Capítulo 15

Emily's POV:

Um ano depois.

- Eii, volta aqui! – Exclamei, correndo escadas acima, mas ela já havia sumido, provavelmente chegara antes que eu pudesse sequer pensar em subir os degraus.

Quando cheguei no topo das escadas do segundo andar, parei, ofegante pela quantidade de caixas em minhas mãos. Haviam três caixas de papelão pesadas com metade das nossas coisas, enquanto ela só carregava duas sacolas.

- Isso é muito injusto, sabia? – Perguntei para a moça loira, encostada na porta de nosso futuro apartamento. Ela sorria para mim como se só existisse nós duas no mundo.

- Ninguém mandou você ser a mais preparada fisicamente para carregar as caixas. – Alison revirou os olhos. – Agora vamos, eu estou doida para entrar. Onde está a chave?

Fiz uma careta para ela, enquanto me aproximava. Sentia que cada músculo dos meus braços ardia de tanto esforço.

- Aqui no meu bolso! – Falei, indicando o lado direito com os olhos.

Ali escorregou a mão para dentro dele e pegou a chave, não sem antes apalpar parte do tecido do bolso que separava sua mão da minha coxa.

- Eiii, uma ajudinha aqui? Ou eu vou derrubar toda essa louça no chão.

- Vamos lá, Emily Fields, auto-controle,não é o que você vive dizendo para suas alunas da natação? – Ela encarou-me com uma das sobrancelhas arqueadas de uma forma provocativa.

Há dois meses eu havia conseguido emprego de treinadora da equipe de natação de um dos colégios mais famosos de Los Angeles. Eu estava super empolgada com meu novo trabalho e Ali passava horas e horas me ouvindo contar a história dos alunos do colégio.

Estremeci por ser quase despida por aquele par de olhos azuis.

- Alison, estamos no meio do corredor, pelo amor de Deus, abra essa porta logo!

Mais uma vez ela revirou os olhos e colocou a chave na fechadura, girando-a.

- Mandona! – Retrucou, enquanto abria a porta.

- Você bem que gosta! – Pisquei ao passar por ela e entrar no nosso novo lar.

Encarei o apartamento que era maior, com certeza, maior que o studio onde eu morava antes. Esse era um apartamento de fato, com sala de televisão, sala de jantar, cozinha planejada, dois banheiros, dois quartos e uma suíte. Alison havia comprado-o com parte do dinheiro que ela recebera ao vender a casa dos DiLaurentis em Rosewood.

- Ele é lindo! – Exclamei, colocando as caixas no chão e encarando as paredes claras do apartamento ainda vazio. Ele era perfeito, arejado, espaçoso, bem iluminado.

Os braços de Alison me abraçaram por trás, envolvendo minha cintura e então escutei-a sussurrar em meu ouvido.

- E sabe qual a melhor parte?

- Hm? – Perguntei, sentindo minha pele inteira se arrepiar com aquela aproximação.

- Ele é nosso! – Sorri com a exclamação e me virei de frente para Alison.

Seus lábios tocaram os meus levemente. Afastamo-nos apenas o suficiente para encarar uma a outra. Sorrimos quase ao mesmo tempo e quando nossos lábios voltaram a se encontrar foi em um beijo intenso. Ela me beijou até que eu ficasse sem ar.

Rimos e sorrimos. Depois de tudo o que havíamos passado, estar ali, com ela, era quase um sonho.

- Você vai me deixar sem ar e todas as caixas que estão lá embaixo vão sobrar para você! – Pisquei, dando um leve tapinha em seu quadril.

- Desde quando você tornou-se tão abusada, Emily Fields? – Alison indagou com seu tom de superioridade.

Mordi meu lábio inferior em um sorriso espevitado e então fiz o mesmo com o lábio dela, mordisquei-o levemente, antes de responder:

- Desde que você aceitou meu pedido de namoro!

Havia sido há quase cinco meses atrás, em um Café abandonado e nada charmoso:

- Ali, você vai me contar logo o que está acontecendo? – Exclamei quando os ácaros começaram a fazer meu nariz coçar. Eu estava vendada há quase uma hora e tudo o que Alison me respondia era "sim" ou não.

Faziam seis meses da morte de Paige e Charlotte e apenas um mês que havíamos deixado Rosewood. Mesmo depois dos acontecimentos traumáticos, concordamos, em conjunto, ficar na cidade por mais algum tempo. Frequentamos terapeutas e Ali cuidou de mim nos melhores e piores momentos, assim como eu fiz com ela. Apoiamo-nos e conseguimos nos reerguer juntas. Quando tudo estava sob controle, Ali chegou com essa ideia mirabolante. Na verdade, era mais do que uma ideia, era um plano concluído. Ela havia vendido a casa dos DiLaurentis e me chamara para voltar para a Califórnia e começarmos da estaca zero. Ela é o amor da minha vida e eu não tinha dúvidas de que queria recomeçar ao seu lado. O que eu não sabia é que as surpresas não paravam por aí. Quando chegamos em Los Angeles, apenas com algumas mudas de roupas, seguimos para o pequeno apartamento onde eu costumava morar. Alison ficou misteriosa por um mês. Chegava tarde em casa e saía logo de manhãzinha. Vivia no telefone e quando eu me aproximava, desligava-o sem mais explicações. Depois de tanto insistir no assunto, ela disse que era finalmente hora de me contar, mas que eu precisava estar vendada. As surpresas de Alison sempre me assustavam, por isso, quando ela tampou meus olhos com a venda e me colocou no banco do passageiro, imediatamente temi pelo que estava prestes a acontecer. Não ficamos no carro mais do quinze minutos, até chegarmos ao tal destino. Nem mesmo quando descemos do carro, fui autorizada a tirar a venda. Caminhamos um pouco até eu perceber que estava cercada por poeira.

- Alison, você quer me explicar o que está acontecendo? – Falei, sem paciência, coçando meu nariz pela enésima vez.

- Só mais dois minutinhos! – Escutei sua voz vinda de algum lugar.

Repentinamente, uma música começou a tocar. Era "Not Today" do Imagine Dragons. Franzi o cenho, mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa, senti seu corpo em minhas costas. Sorri com o contato, estar próxima dela era sempre a melhor forma de fazer com que eu me sentisse melhor. Uma de suas mãos soltou o laço que prendia a venda e quando abri os olhos, Alison me girou, fazendo com que eu parasse de frente para ela. Levou minhas mãos até seus ombros e senti suas mãos em minha cintura, ela me conduziu a dança, embalando-nos. Olhei ao redor do que parecia ser um galpão. Havia velas acendidas por todo local e foi inevitável não sorrir. Quando meus olhos encontraram aqueles dois globos azuis, Ali me encarava de uma forma diferente, apaixonada. Derreti-me naquele instante.

- Eu queria que você fosse a primeira a ver. – Ela falava, enquanto continuávamos a dançar, lentamente, no ritmo da música. – Eu comprei o café, esse é o começo do nosso recomeço. – Ali sorriu de canto, encostando a testa na minha. – Nós merecemos um final feliz, Em! – Disse ao roçar a pontinha do nariz levemente no meu.

- Mas eu quero recomeçar do jeito certo, Ali. – Falei e nesse instante peguei Alison D. desprevenida. Dá para acreditar nisso? A loira me encarou assustada. Sorri, levando uma de minhas mãos ao seu rosto e acariciando sua pele levemente com o polegar. Meus olhos buscaram os seus e sorri. – Alison DiLaurentis, você aceita ser minha namorada?

Difícil acreditar que já faziam cinco meses desde aquela noite. Depois que o café engrenou, Alison confessou o resto dos seus planos. Levou-me para ver inúmeros apartamentos pela cidade e chegou certo dia em casa com as chaves de um deles, informando que era nosso.

- Quem chegar lá embaixo por último fica com a louça do jantar! – Alison exclamou e quando me dei conta ela já havia descido as escadas.

Corri atrás dela, puxando-a no último lance de escadas antes de chegarmos no piso térreo. Trouxe-a até mim, roubando um beijo de seus lábios. Quando nos encaramos, informei-a.

- Ninguém me desafia em uma corrida e ganha!

Alison riu, puxando-me, desta vez, na sua direção e nos beijamos novamente.

- Pois eu sei de outros desafios que eu ganho! – Exclamou, sugestivamente e caímos na gargalhada.

Fizemos cinco ou seis viagens até levarmos toda a mudança para o apartamento. Não havia apenas as coisas do studio ali, mas da casa de Ali e algumas do meu quarto em Rosewood.

Nossa sala estava lotada com a mudança, mas estávamos largadas no sofá. Nenhuma das duas parecia ter animo para começar a desempacotar as coisas naquele momento.

- Você está aí toda morta, lembre-se que a louça do jantar ainda é sua! – Ali provocou, levantando os olhos para me encarar. Eu estava deitada no sofá e ela havia deitado a cabeça em minha barriga.

- Que história é essa? Você não ganhou a aposta! – Retruquei.

- Só porque você me interrompeu...- Ela deu de ombros, sorrindo de um jeito malicioso.

- Alison DiLaurentis, você está roubando!

- Eu?Quem foi mesmo que me interrompeu nas escadas? – Quando ela perguntou, revirei os olhos.

- Não vem ao caso! – Disfarcei.

Alison começou a cutucar minha barriga, fazendo cócegas, até que eu me contorcesse inteira no sofá.

- Aliiiii, não é juuuuuuuuuuuusto! – Eu dizia, entre uma risada e outra.

A loirinha só parou quando estava deitada completamente em cima de mim. Sorri de um jeito espevitado, mordiscando seu queixo.

- Bom, a louça pode até ser minha, se o fogão for seu...

Alison me encarou boquiaberta com a audácia.

- Mas acabamos de nos mudar, não tem nada! – Rebateu.

- Se vira, garota! Quero um jantar romântico ainda!

Ela riu e então sorrimos, Ali aproximou-se e eu podia jurar que ela me beijaria, mas parou milímetros antes de chegar em meus lábios.

- Pois eu vou te fazer mudar de ideia agora mesmo! – Exclamou, beijando-me enfim.

Fim do capítulo