Capítulo 5: CRISE EXISTENCIAL
Outra noite longa sucedeu o momento mais incrível da minha vida até então. Perdi-me entre dúvidas acerca do comportamento de Marisa e sobre minha própria reação diante do meu primeiro beijo em uma mulher. O que teria acontecido se não tivesse sido interrompida pela ligação do Dan?
Curiosa sobre esse universo lésbico, e movida pela insônia, trouxe meu notebook pra cama e comecei a navegar pela net buscando informações digamos, técnicas sobre o relacionamento de duas mulheres. Li coisas que classifiquei como surreais, achei vídeos bizarros, clipes excitantes de filmes e séries temáticas. Minha navegação esbarrou em sites especializados em contos lésbicos com traços bastante eróticos. A simples leitura me provocou uma excitação inenarrável, unida à lembrança dos beijos e do corpo de Marisa roçando no meu.
Perdi a hora naquela leitura, empolgada até com os comentários de outras leitoras, nunca tive a menor curiosidade nesse tipo de literatura, mas naquela noite parecia mais interessante do que qualquer grande escritor que eu era tão fã. Enfim o cansaço me fez dormir, mas os meus sonhos só tinham uma personagem: Marisa. Revivi cada beijo e cada toque dela na minha pele, e acordei com o despertador, suada e molhada, gem*ndo o nome da médica mais sensual que eu conhecia.
Meio atordoada, com vergonha de mim mesma pela meu estado, me apressei para chegar cedo ao trabalho e dar início a nova edição da Folha de Nova Esperança. Minha equipe já me esperava, Luiza preocupada com minha saúde, já que não havia me visto desde a queda do cavalo no sábado. Meu semblante de cansaço e minha olheiras tinham a justificativa das dores no corpo conseqüentes do acidente, mas a verdade era que eu curtia mesmo eram as conseqüências do domingo com Marisa.
Nossa nova edição já tinha a temática pré-definida, a cobertura da festa de centenário do município. Algumas notícias policiais da região seriam abordadas, e mais uma vez a parceria com a universidade ia ter espaço, dessa vez com uma coluna especial sobre saúde. Definida a pauta, cada um se retirou, rumo a cumprir sua obrigação, eu por outro lado, fui seqüestrada pelo meu “chefe”, que não escondeu a curiosidade em saber como tinha sido meu encontro com Marisa.
- Conte-me tudo, não me esconda nada!
- Dan... Não há o que contar...
- Fala sério sardenta!
- Estou falando sério... Nada demais...
- Alexandra Alcântara! Você saiu da festa com a mulher mais linda de Nova Esperança, e detalhe, ela é entendidíssima... E não escondeu interesse por você... Horas depois ligo para você e a senhorita continuava na companhia dela, chegaram com aquelas caras de culpa e você me diz que não teve nada demais?
Sorri sem graça, mexendo nos papéis da mesa, enquanto o Dan continuou:
- Fala antes que eu ligue pra ela e pergunte a ela!
- Você não teria coragem Daniel!
- Duvida?
Daniel perguntou já abrindo o celular. Não paguei pra ver, apavorada disse:
- Tudo bem, tudo bem, eu falo!
Quase cochichando fui narrando minha primeira experiência lésbica, muitas vezes o Dan me interrompia com um: - Hã?- De tão baixo que eu falava. Ao final da história disse demonstrando decepção:
- Foi incrível Dan... De longe a experiência mais... Mais... Nem sei te descrever, era como se meu corpo esperasse por aquilo toda vida... Entretanto... Acho que para ela não significou tanto. Ao me despedir dela na frente da minha casa, ela recusou um beijo quando me aproximei.
- Você ia beijá-la na rua?
- Mas era tarde, dentro do carro...
- Alexandra! Está maluca filha? Essa cidade é um ovo! Todo mundo se conhece, e você ia beijar a médica mais conhecida daqui, na frente da sua casa? Ainda bem que ela recusou o beijo, se não hoje você estaria de novo no auge das fofocas, e aqui filha, não tem imprensa pra divulgar isso, é boca a boca mesmo, te garanto que é bem pior.
O comentário de Dan me trouxe à realidade, e me fez enxergar como fui estúpida mais uma vez com Marisa. Minha preocupação em me desculpar com ela tirou minha paz o resto do dia, por várias vezes pensei em pedir o número do telefone dela ao Dan a fim de esclarecer meu comportamento na noite anterior, mas fui tomada de uma insegurança ridícula para minha idade.
Não só a insegurança em ser rejeitada por uma mulher, mas principalmente a insegurança acerca dos meus desejos. Nunca me imaginei em um mundo homossexual, e isso me deixava apavorada. Mergulhei em literatura especializada, questionando minha motivação em estar tão atraída por uma mulher, será que se tratava de um trauma por ter sido trocada pelo meu noivo por outro homem? Estaria eu perdida na minha carência?
Toda minha pesquisa temática não me ajudava em muita coisa, por que meu pensamento viajava para perto de Marisa, não consegui me concentrar sequer no trabalho. E a curiosidade intensificada pela lembrança dos contos e vídeos que assisti na madrugada me deixou como se fosse possível ainda mais distraída.
- Alexandra? Alexandra?
A voz me parecia tão longe... Até que ficou mais alta:
- ALEXANDRAAA!
O grito me desequilibrou, no susto virei a cadeira giratória velozmente, derrubando os papéis de cima da mesa, quando ergui meus olhos me deparei com ela, linda, com um embrulho na mão: Dra. Marisa.
- Faz uns dez minutos que estou aqui te chamando menina! Trouxe um lanchinho para você... Essa torta de morango aqui é a melhor da região!
A visão mais parecia com algum sonho atrapalhado meu. A voz me faltou, enquanto Marisa educadamente colocou o embrulho sobre a mesa e se abaixou para recolher os papéis que caíram no chão. Eu, atônita, sem ação, fiquei na cadeira enquanto Marisa estava ali, literalmente aos meus pés.
- Veja só... Minha posição diante de você Alexandra...
O sorriso de Marisa pra mim por pouco não me derrubava da cadeira, minhas pernas tremiam, e eu travava uma luta comigo mesma, em um diálogo nervoso - “Fala alguma coisa sua idiota! Você sonhou com ela a noite inteira! Fala Alexandra Alcântara!” – Mas naquele momento, eu não tinha autoridade nem comigo mesma...
- Então, estou atrapalhando seu trabalho?
Buscando forças para conter meu nervosismo diante de Marisa, apenas balancei a cabeça negativamente, enquanto me abaixava a fim de ajudá-la a recolher meus papéis. Nossas mãos se tocaram e isso foi o suficiente para eriçar minha pele e acelerar ainda mais meu coração. Marisa foi levantando e me ofereceu sua mão para ajudar a me erguer.
- Você não vai me dar o prazer de ouvir sua voz?
Sorri sem jeito, e disse:
- Oi Marisa... Não esperava sua visita. E não, você não atrapalha em nada.
- Bom saber. Vamos lanchar então?
- Claro. Vamos para mesa.
Marisa colocou o embrulho sobre a mesa de reuniões do meu escritório, desembalou com cuidado, pediu que eu sentasse e logo me preocupei:
- Vou providenciar talheres e pratos...
- Não há necessidade... Sente-se.
Marisa tirou de sua bolsa um saco plástico com dois garfos, sentou ao meu lado, e disse:
- Essa torta só tem graça se for comida assim... Sem desperdiçar nada do recheio e cobertura no prato...
Marisa deu a primeira garfada, e me serviu a torta na boca. Aceitei a oferta, sem graça, enquanto ela disse:
- E aí? Mas saboreie com delicadeza... Sem pressa... Sinta a maciez dessa cobertura e a suavidade da massa...
Segui as orientações de Marisa, e sem dúvida era a melhor torta do mundo, não sei se pelo sabor da guloseima, ou por estar comendo das mãos de Marisa que aguardava ansiosa minha resposta.
- Deliciosa, divina, perfeita...
Meus adjetivos obviamente não se restringiam só a torta, Marisa sorriu e provou ela mesma da torta e me encarando, confirmou cada elogio que fiz. Em minutos comemos toda a torta, e conforme a ordem de Marisa, não desperdiçamos nada do recheio e da cobertura, com os dedos mesmo fomos aproveitando o que ficou grudado no embrulho em um clima descontraído nos percebemos lambuzadas pela cobertura de chantilly, tomada de uma ousadia inesperada eu disse:
- Nada pode ser desperdiçado...
Passei meus dedos pelos lábios de Marisa retirando o excesso do chantilly, e lambi meus dedos sem desviar do olhar daquela médica que me tirava a paz. Marisa foi mais ousada, e disse:
- Você tem toda razão...
Ela se aproximou de mim, e com a língua limpou o canto dos meus lábios do recheio da torta, fechei os olhos inebriada pelo perfume de Marisa e excitada pelo calor da boca dela tão próxima da minha. Ao se afastar da minha boca, Marisa fixou seu olhar no meu, e eu não resisti, roubei-lhe um beijo demorado, ainda mais delicioso pelo sabor de morango com chantilly nas nossas bocas.
Marisa segurou-me pela nuca, intensificando o beijo, puxando-me para mais perto dela ainda, a ponto de me colocar quase no colo dela. Minhas mãos ganharam vida própria, me perdi pela pele de Marisa, entrelaçando meus dedos entre os cabelos dela, deixando escapar suspiros e gemidos, sentindo meu corpo queimar de tanto desejo.
Eu sequer me preocupava com o risco de alguém nos flagrar ali. Queria mais do corpo de Marisa, mas como tudo na minha vida tem um toque de Murphy, a porta se abre e o Dan nos surpreende do susto Marisa me solta bruscamente e eu me estrebuchei no chão.
- Desculpe-me meninas... Ai meu Deus, Alex você está bem?
Muito constrangida e amargando a dor da pancada nas costas, eu apenas balancei a cabeça positivamente, enquanto Marisa em ajudava a levantar.
- Eu tenho que ir, tenho aulas daqui a pouco para ministrar. – Disse Marisa.
- Mas... Já?
Eu não sabia o que dizer na verdade, mas não queria me afastar de Marisa.
- É... Alex quando você puder, dá uma passadinha na minha sala... Com licença Dra. Marisa, foi um prazer revê-la.
Daniel saiu da minha sala, deixando eu e Marisa a sós.
- Eu realmente, tenho que ir Alexandra.
Antes que eu dissesse qualquer coisa, Luiza entrou na minha sala a fim de tratar assuntos do jornal, e assim, Marisa se despediu, me deixando mais uma vez perdida entre as dúvidas sobre minha sexualidade e o desejo absurdo por ela, além da insegurança sobre o teor de nossa relação e sobre a possibilidade de um novo encontro.
Resolvi a questão com Luiza, ainda meio aérea, depois segui para a sala do Dan, já me preparando para a zuação que me esperava do meu amigo.
- Você quer falar comigo Dan?
- Sim Alex. Sobre alguns possíveis patrocinadores, que manifestaram vontade de investir no jornal, depois do sucesso da primeira edição.
- Jura? Que coisa boa!
- Então, quero que você formule uma proposta, mostrando os espaços que a marca deles será divulgada, para que na próxima edição, já contemos com esse apoio, e também valoriza o jornal.
- Claro Dan, farei isso agora mesmo.
- Tenho outro assunto para tratar com você.
- Eu quero me desculpar pela cena que você viu Dan, não vai se repetir.
- Não vai? Tem certeza?
- Sim, não se preocupe.
- Agora estou preocupado. Por que não vai se repetir? Pelo que vi, há faíscas entre vocês e Marisa é uma mulher incrível.
- Ah! Eu estava falando sobre nossos amassos aqui no ambiente de trabalho...
Daniel sorriu e disse:
- Então vai se repetir em outro lugar que não seja sua sala?
Só depois de ouvir a pergunta do Dan, notei o quanto fui descarada ao me referir a meu desejo de que se repetissem os tais amassos com Marisa. Ruborizei e tentei mudar de assunto:
- Então, eu vou preparar a proposta para os patrocinadores, depois mostro a você.
- Alexandra... Nós ainda precisamos conversar... Amiga, sei que você deve estar confusa, você nunca esteve com uma mulher certo?
- Por que você acha isso?
- Por que você é certinha demais para se permitir isso... Desde que te conheci você nunca fez nada errado, sempre tudo dentro dos padrões! Seus pais são mais liberais do que você amiga.
O comentário de Daniel me irritou, e mais que isso me desafiou. Não queria esse título de mulher certinha e conservadora, mas no fundo, Dan estava cheio de razão. Por diversas vezes fui julgada pelas minhas amigas como reprimida sexualmente.
- Você está muito enganado! Eu não sou sempre certinha, sei cometer loucuras, e quem disse que nunca estive com uma mulher?
- Alexandra... Não precisa ficar com raiva, isso não é defeito.
- Não estou com raiva, pra seu governo já estive com muitas mulheres!
- Tudo bem, tudo bem, então você sabe como agir com a Marisa...
- Claro que sei!
Eu não fazia a menor idéia do que o Dan estava falando. Essa era uma grande incógnita para mim, como agir com Marisa? Nem sei porquê o comentário de Daniel me irritou tanto! Menti deslavadamente sobre o fato de estar com outras mulheres antes de Marisa.
Saí da sala fumaçando e com mais dúvidas ainda sobre como me comportar em relação a Marisa. Na minha sala eu ainda viajava na lembrança do gosto de Marisa e embriagada pelo perfume que ela deixou no ambiente. Com muito esforço fiz o que o Dan me pediu, e quase ao anoitecer saí do escritório em direção a minha casa.
Mais uma vez me refugiei na internet, dessa vez, navegando pelas páginas de blogs especializados em comportamento lésbico. Encontrei uma multidão de fãs de um certo seriado americano temático, não vacilei, e baixei a tal série sobre o Mundo Lésbico.
Encantada e curiosa com as situações mostradas, como era possível o sex* entre duas mulheres? Mesmo sem saber como isso poderia acontecer, como eu queria ser protagonista de uma cena daquelas junto com Marisa... Virei a noite assistindo os episódios, dormi sentada com o notebook sobre as pernas, nos meus sonhos, meu desejo se misturou a ficção do que eu assisti, e numa confusão típica da manifestação do meu inconsciente, eu estava no cenário do seriado, na cama em cima de Marisa.
Acho que nem preciso descrever o estado que acordei... Mais uma vez atrasada, tomei um banho rápido, eu precisava mesmo desse banho... Eu não sabia se me punia por investir tanto do meu tempo e das minhas energias para o pensamento e o desejo por uma mulher e por esse mundo lésbico, ou se me envergonhava pelo comportamento infantil diante do Dan com minhas mentiras.
No jornal, a minha equipe já me esperava, a fim de mostrar os resultados do dia de trabalho. E sobrou para mim a tarefa de inaugurar a coluna sobre dicas de saúde, Luiza colocou sobre minha mesa o telefone de minha suposta entrevistada, e o universo conspirava para mais uma vez eu reencontrar Marisa.
Hesitei em ligar, minha crise de sexualidade me impedia que eu me comportasse como uma mulher adulta. Passei minha manhã inteira discutindo com o aparelho de telefone sobre minha mesa.
“Se eu ligar vai parecer que estou correndo atrás dela... E se ela quisesse que eu ligasse pra ela teria me dado o número do telefone dela! Se eu não ligar ela pode achar que não estou interessada... Mas eu quero que ela pense que estou interessada? Mas Alexandra! Isso é apenas um contato profissional!”
Meu diálogo com o telefone não era silencioso, a ponto do Daniel ao entrar na sala sorrateiramente ter uma crise de risos.
- O que é isso sardenta?
A surpresa da pergunta do meu amigo me deixou ainda mais nervosa, gaguejei para responder, disfarçando fingindo ajeitar os papéis da minha mesa:
- Nada ué, só pensando alto.
- Sei...
- Quer falar comigo?
- Na verdade vim só pra dizer que já enviei a proposta aos patrocinadores que você deixou ontem, até o final do dia teremos a resposta.
- Ótimo Dan!
- Mas você vai ou não ligar para Marisa?
- Han? Como você sabe?
Nem percebi que mais uma vez acabara de me entregar, o Dan era mestre em me pegar nas minhas trapalhadas.
- Não sabia, mas acabei de ter certeza...
- É... Preciso fazer entrevista com ela para a coluna de saúde do jornal...
- Então você tem que ligar Alex! Por que essa hesitação?
- Por que, você sabe... Ela pode pensar que isso é só uma desculpa para falar com ela...
- E não é?
- Não Dan! Ninguém tem tempo para fazer essa entrevista, por causa da imensa equipe que você me deu!
- Sabe o que eu acho?
- Tenho até medo de perguntar... Mas o que você acha?
- Que se não existisse um motivo para você ligar para ela, você ia ter que criar um... Mas eu não preciso dizer isso, você é experiente em relacionamento com mulheres...
Notei a ironia nas palavras do Dan, disfarcei enquanto ele se aproximava da mesa, pegou o telefone, discou e eu, nem desconfiava para quem ele ligava até ouvir:
- Dra. Marisa! Olá, como vai? É o Daniel. Estou ligando para saber como está sua agenda hoje... Infelizmente o orçamento não permitiu que eu contratasse uma secretária para editora-chefe da Folha de Nova Esperança, então estou me candidatando a vaga... Alexandra precisa fazer uma entrevista com um profissional de saúde, para inaugurar uma coluna sobre vida saudável na próxima edição do jornal, queria saber se há alguém na universidade que possa participar... Ou você, quem sabe...
Engoli as palavras, atônita com a cara-de-pau do Dan. Mas, ansiosa pela resposta do telefonema:
- Tudo bem então, no final da tarde então. Comunico a Alexandra, e obrigada doutora.
Dan desligou o telefone fazendo suspense, provocando minha ansiedade:
- Então, ela vai me dar a entrevista?
- Não sei se ela pessoalmente, mas ela vai providenciar alguém.
- Como assim?
- É isso Alex, se ela não puder dar a tal entrevista, indicará alguém. No final da tarde esteja na universidade com seu gravador. Pronto, cumpri minha obrigação... Boa sorte!
O dia foi longo, as horas demoraram mais a passar, pela expectativa de rever Marisa, e ainda me restava a dúvida sobre reencontrá-la ou não. Preparei as perguntas para a entrevista desejando mudar o teor delas, na verdade queria mesmo era perguntar: - O que você quer comigo? O que você faz comigo que me deixa assim? O que eu tenho que fazer para você me beijar agora? -. Poucas horas antes de sair para a universidade, qual adolescente ansiosa pelo encontro com seu primeiro namoradinho, tive o cuidado de passar em casa e me produzir... Eu sequer sabia o que agradava uma mulher... Devo ter tirado uma dezena de roupas do armário, inventado mil penteados diferentes, e quando me dei conta, eu só tinha meia-hora para chegar pontualmente ao encontro.
Na verdade, nem era um encontro, mas a possibilidade de rever a protagonista das minhas fantasias sexuais, transformou o caráter profissional da entrevista em um afrodisíaco compromisso. Optei por um vestido sóbrio, mas de frente única dando aquele toque de sensualidade, os sapatos elegantes deram um toque peculiar no meu visual. No caminho para a universidade eu ensaiava meu cumprimento a Marisa, encarando o retrovisor: - Olá Dra. Marisa, como vai? Incomoda-se se eu usar o gravador? Podemos começar? – Pura ilusão que eu me manteria tão calma e profissional assim, a simples lembrança do cheiro e do gosto de Marisa já fazia minhas pernas tremerem...
Enfim cheguei a Universidade, segui direto para o prédio do Departamento de Ciências da Saúde. À porta da sala de Marisa, a secretária me orientava a aguardar alguns minutos até eu ser atendida. Ao entrar enfim na sala da chefe do departamento, ansiosa por rever a mulher mais linda que eu conhecia, me decepcionei com a presença de um homem calvo de meia idade, sentado no sofá.
- Alexandra Alcântara? Muito prazer, Dr. Ernani Campos, coordenador do curso de Medicina. A Dra. Marisa infelizmente não chegará a tempo, e pediu que eu respondesse às suas perguntas. Desde já parabéns pelo jornal, vi a primeira edição, muito boa, espero contribuir a altura nessa segunda edição, aliás, a idéia de uma coluna sobre vida saudável é bastante apropriada.
Com um ar meio abobado, mas visivelmente decepcionada, eu apenas sorri amarelo e apertei a mão do médico com um sorriso amarelo. Sentei-me na poltrona de frente para ele e comecei a entrevista de maneira seca, e pouco simpática. O coitado do médico devia se interrogar o motivo do meu notório mau-humor, evidenciado pela minha luta física com as teclas do gravador.
A entrevista não durou mais que trinta minutos, para a surpresa do experiente médico, recolhi meu material apressadamente, irritada pela frustração de não ver Marisa, encarando aquilo como um bolo. Pisando forte pelos corredores daquele prédio, resmungando algo inaudível, saí em direção ao estacionamento, deixando os papéis da minha pasta voarem pelo campus. Essa cena se repetiu até chegar perto do meu carro. Devo ter parado para apanhar os papéis no trajeto pelo menos umas três vezes, aumentando ainda mais minha irritação.
Esqueci de desligar o alarme do meu carro, enfiando a chave na porta, com o susto do barulho do alarme soltei tudo que estava na minha mão, me perdendo entre dois botões para desativar o alarme. Quando enfim consegui fazê-lo, joguei tudo espalhado pelo banco de trás do carro, murmurando palavrões, até escutar risos atrás de mim.
Fim do capítulo
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