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  • Capítulo 5: LIÇÃO N.º 3 – CONTINUE A NADAR, CONTINUE A NADAR

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MANUAL NADA PRÁTICO PARA SOBREVIVER A UM GRANDE AMOR por contosdamel

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Palavras: 4842
Acessos: 5696   |  Postado em: 21/11/2017

Capítulo 5: LIÇÃO N.º 3 – CONTINUE A NADAR, CONTINUE A NADAR

O dia seguinte à farra dos meus amigos trouxe um cenário bem familiar a mim: Ed dormindo no sofá da sala, roncando como um trator velho, e Cris jogada no sofá cama do meu escritório babando horrores no travesseiro. Sorri ao me lembrar das dezenas de histórias que aquela cena me trazia. Senti saudades de ressentir a ressaca moral de não saber ao certo o que tinha feito na noite anterior, aqueles dois, entre outros amigos, eram companheiros de boas farras, sabe como é, nenhuma grande uma história começa com: “Uma vez eu fui tomar leite com café na padaria e...”, geralmente começa com: “ Uma vez, eu tomei um porre daqueles...”.

 

                Com um sorriso melancólico nos lábios, fiz as vezes de boa anfitriã e fui preparar um café-da-manhã para minhas visitas. Apesar de ser quase hora do almoço, eu sabia que ambos acordariam precisando de uma boa dose de glicose e carboidratos para combater o efeito das tequilas no “Parada”.

 

                Cris foi a primeira a chegar na cozinha, indo direto para meu armário, em busca da minha caixinha de remédios.

 

-- Porr* Luiza, cadê aquele remedinho milagroso?

 

-- Bom dia pra você também Cristiane Maria!

 

-- Ah vá pra pqp pow, além da ressaca ainda me vem com a merd* do meu nome composto?

 

Sorri do mau humor da minha amiga, que como o Ed, odiava o tal nome completo. Entreguei o remédio que ela procurava, e de propósito dei um beijo estalado no seu ouvido.

 

-- Ah! Filha da mãe!

 

-- Você tá ficando velha sabia? Devia rever o quanto pode beber numa noite, seu fígado não é mais o mesmo, nem o coitado que tem a capacidade de se regenerar, aguenta tanto acetaldeído!

 

-- Não começa falando difícil, porque não diz só cachaça?! E nem bebi tanto...

 

-- Mais uma prova, de que você não aguenta mais tanto álcool como antes. Pow Cris, se cuide mais, você pagou mico ontem viu?

 

-- Você tá muito careta, isso sim! Aquele encosto da Beatriz te sugou as energias, nem parece a mesma Luiza que mergulhava em aventuras, era desencanada... Cara eu sinto falta sabia?

 

-- Cris, não coloca a culpa de tudo na Beatriz e no meu relacionamento com ela. Eu também fui feliz com ela. Aquela fase de aventuras, acho que passou, e você também precisa encarar isso... Cara, faz quanto tempo que você não se envolve seriamente com alguém?

 

-- Ah para com esse papo de relacionamento sério, deixa isso pros viciados em Facebook! Você fala como uma velha de cinquenta anos! Luiza, eu não estou falando de esperar amanhecer pra pegar o metrô porque torramos o dinheiro todo do táxi com bebida numa noite! Estou falando de estar aberta a conhecer pessoas, se divertir, beijar na boca!

 

-- Disso você entende bem... Você pelo menos sabe se aquela menina tinha mais de dezoito anos?

 

-- Que menina?

 

-- A que você catou ontem, Cris!

 

-- Eu catei alguém? Putz, nem lembro! Mas, se catei, era bonitinha?

 

-- Você não toma jeito... Era bonitinha, mas muito novinha, devia cheirar a leite “Ninho Crescimento”...

 

-- Do jeito que você exagera, a menina devia ter uns 23 anos, poxa, Lu, a gente só tem uns trinta e poucos... E você devia deixar de ser preconceito com gente mais nova, nem sempre elas são avoadas que não sabe o que querem.

 

-- Ah, não sei se tenho paciência pra esse povo não, a maioria dos meus alunos tem menos de 25 anos, não consigo me imaginar com o pessoal dessa idade.

 

-- Pois, devia! Ia dar uma sacodida nessa poeira morfada de gente velha que está te cobrindo! Luiza, você tem noção do quanto é atraente? Porr*, o tanto de mulher que te deu mole ontem... Eu estava sóbria quando dispensei umas três por você, não ia queimar seu filme, por que, se alguma te abordasse ontem, você ia afastar com esse “fedum” de mulher mal amada...

 

-- Nenhuma mulher me deu mole ontem, deixa de ser mentirosa, até entendo que você queira levantar meu moral, mas, freia aí essas suas viagens viu.

 

-- Luiza, acorda! Tem muita mulher nesse mundo! E você pode escolher a que quiser!

 

Ed entrou na cozinha com a cara amassada, devorando uma garrafa de água num gole só e depois disparou:

 

-- Vocês sapas já começam o dia com uma DR né? Nunca vi gostar tanto de falar como vocês! Credo!

 

-- Que mané DR, bicha! Estou tentando trazer a nossa amiga aqui de volta à vida, e você deveria estar me ajudando nisso...

 

-- Ah mona, eu tenho muitos talentos, mas o de ressurreição dos mortos não desenvolvi ainda não...

 

Os dois riram enquanto eu mostrava a língua pra eles. Servi o café, enquanto eu reconstituía a memória dos meus amigos, já que as lembranças reais estavam confusas, os dois enfiaram o pé na jaca legal. Passaram o resto do domingo comigo, no final da tarde, ainda me arrastaram para uma barraca na praia onde acontecia uma tradicional roda de samba.

 

Só mesmo aqueles dois para me fazer enfrentar tanta felicidade junta. Peguei uma água de coco e me encostei em uma mureta mais afastada da confusão, quando avistei uma menina linda, com shortinho minúsculo estampado, com pernas lindas, uma brancura viçosa, lisas, usava apenas a parte de cima do biquíni, seios pequenos, mas empinados, e os cabelos longos, negros, brilhosos. Os óculos de sol na cabeça seguravam as mechas que o vento espalhava, era ela: Marcela.

 

Ela estava no meio de amigos, alguns eu reconhecia da faculdade, eram meus alunos e ex-alunos. Mas, meus olhos só se fixavam em Marcela. Meu Deus, o que ela tinha afinal que tanto me prendia a atenção? Era linda, claro! No entanto, tinha algo a mais que me chamava a atenção nela. Cada gesto dela tinha uma conotação especial para mim: o jeito de passar as mãos pelos cabelos, a forma como mexia no canudinho da bebida que segurava, o sorriso... Ah! O sorriso! Era perfeito! Não só pela boca rosada e dentes perfeitos, mas, principalmente pela energia leve que ele transmitia.

 

Eu precisava para de olhar pra ela, mas não conseguia. Involuntariamente, eu desejava que meu olhar tivesse o poder de fazer com que ela me visse ali. Não sei se minha mente tinha esse poder, mas o fato foi que Marcela me viu, e outra vez sorriu, minhas pernas estremeceram. Porr* Luiza, o que é isso? Eu me censurava mentalmente, e a auto censura só aumentava, à medida em que meu coração acelerava vendo Marcela caminhar em minha direção.

 

-- Professora! Que surpresa encontrar a senhora aqui, e assim.

 

-- Olá, Marcela. Assim? Assim como? Não entendi.

 

 

A menina ruborizou. E eu me derreti. Aquelas bochechas lindas, ficavam ainda mais fofas quando rosadas pela timidez.

 

-- Quis dizer assim, descontraída. Sempre tão séria de jaleco...

 

Marcela tentou emendar, mas notei ela olhar minhas pernas expostas pelo vestido leve, e de repente, os olhos dela pararam no meu decote. Foi a minha vez de ruborizar.

 

-- Ah sim... Acho que se eu viesse de jaleco pra cá, certamente iam achar que eu era a nova pipoqueira do calçadão né?

 

Ela sorriu, e eu fiquei ainda mais encantada com aquele sorriso tão perto de mim.

 

-- Nunca vi a senhora por aqui.

 

-- Faz um tempo que não venho, mas, já fui frequentadora assídua.

 

-- Gosta de samba?

 

-- Como diria O Caymmi: “quem não gosta de samba, bom sujeito não é”.

 

-- “É ruim da cabeça, ou doente do pé” – Marcela completou a letra da música.

 

-- Isso mesmo! Mas, você não é muito nova pra conhecer “o samba da minha terra”?

 

-- Ah professora, que decepção! A senhora acha que o pessoal da minha idade só curte pancadão?

 

-- Desculpe-me, não quis ofender, acho que é mesmo preconceito meu. – Respondi desconcertada.

 

-- Música boa não tem idade professora, meu pai sempre diz isso.

 

-- Seu pai foi muito feliz na afirmação dele.

 

Marcela riu e eu não entendi o porquê quando ela balançou a cabeça negativamente.

 

-- A senhora fala sempre assim? Como se estivesse em sala de aula?

 

Fiquei tímida, eu estava na praia, numa roda de samba, e mesmo assim não conseguia sair da pose de professora, era automática a escolha do meu vocabulário quando estava com um aluno, e com Marcela não era diferente.

 

-- Hábito, estou sendo chata não é? Tediosa como farmaco e metodologia?

 

-- Quem disse que acho fármaco e metodologia chatos?

 

-- Se você não acha, perdoe-me o trocadilho, então você é um achado! Por que até hoje não encontrei nenhum aluno que não achasse...

 

-- Olha aí, de novo em sala de aula... Trocadilho... – Marcela deixou outro sorriso escapar – Mas, a senhora está certa, sou mesmo um achado!

 

-- Olha aí a modéstia aparecendo... – Brinquei.

 

-- Ué, sou um achado, eu me acho mesmo! – Marcela riu – E professora, só pra senhora não ficar pensando que foi muito preconceituosa com o meu gosto musical... Eu também adoro um pancadão!

 

Ela se afastou depois de me dar outro sorriso estonteante, caminhando de costas se despediu:

 

-- Até amanhã professora... Espero ver a senhora quebrando ali no meio da roda qualquer dia desses...

 

 

Eu não sabia se estava me perdendo no sorriso de Marcela, ou me imaginando quebrando no samba diante dos olhos dela, o fato foi que, as palavras me faltaram, só acenei, meio abobalhada reconheço, quando vi Cris se aproximando.

 

-- Quem é a bonitinha?

 

-- Cristiane Maria!

 

-- Nossa, quando você me chama assim a porr* ficou mesmo séria! Qual foi meu delito dessa vez?

 

-- A bonitinha, é minha aluna, respeito, por favor!

 

-- Calma! Pra que tanta agressividade! Se eu não te conhecesse diria que é ciúmes...

 

-- Vá se ferrar Cris!

 

-- Eu te mandaria junto... Mas, acho que não vai precisar, ferraram com sua tarde e nosso restinho de domingo...

 

Cris disse apontando com o queixo para os degraus que davam acesso à barraca: Beatriz chegava com Alicinha e outros amigos.

 

-- Ah, tá de brincadeira né?

 

Cris nunca esteve tão certa. O resto do meu domingo estava ferrado. Ed que estava com outros amigos ao ver as duas logo me procurou com os olhos e se juntou a mim e Cris.

 

-- Lu, segura a onda, não vai o gostinho a essa vaca profana e ficar com essa carinha de yorkshire pelos cantos... – Ed me exortou.

 

-- Ed eu acho que o papel de vaca está mais pra mim do que pra ela... Afinal, quem tem os chifres?

 

Cris segurou o riso por segundos, mas ao encarar o Ed, que não teve argumentos para retrucar meu comentário, ela não se segurou, e logo a gargalhada escandalosa do meu amigo contaminou nós duas. Tomei a lata de cerveja da mão da Cris, e virei todo conteúdo de uma vez só, depois de conseguirmos controlar o riso.

 

-- Isso aí! Vamos pegar outra? – Cris se animou.

 

-- Não Cris. Só bebi pra ter coragem de sair daqui, mas, vou embora, não tenho estômago pra ver essas duas não.

 

-- Ah Lu! – Ed protestou – Você já vai? Poxa, deixa esse casal de urucubaca se afundar na areia, vamos curtir!

 

Olhei para a direção do casal feliz e percebi que elas cochicharam algo, e viraram de costas. Cris notou o mesmo movimento.

 

-- Putz, que palhaças! Você viu o mesmo que eu?

 

-- Vi sim, amiga, acha que eu preciso aguentar isso?

 

-- Como diria uma filósofa do nosso tempo moderno: “se não quiser me olhar, vira de costas”. – Cris brincou.

 

-- Não me conformo, Luiza, esse traste não odeia samba? – Ed perguntou indignado.

 

-- Vai ver que a Alicinha gosta – Fiz cara de nojo.

 

-- Ok, eu te acompanho Luiza, você não merece mesmo testemunhar essa palhaçada. – Cris disse.

 

-- Não, fiquem aí, ainda tem muita festa, façam o favor de devolver essa oferenda aí pro mar? – Brinquei apontando o casal com os olhos.

 

-- Pode deixar! Vou encomendar a farofa ali na barraca, e desfazer esse trabalho que fizeram pra você, amiga! – Ed disse me abraçando. – Eu vou ficar Cris, faz tempo que não vejo os meninos.

 

Ed disse se referindo aos amigos dele.

 

-- Tem certeza que vai ficar bem? – Cris me perguntou compassiva.

 

-- Claro! Vou descansar, amanhã tenho oito aulas pra ministrar, estou bem, podem ficar tranquilos. Amo vocês.

 

Despedi-me dos meus amigos e saí em direção ao meu carro, estacionado bem próximo de onde eu estava. Dirigi lentamente, e me dividia entre a vontade de rir com a atitude infantil de Bia e Alicinha na praia, e o sentimento denso de revolta com a humilhação que era pra mim, as duas juntas esnobando seu namoro resultado da traição que fui vítima. O semáforo fechou e avistei no ponto de ônibus, a visão mais linda dos meus últimos dias: Marcela.

 

Sorri, e rapidamente meu sorriso se desfez quando notei ela segurando uma outra menina pela cintura. Meu momento decepção foi interrompido por buzinas impacientes atrás de mim, o sinal ficou verde, segui devagar, e não pude evitar continuar olhando para Marcela e a outra garota, logo vi a acompanhante da minha aluna sentar-se no banco e vomitar ali mesmo, pensei sozinha: “Ufa, ela só estava segurando uma amiga bêbada... Han? Como assim Luiza?!”.

 

Parei o carro logo à frente da parada, liguei o pisca alerta e fui ao socorro de Marcela e a amiga.

 

-- Marcela? Está precisando de ajuda?

 

Meu Deus como ela conseguia sorrir tão lindamente, mesmo tão perto de uma poça de vômito?! Marcela me sorriu com os lábios e com os olhos, se surpreendendo com minha chegada.

 

-- Professora, acho que a senhora acabou de ser elevada a categoria de anjo...

 

-- Que é isso menina?! Diga-me, o que está acontecendo?

 

-- Não me chama de menina professora...

 

-- Mas... Você, é...– Gaguejei.

 

Eu estava pronta para dizer: “não é isso que você é?”, me contive. Marcela me interrompeu respondendo:

 

-- Minha amiga aqui bebeu demais depois de tomar um toco de um mané, perdemos nossa carona, e estava indo deixa-la em casa...

 

-- Você ia deixa-la em casa como?

 

-- Estávamos esperando um táxi passar, mas a bonita aqui, vomitou quando o taxista parou, o cara se mandou, então, só me restou a opção do ônibus...

 

-- Marcela, como você pretendia arrastar sua amiga?

 

Apontei para a menina que já se recostava no painel do ponto de ônibus, quase apagada.

 

-- Ai professora, a senhora adora me desafiar com perguntas difíceis né? Não sai da sala de aula...Porr* Jéssica você também só me ferra! Tinha que dar uma de manguaceira justo quando a gente tá de carona? Opa... Desculpa professora...

 

-- Quem tá na sala de aula agora? – Impliquei – Relaxa Marcela, e me ajude a levar sua amiga até meu carro que está logo ali, vou deixar vocês.

 

-- Professora, mas é muito contramão pra senhora, agora estou envergonhada...

 

-- Como você sabe que é contramão? Você nem sabe onde moro!

 

Marcela sorriu sem graça, demonstrando seu constrangimento.

 

-- Vamos, antes que sua amiga caia no próprio vômito...

 

Marcela acenou em acordo. Levamos Jéssica até meu carro, abri a porta traseira, e a garota praticamente desmaiou no banco, não consegui evitar rir ao perceber a pouca habilidade de Marcela em acomodar a amiga, em meio a xingamentos e muito esforço, evitou que Jéssica se espatifasse no piso do carro.

 

-- Então, onde deixo vocês?

 

Perguntei depois de entrarmos no carro. Alguma coisa inexplicável prendia meu olhar aos gestos, ao brilho daquela menina, e ali, naquele espaço reduzido no interior do veículo, meu olfato ajudou a compor meu encantamento por ela. Aquela fragrância não provinha de um simples perfume vendido em larga escala, emanava dela, tinha cheiro de vivacidade, de luz, ah! Que devaneio Doutora Luiza! Ela é sua aluna!

 

-- Estou tão constrangida professora... Dar esse trabalho todo...

 

-- Não é trabalho algum, não estou carregando vocês nos braços, carros foram feitos para isso mesmo... – Falei tentando deixar Marcela mais à vontade.

 

-- Carros foram feitos para transportar mulher bêbada? – Marcela retrucou em tom jocoso, olhando para Jéssica no banco traseiro.

 

-- Ah! Acho que alguém pensou nisso também quando construiu carros... Ou pelo menos, deveria pensar! – Falei conferindo o estado da outra pelo retrovisor.

 

-- Se pensaram, deviam ter incluído um cinto de segurança que se ajustasse a mulheres deitadas... – Marcela disse se virando no banco, tentando empurrar Jéssica que escorregava.

 

-- É verdade, bem pensado. Sabia que é assim que nasce as grandes invenções? Toda pesquisa surge a partir da observação de um fenômeno...

 

-- E voltamos à sala de aula... – Marcela murmurou.

 

-- Acho que a metodologia já está no meu DNA, devo ser muito chata não é mesmo? – Perguntei desconcertada.

 

-- De forma alguma professora... Já disse, adoro metodologia! Tanto que já estou aqui pensando em criarmos esse cinto de segurança, patentearmos e vendermos a indústria automobilística, ficaríamos ricas e famosas!

 

Sorri largo, acenei em acordo. E quase me derreto ao ver de relance o sorriso hipnotizador daquela menina.

 

-- Oras, vejo uma pesquisadora nata ao meu lado! Mas, eu entendi direito? Você falou no plural? Está dividindo sua ideia, sua invenção, comigo?

 

-- Acho justo, já que tive ideia em uma propriedade sua...

 

-- Uma pesquisadora nata e ética, realmente você é um achado!

 

-- Vou aceitar como elogio, e como uma chance para ingressar no seu grupo de pesquisa. – Marcela comentou tímida.

 

-- Sala de aula?

 

Rimos, enfim, Marcela parecia relaxar do constrangimento que ela julgava estar protagonizando.

 

-- Marcela, preciso mesmo saber que direção seguir, nenhum método científico me ensinou ainda a ler a mente das pessoas... – Brinquei.

 

-- Ainda bem... – Ela murmurou.

 

-- Oi?

 

-- Professora, a senhora já aterroriza demais os alunos, imagine se lesse nossa mente...

 

-- Sério? Sou aterrorizante para você?  

 

Não escondi o tom intrigado, nem tampouco escondi meu incômodo. Marcela respondeu enigmática:

 

-- Possivelmente... Dobre à esquerda na próxima rua.

 

A resposta de Marcela, soou para mim como um sim à minha pergunta. Não sei descrever a sensação que experimentei, talvez, insatisfação sirva para definir o que me fez ficar calada o resto do trajeto, me detive em seguir as orientações dela para chegarmos ao destino, um prédio bem localizado na zona leste, próximo da universidade.

 

-- Chegamos. Muito obrigada professora, não sei o que faria sem a senhora hoje.

 

-- Por nada. Mas, ainda não me agradeça, receio que você ainda precise de minha ajuda para rebocar sua amiga, acho que ela não está com cara de quem vai colaborar conosco não...

 

Arranquei um sorriso de Marcela. Se eu estava insatisfeita, aquela risada me trouxe a satisfação de volta, como mágica! Eu com toda minha ciência e método, simplifiquei assim o que aquela menina fazia comigo: mágica! Ou quem sabe fosse algum desequilíbrio hormonal... Tinha que ter uma explicação! Lembrei-me de uma palestra que assisti em um congresso em Toronto no qual o médico afirmava: “as mulheres se comunicam hormonalmente”, pois bem, devia ser uma linguagem nova pra mim, com certeza tinha uma causa fisiológica, me recusava a estar tão abobalhada diante de uma aluna.

 

-- Cara a Jéssica vai me pagar caro por essa... – Marcela resmungou desafivelando o cinto.

 

-- Ela é minha aluna?

 

-- Sim, em farmacologia, e já foi sua aluna em metodologia também.

 

-- Então, a narrativa do meu ato angelical do dia na sua versão, vai ser um castigo suficiente pra ela me vendo o semestre todo, não acha?

 

-- A senhora tem razão, de novo!

 

Marcela gargalhou, como se realizasse na mente a reação da amiga quando voltasse à sobriedade e soubesse que a professora doutora Luiza Antero de Carvalho a resgatara de uma poça de vômito.

 

Juntas, conseguimos tirar Jéssica do carro, mas, não avançamos muito para desloca-la. O porteiro do prédio, veio em nosso auxílio, e carregou a moça até o elevador, outra vez, eu e Marcela sustentamos Jéssica. À porta do apartamento, ficou a meu cargo, segurar a aluna alcoolizada, enquanto a outra buscava a chave na bolsa.

 

Acomodamos Jéssica no sofá mesmo. Dei uma olhada em volta enquanto Marcela se retirou, era um apartamento simples, funcional, diria até que não condizia com o apartamento de estudantes. Marcela voltou em pouco tempo com um cobertor para a amiga, fiquei observando o cuidado dela com a menina desacordada, retirando as sandálias, posicionando o travesseiro e cobrindo-a.

 

-- Bem, acho que meu trabalho já está concluído. Estão entregues, seguras em casa, as duas.

 

Disse disfarçando meu olhar encantado para a menina.

 

-- Professora, eu não tenho palavras para agradecer, a senhora foi um anjo hoje...

 

-- Ei, para com isso, assim você compromete minha fama de carrasca!

 

Disse descontraída, recebendo aquele belo sorriso em resposta.

 

-- Então vou guardar segredo sobre sua face de Madre Tereza, ok?

 

Balancei a cabeça positivamente e caminhei em direção à porta. Marcela me acompanhou, tão de perto que fez meu coração acelerar. Em uma fração de segundos tentei me situar no meu ciclo menstrual, tantas alterações assim diante de uma menina não podia ter outra explicação que não fosse o aumento dos níveis dos hormônios sexuais... Francamente Luiza, só isso mesmo explicaria? Aquela menina linda, encantadora, não seria capaz de despertar o seu desejo?

 

Minha batalha mental confundiu até meus passos, esbarrei na poltrona, e por pouco meu queixo não chegou à porta primeiro do que o resto do meu corpo.

 

-- Professora? Está tudo bem?

 

A voz de Marcela tão próxima a mim, seu leve toque na minha cintura despertou uma gagueira imprópria para alguém com minha titulação acadêmica.

 

-- Tá, tá, cla.. Claro, por por que não estaria?

 

Marcela sorriu com o canto dos lábios. Abri a porta violentamente, com uma força desproporcional fazendo com que acertasse minha testa com a mesma violência que impus. Se eu ficasse mais tempo ali, os acidentes teriam uma intensidade catastrófica, precisava me afastar, antes que denunciasse minha inquietude constrangedora com a proximidade de Marcela.

 

Despedi-me rapidamente passando a mão na testa, certa que ela estava marcada com a “portada”. Mal deu tempo Marcela agradecer pela décima vez, e eu já estava dentro do elevador, me refazendo daquela confusa e inesperada reação diante de uma aluna.

 

Cheguei em casa exasperada, e na porta do prédio, encontrei Cris. Estava tão envolvida na situação com Marcela que numa atitude incomum, esqueci-me do celular no carro enquanto subi no prédio dela, e nem ao menos lembrei-me de busca-lo quando retornei, se o fizesse, teria visto as inúmeras chamadas perdidas da minha amiga, além das mensagens no What’s up.

 

-- Luiza! Sua louca! Onde você estava? Pra que se tem a porr* de um celular se não atende quando a gente liga, caralh*!

 

-- Ei! Menos aí no xilique! Segura a onda, Cris!

 

-- Cara, eu já estava indo procurar você nos hospitais!

 

-- Posso saber o motivo dessa agonia toda? Quem morreu? Ou melhor, quem você matou?!

 

-- Ninguém, ainda!

 

-- Cris, vai entrando, vou estacionar... Você está me preocupando.

 

Conhecia minha amiga, notícia boa não viria... Mal entramos no meu apartamento e Cris disparou:

 

-- Antes de te dizer qualquer coisa, vou logo te adiantando: eu topo!

 

-- Oi?! Você topa? Topa o que?!

 

-- Topo o que você decidir! Dar uma surra, atropelar, envenenar aquelas duas! O que você preferir!

 

-- Cris, o que foi que você bebeu? Que pensamento psicopata é esse? De quem você tá falando ow doida?!

 

-- A Bia e aquele aprendiz de “teletubie” que ela arranjou...

 

Não consegui segurar o riso, relembrando os personagens infantis ridículos que Cris comparou Alicinha.

 

-- Cris, desembucha vai!

 

-- Eu ouvi lá na barraca que elas ficaram noivas, vão dar um festa aí por esses dias pra comemorar...

 

Fiquei catatônica por segundos. Tempo suficiente para que um filme fosse rebobinado em minha mente... Estou mesmo ficando velha, até minha mente refaz minha vida com um mecanismo que ninguém usa mais... Quem ainda assiste filme em fita que precisa ser rebobinada? Pois bem, recompondo meu pensamento, vi as imagens em 3D se sobreporem em cascata à minha frente, desconexas, uma miscelânea dos momentos de paixão, afeto, amor com as brigas, os desgastes, as perdas, a traição.

 

A sequência das imagens precedeu as muitas perguntas que ecoavam na minha cabeça: “Já?” “Mas, e as prioridades dela, não estavam na vida profissional?” “O que eu perdi?”. Beatriz sempre repetia que em primeiro lugar estava a vida profissional dela, eu já estava aspirando meu pós-doutorado, minha ascensão funcional na universidade beirava o ápice da minha carreira, enquanto ela só conseguira ingressar no doutorado às minhas custas, uma vez que a indicação para o orientador foi minha, aliás, foi praticamente um favor, que um colega me concedera já que Beatriz não tinha uma linha de pesquisa voltada para as ciências da saúde especificamente. Reiterava sobre a intenção de formamos família, mas, a longo prazo, e agora, com meses, ela já assumira um noivado com Alicinha? Era humilhante para mim, Cris tinha razão pela revolta.

 

-- Luiza! Fala comigo! Você tá branca que nem papel!

 

O berro de Cris me arrancou daquele mundo de indagações.

 

-- Cris, tem certeza disso? Não era uma brincadeira, sei lá...

 

-- Lu, tenho certeza sim. Não foi brincadeira, ouvi o Eduardo e o Bruno falando, aqueles que você considerava tanto como amigos, e... Eu sinto muito. Na verdade nem sinto muito, eu tô é muito puta da vida com aquelas intojadas, isso sim!

 

-- Cris, eles sempre foram amigos da Bia, se tornaram meus também por consequência... Agora, se você não se importa... Eu vou tomar um banho e deitar...

 

-- Claro que eu me importo! Não vou te deixar sozinha, vamos fazer duas bonecas de pano e espetar com agulha a noite toda pensando naquelas duas!

 

-- Cris, vudu não vai funcionar, nós já tentamos isso...

 

-- É verdade, tentamos. Não importa, fico aqui te fazendo companhia...

 

-- Obrigada amiga. Mas, eu preciso ficar sozinha.

 

-- Ah não! Sei muito bem o que você vai fazer... Não vou não!

 

-- Cris eu estou bem... – Uma lágrima percorreu minha face negando minha afirmativa – Vou ficar bem. Corrigi-me.

 

-- Cara, eu vou ficar aqui, nem que seja pra amaldiçoar aquelas duas, mas, fico aqui!

 

Toda boa vontade da minha amiga em ficar e me fazer companhia naquela noite, se rendeu ao cansaço. Quando sai do banho, depois de amargar um choro silencioso e sentido, encontrei Cris deitada em minha cama, em sono profundo, a TV transmitia um desenho animado qualquer, nem dei atenção.

 

Fiquei ali, olhando para a noite através da janela do meu quarto. Sucumbi a notícia que minha amiga me trouxe. Se há uma hora atrás eu me julgava como quem caminhava para voltar à vida, naquela noite percebi o quão frágil era meu progresso. Chorei na companhia da lua tímida. O sal que eu sentia nos meus lábios me fez sentir vergonha e pena de mim mesma. Como eu ainda conseguia me magoar daquela forma por causa de Beatriz? Ah Luiza! Você não aprende... Censurei-me.

 

Na gaveta do criado mudo, meu refúgio, a tarja preta dos meus ansiolíticos foi meu alívio. Rivotril seu lindo, vou lhe usar... Deitei-me e comecei a prestar atenção no desenho animado que passava: Procurando Nemo. Eis o ápice da minha ridícula dor de amor: ouvir conselhos de um peixe azul com amnésia!

 

-- “Continue a nadar, continue a nadar, nadar, nadar, pra achar a solução, continue a nadar...”

 

 

Dory, a companheira de Nemo cantava. E eu, achando que era uma conspiração do universo me enviando mensagens positivas... Mas na verdade o que eu desejava, era ter aquela memória da Dory, e esquecer o quanto Beatriz ainda me fazia sentir e sofrer.

Fim do capítulo


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Comentários para 5 - Capítulo 5: LIÇÃO N.º 3 – CONTINUE A NADAR, CONTINUE A NADAR:
Carey
Carey

Em: 03/04/2018

Kkkkkkk!!!! Já começou as atrapalhadas, adoro.... me lembra uma pessoal. 

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