segundo as investigações, ele era uma espécie de relações exteriores da guerrilha, por isso ficou mais visado nas investigações, ele mediava negociações de compra de armas e drogas para financiar a guerrilha, e tem ligação com as FARC.
- Meu Deus! Então o Dan está em perigo também! – Comentei assustada.
- Você entende agora Alexandra, quando falei sobre envolver mais pessoas inocentes nessa confusão? Que você colocou a vida de muita gente em risco? – Larissa disse secamente.
Marisa mesmo preocupada, tentou me confortar, segurando forte minha mão, como se afirmasse que sabia que eu não fiz nada intencionalmente, mas isso não aliviava minha culpa.
- Certamente ele veio seguindo pistas que você deu Alexandra nessa investigação, estamos quase certos sobre quem está vendendo informações dentro da polícia federal e do ministério das relações exteriores... O cerco está se fechando.
Senti a mão de Marisa gelar, e foi minha vez de tentar transmitir alguma segurança, mas Larissa não tinha a menor intenção de nos dá um momento de paz, e continuou com a sequência de notícias tensas:
- A organização continua sem dar notícias do seu pai, e a proximidade dessas pessoas aqui em Nova Esperança pode precipitar nossa reação Marisa, finalmente como você queria, vamos promover a troca do filme que você tem, pela liberdade do seu pai.
Apesar de não entender o motivo de Marisa e a INTERPOL esperarem tanto tempo para realizar tal trans*ção, deduzi pela expressão de alívio, que esse era o momento pelo qual minha namorada sempre esperou.
- Então a operação para prender os líderes do tráfico de armas e de drogas nos países envolvidos, está pronta?
- Temos dados e provas suficientes agora, e alguma segurança e articulação para antecipar a operação que teoricamente deveria ocorrer em um período menos tumultuado, já que Honduras se prepara agora para uma eleição presidencial e o candidato líder nas pesquisas é patrocinado pela guerrilha, o mesmo candidato que o embaixador denunciaria antes de ser assassinado.
- Então esse é o momento, esse facínora não pode ser eleito! – Marisa exclamou.
- É um momento tenso Lisa, esse homem não vai deixar escapar esse poder tão fácil assim, grupos civis tem sofrido graves repressões políticas, tem ocorrido seqüestros, assassinatos de pessoas ligadas ao partido oponente.
- Mais um motivo para agirmos! – Marisa relutou exaltada.
- Tem mais uma coisa: essa reconciliação de vocês...
- O que tem? – Perguntei exasperada.
- Olha, vocês me desculpem, mas nesse momento é um risco a mais, desnecessário. Facilmente esse Hernane, melhor dizendo, Joaquim vai ligar vocês duas, se é que não o fez já, considerando a proximidade dele com o Daniel.
- Larissa, isso não está em discussão. Vocês sempre governaram minha vida, sobre onde eu ia morar, onde eu podia trabalhar, com quem eu podia me relacionar, agora chega, todo esse sacrifício não garantiu a vida de meu pai que a essa hora pode estar morto!
- Garantiu sua vida Lisa!
- Uma vida vazia, solitária, sem grandes laços, sem amor, sem família...
Marisa engoliu seco, sua voz embargada denunciava sua mágoa.
- Mas ainda sim, você está viva graças a nossa proteção, não seja ingrata. Continuo achando um risco desnecessário. Se vocês se amam tanto, podem esperar mais um pouco antes de arrastar o caminhão de mudança...
- Não exagera Larissa, Alex veio passar só dois dias aqui...
- Exagero Lisa? Parece que não é só a Alexandra que é tonta aqui!
- Eeei!
Fiz bico, franzi a testa, mas não tinha argumentos para me defender da acusação, afinal eu era mesmo meio tonta...
- Larissa, mesmo que não fiquemos juntas nesse momento, não vai impedir deles chegarem até mim, se o tal Joaquim está saindo com Daniel, já deve ter arrancado as informações que ele queria, se não o fez, é questão de tempo para fazê-lo. – Comentou Marisa.
- Você tem razão... Talvez seja melhor afastar você da cidade, esconder você até a operação.
- Não! Não vou me mudar de novo!
- Lisa não seja infantil! – Retrucou Larissa.
- Larissa, tenho casa, emprego, realização profissional, amigos, namorada... Não, não vou deixar Nova Esperança.
- É bom que você considere essa possibilidade como certa, vou conversar com os outros e volto a me comunicar.
Larissa saiu pela porta rapidamente, deixando Marisa mais tensa e fumaçando de raiva. Para tentar convencê-la a aceitar a idéia de Larissa para protegê-la eu lhe disse:
- Meu amor, se for preciso, vou embora com você daqui...
Marisa ficou comovida, me encarou e disse:
- Você deixaria o que você conquistou aqui no jornal, seus amigos, por minha causa?
- Será que você não entende que minha maior conquista é você? Tudo isso só tem sentido se você estiver ao meu lado, e vou até o fim do mundo pra te amar.
Emocionada Marisa tomou meus lábios selando a confiança de que nosso amor suportaria tudo.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
cidinhamanu
Em: 21/12/2017
No Review
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]