Capítulo 15: VITÓRIA SEM LOUROS
A repercussão da nossa reportagem investigativa tomou proporções inimagináveis. Nova Esperança entrou no cenário nacional como berço de um grande escândalo de lobby e corrupção no Ministério do Meio Ambiente, e o consequente desmatamento de mata atlântica. Dessa forma, imprensa de todas as mídias chegaram à cidade, mudando a rotina da pequena cidade.
No escritório, tínhamos dificuldades para seguir nossa rotina de edição semanal do jornal, uma vez que, diversos colegas de profissão solicitavam parcerias, entrevistas, e qual não foi minha surpresa quando vi entrar pela porta minha antiga colega de jornal e grande amiga Márcinha.
- Posso entrar ilustre colega?
- Márcinha? Ai meu Deus claro amiga!
Abracei Márcinha com alegria, sentia muita falta da sensatez dela em seus conselhos e cuidados.
- Amiga que saudades...
- Eu também Alex, estava torcendo por uma folguinha para te visitar.
- Que bom que você veio.
- Mas você pode imaginar que não vim só pelas saudades da minha amiga atrapalhada não é?
- É... Eu suponho que você veio atraída pela manchete assim como dezenas de repórteres que estão na cidade...
- Pois é... Izabel surpreendentemente lembrou-se que eu era repórter e me enviou para cobrir as apurações sobre o caso e coletar mais informações sobre a tal madeireira.
- A escolha dela não tem nada haver com o fato de você ser minha amiga não é?
Márcinha sorriu:
- Nem pensei nisso...
- Sei... O que a Cuca mandou você fazer?
- Sondar você acerca de vender a matéria para nosso jornal... Certamente vocês tem interesse de acompanhar a investigação, punição dos culpados, e nosso jornal tem correspondentes em Brasília...
- Márcinha! Você está mesmo fazendo esse papel?
Márcinha tapou o rosto com as mãos, como se envergonhasse pelo que estava fazendo:
- Ai Alex, desculpa, eu aceitei ser porta-voz dessa proposta dela, torcendo para que você recusasse, só praquela bruxa receber uma lição pelo que fez a você.
- Ai sossega Márcinha, no fim das contas ela me fez um bem, se eu não tivesse mudado minha vida, quem sabe até hoje eu estaria mergulhada em arquivos, ouvindo gritos da Cuca.
- Estou tão orgulhosa de você Alex! Nossa, você tinha que ver a cara da Izabel quando o pessoal do jornal falou que o furo era de um jornalzinho que você era a editora-chefe!
Gargalhei.
- Fiquei surpresa quando vi o teor da reportagem, quando você me pediu arquivos sobre o assassinato do embaixador Alcides, pensei que sua investigação seria sobre isso.
- Essa é outra história. Na verdade a investigação sobre a madeireira Ramos não partiu de mim, dois repórteres do nosso jornal tiveram todo mérito, eu apenas dei suporte.
- Mesmo assim foi um grande feito para você como editora. Mas você descobriu alguma coisa sobre a morte do embaixador?
- Essa investigação me custou muito caro Márcinha, sinceramente, hoje não quero mais saber de nada desse assunto. – Baixei os olhos evidenciando minha tristeza.
- Nossa! Então não vou nem dizer o que descobri recentemente.
- O que você descobriu? – Arregalei os olhos.
- Eu sabia! Curiosa do jeito que você é, duvidei que você não quisesse saber mais nada sobre algo que você fuçou tanto.
- Ai Márcinha, tudo bem, já sei que você me conhece... Mas não me enrola, conta o que você descobriu.
Márcinha se ajeitou na cadeira e começou a relatar:
- Depois que você me pediu os arquivos, me interessei também pelo assunto, e descobri nos arquivos do jornal, trechos de reportagem que não foram divulgados, que relatavam a presença de mais uma pessoa na ocasião da emboscada que a família do embaixador sofreu.
- O segurança João Marcos, que dirigia o carro naquele dia.
- Então você já sabia disso?
- É... Soube sim.
- Então você também descobriu que a família dele desapareceu?
- Sim... Fui até a cidade onde eles moravam...
- Você o quê?
Fiquei sem graça e confirmei:
- É... Fui lá.
- O que você fez com minha amiga sua estranha?
Sorri, e Márcinha continuou:
- Você descobriu então o que aconteceu a eles?
- Como assim?
- Alex, eles morreram um incêndio, não foi divulgado na época, eles, ou seja, a mulher do João Marcos e seus dois filhos estavam morando no interior de São Paulo, a casa onde moravam foi incendiada, meses depois uma reportagem pequena foi feita, quando a mãe de Marta Pimentel denunciou que se tratou de um incêndio criminoso, nem ganhou repercussão, por que a senhora que fez a denúncia tinha histórico de esquizofrenia... Enfim.
Aquelas novas informações reacenderam minha vontade de chegar ao fundo dessa história, Marisa tinha motivos graves para agir como agiu, afinal, para todos os efeitos ela morreu no incêndio junto com sua família. Imaginei o que podia ter acontecido a ela, viver sob proteção policial depois de perder a família tragicamente, o único familiar era sua avó que era portadora de doença mental. Como ela conseguiu viver até hoje? Tornar-se a grande médica que era? Provavelmente o tal incêndio teria sido mesmo criminoso, quantos traumas marcaram a vida da mulher que eu amava... Como eu queria ajudá-la a enfrentar esses fantasmas, lembrei-me das vezes que ela acordava chorando com pesadelos, e o quanto ela sofria com isso, e agora eu sequer podia estar ao seu lado para lhe confortar.
- Márcinha, disso eu não sabia...
- Você está pálida... Essa história te afetou tanto assim?
- Amiga, depois te conto com calma o porquê do meu interesse... Vamos pra casa, nos arrumarmos, hoje a noite, meu amigo organizou uma festinha de comemoração para festejar o sucesso de nossa reportagem. As festas que ele organiza são ótimas, você vai gostar do pessoal.
- Oba! Vamos lá então.
Apesar de estar triste, e não ver muita graça em qualquer festa, a presença de Márcinha me animou, e afinal, nossa vitória profissional não poderia mesmo passar em branco. Daniel não poupou purpurina, e a promoveu uma grande festa no Chica’s, fechou o bar só para convidados seletos, de cara Márcinha adorou o clima da festa, apresentei-a aos meus amigos, e logo o mulherengo do Artur atraiu a atenção de minha amiga, Márcinha tinha um fraco por homens cafajestes, logo perdi a companhia dela, para o fotógrafo do jornal.
A banda tocava o melhor de rock-pop, recebi os cumprimentos de autoridades e de outros jornalistas, e meus amigos não cansavam de tentar me animar, notando meu esforço para demonstrar alegria com o momento. Depois de um discurso inflamado do Dan, subi ao palco para agradecer a presença de todos e o empenho da minha equipe, e logicamente convidei até o palco os verdadeiros donos do mérito da reportagem: Fernanda e Artur.
Precisava beber para esquecer um pouco a tristeza que me assolava, uma vez que a pessoa que eu mais desejava que estivesse ali, dividindo comigo aquela conquista, eu sequer sabia onde estava, ela me ignorava completamente, dando-me a sensação de que minha vitória profissional não tinha glamour. Assim, fui até o bar, encontrando um rosto conhecido e solitário como eu:
- Juliana?
- Oi Alexandra!
Cumprimentei-a com dois beijinhos de comadre, sem deixar de notar seu visual deslumbrante naquela noite. Fato: ela estava linda. Cabelos soltos com as pontas cacheadas, maquiagem discreta mas, perfeita, um vestido na altura dos joelhos frente única, não havia modo de não prestar atenção nela:
- Que bom te encontrar aqui! – Disse simpática.
- Deve estar pensando que vim de penetra... – Comentou sem graça jogando os cabelos para o lado.
- Imagina, isso nem passou pela minha cabeça, muito bom te rever.
Respondi sorrindo, passando minha mão nas costas dela. Juliana retribuiu o sorriso, ruborizada, ela continuou se explicando:
- Daniel me convidou por acaso, vim para encontrar amigas, para comemorar... Mas ao chegar fiquei sabendo que estava fechado para um evento, o Daniel me viu e convidou-me para ficar...
- E onde estão suas amigas?
- Parece que levei bolo...
- Mas se elas vieram para cá, talvez tenham voltado quando souberam que estava fechado para esse evento.
- Não... Avisei-as e Daniel deixou o nome delas na recepção autorizando a entrada delas...
- Nossa... Você está com moral com meu amigo!
- Na verdade ele foi muito gentil comigo por que a comemoração seria do meu aniversário e...
- Hoje é seu aniversário?
- Sim... – Respondeu tímida.
Abracei-a com força desejando sinceramente:
- Juliana tudo de bom pra você! Parabéns! Se suas amigas furaram com você, conte comigo para comemorar com você essa noite!
- Obrigada Alexandra, você é muito gentil.
- Ai... Alexandra é um nome muito grande, me chame de Alex. Pra começar os festejos, faço questão de te pagar uma bebida!
- Tudo bem... Obrigada Alex.
Chamei o barman e pedi:
- Duas taças de champagne por favor.
- Champagne? – Juliana perguntou surpresa.
- Claro, é a bebida oficial de comemorações não?
Juliana abriu um sorriso tímido, balançou a cabeça positivamente, e brindamos ao aniversário dela e ao sucesso do jornal. Ficamos sentadas ali no balcão do bar, bebemos, dois, três, quatro e perdemos a conta de quantos drinks ingerimos, em meio a um papo animado sobre assuntos banais, percebi os olhos de Juliana para mim com um brilho diferente e não fiquei imune a eles. O que eu estava fazendo afinal? Flertando com ela? Certamente era fruto de minha carência, não podia ser irresponsável com uma pessoa tão legal quanto a Juliana.
- O papo está muito bom Ju, mas eu acho que já bebi demais... Tenho que achar minha amiga e ir para casa.
- Espera! Você me disse que ia comemorar meu aniversário comigo! Ainda está cedo...
Juliana falou segurando meu braço, nitidamente tocada pelo álcool, se mostrando mais ousada. Relutei, mas acabei cedendo, afinal ainda era cedo mesmo e com certeza a Márcinha não ia querer ir embora aquela hora, estava na pista dançando no maior agarro com o Artur.
- Você nunca mais apareceu no hospital... – Comentou mexendo o gelo do seu copo com o indicador.
- Isso é bom não é? Sinal que não adoeci... – Sorri sem graça.
- É bom sim... Principalmente por que você não tem mais outros motivos para freqüentar o hospital... Estou certa?
Baixei os olhos e mexi no copo fugindo do olhar fixo de Juliana para mim.
- Sim... Está.
- Doutora Marisa está muito diferente, todos comentam no hospital.
- Diferente como?
- Ela mal cumprimenta as pessoas, os pacientes que antes eram só elogios, comentam hoje que ela está seca, mais rápida em suas consultas. Está triste, abatida.
Meus olhos marejaram imediatamente, Juliana segurou minha mão com muito carinho, confortando-me:
- Vocês se amam, uma hora vocês vão se entender.
- Não há mais volta Juliana, eu errei feio, ela nunca vai me perdoar.
- Não há nada tão grave que apague um amor.
- Eu temo que eu tenha cometido a exceção dessa regra...
- Eu posso dizer que sinto muito pela doutora Marisa... Por vocês duas não estarem mais juntas, mas não posso mentir, fico feliz por mim que você esteja solteira...
Fiquei nervosa com o comentário de Juliana, e mais ainda pela secada que ela lançou ao me dizer isso, e a velha Alex estabanada acabou derrubando a bebida no vestido da Juliana, trêmula eu peguei os guardanapos tentando minimizar o estrago, sem perceber eu já estava com o guardanapo passando a mão pelos seios de Juliana que sorria divertida:
- Alex... Assim você me excita... Não vou resistir e te agarrar aqui mesmo!
- O quê? Ai meu Deus! Desculpa, Juliana eu...
- Ei... Calma! Só estava brincando...
- Eu te sujei toda... – Disse sem jeito.
- Está tudo bem... Pra quem salvou minha noite de aniversário, você tem muito crédito comigo, isso não foi nada, água e sabão resolvem esse estrago...
Juliana pediu com delicadeza:
- Você me pode me acompanhar até o banheiro?
- Onde?
Ao ouvir o convite logo me lembrei do que representava a ida ao banheiro naquele ambiente, lembrando-me imediatamente do meu primeiro encontro com Marisa, naquele mesmo banheiro.
- Banheiro, toilette... Estou meio tonta, tenho medo de cair...
- Ah sim... Claro.
Desconcertada segui até o banheiro com Juliana, ela se apoiando no meu braço, e eu visivelmente nervosa, apressava meus passos. Diante da porta, parei:
- Pronto, aí está o banheiro.
- Você não vai entrar?
- Não, não preciso usar...
- Alex, você está com medo de mim?
Arregalei os olhos, engoli seco, enquanto Juliana sorria divertida:
- Não vou te atacar no banheiro, fique tranqüila, se eu fosse te atacar escolheria um cenário menos clichê no nosso mundo.
- Eu não pensei isso... É que...
- Para de gaguejar garota! Venha comigo, estou mesmo com medo de escorregar, já viu a beleza do meu salto? Lindo, mas nada seguro para alguém no meu estado alcoólico.
Sorri relaxando e entrei no banheiro com Juliana. Ela estava mesmo tonta coitada, sentou-se em um sofá na saída do banheiro depois de lavar as mãos e desabafou:
- Alex eu acho que bebi demais...
- Você acha? Eu tenho certeza!
Juliana sorriu.
- Mas você também bebeu muito...
- Acho que sou mais resistente do que você.
- Parei por hoje, se não nem dirigir conseguirei.
- Vamos comer algo, quem sabe diminui esse efeito do álcool.
Ajudei-a levantar-se e nos acomodamos em uma mesa no pátio, depois de nos servirmos no Buffet. Juliana tinha dificuldades até para partir a torta, eu não contive o riso, o que irritou Juliana. Para me redimir, ofereci-me para ajudá-la, e inocentemente aproximei minha cadeira dela, e naturalmente servi as porções na sua boca. Juliana me encarava despudoradamente, e só aí percebi a intimidade e o clima sedutor instalado nesse gesto até então ingênuo para mim.
- Achei você! – Márcinha animada me assustou.
- Eu não sumi não, você é que se escondeu... – Disse franzindo a testa.
- Vim só te avisar que vou dar uma esticadinha com o gato do seu fotógrafo...
- Mas Márcinha...
- Alex, por favor! Você sabe muito bem que não é sempre que dou sorte com homens...
- Continua não dando... – Sorri.
- Quero nem saber, por hoje está valendo!
Saiu animada, nem preciso dizer que ela estava completamente bêbada. Juliana então avisou:
- Alex, eu não estou me sentindo bem, vou pra casa.
- O que você está sentindo?
- Estou com náuseas, tonta...
- Eu te levo então, não vou deixar você dirigir assim. Amanhã se você quiser venho com você buscar seu carro.
- Alex não há necessidade... Não precisa se incomodar...
- Não é incômodo e não vou deixar você terminar a noite de seu aniversário passando mal sozinha, que tipo de amiga eu seria?
Juliana concordou com um sorriso, e saímos de lá. Mal dobrei na primeira curva quando ela pediu:
- Para o carro Alex!
Meio no susto, parei, e ela imediatamente abriu a porta do carro curvando-se passando mal. Mesmo sabendo que não sou muito resistente vendo pessoas vomitando eu desci para ajudá-la, segurando o reflexo de fazer o mesmo que ela. Depois de alguns minutos, recuperando-se do mal estar, Juliana olhou-me segurando um sorriso de canto de lábios:
- Você seria uma péssima enfermeira...
Gargalhamos.
- Já está se sentindo melhor? – Perguntei.
- Sim, obrigada. Preciso de água.
- Aqui no porta-malas tem uma garrafinha, sente-se...
Molhei sua nuca, ela bebeu água, lavou o rosto depois segui para sua casa. No caminho, Juliana ainda pediu que parasse algumas vezes, em seguida caiu no sono, como eu não sabia onde era sua casa, levei-a para minha casa. Acordei-a para que ela entrasse em casa, praticamente arrastando-a entrei em casa, coloquei-a no sofá, enquanto a acomodava melhor assustei-me com passos se aproximando:
- Você não perdeu tempo...
Era Marisa, vindo da cozinha, parada diante de mim.
Eu que segurava a cabeça de Juliana para colocar um travesseiro em baixo, soltei-a de vez.
- Marisa...
- Não quero interromper nada... Estou indo embora, aproveito pra deixar as suas chaves que estavam comigo.
- Marisa espera, não é nada que você está pensando...
- Alexandra tudo bem... Você não me deve explicações...
- Mah espera...
Segurei seu braço, e senti sua pele eriçar, meu coração acelerar, deslizei meu polegar por sua pele quente e macia numa carícia suave, tímida:
- Você não veio aqui só para me deixar as chaves a essa hora...
Marisa continuou de costas para mim, mas eu ouvia sua respiração mais profunda, desci minha mão ao encontro da sua, e como imaginei, estava suada, fria, apertei-a e disse bem perto do seu ouvido:
- Sinto sua falta meu amor...
- Alex... Para...
Aproximei-me, pegando sua cintura, envolvendo meus braços por trás, e não pude deixar de sentir o corpo de Marisa tremer assim como o meu que se desfez com aquele perfume. Quando finalmente rocei meus lábios e nariz pela nuca de Marisa, notando-a mais entregue, ouvi um baque, quando me virei era Juliana caindo do sofá.
- Ai meu Deus...
Fui em direção a Juliana, tentando colocá-la de volta no sofá. Marisa visivelmente contrariada me ajudou, em seguida caminhou rápido até a porta, depois de jogar as chaves na mesa de centro. Corri e alcancei-a:
- Mah... Espera, eu senti seu corpo, sei que você me quer... Você não me esqueceu... Eu te amo meu amor...
- Alexandra... Eu só vim pra... Parabenizar você pelo sucesso... Sabia que estava tendo uma festa, então vim essa hora...
- Você veio a essa hora aqui pra me parabenizar... Está claro que você ainda me ama... Assim como eu te amo.
Sorri emocionada, Marisa balançou a cabeça negativamente e com sarcasmo disse:
- Você me ama, mas me engana,trai minha confiança, e já arranjou outra pra sua cama rapidinho... Vocês já flertavam desde que namorávamos não é?
- Claro que não! Não tem ninguém na minha cama!
- Alexandra não insulte minha inteligência! Quer saber, eu não deveria ter vindo aqui, vou embora.
Posicionei-me na porta, impedindo assim a saída de Marisa.
- Alexandra saia dessa porta, não temos mais nada para falar, vá cuidar da sua enfermeirinha...
- Mah você se roendo de ciúmes meu amor!
Tentei acariciar seu rosto e Marisa como um animal arredio evitou minhas mãos.
- Não adianta você disfarçar... Está nos seus olhos... Você ainda me ama!
- Eu preciso ir embora, deixe-me passar, por favor!
- Não... Você não sai daqui, a não ser que consiga me tirar daqui, pra fazer isso terá que me tocar... Eu sei que seu corpo está queimando de desejo por mim... Vem...
Provoquei-a mordendo os lábios, exibi meu decote, e os olhos de Marisa faiscavam de desejo.
- Eu estou perdendo minha paciência com você Alexandra... Vou perder minha cabeça!
- Eu quero que você perca sua cabeça aqui... Entre meus seios... Entre minhas pernas... Na minha língua...
Nesse momento Marisa apertou-me contra a porta, ergueu meus braços sobre minha cabeça prendendo-os com força e sufocou-me em um beijo urgente, faminto. Sugou minha língua, mordeu meus lábios, ofegante lambeu o lóbulo de minha orelha, e roçou seu sex* no meu com volúpia.
- Vai amor... Entra em mim, me come...
Gemi com a voracidade que Marisa me tomava, desejo, saudade, paixão, davam o tom daquele reencontro de nossos corpos. Ela encaixou sua coxa entre minhas pernas acendendo ainda mais meu desejo, ofereci meu colo à sua boca, e ela praticamente devorou meus seios túrgidos. Meu sex* pulsava encharcado, ela sabia como ninguém estimular o tesão. Marisa desceu uma de suas mãos por dentro de minha calça, seus dedos se movimentavam massageando meu clitoris, minhas pernas tremiam, Marisa com a outra mão segurava meu bumbum impondo mais força nos seus movimentos:
- Quero você dentro de mim vai aaai... Mah... - Gemi roucamente.
E quando o gozo se derramava e o ápice se anunciava, ouvi batidas na porta que eu estava encostada:
- Alexandra... Você está aí?
A voz de Márcinha soou para mim como um balde de água fria. Por um momento odiei de morte minha amiga. Ela insistia batendo à porta e na campainha ao mesmo tempo. Marisa se afastou, como se saísse de um transe, me encarou com receio, e fez sinal para que eu abrisse a porta. Contrariada, abri a porta para Márcinha entrar, minha amiga estava ainda mais bêbada e já entrou tropeçando, ignorando a presença de Marisa.
- Aquele Artur é uma decepção viu...
Antes que ela continuasse o relato de sua noite, deixei-a falando sozinha quando vi Marisa sair pela porta sem explicações, acompanhei-a e interpelei:
- Aonde você vai?
- Para casa Alexandra. Boa noite.
- Espera, você não pode ir embora assim, principalmente depois do que houve lá dentro...
- Posso e vou. O que aconteceu lá dentro, não mudou nada do motivo que nos separou Alexandra.
- Mas Marisa...
- Parabéns pelo jornal e... Boa sorte com a Juliana, ela é uma mulher incrível.
O olhar de Marisa estava agora carregado de um misto de mágoa e tristeza, e quando eu tentei alcançá-la, Márcinha surgiu à porta falando alto, com a voz um tanto arrastada:
- Ow Alex! Você já viu que tem uma mulher deitada no sofá? Nossa e a outra mulher saindo, quando Renatinha me falou da sua mudança de lado não imaginei que você tinha tanta mulher...
Suspirei decepcionada e insatisfeita com a inconveniência de minha amiga alcoolizada. Acomodei Juliana de uma forma mais confortável no sofá, Márcinha logo parou de falar entregando-se ao sono diante de meu silêncio às suas conversas repetitivas de bêbada. Não consegui dormir, liguei para Marisa e como supunha seu celular mantinha-se desligado, vi o amanhecer chegar tentando ressentir o toque, o gosto e o cheiro de Marisa em mim.
Dormi poucas horas, até ser despertada pela voz suave de Juliana, abri os olhos e a vi sentada junto a mim na cama:
- Só vim avisar que estou indo.
- Mas, você vai como? – Apertei os olhos e espreguicei-me.
- Não se preocupe, pego um táxi, eu precisava te agradecer por sua delicadeza ontem.
- Imagina, não tem o que agradecer e faço questão de te levar Juliana.
- Você já fez muito por mim Alex, descanse, não precisa se incomodar.
- Não é incômodo algum, adoro sua companhia. Mas antes de qualquer coisa, acho que nós duas precisamos de um café, isso eu sei fazer.
Sorri, e Juliana concordou. Enquanto eu providenciava o café, Juliana me encarava, fiquei tímida lembrando-me do clima entre nós no Chica’s.
- Posso te perguntar uma coisa Alex?
- Claro.
- Essas olheiras são de ressaca ou você andou chorando?
- Você é observadora... – Disse sem graça.
- É impossível não observar você.
Ruborizei. Mas Juliana parecia ter perdido a timidez e o pudor com o porre da noite anterior, continuou a me encarar enquanto eu enchia a cafeteira com o primeiro conteúdo branco que achei no armário sobre a pia.
- Então, você está bem? – Insistiu Juliana.
- Sim... É que... Marisa estava aqui ontem quando chegamos...
- Oh meu Deus! Ela achou que você e eu...
- É... Mas nós discutimos e... Bom, preciso procurá-la, esclarecer as coisas...
- Faça isso, afinal vocês se amam.
Juliana disfarçava sua insatisfação com aquela constatação. Servi-lhe o café, e antes que eu mesma provasse, Juliana ingeriu um gole fazendo uma careta engraçada:
- O que foi Juliana, está tão ruim assim?
Tossindo e controlando o engasgo, Juliana respondeu:
- Eu sei que estou de ressaca e preciso de um café forte, amargo... Mas esse café está esquisito Alex...
Provei para me certificar do gosto esquisito que Juliana se referia, e posso assegurar que minha careta foi bem pior do que a dela, soltei um palavrão despertando os risos dela. Imediatamente olhei para o armário sobre a pia, e atestei que ao invés de açúcar, coloquei sal no café.
- Ju... Desculpe-me, sou uma desastrada conhecida!
Juliana sorriu e ofereceu-se para café um novo café. Prontifiquei-me a deixá-la em casa, depois de muito insistir, ela aceitou minha oferta. Ao nos despedirmos em frente à sua casa, Juliana agradeceu-me o cuidado, a carona, a companhia, e sem que eu esperasse, quando inclinei-me para beijar seu rosto, ela virou a face e nossos lábios se tocaram rapidamente num estalinho o qual me deixou totalmente sem graça, quanto à ela, apenas um sorriso amolecado, e um aceno cheio de charme foram suficientes para ela sair vitoriosa em mais um momento de sedução.
Apesar de me sentir lisonjeada por despertar o interesse de uma mulher linda e adorável como Juliana, minha cabeça só tinha um pensamento: reconquistar Marisa. Aproveitei a saída para procurá-la em sua casa.
Era quase meio-dia quando bati à porta de Marisa, fiquei no jardim esperando que ela aparecesse, e como se fosse uma grande provocação, ela surgiu ainda mais linda, como se isso fosse possível. Usava um vestido de alças, decotado, cabelos presos, seus óculos de leitura no rosto, e não escondeu a surpresa de me ver ali.
- Alexandra? O que você faz aqui?
- Oi Marisa, preciso falar com você. Tem um tempinho para mim?
Marisa apenas balançou a cabeça, fazendo sinal para que eu entrasse. Para meu alívio, ela parecia desarmada, e enfim eu tinha esperanças de explicar-me com ela de uma maneira mais calma.
Convidou-me a sentar, sentando de frente para mim, mantendo relativa distância.
- Pois não Alexandra.
- Acho que temos um assunto mal resolvido Marisa, ontem tentei conversar, mas você saiu correndo lá de casa...
- Melhor esquecermos o que houve ontem a noite Alexandra, foi um erro, um momento de fraqueza de minha parte.
- Não concordo. Foi um momento de força do nosso amor, da paixão que existe entre nós, você não pode ignorar isso.
- Alexandra...
- Mah me escuta, por favor. Eu sei que errei feio com você, investigando sua vida, eu não sei como te coloquei em risco, mas acredito na gravidade dos meus atos pela reação que você teve. Mas eu te amo de verdade... O que quer que eu tenha feito, isso não vai se repetir, eu vou respeitar os motivos de seu segredo, reconquistar sua confiança... Mas, volta pra mim meu amor, não posso viver sem você.
Não contive meu choro, aproximando-me de Marisa enquanto implorava seu perdão. Ela se esquivou, e eu continuei:
- Mah, me dá uma chance de te provar que estou falando a verdade, minha vida está sem cor, essa conquista profissional para mim não tem o menor sentido por que não tenho você ao meu lado pra compartilhar comigo, eu só penso em você, preciso de você na minha vida. O que sinto por você é o que tenho de mais pleno, nem consigo me lembrar como era minha vida antes de você, volta pra mim meu amor...
Segurei suas mãos, e Marisa dessa vez não me evitou. No seu rosto as lágrimas caíam fáceis, na mesma intensidade que as minhas. Apertei forte suas mãos, e as conduzi até meu rosto, sentindo-as trêmulas, lutando contra si mesma, Marisa relutou antes de relaxar suas mãos numa carícia suave, colei meu corpo no dela, abraçando-a com ternura.
Nesse momento as palavras eram completamente desnecessárias, ficamos por minutos abraçadas, apenas sentindo nossos perfumes se fundindo, o compasso de nossos corações adquirirem o mesmo ritmo, e gradativamente nossas respirações aceleraram na medida em que nossas mãos iniciavam uma excursão pela pele de ambas, rocei meu nariz pelo rosto e pescoço de Marisa, com a ponta dos dedos massageei sua nuca desnuda, até enfim, invadir com minha língua sua boca quente, tomando um beijo ardente.
Marisa entregou-se a mim naquele beijo, a conduzi até o sofá, jogando meu corpo sobre o dela, facilmente minhas mãos estavam entre suas pernas, enquanto Marisa sugava minha língua deixando escaparem gemidos roucos. Senti a umidade do seu sex* e não tardei penetrá-lo com dois dedos e com o polegar permaneci massageando seu clit*ris, movimentos lentos, mas intensos, intensifiquei as estocadas sentindo o corpo de Marisa vibrar:
- Vai Alex... Fica dentro de mim, me faz goz*r...Aaai...
A voz de Marisa ao meu ouvido excitava-me de tal maneira que g*zei junto com ela, seu gozo escorrendo por suas pernas era uma intimação para minha língua mergulhar no seu sex* encharcado. Deslizei minha língua por toda extensão do sex* de Marisa, sorvendo aquele líquido quente, impus força, ch*pando seus pequenos lábios, posicionei minha boca na altura do clit*ris e movimentei meus lábios e língua num vai e vem envolvente, Marisa se arqueava gritando de prazer goz*ndo mais uma vez em minha boca.
Descansei meu corpo sobre o dela, ficamos por minutos abraçadas, recuperando o fôlego, até Marisa despir-me tórax e deslizar a ponta dos seus dedos por minhas costas, acendendo meu tesão. Sentei-me sobre seu corpo, com as pernas encaixadas na sua cintura, encarei-a mordendo os lábios, e as mãos dela agora percorriam meu colo, seios e minha barriga. Gemi com o toque de Marisa, em poucos segundos seus dedos invadiram meu sex* molhado, movimentei-me sobre os dedos de Marisa que os remexia dentro de mim dando-me um prazer inenarrável levando-me ao ápice.
E quando nossos corpos se procuraram mais uma vez, meu celular tocou:
- Que bela anfitriã você está me saindo heim dona Alexandra? Acordei sozinha nessa casa enorme...
- Ai Márcinha, desculpa amiga... Tive que resolver uma coisinha, mas já estou indo para te levar para almoçar.
- Vou esperar você então, passa em uma farmácia e me traz um analgésico, por favor?
- Imaginei que você acordaria com ressaca... No armário do meu banheiro tem alguns, pega um pra você, chego em pouco tempo.
Olhei para Marisa com o olhar ainda mais apaixonado, e disse:
- Preciso ir... Mas você vem comigo.
- Acha que agora pode mandar em mim é?
- Deixa eu mandar só uma veizinha vai...
Sorri beijando os lábios de Marisa delicadamente.
- Vamos? Minha amiga está de ressaca, e preciso tirar minha impressão de anfitriã mal educada.
- Quem é essa Márcinha?
- Uma amiga da capital, éramos colegas no antigo jornal que eu trabalhava.
- Outra jornalista... Ai ai... Ela também faz investigações sobre mim?
- Ai amor... Não, ela não faz investigações sobre você não.
- Alex, nós precisamos conversar seriamente sobre toda essa história, você não pode imaginar o quanto repercutiu nos altos escalões do ministério o vazamento dessas informações as quais você teve acesso... Existem vidas em risco Alex, não sei o que vai acontecer daqui pra frente, mas temos muito que esclarecer, e por enquanto, acho mais seguro você não saber de alguns detalhes, pelo menos até poder assegurar o sigilo do processo mais uma vez.
- Eu te prometo meu amor, vou fazer tudo que você me disser, não vou mais mexer nessa história, no momento certo, quando você julgar seguro, e confiar em mim de novo, você me diz, e claro, vou te contar como e o que descobri.
- Você só fez mesmo a pesquisa de documentos?
Respondi instintivamente:
- Sim.
Temi revelar que visitei Calhetas, e que conheci a antiga vizinha delas, e omiti o que Márcinha havia descoberto sobre sua avó. Nossa reconciliação ainda estava frágil, em outro momento eu contaria todos os detalhes, inclusive esses.
- Espero que seja assim mesmo, vou me vestir então, ou posso ir assim?
- Adoraria... Se a gente não precisasse sair daqui... Mas... Essa visão maravilhosa, é privilégio só meu!
Envolvi meus braços em seu pescoço, roubando mais um beijo. Seguimos para minha casa, trocando carinhos, como se quiséssemos recuperar o tempo perdido. Pegamos a Márcinha, e fomos até o clube para almoçarmos.
Numa atitude incomum, Márcinha ficou tímida diante de Marisa, quando Renatinha contou sobre minha nova condição sexual ela criou em sua cabecinha preconceituosa uma imagem bem diferente de Marisa, no mínimo pensou que minha namorada estacionaria sua “Scania” na porta do restaurante exibindo o estereótipo de caminhoneira. Ao contrário, Marisa era extremamente feminina, tinha gestos delicados, esbanjava sensualidade no andar, no olhar, vestia-se com elegância e discrição, sobretudo uma beleza desconcertante e isso parecia ter intimidado minha amiga.
Marisa foi atenciosa, simpática, encantando-me ainda mais. Aos poucos Márcinha foi ficando mais à vontade, falando de sua paixão por viagens, contando algumas aventuras, comentou que quando se aposentasse viveria como meus pais, viajando pelo mundo.
- Adoro viajar pelo Brasil, o nordeste brasileiro é incrível! Mas adoro o sul do país, os pampas gaúchos, aquele clima meio europeu... Mas não conheci o interior, quero conhecer. – Comentou Márcinha empolgada.
- O Rio Grande do Sul é um estado lindo mesmo, mas sou suspeita para falar, sou gaúcha. – Marisa concordou com orgulho.
- A Alex conheceu uma cidade do interior há pouco tempo não é? Como é mesmo o nome da cidade? Calhetas?
Márcinha ignorou minhas caretas e gestos para que ela não citasse o nome da cidade, Marisa imediatamente mudou sua expressão. Olhou séria para mim, balançou a cabeça negativamente, jogou o guardanapo sobre a mesa e levantou-se abruptamente para meu desespero e espanto de minha amiga.
- Com licença Márcinha.
Marisa falou retirando-se da mesa, caminhando a passos rápidos pelo saguão do restaurante.
- O que foi que eu disse Alexandra? – Perguntou Márcinha atônita.
- Falou demais Márcia.
Segui Marisa no intuito de mais uma vez explicar-me, alcancei Marisa no estacionamento, puxei seu braço e pedi:
- Mah, me espera, vamos conversar.
- Solte-me! Conversar o que? Vai me contar mais uma mentira? Ou quer saber mais alguma coisa para aprofundar as fontes de sua reportagem? Não dou entrevistas Alexandra, não insista.
- Não é nada disso meu amor. Eu ia te contar é que...
- Ah, ia? Quando Alex?
- Estava esperando a gente se entender melhor, poxa Mah, a gente acabou de fazer as pazes...
- Se arrependimento matasse... Eu deixei meus sentimentos, meus desejos falarem mais alto, mas foi burrice minha... Você me enganou mais uma vez, então não houve congresso nenhum em Porto Alegre não é? Você foi à minha cidade natal para investigar minha vida! Você é doente, mente compulsivamente, quem me garante que você não está me escondendo mais nada? Ou que continua mentindo pra mim só pra descobrir o que você quer?
- Não seja injusta Mah, você sabe o quanto te amo.
- Não sei de mais nada... O que sei é que você está encrencada, e envolveu muita gente nessa encrenca.
- Não me importo em estar em perigo, a única coisa que me importa é que você me perdoe e acredite em mim.
Marisa enxugou as lágrimas, balançou a cabeça, e com um sorriso sarcástico me disse:
- Você só se importa com você mesma... Eu me enganei muito com você Alexandra, acabou tudo. Vou contar mais esse fato a Larissa, certamente ela vai te procurar. Quanto a mim, esqueça que eu existo, pra sempre.
Marisa caminhou até o ponto de táxi, deixando-me arrasada, cheia de culpa, amargando mais uma vez a sensação de perder a mulher que eu amava por uma vil curiosidade, ou ainda por uma estúpida irresponsabilidade, covardia em revelar toda verdade. Voltei para o restaurante do clube contendo minhas lágrimas, Márcinha veio ao meu encontro e sem fazer muitas perguntas apenas me disse:
- Vamos pra casa, vou te dar colo enquanto você me conta o que aconteceu aqui.
Em casa, Márcinha sentou-se no sofá, pediu que eu sentasse ao seu lado e com muita delicadeza puxou minha cabeça em direção ao seu ombro confortando-me enquanto eu chorava silenciosa e disse:
- Seja lá o que eu tenha feito ou falado demais, não fiz por querer amiga... Sinto muito.
Minha amiga tinha como característica ser língua solta, Renatinha sempre brincava conosco que deveríamos nos unir para abrir uma revista de fofocas, com minha curiosidade e o talento de espalhar notícia da Márcinha, seríamos a dupla fome com vontade de comer... Apesar disso, eu sabia que Márcinha estava sendo sincera, a culpa não foi dela, foi minha Tive a oportunidade de esclarecer tudo com Marisa e fui covarde omitindo mais fatos quando tentava reconstruir a confiança que ela começava a depositar em mim. Aceitei o colo de minha amiga, e com muita paciência sem me interromper, sem me julgar, Márcinha escutou toda minha narrativa, ao final com sua sensatez típica disse:
- Minha amiga, está claro que há muito mais caroço nesse angu do que sabemos... Entendo Marisa estar tão receosa quanto a você investigá-la. Imagina Alex o que há por trás disso? Guerrilha, assassinato do tal embaixador e de toda sua família, assassinato da família da Marisa, tráfico de armas, tráfico de drogas, o fato dela viver protegida por não sei qual órgão, com outro nome, e ainda tem esse mistério dela proteger alguém, e esse filme que você encontrou na casa dela... Alex, deve ter muita gente perigosa e poderosa envolvida nisso, e você sabe que especialmente em nosso país, a corrupção é corriqueira em todos os escalões, alguém relacionar você com essa investigação e chegar até Marisa ou Lisa com isso é perfeitamente possível.
- Eu não havia pensado dessa forma...
Falei pensativa, refletindo nas colocações que Márcinha acabara de fazer.
- Alex, pelo que sabemos até agora, podemos supor que Marisa assumiu nova identidade para se proteger, se a família morreu no incêndio e seu pai está desaparecido desde a morte do embaixador, logicamente a vida dela vive em constante risco se os responsáveis por essas atrocidades souberem que ela está viva.
- Você está coberta de razão. Meu Deus o que eu fiz!
Levei as mãos à cabeça experimentando uma angústia profunda, Márcinha me confortou abraçando-me afagando minhas costas.
- Márcinha, além de tudo isso, de fuçar, expor a segurança da mulher que amo, menti, enganei... Não a mereço.
- Também não é assim... Você não podia imaginar essa história policial cinematográfica cercando a vida dela...
- O que custava eu deixar que ela me contasse? Ela me pediu tanto que eu confiasse nela, que estava tentando me proteger... Como sou estúpida!
- Alex, eu entendo o que você está sentindo, mas não se puna tanto. Imagino que Lisa, ou Marisa sei lá, se sentiu traída, enganada, invadida, e pior achou que estava sendo usada por você para chegar a uma reportagem, mas se o que vocês tem uma pela outra é mesmo amor, o tempo e sua atitude com ela daqui para frente pode unir vocês duas novamente.
- Você acha que depende de mim e de tempo? Acredita mesmo nisso?
- Alex, nunca te vi tão feliz como vi hoje a tarde ao lado dela, e em contrapartida nunca vi tanta tristeza como vejo agora nos seus olhos, você a ama de verdade e acredito que esse amor vai te guiar nessa reconquista.
As palavras de Márcinha me emocionaram, deitei em seu colo mais uma vez, e devo ter adormecido rapidamente, exausta de chorar. Precisava procurar Marisa mais uma vez, novamente pedir perdão, mas sabia que nos primeiros dias seria inútil. Para me redimir com minha amiga decidi levá-la para sair, dessa vez, para uma roda de voz e violão no hotel fazenda do ex-namorado do Carlos.
Esforcei-me para disfarçar a expressão abatida, Márcinha queria reencontrar Artur, acabou me contando o que houve na noite anterior, quando meu fotógrafo caiu no sono de tão bêbado que estava quando chegaram ao motel. Obrigou-me a ligar para ele pedindo que nos encontrasse lá e assim seguimos para a serra.
O hotel estava lindo, no espaço reservado para eventos, decoração rústica, fogueira no pátio, e o clima serrano deixavam o local ainda mais charmoso e pra aumentar minha dor de cotovelo, extremamente romântico, especialmente pela presença da lua cheia, brilhante naquela noite. Foi também ali que Marisa me fez surpresas agradáveis e inesquecíveis, as lembranças acentuavam a falta que ela me fazia, e em um daqueles momentos que o universo conspira nos colocando como coadjuvantes do acaso, Marisa chega acompanhada de Elaine e Fábio e uma das cantoras começou a tocar:
Garimpeira da beleza te achei na beira de você me achar
Me agarra na cintura, me segura e jura que não vai soltar
E vem me bebendo toda, me deixando tonta de tanto prazer
Navegando nos meus seios, mar partindo ao meio, não vou esquecer.
Eu que não sei quase nada do mar descobri que não sei nada de mim
Clara noite rara nos levando além da arrebentação
Já não tenho medo de saber quem somos na escuridão
Clara noite rara nos levando além da arrebentação
Já não tenho medo de saber quem somos na escuridão
Me agarrei em seus cabelos, sua boca quente pra não me afogar
Tua língua correnteza lambe minhas pernas como faz o mar
E vem me bebendo toda me deixando tonta de tanto prazer
Navegando nos meus seios, mar partindo ao meio, não vou esquecer
Eu que não sei quase nada do mar descobri que não sei nada de mim
Clara noite rara nos levando além da arrebentação
Já não tenho medo de saber quem somos na escuridão
Clara noite rara nos levando além da arrebentação
Já não tenho medo de saber quem somos na escuridão
(E eu que não sei quase nada do mar – Ana Carolina).
A música foi a trilha para uma troca de olhares intensa entre mim e Marisa. Na minha mente, uma enxurrada de lembranças tomou de conta dos meus pensamentos, excitei-me com a letra da música e meu olhar soltava faíscas de desejo ao ver Marisa, linda como sempre, e não fugiu do meu olhar, não esboçou sorrisos, sua aparência de seriedade só se desfez quando notei em um determinado trecho da canção seu rosto ruborizar:
“Me agarrei em seus cabelos, sua boca quente pra não me afogar
Tua língua correnteza lambe minhas pernas como faz o mar
E vem me bebendo toda me deixando tonta de tanto prazer
Navegando nos meus seios, mar partindo ao meio, não vou esquecer’.
Segurei o impulso de ir ao seu encontro, ao final da música, os olhos de Marisa se desviaram dos meus, baixei a cabeça e Marcinha percebeu o motivo de minha tristeza estampada.
- Amiga... Ainda não é hora de vocês conversarem.
Concordei com a cabeça e segui até o bar com Márcinha, de lá, acompanhei cada gesto de Marisa de longe, algumas vezes nossos olhares se cruzavam, mas, seu olhos estavam mais uma vez frios para mim.
Finalmente Artur apareceu, Márcinha logo se derreteu, e logo eu estava de vela na mesa que estávamos. Voltei para o bar, sem que o casal sequer notasse minha ausência, mantive minha atenção na mesa em que Marisa estava com Elaine e Fábio com uma expressão distraída, até uma voz suave chamar minha atenção:
- Um beijo pelos seus pensamentos...
Era Juliana com um grande sorriso, ao meu lado no balcão.
Sorri sem muita empolgação e Juliana sentou-se ao meu lado, pediu uma bebida e prosseguiu:
- Então, o prêmio não te atraiu?
Baixei a cabeça e sorri em seguida dizendo:
- Tenho certeza que este prêmio atrairia a maioria das mulheres e dos homens que estão aqui nessa noite...
- Mas a mim só interessa se te atrairia.
Ruborizei e minha cabeça que estava recostada nas minhas mãos apoiadas com o cotovelo sobre o balcão escorregaram, despertando um riso de canto de lábios de Juliana.
- Estou brincando com você sua boba... Estava vendo você distraída, com um olhar triste direcionado para uma certa mesa... E pensei em vir aqui tentar te alegrar um pouco com minha companhia.
Sorri sincera e respondi:
- E eu vou adorar ter sua companhia, já está me alegrando.
- Opa! Então vamos beber a isso!
Juliana pediu outra dose de bebida para mim, convidou-me a um brinde, e aceitei sua oferta, só assim parei de pensar e de olhar alguns segundos para Marisa. A doce enfermeira era de fato uma mulher incrível, além de linda, tinha um astral encantador, um bom humor que contagiava, uma energia boa que tinha o poder de me deixar à vontade. Depois de alguns minutos e muitas doses, eu parei de observar a mesa que Marisa estava, quando o fiz tive a grata surpresa de me sentir agora, observada por ela. Marisa esticava seu pescoço em minha direção, ao perceber que notei seu esforço para me ver Marisa ficou embaraçada, e disfarçou mexendo nos cabelos enquanto eu segurei meu riso.
Vi então a oportunidade de provocar ciúmes em Marisa, quem sabe isso nos aproximasse. Continuei bebendo com Juliana, mas dessa vez, a convidei para sentar em uma mesa, perto da rodinha de violão, bem ao alcance da visão de Marisa.
Não hesitei em sorver doses em uma rapidez incoerente a fim de adquirir coragem para me insinuar para Juliana provocando assim os ciúmes de Marisa. Juliana não estava tão inocente assim, notou a presença e os olhares de Marisa, e pareceu não se importar em ser usada. Comecei trocando sorrisos com a enfermeira e vez por outra acariciava seus cabelos fazendo algum comentário do tipo:
- Seu cabelo está tão brilhoso, o que você usa?
Juliana que não era boba nem nada não fugiu das minhas investidas, respondia qualquer coisa sem tirar os seus olhos dos meus, ninguém que via a cena poderia imaginar que o conteúdo da conversa fosse tão fútil. A noite seguia, nesse clima, Marisa levantou-se algumas vezes da mesa, mas não passou perto de nós, diferente dos seus olhos que pareciam estar em cima dos meus ombros o tempo todo. Não pude deixar de notar que ela bebia sem parar, ainda me deu outra evidência de nervosismo quando apareceu tragando um cigarro.
Eu me deliciei com aquela situação, ignorando o quanto aquela intimidade agradava Juliana, que aos poucos demonstrava seu jeito sedutor, o qual não puder ficar imune, podia ser pura vaidade, mas o fato de sentir-me desejada por uma mulher como ela, aumentava minha confiança, minha auto-estima.
Marisa já estava sentada no bar, continuando sua vigilância sobre nós, eu já não era senhora dos meus gestos, o álcool falava mais alto e Juliana aproveitou-se disso para intensificar o flerte:
- Hoje é minha vez de cuidar de você, e de cuidado, eu sou especialista, vamos ver quem cuida melhor, médica ou enfermeira.
Mesmo alcoolizada, ruborizei com a cantada descarada dela. Ela se divertiu com isso, aproveitou o momento para se aproximar mais de mim, levou sua mão até o canto dos meus lábios e deslizou a ponta dos seus dedos dizendo:
- Tem um pouquinho de açúcar aqui, deve ter sido das bordas do copo de coquetel...
- É deve ter sido. – Respondi sem jeito pegando um guardanapo na mesa.
- Ou... Seus lábios são doces mesmo e o açúcar está aparecendo.
Nesse momento não fiquei vermelha, devo ter ficado multicolorida. Entretanto, o meu domínio naquela noite ficou ameaçado, quando vi, uma das alunas de Marisa, a qual eu sempre me queixei que ela dava cabimento a seu jeito descarado, se aproximou dela no balcão do bar, e Marisa não se fez de rogada, correspondendo ao flerte sem o menor pudor para meu desespero.
E como se a trilha sonora da noite seguisse os ritmos dos acontecimentos, a tranqüilidade das baladas de MPB deu lugar a um grupo de samba, passada a primeira música, Juliana notou a mudança de meu comportamento, vendo Marisa se derreter para a loira que exibia seu decote generoso na altura do olhar dela enquanto cochichava algo ao seu ouvido. Por segundos Juliana deixou-me sozinha na mesa, se aproximou de um dos cantores do grupo, falou algo ao seu ouvido, e para minha surpresa, um dos instrumentistas deu lugar a ela ao seu lado, Juliana sentou-se, pegou o microfone, e começou a cantar um samba desconhecido para mim:
Te filmando, eu tava quieta no meu canto
Cabelo bem cortado, perfume exalando
Daquele jeito que eu sei que você gosta
Mas eu te dei um papo, e você nem deu resposta
Tudo bem um dia vai o outro vem
Você deve estar pensando em outro alguém
Mas se ela te merecesse não estaria aqui
Não, não, não
Ou talvez você não queira se envolver
Magoada ta com medo de sofrer
Se me der uma chance não vai se arrepender
Não, não, não,não,não
Tá vendo aquela lua, que brilha lá no céu
Se você me pedir eu vou buscar, só pra te dar
Se bem que o brilho dela, nem se compara ao seu
Deixa eu te dar um beijo, vou mostrar o tempo que perdeu
Que coisa louca, eu já sabia
Enquanto eu me arrumava algo me dizia
Você vai encontrar alguém que vai mudar
A sua vida inteira da noite pro dia
(Tá vendo aquela lua – Exaltasamba)
Apesar de não ser fã do gênero, não posso negar que até a voz de Juliana me excitou, e a letra do tal samba mexeu com minhas fantasias a respeito dela. Por alguns momentos nem me lembrei de olhar para Marisa e a fedelha que lhe assediava, concentrei meu olhar e meus ouvidos em Juliana, e pela primeira vez considerei a possibilidade de lhe dar uma chance. Não sei se foi efeito do álcool, ou se de fato a manifestação pública do interesse de Juliana em mim, entretanto, aquela atitude dela mexeu comigo, mas não a ponto de desvencilhar meu pensamento de Marisa, quando a olhei, pude sentir seus olhos faiscarem de raiva em direção a Juliana, e esta, que com a simpatia que lhe era própria, agradeceu os aplausos, cumprimentou o vocalista e os músicos do grupo com estalinhos, quando o vocalista principal agradeceu no microfone:
- Vocês ouviram a enfermeira mais linda do mundo e minha irmã mais velha Juliana Diniz! Um dia eu ainda a convenço de largar a enfermagem pra cantar comigo... Te amo mana. Vamos seguir no samba galera!
Juliana voltou para a mesa com um sorriso faceiro, e eu completamente sem graça fiquei me perguntando: “E agora? O que eu faço?”. Quando ela se sentou eu disse:
- Não sabia que você cantava, nem muito menos que sua voz era tão linda...
- De onde você acha que tiro inspiração para cantadas? – Sorriu divertida.
- Ah claro... Então você gosta de samba?
- Não tem como não gostar, meu irmão sempre ensaiou em casa com os amigos dele, alguns eu não gosto, mas essa semana assisti o ensaio deles e lembrei-me de você ouvindo essa música, e aprendi, achei que essa era uma oportunidade de te dizer isso.
Mais uma vez minhas bochechas coraram, o que antes parecia ser algo velado, ou apenas sugestivo, agora estava escancarado: sim, Juliana estava dando em cima de mim. Antes era um flerte, insinuações de sentido dúbio, ou ainda ela disfarçava alegando ser apenas brincadeira. O que eu fiz afinal? Dei esperanças a ela? O arrependimento de provocar Marisa usando-a surgiu, e como se adivinhasse meus pensamentos Juliana disse:
- Não se preocupe Alex, não estou te pedindo em namoro... Eu sei perfeitamente que você está ligada numa certa doutora que está ali no balcão e que esse clima entre nós é pura provocação... Não sou menina, sou uma mulher que entende esse jogo. Assim como você está usando a situação para provocá-la, estou me aproveitando para deixar claro que estou completamente atraída por você.
- Juliana eu não sei o que dizer... Desculpe-me...
- Ei! Não tem nada que se desculpar... Não sou ingênua, sei onde estou pisando... E mesmo assim, acho que você vale a pena o risco.
- Acha mesmo?
- Acho... E não costumo me enganar com mulheres Alex.
Juliana deu uma piscadela e disse em seguida:
- Opa, seu copo está vazio? Vou pegar uma bebida para você.
Enquanto ela foi até o bar, Elaine se aproximou de mim dizendo:
- Olá Alexandra! Quanto tempo!
- Ei ruiva! Faz tempo mesmo!
Abracei-a e perguntei:
- Então, Fábio se recuperou bem?
- Graças a Deus e a Marisa, sim, está ótimo.
- Que bom! E você está bem?
- Sim, ao contrário da minha amiga... Está fazendo uma besteira atrás da outra...
Elaine apontou com o queixo Marisa no bar. Baixei a cabeça e disse em seguida:
- A besteira quem fez foi eu Elaine, você não imagina o quanto me arrependo.
- E você vai ficar se arrependendo com a Juliana do lado?
- Não é o que parece Elaine...
Eu me preparava para argumentar, ouvi buchichos ao redor, e Fábio se aproximou de nós exclamando:
- Vamos fazer alguma coisa antes que Marisa e Juliana se atraquem ali no bar!
Quando olhei para o bar, Marisa estava empurrando Juliana, falando alto, enquanto Juliana levantava os braços qual zagueiro de futebol faz quando comete uma falta alegando inocência.
Corremos para o bar a fim de acalmar os ânimos, na tentativa de evitar um escândalo ainda maior, ao chegarmos ouvimos Marisa descontrolada berrar com Juliana:
- Não se meta comigo Juliana! Não fica no meu caminho!
- Você está louca doutora? Foi um acidente, e foi você que esbarrou em mim, olhe para minha roupa, quem está banhada de whisky?
- Sínica! Você veio aqui só para me provocar?
- Provocar? Ué, vim comprar bebida, não é aqui que se vende?
O sarcasmo de Juliana pareceu despertar a fúria de Marisa que partiu na direção dela, chegamos bem a tempo de impedi-la de agredi-la fisicamente. Elaine segurou seu braço e me posicionei entre as duas retrucando:
- O que está acontecendo aqui? As duas podem me explicar?
Juliana respondeu:
- A doutora aí esbarrou em mim, derramou bebida, estragou minha roupa e ainda está se achando com razão de me pedir satisfações!
Toda calma e educação da enfermeira deu espaço ao sarcasmo, irritando mais ainda Marisa que retrucou:
- Ah, mas, que santinha! Você me empurrou Juliana! Deixa de se fazer de santa!
- Eu? Você que está dando uma de valentona aí por um incidente sem a menor importância. Qual o seu problema doutora?
Nesse momento Marisa se desvencilhou do braço de Elaine me empurrou, ficou de frente para Juliana, colocou o dedo em sua cara dizendo:
- Meu problema é você!
- Ah é? Posso saber como você pretende resolver esse problema? No braço?
- Você está merecendo...
Intervi antes que Marisa concluísse sua ameaça. Mais uma vez, posicionei-me entre as duas, e olhei nos olhos de Marisa dizendo:
- Mah, já chega... Está todo mundo olhando... Você bebeu demais, vamos nos acalmar, Ju, por favor...
Meu olhar praticamente suplicava a Juliana para que ela ignorasse o descontrole de Marisa, ela entendeu, e disse:
- Vou ao banheiro limpar essa sujeira na minha roupa, você vem comigo Alex?
Olhei para Marisa, que me encarava agora com atenção, vi nos seus olhos que ela esperava que eu desse uma resposta negativa a Juliana. Do outro lado, Juliana apressando minha resposta:
- Alex? Vamos?
Elaine percebeu minha saia justa, e colocou a mão em volta do ombro de Marisa dizendo:
- Vamos voltar para mesa amiga, se acalmar um pouco.
Marisa caminhou ao lado de Elaine visivelmente decepcionada, e a tal aluna abusada a seguiu, e eu com cara de tacho acompanhei Juliana até o banheiro. Os comentários entre as mulheres eram um só:
- Eu nunca imaginei a toda poderosa doutora Marisa Becker, descendo o barraco assim... Eu pensei que ela e a jornalista estivessem juntas... Mas não é que a sardentinha está podendo? Sendo disputada por duas mulheres lindas! Ela deve ter algo que a gente não consegue enxergar...
- Sei não heim... Mas a carinha dela pra doutora... Acho que a Juliana vai dançar nessa... Mas sabe que apesar de não curtir isso, até que eu teria coragem de pegar aquela doutora!
- Vai ter que entrar na fila, quando as sapas souberem que ela está solteira de novo...
Ao notarem nossa presença as duas moças se calaram, entreolharam-se sem graça, saíram em seguida e eu fiquei a sós com Juliana no banheiro. Enquanto ela tentava secar sua roupa, observou-me pelo espelho e comentou:
- Odeio mulher fofoqueira... Alex, preciso te dizer que... Marisa perdeu mesmo o controle, juro que não a empurrei.
- Ela bebeu demais Ju, releve. Quando ela fuma, parece que o álcool pega mais rápido... Enfim, não se chateie com ela.
- Não há porque eu me chatear com ela, mas entendo a reação dela...
- Entende?
- É Alex... Ela está vendo que... Estou caída por você. E se você não fugir agora daqui, eu vou te beijar como eu quero desde a primeira vez que te vi.
Juliana disse isso, aproximando-se de mim, recuei, atrás de mim só a porta do box aberta, Juliana não hesitou, empurrou-me para dentro do box, segurou-me pela nuca, entrelaçou seus dedos entre meus cabelos, e sem me dar chance de defesa, imprensando contra a parede, roubou-me um beijo quente, intenso, deixou-me sem fôlego e não tive como não me render. Sugou minha língua, meus lábios vorazmente. Seus lábios eram deliciosos, doces, e meu corpo respondeu ao seu desejo ardente, quanto mais Juliana me apertava, mais eu me excitava, quando suas mãos passearam pelo meu corpo senti minha pele arrepiar, se existia alguma dúvida sobre eu gostar ou não de mulher, Juliana a tirou naquela noite.
Quando nossas carícias se tornaram mais ousadas, abri meus olhos e num momento lealdade a meus sentimentos afastei delicadamente Juliana, não era Marisa, não era a mulher que eu amava, com a respiração ofegante Juliana olhou-me com cara de interrogação:
- O que foi Alex?
Não consegui dizer nada, abri a porta do box e saí correndo do banheiro, sem dar explicações, precisava ver Marisa, era ela que eu queria. Fui até a mesa onde Fábio e Elaine estavam:
- Onde está Marisa? – Perguntei ansiosa.
- Calma Alex... – Pediu Fábio.
- Por favor, onde ela está?
- Saiu para fumar, acho que foi em direção ao lago.
Elaine respondeu com frieza, certamente chateada por eu ter relutado em ficar ao lado de Marisa na confusão. Mas, não me importei, fui apressada em direção ao lago, estava um pouco escuro, demorei a encontrar alguém ali. Quase desistindo ouvi sons, e caminhei em direção a eles, foi quando vi, um casal em um amasso indecente junto a uma árvore, só me aproximei mais por puro instinto, precisava saber se era Marisa ali, para meu desespero e uma dor inédita de tão intensa, vi a mulher que eu amava sugando os seios da tal aluna vagabunda, com sua mão dentro da calça dela.
Fiquei ali estática. Eu parecia ter sido transportada para um mundo paralelo, no qual eu podia ser invisível, inaudível, queria xingá-las, socá-las, com o grito preso na garganta com as pernas carregando um peso absurdo caminhei para atrás, mas o barulho dos meus passos nas folhas secas despertaram a atenção das duas:
- Quem está aí?
Marisa se afastou da loira, e com a luz do celular apontou em minha direção e me viu:
- Alexandra? O que você está fazendo aqui?
Apenas balancei a cabeça negativamente, deixando as lágrimas banharem meu rosto em seguida saí correndo. Marisa me seguiu, segurou meu braço:
- O que você veio fazer aqui? Por que não está lá com a enfermeirinha?
- Larga meu braço! Volta lá para sua aluna vagabunda, continua lá comendo ela!
- Não é isso que você está fazendo com Juliana?
- Não te interessa! Solte-me, não quero mais que você me toque!
- Eu que não quero mais encostar em você! Diz que me ama e horas depois vem esfregando outra na minha cara!
- E você? Quem é você para falar? Tão ética, comendo uma aluna!
- Cala essa boca Alex!
- Por quê? Estou falando alguma mentira? Você também disse que me amava, e no entanto, não é capaz de me perdoar, e já estava aí, com uma vadia!
- Essa vadia nunca me enganou... Ao contrário de você!
Não suportei a comparação de Marisa, fui tomada de uma raiva absurda, e deferi um tapa em sua face. Arrependi-me imediatamente:
- Marisa...
Ela manteve seu rosto virado, passou a mão no rosto, e quando me aproximei na intenção de me desculpar quando ela fez um sinal com a mão para que eu parasse.
- Chega Alexandra... Já ultrapassamos limites demais essa noite. Faça-me um favor, vá atrás da sua enfermeira, vocês se merecem, eu não sei perdoar, eu não sei confiar em você, pelo jeito também não sei amar... Deixe-me em paz.
Marisa caminhou em direção ao pátio da festa, sendo acompanhada pela loira. Amarguei as lágrimas por ter visto a mulher que eu amava nos braços de uma qualquer, aquele corpo que tanto me dava prazer e que eu tanto desejava, sendo tocado por mãos que não eram as minhas, isso parecia agredir minha alma. Além disso, eu que só destinei carinho e amor para Marisa, a agredi fisicamente, e isso feriu-me ainda mais.
Caminhei até o bar enxugando minhas lágrimas, e virei em um único gole, duas doses de tequila, quando senti uma mão nas minhas costas:
- Você não acha que já bebeu demais?
Juliana olhava me censurando.
- Qual o problema se eu beber demais?
- Para mim nenhum... Mas para você... Não quero estar no seu lugar quando acordar amanhã.
- Quem se importa?
Dei de ombros e pedi mais uma dose, quando virei, o mundo girou acelerado e me desequilibrei mesmo sentada, Juliana me segurou deu sinal para o barman não me servir mais nada. Avistou Márcinha e fez sinal para que ela viesse até nós:
- Amiga, o que houve com você?
Márcinha estranhou minha aparência deplorável das lágrimas misturadas com o efeito do álcool. Não conseguia concatenar os pensamentos e expressá-lo em palavras, e Juliana interviu:
- Você se incomoda de levar o carro para casa? Vou levar a Alex agora, ela não tem mais condições de ficar aqui.
- Você quer que eu vá com você?
- Não é necessário, eu cuido dela.
Não lembro como cheguei até o carro, nem muito menos como Juliana conseguiu me colocar na cama, o fato, foi que acordei no dia seguinte como a própria previu com uma ressaca de dar pena. Abri meus olhos com dificuldade, olhei em volta, o quarto estava com pouca luz, as cortinas claras diminuíam a incidência do sol no local, a cama espaçosa, macia, lençóis perfumados não eram conhecidos para mim, perguntava-me onde eu estava e como cheguei ali.
Vi a porta do banheiro se abrir e Juliana saiu, apenas com uma toalha envolta no seu corpo nu, cabelos envolvidos deixando sua nuca exposta. Observei-a em seus movimentos delicados, abrindo o guarda-roupas, ao deixar a toalha cair exibindo curvas lindas, seios fartos, bumbum empinado, meus olhos se fixaram nela, uma visão perfeita. Quando Juliana virou-se em minha direção fechei os olhos rápidos a fim de que ela não percebesse que eu a observava, atitude inútil:
- Bom dia Alex... Dificuldade para abrir os olhos?
Demorei a responder insistindo na minha ridícula simulação e Juliana falou em tom descontraído:
- Alex, eu já vi que você acordou... Deixa de ser boba.
Escondi minha cabeça em baixo do edredom, e Juliana caminhou até a cama, outra vez envolta na toalha, sentou-se ao meu lado perguntando:
- E aí? Como você está se sentindo?
- Como se tivesse tomado vodka, whisky, tequila, caipirinha... Esqueci alguma coisa?
Fiz careta, e Juliana acrescentou:
- Chop de vinho.
- Nossa, como você deixou eu beber tudo isso?
Juliana sorriu e disse:
- Devia ter agido de outra forma mesmo... Mas, estou te devendo uns cuidados especializados, você quer tomar um banho antes de comer alguma coisa?
- Acho que estou fedendo a cachaça não é?
- Hurrum...
Juliana fez uma careta confirmando minha observação.
- Então levante-se, que vou preparar nosso café. Vou deixar uma roupa minha para você vestir.
Quando fiz menção de levantar percebi que estava trajando apenas a calcinha, espantei-me, arregalei os olhos puxando o edredom para cobrir-me, Juliana sorriu e eu disse:
- Não me diga que... Nós...
- Calma Alex... O fato de te desejar tanto não justificaria eu agir como uma canalha. Despi você, por que você passou mal no caminho, vomitou, sujou a sua roupa, e não consegui vestir nada em você, mas sequer dormi nessa cama, está vendo essa rede armada aqui, então, foi ali que dormi.
- Desculpa Ju... Sou uma tonta mesmo e não me lembro de muita coisa...
- Tudo bem, você tem crédito comigo, vou te perdoar...
Juliana tinha um dos sorrisos mais lindos que já tinha visto, confesso que quando ela sorria para mim, eu sentia um frio na barriga.
- Estamos quites então... Você me viu nua e hoje de manhã foi minha vez. – Brinquei.
- Estamos íntimas então! Só falta sincronizar essa nudez entre nós...
O olhar de Juliana, agora demonstrava a malícia que me desconcertava. Mordeu os lábios, e eu ruborizei. Antes de se levantar da cama, sem que eu esperasse, Juliana se aproximou dos meus lábios, deu-me um selinho e disse:
- Você está mesmo fedendo a cachaça, prefiro seu gosto ao natural.
Piscou o olho, e levantou-se da cama, sem pudor, deixou a toalha no chão, vestiu uma calcinha boxer, uma camiseta branca regata e saiu do quarto, deixando-me com o coração acelerado e o rosto queimando, sentindo meu desejo por aquele corpo crescer.
Tomei banho, vesti a roupa separada por Juliana, e saí à sua procura, a casa era toda delicada como ela, tons pastéis, tudo muito enfeitadinho, organizado.
- Ju? Onde você está?
Juliana apareceu na porta da cozinha, com aquele sorriso estonteante:
- Aqui gatinha.
Andou até onde eu estava, segurou-me pela mão, levando-me até o balcão da cozinha. Lá estava tudo bem montado, frutas, pães, bolos, sucos. Juliana puxou o banco para que eu me acomodasse, sentou-se ao meu lado e começou me servindo um copo de água com sal de frutas.
- Tome, vai te fazer bem.
Não discuti, em seguida, Juliana com muita delicadeza, foi servindo o café, enchendo-me de recomendações. Senti-me tão paparicada que já estava tímida de ser alvo de tanta atenção. Para me deixar mais à vontade, Juliana contava alguns momentos hilários de porres que ela tinha tomado, e situações bem piores em que ela acordou em lugar desconhecido com gente desconhecida. Depois de terminarmos o café, Juliana notou meu tom pensativo e se adiantou:
- Alex, antes de você apagar, você chorou muito, repetindo coisa que...
- Eu falei da Marisa não é?
- Ahan.
- Ju, acho que ontem foi o fim da minha história com ela. Eu ainda tinha esperanças... Mas ontem elas acabaram.
- Se você quiser desabafar... Sou ótima ouvinte.
- Quer saber Ju? Não quero mais falar na Marisa... O melhor que eu faço para nós duas, é sair da vida dela.
- Você tem certeza que quer isso?
- Sim, tenho.
Juliana disfarçou a satisfação ao ouvir minhas palavras, retirou a mesa com minha ajuda, e não perdeu a oportunidade de roçar em mim “acidentalmente”, acelerando meu coração.
- Eu preciso ir para casa Ju, deixei a minha amiga mais uma vez sozinha, nossa, estou até sem graça, como tenho sido relapsa com minha hóspede...
- Não se preocupe, ela ligou hoje cedo para seu celular, tomei a liberdade de atender para tranqüilizá-la. Ela está no clube com o Artur, você quer ir encontrá-la?
- Hum... Acho que não... Vou para casa mesmo...
- Ah o que você vai fazer lá, ficar sozinha curtindo a dor-de-cotovelo?
- Acho que vou escrever um pouco...
- Ah você escreve?
- Sim... Contos... Lésbicos...
- Ui! Que interessante! Deve ter muitas fãs...
Fiquei tímida e apenas balancei a cabeça positivamente. Até Juliana pedir:
- Ah, fica um pouco mais... Você já assistiu a última temporada de The L Word? Aliás, você conhece essa série?
- Vi alguns episódios...
- Então, queria companhia para assistir, faço uma comidinha leve para almoçarmos, quem sabe até você se inspire mais para sua escrita.
- Tudo bem, eu aceito a proposta.
Juliana comemorou batendo palmas. Eu não tinha mesmo condições de escrever naquele dia, e não tinha disposição para ir ao clube e muito menos de ficar sozinha em casa. Empolgada, Juliana trouxe um BOX de DVD, pediu que eu me sentasse no sofá, e sentou-se ao meu lado depois de colocar o DVD. Assistimos a tal série por horas, e sem que eu percebesse, já estávamos coladas uma na outra, assistir as cenas de sex* entre as personagens ao lado de Juliana acendeu ainda mais o desejo que nascia em mim por ela.
Olhava-a de rabo de olho, e por muitas vezes flagrei-me contemplando suas pernas torneadas apoiadas no centro à frente do sofá. Minha boca estava seca, sentia meu corpo esquentar, a tal ponto de começar a suar.
- Alex, você quer refrigerante, suco, água?
- O quê?
Estava distraída olhando para as pernas de Juliana. Fiquei completamente sem jeito ao perceber que ela notou meu olhar fixo.
- Água de coco! É o que você precisa, vou providenciar!
Juliana levantou-se passando na minha frente, exibindo seu corpo, ela sabia que eu a observava. Quando ela voltou com dois copos na mão, tropeçou no tapete caindo por cima de mim.
O conteúdo dos copos pareceu evaporar com o calor do meu corpo, por que sequer me incomodei com as minhas roupas molhadas, mais me atraía a boca de Juliana quase colada na minha, lembrei-me do doce dos seus lábios, e nossas respirações rápidas e fortes aceleradas foram sufocadas por um beijo avassalador.
Não demorou muito para Juliana passear com suas mãos por minhas pernas, apertando-as com fome, despertando arrepios pelo meu corpo inteiro. Desceu com sua boca pelo meu pescoço, lambeu minha orelha intensificando a excitação entre nós. Apertei seu bumbum, e Juliana se encaixou entre minhas pernas roçando seu sex* no meu, num ritmo envolvente, intenso, em segundos meu sex* molhado ansiava por ter Juliana dentro dele.
Tirei a camiseta de Juliana, abocanhando seus seios fartos, ela gemia com um sorriso safado nos lábios, subiu o vestido que me cobria e com habilidade retirou minha calcinha rapidamente. Ao sentir a umidade do meu sex*, Juliana mordeu os lábios e sussurrou:
- Quero entrar em você... Dá pra mim gostosa...
Posicionei sua mão na altura do meu clit*ris e respondi:
- Vai... Entra, me come gostoso...
Juliana massageou meu clit*ris lentamente até que eu suplicasse:
- Vai gostosa... Fode...
Penetrou dois dedos e os deslizou dentro de mim como se conhecesse o que meu corpo pedia, alternou as estocadas entre investidas mais fortes e mais suaves, levando-me a loucura e ao orgasmo. Antes que eu recuperasse minhas forças, sentindo o gozo escorrer por minhas coxas, Juliana desceu com sua língua sugando-me, mordendo-me, até alcançar meu sex* pulsante, e mergulhar sua boca ali, lambeu toda extensão dos meus pequenos lábios, empurrou sua língua impondo ritmo nas estocadas, segurei sua cabeça entre minhas pernas gem*ndo alto, o prazer era tão intenso que meu corpo manifestava espasmos, tremores, o ar me faltava, nem sei quantas vezes g*zei, o fato é que eu não tinha forças pra mais nada quando Juliana deitou-se por cima de mim.
- Juli... Você... É incrível... – Sussurrei ofegante.
- Você me enlouquece Alex... É deliciosa. Como te quero...
Juliana continuava a me beijar, acendendo o tesão ainda mais. Entretanto, dessa vez eu a queria, sentir-me dentro dela, e enquanto ela deslizava suas mãos pelos meus seios, eu arranquei sua calcinha, quando senti a abundância daquele líquido quente enchi-me de desejo, penetrando meus dedos, deixando que Juliana rebol*sse sobre eles ditando seu ritmo:
- Vai minha delícia, não pára... Vai...
Impus mais força e velocidade nas estocadas até Juliana arquear seu tórax oferecendo-se ainda mais e liberar um gemido rouco e alto:
- Aaaai Alex!
Juliana tinha seu corpo suado, arrepiado, trêmulo, com um sorriso nos lábios. Abraçou-me e assim ficamos por minutos, recuperando o fôlego.
- Você está com fome? – Perguntou Juliana.
- De você? Muita...
- Ui... Isso é bom... Também estou faminta de você. Mas eu me referia a fome de macarrão, salada...
- Também, mas preferia uma certa enfermeira...
Juliana sorria, estava me dando conta como eu adorava ver aquele sorriso. Não sentia por ela nem um terço do que sentia ao lado de Marisa, mas o sex* com ela foi completamente surpreendente, olhando para aquele rostinho lindo, angelical, não podia suspeitar que ela fosse um furacão na cama. Eu a queria, fato. Era o que meu corpo pedia: mais de Juliana.
- Também prefiro uma certa jornalista sardentinha, mas precisamos nos alimentar... A sobremesa, deixo por sua conta, pode ser?
- Pode claro. Mas antes... Vem cá... Quero beijo.
Juliana tomou minha boca vorazmente, o beijo dela era alucinante, me acendia inteira, mas justamente quando eu me deliciava naqueles lábios doces, lembrei-me do gosto de Marisa, a pegada dela, e por alguns segundos, foi o rosto da mulher que eu amava que eu vi ali, sobre mim, me beijando. Abri os olhos constatando que não era Marisa comigo, fiquei séria, e Juliana perguntou:
- Mordi com muita força?
- Não... Vamos lá, te ajudo na cozinha.
Na cozinha, Juliana logo percebeu o que Marisa sempre soube: que sou um desastre completo. Mas também pudera, ela não me deixava quieta, abraçava-me por trás, beijando meu pescoço, nuca, aí eu derramava fácil o que tinha nas mãos, quebrando a organização da cozinha perfeita de Juliana. Almoçamos e mal terminamos de tirar e mesa, Juliana já me tomava com volúpia, empurrando-me e suspendendo-me no balcão da cozinha, envolvi minhas pernas no corpo de Juliana enquanto ela apertava minha cintura, beijou minha barriga e mais uma vez arrancou minha calcinha cumprindo o que prometera de me ter de sobremesa.
Passamos o resto da tarde juntas, dormimos na rede abraçadas, meu pensamento insistia em voar para perto de Marisa, o que ela estaria fazendo? Será que estava com a aluna vadia? Como ela estava se sentindo? Em mim um sentimento confuso, sentia-me bem ao lado de Juliana, mas também sentia que estava traindo meus sentimentos e insanamente acreditava estar traindo Marisa e meu amor por ela.
No final do dia, Juliana deixou-me em casa, com um carinho sensual, afagando meus cabelos ainda dentro do carro na porta da minha casa comunicou-me:
- Não vai ser fácil dormi hoje longe de você.
- Foi um dia maravilhoso Ju, muito obrigada pelo cuidado, pela atenção...
- Shi... – Colocou seus dedos na minha boca me calando. – Não ouse me agradecer por ter te amado...
- Eu não faria isso Ju. Ia te agradecer pela acolhida.
- Estava te devendo essa e além do mais o prazer literalmente foi meu.
- Meu também. – Mordi os lábios.
- Posso te ligar outra hora? Pra sei lá... Sairmos juntas, pegar um cinema...
- Claro que sim. Vou adorar.
Em casa tive que responder um verdadeiro interrogatório da Márcinha, que ainda me contou sua noite e seu dia com Artur. Com a sensatez típica, minha amiga me advertiu:
- Você acha que é o momento certo para se envolver com outra mulher?
- Não, não mesmo, não posso me envolver com Juliana, não é justo com ela.
- Nem com ela, nem com Marisa, nem com você.
- Com Marisa? Márcinha você ouviu o que eu te falei sobre ontem a noite?
- Ouvi, mas cá pra nós amiga, os ânimos estavam exaltados demais ontem, nunca imaginei duas mulheres brigando por você...
- Ué está me subjugando é Márcia Nunes?
Joguei o travesseiro na cara dela.
- Eu não! Não tenho e nem quero ter parâmetros para te julgar querida, ao contrário da Renatinha não tenho nem curiosidade por mulheres!
- Não sabe o que está perdendo...
Arqueei as sombracelhas fazendo charme.
- Desista, sem chance! Continuando, não acho justo com você e Marisa, você se precipitar envolvendo mais alguém entre vocês duas. Essa história de vocês está mal resolvida, você acabou de me dizer que pensou na Marisa enquanto beijava a Juliana! Não é justo que vocês não lutem por esse amor que me parece ter mudado a vida de ambas...
Fiquei pensativa, e no fundo, sabia que a Márcinha tinha alguma razão. Não tinha convicção que deveria lutar por Marisa, mas sabia que era de fato, cedo demais para complicar mais minha situação amorosa trazendo Juliana para minha vida.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]