Digamos que você tem uma beleza meio peculiar.
- Me desculpa.
- Não é o suficiente – Alex tentou fechar a porta, mas Natasha a impediu com um dos pés.
- Será que você pode me ouvir?
- Você tem dois minutos – Alex disse ainda pressionando a porta. – Se passar disso você me deve dez reais por cada minuto.
- Quando foi que você se tornou uma meretriz do tempo?
- Preciso de dinheiro - Alex balançou os ombros e deixou que Natasha entrasse.
- Jesus Cristo – Natasha disse quando Alex ativou o cronometro do relógio de pulso. – Você já foi menos mercenária.
- Está contando.
- Você tinha razão, sis. Eu fui uma idiota nociva. Estava preocupada com você, mas a verdade é que eu também estava amedrontada pela ideia de te perder para um relacionamento sério. Você é minha companhia para todos os momentos e aventuras, quando se casar as coisas serão diferentes. Não consigo imaginar você se tornando esposa de alguém.
- Espera aí. Você está me dizendo que é um problema eu ser uma esposa e ter um relacionamento sério quando você está em não apenas um, mas em dois compromissos. Eu não posso ser esposa, mas você pode ter um marido e uma namorada, é isso?
- Na minha cabeça isso fazia um pouquinho mais de sentido – Natasha disse embaraçada e reflexiva.
- O que isso significa? Que não posso me casar?
- Não, é obvio que você pode e deve se casar. Eu só preciso me acostumar com a ideia de não sermos mais o que somos.
- Nat, você não está pensando direito. Eu te chamei para ir ao outro lado do mundo me ajudar a fazer um pedido louco de casamento, isso é o que nós somos e nada vai mudar. Ser minha irmã é um privilégio irrevogável, lide com isso.
- Eu sei, foi idiotice, me perdoa por não ter apoiado o seu plano e por ter sido ranzinza, você não merecia isso.
- Tudo bem, estamos bem – Alex olhou o relógio e parou a contagem do cronometro. – Quer dizer, estaremos depois que você me pagar os vinte reais que me deve.
- Essa foi a conversa mais inflacionada que eu tive em toda a minha vida.
- Tempos de crise exigem medidas desesperadas. Vou me casar, preciso da grana.
- Como você planeja esconder essa viagem da Júlia? Já pensou em uma desculpa para aparecer exatamente no país onde ela estará jogando? – Natasha perguntou se jogando no sofá da irmã.
- Ainda não, mas vai ser difícil. Eu quero muito contar a ela – Alex sentou ao lado de Natasha e falava empolgada. – Não sei se posso deixá-la ir sem saber que nos veremos logo.
- Você é uma droga para planejar surpresas, não sei como alguém ainda cai nas suas – Natasha desdenhou. – Alex, você não pode contar para ela, vai estragar tudo.
- Eu não sou uma droga, apenas não estou acostumada a mentir – Alex defendeu-se. – E é por isso que eu preciso de você para bolar alguma coisa.
- Confessa que você é péssima e eu te ajudo.
- Tá legal eu sou péssima e você é a melhor irmã do mundo, agora me ajuda – Alex disse de uma vez e emendou um elogio que fez Natasha sorriu satisfeita consigo mesma.
- Eu falei com meu empresário e...
- Por que você tem um empresário?
- Ahn, porque o meu trabalho exige um.
- Natasha, você é DJ.
- E o que você acha que eu faço?
-Toca músicas em festas? – Alex perguntou receosa.
- Eu crio músicas, Alex. E acredite ou não as pessoas pagam para ouvi-las e pagam mais ainda para ouvi-las sendo tocadas por mim, então eu preciso de um empresário que veja possíveis contratos enquanto eu faço o meu trabalho. Jesus Cristo! Você acha que eu simplesmente toco playlists aleatórias do Spotify?
- Eu nunca parei para pensar sobre isso – Alex respondeu absorta. Sempre soubera que Natasha era uma espécie de gênio musical, mas nunca entendera como um trabalho se encaixava na vida alternativa da irmã. – Mas agora as coisas estão fazendo um pouco mais de sentido. Isso explica o selo de verificação na sua página do Facebook.
- Eu o consegui depois de tocar naquele festival em Itu, daquela vez que você me acusou de estar levando uma vida de libertinagem, promiscuidade e luxuria – Natasha explicou profissionalmente e carregada de sarcasmo. - Você parece chocada.
- Não, eu só estou um pouco admirada de saber que o seu trabalho é literalmente uma festa e que você o está levando a sério.
- Eu sempre levei meu trabalho a sério. E é exatamente por isso que eu tenho um empresário.
- Tá legal, eu já entendi que você é uma espécie de estrela da música eletrônica.
- Eu diria uma constelação inteira, mas você sabe que eu não gosto de me gabar.
- Sei, é claro - Alex tossiu e fingiu engasgar com a própria saliva. – Você nunca faria algo assim.
- Como eu ia dizendo antes de ser interrompida pela sua perplexidade diante do fato de que eu sou uma trabalhadora – Alex revirou os olhos sem acreditar no drama da irmã. – Eu tenho um empresário e ele está a pouco de fechar um contrato com uma das boates mais legais de Istambul. – Natasha disse orgulhosa de si mesma. – Nosso réveillon será inesquecível! Boate Reina nos aguarde.
- Uoou. Isso é sério? Que demais, é perfeito, já temos uma desculpa para Júlia. Parabéns, você é a melhor, Nat – Alex abraçou a irmã enquanto fazia uma dancinha comemorativa.
- Obrigada, eu sei disso – Natasha balançou os ombros convencida. – Eles vão nos dar a resposta no final no mês, acha que consegue segurar sua língua até lá?
- Vou mantê-la ocupada de outras maneiras.
- Hurg! Ok, você pode me poupar dos detalhes.
- Eu não acredito que vou me casar – Alex suspirou apaixonada.
- Vá com calma, Romeu. Ela precisa aceitar o seu pedido primeiro.
- Será no mínimo constrangedor se ela não aceitar.
- Por que diabos ela não aceitaria? Você a abandonou, despedaçou seu coração, fez com que ela deixasse de acreditar no amor, a deixou passar sozinha pelo inferno de se assumir publicamente – Natasha enumerou contando nos dedos. – Mas você é legal, inteligente, sensível, ama vôlei, tem uma afeição bizarra por animais e teve coragem de assumir seus erros para conquistar o perdão dela. Você ainda precisa trabalhar um pouquinho o senso de humor, a noção de romantismo e ser menos covarde. Você é estranha, mas é tudo que a Júlia quer. É claro que ela vai aceitar.
- Você esqueceu-se de falar dos meus atributos físicos – Alex piscou convencida.
- Ahnn, digamos que você tem uma beleza meio peculiar – Natasha coçou o queixo enquanto avaliava a irmã. – Mas não se preocupe com isso, a Júlia está interessada no seu coração e em quem você é por dentro. Tenho certeza que ela te enxerga da melhor forma possível.
- Beleza peculiar? Você sabe que nós somos gêmeas, não sabe?
- Mas eu tenho estilo, little sis.
- Eu também tenho estilo – Alex jogou uma almofada que acertou Natasha em cheio.
- Ai! – Natasha reclamou esfregando o braço. – Eu tenho que ir agora.
- Fica – Alex arremessou outra almofada contra a irmã. – Por favor.
- Você também precisa melhorar seus métodos de convencimento – Natasha devolveu a almofada. – Eu adoraria ficar, mas tenho que trabalhar.
- Então vá, eu acabei de descobrir que você tem uma carreira e um emprego de verdade, não quero ser a responsável por destruir isso.
- Alex Collins, você acabou de fazer uma piada?
- Nem tudo está perdido – Alex piscou cheia de si.
- Continue trabalhando nisso, o que te falta em atributos físicos dá para compensar com senso de humor.
- Acho melhor você ir embora antes que eu volte a cobrar pelo meu tempo.
- Estava bom demais para ser verdade – Natasha abraçou a irmã e a acertou com as outras almofadas.
Quando Natasha finalmente se cansou de atirar almofadas e foi embora, Alex pegou o celular que na confusão havia caído no chão e escreveu um SMS para Júlia.
- “q hrs acaba o treino? Quer vir jantar aqui em casa?”.
- “fechado! Levo a sobremesa, acho que vc vai adorar (6) ;)”
- Essa mulher ainda vai me matar – Alex disse para si mesma e suspirou agradecida. – Espero que seja apenas de prazer.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 31/12/2017
Oi Ray tudo bem?
“A aventura da vida renova a cada 365 dias e só desejo que os próximos sejam os melhores de sempre.“
Que você tenha inspiração e continue nos proporcionando a alegria de histórias maravilhosas personagens cativantes.
Feliz Ano Novo!
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