Capítulo 14
Fernanda
Eu sei que a insuportável, enjoada e fura olho da Bruna é amiga dela, que ela precisava amparar a amiguinha, que a menina está em um momento difícil e blábláblá, mas precisa dormir juntinho? Capaz de ter deitado de conchinha, ai que ódio dessa ensebada!
O pior não é nada, já são mais de 17:00 horas e minha belíssima namorada não deu sinal de vida, eu aguento?! “Oi amor, eu tô viva!”, nem para isso aquela morena deliciosa de 1,75 e olhos caramelo serve. Onde é que essa palhaça colocou o celular? Será que enfiou no cu?! Porque não é possível, velho!
Ah, gostaria de salientar que eu já liguei para a minha digníssima mais de dez vezes e a bonita não atendeu, não respondeu minhas mensagens, sequer no escritório ela foi hoje, porque sim, no ápice do meu desespero para encontrar essa mulher eu disquei para lá pelo menos umas cinco vezes, a secretária provavelmente acha que eu sou corna a essa altura do campeonato ou uma namorada obsessiva, o que, bem, não deixa de ser verdade.
Minha paciência a muito foi embora, e com ela minha sanidade mental e minha coordenação motora, não acertei um passo de dança nesse inferno! Saí da sala irritada, com Pedro ao meu lado.
- Mona, o que houve? Você sempre foi tão disciplinada! – eu fitei-o de soslaio e sentei no banquinho com as mãos na cabeça.
- A Lívia não dá sinal de vida.
- Hum, sabia que tinha dedo da ogra ai! – eu revirei os olhos – mas aquela racha tá sumida a quanto tempo?
- Desde ontem – ele fez uma careta de incredulidade – mas eu estou com uma sensação estranha e a Lívia não é dessas que somem, ela nem foi ao escritório.
- Por que você não vai à casa dela?
- Ótima ideia, e você vai comigo – sentenciei enquanto adentrava o vestiário feminino para me banhar.
Fui o caminho inteiro escutando os resmungos do Pedro ao meu lado, eu sei que ele nutre uma implicância em relação a minha engenheira, o que aliás era reciproco. Mas não era por isso que eu iria impedi-lo de vê-la sob o meu prisma de visão.
Ótimo, cheguei ao apartamento dela e passei cerca de 20 minutos em busca da chave, estava em minha bolsa, eu sabia disso, no entanto, não a encontrava. Diante da minha morosidade Pedro, no auge de sua impaciência, pegou-a de minhas mãos virou de cabeça para baixo e jogou tudo no chão, caiu tudo inclusive a chavezinha prateada.
Só tem um detalhe, ela escorreu para debaixo da porta e eu ávida para entrar logo no apartamento tentei pegá-la assim que me abaixei, mas o objeto só escorregou mais para dentro, eu sentei ao lado da porta frustrada. Pepê, me olhava com um sorriso e dois grampos que eu não sei como ele arranjou, o rapaz se deitou no chão e engenhosamente trouxe a chave para o nosso lado. Dei um beijo estralado na bochecha do meu amigo e adentrei em casa.
Juro por Deus que a cena que eu vi me fez querer empalar minha namorada viva, por que diabos tinham tantas roupas de mulher jogadas na sala da casa dela? Sim, calça, camisa, tênis, meia, antes de chegar ao quarto já passei na cozinha e peguei um cutelo.
Sim, meu coração parou quando entrei no quarto, mas antes fosse por uma suposta traição, respirei fundo para não cair sentada, tinha sangue no quarto, nos lençóis, gotas pelo chão, marcas de pisada, dois celulares arrebentados de um lado, os óculos da morena quebrado do outro.
Ao observar melhor o ambiente percebi que não só no quarto tinha sangue, mas também na sala, o sofá e a parede próxima a porta tinha marcas de mãos. Aterrorizada deixei algumas lágrimas caírem, mas rapidamente as limpei, esse não era o momento de fraquejar, poderia ser que a engenheira ainda estivesse bem, eu precisava acreditar nisso.
Diante daquela tormenta, meu amigo puxou o celular dele e começou a discar para a polícia, mas eu o impedi. Caso fosse um sequestro talvez avisar a polícia só assustaria mais o sequestrador.
- Acorda Lívia, não foi sequestro – ele apontou para os celulares e para a escrivaninha onde estavam o notebook e o tablet da morena – você acha que se fosse por dinheiro os caras não teriam levado os bens dela?
Respirei fundo uma, duas, três vezes, nada daquilo fazia sentido, como alguém entra aqui de madrugada, sim eu sei que foi esse horário porque falei com a morena pouco antes de dormir e hoje ao acordar seu número já caia não atendia mais, e o porteiro não faz nada? Ninguém chama a polícia? Só Brasil mesmo!
Peguei meu celular e tentei ligar para a única pessoa que poderia me ajudar, ou pelo menos dividir a preocupação comigo naquele momento. O homem me atendeu claramente com desconhecimento do meu numero.
- Seu Oscar, sou eu a Fernanda, sua nora – esclareci para o senhor que soltou um “ah” em reconhecimento – teria como o senhor vir até a casa da Lívia? – preferia conta-lo pessoalmente, por telefone poderia parecer pior, se é que isso é possível.
- Aconteceu alguma coisa, minha filha? – senti a aflição em sua voz.
- Olha não vou mentir para o senhor, aconteceu sim, mas é melhor o senhor vê pessoalmente, se não sua imaginação pode piorar a situação.
- Tá certo, minha querida, já estou indo.
Poucos minutos após eu desligar o telefone, observei Pepê adentrar o cômodo com um pen driver na mão, encaixa-lo no computador da Lívia e mexer no arquivo. Diante do meu olhar o rapaz esclareceu:
- Solicitei ao porteiro as gravações da noite de ontem e ele generosamente me concedeu – deu um sorrisinho malicioso, eu revirei os olhos. Minha namorada correndo risco de vida e Pedro paquerando o porteiro, eu mereço viu?!
Depois de assistir vários minutos de vídeo eu sentei na cama desesperada, tantas pessoas iam e vinham naquele prédio como a gente ia identificar quem foi?! Eu já arrancava meus fios louros da cabeça quando o dançarino me chamou.
- Nanda, esse cara aqui não parece com o homem da praia? – perguntou abismado.
- Parece sim, parece muito, mas o que ele faz aqui nesse prédio? – mirei o horário que constava na gravação, por volta da 02:00 horas – o horário é compatível com o sequestro, porque ele aparece por esse ângulo?
- Porque ele não entrou pela portaria, provavelmente pulou um muro. Ah, e Nanda olha aquilo ali – apontou para uma lenço preto jogado no chão, era o que o rapaz da filmagem usava como bandana na cabeça, não havia dúvidas de quem adentrou o apartamento da Lívia.
- Meu Deus, foi ele! – conclui horrorizada – mas quem é esse cara?
- O Marcos, meu filho e irmão da Lívia – falou o senhor Oscar que acabara de ingressar no quarto e olhava catatônico para o cenário – meu Deus, o que esse menino fez?!
- Esse cara é o irmão da Lívia? Então ele...- os olhos do Pedro estavam esbugalhados, o rapaz me fitava nitidamente perplexo, obviamente eu sabia o que meu amigo queria dizer, além de ser um psicopata lunático aquele homem era também pai do meu filho. Senhor, eu ia perder minha mulher com certeza.
- Pepê não tenho condições de absorver isso agora – sussurrei baixinho.
- Minha filha, o que ele fez com minha filha? – seu Oscar já estava ao meu lado em lágrimas. Ok, eu chamei-o para me ajudar, não para me deixar mais desesperada.
- Senhor, você sabe para onde o Marcos poderia levar a Lívia? Ou sua esposa que é tão próxima a ele?
- Não, acho que nem ela sabe, depois de ontem...- ele parou reflexivo e eu lembrei da situação ocorrida, seu Oscar pediu uma quantia considerável a Lívia sem dar demais explicações – deu pra perceber que nem ela sabe de muita coisa.
- O que teve ontem seu Oscar? – o senhor me encaro sério, se ele não me falasse eu ia meter aquele cutelo na cabeça dele – fala logo, porr*!
- Calma, Nanda! – Pedro se levantou para me segurar.
- Calma o caralh*, minha mulher está correndo risco de vida e esse senhor tentando proteger o filhinho demoníaco dele – lágrimas de ódio se aproximavam dos meus olhos.
- Tudo bem, ela tem razão – fez uma pausa e baixou os olhos envergonhado – ontem uns traficantes foram a minha casa, queriam o Marcos ou o dinheiro, a gente não tinha então eles ameaçaram nos matar, quebraram algumas coisas e eu pedi auxílio a Lívia, foi isso – falou tudo de uma só vez e soltou o ar.
Eu parei perplexa, essa história ficava cada vez pior, além de bater na namorada, ele tornou a se envolver com o narcotráfico e sabe lá Deus o que mais esse homem já fez.
- Eu vou ligar para a polícia – o senhor sacou o telefone e falou com alguém do outro lado – daqui a alguns minutos eles já estão vindo e ...
Eu saí andando, nem ouvi o que aquele senhor terminava de falar. Precisava salvar minha namorada das mãos daquele imbecil, e conhecia alguém que podia me ajudar.
Enquanto descia pelo elevador do prédio saquei o meu celular e disquei um número que a anos não utilizava na esperança de que este ainda funcionasse, após alguns segundos uma voz máscula atendeu do outro lado.
- Que surpresa deliciosa a sua ligação.
- Blake eu preciso muito de sua ajuda – disse desesperada – preciso falar contigo pessoalmente com urgência.
- Tudo bem, me mande seu endereço que eu encaminho um dos meus funcionários para te buscar.
Marquei em uma cafeteria ali perto, e poucos minutos depois uma luxuosa BMW parou para que eu entrasse, fitei o motorista tão conhecido estranhamente envolto em um terno escuro.
- Gringo, virou motorista agora?
- Fernanda, quanto tempo! – sorriu para mim e apertou minha mão. Abriu a porta para que eu entrasse, arqueei as sobrancelhas – as coisas mudaram, o chefe agora é um homem de negócios, resolver se alinhar melhor na sociedade, e como minha mulher engravidou eu quis sair mais da marginalidade, ai virei motorista, não mexo mais com porcaria, tenho carteira assinada e tudo, até plano de saúde acredita? – falou todo contente.
- Pôxa que bom! Fico feliz por você, Gringo – apertei seu ombro.
- Ah, Fernanda, meu nome é Charles – eu olhei-o surpresa – é que o chefe não quer mais que a gente use esses apelidos do tráfico, os funcionários direto dele são todos chamados pelo prenome ou sobrenome, depende do caso - eu assenti.
- Então presumo que devo chama-lo pelo nome também – o motorista concordou com a cabeça – e qual o nome dele?
- Bartolomeu – eu quase gargalhei, definitivamente não combinava com ele – é estranho, mas ele prefere ser chamado assim - tá, né?! Nesse momento se ele quisesse que eu chamasse de Jesus eu chamava! – bem chegamos.
Olhei para o local, era um prédio executivo todo espelhado, uma sala naquele lugar deveria custar uma fortuna. Além disso, um mero traficante não se instalaria ali, chamaria muita atenção. Subi até o 24° andar como me foi indicado, e uma secretária me encaminhou para a sala do Blake, quer dizer, Bartolomeu.
- Olá, minha princesa! – levantou-se para me abraçar. O homem estava bem diferente, não pela idade, mas trajava um terno bem cortado azul marinho com sapatos lustrosos, uma barba bem delineada, um odor de perfume importado, até os gestos pareciam mais suaves – me conte, a que devo a honra da sua visita?
- Bartolomeu – ele me sorriu – eu preciso de sua ajuda para salvar a vida de minha mulher.
- Não sabia dessa sua preferência, mas me conte isso melhor!
- Bem, eu não sei se você se recorda da Lívia? Ela tava comigo no dia que eu fui pagar a sua fiança, ela não quis me deixar ir só na delegacia.
- Lembro sim, vagamente, mas lembro. O que houve com ela?
- Ela e o irmão se odeiam, ele é mal caráter, além de ser envolvido com o tráfico de drogas, batia na namorada que é amiga da Lívia, faz um monte de besteiras. Enfim, ele sequestrou a Lívia e a Bruna, e eu não faço ideia da onde ele pode ter levado elas! – conclui com lágrimas nos olhos.
O negro a minha frente gentilmente me ofereceu um lenço.
- Bom, se ele é envolvido com o tráfico provavelmente algum dos meus “gerentes” o conhece, qual o nome dele?
- Marcos Muriel.
O homem a minha frente me fitou e eu vi um brilho em seu olhar, com certeza o conhecia.
- Eu conheço esse filho da puta! Tem uma dívida com minha equipe, além disso ele fazia trabalho duplo entre duas facções criminosas, muito procurado esse infeliz, é uma questão de tempo para que “passem” ele. Só um momento que vou ver o que posso fazer.
Bartolomeu se afastou um pouco para fazer uma ligação, nesse momento eu observava a sala luxuosa, com uma mesa ampla de carvalho maciço, poltronas confortáveis, aparelhos modernos, vários livros, inclusive de administração em que ele era formado, pois é nem todo traficante é alienado.
- Pois bem Nanda, tenho uma boa e uma má notícia para te dar – disse enquanto se sentava em sua confortável cadeira – qual você quer primeiro?
- A boa, a ruim, sei lá – estava realmente nervosa.
- Bem a boa é que eu sei a localização dele, a ruim é que é uma fábrica onde tem diversos instrumentos fatais, sem querer assustá-la – me deu um sorriso nem um pouco confortador.
Ele me deu o endereço, e antes de sair eu perguntei curiosa:
- Por que essa mudança toda?
- Bem, queria mudar meu status social, cansei de ser um traficante procurado pela polícia, tenho interesse em aumentar minha participação para melhorar o país.
- Não me diga que inventaram licitação para entorpecentes? – ri distraída.
- Não, minha cara! Vou entrar para a política! – fitei-a embasbacada. Só o Brasil mesmo – mas isso são planos futuros.
Agradeci o favor do empresário de “especiarias alternativas” a minha frente e fui em direção ao endereço que me foi passado com o coração na mão na esperança que nada demais tivesse ocorrido com a minha morena.
Fim do capítulo
Boa noite, meninas!
Bem, espero que vocês gostem do novo capítulo!
Um abraço!
OBS. Meu notebook está meio velhinho e eu sou meio ignorante digital então toda vez que eu mexo aqui eu faço alguma merda, então eu gostaria de pedir desculpas a "Lili" por ao tentar responder o comentário ter o apagado. Realmente me desculpe. Enfim, conto com o carinho e a compreensão de vocês.
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]