Capítulo 24
Vinte e quatro
Eu parei de chorar, me acalmei e Yara me deu água com açúcar.
- Amor, liga para a mãe da Jéssica e pergunte por ele (pedi).
- Boa ideia.
Ela ligou, porém, nenhuma notícia dele. Agora, mais duas pessoas preocupadas.
- Por favor, ligue para o seu primo, quero falar com ele.
Segundos depois ela me passou o telefone e comecei a dialogar com Rui.
- Yara, ligou para a mãe da Jéssica e ele não está lá.
- Digo também ligou para a minha sogra e nada dele.
- Como está o quarto dele? Levou algo? Deixou algum bilhete?
- Não levou nada, o quarto está organizado, até a cama ele arrumou, não deixou nenhum bilhete e nem pegou o dinheiro da mesada. Flor, estou apavorado (contou chorando).
- Eu também estou apavorada.
- Não sei como que ele fugiu e muito menos o horário. Não ouvimos barulho nenhum.
- Misericórdia!
- Ontem quando ele pediu para retornar com vocês deveríamos ter deixado.
- Verdade. Ontem, vocês brigaram?
- Sim, infelizmente.
- Deve ser por isso o sumiço dele.
- Ter tirado o celular dele foi um erro, ele poderia não querer nos atender. Mas você ele atenderia (falou muito abalado).
- Eu só espero que ele esteja bem. Qualquer novidade, ligue!
- Vocês também, por favor.
Desliguei e comecei a rezar. Yara colocou as coisas no lugar, pois não tínhamos mais cabeça para fazer nada.
Quando a campainha tocou, por volta das onze da manhã daquele domingo, corri com todas as minhas forças, quase cai antes de chegar na porta e abri rapidamente. Lá estava ele, suado, descabelado e triste. Nós não falamos nada, apenas nos abraçamos e choramos juntos. Yara também nos abraçou emocionada, fechou a porta atrás de nós, nos deu água e depois ligou para os meninos avisando que ele tinha acabado de chegar na nossa casa. Ficamos longos minutos em silêncio, apenas abraçados e acomodados no sofá.
- Rapaz, você nos pregou um susto (minha esposa falou).
- Meu amor, nunca mais faça isso, você nos deixou desesperados (contei).
- Tia, ontem o pai Digo brigou feio comigo, me deixou de castigo, pegou meu celular e eu não consegui dormir. Precisava te ver (revelou e me deixou sem saber o que dizer).
- Conversem! Eu vou preparar o almoço (Yara falou seguindo para a cozinha).
Nós dois voltamos a ficar em silêncio, eu estava aguardando ele se sentir bem para começar a falar.
- Meu amor, desabafa com a tia (pedi).
- Ontem, voltamos para casa em silêncio e chegando fui para o meu quarto. Na hora do jantar, eu não estava com fome, sei que preciso comer, mas não sinto vontade e quando forço, parece que vou vomitar. Eu não estou bem tia.
- Eu sei disso (falei fazendo um carinho no rosto dele).
- Pai Digo se irritou porque eu não consegui jantar, gritou comigo, me deixou de castigo e tomou meu celular. Falou que enquanto meu namoro não acabar, não posso usar celular, ver TV, jogar vídeo game e usar o notebook. Tudo bem, eu já vivi muitos anos sem tudo isso. Amanhã vou falar com a Jéssica, me desculpar e terminar tudo. Não quero prejudicar ela e nem ver meus pais brigando por culpa minha. Me ajuda a esquecer ela?
Eu não consegui responder, ele é um menino tão bom, mesmo sofrendo muito, ainda pensava nos outros. Voltamos a chorar e nos abraçamos. Não sei quanto tempo ficamos abraçados. Yara terminou de preparar um almoço rápido e alimentou as crianças, que felizmente estavam alheios a tudo que se passava. Nem eu e nem ela, conseguimos comer, muito menos o João.
- Henry e Maria, que tal um filme e depois vocês tiram uma soneca (Yara falou voltando com as crianças para o quarto).
Quando ela retornou para a sala, João estava deitado no sofá com a cabeça no meu colo e eu fazia cafuné nele. Sei que se fosse em outro momento ela brincaria com ele, dizendo para sair de perto da esposa dela, mas nem tínhamos clima para aquilo. A campainha tocou outra vez.
- Deve ser os meninos, eu abro (ela falou seguindo para próximo da porta).
João Vitor levantou do meu colo e ficamos em pé quando os pais dele chegaram. Rui chorava e Digo estava enfurecido.
- Seu moleque, você quase nos deixou doidos, onde já se viu desaparecer sem avisar (esbravejou segurando firme no braço do garoto).
- Calma amor (pediu Rui).
- Eu não imaginava que adotar, nos daria tanta dor de cabeça (Digo falou no impulso).
Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, para o nosso total desespero, João Vitor caiu no sofá desacordado.
Eu que estava próxima dele e que tenho um ótimo reflexo; segurei em sua cabeça e pedi para a Yara.
- Amor, minha maleta de primeiros socorros.
Ela entendeu e correu para buscar. Enquanto Digo e Rui choravam ajoelhados no tapete da sala, ao lado do sofá.
- Me ajudem a deitar ele (falei depois que chequei os batimentos cardíacos).
Acomodamos ele, deixei sua cabeça em uma posição lateral, para facilitar a respiração e logo a Yara retornou com o que eu tinha pedido. Aos poucos ele foi retomando a consciência.
- Se afastem um pouco, ele precisa respirar (elucidei).
Eles obedeceram e sentaram no sofá ao lado.
- Meu amor, o que você sente? (Perguntei quando ele abriu os olhos).
- Tia, senti uma moleza e apagou tudo (falou baixinho).
- Já passou e está tudo bem agora (o tranquilizei).
- João, quer água? (Yara ofereceu).
- Não, obrigado (ele respondeu).
- Yara, eu quero água (Digo falou).
- Eu também aceito (disse Rui).
- Vocês sabem onde é a cozinha, vão até lá e peguem (ela respondeu visivelmente irritada com os dois).
Enquanto eles foram beber água, eu aferi a pressão do João Vitor e estava baixíssima. Quando os dois retornaram informei:
- Ele teve uma síncope, na linguagem coloquial, um desmaio. Acredito que foi uma consequência de todo o stress e ele não está se alimentando corretamente. Vamos leva-lo para o hospital agora, para investigar o ocorrido. Amor, por favor, pegue a minha bolsa.
Digo pegou o João no colo e o levamos para o carro. Eu sentei no banco de trás com ele e os meninos na frente.
- Amor, coloque está blusa. Coloquei dentro da sua bolsa seus óculos e o seu celular.
- Muito obrigada!
- Ficarei com as crianças, por favor, mandem notícias!
Nós nos despedimos dela e em quinze minutos chegamos ao hospital. Antes de descermos do carro, ouvimos o meu sobrinho pedir:
- Tia, fica comigo e não me deixe sozinho (falou pegando nas minhas mãos).
- Meu amor, mesmo se você não me pedisse isso, eu não te largaria. Nunca vou te abandonar (expliquei depositando um beijo na testa dele).
Rui e Digo, ouviram e sorriram.
Felizmente não era nada grave e ele não voltou a desmaiar. Precisamos ficar algumas horas no hospital, pois ele precisou tomar soro. Mandei mensagens para a minha esposa, visando tranquiliza-la. Retornamos para a minha casa no final do dia.
- Tudo bem? (Yara questionou logo que entramos).
- Tudo sim e por aqui?
- Também, nossos filhos estão no quarto montando um quebra cabeça (contou).
- Como é bom ser criança (destaquei).
- Vamos? O João precisa de um bom banho, se alimentar e descansar (Rui falou).
- Florência e Yara, muito obrigado por tudo e desculpas também por toda a confusão (disse Digo).
- Precisando é só ligar. Você vai ficar bem? (Perguntei para o meu sobrinho).
- Vou sim e obrigado tia.
- Eu te amo, te quero bem e feliz (afirmei).
- Também te amo.
Nós nos despedimos e os meninos foram embora. Fui até o quarto das crianças, beijei os dois e depois segui para o meu quarto para tomar um bom banho.
- Amor, vou tomar uma ducha e que dia (reclamei).
- Vida, você é uma mulher maravilhosa, tanto como esposa, amiga, mãe e também como tia.
- Nunca me imaginei sendo tudo isso (falei dando risada).
- Podemos comer uma pizza hoje? Estou com preguiça de ir para a cozinha.
- Claro que podemos. Seu dia também foi puxado, fez almoço sozinha, terminou de limpar nossa casa, brincou com nossos filhos e os dois já estão até de banho tomado.
- Viu só, você é uma sortuda, tem uma esposa incrível (se gabou).
- Convencida!
- Toma seu banho, que vou pedir as pizzas. Quando você sair também vou me banhar.
Eu tomei um banho demorado e revigorante. Aquele domingo foi sem dúvida um dos mais estressantes da minha vida. Depois de me vestir, fui ficar com as crianças.
- Meu bem, vou tomar banho também (Yara avisou).
- Já pediu a pizza?
- Sim (ela confirmou deixando o quarto).
- Vamos comer pizza, adoro (comemorou Henry).
- Mãe Flô, hoje brincamos de massinha (minha filha revelou).
- Que legal. No próximo final de semana vamos para a casa da vovó e do vovô.
Os dois gostaram muito da novidade e já começaram a planejar sobre as brincadeiras que fariam com os avós. Uns vinte minutos depois, Yara já tinha saído do banho e a nossa pizza chegou; metade frango e a outra parte portuguesa. Henry gosta do mesmo sabor que eu. Já a Maria Flor, assim com a Yara, também prefere frango.
Antes de dormir, contamos historinhas para as crianças e liguei para os meninos. Rui informou que João Vitor conseguiu se alimentar e já estava dormindo.
Eu mal deitei e já adormeci. Meu corpo clamava por descanso.
Fim do capítulo
24. Penúltimo capítulo de Escol e podemos começar com as despedidas.
Comentaristas muito obrigada por cada palavra incentivadora, gratidão!
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 11/10/2017
Boa noite querida amiga May
Acho que quem está precisando de tratamento é o Digo, e ainda fala merda ( desculpa pelo nome feio), será que eles não pensam no bem estar do filho e quando pensamos que ele ouviu a Florência volta a fazer a mesma ignorância.
Bjs e até o próximo capítulo, um ótimo final de semana
Resposta do autor:
Boa noite querida amiga Mille e que tenhamos um ótimo feriado nesta quinta.
Concordo contigo, o Digo foi bem chato, ngm merece. Já a Flor toda fofa!
Beijocas, no sábado retorno com o 25 e último capítulo.
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Bia08
Em: 11/10/2017
Olá Flor, essas meninas vão deixar muitas saudades.
Que raiva do Rui e do Digo, será que eles pensaram que tudo ia ser flores e fora que o problema com o filho é culpa deles. O Digo não escuta, quer impor suas vontades na marra e o Rui está aceitando da pior forma possível. Fiquei muito triste com essa história do João, o garoto é incrível. Tomara que eles consigam enxergar o filho maravilhoso que tem.
Bjsss
Resposta do autor:
Olá! Flor, como vai?
Sim, concordo contigo, deixaram muitas saudades, gosto tanto delas e tem sido ótimo escrever este romance. Apesar da existência da Flor nesta história, nem tudo são flores, notamos isso na crise familiar dos meninos; por isso que sempre falo que o melhor é deixar o amor falar mais alto, este sentimento maravilhoso resolve tudo e assim será com eles.
Agradeço por toda a sua companhia em cada belo comentário, até sábado com o 25 e último capítulo. Beijocas!
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NovaAqui
Em: 11/10/2017
Chatinho esse Digo. Aff precisava ter falado sobre a adoção? Sem noção
Espero que agora as coisas tranquilizam.
Abraços fraternos procê!
Resposta do autor:
Inicialmente, preciso avisar que sentirei saudade desta história, das personagens e de todo o enredo, pois foi adorável escrever. A cada projeto é assim, desafios, cuidados com a escrita e muitas alegrias; no término fico saudosa, mas o que impera é a felicidade, gosto tanto de escrever e é lindo saber que meus escritos são lidos. Os comentários me motivam tanto, fico radiante e mais uma saudade que sentirei será de ler: "abraços fraternos procê", gesto belo viu, que agradeço e retribuo! Obrigada pela companhia e por cada palavra motivadora. Até sábado com o 25 e útimo capítulo de Escol.
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