Para você ter a ideia de quem você é, e de quem poderia ser e até mesmo de quem você foi você precisa de tempo para reflexão.

 Theodor W. Adorno nos lembra de que muitas das vezes, o nosso tempo de trabalho não é para nós, e nosso “tempo livre” também não esta sendo para nós.

Tempo livre, e tempo de trabalho se misturam de forma tão compartimentada, que de maneira tão exacerbada estamos perdendo, nosso tempo de vivencia do “hoje”.

Tempo esse, que nós leva a indagações: quem sou eu? O que faço da vida? Como é minha vivencia em sociedade?

Na maioria das vezes, esperamos os problemas e crises, que a vida noss mostra para assim, fazermos essa reflexão.

Será que A Isadora será capaz de se encontrar no “hoje”? Será que Agnes foi à forma que a vida encontrou para mostra-la que é necessário, refletirmos e buscarmos a mudança sem medo de arriscar?

AUTOCONHECIMENTO E A DIMENSÃO ESPIRITUAL DA EXISTÊNCIA | LUÍS MAURO SÁ MARTINO

 

 

 

(Isadora) “Hoje” é algo muito subjetivo de se pensar, o que tenho hoje poderei não ter amanha, quem amo hoje, poderei não amar amanha, o que faço hoje poderei não fazer amanha.  Isso invade minha tão incomodada mente. E deparo-me com a seguinte situação A Agnes está de um lado da porta, e eu estou do outro lado, porém não é somente uma Porta que a separa da vida hoje.

Há varias barreiras que a impedem de viver o hoje, no sentindo mais verdadeiro da palavra, ela se encontra e se perde constantemente, o que me faz lembrar Heráclito “A mudança é a única coisa constante que existe no universo”.   Tudo flui, e muda... A Agnes é a mais perfeita prova disto.

O desespero insiste em tomar conta do meu ser, confesso que estou com dificuldades de lidar com isso. O fato é que eu não consigo aceitar,  que meu ser ecoa por mudanças. A Agnes não abre a porta e eu não quero sair da aqui.

Será que eu estou disposta a abrir mão de tudo que conquistei, e embarcar no desconhecido mundo, chamado “AGNES”?

Quais barreiras eu pretendo quebrar? Ir além dessa porta pode ser incrível, porém voltar e não insistir não há nenhuma logica.

 

(Isadora)

-- Agnes abre essa porta, eu não vou te fazer mal me deixa te ajudar, por favor, abre.

Falo, mais não ouço nenhuma resposta, não ouço mais nada...   Não quero que ela se perca novamente, mas sei que isso não cabe a eu controlar, eu também estou assustada com esse sentimento que está desabrochando novamente.

 

 -- Agnes eu vou arrombar essa porta nem que você me peça eu não irei-me afastar de você.

 

(Agnes) Não entendo por que a Isadora não me deixa em paz, é bem melhor eu sumir de uma vez por todas do que continuar assim.  Eu não me suporto, não sei o que sou, e não quero mais saber. 

 

-- Me deixa em paz

 

(Isadora) o mais correto seria isso, nunca ter vindo parar aqui, te deixar em paz, seguir minha vida de solidão... Mais eu não era livre estando assim e um dia... Chamado hoje eu decido-me sentir livre e fazer o que meu coração deseja...

 

-- Nunca vou te deixar em paz

 

Acabo de falar isso, e coloco toda a força que tenho e consigo abrir a porta, não quero invadir a privacidade dela, mas não quero a deixar só.

Ela estava de joelhos no chão e na mão tinha uma faca? Não pode ser o que ela quer fazer.

 

 

(Agnes) eu estava decidida a sumir e me ajoelhei no chão segurando uma faca, já estava tomando coragem, quando a porta se abre de forma brusca.

 

-- Por favor, larga isso Agnes, não vai fazer besteira.

-- me deixa você não me entende

-- me deixa te entender, eu quero estar com você, quero te ver bem.

-- eu não quero mais incomodar ninguém me deixa em paz

-- solta isso, por favor... Segura a minha mão, vai ficar tudo bem, eu vou te proteger ninguém vai te fazer mal.

-- não posso

-- pode Agnes, me deixa cuidar de você, vai ficar tudo bem eu vou te arrancar desse quarto, a gente vai sair para olhar o céu, para vê as flores e os pássaros, você vai experimentar sabores esqueceu? Você gosta de mim? Eu gosto de você, e não quero me afastar, deixa essa faca, e me da sua mão.

-- de que adianta? Amanha eu estarei com mesmo desespero sempre é assim, eu só consigo sentir medo e angustia por não lembrar de nada.

-- amanha, e todos os outros dias eu vou estar com você.

-- mais e seu eu não lembrar?

-- você não precisa se sentir pressionada, eu estou disposta a ficar aqui com você, seja o tempo que for.

-- por que você não me deixa fazer o que eu tenho que fazer...

-- por que eu não posso deixar você fazer isso, vamos levante e me da sua mão.

 

(Agnes) eu não tenho mais forças para lutar sozinha... Estou esgotada...

-- tá bom...

(Isadora) dizem que ninguém entende as coisas do coração, e nesse momento eu não entendo.

-- nunca mais, pense em fazer isso Agnes...

Falei isso, e a guiei para sentar na cama, ela se sentou com as pernas encruzadas, e ainda parecia assustada, sei que nessa hora ela se sente fragilizada, e não é para menos...

 

-- eu tenho medo...

-- sei que sim Agnes, eu também tenho medo de tantas coisas... (falei me aproximando e a olhando nos olhos) confie em mim, Sei que é muito difícil pedir isso, mais pelo menos por hoje, confie...

-- pode me abraçar?

-- logico que posso

 

(Isadora) ela não ter feito besteira já é o suficiente mais e agora? O que eu faço...

 

-- Agnes fica calma...  Tá

-- uhum

-- você gosta de músicas?

-- não lembro

-- então, eu vou cantar uma para você, posso?

-- pode Isadora...

-- você ainda não esqueceu meu nome, isso é bom...

-- eu ainda não dormi, nem tomei meu remédio.

-- olha hoje você não vai tomar remédio

-- eu só consigo dormi se tomar...

-- Não Agnes, você consegue dormi sim...  Vamos comer, e depois descansar... 

-- não quero comer

-- mocinha, você dá trabalho para se alimentar viu...

--  desculpa só  do trabalho...

--eiiii nada disso, não quero vê esses olhos tristes.  Você sorri com eles sabia?

-- não...

-- ah é tímida então, pois eu vou tirar sua timidez Agnes, cuidado eu sei fazer muitas cocegas,

-- nãoooo eu morro de ri

 

(Isadora) estou tentando ser mais natural possível, a mente dela está muito confusa, e hoje já foi emoções de mais...

 

-- vou pensar em seu caso mocinha, agora...  Vamos fazer o seguinte, coloque o pijama, que depois eu vou te alimentar, e aviãozinho de novo risos...

-- você me trata como criança

-- sei que não é criança, é uma linda mulher, mais nem por isso não pode ser mimada, agora vamos que não vou falar de novo... 

-- você é mandona

-- e você é teimosa (Risos) Irei sair para você se trocar, e já volto tá?

-- dessa vez, você volta mesmo?

--  volto sim

 

 

(Isadora) minha cabeça está a mil por hora, mais meu plano é o seguinte, como medico esse tal de Marcelo não vai fazer a Agnes de paciente...

Posso estar enganada ainda irei vê os exames, mas ela não tem esse tipo de amnésia. 

Arriscaria dizer que, os fatos em seu exterior estão contribuindo para esse diagnóstico.  Se esse Marcelo aplicar um remédio que seja sedativo no estado que ela tá só faz piorar a mente dela, e isso pode estar ocorrendo, ela fica muito presa em seu próprio mundo. Na sua própria mente e o não contato com novas experiências faz você se prender em seu próprio passado, e no caso dela, passado incerto por isso a dificuldade de assimilar novas memórias, nosso cérebro tem a capacidade de “organizar” passado, presente e futuro... E ela precisa fazer isso.

Enquanto ela se trocava, fui atrás de por meu plano em pratica, seu Pedro e o cretino do Marcelo estavam falando, e ouço parte do dialogo...

 

-- então me sogro, animado para o casamento?

-- Muito meu rapaz, logo será você e a Agnes também.

 

-- Se depender de mim isso nunca vai acontecer (não sei onde tirei coragem de dizer isso, mais querem saber? Se for para descer do salto eu vou descer, esse Marcelo pode até casar, mais que pare de fazer mal a Agnes, ele esconde muita coisa... E eu vou descobrir) (Isadora)

 

-- é isso mesmo seu Pedro, agora eu não posso lhe explicar mais esse rapaz, não é o que parece ser e nem merece sua filha.

-- não ouse me insultar (Marcelo)

-- não ouse você, um homem da sua idade deveria ter respeito com seus pacientes.

-- você não sabe o que diz, (Marcelo).

-- então me mostre que eu estou enganada quero vê o remédio que você aplica na Agnes

-- não tenho obrigação de te mostrar nada (Marcelo)

 

-- Eu não  estou entendendo o que está acontecendo aqui (Pedro)

-- não é nada, só essa menina que não gosta da minha presença, (Marcelo)

 

 

-- Seu Pedro é o seguinte, como profissional eu indicaria que você procurasse outros especialistas, que não fosse o Doutor Marcelo, estou falando como Profissional, tenho motivos, e a Agnes não precisa viver sedada a vida toda nem isolada do mundo...

-- você não é medica

-- não sou, e são por médicos como você, que desiste dessa área...

-- seu Pedro eu acompanho a Agnes desde o inicio, o senhor sabe o esforço que tenho feito esses anos todos por ela...  Por nosso namoro

-- eu não estou entendendo essa conversa de vocês (Pedro)

-- depois você vai entender seu Pedro, Marcelo quero vê o remédio

-- já disse não tenho obrigação de mostrar, e já estou indo embora já que minha presença  não é bem vinda.

 

(Marcelo) Tive que recuar por hoje, ela não pode vê o remédio, se não descobriria que estou dando sedativos...

 

-- já vai tarde...

 

-- Menina Isadora, o que houve?

-- Seu Pedro amanha lhe conto...   Desculpe-me agora, a sua filha esta me esperando...

 

(Pedro) não entendo essas coisas de gente formada, será que a minha filha tem chance de voltar a recuperar a memoria? E essa implicância entre o doutor e a menina Isadora....

 

 

(Isadora) Não pensei que ele iria recuar tão fácil, sabia que nada é certo com esse homem...

Depois do acontecido, passei no meu quarto troquei de roupa, e fui para onde estava a Agnes...

 

-- Posso entrar?

--estava te esperando

-- ah mocinha, vamos se alimentar o aviãozinho risos..

-- boba...

-- já me chamou de boba? Olha as cocegas eu já avisei risos...

 

 

(Isadora) já vai começar o momento fofura... e confesso que nem eu mesma imaginaria que iria gostar de fazer isso...

 

-- muito bem Agnes, está se alimentando muito bem.

-- gosto quando você faz isso, por mais que eu não seja uma criança.

-- você  esta mais falante

-- sim

 

(Agnes) depois que mudei de roupa, anoto em uma pequena agenda o que conseguia lembrar sobre meu dia, a chuva, o abraço dessa garota... O nome dela, os cuidados comigo, não sei como será amanha, mas para mim, o que está importando é o hoje...

-- Isadora, você vai me aplicar remédio?

-- sim

-- mas

-- não é remédio na veia, é remédio na alma...

-- e como funciona?

-- vou te mostrar...

 

(Isadora) Pedi que ela se deitasse na cama, e eu deitei junto...

 

-- você está confortável?

-- pode te abraçar?

-- deve risos...

E comecei a fazer cafune, e a cantar baixinho...

 

Pousou já cantar eiró

Enredou a gente num canga

Casou meu mundo em seu segredo

arredou antes de clarear

 

E me despertou o medo

De me ver na solidão

Pois tu voas, passarinho.

e eu nem sei sair do chão

 

Regressa logo por ligeiro

Encosta em mim pra descansar

Ancora o seu riso em peito

Faz do meu leito o teu mar

 

E se não for voltar

Faz favor de avisar

Que dói o tempo, passarinho.

Até eu me acostumar

https://www.youtube.com/watch?v=gKHbwp8CBsM

 

 

 

-- Isadora?

-- Oi Agnes

-- eu sou o passarinho?

-- dorme minha linda... Eu sempre vou estar, seja em qualquer direção que você queira voar...

 

continua

 

 

 

 

Fim do capítulo