Capítulo 32: " A vida, às vezes, bate e estraçalha a alma da gente. Um bom amigo nos lembra que apesar disso, ainda bem que possuímos uma!" (Stella Adler)
Capítulo 32
Depois que Louise saiu, ainda impressionada pela coragem e sensibilidade incomuns na idade da garota, fiquei andando de um lado para o outro dentro do meu apartamento.
Engraçado, sempre o achei grande demais para uma só pessoa, mas com tantas coisas na cabeça, naquele momento, meu apartamento parecia ter virado uma pequena gaiola a me aprisionar. Precisava sair para não enlouquecer e a primeira pessoa que me veio à cabeça para conversar foi Márcia. Mas, é claro que isso estava completamente fora de questão.
Liguei para a mansão à procura de Guto e Amélia me informou que ele, Suzana e papai tinham ido para o interior e só retornariam na tarde do domingo. Tentei o celular de Eva, que ainda não havia dado sinal de vida, mas seu aparelho estava fora de área. Porém, menos de dez minutos depois, ela me trouxe os documentos que eu havia pedido na noite anterior.
Chegou apressada, já que seu namorado a esperava no carro para curtirem o fim de semana na praia. Aquilo me deixou ainda mais angustiada. E angustiada passei o resto do sábado.
À noite, quando liguei para saber de papai, fingi estar bem e menti, dizendo que sairia para me divertir. Muito longe dessa verdade, passei boa parte da noite tentando, uma, duas, três, quatro vezes... ligar para Marina. Em todas as tentativas a mesma mensagem metálica: "...após o sinal, deixe seu recado...". Fui mais longe e tentei o hotel, mas disseram-me que ela havia saído.
Apesar da vontade de procurar o colo de Márcia crescer a cada segundo, esforcei-me ao máximo para não cair nessa tentação. Eu já havia magoado demais seu coração, agora era comigo, afinal, uma hora eu precisava crescer e aprender a resolver meus problemas sozinha. Dormir? Foi praticamente impossível e, quando o sono chegou, veio povoado de sonhos inacabados que me fizeram revirar na cama a noite toda.
Na manhã do domingo, sentindo-me literalmente estraçalhada, liguei para Guto e me convidei para ir ao encontro deles. Eu precisava muito desabafar com alguém e ninguém melhor que meu irmão para isso. A viagem de táxi até o hotel-fazenda demorou por volta de duas horas. O lugar era um verdadeiro oásis verde. A imensidão de terra bem cuidada com construções luxuosas mostrava tratar-se de um hotel para hóspedes com muito dinheiro. Aquela constatação, de certo modo, deixou-me meio enjoada, mas... talvez fosse só meu estômago vazio e meu tenebroso estado de espírito.
Na recepção, apresentei-me como irmã do senhor Augusto Siqueira Campos. O rapaz simpático educadamente convidou-me a acompanhá-lo até a sala onde estavam servindo o farto café da manhã. Assim que avistei a mesa onde eles estavam, agradeci ao atendente e fui até lá.
- Bom-dia, papai? - enlacei seu corpo num abraço cheio de saudade.
- Bom-dia, filha! - papai estreitou-me em seus braço e deu-me um beijo na testa e, olhando-me com imenso carinho, brincou: - Preciso me lembrar de te deixar um pouco mais sozinha... Você nunca me abraçou com tanta saudade.
Sensível como eu estava, lágrimas ameaçaram a invadir meus olhos. Isso porque, apesar de saber que ele brincava, havia muita verdade naquele seu desabafo.
Abracei Suzana e Guto.
- Que bom que veio, maninha! - Guto disse olhando-me nos olhos e, percebendo meu estado de espírito, sugeriu: - Que tal você me mostrar, depois de tomarmos café, que ainda monta como nos velhos tempos?
Sorri agradecida. Meu irmão era tudo de bom.
- Combinado. - respondi engasgada e sentamos todos.
Suzana e papai não quiseram ir. Guto, como já contava com isso, beijou a namorada e, dando uma piscadela para papai, falou:
- Vou dar um banho na sua garotinha, senhor Norberto. - Assim partimos para as cocheiras.
- O que aconteceu para minha irmãzinha "pegadora" estar com essas olheiras horrorosas? - Guto começou. - Muita balada, mocinha?
- Quem me dera... - suspirei com um sorriso triste.
- Se não é balada, nem mulheres... - chegamos às baias. - Me diz o que é, então.
O responsável pela cocheira se aproximou.
- Bom-dia, doutor? - o rapaz, bonito, era simpático, mas tinha um jeito meio rude. - Vão montar?
- Bom-dia! - Guto respondeu. - Sim, vamos.
- Sabem montar? - perguntou nos olhando como se duvidasse da nossa capacidade de montar um cavalo.
- Eu nem tanto... - Guto respondeu simplesmente. - Mas minha irmã aqui é uma verdadeira amazona. - completou orgulhoso.
O rapaz, mais uma vez, olhou-me de cima a baixo, nada convencido. Porém, não disse mais nada e foi selar os cavalos.
- Que tipinho, hein?! - estava indignada.
- Tipo machão! - Guto se divertia com minha raiva.
- Pois é... - resmunguei voltando minha atenção para o assunto. - Guto?
- Diz, meu anjo... - ele pegou minhas mãos. - O que está acontecendo com esse coraçãozinho? É Marina, não é? - ele me estudou. - Ou será Márcia?
- Marina, - soltei o ar que mantinha no meu peito dolorido. - E Márcia também!
- Ah! - Guto exclamou parecendo um psicanalista. - Vamos lá...
- Louise esteve em casa ontem pela manhã...- comecei, do final.
- Louise? E o que ela queria com você? - Guto estava surpreso. De repente, sua expressão ficou mais séria. - Ah, não, Val! Não vá me dizer que você... que ela...
Compreendendo o que Guto queria dizer, fitei-o brava.
- É claro que não, seu louco! Quem você pensa que eu sou?
- Não vem com essa conversinha fiada não, dona Valentina! - ele parecia, sinceramente, convencido do que falava. - Quem não te conhece é que te compre!
- Guto!!! Quer parar com isso e, por favor, quer me ouvir antes? - percebendo que fiquei verdadeiramente sentida, ele meneou a cabeça. - Ela foi me falar coisas de Marina e...
- Esta garota está sendo meio insolente, não? Se Marina fica sabendo...- Por favor, Guto... você pode me ouvir antes de dar sua opinião? - interrompi-o já achando que tinha feito um péssimo negócio ter ido até ele.
- Está bem! Sou todo ouvidos... pode continuar.
Nossos cavalos chegaram naquele momento. Montamos e seguimos lado a lado, sem, contudo, tocar no assunto até chegarmos à beira de um lago enorme e muito bonito. Desmontamos e nos sentamos na relva baixa, debaixo de uma frondosa árvore florida.
- Aqui podemos continuar nosso assunto sem sermos interrompidos. - Guto começou.
Respirei um pouco aquele ar perfumado e puro e, tentando colocar o pensamento em ordem, comecei a contar para Guto, desde o começo, minha história com Marina... e meu irmão me ouviu, calado, calmo, sereno.
No final do meu relato, ele suspirou fundo e olhando dentro dos meus olhos perguntou:
- O que você quer fazer?
Balancei a cabeça e respondi num sussurro inconsolável:
- Não sei.
Guto, em silêncio, me estudou por alguns segundos, olhando bem dentro dos meus olhos. Depois, aspirando o ar como quem vai, finalmente, começar a falar, disse simplesmente:
- Se é um conselho o que deseja, minha irmã, só posso lhe dizer para fazer o que o seu coração pede. Ele é o melhor conselheiro para o amor e, como tal, saberá te indicar o caminho!
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
AureaAA
Em: 25/10/2017
Olha vejo uma luz no fim do túnel para essa história que eu amo...apesar que quase desisto,mas agora acho que a Valentina vai lutar pelo amor da Marina e quem diria que a Cibele era uma ftp.
Não quero que a Márcia sofra...mas Bem que poderia aparecer um amor é sei lá ela se libertar desse amor que ela sente pela Valentina.
Ansiosa para o próximo capítulo e com Valentina e Marina se acertando
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