Capítulo 18

Alison's POV:

            Era de manhã quando Emily rolou pela cama esbarrando-se em meu corpo. Ela tinha mania de fazer aquele mesmo ritual toda manhã. Depois disso, costumávamos rolar na cama e nos perder em beijos antes de começar nossa manhã. Mas aquela era uma manhã especial. Aquela manhã tudo tinha que ser diferente.

            - Hmmm...- Resmunguei, sem abrir os olhos ao sentir seu corpo esbarrando no meu.

            - Você não vai nem me dar um beijinho de bom dia? – Escutei-a sussurrar de um jeito manhoso, enquanto seus dedos deslizavam pelas minhas costas nuas, fazendo com que toda a pele que havia percorrido se arrepiasse.

            Mantive-me quieta, fingindo estar grogue de sono.

            - Ali...- Ela me chacoalhou, enchendo meu pescoço de beijos. Eu sabia o que Emily queria, mas se eu desejava manter meu plano, aquilo era preciso.

            - O que, Em? – Retruquei em um mau humor matinal, sem sequer abrir os olhos.

            Escutei-a suspirar pesadamente e com um dos olhos entreabertos observei-a cruzar os braços e franzir o cenho. Como não me mexi, Emily logo levantou, chateada. Seus passos seguiram até o banheiro e logo esperei o chuveiro ligar.

            Enquanto ela estava no banheiro, corri até o armário, verificando o bolso de meu casaco preto. Ainda estava lá, ufa, ela não havia descoberto. – Suspirei aliviada.

            Retornei a tempo para cama, mas quando Emily saiu do banheiro, já com seu uniforme do colégio onde dava aula, pegou-me acordada.

            - Você está bem? – Perguntou.

             Eu sabia que ela ansiava por qualquer outra atitude ou resposta, mas tudo o que respondi foi:

            - Um pouco de dor de cabeça, acho que vou dormir mais...

            A morena revirou os olhos, seguindo para cozinha. Em geral, ela sempre retornava para o quarto, me trazia uma xícara de café e um prato com panquecas antes de ir para o trabalho, mas aquela manhã Emily só gritou "bom dia" da porta.

            É por uma boa causa. – Pensei.

...

            Meus olhos acompanharam o visor do celular que tocava a música "Ride" de Lana Del Rey. Eu estava na garagem do prédio onde morávamos, enchendo o porta-malas com caixas e mais caixas. Era Emily que ligava, a terceira vez em menos de uma hora. Suspirei pesadamente, me esconder dela ficava cada vez mais difícil. Parecia que Em pressentia que algo estava acontecendo. Se havia algo que eu aprendera era que esconder qualquer coisa de uma mulher era uma tarefa quase impossível. Deslizei o indicador pelo visor do celular, ignorando a chamada. Eu não podia atendê-la.

            No lugar de respondê-la, fiz uma discagem rápida para um dos primeiros números salvo na agenda de meu celular.

            - Você está a caminho? – Perguntei. – Preciso de vocês às 19 horas.

            - Tudo bem. – A voz do outro lado confirmou.

            Terminei de colocar as caixas no carro, enquanto meu celular tocava mais uma vez. Eu podia imaginar sobre o que era o assunto. Há algumas semanas, uma das alunas de Emily, confessara estar passando por problemas na família adotiva. Ao que parecia, o pai adotivo da garota chegara a agredi-la quando a pegou beijando sua melhor amiga. Em tinha o dom para a justiça e não sossegou até que o serviço social estivesse envolvido. Hoje, enfim, eles fariam a audiência final que, com sorte, tiraria Sophia daquela casa. Minha namorada havia sequer dormido, preparando seu testemunho. Com certeza, tinha algo a ver com a audiência ou...aquela outra coisa.

            Quando me preparei para ligar o carro, o celular indicava que uma mensagem havia chegado.

"Amor, onde você se meteu? Você está estranha hoje desde que acordamos. Nós conseguimos. Me liga assim que puder, quero te contar tudo. Com carinho, Em."

Sorri, imaginando os lábios de Emily preenchidos em um belo sorriso, daqueles que enfeitam a alma e fazem você ganhar seu dia. Eu sabia que era difícil superar um presente como aquele, mas estava disposta a tentar. Levei quase o dobro do tempo para chegar ao Café. Mas durante o caminho, memórias de nossa adolescência, em nosso último Ano Novo como cinco melhores amigas com vidas normais e perfeitas, percorreram minha mente:

Estávamos só nós duas em casa, na minha casa. Todas as outras meninas estavam preocupadas demais com o vestido que comprariam para o Ano Novo e quem iriam beijar na virada do Ano, mas Emily estava ali comigo, deixando todo o resto de lado porque eu ligara para ela chorando. Minha mãe havia acabado de me informar que não passaríamos o Ano Novo em Rosewood e tudo o que eu mais desejava era estar lá, com elas...com Emily.

            - Ali, você tem certeza que se minha mãe ligar para sua e convidar você para passar o Ano Novo com a gente você não poderá ficar?

            Controlei os soluços, colocando as mudas de roupa dentro de uma mala. Eu odiava aquilo, odiava como meus pais só pensassem neles,  como Jason conseguia se safar de todos os eventos da família e eu precisava acompanhá-los, sempre.

            - Eu duvido...- Tentei secar as lágrimas. – Parece que foi ideia da minha avó, ela quer juntar a família...porque está ficando velha ou sei lá...mas sério, quem liga? Já passamos tantos finais de ano com ela...- Dei de ombros de um jeito insensível.

- Ali, não fale assim! – Emiily me reprovou com seu jeito de boa moça.

            - Só falei o que eu penso. – Suspirei, sentando na beira da minha cama, Emily continuava próxima ao meu armário, olhando cada uma das peças penduradas ali. – Mas, e aí, você já decidiu com quem você quer passar o Ano Novo? – Enfatizei o conjunto de palavras, enrolando a ponta dos fios dourados de meu cabelo com os dedos. Todas as meninas já haviam escolhido seus alvos. Hanna, obviamente, estava de olho em Sean. Spencer torcia para ter alguns minutos sozinha com Ian na virada. E Aria estava de olho em Noel que, aparentemente, contara para todo mundo que já fizera sua primeira barba (embora eu tenha certeza que ele não tirou mais de dois ou três pelinhos no queixo). De qualquer forma, Aria tem uma coisa por caras mais velhos ou que se dizem mais velhos.

            Emily corou, eu amava vê-la sem jeito, com aquele sorriso tímido e pequenas covinhas próximas ao lábio. Era como se aquele sorriso me hipnotizasse, me fizesse querer...

- Eu acho que ninguém, vou passar com meus pais só...- A morena deu de ombros, conformada.

Do ano passado para cá, Emily havia crescido mais que todas nós. Havia adquirido um belo par de pernas longas, seu corpo tinha se desenvolvido e o ingresso para o time de natação só o definira mais ainda. Eu sabia que vários caras estavam começando a espichar os olhos para ela.

            - Sei de alguns caras que estão de olho em você...- Falei, maliciosamente.

- É mesmo? – Ela pareceu surpresa, mas não tão animada quanto eu esperava.

- Você deveria escolher o vestido mais perfeito. Já que eu não estarei aqui, acho que você terá que ser a garota mais linda do Ano Novo de Rosewood. – Falei, levantando-me empolgada e vasculhando meu armário em busca de um vestido que caísse perfeitamente nela.

- Mais bonita? Acho que não, Ali...- Falou, sem jeito novamente.

- Você quer apostar? – Aproximei-me de Emily e então sussurrei a segunda parte em seu ouvido. - Eu te transformarei na garota mais bonita...

Sua respiração ficou levemente alterada e escutá-la, fez com que eu me arrepiasse.

Puxei um vestido dourado do armário, era um daqueles vestidos tubinhos de alcinha e decotados e eu tinha certeza que ficaria ótimo no corpo de Emily.

- Ali, eu não posso usar um vestido decotado desses...- Ela pareceu ultrajada. Resquícios dos pais puritanos que a criaram.

Revirei os olhos.

- Você pode e ficará magnífica! Vá provar, Em! – Falei, esticando o vestido.

Emily concordou com a cabeça, ela sempre concordava comigo e seguiu para o closet. Caminhei até a porta entreaberta para esperá-la.

- As meninas ficarão de queixo caído quando te verem...- Falei, criando a imagem de Emily com o vestido em minha mente.

- Você não acha que elas vão ficar com ciúmes? Quer dizer, qualquer uma delas morreria para usar um vestido seu.

Sorri de canto, com o peito estufado de orgulho, aquilo era mesmo verdade. Eu era a abelha rainha daquelas meninas. Mas Emily era a minha menina dos olhos. Então, entrei no closet sem me dar conta de que ela ainda estava se vestindo.

- Aliiiiiiiiiiiiii! – Emily exclamou, reprovando minha entrada e tampando os seios com o próprio braço, por mais que ela tivesse usando o sutiã. Ela havia subido o vestido apenas até a cintura.

Sorri de canto e vê-la daquela forma, quase nua, fez com que eu sentisse uma espécie de "coceguinhas" no interior do meu corpo. Emily era estonteante e eu precisei me controlar para não ficar de queixo caído.

- Tudo bem, Em, somos melhores amigas! – Pisquei para ela. – Vire-se de costas, eu vou ajudá-la a subir o vestido.

Quando me aproximei de suas costas, sua pele bronzeada estava arrepiada e o cheiro de baunilha que vinha de sua pele parecia ainda mais intenso e inebriante. Desejei tocar sua pele, descer meus dedos pela linha de suas costas. Mas aquilo tudo não fazia sentido, Emily era quem ficava de queixo caído ao me ver, não o contrário.

Quando segurei no zíper do vestido, minha mão estava tremula. Apoiei a outra na cintura de Emily e comecei a subi-lo, delicadamente. Meu coração se acelerara, minha respiração estava descompassada e eu não sabia se conseguiria chegar até o final do caminho do zíper, quando escutei-a sussurrar.

- Não sei se posso fazer isso, Ali. – Confessou.

- Claro que pode, Emily. Estou quase terminando de subir o zíper...- Falei, tentando soar o mais normal possível.

- Não quis dizer o vestido...- A morena virou-se, ficando frente a frente de mim, estávamos a milímetros de distancia e me senti tão vulnerável, tão ameaçada a cair na tentação de beijar Emily Fields. Meus olhos encontraram os seus, pareciam repletos de dúvidas, seriam as mesmas dúvidas que eu tinha? Ela tornou a falar, em uma voz ainda mais baixa. – Quis dizer estarmos assim, tão próximas! – Confessou.

Finalmente cheguei ao Secret Café. Hoje seria um dia um pouco diferente por lá, eu havia fechado-o para uma pequena reunião. A minha pequena reunião.

            Matt e Carrie haviam decorado todo o local com bexigas pretas e rosa pink e as faixas começavam a ser estendidas quando escutei alguém bater na porta do local. Era óbvio que não tratava-se de um cliente qualquer, a placa "fechado" indicava que não estávamos abertos para qualquer um.            

            Quando cheguei a porta, Pam Fields, a mãe de Emily estava lá, com duas caixas enormes do que eu imaginava ser os docinhos.

            - Ali, que bom te ver! – A senhora exclamou, cumprimentando-a.

Abracei-a de volta, ajudando-a com as caixas.

- É ótimo tê-la aqui, tenho certeza que Emily ficará muito feliz com a surpresa!

- Não mais feliz com a que você está preparando para ela...- A senhora Fields piscou para mim.

- Ela nem desconfia que você está aqui, certo?

- De jeito nenhum, falei com ela agora pouco e disse que em Rosewood chovia tanto que eu nem tinha saído para a minha corrida de final da tarde.

- Ótimo! – Sorri.

- Você fez um trabalho ótimo aqui, digo, não só para a festa...- Ela se referia as enormes faixas parabenizando Emily por ser aniversário e toda a decoração. – Mas também o Café, ele é maravilhoso!

Sorri, orgulhosa. Com aquele pequeno café eu finalmente descobrira algo que eu gosto de fazer e me orgulhava todos os dias de acordar e dizer que é para ele que eu vou trabalhar. Pam havia acompanhado todo o nosso drama para reformar o café, foram meses em que ficamos apertadas nas contas para terminar de reformá-lo.

Um pouco mais tarde, Aria, Hanna e Spencer entraram pela porta. Eram quase dezenove horas, isso significava que a saída de Emily da escola estava próxima.

- Meninas! – Exclamei, quando nós quatro nos abraçamos. Não nos víamos desde o funeral de Paige e Charlotte.

- Ali, como você está? – Hanna perguntou, em seu vestido Christian Dior de seda.

- Essa vida de garota californiana te fez muito bem! – Spencer disse, provavelmente referindo-se a minha pele que tornara-se levemente bronzeada. Ela, por sua vez, trajava um elegante terninho feito sob medida para seu corpo.

Aria observava cada detalhe do bar e só quando percebeu que todas nós havíamos ficado em silêncio, observando-a, ela se virou para mim.

- Ali! Isso aqui parece o...

- Brew...- Completei, dando de ombros. – Foi uma forma de manter parte de Rosewood em mim...

- Não sei porque você iria querer manter parte daquele lugar em você...- Hanna fez uma careta. Ela nunca entenderia.

Neste instante, Caleb entrou pela porta. Seu cabelo estava mais curto e sua barba por fazer. O rapaz caminhou na direção de Hanna, abraçando-a pela cintura e colocando os óculos escuros no topo da cabeça.

- Uau, que rua mais concorrida! Quase não encontrei lugar para parar...- Ele comentou.

Conversamos mais um pouco até a ligação de Emily nos interromper. Desta vez, atendi:

- Ali! – A morena exclamou do outro lado da linha.

- Oii Em...- Sorri, pedindo a todos silêncio.

- O que aconteceu com você o dia inteiro? Você sumiu, não me respondeu...- Ela começou a falar tão alto que todos no Café conseguiam escutá-la. As meninas riram baixinho e me segurei para não entrar na onda.

- Desculpe, eu acordei tão distraída hoje...- Dramatizei.

- Bom, eu estou indo para casa, achei que podíamos pedir algo especial hoje...

- Especial? Por que? – Indaguei, fazendo-me de inocente.

Escutei Emily do outro lado da linha pigarrear e imaginei de imediato sua cara de decepção. Que tipo de namorada era eu que esquecia o aniversário dela?

- Nada, Alison. – Respondeu, secamente.

- Em...- Indaguei.

- Sim? – Percebi uma pontinha de esperança em sua voz e sorri, maliciosamente. Meu plano estava exatamente como eu havia planejado.

- Você pode passar aqui no Café para me buscar? Estou exausta e não vim de carro...

Emily respirou profundamente, eu sabia que isso era sinal que ela estava nervosa.

- Ok, Alison. Fique na porta em cinco minutos.

- Ok, querida!

Desligamos e eu podia imaginar o quão brava ela estava.

- Tadinha da Emily! – Spencer comentou e rimos mais uma vez.

- Mal posso esperar quando ela se deparar com a gente aqui. – Aria comentou.

Nossos amigos de Rosewood e da Califórnia se posicionaram no Café, como se fossem clientes regulares e eu me escondi atrás do balcão.

- O carro dela parou aqui em frente...- Matt me informou, enquanto preparava um café para a mãe de Emily, que estava de costas para a porta na fila, esperando por sua bebida.

Escutei Emily buzinar três vezes, até finalmente entrar. No momento em que a porta se afastou, Carrie apagou todas as luzes do local.

- Mas o que...- Emily começou a falar, sem paciência nenhuma.

Porém, levantei-me com um pequeno vaso de cerâmica em formato de coração em mãos e nele havia uma vela, a responsável pela única iluminação no Café. Instantaneamente a versão de Denmark + Winter de Every Breath You Take começou a tocar de fundo. Eu trajava um vestido branco de renda um pouco acima do joelho, preso na cintura por um fino cinto preto. Estava de sapatos de salto alto e meu cabelo estava solto e ondulado, exatamente da maneira como Emily dizia amar. Caminhei em sua direção e conforme a luz da vela passou a iluminar seu rosto também, percebi que uma de suas sobrancelhas estavam arqueadas, ela estava atônita, sem entender a situação.  Sorri e imediatamente ela também sorriu, se emocionando antes mesmo de saber do que se tratava. Apoiei o pequeno vaso de cerâmica em uma das mesas altas, a mais próxima de Emily, para que ela continuasse nos iluminando e então voltei a falar.

- Hoje você completa mais um ano de vida. Mais um ano de vida que eu estou ao seu lado. – Imediatamente segurei uma de suas mãos, trazendo-a até meu rosto e depositando um pequeno beijo nas costas dela. Sorri, tornando a falar. – Mas este ano eu quis algo diferente, quis fazer diferente. – Emily havia dado dois passos em minha direção. – Poucas são as pessoas que encontram as melhores amizades ainda quando são crianças. Eu tive mais sorte que a maioria delas, eu não só encontrei as melhores amizades, como encontrei também o meu amor. Durante anos, Emily Fields, eu lutei contra o que eu sentia, eu lutei contra todas as cores que você trazia a minha vida. – As lágrimas começavam a traçar um caminho por meu rosto, mas não me importei. – Eu demorei a aceitar que a vida era muito melhor colorida, muito melhor com você ao meu lado. Você trouxe cor, esperança, felicidade...amor. Nós passamos por tanta coisa, mas, de certa forma, não me basta, pois eu quero passar por tantas outras coisas ao seu lado. Coisas boas. Hoje a única certeza na vida que tenho é a de que te amo, de que quero ter a chance de viver com você cada dia da minha vida. Por isso, Emily, eu preciso saber...- Fiz uma pausa, respirando fundo para conseguir não desmoronar naquele momento. Tirei então do bolso de meu vestido uma pequena caixinha de veludo e a abri, esticando na direção da mulher que eu escolhia para ser minha. – Você aceita se casar comigo?

Emily levou a mão livre até a própria boca, abafando a surpresa, enquanto me esticava a outra.

- Alison DiLaurentis, eu esperei a vida toda por esse pedido! – Em respondeu com toda sua sinceridade e espontaneidade. Seus olhos brilhavam e ela transbordava emoção.

Coloquei o anel de diamantes em seu dedo anelar esquerdo e no instante seguinte nos abraçamos, um abraço cheio de emoção e felicidade. Em me beijou como se aquele fosse nosso último beijo. Mas, na verdade, ele era apenas o primeiro de muitos beijos que escreveríamos a partir de então.

Quando as luzes se acenderam, fomos aplaudidas e Emily surpreendida por encontrar tantas pessoas queridas que não víamos há tanto tempo. Um a um dos presentes nos cumprimentou.

Estávamos a um passo do "felizes para sempre".

Fim do capítulo