CapÃtulo 55
Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 55
O motorista estacionou o carro em frente a uma velha construção de pedras à beira-mar. Naquele lugar, sem dúvida, Pedro poderia manter Yasmin em cativeiro por muito tempo sem ser descoberto. Era afastado o suficiente para que eles nunca tivessem contato com outras pessoas.
Com cuidado, Anita subiu a escada de madeira do antigo casarão e conforme fora combinado, deu quatro batidas ritmadas na porta.
Não demorou muito para Jorge aparecer e abrir a porta com cautela.
-- Boa noite, dona Anita. Pedro está aguardando a senhora.
Apesar de abandonada, por dentro, a casa velha era um lugar aconchegante e de muito bom gosto. Anita correu o dedo indicador sobre a mesa de madeira coberta por poeira e fez uma careta de nojo.
-- Pedro chegou ao fundo do poço. Sem dinheiro, sem prestígio, sem poder. Em pensar que pode piorar ainda mais -- Atenta, Anita andou devagar pela sala. Observando tudo, mexeu em objetos, analisou fotografias e quadros, depois parou diante de uma enorme e velha poltrona.
-- Limpe essa porcaria para mim. Quero ter ao menos onde me sentar.
-- Sim senhora.
-- Depois chame Pedro. Temos muito o que conversar.
Daniela e Bianca já estavam esperando no heliporto quando o piloto chegou. Devido à ansiedade, elas haviam chegado alguns minutos antes do combinado.
-- Boa noite -- disse ele dirigindo um sorriso largo para as duas -- Estamos com sorte, o céu está limpo, e irá nos proporcionar uma viagem tranquila.
-- Sim, é uma boa noite -- assentiu Daniela -- Podemos ir? Estamos com muita pressa.
-- Claro -- ele, com um gesto, indicou o caminho para o helicóptero e as duas o seguiram -- Meu nome é Vagner. Posso saber o motivo da viagem? Passeio, trabalho... -- Chegaram junto ao helicóptero. Vagner abriu a porta e elas subiram imediatamente.
-- Nem trabalho, nem passeio -- Daniela olhou para ele, deixando transparecer imediatamente a tensão que sentia -- Estamos atrás de um sequestrador -- precisava falar para ele o que estava acontecendo, mas decidiu que era melhor deixar para mais tarde, quando já estivessem voando -- Fique tranquilo, conto tudo durante a viagem.
Vagner assentiu, acendendo o motor. A pedido da loira, o piloto pôs o helicóptero à maior velocidade possível. Precisavam ganhar tempo, era bem provável que Pedro passasse o resto da noite no Brasil e tentasse atravessar a fronteira apenas na noite seguinte.
Daniela estava angustiada. Como se tinha deixado enganar daquela maneira? Conhecia Pedro, sabia de tudo o que ele era capaz. Seus pensamentos a atormentavam enquanto o helicóptero sobrevoava a rodovia Régis Bittencourt, seu coração ficava cada vez mais apertado à medida que São Paulo desaparecia a distância.
-- Precisa de ajuda com os carrinhos, senhora Vargas?
Yasmin olhou para o homem mal-encarado com expressão zangada.
-- Nem pense em colocar as suas mãos nojentas no carrinho dos meus filhos -- disse com olhar ameaçador -- Saia daqui! -- berrou.
-- Calma moça, só queria ajudar -- ele se afastou do carrinho, em direção à porta -- Caso mude de ideia, estou logo alí fora -- a ironia era visível no semblante, mas finalmente virou-se e saiu do quarto, assoviando e batendo a porta.
Yasmin foi até o carrinho e começou a ajeitá-lo para colocar os bebês. Puxou a manta que usava para cobrir os gêmeos e, para sua surpresa e alegria o seu celular caiu no chão.
Apertou o aparelho contra o peito e olhou para a porta. Era a sua grande chance.
Afobada, correu o dedo por cima da lista de contatos do Whatsapp. Daniela estava em Canoinhas, mas ainda era a sua melhor opção. De lá mesmo, ela acharia uma forma de resgatá-los. Então, cheia de esperanças enviou a mensagem:
"Pedro nos sequestrou. Estamos presos em um casarão abandonado. Não sei a localização certa, só sei que é no Paraná, em uma cidade chamada Guaíra. Ajuda a gente, amor. Estou com muito medo."
Os olhos de Daniela se encheram de lágrimas e ela escondeu o rosto nas mãos, soluçando.
Bianca pegou o celular de sua mão e leu a mensagem.
-- Como esse Pedro é um idiota -- Bianca disse, surpresa -- Nem se ligou que o celular estava com a Yasmin. Responde a mensagem, Dani, diz que estamos indo resgatá-los.
Daniela fungou e secou as lágrimas com o dorso da mão. Não podia fraquejar, sua família precisava dela mais do que nunca. Digitou:
"Fica calma meu amor, darei a minha vida por vocês. Prometo que antes do dia amanhecer estaremos todos juntos novamente. Estamos sobrevoando a região. Deixa o celular ligado por mais alguns minutos para que possamos rastreá-lo. Eu amo muito vocês."
Daniela enviou a mensagem e ficou olhando tristemente para o aparelho.
-- Yasmin não merece passar por isso novamente -- comentou -- Ela deve estar com muito medo que aquele desgraçado faça mal aos gatinhos.
-- Será que ele teria coragem de fazer mal aos próprios filhos, Dani? -- perguntou Bianca, perplexa.
-- Ele é um maldito louco, capaz de qualquer coisa -- resmungou Daniela, com os olhos fixos em seu celular.
-- Não será necessário que me contem o que está acontecendo. Eu já sei o suficiente -- disse o piloto para Daniela -- Resgatar os seus bebês é questão de honra para mim -- Vagner sorriu, confiante -- Estamos sobrevoando a cidade de Guaíra, já sabe qual a localização do cativeiro?
Daniela sentiu uma pontada de emoção com as palavras do piloto e procurou concentrar-se no aplicativo de rastreamento. Para ela era bem mais que questão de honra, era questão de vida.
Pedro parecia um tanto hesitante quando entrou na sala. Olhou para sua mãe, sentada na poltrona negra perto da janela aberta, e tentou não entrar em pânico. Anita o assustava tanto quanto um demônio.
-- O que veio fazer aqui, mamãe?
Anita voltou-se para olhar o filho. Pedro engoliu em seco, nervoso. A expressão de Anita era fria, quase ameaçadora.
-- O que vim fazer?
Pedro deu um passo para trás quando Anita levantou-se de repente e caminhou até ele.
-- O que pensa fazer, Pedro? -- encarou-o com um olhar inquisitivo -- Você nunca foi esperto, sempre age impulsionado pelas emoções e jamais pela razão. Você nem parece um Vargas.
-- Chega, mãe. Se veio até aqui para me humilhar e criticar, perdeu o seu tempo. Nada o que diga vai modificar os meus planos.
Anita encarou o filho, horrorizada. Empreendera uma viagem de São Paulo à Guaíra com o único propósito de convencê-lo a desistir de levar Yasmin e os filhos em sua fuga.
-- Então me diga. Que plano é esse, Pedro?
-- Vou atravessar a fronteira e me esconder no Paraguai por alguns dias. Depois sigo até a Argentina.
-- Tudo tão fácil não é mesmo, Pedro? -- Anita deu um sorriso meio forçado -- Acredita realmente que a bastarda deixará você fugir tranquilamente? Nunca! -- ela berrou, irritada -- Não, não, claro que não. Ela fará uma completa varredura nessa região e você será caçado como um rato. Em resumo, ela o jogará na cadeia e fará de tudo para que você nunca mais saia de lá.
Pedro deu uma gargalhada debochada.
-- No Brasil? Deixa de ser boba, mãe. O sistema penal é falho, a Justiça trata os brasileiros de forma desigual. Você já viu algum pobre fazendo delação premiada ou sendo monitorado por uma tornozeleira eletrônica? Ricos não ficam presos, não se preocupe.
Pedro sempre viveu em um mundo de poder e privilégios. Mundo em que o dinheiro, normalmente herdados de pai para filho, era o que regia tudo.
-- Não fuja da realidade, Pedro. Estamos falidos, você sabe melhor do que eu que não temos mais nada. Seu pai nos deixou na miséria.
Pedro inclinou-se, pegou uma pequena estatueta de cima da mesinha e jogou sem dó contra a parede.
-- Cala a boca! Cala a sua maldita boca! -- berrou, descontrolado, chutando os móveis e jogando contra a parede tudo o que encontrava.
-- Calma, calma, Pedro -- disse Anita, tentando contornar a situação -- Não acho que deva desistir da fuga -- respirou fundo e tentou relaxar -- O que penso é que você deveria deixar Yasmin e as crianças. Eles não servem pra nada.
-- Eles são a minha família -- disse com sua voz alterada -- Vamos para bem longe e começar uma vida nova. Vamos começar do zero. Seremos felizes.
Anita olhou para ele absolutamente estupefata, sem palavras e sem acreditar. Pedro está louco. Ela constatou.
Enquanto pilotava o aparelho, os olhos de Vagner percorriam a região sem que lhe escapasse o menor detalhe.
-- Se estiverem ali em baixo, vamos encontrá-los, com certeza.
-- Olhem alí -- berrou Bianca -- Uma casa.
Daniela e Vagner, imediatamente olharam para o local indicado por Bianca.
-- Vamos sair daqui -- pediu Daniela -- Não quero que eles ouçam o barulho do motor do helicóptero. O efeito surpresa é a nossa melhor arma.
-- Você tem razão, Daniela -- assentiu, Vagner -- Vamos aterrissar bem longe da propriedade.
Depois de alguns minutos, Vagner aterrissou o helicóptero junto a uns galpões que Daniela supôs que fossem usados para armazenamento de grãos ensacados.
Apressada, Daniela desabotoou rapidamente o cinto de segurança, abriu a porta, e desceu do helicóptero antes mesmo do piloto.
-- Estamos longe. Provavelmente ninguém nos ouviu -- Vagner baixou-se para tirar uma pistola de debaixo do seu banco -- Só para garantir.
-- Vamos então? -- disse Daniela, mostrando o celular -- Segundo o rastreador teremos uma bela caminhada pela frente -- e logo ela e seus dois amigos puseram-se a andar.
Yasmin colocou o celular no silencioso e voltou a escondê-lo no carrinho dos bebês. A bateria estava quase no fim, porém acreditava que Daniela já havia conseguido rastreá-lo. Pensou confiante.
De repente, a porta foi aberta e Pedro entrou afoitamente. Ele passou por Yasmin e foi diretamente até o carrinho dos gêmeos.
-- Em breve estaremos bem longe daqui, meus pequenos -- Pedro esticou o braço na direção dos bebês e tocou a testa de Daniel com a ponta dos dedos.
-- Não toque em meus filhos -- com grande irritação e coragem, ela o empurrou com força -- Não aja como se eles fossem seus -- Yasmin pareceu escandalizada perante a atitude de Pedro.
-- Eles são meus -- sua voz de deboche causou náuseas em Yasmin -- Mesmo que você odeie essa ideia, terá que aceitar, Yasmin. Eu sou o pai deles. A pessoa que vai orientar, mostrar o caminho, dar exemplo do que fazer...
-- Fique calado, pelo amor de Deus! -- Gritou Yasmin, depois não aguentou, deu uma gargalhada -- Exemplo? Exemplo de mal caráter que não tem misericórdia nem compaixão de ninguém. Você é um ser desprezível, ambicioso, falso, egoísta e maléfico. Deus livre os meus filhos de seus exemplos.
Pedro deu-lhe um forte tapa no rosto, tão forte que Yasmin chegou a cair sobre a cama.
-- Não me trate como se eu fosse um bicho qualquer -- ele a segurou nos ombros e a sacudiu bruscamente -- Não me ignore, sua desgraçada! -- berrou -- Tudo que tens é graças a mim...
Yasmin ignorando o tom agressivo de Pedro, respondeu a altura e deu um soco no nariz dele.
Pedro gem*u de dor e caminhou para longe dela com a mão sobre o local do soco. A dor estava ficando insuportável.
-- Mudança de planos - sussurrou, ainda com dor -- Não vamos mais esperar até amanhã a noite. Arrume as suas coisas, vamos sair agora mesmo - sua voz saiu sem força -- Queira você ou não.
Olhando com ódio para Yasmin, Pedro saiu do quarto batendo a porta atrás de si. Rapidamente, quase sem fôlego, ela correu até o carrinho e pegou o celular. Precisava avisar Daniela antes que a bateria acabasse.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Thaci
Em: 26/11/2017
Boa noite,Vandinha!
Eita. E agora? Será que o trio vão chegar a tempo,de o maluco do Pedro os levem para longe? E o que a mãe do mal irá fazer?
Aguardando cenas do próximo capitulo.
Resposta do autor:
Olá Thaci, tudo bem?
Obrigada por comentar. Beijão querida e muita paz e luz.
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Mille
Em: 24/11/2017
Oi Vandinha
A bateria não acabou mais o capítulo sim, quero mais, necessito de mais um capítulo. Kkkk
Espero que o trio consiga chegar a tempo e impedir o Pedro.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá meu anjo.
Um FDS cheio de luz e amor.
Beijão.
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