Pra começar preciso do seu cartão de crédito.
- É claro que não vou – Alex disse olhando no fundo dos olhos da irmã.
- Ufa! – Natasha levou uma mão ao coração, respirou aliviada e recomeçou a andar pelo saguão do aeroporto.
- Nós vamos.
- O que você disse? – Natasha parou bruscamente e colidiu com um grupo de turistas gringos que acabava de desembarcar e olhavam as gêmeas com curiosidade - I'm so sorry. My sister is losing her mind.
- Você vai comigo – Alex puxou Natasha que ainda se desculpava e a conduziu para longe do grupo. - Vou pedir a Júlia em casamento durante o recesso de final de ano do campeonato. Ela não pode vir, mas nós podemos ir.
- Ahn, me deixa ver se entendi direito. Você quer pedir sua namorada, sua namorada lésbica, totalmente lésbica, em casamento em um país onde o governo proibiu por três anos seguidos a parada do orgulho LGBT e fez a polícia prender ativistas e reagir a manifestação com violência e repressão, é isso?
- Isso – Alex respondeu orgulhosa.
- Ok, você sabe que 99% da população turca é muçulmana? E que apesar da homossexualidade não ser considerada crime na Turquia ela não é exatamente bem vista?
- Sei – Alex não se abalou com as informações de Natasha.
- Então por que diabos você quer pedi-la em casamento lá? O casamento homoafetivo nem é legalizado na Turquia. Alex, você pirou de vez? Zero chances de isso dar certo. Você pode morrer!
- Eu acho que será interessante, faz parte da nossa história e de tudo o sonhamos e o que não vivemos, mas que agora podemos fazer ser realidade – Alex respondeu calmamente.
- Vão para o Canadá! Apresente-a para nossa família, faça um pedido na Torre CN, será lindo. Nossos primos vão adorar e você vai ser o assunto do Natal por uma década. Ou melhor, peça aqui em São Paulo, o lugar onde vocês se reencontraram, essa cidade linda e gay friendly que todas nós amamos viver. Se achar entediante, vá para Brasília, faça um cenário no parque. Se ainda não for suficiente tente Goiânia, Belo Horizonte, até Tel Aviv, mas pelo amor de Deus, não faça isso na Turquia. Estamos no Brasil, aproveite esse lugar maravilhoso onde você pode ser e se casar com uma lésbica e faça o pedido aqui.
- Você está exagerando.
- Alex! Em alguns países pessoas morrem somente por serem quem são, você não pode simplesmente chegar lá e...
- Nat, eu agradeço a sua preocupação, realmente agradeço, mas isso não vai me impedir. Você sabia que o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo? E que a cada 25 horas um LGBT é assassinado aqui?
- São situações diferentes, não dá para comparar as duas realidades.
- Não tem nada de diferente, Natasha. Se você quer falar sobre realidades, infelizmente a única que temos é que homofóbicos existem e são violentos. Seja aqui no Brasil, na Turquia ou no Canadá. Espero que um dia essas pessoas se preocupem mais consigo mesmas e menos com a vida dos outros, mas esse dia ainda não chegou e enquanto isso eu não vou deixar que elas me aterrorizem aqui e nem em nenhum outro lugar. Relaxa, eu sei o que estou fazendo.
- Alex... – Natasha disse exaurida e coçou a cabeça. – Não importa o que eu diga, você está decidida, não é mesmo?
- Estou. Você vai me ajudar ou eu vou ter que me virar sozinha?
- Tá legal, eu vou te ajudar, mas você vai ligar para o pai e dizer que a ideia foi totalmente sua e que eu não tenho nada a ver com isso.
- Eu faço isso quando chegarmos em casa, prometo que assumo toda a responsabilidade.
- Você sabe que ele vai ter outro infarto, não sabe? Ai meu Deus, vou ficar órfã e depois ainda serei obrigada a ver minha irmã gêmea ser morta por líderes radicais.
- Eu já disse pra você relaxar, não vai acontecer nada. Deixe de ser paranoica! Ninguém vai morrer. Você está sendo preconceituosa, pare com isso.
- Ok – Natasha sacudiu a cabeça na esperança de expulsar os pensamentos negativos e controlar a tensão. – Do que você precisa?
- Do seu cartão de crédito para começar – Alex disse com um sorriso travesso. – Não tenho limite nem para voltar de táxi para casa.
- Por um acaso eu já disse o quanto odiei essa ideia? – Natasha revirou os olhos, a contragosto abriu sua mochila e entregou uma carteira pequena para a irmã. – E que a probabilidade dessa viagem dar errada é gigantesca?
- Sim, já disse e você está enganada – Alex deu pulinhos animados e empurrou a irmã até o balcão de compras de uma companhia aérea internacional. – Nada vai dar errado. Eu tenho certeza disso.
- Espero que sim – Natasha bufou e se deixou ser empurrada.
- Tenho três meses para planejar a viagem, nada pode sair errado – Alex disse animada no táxi que as levava para casa. Natasha dava pequenos acenos com a cabeça e se mantinha calada. – Vou tirar uns dias de férias da clínica, vamos para Turquia eu faço o pedido e nos casamos quando ela voltar.
- É um plano terrível – Natasha quebrou o silêncio olhando pela janela os prédios que ficavam para trás. – Existem muitas partes vagas que você precisa pensar em como vai preenchê-las.
- Eu já disse que tenho três meses para isso, quer fazer o favor de controlar essa vibe negativa antes que ela acabe com minha alegria?! Cruzes, quem é você e o que fez com minha irmã?
- Três meses para planejar uma viagem internacional combinada com um pedido de casamento, você não está pensando direito, ela pode se assustar e negar o seu pedido. Suponhamos que ela diga sim, então serão apenas mais três meses para planejar um casamento.
- Já chega, você conseguiu o que queria.
- Te fazer desistir?
- Não, me chatear. Moço, encosta o carro, por favor – Alex pediu ao taxista.
- Aonde você vai? – Natasha perguntou enquanto Alex se soltava do cinto de segurança.
- Vou encontrar a Júlia, conversamos quando você voltar a ser a minha irmã e não essa versão nociva a qual eu não estou acostumada. Você paga a corrida.
- Droga! – Natasha socou o assento do carro quando Alex saltou para fora. – Desculpa – acrescentou para o motorista que a olhava pelo retrovisor.
- Surpresa!
- Alex! O que você está fazendo aqui? – Júlia perguntou espantada ao abrir a porta. Shoyu e Paçoca descontroladamente latiam e pulavam em cima das duas que se abraçavam.
- Eu disse que íamos aproveitar o tempo que nos resta – Alex respondeu após um beijo longo nos lábios de Júlia. – Estou cumprindo a minha promessa.
- E o seu pai? Você não podia ter deixado-o sozinho.
- Ele está bem, foi ele quem me convenceu a voltar. Para falar a verdade ele nos expulsou do hospital.
- Expulsou vocês? Por que?
- É uma longa história e nós não temos muito tempo para conversa – Alex fechou a porta atrás de si e sem esforço pegou Júlia nos braços e a colocou sobre a mesa.
Júlia fechou os olhos e se deixou levar pelo toque macio de Alex. Desde a noite em que Alex lhe tocara pela primeira vez, seu corpo almejava por aquele toque outra vez. Era um vício que a deixava sempre sedenta por mais. Ela podia sentir através dos dedos de Alex o desejo da outra, que vinha de forma intensa e cheia de carinho.
Alex com os olhos abertos explorava o corpo de Júlia, agora não precisava mais fechá-los para imaginar sua amada. Ela estava ali na sua frente e reagia aos seus movimentos com profundos gemidos.
- Uau! Isso foi impressionante. Você acaba de elevar os seus padrões, Alex.
Alex deu uma risada tímida enquanto recolhia as roupas jogadas pela cozinha.
- O que eu posso dizer? Estava com saudades!
- Não fale essa palavra – Júlia disse baixinho e fez bico. – Eu ainda nem fui e já tremo só de pensar que vamos ficar seis meses separadas.
- Hey, linda – Alex segurou a testa de Júlia entre as mãos e deu um beijo carinhoso. – Nós vamos dar um jeito, ok?
- Eu queria que não fosse tão longe.
- Eu também, linda. Mas eu prometo que vou te visitar, daremos um jeito. Confie em mim.
- Eu confio – Júlia disse com lágrimas nos olhos.
Ver Júlia chorando deixava Alex extremamente sensibilizada, era como ver uma tempestade no céu dos seus olhos. Naquele momento Alex queria lhe contar todo seu plano e fazer o pedido ali mesmo, mas não podia estragar o elemento fundamental do planejamento que era a surpresa.
- Eu te amo – Alex enxugou as lágrimas de Júlia com a palma da mão e a abraçou forte.
Era tudo o que podia fazer por hora.
Fim do capítulo
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NovaAqui
Em: 30/10/2017
Não sei porquê mas estou com pressentimento que esse plano vai dar merda. Mulher de pouco fé eu sei, porém não quero nem ver.
Abraços fraternos procê!
Resposta do autor:
Oiie!
hahaha, que isso, mulher?!
Tenha fé e venha ver, acredite ^^
Abraçoos pra vc :)
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