Alex cumpriu sua promessa de fazer com que cada segundo ao lado de Júlia valesse totalmente a pena.  As duas aproveitaram intensamente a companhia uma da outra durante a semana seguinte, a sintonia entre elas era tão profunda a ponto de esquecerem o passado que as havia separado e o futuro impiedoso que em breve faria isso novamente.

- Você não deveria estar trabalhando? – Natasha alfinetou a irmã que resolvera aparecer com Júlia para uma visita surpresa.

- Eu tinha umas folgas acumuladas, resolvi tirar para fazer um tour por São Paulo com a Júlia, passamos para saber se você quer ir com a gente?

- Ahnn – Natasha refletiu enquanto olhava o afeto pegajoso do casal. – Essa proposta realmente parece ser tentadora, mas não, obrigada. Hoje eu não posso.

- Vamos, Nat – Júlia insistiu. – Alex e eu fizemos uma programação muito legal, você vai adorar.

- Tenho certeza que é excitante – Natasha disse sem muita convicção. Em sua opinião, os gostos da irmã e da cunhada eram tremendamente questionáveis. – Mas eu tenho que terminar uma faixa e vou tocar em uma festa hoje, preciso me preparar. Sinto muito.

- Tudo bem, a gente se vê depois então?

- Claro, podemos almoçar juntas amanhã se alguma das duas prometer me fazer um strogonoff – Natasha balançou os ombros despreocupada.

- Vai sonhando – Alex enlaçou Júlia e a conduzia para a porta.

- Esperem um pouco – Natasha levantou-se com um salto e revirava dezenas de papeis espalhados em cima da estante antes que as meninas se movessem. – Tenho uma coisa para vocês. Achei!

- O que é isso? – Alex perguntou com um traço de desconfiança ao ver a súbita animação da irmã.

- Uma diária em um hotel fazenda aqui perto. Ganhei de um cliente, mas o Tiago odeia natureza e a Lara não vai conseguir folga porque a chefe dela resolveu desaparecer da clínica para viver os últimos dias de um amor adolescente – Natasha balançou os ombros e levou um soco de Júlia e outro de Alex. – Façam bom uso.

- Um hotel fazenda? – Alex perguntou.

- Sim, fica há uns 50 minutos daqui. É uma espécie de refúgio de toda essa agitação. Acho que vocês vão fazer aproveitar melhor do que eu.

- Obrigada – Júlia aceitou animada o Day Use e usou a fúria dos seus olhos azuis para encarar Alex antes que ela ousasse servir-se de qualquer argumento contra o presente recebido. – Nós adoramos e vamos para lá agora mesmo, não é amor?

- Ok, nós vamos – Alex rendeu-se enquanto Natasha e Júlia davam pulinhos animados.

- Esse lugar é incrível – Júlia afundou a cabeça dentro da piscina sentindo a água quente tomar todo o seu corpo – É incrível que um lugar tão calmo possa existir praticamente dentro de São Paulo. Eu poderia ficar aqui pra sempre.

Alex sentada na borda da piscina balançava suavemente as pernas dentro da água tentando conter a excitação ao ver Júlia tão perto usando apenas um maiô e com cuidado guardava na memória as lembranças de cada movimento dela, pois sabia que os meses seguintes exigiram aquela lembrança.

- Você não vai entrar? – Julia se aproximou debruçando-se sobre as pernas da namorada.

- Daqui a pouco – Alex respondeu ainda admirando a mulher com quem sonhava em dividir o resto dos seus dias.

- Eu estive pensando – Júlia mergulhou mais uma vez e disse ao voltar à superfície. – Quando eu voltar, talvez poderíamos adotar um gato.

- Um gato?

- Sim, você tem o Shoyu e eu tenho o Paçoca, precisamos de um bichinho que seja de nós duas. Você sabe, ao mesmo tempo.

- Como ele seria meu e seu ao mesmo tempo?

- Ah, podemos dar um jeito.

- Você pensa em uma guarda compartilhada? - Alex perguntou sabendo o rumo que aquela conversa tomaria. – Gatos não são facilmente adaptáveis como são os cachorros. E é difícil movê-los constantemente.

- Talvez pudéssemos todos morar na mesma casa. Eu, você, o Paçoca, o Shoyu e o nosso gato – Júlia sugeriu um pouco sem jeito – assim ele seria de nós duas.

Alex sentiu seu estômago revirar.  Aquela proposta era a realização do sonho que sempre tivera, mas não podia deixar que sua vontade imensa de aceitar a proposta e agarrar a namorada ali mesmo estragasse a surpresa que cuidadosamente estava preparando. Júlia merecia aquele gesto e ela precisava manter a calma e controle para poder proporcionar o grande momento.

- E qual seria o nome do gato? – Alex perguntou tentando desviar-se do assunto.

- Hummm – Júlia submergiu outra vez antes de responder – Tang.

- Tang?

- Isso, como o suco.

- Adorei – Alex lembrou-se de alguns anos antes, nas tardes no parque quando os saquinhos de sucos preenchiam os copos com a vodka que Natasha comprava ilegalmente e faziam com que aqueles momentos fossem imensamente apreciados. Ela ainda guardava em sua memória cada uma das risadas que lhe fizeram dobrar seu corpo sobre o de Júlia, em uma tentativa desesperada e ao mesmo tempo inocente de estarem em contato – Eu não poderia escolher um nome mais apropriado. Tang.

- Sei que não tenho direito de te pedir nada, afinal eu estou indo embora, mas você promete que vai pensar nisso?

- Você não está indo embora, Juh – Alex entrou na piscina e sentiu calafrios descerem pelo seu corpo. Ela sabia que não era culpa da água, eram arrepios causados pela proximidade do corpo seminu de Júlia. – E você tem todo o direito de me pedir qualquer coisa – Alex suspirou e com pensamentos maliciosos puxou levemente a namorada para si, transpassando suas pernas ao redor dela. - Eu quero uma vida com você, vou estar aqui te esperando, e prometo que vou pensar sobre a melhor maneira de dividirmos um gato.

- Tang é o nome que ela terá.

- Ok, pensarei sobre a Tang.

Aquele dia terminou como todos os outros daquela semana. Com as duas entrelaçadas uma a outra, jogadas na cama. Roupas que foram tiradas apressadamente espalhadas pelo chão e o deleitável cheiro do amor que elas haviam acabado de fazer tomava conta do quarto.

Alex podia sentir a energia que Júlia transmitia correndo por suas veias, sua vida voltara a ser mais do que reações automáticas e a de Júlia era mais do que relações superficiais e medo de se entregar.

Mas, acima de tudo, para Alex o seu céu voltara a ser azul e dessa vez sem nenhum sinal de tempestade.

Fim do capítulo