Capítulo 12
Fernanda
A quase um mês eu percebia uma mudança na Lívia, as vezes ela me olhava com um certo rancor, alguma coisa inexplicável.
Um dia desses a quase três semanas atrás ela me abordou ainda na academia, era nítido que havia bebido e me inqueriu reiterada vezes se eu tinha algo para contar a ela, mas eu simplesmente não sabia do que ela estava falando e diante das minhas negativas ela foi embora.
Eu nunca tive medo da Lívia, eu sei que ela está fazendo um tratamento para controlar o gênio difícil e uma suposta agressividade, agora sinceramente? Só ela acha que o tem. Na verdade, a única coisa que sempre tirou a engenheira do sério é o irmão, o tal da Marcos, o qual eu não conheço e diante dos fatos que me são narrados nem faço questão de conhecer.
Mas voltando a realidade, apesar do comportamento esquisito da minha morena ela fez questão de comparecer à consulta ao médico, e encontrava-se ao meu lado na maca, com as mãos por cima das minhas, enquanto o Dr. Antônio olhava o bebê, seus olhos marejados não deixavam de indicar a emoção que sentia.
Lágrimas que escorreram quando o doutor apontou para o coraçãozinho pulsante do nosso filho. Sim, nosso. Eu sei que independentemente da nossa relação a Lívia sempre veria a criança como filho dela, porque a engenheira era assim generosa e com afeto suficiente para abraçar o mundo.
- Então meninas, vão querer saber o sex* da criança? – perguntou enquanto desgrudava os olhos da tela para nos fitar.
Eu a olhei e ela ainda parecia em êxtase mirando o nosso filho. A engenheira me olhou atônita após eu sacudir o braço dela.
- Que foi?
- A criança nem nasceu e você já tá botando olhado – ela fechou a cara pela brincadeira e eu ri – sobre saber o sex* o que você acha?
- Eu acho que é menina. – eu revirei os olhos, não foi isso que eu perguntei, a criança nem nasceu e a Lívia já está meio retardada.
- Fala logo o sex*, porque essa aqui não vai conseguir me dar uma resposta conclusiva hoje – o senhor ao nosso lado riu.
- Sua esposa está certa, é uma menina – a Lívia sorriu entre lágrimas, sim, muitas lágrimas, já vislumbrava a hora que seria afogada. Meu Deus, como essa mulher é chorona.
Após sair do médico a morena resolveu me arrastar para uma cafeteria, ela queria comemorar e na cabeça dela celebrar significa se empanturrar de doces. A engenheira estava muito feliz, ela já tinha ligado para cada um dos familiares e amigos para avisar que teria uma filha.
Enquanto nós esperávamos os milhões de doces que ela encomendou para uma comemoraçãozinha lá em casa, a morena resolveu ir ao banheiro. Estava mexendo no meu celular quando senti a presença de um homem ao olhar para trás me deparei com Roberto, o fotógrafo, senti meu coração gelar.
- Já recebeu meu presentinho? – perguntou com um sorriso cruel nos lábios.
- Não sei do que você está falando! – disse com receio.
- Você poderia ter sido uma boa menina, eu até pensei em te chantagear, mas o que seus amiguinhos fizeram no meu rosto – apontou para uma cicatriz no lado esquerdo, nem era tão grande assim, ele que era meio fresco – não merece perdão!
- Olha cara, me mira e me erra! – virei as costas para tentar sair de perto dele, mas o homem segurou meu braço com força eu ainda pensei em me defender mas não deu tempo, a Lívia já tinha chegado.
A engenheira segurou-o pelo colarinho da camisa polo verde musgo e o imprensou na parede, o homem não imaginava aquela força e arregalou os olhos, até eu estava surpresa.
- Da próxima vez que você chegar perto da minha esposa eu vou arrancar suas bolas e costurar na sua boca com instrumentos enferrujados que é para você ter uma morte lenta e dolorosa com tétano – ela falou baixinho, mas ainda sim de forma incrivelmente ameaçadora.
Quando ela o soltou ele caiu tropeçando nas próprias pernas a moça que estava ao lado da Lívia, que só então eu reparei ser a estagiária nojenta, o ajudou a se levantar apressadamente e saiu dali com o olhar pesaroso. Por incrível que pareça a morena a mirou em um misto de surpresa, raiva e decepção. O que estava acontecendo ali que eu não percebia?!
A engenheira soltou uma lufada de ar e se dirigiu ao caixa para pegar a caixa cheia de guloseimas. Ao me dar as mãos do caminho da loja ao carro eu senti um leve tremor, ela estava bem nervosa.
Ela abriu a porta do carro pr’eu entrar, e deu um longo beijo na minha mão.
- Eu sempre vou proteger a nossa família e sempre vou escolher você meu amor!
Frase estranha que para mim naquele momento não fazia o menor sentido. Certo, provavelmente ela estava abalada pela situação ocorrida na doceria. Deixei para lá e aproveitei para deitar a cabeça em seu ombro enquanto a morena dirigia.
Lá em casa foi só festa, os nossos pais, com exceção da mãe da Lívia, estavam alegres com a chegada do novo membro da família e já conjecturavam um possível nome para a netinha.
No entanto, a festa foi interrompida por uma ligação no celular do meu sogro, apesar da sua tentativa de disfarçar era visível o quanto estava perturbado. Minha namorada ainda tentou interceder, talvez leva-lo no lugar, mas o senhor tentou de todas as formas se furtar das investidas da Lívia que ficou claramente ressabiada.
No entanto meus pais, sempre animados trataram de desanuviar o clima tenso que se instalara.
- Vixi, filha da Nanda vai te dar o maior trabalhão viu, Lívia? – meu irmão insuportável tinha que fazer gracinha.
- Nem me fale, eu bem lembro como sua irmã era quando mais nova!
- Hey, nem era assim.
- Não era...raiai...minha avó retava porque a Nanda tinha mania de pular a janela para roubar o bolo do café da manhã. – o Fabrício me entregando.
- Uma vez ela colocou laxante na bebida da coleguinha que ia dançar na quadrilha de São João da escola com o menininho que ela gostava – eu vi a Lívia arregalar os olhos.
- Ah e teve também uma vez...
- Parou! Daqui a pouco a Lívia desiste até de mim – olhei para ela que ria das minhas peripécias infantis – amor eu era criança, super normal isso.
- Claro, normal causar uma disenteria em uma criança só por vingança.
- Nada disso, foi até bom para dar uma limpada naquele intestino dela, a menina só vivia doente, até parou mais de faltar aula.
- Isso fora o assanhamento, mas essa parte você deve conhecer bem né Lívia?! – meu irmão queria mesmo queimar meu filme. A engenheira ficou vermelhinha que nem um tomate. Fofa!
- Crianças eu sei que a conversa está ótima, mas temos que ir. – meu pai me abraçou já se despedindo, apesar do acidente que sofreu ele já estava bem melhor e parecia se adaptar bem a perna mecânica.
Minha família foi embora e só ficamos eu, a Nanda e uma garrafa de vinho. A morena terminava de lavar as coisas enquanto eu mirava aquele recipiente, fazia meses que eu não bebia por conta do neném, mas tive uma ideia.
Enchi uma taça com o vinho tinto e entreguei a morena que terminava de enxugar as mãos, a engenheira me olhou com a sobrancelha levantada.
- Posso saber por que a senhorita que me embebedar? – eu neguei com a cabeça. Eu poderia gritar para ela que tinha quase um mês que a gente não trans*va, mas ia ficar meio feio né?! Resolvi dizer uma meia verdade.
- Saudade de sentir o gostinho do vinho.
Passei os braços ao redor do pescoço da morena que me sorriu, deu uma longa golada no vinho, engolindo aos poucos para que o gosto fosse preservado em sua boca.
A Lívia girou, me prendeu contra a bancada central e finalmente me beijou. Eu podia beija-la o resto da minha vida. O sabor do vinho misturado a maciez dos lábios dela era irresistivelmente delicioso.
Eu senti seus braços circundarem meu corpo e me levantarem, fazendo-me sentar na bancada. A morena me despiu com agilidade e carinhosamente passou a língua no meu seio esquerdo, me deu um sorriso descarado e empurrou meu corpo sobre a mesa, derrubando sobre mim o que restava do vinho da taça.
Os lábios delicados dela começaram a reexplorar meu corpo, eu a muito já sentia um liquido viscoso escorrer por entre minhas pernas, ela sorriu ao passar levemente um dos dedos por ali e sentir o quão úmida eu estava. A engenheira se abaixou e passou a língua lá debaixo até pertinho do meu umbigo, só para me provocar, eu soltei um longo gemido e empurrei a cabeça dela pra baixo.
- Da um banho de língua na sua lourinha, dá?! – pedi manhosamente.
A Lívia me sorriu, passou um dedo entre minhas pernas e passou na minha boca, beijando-me em seguida.
Acordei com a Lívia gem*ndo, e não era do tipo de gemido que eu apreciava. A doutora se entupiu de doce e como ela não tem o hábito, já viu né? Deu uma bela dor de barriga.
Eu fui até o banheiro a procura da minha caixinha de remédios, mas só tinha o envelope lá a pílula que é bom nada. Me xinguei mentalmente pela minha desorganização.
- Amor, eu vou ligar para uma farmácia que entrega em casa, é rapidinho – procurei freneticamente o número no meu celular.
- Não precisa, na minha pasta tem. Pega lá – choramingou ainda presa no banheiro.
Nossa, essa pasta da Lívia tem mil papeis, não sei como ela se encontra nisso, revirei a bolsa dela até achar os comprimidos, fiz uma bagunça maior ainda, alguns projetos caíram no chão, sim ela arrancaria meu pescoço depois, mas foi por uma boa causa.
Catei uns papeis e fotos se revelaram para mim, eu reconheci aquelas imagens, como chegaram até a morena? Meu Deus, era por isso que a Lívia estava magoada? Mas por que ela não me falou nada? Que mulher cabeça dura é essa?
Dei um longo suspiro, não ia brigar agora, não agora. Retornei ao quarto ela já tinha saído do banheiro com uma toalha amarrada na cintura, os lábios estavam um pouco descoloridos e a barriga praticamente negativa. Coitada, pelo tempo que demorou no banheiro não devia ter mais nada ali dentro.
- Obrigada! – sussurrou agradecida quando tomou o copo e o medicamento da minha mão – acho que não tenho condições de ir à empresa hoje.
Eu concordei com a cabeça. Ela me puxou para ela e me abraçou! Meus sentimentos estavam bagunçados, claro! Só que depois de tanto tempo ainda era muito bom estar juntinho dela.
- Estou tão feliz com a nossa filha, sabia? – ela deitou a cabeça no meu peito devagar, as vezes eles ficavam um pouco doloridos e ela sabia disso – pensei em comprar um apartamento maior o que você acha? Eu conheço algumas corretoras bem confiáveis, a gente pode consulta-los e...
- Por que? Aqui tem dois quartos, cabe muito bem nós duas e o bebê.
- Sim, mas e se a gente tiver um menino? Eu quero ter outros filhos! Ah e também pensei em trabalhar mais em casa para poder acompanhar melhor o crescimento das crianças. – ela levantou a cabeça e me olhou séria – eu não preciso estar no escritório todos os dias.
Como é isso Brasil, a gente nem teve um filho e ela já quer outro?! Calma, calma, calma.
- Lívia, não é melhor ir com calma? – ela torceu a boca, e me olhou decepcionada. Não, não me olhe desse jeito. – é só que eu quero curtir essa primeiro, e dizem que bebês dão muito trabalho.
A morena sorriu, mas imediatamente fez uma cara de desconforto e colocou a mão na barriga.
- Tudo bem, mas pelo menos vamos reformar esse quarto que você tem para deixa-lo mais seguro para o bebê, e mais confortável para você também – ela olhou ao redor – tem que ver a questão das tomadas, das quinas, e esses enfeites pequenos. Vou dar uma pesquisada melhor depois.
Eu fui dar aula e deixei a morena em casa, mas tinha combinado de almoçar com ela, que aliás cozinharia para mim. Saí da academia meio atrasada, mas sabe quando você tem a sensação de que tem alguém incessantemente te olhando? Estava assim, mas enfim, deixei para lá.
Cheguei em casa e o cheiro estava incrível, quando cheguei na sala a Lívia estava terminando de pôr a mesa, a morena fez uma paella de frutos do mar para mim. A mesa coberta com uma toalha de linho branco, e guardanapos de pano azul marinho, com detalhes bordô, os talheres de prata que eu nem sei de onde ela tinha tirado, e as taças de cristal.
- Nossa, eu esqueci de alguma data especial? – perguntei receosa, estava tudo muito lindo mesmo, fiquei encantada.
- Não – ela me entregou uma rosa branca – especial é ter você na minha vida!
A morena selou meus lábios de forma carinhosa, e meu estomago resolveu se manifestar de forma nada romântica.
Após o almoço, nem preciso dizer que eu estava jogada no sofá, meio encalhada de tanto que comi. A morena sentou-se ao meu lado com o tal do envelope pardo nas mãos, eu a fitei e ela estava bem séria.
- Nanda a gente precisa conversar.
Eu sabia o conteúdo da conversa, mas iria ver até onde aquilo ia dar.
- Diga! – disse de forma displicente.
- Eu recebi essas fotos lá no escritório – ela jogou as fotografias sobre a mesinha de centro – eu pensei em deixar para lá, não tocar no assunto com você, mas esse cara está te rondando e eu não sei bem o que está acontecendo – ela passou as mãos no cabelo exasperada.
- Você está me perguntando se eu te traí? – cruzei os braços e me ajeitei melhor no sofá.
- Não, eu estou perguntando o que houve, e por que ele veio atrás de você!
É parece que eu teria uma longa história para contar, e eu só espero que essa calma e paciência dela se mantenha até o final.
Fim do capítulo
Meninas, boa noite!
Eu sei que as vezes eu demoro a postar, em razão das ocupações diárias mesmo, no entanto, quero deixar claro que pretendo terminar o conto, não tem data específica ainda, mas eu realmente pretendo!
Bem, eu gostaria de saber de vocês se estão gostando da história?! Para mim é importante ter esse retorno de vocês!
Obrigada pela atenção e carinho!
Um abraço!
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